Santuários do Vampiro, o renascimento

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SantuĂĄrios

Primeiro CapĂ­tulo

Do Vampiro


Rio de Janeiro Nas imediações da delegacia de polícia, próximo à Lapa, bairro boêmio na região central da cidade, as noites têm sido agradáveis apenas a quem sobrevive do medo alheio. A coragem, para os policiais mais ousados, também deixara de ser conveniente desde que o desaparecimento de pessoas (nem a imprensa conseguira explicar direito) tomara conta daquela área. Andar pelas ruas, mesmo que dentro de um carro de polícia, acabou insustentável após as 10h da noite. Alguns policiais haviam desaparecido sem quaisquer vestígios de onde encontrá-los. Dados que não eram recomendáveis a virar estatística nos jornais sensacionalistas, segundo as coordenadas do delegado Américo Fonseca, que não acreditava em crimes sobrenaturais com a própria corporação, mas desconfiava de algum esquema de conspiração na polícia. Alguém queria denegrir a imagem dos bons policiais, pensava Américo. “Realmente, não sei o que estar por vir nesses próximos dias. Aliás, nas próximas noites. A bandidagem dos morros cariocas está descendo pra fazer arrastão nas ruas aqui do centro do Rio. Agora... tenho que me preocupar com a imprensa inventando que tem assombração atacando os meus companheiros de trabalho. Só me faltava essa”, confessava Américo ao detetive Ronaldo Brasil. “ O s e n h o r não quer acreditar nas pistas daquela jornalista...” “Esquece essa mulherzinha, Ronaldo. Ela vai acabar sumindo do mapa se ficar se metendo aonde não foi chamada”, declarou Américo, sentado à mesa da sala de chefia, o rosto nada agradável a um diálogo mais despojado. “Ela sabe muito mais que nós. Tem boas pistas”, insistia Ronaldo, sentado numa cadeira, quase um réu. A fala mansa. A paz em pessoa. “Eu sei qual que é dessa jornalista ordinária... ganhar fama


nas nossas costas. Aquele jornalzinho onde ela trabalha... fica correndo atrás de história que não existe pra enganar um monte de trouxas por aí. Na minha delegacia... jornalista não canta de esperto aqui”, batia forte com a mão direita e fechada na mesa, os olhos explodindo lavas à direção de Ronaldo. “Como explicar, então, o sumiço repentino dos nossos colegas de trabalho? Os corpos num apareceram pra contar o que houve com eles”, continuava Ronaldo, bastante sereno, apesar dos ataques de nervo do delegado. Não se importava com as súbitas tempestades nos modos de Américo. Delegado e subordinado relembravam momentos de apreensão para os familiares de Pedro Garcia e Adolfo Mesquita, detetives com as carreiras brilhantes pelo exercício correto da lei. Pedro e Adolfo jamais se levariam pela corrupção. Orgulhavam-se de servir à lei. Mas uma trajetória de sucesso interrompida numa madrugada fria. É NOITE: as ruas só não estão totalmente desertas por causa dos lixeiros, que recolhem as toneladas de lixo do dia-a-dia de uma metrópole. Pedro e Adolfo estão próximos da escuridão, apesar de nenhum dos dois achar graça nas histórias que, nos últimos dois meses, são marcadas por uma invasão de seres estranhos a lugares desprotegidos da luz do sol, segundo especulam os mais fantasiosos admiradores de histórias de terror. “Pedro, você tem lido o jornal ultimamente?” “Não. Prefiro usar jornal pra enrolar galinha. Tem gente que limpa a bunda com jornal” “O jornalismo tem ficado muito criativo” “Por quê?” “Você acredita em monstros, Pedro?” “Tá de brincadeira comigo, Adolfo?” “Tô falando muito sério, companheiro. Monstros atacando moças indefesas na nossa cidade” “O jornal disse? Ah... conta outra história melhor, Adolfo” Minutos depois, naquela segunda-feira, os gritos de socorro de uma jovem, que aparentava não ter mais que vinte anos,


