Jornal Unipautas 2021/1

Page 1

Entrevista UniPautas - Julho 2021

AGRESSIVIDADE, USO DE DROGAS E ADIÇÃO EM INTERNET

Especial Cultura MUDANÇAS NA SÉTIMA ARTE: CINEMA DE VINIL

Pag. 22

Pag. 22

unipautas 2021/1

Jornal da faculdade de comunicação social

Porto Alegre - RS

Os efeitos da covid-19 na capital e no Estado Transporte

Educação

Saúde

OS SINTOMAS DA COVID-19 NO METRÔ DA REGIÃO METROPOLITANA

O POLÊMICO RETORNO ÀS AULAS EM TEMPOS DE PANDEMIA

EMERGÊNCIA DE FRAGILIDADES

Pag. 8

Pag. 12

Pag. 4

O ESTADO EM ALERTA PARA A DENGUE

Pag. 15


Smart Pós UniRitter

Um curso leva a outro, todos levam à Pós. Experimente uma nova maneira de se manter atualizado(a). Faça os cursos mais importantes para você, no seu tempo e ainda conquiste um certificado de Pós-Graduação ao terminar todos eles.

A Smart Pós UniRitter é uma Pós-graduação modular e flexível, que você faz no seu tempo e do seu jeito.

Quando completar todos os cursos de uma determinada trilha escolhida, você recebe o certificado da Pós.

Para cada curso feito, você recebe uma certificação profissional.

Um jeito inteligente e prático de atualizar seus conhecimentos, como cada vez mais o mercado exige.

Certificações Profissionais: Dê um upgrade upg no seu diploma de graduação com cursos rápidos e objetivos. Ao final de cada curso, você recebe um certificado que pode ser aproveitado em uma Pós-graduação.

Pós-Graduação Aperfeiçoamento 180h Atualize a sua carreira de forma ainda mais rápida. Cursos de Pós-graduação com 180h, reconhecidos pelo MEC. Após o término, é possível aproveitar as horas de estudo deste curso para uma outra certificação em Pós-graduação.

Pós-Graduação Lato Sensu 360h Ideal para pa quem deseja se aprofundar em um tema específico, por meio de um curso de especialização ou do MBA. Um curso completo que direciona a sua carreira para que você se torne um profissional à frente dos demais.


Unipautas 3 // UniPautas - Julho 2021

Expediente Publicação produzida no primeiro semestre de 2021 na disciplina Práticas em Jornalismo: Produção de Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Projeto gráfico e diagramação: Design LAB UniRitter.

Professores : Roberto Villar Belmonte; Cristiane De Luca.

Coordenadora de Design: Letícia Schiehll

Foto de capa: Jossiano Leal/ Pixabay

Coordenador de Jornalismo: Luciano Suminski.

Supervisor Design LAB: Carlos Viana da Silva.

Anúncios: Marketing UniRitter e Agência INQ.

Reportagens: Luciana Espíndola; Matheus Machado; Matheus Muller; Angelo Pieretti; Johan Strassburger; Vinícius Sanfelice; Leonardo Bender; Aldrey Dornelles; Andressa Ternes; Fredo Tarasuk; Lucas Eliel Gonçalves.

Professores: Carlos Viana da Silva; Stella Lisboa Sapper; Letícia Schiehll; Manuela Vasconcellos Thomas.

Professor-editor: Cid Martins.

Design Editorial: Jorge Alves.

Editorial

O jornal nosso de cada dia/semestre. por Cid Martins

M

ais do que um jornal lido a cada dia que se passou pelos nossos pais e avós. Mais do que o fato de conhecermos hoje apenas por esse vínculo ou porque só o percebemos nas bancas e tão pouco folheamos ao menos uma página. O tradicional jornal, o típico e pai de todas as plataformas atuais, segue com seus percalços. Seja pela a alta do preço do papel, pela distribuição cada vez mais inviável devido ao valor do combustível ou seja pelo tão temido tempo. O tempo que faz dele antigo, mas que também faz o jornal seguir ainda firme e sem sabermos se há prazo ou se será para sempre. A ten-

dência, entre os especialistas, é de que fique mesmo nas plataformas digitais. Pois bem, ficando ou não ficando, como se diz, devemos viver o presente e, nesse momento atual, há empresas que estão aí empregando, informando e contribuindo. Ele é ainda esperado matinalmente, é lido por autoridades e pelo povo e é carismático, como os não tão recentes jornais populares. Os editores e repórteres e diagramadores seguem se reinventando, buscando atrativos, textos explicativos, com desdobramentos e cheios de análises. Mas sempre paira a questão: como se sustentar em meio a tantas outras rápidas e novas plataformas de divulgação de conteúdo? É isto que o jornal Unipautas, da Faculdade de Comunicação Social da Uniritter, através

da disciplina de Práticas em Jornalismo: Produção de Jornal pretende mostrar nesta edição que, em 2021/1, também se reinventa. Em meio a uma pandemia e todas as suas consequências, a ideia foi realizar um projeto gráfico, unindo os alunos de jornalismo com os alunos da Faculdade de Design da Uniritter. A meta, que foi alcançada, era unir os estudantes como se fosse em uma redação. Repórteres, editor e diagramadores em um projeto jornalístico e gráfico para uma futura impressão. A pergunta no início do semestre era: como fazer texto em jornal e não participar de uma diagramação? E aí está o projeto gráfico do jornal Unipautas. Contudo, as metas nunca podem parar e, na medida do possível, pleitear uma futura impressão.

Afinal, para nós, acadêmicos, é o jornal nosso de cada dia/semestre (se quisermos ser mais exatos). E como sempre devemos buscar a excelência em tudo, o Unipautas reuniu o talento do design gráfico da Uniritter, em um uma versão moderna, leve e atrativa, com o talento do jornalismo, por meio de uma seleção de pautas debatidas semanalmente. Das tradicionais hipóteses e da confirmação em assuntos, até as entrevistas, os dados cruzados, agrupamentos de informações e da seleção de material para publicação impressa e online, bem como nas redes sociais. Os temas de saúde, educação, meio de transporte e cultura, por exemplo, estiveram ligados ao distanciamento social, além de entrevistas e matérias com conteúdo

ímpar, sob a coordenação dos professores Roberto Belmonte e Cristiane De Luca, que agregaram ao trabalho realizado pelos alunos de Produção de Jornal. Pensando sempre em se reinventar, buscando alternativas e alcançando metas, não desistindo e sim persistindo com qualidade, ou seja, em resumo: este é o projeto gráfico do Jornal Unipautas 2021/1.Mais do que um jornal lido por nossos pais e avós, um trabalho feito com dedicação, mantendo o tradicional texto bem elaborado e atrativo, mas trazendo a novidade gráfica e das multiplataformas atuais. Até porque o futuro é feito de ações presentes. Então, uma boa leitura de fatos atuais para uma melhor compreensão do amanhã no jornal nosso de cada dia/semestre.


Informação

Saúde

\\ 4 UniPautas - Julho 2021

Emergência de fragilidades

por Luciana Espíndola

O

ano de 2020 iniciou sem a promessa de que seria próspero, embora a esperança estivesse presente. Parecia que seria mais um ano como tantos outros. Ninguém imaginava o que estaria por vir, até que, no dia 25 de fevereiro, exames feitos no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, detectaram que um empresário recém-chegado da Itália estava infectado com o coronavírus. Desde então, os casos foram crescendo de forma muito rápida. Cientistas do mundo todo se mobilizaram para desenvolver uma vacina que fosse eficaz contra o vírus. O primeiro imunizante, finalmente, foi registrado pela Rússia, em julho de 2020. A partir daí, novos medicamentos foram lançados e são testados constantemente, assim como novas cepas do coronavírus continuam surgindo. Com o anúncio dos primeiros casos de infectados, não demorou muito para começarem as mortes. Segundo a página virtual Painel Coronavírus (covid.saude.gov.br), até o dia 15 de junho de 2021, havia mais de 490 mil óbitos no Brasil e cerca de

17,5 milhões de casos confirmados. Também foram contabilizados quase 16 milhões de pacientes recuperados. Além da doença e suas sequelas físicas, outras situações se apresentaram dentro de uma nova realidade. Por exemplo, o medo de perder um ente querido ou de ser infectado tem feito com que diversas pessoas desenvolvam enfermidades ligadas à saúde mental. Tristezas profundas, ansiedade, depressão e síndrome do pânico são alguns casos de enfermidades que vêm acometendo a população. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os especialistas recomendam que sejam adotadas todas as medidas de saúde pública onde o vírus está circulando, independentemente das variantes. Isso inclui o uso de máscaras de proteção facial, manter o distanciamento físico de outras pessoas, evitar espaços lotados e fechados, abrir janelas para ventilação, higienizar as mãos e se vacinar quando os imunizantes estiverem disponíveis. Também recomendam o fortalecimento da vigilância epidemiológica e genômica (monitorar a mudança na sequência genética do vírus) para reduzir a propagação do vírus e possíveis mutações.

Créditos: Freepik

Além de contaminação e mortes, o coronavírus trouxe fobias, ansiedade e depressão.

Uma nova realidade O Conselho Nacional de Saúde (CNS) aponta que, a rápida propagação do coronavírus, tem levado a população à medida preventiva de isolamento. Nesse período, é fundamental ficar em casa para conter o avanço da doença, o que tem gerado impactos na saúde mental das pessoas. O cenário de medo e incertezas gera estresse e ansiedade. Conforme registros da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), a pandemia da covid-19 criou ambientes de trabalho altamente estressantes e “psicologicamente inseguros” para muitas pessoas. A crise pandêmica tem muitas fontes potenciais de trauma (mortes em larga escala, recessão econômica, desemprego, violência urbana, incerteza, falta de equipamentos de proteção – EPIs). Portanto,

pode afetar os trabalhadores não só no âmbito profissional, mas também na questão pessoal. Para alguns, o sofrimento psíquico vivenciado de forma crônica, pode culminar em um quadro de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) ou, no caso daqueles com história pregressa de problema mental, agravar ainda mais os sintomas pré-existentes. Pela ótica do Dr. Claudio Meneghello Martins, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os fatores ambientais estressores colaboram para a vulnerabilidade emocional e, por conseguinte, podem ser gatilhos para o desenvolvimento de transtornos mentais. A pandemia “esticou o elástico coletivo do estresse'', o que ampliou a manifestação de sintomas ansiosos e depressivos,

com impacto nas relações interpessoais, desempenho no trabalho e alterações no ritmo de vida (sono, alimentação e atividade física). Há uma exigência adaptativa para que possamos transpor esta situação. Alguns não conseguem e necessitam de assistência médica e psicológica, explica.

Dr. Claudio Meneghello Martins, vice-presidente da ABP (Crédito: Assessoria de Imprensa/ABP).


