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Propostas de atividades 2

1) Tema: A apresentação dos personagens de A causa secreta como procedimento de análise psicológica.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

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(EM13LP47) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.

(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: A forma pela qual a narrativa machadiana dispõe os personagens em A causa secreta e as consequências desta forma para a construção da narrativa e para a compreensão dos conflitos centrais colocados em chave analítica na narrativa.

Objetivos: Capacitar e incentivar nos educandos a percepção sobre os diversos nuances do fôlego analítico organizado na forma narrativa organizada pelo conto machadiano e disposto na adaptação em quadrinhos de A causa secreta.

Justificativa: Na apresentação dos três personagens de A causa secreta, Garcia, Fortunato e Maria Luísa, são colocadas em movimento todas as facetas narrativas que tornam o conflito central do conto possível. Na apresentação da situação inicial se desencadeiam os procedimentos de distanciamento sobre o material dramático e o ímpeto de frieza analítica que conformam os principais temas da narrativa de Machado. Para além das atribuições de caráter ou de relações afetivas em colisão dos personagens, o ponto de partida é a atmosfera de uma situação aparentemente pacata e inercial. Mas antes disso, o narrador revela aos leitores que todos os três estão mortos há anos, e que, portanto, a história poderá ser contada “sem rebuço”, ou seja, sem disfarces ou falseamentos por pudores e medos de constrangimentos.

Aqui, a estratégia narrativa não se distancia muito do recurso criativo já utilizado por Machado de Assis ao conceber o narrador Brás Cubas, o “defunto autor” de Memórias póstumas de Brás Cubas. Nele, o narrador assume ângulo de defunto observador e diz que só é possível fazer a inteira análise e pesquisa das personagens quando estão livres dos embaraços da vida social. Ou seja, pode agora exibi-las como são de fato, sem preocupações sobre constranger as máscaras do convívio social, as aparências que preservam uma imagem pública de cada indivíduo.

Esta apresentação dispõe a imagem dos três personagens apresentados em síntese: Garcia mirava tenso Fortunato e cortava as unhas em pé; Maria Luísa conclui trabalho de agulhas de tricô com as mãos trêmulas; e Fortunato, à vontade, imperial sobre uma cadeira de balanço, olhava para o teto. Os pequenos detalhes resumem de maneira exata a caracterização da situação; em três linhas de três quadrinhos as três personagens estão inteiras. No entanto, o narrador à la Brás Cubas insiste que só há análise inteira e confissão real apenas após partidos os laços com as convenções sociais. Há pressuposta, portanto, a ideia de uma superfície, uma aparência convencional que serve de disfarce, que serve para esconder o que elas de fato são, ou seja, suas causas secretas escondidas. Este jogo entre aparência que atende às convenções sociais e motivos escondidos, ao ser explicitado, torna a apreensão da narrativa de Machado muito mais clara para a discussão em sala de aula sobre a análise psicológica empregada na narrativa.

Metodologia: Em pares ou em trios, proponha a leitura das páginas 7 e 8 da adaptação em quadrinhos para A causa secreta, em que a abertura da narrativa se dá e os três personagens são apresentados em sua situação pacata. Enfatize o recurso do uso do narrador referindo-se aos personagens, e não a mera apresentação direta entre os três. Oriente a percepção da narrativa para a ausência de arroubos passionais ou colisões explicitadas entre os três. Sublinhe os pequenos detalhes sobre como se dispõem na sala, os termos usados pelo narrador, a atmosfera tensa, mas sem contextualização para o incômodo que paira no ar. Deixe claro o quão fundamental são os olhares, os pequenos gestos e a interação fria entre os personagens. Chame atenção, então, para a nota do narrador sobre o fato de os três estarem “agora mortos e enterrados”. Peça para que as duplas ou trios discutam entre si a questão: Por que é importante para a narrativa o fato dos personagens estarem mortos há muito tempo? Peça então que cada dupla ou trio leia para a sala a que conclusões chegaram.

Conforme cada trio ou dupla expõe suas percepções, conduza o debate enfatizando a ideia de constrangimento entre os três na situação apresentada. Aponte para a construção de oposição entre aparência apresentada e motivos do constrangimento que não são esclarecidos. Faça ser notada um cálculo da narrativa para despertar a curiosidade dos leitores para desvendar os motivos deste desconforto e constrangimento e como esta apresentação constrói a ideia de aparência superficial e motivos profundos não revelados, e como esta vontade de aprofundamento analítico desencadeia a narrativa como um todo. Com esta atividade se poderá apresentar a análise psicológica dos personagens e a composição da narrativa como um processo integrado e imbuído de consequências para a compreensão do enredo.

Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

2) Tema: O jogo de aparências sociais e conflitos sociais no enredo de A causa secreta.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.

(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

(EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos.

(EM13CHS206) Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem para o raciocínio geográfico.

Conteúdo: Apresentação dos conflitos contidos na narrativa de A causa secreta que revelam motivações escusas sobre aparências sociais que escondem conflitos sociais nas motivações reveladas.

Objetivos: Capacitar e incentivar nos educandos a identificação de elementos que articulam conflitos sociais objetivos, que se relacionam com a compreensão da situação histórica e política do país no momento da escrita no período da ambiência em que se passa o conto A causa secreta.

Justificativa: As atribuições descritas e expostas nas diversas situações do conto A causa secreta colocam em ação de maneira sutil uma série elementos da vida social inscritas na vida dos cidadãos médios brasileiros do século XIX, ou seja, cidadãos livres sobrevivendo numa sociedade escravocrata. O conto é publicado em 1885 e o enredo se passa na aberturada da década de 1860. Fortunato, por exemplo, é confundido com médico e é capitalista declarado, e Garcia, um estudante de medicina em processo de formação. A condição social de Fortunato é revelada pelo narrador sem que o leitor possa ter nenhuma outra atribuição do personagem senão a apresentação na casa do Catumbi e as observações de Garcia no teatro. No entanto, ao longo da narrativa, sutilmente se revela o alcance do poder e influência do personagem, pois inicia a carreira de Garcia ao fundar uma casa de saúde, paga carregadores e apoiadores, dá as ordens em todos os momentos do enredo, além de ter casas próprias para investir e montar negócios. Não importa onde está, Fortunato age como dono da casa, mesmo quando está na casa dos outros.

A autoridade de Fortunato é pela ordem econômica, mas também científica, por agir como se fosse médico no Segundo Império, período em que predominavam a escravidão, a desorganização de falta de saneamento em espaços urbanos, ou seja, a desorganização das cidades. Neste sentido, a união da figura que reúne médico e empresário une imagens do que se pensava como forças sociais que trariam progresso e avanço civilizatório para o país ainda com fortes traços de ex-colônia. Por isso também é do interesse de Fortunato sustentar a imagem de investidor benevolente e agente da saúde altruísta e dedicado ao bem-estar alheio. Esta imagem do cuidado é movida pelo prazer em assistir o sofrimento alheio. Há então uma oposição entre um Fortunato visto em sua máscara pública e um Fortunato por trás desta máscara. Ao escapar da aparência exterior das motivações do personagem, se revela o sentido secreto de suas motivações, que é o gozo pelo sofrimento, e que por sua vez revela a causa secreta do uso de seus privilégios de classe.

Metodologia: Antes de abordar diretamente os quadrinhos, apresente aos educandos um pouco da situação social dos meios urbanos no Brasil entre a década de 1860 e 1900. Enfatize a insalubridade, a falta de recursos ou planejamento voltados para saúde ou saneamento básico, a situação de país escravocrata com uma população de maioria analfabeta e não escolarizada. Apresente a classe social a que Fortunato e Garcia pertencem como exceções em termos de status social e a função do trabalho médico e da classe empresarial como agentes do progresso segundo as expectativas ideológicas do Segundo Império.

Proponha, então, a leitura das páginas 28 e 29, em que são apresentados o zelo de Fortunato em seu trabalho no posto de saúde e sua posição de mando. Em seguida, leia detidamente com a sala a página 38, em que é revelada a causa secreta para o comportamento de Fortunato, sua sensação de prazer ao testemunhar a dor alheia, descrito como “redução de Calígula”. Exponha o sentido dessa descrição e enfatize o paralelo sobre o status e posição de mando de Fortunato.

Forme duplas ou trios e proponha que discutam qual a expectativa que se cria com o zelo de Fortunato como administrador da casa de saúde e o que é revelado com a descoberta de Garcia ao testemunhar a tortura do rato. A atividade pode ser motivada com a questão: O que as duas situações revelam sobre o personagem Fortunato e sobre suas intenções como empresário?

O peso da situação histórica e das expectativas da época sobre a função do trabalho de medicina e do empresariado podem ser amplamente explorados durante a discussão em sala de aula. Sublinhe o sentido dos aplausos recebidos por Fortunato, o que eles representam, bem como qual a função cumprida no andamento da narrativa e na construção do conflito apresentado. Será de grande proveito explorar com os alunos a relação contraditória entre elementos tidos como civilizatórios, que trariam progresso e civilidade, mesclados com motivações cruéis e regressivas.

Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

3) Tema: A volúpia pela análise espiritual e psicológica no narrador e no personagem Garcia de A causa secreta.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.

(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

(EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identi car conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.

(EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos.

(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identi cando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade..

Conteúdo: O prazer pela análise e por descompor camadas morais impressa no narrador de A causa secreta e sua afinidade com o personagem Garcia, de quem o narrador parece espelhar o impulso analítico.

Objetivo: Motivar e incentivar nos educandos o olhar questionador sobre o discurso reproduzido pelo narrador onisciente de A causa secreta, bem como sobre os motivos das curiosidades e posturas contemplativas e analíticas do personagem Garciar.

Justificativa: Dada a sutileza da organização da narrativa de A causa secreta, facilmente o leitor não iniciado pode direcionar sua atenção e investir seu esforço de interpretação sobre um aspecto ou sobre um personagem e dimensionar este dado elemento como a única força articuladora da obra como um todo. Frequentemente se toma o sadismo de Fortunato como único elemento que permite discernir os sentidos das reflexões traçadas pelo conto, e a expressividade chocante de suas ações, permeadas de imagens mórbidas, como os únicos elementos que devem ser colocados sob um crivo crítico e reflexivo.

Assim, facilmente se ignora uma série de questões e escolhas na composição da narrativa que precisam ser enfatizadas para que a leitura de A causa secreta seja a mais proveitosa possível. Não é apenas Fortunato que deve despertar o interesse de compreensão de motivações por serem desvendadas por trás de suas ações; o personagem Garcia também é digno de reflexão, assim como o narrador, que parece mimetizar a volúpia pela análise dos caracteres morais das pessoas.

O narrador segue por afinidade o olhar de Garcia. Há uma “comunhão de interesses” que mantém os personagens unidos, mas não são de mesma classe social. Ao ser convidado para fundar a casa de saúde, Garcia passa a ser dependente do capitalista. Fortunato tem interesse pelo sofrimento dos pacientes que frequentam a casa, mas Garcia tem interesse por Fortunato, por quem sente curiosidade e repulsa simultaneamente. Por mais que não seja sádico como Fortunato, o narrador não nos expõe o interesse de Garcia

por nenhum dos pacientes, ele apenas foca-se na disposição moral enigmática e demoníaca de Fortunato. O que traz prazer a Garcia é o poder de penetração no espírito do outro. Esta é a volúpia da análise, e este é o que o narrador demonstra também conter. Este gozo a partir do exercício da disposição analítica que quer desvendar o outro pode ser colocado em paralelo com o sadismo de Fortunato. Se são mórbidos os motivos de Fortunato, Garcia apenas contempla e nada faz para reagir a esta morbidez. Por sua vez, há algo de sádico na composição do narrador, que mantém os leitores presos ao enredo, como o rato preso ao barbante de Fortunato. Todos estes são temas que podem ser trabalhados em sala de aula.

Metodologia: Leia com a sala detidamente as páginas 21, 22 e 23, em que é apresentada a analítica de Garcia para a análise moral das pessoas, seu assombro com a figura de Fortunato depois de escutar a narrativa de Gouvêa e sua subsequente familiaridade e aproximação com Fortunato. Enfatize o contraste deste percurso do personagem, a contradição de sentir-se assombrado e de então sentir-se confortável em sua presença. Sublinhe os elementos e detalhes que ajudem a refletir sobre as atitudes contraditórias de Garcia e seus interesses nesta relação que permitem questionar sua atitude contemplativa como desinteressada.

Leia então com os alunos as páginas 26 e 27, em que Garcia “brinca” sobre fundar uma casa de saúde para Fortunato, que por sua vez acata a ideia. Pontue a hesitação de Garcia. Coloque para a sala o que significa este jogo de proposta e contraproposta e até que ponto são sinceras as primeiras recusas de Garcia, e até que ponto se trata de uma hesitação artificial. Peça, então, que sentem em duplas ou trios, e proponha que discutam que tipo de relação está se estabelecendo entre Garcia e Fortunato nestas páginas. Será que Garcia já calculava os benefícios de ser partícipe do empreendimento de Fortunato? O que significa Fortunato administrar e financiar

a casa enquanto Garcia tem sua “estreia” como médico? Discorra o que significa uma relação de favor entre homens livres dentro da ordem escravocrata.