alertaram os policiais, que não voltariam para casa no outro dia, nem na naquela semana. Os três desapareceram nas proximidades dos Arcos da Lapa, aqueduto construído no século 19 , e, atualmente, serve de passagem para bondes do centro da cidade até o morro Santa Teresa, bairro de classe média, cercado de comunidades pobres. Nenhuma testemunha havia constatado aquela tragédia para Américo, desconfortável com aquilo que classificava d e c i rcunstâncias mal explicadas da vida: um mistério que somente Deus explicaria algum dia. Os jornais sensacionalistas adorariam ter acesso à história do desaparecimento de Pedro e Adolfo. Haveria material farto para uma novela da vida real, apesar da falta de vestígios de algum indício de assassinato por queima de arquivo, quando um policial se recusa a ser corrupto e denuncia os próprios colegas. Mas não importava a inexistência de provas. Valia muito vender jornal, pensavam os editores mais terroristas que não viam problemas em desclassificar a ética jornalística. Américo teria que enfrentar uma imprensa disposta a crucificá-lo.


Vaticano Entre estantes gigantescas, que guardavam literaturas de várias partes do mundo, senão o mundo inteiro, caminhava a passos de cágado Julieta Assis, uma veterana pesquisadora de assuntos relacionados a ocultismo e tudo que versasse sobre vampiros, prática renegada pelos colegas de academia (universidade). É mais possível um homem, mesmo que sob batina ou hábito, acreditar na existência do diabo que na encarnação vampiresca do traidor: Lúcifer. Analisava a bela pesquisadora. Agora, o dever me chama para, finalmente, eu combater um vampiro ou uma legião (de demônios) de verdade. Estar a serviço da igreja católica, numa missão mais característica a homens, era uma conquista entanto para a recémcontratada do Vaticano para assuntos pertinentes à luta contra o anti-Cristo. “Obrigado por ter atendido nosso chamado, Julieta”, disse, pausadamente, Antônio Oliveira, num dos corredores da titânica biblioteca. “Eu soube que a igreja católica está enfrentando ataques tenebrosos”, respondeu Julieta, enquanto caminhava em direção ao nada naquela imensidão de livros, que pareciam sem fim, num labirinto eclesiástico. “É muito sério. Sério demais para os padrões da Igreja pelo mundo” “Quando começaram os ataques?” “De todos os lados, Julieta. Uma avalanche de desaparecimentos de fiéis. Investigamos antes de chegarmos à conclusão da existência de um MAL maior que o dos humanos: a vinda do anti-Cristo. Lidamos com demônios muito poderosos. Não há uma data precisa desses ataques”, afirmou Antônio ao parar e fitar Julieta. A moça preferiu desviar os olhos da palidez de Antônio, que transparência um ar de cadáver embrulhado para diálogos amistosos.


Ela insistiu em acessar outra galeria de estantes. O silêncio reinou para interpretações e mensagens ocultas aos ouvidos. Deus me ajude a ter forças para combater o MAL maior que ataca os homens. O Senhor é meu pastor e nada me faltará, pedia Antônio enquanto seguia Julieta. Julieta, sem esboçar quaisquer atitudes que contrariassem o enviado da igreja, analisava: Não tenho medo do desconhecido. Devo continuar em frente. Vou até o final. Dois minutos de silêncio foram suficientes para que fossem expostas as regras da Igreja àquela quase santa por não haver perdido a virgindade. Uma nobre candidata a entrar no paraíso, mas uma falsa isca aos demônios que tentavam desgraçar a autoridade eclesiástica. “Julieta... saiba que sua missão é muito perigosa” “Sei disso” “A Igreja espera que sim. Sabemos que suas pesquisas chegaram perto das provas da existência de vampiros na atualidade” “Os vampiros existem. Pesquisei muito. Mas eu não tinha como prosseguir com as pesquisas fora dos livros e pela Internet” “Sua família tem tradição em caçar vampiros” “Minha família?”, surpreendeu-se ao não saber que possuía alguma descendência desse tipo. Depois, percebeu que, pela quantidade de livros naquele lugar, o que as autoridades do local desconhecem. Que ingenuidade a minha. Estou cercada de história. “Seus antepassados lutaram bravamente nos tempos em que o Mal disputava com Deus o domínio do mundo. Foram tempos de trevas na terra. Deus foi maior. A luz venceu. Mas a sua história, Julieta, é diferente. Será treinada para derrotar as trevas e honrar a sua passagem para o paraíso” Antônio não explicara, em detalhes, quais as blindagens utilizadas pelos soldados de Cristo. Julieta seria treinada, duas semanas depois, de acordo com os padrões (purificação do corpo, exercícios físicos bastante exaustivos) que a protegeriam das incursões dos demônios. Caso