Saúde

A análise médica A Psicóloga Conselheira da Gestão Frente em Defesa da Psicologia do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do SUL (CRPRS), Luciana Barcellos Fossi, informa que a autarquia orienta e fiscaliza o exercício profissional dos psicólogos. E que a partir dos relatos dos profissionais da categoria, foi possível entender que durante a pandemia parte do sofrimento que atinge a população, além de estar relacionado às dúvidas sobre o vírus, medidas de contenção, isolamento social e restrições, se devem, também, aos conflitos e opiniões divergentes entre governo federal e os governos estaduais. Foi possível testemunar divergências, também, entre governos estaduais e os prefeitos municipais.

Luciana Fossi destaca que os governantes apresentavam condutas diferentes em relação à pandemia, e isso gerou muita insegurança na população: "Não é de se admirar que as pessoas estejam com receios, inclusive, de serem vacinadas. Os imunizantes foram descredibilizados, devido aos muitos comentários oriundos do governo federal". A psicóloga destaca que acompanha a CPI da covid-19, e pode observar uma condução muito relapsa em relação ao processo de vacinação e a convenção do processo de disseminação do vírus, e explica: "Isso produz efeitos de subjetividade. Os problemas não são individuais, e neste momento vivemos uma adversidade coletiva. O sofrimento é generalizado, mas temos algumas singularidades conforme as condições de vida de cada pessoa. Não podemos comparar, por exemplo, o

Lidando com o medo Lucas Gonçalves, 26 anos, morador de Viamão, é casado, tem dois filhos e não apresentava sintomas de depressão, ansiedade ou qualquer doença de saúde mental anterior à pandemia. Mesmo com o distanciamento social, ele seguiu trabalhando como auxiliar de serviços gerais, com todos os protocolos e cuidados necessários. A sua esposa Renata é artesã, cuida do lar e das crianças, um menino e uma menina, de 1 e de 3 anos, respectivamente. Gonçalves Informa que eventualmente todos saem de casa para consultas médicas ou compras no mercado; as visitas também são restritas. A rotina da família seguia dentro da normalidade dos cuidados e do res-

guardo até que, em janeiro deste ano, os quatro passaram alguns dias na praia junto à família da esposa, composta por um pequeno e restrito grupo. Após retornarem à residência, na Região Metropolitana, Renata teve alguns sintomas e foi detectada com covid19. Foi ao médico e iniciou tratamento isolando-se em casa. Então, Gonçalves solicitou afastamento temporário da empresa para assumir as tarefas domésticas e cuidar da família. Diante do medo de perder a esposa, ter seus filhos infectados e sentindo-se assoberbado com os trabalhos domésticos, o auxiliar de serviços gerais começou a sentir tristeza profunda, sensação de impotência e pânico. Ele consultou com um psiquiatra e foi diagnosticado com depressão e síndrome do pânico. Foram

Informação 5 // UniPautas - Julho 2021

sofrimento de indivíduos de extrema vulnerabilidade e sem renda, com aqueles que vivem uma situação econômica estável. Estas questões agravam ou amenizam o sofrimento, mas de fato é um acontecimento da coletividade".

Luciana Barcellos Fossi, Psicóloga Conselheira da Gestão Frente em Defesa da Psicologia da CRPRS - CRP 07/14667. (Crédito: arquivo pessoal)

prescritos os medicamentos Oxalato de Escitalopram e Rivotril para que conseguisse melhorar a saúde e, assim, pudesse reestabelecer as energias. Os sintomas da depressão e síndrome do pânico sumiram totalmente após o tratamento que durou cerca de um mês. Renata se recuperou rapidamente do coronavírus e, desde então, passa bem, ainda mais porque a doença não deixou sequelas. Porém, o sogro que foi infectado no mês de fevereiro, e já passava por tratamento por outras enfermidades, não resistiu às complicações causadas pelo vírus e faleceu no mês de março. Fato que também abalou a família, diz Gonçalves. Especialistas apontam que é dificil afirmar quem foi a primeira pessoa infectada no Brasil

O medo do desconhecido Para a psicóloga Rose Kodama, é difícil para os seres humanos passar pelo medo do desconhecido e pela possibilidade de proximidade da morte, que leva entes queridos e abrevia a vida. “Não gostamos de imaginar que a morte é o fim e evitamos falar sobre o assunto. Sempre temos em mente que temos muito a fazer, muito a planejar”, ressalta. Portanto, ela diz ser compreensível que, diante de tantos acontecimentos, as pessoas desenvolvam tristezas profundas. Além disso, relata ainda que os indivíduos estão desenvolvendo estes sintomas, assim como melancolias, que, se não observados e tratados, podem gerar depressão. Com tantas mudanças inesperadas, incertezas, receios e medos, já era

esperado pelos especialistas que a saúde das pessoas fosse afetada. Os relatos e desabafos nas redes sociais, por exemplo, sobre ansiedade, depressão e tristezas também são comuns. Muitos dos internautas relataram que tiveram forças para buscar ajuda profissional e conseguir encontrar algum equilíbrio com medicamentos. Rose Kodama, Psicóloga CR/PSC-SC 10-321 (Crédito: arquivo pessoal)

Lucas Gonçalves. (Créditos: Arquivo pessoal).

devido às reações do vírus em cada organismo. Alguns são assintomáticos ou tiveram sintomas muito semelhantes com doenças respiratórias, além de sensações gripais leves. A única certeza entre se tem, conforme os números

no Brasil confirmaram, é que os casos de infectados foram aumentando exponencialmente e o período de Carnaval, quando ocorreram muitas aglomerações e visitação de turistas ao País, facilitou a propagação da covid-19.


Informação

Saúde

\\ 6 UniPautas - Julho 2021

Sentimentos aflorados Jacques Espíndola, 50 anos, é casado e bancário aposentado. Descreve que desenvolveu depressão ao longo dos anos após uma cirurgia para retirada de nódulo do peito e de ter complicações com a anestesia. Após o procedimento cirúrgico, a anestesia apresentou uma série de efeitos colaterais e ele começou a ter sintomas de depressão profunda, ansiedade e pensamentos negativos. Em meio a tantos sentimentos que precisa manter sob controle com medicamentos, o aposentado comenta: "hoje, o problema em si não é só a depressão. A depressão pode-se dizer que foi o início, juntamente a outros sentimentos desagradáveis que desencadearam a síndrome do pânico". Espíndola ressalta que o seu psiquiatra tentou resumir de uma forma mais fácil o tratamento e avaliou que os seus distúrbios são um tipo de pânico por ansiedade. Ele ainda recebeu a explicação de que a

ansiedade é o contrário da depressão, ou seja, ansiedade é excesso de futuro e depressão é excesso de passado. Com a chegada da pandemia, Espíndola não conseguiu ficar alheio aos acontecimentos. A sensação, segundo ele, era como se um cerco estivesse fechando e cada vez mais o vírus começou a se aproximar. Amigos próximos ao aposentado, alguns até bem jovens, morreram por complicações da covid-19. Desta forma, ele começou a fazer uso de medicamento para conseguir dormir, pois o pânico já estava fazendo parte dos seus sonhos e sempre acordando muito debilitado. Os períodos em que dormia, por mais que fossem regrados, não estavam sendo suficientes para descansar o corpo e a mente. Os medicamentos prescritos pelo médico foram Lexapro (diariamente pela manhã) e Zolpidem (para dormir). Caso tivesse crise de pânico, para emer-

Oportunidade para a vida Vallentim Machado Almeida, 58 anos, que é solteiro e tem uma filha já adulta, atua como personal trainer e preparador físico. Durante 23 anos, viveu fora do Brasil, entre os Estados Unidos e a Espanha, onde, neste último País, cursou sem concluir parte do curso de Medicina do Esporte. O sonho da graduação teve de ser abandonado porque precisava voltar ao Brasil por questões familiares e conjugais. De volta, contra a sua vontade, Almeida conta que começou a apresentar sintomas de depressão e que sentiu muita frustração por não ter concluído o curso. A pior questão para o personal trainer foi descobrir que os estudos

e conhecimento adquiridos no exterior de nada valeriam sem a devida comprovação. Assim, ele buscou informações e descobriu que o Conselho Regional de Física (CREF) oferecia a oportunidade para professores da área da musculação, mesmo para quem não fosse formado em Educação Física. A exigência era que as pessoas tivessem experiência e realizassem uma prova. E foi o que Almeida fez para poder trabalhar. Após a separação conjugal da mãe de sua filha, o então preparador físico teve outros relacionamentos, sendo, um deles considerado muito difícil por ele. Almeida destaca que a namorada não aceitava a sua filha e isso o colocou

gência, foi recomendado ao paciente usar Rivotril sublingual. Tudo isso para que Espíndola conseguisse ter mais qualidade de vida. Os medicamentos que já eram prescritos tiveram suas doses reajustadas para que o paciente pudesse ter uma melhor saúde mental neste período. O aposentado chegou, inclusive, a fazer dietas para diminuir o peso corporal adquirido nas crises de ansiedade e conta que não se preocupa com estética, mas que cuidar da saúde é essencial. Ele diz que não consome bebidas alcoólicas, nunca foi fumante e alimenta-se de forma saudável. Por outro lado, o distanciamento físico da família tem sido amenizado com os grupos de WhatsApp, onde são mantidos assuntos leves entre os integrantes. Sua mãe, que tem mais de 80 anos de idade, aprendeu a usar smartphone, aplicativos de mensagens, redes sociais e é muito participativa virtualmente. Assim, todos interagem e conver-

em situações bem difíceis, fazendo com que a depressão aumentasse. Ele voltou a se separar da nova companheira e alega ter tido grandes perdas financeiras, ficando, inclusive, sem trabalho e restando apenas o dinheiro que investiu na compra de um carro. Desta forma, foi trabalhar como motorista de aplicativo e conheceu uma nova pessoa, o que acabou terminando em mais problemas. Esta situação desencadeou ansiedade e depressão em Almeida, que passou a utilizar medicamentos para encontrar algum equilíbrio. Nesse meio tempo, sofreu acidente de trânsito, perdeu o automóvel, tentou ajuda, passou por outras situações complicadas, inclusive de risco, e, mesmo com os sintomas mentais continuando, ele conseguiu dar a volta por cima. Por isso, o preparador físico acredita que as experiências pelas quais

Jacques Espíndola. (Creditos: Arquivo pessoal).

sam diariamente, se fazem presentes uns na vida dos outros. Espíndola destaca que os abraços presenciais têm sido adiados para mais adiante. Segundo a nutricionista Thaís da Silva Neves, a ansiedade existe porque se vive em um mundo moderno em que as pessoas sempre estão pensando no amanhã, ou seja, no que farão no futuro. Ela percebeu que os níveis de ansiedade aumentaram muito

e que as pessoas estão se sentindo muito limitadas, com planejamentos interrompidos e metas postergadas. No atual momento, como as pessoas tiveram de mudar as suas rotinas por conta da pandemia e estão se sentindo muito privadas de praticamente tudo, Thaís diz que acabam por se gratificar com comida. “É preciso estar atento à fome emocional”, informa.

passou foram essenciais para enfrentar a pandemia. "E sempre é preciso que todos dividam as suas experiências para que tenhamos um mundo melhor. A situação de

pandemia é nova, e ninguém esperava passar por isso. Precisamos nos apoiar na fé e nos ajudarmos mutuamente", finaliza.