Leia então as páginas 35, 36 e 37, em que é exposta a tortura do rato por Fortunato e a reação fria e analítica de Garcia. Procure enfatizar não apenas o chocante das imagens, mas também o tom curto e frio da forma de descrever as ações na economia das palavras do narrador, quase que partilhando do sadismo de Fortunato. Enfatize o jogo de olhares se repetindo como na passagem do Teatro no começo da narrativa, com Fortunato olhando o rato, Garcia olhando Fortunato e o narrador e leitores contemplando ambos. Feita a leitura, proponha uma discussão com a seguinte questão: O que a frieza analítica de Garcia revela sobre o personagem? O que o mesmo ímpeto analítico revela sobre o narrador? Com estas questões, se tornará proveitosa a discussão sobre o quanto da cumplicidade de todos os elementos e personagens é necessária para que o gozo sádico de Fortunato seja realizado.

Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

4) Tema: As críticas de costumes implícitas na narrativa de A causa secreta.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.

(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: Os elementos da narrativa em A causa secreta que permite entrever um esforço de crítica de costumes sociais.

Objetivos: Incentivar e capacitar nos educandos a identificação dos elementos na narrativa de A causa secreta que compõem uma crítica sobre costumes sociais da época retratada.

Justificativa: A abertura da narrativa de A causa secreta parece num primeiro momento apresentar uma determinada situação pacata e sem consequências para reflexões profundas, mas é seguida de elementos que obrigam o questionamento desta primeira impressão. Este procedimento ocorre em muitos momentos, como com as intenções de Fortunato em fundar a casa de saúde, ou os

motivos de Garcia em aproximar-se de Fortunato, ou até mesmo com a reação de Fortunato diante da constatação de uma intriga de adultério entre Garcia e Maria Luísa. O movimento constante é a apresentação de uma suposição primeira de uma apresentação imediata, ditada pela obviedade de ações e reações, para logo em seguida ter esta apresentação contrariada. O leitor é sempre movido pela constatação do óbvio que é então desmentido.

Esta obviedade primeira é firmada por convenções sociais e costumes do que seriam situações inofensivas e sem maiores consequências na interação entre sujeitos comuns que sustentam uma aparência de normalidade ditada pelas regras de convívio da época. Há método neste procedimento analítico na narrativa machadiana. Nunca é uma ação ou um personagem que é propriamente comentado e criticado, pois é à luz desta situação imediata refletindo a expectativa de obviedade que se organiza o processo de reflexão. Há, portanto, uma relação de contraditoriedade entre uma primeira situação e um elemento que revela uma outra situação escondida na primeira. Há um jogo, portanto, de falsas simplicidades que escondem ambiguidades e de falsas constâncias que revelam volubilidades. No caso de A causa secreta, este procedimento busca expor uma aparência exterior e ações dos personagens para então revelar uma aparência interior. Assim se forma uma complexa teia de crítica de costumes que pode ser discutida de maneira proveitosa em sala de aula.

Metodologia: Leia detidamente as páginas 7 e 8 da narrativa, em que é apresentada a situação que inaugura a apresentação dos três personagens centrais da narrativa. Logo em seguida, leia a página 39, em que Maria Luísa retoma o trabalho de agulha, reconstituindo a mesma situação das páginas 7 e 8. Com os alunos em duplas ou em trios proponha que debatam o que das suas impressões mudou na compreensão desta situação na abertura da narrati-

va para sua retomada como linha de chegada no final da narrativa. Enfatize o contraste sobre a impressão inercial de momento pacato do começo para a situação de choque e perturbação desta nova situação. Coloque questões como: o que este contraste diz sobre a ideia de normalidade? O que se podia pensar sobre os personagens na primeira apresentação e o que pensamos deles nesta segunda apresentação da mesma situação?

Aproveite a discussão para exemplificar com o máximo de elementos da narrativa para compor o que é esse jogo entre aparência imediata e desmentido. Saliente a composição da narrativa como uma construção metódica de exposição de uma aparência seguido de seu desmentido. Atente para a necessidade da impressão imediata e da obviedade para que o processo de crítica se desdobre. Enfatize como é intrincado o processo de narrativa ao ponto de não ser possível de dissociar o aspecto crítico e analítico do próprio processo de construção da narrativa.

Retome o segundo quadro da segunda coluna da página 29, em que se ilustra toda a cidade aplaudindo Fortunato. Discuta o que significa esta imagem de bom-cidadão e o efeito do contraste com a revelação da causa secreta da motivação de Fortunato. Conduza o debate rumo ao sentido da busca por consolidação de imagens públicas e sua fragilidade diante das causas secretas que podem motivá-las. Assim se poderá tirar consequências maiores sobre o alcance da reflexão crítica machadiana.

Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos

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