fraquejasse, desonraria os familiares, inclusive a Igreja. A virgindade ajudaria a proteger-se das tentações do diabo, como Jesus Cristo que honrou o Pai. O treinamento de Julieta havia sido de um mês. Padrão militar. Fora instruída por uma força militar exclusiva aos aparelhos de correção da Igreja. A moça precisava aprender quais técnicas utilizar quando se aproximasse de um demônio-humano. Recebeu aulas de artes-marciais, de manuseio de diferentes armas, como se comportar em situações adversas, tipo ataques-surpresa de demônios alados à noite. Estava preparada para a guerra, com equipamentos (armas adaptadas ao combate a não-humanos) em uma metrópole na América do Sul, onde existiam indícios fortes da existência de vampiros. As armas não lembravam em nada as armaduras de cavaleiros ou quaisquer personagens de tempos medievais. Eram equipamentos moldados em indústrias bélicas (com tecnologias de última geração), embora houvesse inspiração em desenhos de gênios, como Leonardo Da Vinci, autor de maravilhas (como um helicóptero) para combates em campos de batalha. “A senhora manterá contato conosco via e-mail. Assim, teremos condições de evitar rastreamentos de ligações por parte dos demônios, que são muito astutos em comunicações orais”, detalhava Antônio. “Perfeitamente”, concordou Julieta. Estavam em uma sala bastante confortável, onde equipamentos de informática auxiliariam as missões de Julieta no Brasil, País que estava sendo apontado como o berço da nova geração (O RENASCIMENTO) de vampiros, após mais de cem anos de esconderijo dos seguidores de Drácula. Antônio apontava, num monitor-telão, acoplado a um computador muito potente, as coordenadas dos ataques de vampiros pelo mundo nos períodos que precedem o século 20. O mapamúndi havia sido substituído pelo globo terrestre eletrônico de um poderoso sistema de buscador de dados na Internet. As aparições


de Vampiros, nos séculos 20 e 21, não existiam, de acordo com a catalogação de dados dos investigadores da Igreja. Com apenas alguns toques de dedos na tela, substituindo os mouses (equipamentos obsoletos em tempos de super computadores) as pesquisas são instantâneas. Julieta estava cada vez mais surpresa com as descobertas no mundo dos religiosos. Antes, achava que padres, freis, bispos e até o papa vivessem muito distantes da cultura do capitalismo. Pelo menos existe harmonia no mundo atual com a Igreja. A separação da Igreja do Estado não dificultou a incorporação de produtos do mundo a favor da Igreja. Antônio fez questão de aumentar a imagem, em satélite, do Rio de Janeiro, no Sudeste do Brasil. A potente lupa detalhava as coordenadas para Julieta, não o ponto exato do esconderijo dos demônios. Em algum lugar aqui nessa cidade eles estão. A Julieta vai destruir todos eles. Deus está com a Julieta.



DESENCONTROS


CAPÍTULO 1 RIO DE JANEIRO Julieta desembarcou do avião particular do Vaticano. Voo da Itália para o Brasil. Na bagagem, a esperança de ver um mundo menos poluído pelo vírus que muitos humanos acreditam apenas existir nas páginas de livros de ficção ou em filmes de Hollywood. “Pra onde a dona quer ir?”, perguntou o taxista que cercava os passageiros na calçada de entrada e saída do aeroporto Tom Jobim, na Ilha do Governador, zona norte da cidade. “Obrigado pela ajuda. Eu estou aguardando o meu motorista chegar”, respondeu Julieta num português carregado do sotaque italiano. Havia aprendido o idioma, herdado dos colonizadores portugueses pelos brasileiros, no curso intensivo do Vaticano. O taxista não insistiu. Correu atrás de outro possível passageiro. O tráfego de pedestres estava elevado e muito satisfatório aos taxistas. O sol brilhava sem ser importunado por nenhuma nuvem naquela tarde fresca. Julieta, cinco minutos depois, embarcou no carro de quatro portas (padrão de luxo) que a levaria para um apartamento confortável na zona portuária. O motorista (a serviço do Vaticano), que ultrapassava uns quarenta anos, porte atlético, trajando terno, gravata e quepe, cumpriu as etiquetas: abrir a porta traseira do automóvel à entrada da dama. Não havia como perder tempo. A chegada de Julieta à cidade havia sido cronometrada nos padrões do Vaticano, que investia em resultados críveis, descartando tempos inúteis. Estilo 007, o espião mais famoso em Hollywood. Silêncio quase sepulcral não fossem os roncos de motores de automóveis em frente ao aeroporto e outras perturbações so-