Pedro Vallentim na academia onde trabalha como Personal Trainer e Preparador Físico, em Porto Alegre. (Crédito: arquivo pessoal)


Saúde

DADOS EM PAUTA Números da pandemia até 14/052021 por estados brasileiros

Fonte: Painel Coronavírus (covid.saude.gov.br) AF Anúncio FACS Unipautas.pdf

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

1

22/06/2021

16:00

Informação 7 // UniPautas - Julho 2021


Informação

Transporte

\\ 8 UniPautas - Julho 2021

Os sintomas da covid-19 no metrô da região metropolitana

Trensurb precisou readaptar-se em função da pandemia e registrou queda de usuários superior a 40% em relação aos meses de fevereiro de 2020 e 21.

Créditos: Angelo Pieretti

por Angelo Pieretti Matheus Muller

E

m função da pandemia, a empresa precisou readaptar-se por conta da queda de passageiros, que em fevereiro deste ano, transportou 1,8 milhões de usuários, uma queda de 45,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, que superou os 3,4 milhão. Já é possível observar os efeitos da pandemia no transporte público da região metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Devido ao coronavírus, a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A (Trensurb) con-

tou com um buraco em sua receita. Além disso, muitos funcionários encontram-se sobrecarregados devido ao aumento de demanda e diminuição de colaboradores, que foram afastados por serem parte do grupo de risco. Diversas medidas foram

tomadas para conter a disseminação do vírus, a maior delas, o decreto n° 55.154/2020 do governo estadual, que dita como norma o espaço de 1m² por usuário no trem. Na época de seu lançamento, o decreto também separava atividades entre essenciais

e não essenciais. Com o intuito de evitar a aglomeração em diversos espaços públicos e privados, como os transportes, shoppings e praças. O gráfico abaixo mostra os valores arrecadados pela Trensurb, entre janeiro de 2019 - ano

anterior à pandemia - até fevereiro deste ano. É possível observar a diminuição da renda desde antes do início das restrições impostas pela pandemia. Porém, é em abril de 2020 que o valor despenca e a empresa vê queda de 25% nos recebimentos.

Gráfico de receitas entre 2019 e fevereiro de 2021. Fonte: Governo Federal


Transporte

A empresa explica Em conversa com o diretor de operações da Trensurb, Luis Eduardo Fidell, ele explica que se desconsiderarmos a pandemia, é normal que os primeiros meses do ano sejam menos volumosos, visto que, grande parte do público é estudante de colégio e faculdade que reside em outra cidade. Além disso, os cofres da empresa sofreram com o fechamento do comércio dentro das estações. O aluguel de lojas e espaços gera receita para a empresa. Mesmo com o afrouxamento das medidas restritivas, muitos comércios fecharam as portas definitivamente na época mais rígida. O valor arrecadado auxiliava nas contas da empresa, estas que, já não se pagavam. Segundo Fidel, a empresa arrecada em torno de 70% do que gasta, tendo o restante da receita com-

pletada através de repasses do governo federal. Outras ações tiveram impacto direto na circulação de usuários, como o fechamento das bilheterias em estações menos movimentadas, além do acréscimo de trens acoplados - dois trens conectados - circulando durante toda a operação. Conforme o diretor de operações, o acoplamento dos

Informação 9 // UniPautas - Julho 2021

trens também ajudou para que não faltassem pilotos, “nos possibilitou ofertar mais lugares, para que os usuários possam se espalhar no interior dos vagões”. Para quem está na linha de frente do transporte de passageiros em meio a pandemia, como o supervisor e piloto do Setor de Tráfego da Trensurb Matheus de Almeida,

sempre existe um receio quanto a sua segurança para não ser contaminado. “Em função dos cuidados e disponibilidade de produtos de higiene, o medo não é total. Como ficamos isolados na cabine de pilotos, sempre a mantemos limpa”, explica. Esta mesma sensação, não é sentida por parte dos usuários, conforme

relato do passageiro Lucas Santana . Em relato, conta que “é muito difícil me sentir totalmente seguro nas viagens”. Santana percorre o trajeto, em horários de pico entre as Estações Luiz Pasteur e Anchieta, "os vagões estão sempre cheios e sempre tem um ou outro usuário sem máscara, ou usando de forma errada”, explana.

Usuários aglomerados aguardam a abertura das portas para entrar nos vagões do trem. Créditos: Angelo Pieretti

Os cuidados Para tentar diminuir a contaminação e a sensação de medo dentro dos vagões, Paulo Petry, doutor em Epidemiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sugere que além do uso de máscara, os usuários higienizem as mãos com álcool gel. “ Uma medida muito efetiva é a ventilação do veículo. A circulação do ar é um fator extremamente importante porque dissipa esses aerossóis e gotículas”. Embora haja a obrigatoriedade do uso de máscara desde 1º de maio de 2020, a Trensurb encontra dificuldades para fiscalizar os passageiros nas estações e vagões. De acordo com

Petry, “o uso evita bastante a dissipação de gotículas e aerossóis ao falar”. Ainda segundo o epidemiologista, existem diversas máscaras, as PFF2 ou N95 são utilizadas nos hospitais e tem melhor filtragem do ar. As máscaras cirúrgicas, com hastes para moldar no nariz, são profissionais, mas com menor eficácia em comparação as anteriores. Além dessas citadas acima, existem as máscaras de pano, que ganharam popularidade e diversas estampas ao longo da pandemia, “o importante é que, para a população em geral seja seguro e economicamente viável", argumenta o epidemiologista.

Proteção das máscaras segundo o especialista.

Créditos: Matheus Muller

Para testar a segurança das máscaras de pano, de acordo com Petry, ela deve conter mais camadas, “um teste muito simples que recomendamos é colocar a máscara e acender uma chama na frente da máscara, se ao soprar o fogo apagar é melhor dobrar a proteção porque está passando ar tanto pra entrar quanto para sair”. Outra medida de proteção que a empresa adota, é a higienização do interior dos trens nas estações terminais Mercado e Novo Hamburgo. Funcionários realizam a limpeza dos bancos e barras de apoio com álcool, conforme o especialista, alguns estudos mostram que o vírus permanece transmissível em superfícies. Ainda segundo Petry, a medida adotada pela empresa é correta, “o maior risco no Trensurb é a lotação e aglomeração de pessoas”.


Informação \\ 10 UniPautas - Julho 2021

Transporte

As medidas

Dentre as ações para o cuidado com seus usuários, foram instalados adesivos no chão de estações, marcando a distância entre cada pessoa. A Trensurb também realizou a insta-

lação de lavatórios com acionamento automático de água e sabão nas estações Mercado, Rodoviária, Canoas, Mathias Velho, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo

Hamburgo, que estiveram disponíveis até sofrerem com avarias e falta de manutenção. Restando somente as estruturas sem funcionamento nas estações.

OMS A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em sua página um documento com recomendações para evitar o contágio em transportes públicos. Entre as dicas elaboradas, a carta recomenda a identificação por parte do usuário de locais com grande fluxo de pessoas para assim, evitar aglomerações. Outra recomendação da OMS, é o uso de luvas para tocar em dinheiro. Além de higienizar as mãos com álcool gel por aproximadamente 30 segundos. Legenda: Lavatório fora de utilização. Créditos: Angelo Pieretti

RE Adaptação Diversas medidas foram tomadas para conter a disseminação do vírus no metrô, a maior delas, conforme o decreto n° 55.154/2020 do governo estadual, que dita como norma o espaço de 1 metro quadrado por usuário no trem. Na época do lançamento, o executivo estabeleceu que deveriam estar separadas atividades entre essenciais e não essenciais. Com o intuito de evitar a aglomeração em diversos espaços públicos e privados, como por exemplo, no setor de transportes. Outras ações tiveram impacto direto na circulação de usuários, como o fechamento das bilheterias em estações menos movimentadas, além do acréscimo de trens acoplados (dois veículos conectados) circulando durante toda a operação. Conforme o diretor de ope-

rações Fidell, esta medida também ajudou para que não faltassem pilotos: “nos possibilitou ofertar mais lugares para que os usuários pudessem se espalhar no interior dos vagões”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em sua página um documento com recomendações para evitar o contágio em transportes públicos. Entre as inúmeras determinações, a carta recomenda a identificação para o usuário de locais com grande fluxo de pessoas. O objetivo é justamente evitar aglomerações. A entidade também destaca o uso de luvas para tocar em dinheiro, além da higienização das mãos com álcool gel por aproximadamente 30 segundos. O uso de máscaras é como em todo lugar, ou seja, obrigatório. No caso do metrô, já

desde a entrada na estação, porém, a reportagem confirmou que a fiscalização na área de embarque e no interior dos vagões não é realizada. Outra ação não averiguada é em relação ao cuidado com o distanciamento entre os passageiros antes de embarcar, ou seja, nas estações. Outra readaptação foi a instalação de adesivos no chão de todas as estações para marcar a distância entre cada pessoa. A Trensurb também realizou a instalação de lavatórios com acionamento automático de água e sabão nas estações Mercado, Rodoviária, em Porto Alegre, Canoas, Mathias Velho, em Canoas, bem como em Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Todos estavam disponíveis durante boa parte da pandemia, mas alguns estragaram e houve falta de manutenção, restando somente as estruturas sem funcionamento nas estações.

Funcionários Para quem está na linha de frente do transporte de passageiros em meio à pandemia, como o supervisor e piloto do setor de tráfego da Trensurb, Matheus de Almeida, sempre existe um receio quanto à segurança própria, mas também para não transmitir a covid-19. “Em função dos cuidados e disponibilidade de produtos de higiene, o medo não é total. Como ficamos isolados na cabine de pilotos, sempre a mantemos limpa”, explica.

Esta mesma sensação, nem sempre é sentida por parte dos usuários, como relatou o passageiro Lucas Santana: “é muito difícil me sentir totalmente seguro nas viagens”. Ele percorre o trajeto entre Canoas e Porto Alegre em horários de pico, sempre entre as estações Luiz Pasteur e Anchieta. "Os vagões estão sempre cheios e sempre tem um ou outro usuário sem máscara ou usando de forma errada”, alerta.

“é muito difícil me sentir totalmente seguro nas viagens”


Transporte

Informação 11 // UniPautas - Julho 2021

O Posicionamento Por meio de sua assessoria, a Trensurb posicionou-se em relação aos pontos apresentados nesta reportagem.

Uso de máscara

Campanha de os agentes têm outras prevenção. porém atribuições e, infelizmente, A verificação quanto ao uso de máscaras é feita na linha de bloqueios (ou catracas), pelos agentes de estação e/ou os seguranças e também nas rondas da segurança pelas estações e trens. Nos casos de denúncia de usuários, as ocorrências são atendidas pela segurança,

nem sempre conseguem atuar a tempo, de modo que o transgressor já deixou o sistema ou já colocou novamente sua máscara. Vale destacar que temos uma campanha de comunicação sobre a prevenção à Covid-19 junto aos usuários, veiculada por meio de redes sociais, material gráfico, monitores e avisos

sonoros nos trens e estações. Uma das principais orientações da campanha é justamente sobre o uso correto de máscaras de proteção. Infelizmente, nem todos têm consciência dessa prática que é fundamental para combater a propagação do vírus. Porém, mesmo com fiscalização por parte da empresa, trata-se de uma atitude que depende de cada um de nós.

Lotação A Trensurb avalia que, com a demanda reduzida (mantendo-se próxima a 50% da demanda normal, anterior à pandemia), a oferta nos horários de pico (até 25 trens rodando simultaneamente, muito próxima da oferta normal pré-pandemia, com até 26 trens simultâneos) é suficiente para atender a determinação do Governo do Estado que limita a ocupação dos veículos em 50% de sua capacidade – o que corresponde a três passageiros por metro quadrado. A empresa informa ainda que realiza moni-

toramento constante da situação do sistema, posicionando trens reservas ao longo da via para que entrem em operação nos horários de pico em caso de necessidade. A fim de evitar eventuais aglomerações, é importante também que os usuários fiquem atentos ao uso de toda a área de parada dos trens nas plataformas enquanto aguardam o embarque, especialmente no caso de composições acopladas. Do contrário, pode haver concentração de passageiros no interior dos carros centrais

dos trens. Avisos sonoros nas estações reforçam essa orientação – além de divulgarem campanha de conscientização desenvolvida pela empresa sobre as medidas de prevenção à Covid-19. Também é importante que os usuários busquem evitar os horários de pico quando possível e que os empregadores flexibilizem os horários de entrada e saída do trabalho, evitando que haja grande concentração de passageiros no transporte público em apenas alguns horários.

Lavatórios Infelizmente os lavatórios têm sofrido com ações constantes de vandalismo e ainda com o e furto de peças (principalmente sensores). Isso ocorre em boa parte das estações durante todo o trajeto.

Atualmente, temos equipamentos em funcionamento apenas nas estações Mathias Velho, na cidade de Canoas, além dos municípios de São Leopoldo e Novo Hamburgo, no Vale

do Sinos. A empresa está estudando uma solução, o mais rápido possível, para colocar novamente o maior número de lavatórios possíveis em operação. Mas é importante

''Nos casos de denúncia de usuários, as ocorrências são atendidas pela segurança, porém os agentes têm outras atribuições e, infelizmente, nem sempre conseguem atuar a tempo[...]'' ''[...]é importante também que os usuários fiquem atentos ao uso de toda a área de parada dos trens nas plataformas enquanto aguardam o embarque, especialmente no caso de composições acopladas.'' que os usuários tenham a compreensão de que estes equipamentos são para todos, inclusive para quem depreda. As pessoas que notarem qualquer situação deste tipo, desde que

preserve a sua segurança, se possível, procurem a empresa. Se não for possível evitar em tempo, pelo menos para que o relato sirva para uma providência mais urgente possível


Informação

Educação

O POLÊMICO RETORNO Porto Alegre ÀS AULAS EM Em meio à discussão de remoto e presencial, TEMPOS houve ação judicial, greve e protestos. DE PANDEMIA \\ 12 UniPautas - Julho 2021

“Escola Aramy Silva. Créditos: Alex Rocha/ Creditos: PMPA.''

por Johan Strassburger

P

assado um ano do início da pandemia do coronavírus no País, com o primeiro caso confirmado em São Paulo, dia 26 de fevereiro de 2020, uma polêmica envolveu o retorno às aulas em Porto Alegre. Além das questões de segurança sanitária e das discussões sobre modelos remoto ou presencial, houve protestos por parte dos servidores municipais, assim como greve, e o caso foi parar na Justiça. Mas longe de acabar, as tratativas continuam porque pais, responsáveis e professores alegam que, mesmo com os alunos em salas de aula, as condições apresentadas pela prefeitura nem sempre são consideras as melhores para evitar novas contaminações. O prefeito Sebastião

Melo e sua equipe disponibilizaram dados sobre casos em instituições de ensino públicas e privadas, mas com o avanço da doença em todo o Rio Grande do Sul, principalmente a partir de março deste ano, com uma nova onda registrada, a maior preocupação foi em como evitar que infecções pudessem ocorrer nas escolas. Essa situação gerou protestos entre abril e maio deste ano, mas mais ainda, gerou uma ação na 1ª Vara da Fazenda Pública da capital. A Justiça acabou negando, no início de maio, o pedido de entidades de trabalhadores da educação, além de associação de pais e mães, mantendo as aulas presenciais liberadas. A alteração dos critérios definidos pelo governo estadual para

a classificação de risco de bandeira vermelha foi fundamental para a decisão do Poder Judiciário. Pouco antes disso, Melo já havia se pronunciado e informado que a volta às aulas não poderia, por exemplo, depender da vacinação de professores. “Não podemos judicializar essa questão e não podemos dar

aulas em igrejas e bares, claro, uma brincadeira, já que estão abertos a mais tempo”, ressaltou Melo em uma “live” pela internet. A Justiça, durante várias audiências de conciliação, tentou encontrar uma solução para o impasse, entre servidores, sindicatos e executivo, principalmente na questão da vacinação

dos docentes, mas praticamente não houve acordos. Durante uma, das várias coletivas de imprensa, a diretora de Comunicação do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Cindi Sandri, disse que as ordens judiciais não poderiam ser desrespeitadas. “Defendemos o retorno das aulas presenciais, mas isso sempre esteve condicionado às questões de segurança para todas as pessoas envolvidas nesse processo”, informou.

"Em "live", o prefeito fala que não pode se judicializar a vacinação de professores" Foto: Giulian Serafim / PMPA


Educação

Informação

Salas fechadas, vírus controlado

13 // UniPautas - Julho 2021

O efeito do vírus com a chegada do chamado letal”, com o agra'mês letal'. “março vamento do número de

Em Porto Alegre, as escolas municipais e privadas tiveram um número significativo de alunos, funcionários e professores engajados para em aulas presenciais, isso de 27 de setembro do ano passado até o mês janeiro de 2021. Mas veio o chamado

mortes pela covid-19. Os alunos em atividades nas escolas representavam 78% do total durante esse período. Por outro lado, ainda em 2020, no período de 8 de novembro a 6 de dezembro, ao todo, 119 estudantes contraíram a doença, além de docentes, um total de 236 infectados.

“A Escola Vila Floresta já voltou a atender os alunos.” Crédito: Johan Strassburger

Gráfico de contaminação por covid-19 nas escolas de poa durante o lockdown

Creditos: Johan Strassburger

DADOS EM PAUTA

Bandeira vermelha, aulas híbridas O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado a liberar as aulas presenciais por decisão do governador Eduardo Leite, que alterou o modelo de distanciamento controlado para um modelo que dá mais autonomia para

as prefeituras, a chamada cogestão. Com isso, as bandeiras das regiões passaram a cor vermelha, com menos restrições. Com essa alteração, o modelo adotado paras aulas foi o híbrido, onde não há a obrigatoriedade

de todos os alunos estarem presentes e, os que foram para as escolas, tiveram de cumprir várias regras. Uma delas foi a distância entre os estudantes dentro da sala de aula. “É preocupante que essas medidas de flexibilização estejam sendo

adotadas na capital. Já houve casos em outros municípios de professores que foram contaminados pelo covid-19 e, por causa disso, as escolas precisaram ser fechadas novamente. Com a liberação do retorno às aulas, o aumento dos casos irá ocasionar em

No período de férias escolares foi visto uma queda nos números de contaminados e, com o retorno das aulas sendo cancelado inicialmente, houve queda de 3,50% nos números de infectados entre os alunos no período de 21 de fevereiro até 14 de março de 2021

uma procura maior de hospitais para que seja realizado o tratamento contra doença”, explicou o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Petry, doutor em Epidemiologia em uma entrevista por telefone.


Informação

Educação

\\ 14 UniPautas - Julho 2021

Mais da acão judicial

são judicial, em abril deste ano. Nesta última medida, após desgaste e protestos na cidade, bem como uma greve dos municipários, justamente por causa do impasse, a decisão foi favorável ao retorno das aulas presenciais. Mas mesmo com a decisão favorável, as aulas foram retomadas para o ensino infantil e para os 1º e 2º anos do ensino fundamental em Porto Alegre, envolvendo escolas privadas, estaduais e municipais. Através do decreto 55.856, o governo do Estado permitiu o retorno, mesmo com a situação de pandemia ainda fosse considerada crítica por infectologistas. Com isso, a prefeitura da capital anunciou o retorno da aula presencial em maio deste ano.

Situação Epidemiológica em POA 17/05

Educação na bandeira vermelha Tem como regra geral o ensino híbrido (remoto e/ ou presencial). Nas atividades presenciais, a ocupação máxima se dará com base no distanciamento mínimo de 1m50cm entre as classes e do professor, com uso de materiais individuais. Ficam vedadas atividades coletivas que envolvam aglomeração ou contato físico. As

mesmas regras se aplicam da Educação Infantil ao Ensino Superior, as únicas mudanças são para atividades de apoio à educação, cuja ocupação é de 25%. O retorno não é obrigatório e poderá ser definido pelos pais e responsáveis dos estudantes. Quem optar por seguir em casa deverá dar sequência às atividades propostas pelo

modelo de ensino remoto. Estão permitidas, também, aulas de cursos de ensino profissionalizante, de idiomas, de arte e cultura e de música. Aulas de esporte, dança e artes cênicas precisam seguir as regras das atividades de ensino e os protocolos de serviços de educação física e/ou clubes sociais, esportivos e similares.

No Boletim Epidemiológico da cidade, ilustrado a baixo, do dia 17 de maio de 2021, há 144.356 casos confirmados, com 136.401 pessoas recuperadas, totali-

zando 94,49% das pessoas que foram contaminadas conseguiram se recuperar e pacientes internados realizando o tratamento contra o vírus.

“O modelo de aulas a distância tem sido bom para meus estudos, mas, em minha opinião, o modelo híbrido é o mais adequado pois alguns alunos não tem condições, como rede de internet ou computadores, para acompanhar as lições pela internet’’, diz a estudante de Ciências Biológicas da UFRGS, Gabrielle Dorneles Guedes, de 18 anos, por entrevista pelo WhatsApp.

Helena Regina Dias Dorneles da Silva, de 52 anos, concorda com a filha Gabrielle e pensa que o retorno à sala de aula pode ajudar os alunos que se encontram em uma situação onde requer a atenção presencial de professores e colegas para poder manter uma condição de saúde mental estável, além dos outros apoios que são providos pelas as escolas.