noras a ouvidos mais sensíveis. Você receberá todo o apoio necessário a sua missão no Brasil. Nunca dirija palavras aos nossos colaboradores se eles estiverem instruídos ao estado de inércia labial. Siga as orientações sem pelejas. O seu sucesso na missão depende da discrição de uma santa, recordou Julieta ao ser atendida pelo atlético motorista, a fala de Antônio. No caminho para a zona portuária, a passageira contemplava as paisagens que faziam a cidade ser estranha se vista da ótica da exclusão social (com favelas) ao longo da Linha Vermelha, via expressa e trajeto importante para o aeroporto. Cenários que não inspiravam medo, apesar de saber da existência de traficantes de drogas naquelas comunidades sem a presença do Estado. Não posso deixar que os vampiros consigam dominar o Rio de Janeiro. Seria muito ruim a existência de bandidos com o corpo tomado pela eternidade de um vampiro, abominava Julieta a possibilidade do narcotráfico ou qualquer outra atividade ilegal ser objeto de consumo de vampiros. Na redação do jornal O Estado, a jornalista investigativa Lisa Carvalho finalizava mais uma reportagem sobre crimes em série. O alvo das investigações havia sido um psicopata que agia em nome de supostas entidades malignas. A polícia havia identificado o matador através de rastreamento das chamadas telefônicas (com autorização da justiça) do serial-killer, que agia nos arredores da zona portuária, matando prostitutas. Com boas fontes (informantes policiais, entre outras) Lisa havia conseguido fechar mais uma grande reportagem que poderia trazer mais prestígio à carreira no jornal. Caso a reportagem conquistasse o “Esso de Jornalismo” (maior prêmio da categoria no País), aumentaria as chances de se destacar na imprensa. Havia abraçado o jornalismo não só pelo gosto da profissão, mas também pelas vantagens financeiras àqueles profissionais que vencem pelo talento. O editor-chefe Arlindo Siqueira gostava do trabalho de Lisa,


que se destacara em menos de dois anos na profissão ao desbancar outros colegas que tinham muito mais tempo no jornal. Essa jornalista vai chegar muito longe. “Lisa, escalei você pra investigar uns crimes que têm dado muito trabalho pra polícia”. “Sobre?” “Nada que você não saiba investigar bem. Não podia ser outro repórter para a árdua tarefa...”, sentenciava Arlindo, com um jeito de narrar bastante novelesco para despertar o interesse do profissional. “O senhor que está dizendo... eu acredito” “Acredita em seres do outro mundo?” Tentava compreender onde Arlindo estava a fim de chegar com aquelas esquetes de romance policial. É típico do Arlindo agir assim quando quer jogar o jornalista numa furada ou numa boa. Acho que vou ser jogada para uma boa. As estatísticas do meu tempo de serviço aqui comprovam jogadas boas. Mas o prêmio Esso... ah, como que quero o prêmio Esso de Jornalismo. “Eu posso escalar outro profissional se você não estiver disposta” “O que tem a ver um ser do outro mundo com a reportagem que eu seria escalada?” “Você que é a repórter. Siga o faro dos seres do outro mundo...” Lisa não teve tempo nem para argumentar. Estava escalada. Pronto. Do gosto de Arlindo, que sempre aproveitava uma brecha nas reuniões de pauta para se desfazer o mais rápido possível do subordinado, jogando-o à rua para que houvesse resultado rápido: textos e fotografias impecáveis. Naquele jornal, o profissional devia ser multimídia, portanto, um especialista em vários meios (rádio, televisão, etc) de distribuição de notícias. Prática mais banalizada com a popularização da Internet. Porém, nem todos os profissionais estavam familiarizados com múltiplas tarefas. Já Lisa, nativa do mundo virtual, profissional gestada nos primórdios da Internet em território brasileiro, ser multimídia estava no sangue.