Creditos: Johan Strassburger

A medida do governo, entre abril e maio deste ano, não foi bem recebida por representantes de professores, pais ou responsáveis. Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD) e o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), ingressaram com uma ação civil pública para barrar o retorno das aulas. A decisão da juíza Rada Maria Metzger Kepes Zaman, da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Porto Alegre, foi favorável a barrar a aula. De acordo com o documento disponibilizado pelo Cpers, a magistrada alegou que a capital estava com 90,9% dos 783 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ocupados para o tratamento da covid-19. A decisão foi em novembro de 2020. No 27 de fevereiro de 2021, apesar do aumento de leitos disponibilizados, a ocupação subiu para 861, ou seja, 101,20% da capacidade, e havia pacientes em espera dentro das UTIs. “Os números são completamente alarmantes e a previsão não é de diminuição de contaminados em um futuro próximo”, alegou na época a magistrada Rada Maria. Mas, desde então, houve audiências de conciliação e nova deci-

Foto: Divulgação/CPERS


Atenção

Informação

ESTADO EM ALERTA PARA A DENGUE

15 // UniPautas - Julho 2021

A Covid-19 é uma realidade alarmante, mas a dengue também é.

por Aldrey Dornelles, Andressa Ternes, Fredo Tarasuk, Lucas Eliel Gonçalves

O

Rio Grande do Sul atualmente vive uma situação epidemiológica com a Covid-19 que exige atenção, porém não somente com o coronavírus, mas também com a dengue. Segundo o Painel do Coronavírus do RS são mais de um milhão de casos confirmados da doença, enquanto a dengue segundo a semana epidemiológica 19 são cinco mil setecentos e noventa casos confirmados. Segundo os dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul, CEVS, da semana epidemiológica que compreende dos dias 09/05 a 15/05, 2021 já é o ano com mais casos confirmados de dengue em todo o Estado desde 2010, quando na época foram registradas três mil trezentos e oitenta e uma pessoas com a doença. Ilustrando o impacto da dengue neste ano, 2021 já superou os números de casos suspeitos de 2016, quando na época foram contabilizados seis mil setecentos e oitenta e um, sendo o maior ano com casos notificados. Por isso é preciso debater a dengue e entender como ele, o mosquito Aedes Aegypti, contamina as pessoas e como podemos se prevenir.

O que é a dengue? Auxílio médico. A dengue é uma zoonose, causada por um arbovírus transmitido pela picada do mosquito Aedes Aegypti. O infectologista da Santa Casa, Claudio Stadnik, explica como funcionada a infeção. “O vírus infecta alguns animais geralmente mamíferos e esse vírus pode ser transmitido ao homem, não através dos animais e sim através de uma picada de mosquito.” O médico completa sua fala “Então tem alguns mosquitos de algumas espécies específicas que podem picar aquele animal que chamam de reservatório e

depois quando picam o homem levam o vírus até o homem”. O especialista deixa claro que a contaminação por outro modo são extremamente raras e não acontecem por transmissão pela água ou por secreções, muito menos pela mordida e sim pela picada especifica deste mosquito “Existem alguns mecanismos raros de transmissão, por exemplo, transplantes de órgãos. Se a gente pega um doador de um fígado que esteja com dengue naquele momento ele pode transmitir a dengue para o receptor.”, porém, Stadnik, reitera que esses são casos raros de transmissão. A Sociedade Brasileira

Os casos de dengue são notificados em todos os meses do ano, embora haja um aumento durante a sazonalidade | Foto: Public Health Image Library

de Infectologia explica que, uma pessoa pode ser contaminada pela dengue até quatro vezes. Isso ocorre por conta da existência de quatro tipos de vírus da dengue. Após a infecção, o corpo fica imune ao sorotipo que o atacou, podendo no futuro se infectar com os outros três. Nos dados da semana epidemiológica 19 da CEVS o sintoma mais comum da dengue, é a febre. Outros sintomas relatados são dores de cabeça, dores musculares, náuseas e dores nas costas. A responsável pelo programa de Arboviroses no Rio Grande do Sul, Cátia Favreto, indica a procura

de um posto de Saúde. “Se sentiu algum desses sintomas, tem que procurar a rede de atendimento do município, ou seja, a unidade básica via SUS, ou seja, seu médico particular. A critério da população.” Cátia ainda deixa claro que a rede está preparada para o atendimento. É muito importante procurar ajuda médica mesmo que não haja um tratamento para dengue em específico, os sintomas dela podem ser tratados separadamente. Além disso, indo até uma unidade de saúde, você ajuda o Estado a monitorar os números de casos. Isso, claro, se for confirmado o diagnóstico.


Informação

Atenção

\\ 16 UniPautas - Julho 2021

Quando falamos sobre a doença no Estado, temos uma perspectiva um pouco assustadora, essa é a primeira vez desde 2000 que o Rio Grande do Sul tem a maior parte dos municípios infestados pela dengue. São 414 no total. Só em Erechim, no norte do Estado, foram registrados até o dia 15 de maio três mil quatrocentos e oitenta e nove casos confirmados de dengue, até então o município é o que possui maior número de pessoas infectadas este ano. O diretor da Vigilância em Saúde de Erechim, Éverton Guterres, relata uma demora para o registro do primeiro caso da dengue e que após isso o município passou a prestar mais atenção na doença e em seus cuidados. O diretor ainda aponta como a questão do acumulo de lixo na cidade pode contribuir para o aumento de casos da dengue, quanto mais acumulo de lixo, mais difícil é acabar com os focos, já que o lixo acumula água e assim consequentemente acumula possíveis fontes para a dengue. Além disso, Guterres ainda relata como o mês de fevereiro foi complicado para Erechim por conta do aumento de casos da Covid-19 e da dengue. “As UTI’s lotaram, nós ficamos 40 dias com bandeira preta. Fazendo muita fiscalização sanitária, que envolve os fiscais ambientais, nós tivemos que puxar o pessoal do meio ambiente para fazer Covid, foi bem complicado”. Para o diretor, a vigilância virou praticamente uma zona de guerra por conta dos cuidados necessários para Covid-19 e a dengue. A situação não muda

muito para o segundo município com maior número de casos no Rio Grande do Sul, Santa Cruz do Sul, com mil quatrocentos e noventa e um confirmados até o dia 19 de maio. O município mantém a atualização dos dados em sua página do Facebook. Na cidade ainda foram registrados três óbitos pela doença. Ao todo, segundo o CEVS, foram registrados seis óbitos no Estado até o dia 15 de maio, porém no dia 19 de maio Santa Cruz do Sul atualizou de dois óbitos para três, sendo assim como não há uma semana epidemiológica do Centro mais atualizada que a 19, são seis óbitos pelo CEVS, mais um registrado pela secretaria de Santa Cruz do Sul, totalizando ao menos sete óbitos pela dengue neste ano. Os óbitos foram registrados nas cidades de Erechim, Santa Cruz do Sul e Bom Princípio.

DADOS EM PAUTA

Informativo epidemiológico de arboviroses de 2021 semana epidemiológica 19 (09/05 a 15/05).

Fonte: Sinan Online

Dengue no estado

Prevenção Abordar dengue sem abordar a prevenção é um erro, é necessário que haja um debate sobre quais as medidas que as pessoas podem tomar para ajudar o combate à doença. O diretor da Vigilância Sanitária do Município de Erechim, Éverton Guterres, fala sobre a importância da prevenção “Não adianta o poder público fazer tudo e mais um pouco, porque o que a gente é enxugar gelo, agora é gasto. O que deveria ter sido feito é a prevenção”. Já Para o diretor da Vigilância Sanitária de Santa Cruz do Sul, Tainã Barthel, a população se preocupa exageradamente com coisas que de fato não ajudam na prevenção. O diretor então esclarece sobre as medidas que devem ser tomadas para prevenção “A gente tem

que eliminar qualquer possível criadouro do mosquito que é o que poderia juntar água”. Barthel então exemplifica quais seriam os possíveis criadouros como tampinhas de garrafas pet,ou outro objetos que estejam no pátio que podem acumular água devem ser recolhidos e pratos de plantas devem ser colocados areia e uma vez na semana a areia deve ser trocada e o prato deve ser limpo com esponja esfregando para eliminar possíveis ovos do mosquito. O diretor de Vigilância Sanitária de Erechim, Éverton, chama a atenção para um ponto importante, os potes de água para animais, que acumulam água parada e não são devidamente higienizados. Assim como os pratos de

plantas, os potes de animais precisam ser lavados com esponja ao ser feita a troca da água semanalmente. O ovo da dengue pode ter aderido a superfície, sendo assim, somente jogar a água fora não bastaria, é necessário esfregar o pote para que ele solte, evitando que o ovo possa eclodir. A prevenção é de suma importância, pois a doença pode matar, o infectologista da Santa Casa de Porto Alegre, Claudio Stadnik reitera sobre a letalidade da dengue “Não são todos os casos que ficam graves, é claro. É em torno de 1% dos pacientes, que tem o quadro grave”. O quadro grave se refere a pacientes com sangramentos devido a dengue, mas não só isso, podendo vir a ter hipotensão, inflamação

do corpo todo, entre outros sintomas. O médico completa “É um quadro bem grave, bem difícil e que muitas vezes exige UTI e muitos pacientes podem morrer”. Por conta disso é necessário levar mais a sério os perigos da doença, a responsável pelo Programa de Arboviroses, Cátia Favreto, reitera os perigos da doença “As pessoas precisam saber que a dengue também mata. Hoje a gente já tem seis óbitos no Estado. Então ela mata sim. A gente alguns surtos de dengue em vários municípios do Estado”. Por conta disso, é preciso estar alerta aos sinais e sintomas e principalmente fazer a limpeza do terreno. A prevenção é o principal meio de combate a dengue.


Cultura

Mudanças na sétima arte

Informação

CINEMA DE VINIL

17 // UniPautas - Julho 2021

Fonte: Freepik.

Fechadas na maio parte do último ano, salas de exibição não puderam trazer muitas novidades.

por Matheus Machado

D

esde a chegada da pandemia no início de 2020 no Brasil, os cinemas passaram a maior parte do tempo de portas fechadas, algo inédito na sua história. Sem o seu habitat natural, os filmes precisaram migrar diretamente para as plataformas digitais. E o público, acostumado com a atmosfera criada com o apagar das luzes, o silêncio e um ambiente confortável, precisou encontrar no próprio lar um lugar para assistir aos longas-metragens desejados. As grandes atrações que geravam expectativas no público foram adiadas,

algumas delas como Viúva Negra, do Marvel Studios, e Duna, da Warner Bros., já teriam estreado, mas, com a pandemia, esses filmes ainda não puderam ser assistidos. “Todo mundo perdeu, os filmes que foram lançados perderam, a gente como espectador perdeu porque não tem a mesma qualidade de imersão no filme”, lamentou Rodrigo Salem. Há mais de 8 anos como correspondente da Folha de São Paulo em Los Angeles, nos Estados Unidos, Salem teve o hábito de ver filme alterado. Em casa encontrou a dificuldade de se concentrar nas histórias que assiste. “Me distraio facilmente, preciso de um cinema para

isso”, contou o jornalista. Mesmo com uma televisão grande e controlando os ruídos do ambiente, ele admitiu que a experiência não é a mesma. Salem também é crítico de cinema e tinha em sua rotina o costume de ir em cabines de imprensa (uma sessão fechada para convidados que escrevem sobre filmes antes da estreia). Membro da Associação de Críticos de Hollywood, do Critics’ Choice e da Motion Picture of America, o jornalista acredita que o cinema vai mudar. “Não acho que o cinema vai acabar, só acho que ele vai ficar diferente”, comentou. A opinião vai além.

Com as novas dinâmicas de lançamento de filmes que se acentuaram durante a pandemia, ele acredita que o cinema será algo para “colecionador”. As pessoas vão continuar acompanhando os grandes filmes como Vingadores: Ultimato ou os novos capítulos da saga Star Wars. Mas de modo geral, o local (cinema) precisará de algo a mais. “O cinema vai virar um grande disco de vinil”, afirmou Salem. A comparação com o vinil se dá pela experiência com produto. O jornalista explicou que adquire os discos pelo pacote completo: “eu compro porque tem a capa maior, a prensagem dá uma qualidade

maior para ouvir, é mais bonito, o encarte é grande e vem autografado pelo artista”. Para ele, todos esses ingredientes que enriquecem o material, deverão ser inseridos no cinema. A visão de Salem é uma expectativa a médio prazo, em um cenário onde a pandemia esteja controlada no mundo todo. Embora acredite que o cinema irá mudar, o jornalista destacou que, em um primeiro momento, o público comparecerá em peso ao cinema. Depois de tanto tempo em casa, as pessoas vão querer ir para rua. E as salas de exibição serão um dos lugares mais visitados.


Informação

Cultura

\\ 18 UniPautas - Julho 2021

Cinema e Experiência “Sinto falta da experiência completa, chegar no cinema e ter aquele cheiro de pipoca..."

Cinéfilo de carteirinha, Thomás Boeira, de 28 anos, não põe os pés nos cinemas desde o dia 1º de março de 2020. Entre as saudades de frequentar o espaço, estão o cheiro de pipoca e a preparação antes do filme começar. Os elementos que fazem parte da experiência de ir ao cinema, segundo ele, fazem falta. “Sinto falta da experiência completa chegar no cinema e ter aquele cheiro de pipoca, de entrar na sala cuidando para não tropeçar nas escadas, das luzes se apagando, da tela e do

som de qualidade”, revelou Boeira. Assim como Salem, o cinéfilo afirmou que mesmo tendo uma televisão grande e uma boa aparelhagem de som, “nada supera, realmente, a experiência de uma sala de cinema”. Esses atributos, que vão da qualidade da projeção até o conforto da poltrona e o ambiente climatizado, são atrativos importantes das salas de cinema. A professora de Administração e Marketing do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Priscila Esteves, acredita nisso. Para ela, o espaço físico é um fator essencial para que o público continue assistindo os filmes na telona. “A gente vai para

Adaptação Digital Com a maioria das salas fechadas, os estúdios e distribuidoras precisaram apostar em novos meios para o lançamento de filmes. De antemão, a Walt Disney Pictures já tinha a sua própria plataforma, o Disney+. Nela, a empresa decidiu quais os novos títulos seriam disponibilizados para os assinantes através do Premiere Access. Enquanto o longa-metragem chegava aos cinemas que estavam abertos, o streaming disponibilizava a obra por valor adicional.

O modelo estreou em março de 2021 no Brasil, com a animação Raya e o Último Dragão. Entre os dias 5 e 19 de março, os usuários do Disney+ precisavam pagar R$ 69,90 para assistir ao filme em casa. Quem não tivesse pressa para conferir a atração podia esperar até 23 de abril, quando o desenho entrou no catálogo da plataforma para todos os assinantes. A estratégia seguirá nos próximos meses. Viúva Negra, filme que trará Scarlett Johansson de volta ao papel da per-

um lugar especial e consegue entrar mais no filme”, disse Priscila. Mesmo com as tecnologias dando a opção de assistir filmes quando, o n d e e c o m o q u i s e r, os frequentadores do cinema ainda preferem a tela grande, a qualidade de som e imagem, além do ambiente de uma sala de exibição. “Dificilmente a pessoa tem uma boa estrutura em casa para assistir áudio e vídeo”, disse Priscila. Independentemente do tipo de filme, seja um drama ou comédia, a praticidade de vê-lo em casa nem sempre vai garantir uma experiência satisfatória com a obra cinematográfica.

sonagem-título, será lançado em 9 de julho nos cinemas e no Disney+, com o mesmo Premiere Access. Analisando o formato, Salem ressaltou que a Disney não divulga os resultados dessas estreias, mas acredita que a ação tem dado certo: “eles não revelam números, para saber se esses lançamentos foram bem-sucedidos, mas acho que sim porque eles estão fazendo novamente”. Quem não tem a própria plataforma de streaming precisa encontrar outras maneiras de levar seus lançamentos ao público. Foi o caso da Vitrine Filmes com Druk – Mais Uma Rodada. O longa-metragem representou a Dinamarca no Oscar 2021 e venceu o

Cinema em Casa Assistir um filme no cinema é também dedicar o seu tempo para este momento. É sentar-se em uma poltrona e pelas próximas duas horas se entregar para uma história. Em casa, a situação é outra. Boeira, por exemplo, trabalha com edição de vídeo, e a rotina profissional e a convivência no lar, por vezes, o impedem de assistir alguma obra audiovisual. O cinéfilo revelou que, em outros tempos, assistia “três ou quatro filmes em um dia”, mas atualmente “tem sido difícil se concentrar para assistir qualquer coisa”. Segundo ele, em casa, há muitos detalhes prêmio de Melhor Filme Internacional. A premiação ocorreu no dia 25 de abril, uma data atípica, pois a cerimônia costumava acontecer em fevereiro. Mas neste ano precisou ser adiada por conta da pandemia.

que roubam a atenção. “O telefone que toca, parar o filme para ir ao banheiro, trabalho em casa, eu nunca estou inteiramente livre pra assistir algo tranquilamente”, contou Boeira. Ao longo de 2020 e dos primeiros meses de 2021, os cinemas puderam reabrir, de acordo com a situação de cada localidade em relação à pandemia. Boeira, no entanto, afirmou que não se sentiu à vontade de sair de casa para ver um novo filme na tela grande: “não sinto que tenha segurança e controle suficiente da pandemia para ir em um ambiente fechado com pessoas que não conheço”. Mesmo com essa possibilidade, a continuidade da reabertura era incerta. Os números de contaminação e morte ainda são fatores cruciais para os cinemas poderem ou não funcionar. Com a situação, as distribuidoras precisaram criar alternativas para lançar seus filmes.

Com poucas salas de cinema abertas, ‘Druk – Mais Uma Rodada’ foi lançado em poucas sessões presenciais e disponibilizado para compra ou aluguel em plataformas digitais. | Crédito: Vitrine Filmes


Cultura

Informação 19 // UniPautas - Julho 2021

“O Oscar é um fator que a gente precisa aproveitar, o que a gente está tendo de retorno nas plataformas (digitais) por causa das indicações é muito bacana”

Outras Opções

Com o cenário provocado pela covid-19, a distribuidora optou por lançar a obra dirigida por Thomas Vinterberg nos cinemas que estavam abertos e em plataformas de compra e aluguel de filmes, o VOD (Video OnDemand). Economicamente, ter filmes com indicações ao Oscar é uma boa oportunidade de levar mais pessoas às salas de exibição em tempos normais. “O Oscar é um fator que a gente precisa aproveitar, o que a gente está tendo

de retorno nas plataformas (digitais) por causa das indicações é muito bacana”, revelou Felipe Lopes, diretor da Vitrine Filmes. Embora a resposta do lançamento online de Druk tenha sido positiva, o serviço de compra e aluguel de filmes é como uma versão digital das locadoras, mas com menos lucrativo. “O aluguel individual não tem o mesmo peso que tinha antigamente, a gente tinha mais receita com o vídeo físico do que temos com o aluguel digital”, disse o diretor da distribuidora. Tanto as plataformas digitais da compra e alu-

guel, quanto a Agência Nacional do Cinema (ANCINE) divulgam números sobre os rendimentos desse formato. Lopes observou que os espectadores assinam o streaming, mas “o aluguel individual não tem o mesmo peso que tinha antigamente”. A exemplo disso, Boeira que é assinante da Netflix e do Amazon Prime Video, revelou que nunca alugou filmes nessas plataformas. Os serviços de streaming são o local onde ele mais assiste longas-metragens. “Tenho também a minha coleção de filmes em mídia física que eu trato com muito amor e carinho”, contou.

Esperança em atrações inéditas Várias plataformas Ricardo Difini, diretor de operações do GNC Cinemas admitiu que a reabertura animou o mercado exibidor. “Quando lançamos Mulher-Maravilha 1984, entre dezembro e janeiro, melhorou bastante a situação dos cinemas, mas depois chegou a nova onda e nós tivemos problemas”, disse Difini. O diretor do GNC Cinemas afirmou que “a situação dos cinemas é indescritível”. “Isso nunca aconteceu, os cinemas estão praticamente há um ano sem funcionar”, ressaltou. Sem saber como a pandemia seguirá nos próximos meses, Difini mantém a esperança em dias melhores. A aposta

é nos filmes inéditos e aguardados pelo público. “Acredito que o que nós realmente precisamos é de produto novo, com esses filmes a gente vai conseguir retomar a normalidade dos cinemas”, afirmou o diretor. Godzilla vs Kong, filme que traz o embate entre as duas criaturas, é o começo da esperança. Nos Estados Unidos, o streaming da WarnerMedia, o HBO Max, disponibilizou o longa de graça para os seus assinantes. Mesmo assim, o blockbuster (filme de grande orçamento) arrecadou US$ 93 milhões no País até o dia 11 maio, segundo o Box Office Mojo. No Brasil, entre 6 e 9 de maio, Godzilla vs.

Kong arrecadou R$ 1,9 milhões nas bilheterias, de acordo com o ComScore. O resultado é fruto da reabertura do comércio em algumas cidades. Para Difini, o sucesso reafirma a relevância do cinema: “o lançamento do Godzilla vs Kong nos EUA mostra isso, ele foi lançado nos cinemas e no HBO Max, e o sucesso nos cinemas foi muito grande”. A pandemia mudou provisoriamente a relação dos espectadores com os filmes. Modificou ainda o modo como as produtoras e distribuidoras trabalham com as exibidoras e as plataformas digitais ou de streaming. Essas transformações precisarão de tempo para se modelarem. Quando os cinemas voltarem em definitivo, o público poderá desfrutar ainda mais do seu novo poder de escolha.