À noite, no apartamento escolhido pelo Vaticano para Julieta, um notebook com acesso Wi-fi à Internet completara o esquema de contatos. O sinal de Internet, na zona portuária, estava muito forte. Banda larga plena em comunicação. Os investimentos do governo local haviam sido ótimos, então, para estrangeiros que desejassem acessar a Internet sem os constrangimentos de operadoras de telefonia em um País em desenvolvimento. Banda larga livre para acessos à Rede Mundial de computadores. Recebera as instruções para cumprir missões na primeira semana através de uma conta de e-mail. Deveria, também, manterse alerta para os diálogos via chat em horários pré-determinados por Antônio, direto do Vaticano. A estonteante beleza da italiana, que conhecia pouco da cultura brasileira, ficaria oculta pelas roupas de combate mais tarde, após a meia-noite. Na parte do dia, outras missões até revelariam um rosto que despertaria o interesse de cavalheiros pouco pudicos. O apartamento, localizado numa área privilegiada da zona portuária, ficava no décimo terceiro andar, com vista para a Baía da Guanabara. Um imóvel bastante confortável, onde a mobília lembrava um aposento para uma princesa, embora a hóspede soubesse bastante qual o objetivo da viagem, que só terminaria quando liquidasse de vez com o ninho, ou Santuário dos vampiros. Os estudos preliminares apontavam um criadouro de vampiros em algum lugar do centro da cidade. As imagens de satélite, no computador, no Vaticano, não haviam possibilitado identificar a posição exata do ninho dos vampiros. Nem havia como, pois vampiros não haviam deixado algum rastro de crimes nos séculos 20 e 21. As autoridades, encarregadas de caçar demônios infiltrados na Igreja, desconfiavam da existência de muitos e muitos descendentes de Drácula nos tempos atuais. Descendentes que se descobriram vampiros na idade adulta para segurança da própria espécie.


Com o avanço das tecnologias de comunicação, havendo mais facilidade para esconderijos, no bojo da globalização, viver como vampiro não despertaria tanta atenção, analisava Julieta enquanto preparava um automático lança-flechas de prata. A arma havia sido desenvolvida para atingir com extrema precisão o coração de um vampiro. Na ponta da flecha, o veneno: água benta solidificada (com uma química diferente da água benta do dia-a-dia nas igrejas) e que em contato com sangue seria explosiva ao vampiro. Naquela mesma noite, Lisa, em casa, desenhava um mapa, numa folha de cartolina branca, para as investigações sobre seres do outro mundo na cidade. Um esquema tático que funcionaria para compreender por que cidadãos cariocas desapareciam sem deixar vestígios nos últimos dois meses, para desespero de muitas famílias, que perdiam maridos, esposas e até filhos para um monstro (talvez outro serial-killer). Realmente, não havia outro repórter para essa reportagem. Estou ficando especialista em monstros. A cama ficaria para bem mais tarde. Não havia um companheiro à espera. Desde que se assumira universitária, não havia mais espaço para um amor. A carreira profissional em primeiro lugar. Até pai e mãe acabaram distantes, em Petrópolis, na Região Serrana da cidade. Morar sozinha havia sido uma vitória que homem algum teria o direito de destruir. Julieta havia tido alguns namorados, mas nada muito sério. A carreira profissional em primeiro plano. Agora, no Brasil, podia ser muito útil para o Vaticano que a enxergara de verdade. A janela do apartamento serviu para o início do voo pela cidade. Já passava de meia-noite. Uma mochila, com jato propulsor, desenvolvida nos laboratórios do Vaticano, com tecnologia espacial tipo NASA (Agência Espacial Norte-Americana), proporcionou a saída bastante discreta se não fosse o horário de estrelas.


Os prédios ficaram menores à medida que a mochila-foguete carregava Julieta para mais longe do apartamento. Era possível avistar, com mais riqueza de detalhes, o Cristo Redentor iluminado por refletores e fazendo jus ao ser eleito “A Sétima Maravilha do Mundo Moderno”. A piloto se sentia uma criança com um brinquedo sem limites para término da brincadeira. Os treinamentos físicos e exaustivos, na Itália, surtiram o efeito necessário para aquela saída noturna em busca de algum vampiro. A missão estava apenas começando para quem não se via ameaçada a princípio, apesar de ter sido logo avistada por um observador na torre de uma imponente igreja ali perto. O observador estava surpreso com tamanha ousadia: uma máquina voadora para sacrilégios. Uma afronta aos desejos do Mestre, que deveria saber daquela invasão de privacidade, antes que fosse tarde demais.

Previsão de lançamento: até o final deste semestre. Acompanhe as novidades no twit er.com/santuariosvamp


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