“Não é o fim do cinema... Para as produtoras e distribuidoras, a bilheteria do cinema ainda é um fator importante. O dinheiro ainda existe lá, e ninguém vai jogar esse dinheiro fora, é muita grana”,

Mudança Inevitável O desafio imposto pela pandemia fez com que as distribuidoras se preocupassem mais com o digital. Antes, o filme tinha sua janela no cinema e depois ia para as plataformas. Agora é preciso fazer tudo ao mesmo tempo. Para Salem, a dinâmica pode mudar o cinema. “A pandemia foi um catalisador, adiantou em 5 ou 10 anos o que era inevitável, acelerou e não vai ter volta”, afirmou o jornalista. Para Salem a mudança não significa o fim. “Não é o fim do cinema”, destacou o crítico da Folha de São Paulo.

Bilheterias afetadas Para as produtoras e distribuidoras, a bilheteria do cinema ainda é um fator importante. “O dinheiro ainda existe lá, e ninguém vai jogar esse dinheiro fora, é muita grana”, afirmou Salem. As transformações que o cinema sofrerá virão com o tempo, e este é o que vai confirmar se elas vão acontecer ou não.


Entrevista \\ 20 UniPautas - Julho 2021

O ser Jornalista

Antônio Carlos Macedo Antônio Carlos Macedo apresenta o programa Gaúcha Hoje, todas as manhãs, das 5h às 8h, desde 2002 (Fonte: Divulgação/Arquivo pessoal)

“penso no jornalismo olhando para frente”

por Leonardo Bender

Jornalista há mais de 45 anos, apresentador da Rádio Gaúcha diz que o profissional hoje não terá sucesso se ficar preso ao passado.

A

presentador dos programas “Gaúcha Hoje” e “Chamada Geral: 1ª edição” da Rádio Gaúcha de Porto Alegre, Antônio Carlos Macedo, observa que o jornalismo e a tecnologia estão em constante evolução, por isso aconselha: “ver o passado serve para enxergar o que fez e tomar como referência. Temos que olhar para frente”. O jornalista, de 65 anos, conta que, antigamente, havia colegas que se orgulhavam por não terem celular, atualmente, ele considera essa postura um absurdo, pois “não tem como abrir mão disso". O experiente jornalista, que cobriu cinco Copas do Mundo e três Olimpíadas, auxilia e cobra, seguidamente, seus colegas. Ao mesmo tempo que considera que pode estar sendo

chato fazendo isso, Macedo entende que, se não fizer, estará deixando de ser autêntico, uma das coisas que mais preza em si mesmo. “Vou sempre tentar dar meu melhor, ajudar meus colegas, transmitindo o que aprendi”, disse o comunicador. Natural de Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Macedo cresceu em família simples (sendo o primeiro a entrar em um curso superior) e bairro humilde, que até hoje sofre com enchentes. Os pais do jornalista sempre indicaram a ele que deveria seguir e focar apenas em seus estudos, sem se deixar levar pela tentação de ter logo um emprego e seu próprio dinheiro. Para isso, por ser de uma família carente economicamente, o jovem Macedo teve que se submeter a muitas coisas,

como por exemplo, usar várias vezes a mesma calça a semana toda e colocando-a para lavar nos finais de semana. “Por mais que tenha me privado de algumas coisas, hoje vejo que me dei bem”, conta orgulhoso de sua trajetória. As relações com o rádio e o jornalismo começaram há mais de meio século, isso porque, ainda pequeno, Macedo já frequentava as instalações da Rádio Gaúcha. Ele acompanhava sua tia Jane, que era atriz da emissora. Além disso, seu tio, Antônio Carlos Porto, era cronista esportivo da extinta Caldas Júnior, empresa que Macedo viria a iniciar sua carreira. Apesar da influência familiar, o jornalista só soube que realmente queria essa profissão às vésperas do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Conselho do pai No início da década de 1970, Macedo fazia o curso científico, equivalente ao ensino médio de hoje, no Colégio Estadual José Loureiro da Silva, onde começou a demonstrar os primeiros sinais de que iria seguir na área da comunicação. Sempre que os professores solicitavam algum trabalho diferente do comum, a tendência era ele fazer algum jornal escrito ou falado, e, embora gostasse, ainda não via que aquilo poderia ser sua profissão no futuro. Um dia antes do vestibular, em conversa com os pais sobre qual caminho iria trilhar, seu pai disse: “Por que não faz jornalismo? Tu gostas tanto de ouvir rádio, ler jornal, está sempre fazendo trabalho com isso”. A partir daí, o jovem concordou com o pai e tomou a decisão que mudaria sua vida. Em março de 1974, Macedo começou sua graduação em jornalismo, seis meses depois, começava

em seu primeiro emprego, na então renomada Caldas Júnior, que era detentora da Rádio Guaíba e do Jornal Correio do Povo. No início, o jovem estudante de jornalismo, por não saber muitas técnicas da área da comunicação, não parava de estudar e treinar. “Eu tinha uma máquina velha de escrever, em casa, então eu reproduzia matérias fictícias para aprimorar minha redação”. Logo começou a se dedicar ao futebol do interior do estado e fez coberturas no litoral, sendo, durante dois anos, repórter de geral da Rádio Guaíba. Após isso, com 25 anos, Macedo tornou-se subchefe da Central do Interior, seção especializada da Caldas Júnior. Três anos depois, ele virou chefe de reportagem do jornal Correio do Povo, onde ficou por menos de um ano, pois a empresa já estava demonstrando sinais de falência, com salários atrasados e greves. No ano seguinte, em 1984, semanas antes da empresa parar de vez com a circulação dos jornais, o jornalista deixou a empresa.


Entrevista 21 // UniPautas - Julho 2021

Nova Jornada “É aquela coisa, pegar um limão e fazer uma limonada"

Após três meses desempregado, Antônio Carlos Macedo começou uma nova jornada em sua carreira, assinando contrato com o Grupo RBS, no dia 16 de julho de 1984, para trabalhar na Rádio Gaúcha, onde atua até hoje. A empresa tinha uma vaga na equipe de esportes, procurava alguém com conhecimento esportivo, mas que também já tivesse conhecimento jornalístico Armindo Antônio Ranzolin, narrador e chefe da equipe de esportes, considerou que Macedo era o nome ideal para a vaga. Macedo colocou como meta cobrir, pela empresa, a Copa do Mundo no México, dois anos após sua admissão. Porém, era uma tarefa difícil, pois quando ingressou em seu novo emprego, Macedo era o 5º repórter, cobrindo apenas jogos de futebol no interior do Rio Grande do Sul. Ele foi chamando atenção de seus superiores pois sempre que cobria esses jogos, procurava fazer uma reportagem específica no local, que pudesse ter repercussão nos dias seguintes. “É aquela coisa, pegar um limão e fazer uma limonada", ensina o jornalista. Com isso, em 1986 a rádio selecionou três repórteres para cobrir o mundial, sendo Macedo um

deles, como terceiro na fila. Na sua primeira experiência em cobertura de Copa do Mundo, como ainda não havia tecnologia para transmitir entradas ao vivo do México para Porto Alegre, Macedo novamente, relembrando seus primeiros anos de carreira, treinava, simulando reportagens como se estivesse ao vivo, entrevistava diversos torcedores e ia sempre buscando pautas para suas matérias. Esse esforço contribuiu para que valorizassem seu trabalho, passando de terceiro para segundo repórter, cobrindo diretamente a seleção brasileira na copa seguinte, de 1990, na Itália. Nesta, o jornalista considera que, embora tenha sido uma experiência importante, não foi muito legal: "Era muito solitário, com um fuso horário de cinco horas para frente e o Brasil foi eliminado cedo”, relata o apresentador

Antônio Carlos Macedo apresenta o programa Gaúcha Hoje, todas as manhãs, das 5h às 8h, desde 2002 (Fonte: Divulgação/Arquivo pessoal)

Medalha de Ouro Já em 1992, a rádio escolheu Macedo, como seu único representante para cobrir as Olimpíadas de Barcelona. Cobertura essa que ele considera a mais importante de sua carreira, pois pode acompanhar e contar, de perto, com exclusividade para todo o estado gaúcho, a primeira conquista da medalha de ouro de jogos coletivos para o Brasil. Como naquela época as entradas ao vivo eram apenas por telefones celulares, e ainda não tão comum o uso deste entre os jornalistas, o repórter, no jogo da conquista brasileira, pegou

emprestado o telefone de um assessor do Banco do Brasil, patrocinador master da seleção, e ligou para a rádio. Macedo conseguiu, sozinho, transmitir ao vivo toda a repercussão da conquista, entrevistando os jogadores e membros da comissão técnica. Mesmo depois de ter feito a cobertura de mais três mundiais (sendo o Brasil campeão em dois deles) e mais duas Olimpíadas, ele reafirma que a de Barcelona, foi a mais marcante. Foi também em uma cobertura marcante que Macedo conheceu sua esposa. Em 1979, ainda pela Caldas Júnior, ele foi enviado para São Borja,

“Vou sempre tentar dar meu melhor, ajudar meus colegas, transmitindo o que aprendi”

para cobrir a volta de Leonel Brizola ao país, o político estava exilado por conta das ameaças vindas dos militares em meio ao regime ditatorial. Como havia poucas vagas em hotéis da cidade, pessoas da comunidade cederam espaços em suas casas à imprensa. Assim, hospedou-se na casa daquele que viria a ser seu sogro, pai de Cristina, com quem está casado há quase 40 anos. Ao ser questionado sobre sua aposentadoria, o comunicador revela que pensou em parar em março deste ano, mas em conversa com a empresa, decidiram que essa decisão só será debatida no final de 2022. Muito ativo nas redes sociais nos últimos meses, em especial no twitter, @acmacedo acredita que essa seja uma forma de continuar ativo depois que encerrar sua carreira.


Entrevista \\ 22 UniPautas - Julho 2021

Agressividade, uso de drogas e adição em internet

Rosa Maria Martins de Almeida por Vinícius Sanfelice

G

raduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), possui doutorado em Fisiologia pela mesma universidade e pós-doutorado na área de Neuropsicofarmacologia pela Tufts University em Boston. Estuda o comportamento em animais e humanos, com foco na agressividade e violência, impulsividade, controle inibitório, estresse e uso de drogas. Além disso, está realizando estudos sobre vício em internet, e também a influência do isolamento social na infância e adolescência e a relação com a agressividade.

Como funciona o controle da raiva? E por que algumas pessoas conseguem controlar melhor que outras?

Como que funciona o processo de incentivar a expressão da raiva nas pessoas dentro dos estudos?

Nós temos algumas hipóteses. Na parte da frente do cérebro humano, há uma região chamada pré-frontal e nela há um local bem importante denominado ventro-orbital, responsável pelo controle dos impulsos. É possível que as pessoas que têm mais raiva e expressam em maior quantidade a agressividade e comportamento violento tenham alguma alteração nessa região. Entretanto, também pode ser uma alteração neoquímica, alguns neurotransmissores estão envolvidos com a agressividade e talvez eles não estejam nas taxas adequadas. É uma emoção que a gente sente, a raiva é comum, alguns sentem e se controlam, mas outros partem para a agressão. Tem muito mais do que isso, o sistema é muito complexo. E, nos nossos experimentos nós geramos frustrações nas cobaias para estudá-las.

Nós temos um computador que tem uma tarefa comportamental, uma espécie de jogo manipulado em que a pessoa pode perder ou empatar (sem ela saber da manipulação), assim, ela fica frustrada e acaba gerando raiva. A frustração é gatilho para uso de drogas, para gerar agressividade e violência. Então, nós comparamos os grupos dos indivíduos que perdem e o dos que empatam, medindo o hormônio cortisol e testosterona antes e depois da tarefa. O primeiro está ligado ao estresse e o segundo está relacionado com a agressividade. Nesse jogo, ocasionalmente, nós fazemos os indivíduos testados acharem que estão jogando contra um oponente e não contra a máquina, pois aumenta um pouco mais esses níveis de hormônio. Pode acontecer de algumas pessoas se controlarem mais por conta da desejabilidade social, ou seja,

como elas estão num teste, elas se controlam mais. Através de um estudo onde as pessoas tinham que encher os balões, controlando para não estourar, nós vimos que os homens são mais impulsivos que as mulheres. Em outro experimento, nós testamos animais que estavam acostumados a ingerir álcool, e tiramos a substância deles, o que causou agressividade. Essa violência no animal é caracterizada por curta latência e ataques muito frequentes. Outro estímulo que funciona nessas cobaias é solução açucarada, eles adoram leite condensado. Ficam loucos depois que aprendem a gostar daquilo ali, e não soltam mais.

Quais fatores podem contribuir para que uma pessoa fique mais agressiva? São vários. Principalmente, o ambiente. Pois, um ambiente muito hostil, onde a pessoa é rechaçada e oprimida, desencadeia muita agressividade. Algumas pessoas expressam essa


Entrevista 23 // UniPautas - Julho 2021 raiva e outras acabam internalizando. Nós medimos o estado e o traço do indivíduo. O primeiro refere-se ao momento e o segundo diz respeito a personalidade e se a pessoa já possui alguma tendência à agressividade. Mas, outros aspectos que contribuem são o uso de medicações, uso de drogas, e até questão hormonal, por exemplo a alteração nos hormônios da tireoide pode deixar a pessoa mais irritada e mais sensível. Mas o ambiente tem um peso muito grande.

Há pessoas que nascem mais predispostas a agressividade que outras? É possível haver uma alteração no sistema nervoso central da pessoa, mas pela genética não dá para dizer se ela será mais hostil. Pode acontecer de faltar substâncias no funcionamento do corpo humano. Por exemplo, teve um experimento de um pesquisador mostrando que populações que não comiam peixe eram muito mais agressivas do que as que consumiam, então a deficiência nutricional pode influenciar na agressividade também. Em relação a alteração no sistema nervoso central, há o caso do Phineas Gage. Ele era um operário que trabalhava em ferrovias no estado de Vermont no Estados Unidos, onde um dia ele foi explodir rochas com dinamites e aconteceu um acidente. Uma barra de ferro atingiu seu rosto e atravessou a cabeça, atingindo seu córtex pré-frontal. A partir disso, seu comportamento mudou completamente, era uma pessoa toda certinha, dedicada ao trabalho e ficou irritado, agressivo, inconveniente. Dessa maneira, um trauma no cérebro pode alterar o comportamento.

O isolamento social pode contribuir para essa agressividade?

Sim. Nós estamos pesquisando se as pessoas, após o isolamento, preferem o contato social ou o uso de drogas. Porque depois do indivíduo ficar isolado, para compensar, ele pode querer usar droga para ter uma sensação de prazer momentânea e acabar se afundando. Então, droga não é a solução, agora na pandemia nós sabemos que elevou muito o consumo de álcool e outras drogas e também aumentou a violência. O isolamento não é bom, porque somos seres sociais, os camundongos dos experimentos também são, logo se tirar isso deles, a agressividade e impulsividade deles altera bastante.

Como funciona o experimento com animais? Como é feito o isolamento deles? Depois da fase de desmame, os camundongos ficam separados da mãe por pelo menos duas semanas. Aí são criados dois grupos, os que ficam em conjunto com outros animais e os que ficam separados individualmente. Também há a separação entre macho e fêmea. Assim, nós estudamos a ansiedade, interação social, a preferência por droga ou parceiro após o isolamento. No final, nós observamos os cérebros deles para ver se houve modificação nos receptores de ocitocina, que é uma substância muito importante para o contato social, mas também é significativo no desenvolvimento do bebê, pois faz o desenvolvimento do córtex cerebral. A falta da ocitocina, que é estimulada através do contato físico, pode gerar danos cognitivos, comportamentais e emocionais na pessoa. Portanto, esse contato físico é muito importante para os animais e bebês humanos porque desenvolve o encéfalo. Além disso, a substância induz o

nascimento do feto durante o parto e também auxilia na ejeção do leite da mãe.

Como funciona a relação de hierarquia em animais? O que define um ser hierarquicamente superior a outro? Nos camundongos, em experimentos com três machos e duas fêmeas, sempre terá um que será o macho alfa dominante, que come primeiro, copula antes e só depois os outros machos poderão fazer algo. Geralmente, o animal superior na hierarquia tem mais testosterona e é mais agressivo que os demais. Nós temos um modelo de experimento chamado social defeat (derrota social), onde há a convivência entre o chefão e o animal submisso. É perceptível que o primeiro causa um grande estresse ao segundo, alterando todo o funcionamento cerebral e hormonal do animal. Se o superior for retirado e o subordinado se tornar o chefe, esse funcionamento é modificado novamente. Algo interessante nesses estudos, é que os animais que ficaram por mais tempo nas posições de dominância, mais agressivo eles se tornavam.

Como que as drogas podem contribuir para a agressividade de uma pessoa? As drogas podem interagir com o GABA, que é um sistema inibitório, fazendo a desinibição do comportamento. Por exemplo, o álcool primeiro excita e depois deprime em doses pequenas ou médias. Em doses cavalares, a pessoa apaga, visto que o álcool é altamente sedativo em grandes quantidades. Com o crack e cocaína tem a questão de agressividade pela busca da droga. É diferente o paciente que só usa álcool daquele que usa crack e cocaína. Em 2010, eu estudei o inicio

de consumo de álcool e outras drogas no sul do país. Nessa região, a média de idade no consumo é a partir dos 11 anos, enquanto que no resto do país é por volta dos 13 e 14 anos. Isso tem uma questão cultural envolvida, pois as pessoas são incentivadas a consumir álcool mais cedo no sul do Brasil.

O que é o controle inibitório? É o controle dos impulsos. Exemplificando, às vezes, eu tenho vontade de bater em alguém, mas eu não bato, porque eu tenho a região pré-frontal do cérebro que me permite viver em sociedade. O ser humano tem a capacidade de conseguir o que quer sem ser agressivo, mas há pessoas que desejam algo imediatamente e utilizam a violência para isso.

Como funciona o vício em internet, e de que maneira o uso excessivo pode prejudicar a pessoa? Eu estou orientando uma dissertação de mestrado de uma aluna que está estudando essa dependência com cerca de 50 adolescentes entre 15 e 17 anos. O que caracteriza adição é o tempo de uso e para que finalidade a internet está sendo utilizada, porque eu por exemplo fico muito tempo no computador, mas é por conta do trabalho. Na pesquisa, nós encontramos pessoas que gastavam muito tempo com diversas outras atividades. A adição pode alterar o teu sistema. É possível ficar mais impulsivo e mais agressivo. Na investigação, foram encontradas diferenças nessas características de quem possuía o vício, e também foi visto que os homens tendem a ter maior dependência do que as mulheres. Quando o uso excessivo começa a prejudicar muito a vida do indivíduo e ele não con-

segue fazer outras coisas, aí começa a se tornar algo patológico.

Quais as medidas para prevenir e combater a adição em internet? Certos tratamentos ajudam a reverter esse quadro. É preciso ver se o vício está ligado a fatores como ansiedade e depressão, porque daí é necessário tratar com psiquiatra. Na psicologia, é possível tentar fazer com que o individuo reduza suas horas de uso através de programas e terapias.

A impulsividade pode ser benéfica de alguma maneira? Não. A impulsividade é falta de controle. Fazer as coisas muito rápido, sem avaliar as consequências dos atos não é algo bom. O contrário seria o individuo ficar com uma espécie de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), onde ele não consegue executar uma ação. Mas a impulsividade não traz vantagens para o indivíduo. A falta de tomada de decisão também pode ser ruim, e é algo que depende de um conjunto de fatores, como a memória, aprendizado e emoção. Porque, às vezes, a pessoa precisa tomar uma decisão muito rápida, mas se fizer a escolha errada pode se tornar algo prejudicial. or exemplo, num assalto, o certo é não reagir, mas há pessoas que agem por impulsividade. Também há reações extremas contrárias, como o assaltante mandar que o indivíduo saia do carro e ele congelar. Nesse tipo de situação, se dá melhor quem tem um controle maior, mas esse controle pode não fazer parte do sujeito.


Veja também: Entrevista O SER JORNALISTA. ANTONIO CARLOS MACEDO pág. 20

Smart Pós UniRitter

Um curso leva a outro, todos levam à Pós. Experimente uma nova maneira de se manter atualizado(a). Faça os cursos mais importantes para você, no seu tempo e ainda conquiste um certificado de Pós-Graduação ao terminar todos eles.

A Smart Pós UniRitter é uma Pós-graduação modular e flexível, que você faz no seu tempo e do seu jeito.

Dados em Pauta NÚMEROS DA PANDEMIA ATÉ 14/052021POR ESTADOS BRASILEIROS. pág. 7

Quando completar todos os cursos de uma determinada trilha escolhida, você recebe o certificado da Pós.

Para cada curso feito, você recebe uma certificação profissional.

Um jeito inteligente e prático de atualizar seus conhecimentos, como cada vez mais o mercado exige.

Certificações Profissionais: Dê um upgrade upg no seu diploma de graduação com cursos rápidos e objetivos. Ao final de cada curso, você recebe um certificado que pode ser aproveitado em uma Pós-graduação.

Pós-Graduação Aperfeiçoamento 180h Atualize a sua carreira de forma ainda mais rápida. Cursos de Pós-graduação com 180h, reconhecidos pelo MEC. Após o término, é possível aproveitar as horas de estudo deste curso para uma outra certificação em Pós-graduação.

Pós-Graduação Lato Sensu 360h

GRÁFICO DE CONTAMINAÇÃO POR COVID-19 NAS ESCOLAS DE POA DURANTE O LOCKDOWN. pág. 13 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA EM PORTO ALEGRE 17/05. pág. 14 INFORMATIVO EPIDEMIOLÓGICO DE ARBOVIROSES DE 2021 SEMANA EPIDEMIOLÓGICA 19 (09/05 A 15/05). pág. 16

Ideal para pa quem deseja se aprofundar em um tema específico, por meio de um curso de especialização ou do MBA. Um curso completo que direciona a sua carreira para que você se torne um profissional à frente dos demais.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.