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“Motucas” estudam Motuca Geralmente, jovens do nosso município quando ingressam em escolas da região recebem dos colegas locais o apelido de “Motuca”. Alguns, remetem o trato a uma forma carinhosa. Outros, ao contrário, notam certo preconceito. O rótulo criado por estudantes das “cidades grandes” aos das “pequenas” é uma manifestação cultural e sempre existirá. Alguns desses “Motucas”, no entanto, como abordou matéria desta edição, resolveram estudar, pesquisar, refletir e analisar aspectos da localidade onde nasceram. Trabalhos que se tornam verdadeiros legados a uma cidade tão carente de registros e informações. O resultado dos alunos vem de um investimento realizado pelo próprio município. Por ser pequeno e não possuir estrutura para oferecer ensino avançado, disponibiliza há vários anos transporte gratuito para o cansativo percurso até a escola. O trajeto é apenas mais uma das dificuldades que enfrentam. A maior parte estuda em instituições de ensino particulares. Eles próprios ou os pais precisam arcar com os altos valores
EXPEDIENTE
banco
das mensalidades. Além disso, os que trabalham demonstram destreza ao conciliar estudo com a atividade profissional. Tais legados contribuem
de ima
gens
com o desenvolvimento de Motuca. A partir deles, é possível conhecer nosso passado, fator fundamental para entendermos o presente e vislumbrarmos o
Jornalista: Jairo Figueiredo Falvo, MTB 44.652/SP Repórter: Gabriela Marques Luiz Colaboradores: Fábio Falvo, Milena Fascinelli, Ângela Santos, Emair Freitas, Irineu Ferreira, Felipe Carreli, Tiragem: 1.000 exemplares Circulação: Motuca-SP Contato: Tel.: 16 3348 11 85 8141 9125 e-mail: cenarioregional@gmail.com CNPJ: 07.650.710/0001-06 - endereço: Ruca Marcos Rogério dos Santos, 31, Centro, Motuca-SP - CEP: 14.835-000 - Impressão: O Imparcial, Araraquara-SP
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futuro. É possível ter acesso a informações restritas e analisarmos com profundidade acontecimentos históricos. É possível depararmos com inovações que ajudam a melhorar nossa vida em sociedade. A própria cidade, contudo, a partir de suas instituições, deve desenvolver mecanismos para estimular os alunos na fomentação dos trabalhos nas mais variadas áreas científicas. É possível, por exemplo, criar premiações ou até mesmo custear de alguma forma os projetos. Além disso, é fundamental torná-los acessíveis a toda sociedade em local adequado e com a devida divulgação. Certamente, outros “Motucas” estudaram, estudam ou estudarão Motuca. Muitos, por outro lado, enfocam temas também importantes que, da mesma forma, merecem ser reconhecidos. Infelizmente, por ser o município limitado na oferta de emprego, os apelidos de várias destas pessoas de valor perdem sorrateiramente o sentido ao mudarem para os grandes centros logo após se formarem. É uma triste realidade presente em todas as localidades pequenas como a nossa.
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retrospectiva - Um “pouco” de tudo Irineu Ferreira (Neu)*
“Quando for criticar algum governante, me avise. Vou ler com prazer” sempre escrevo o que gosto. No meio desse “um pouco de tudo”, já escrevi sobre “padronização de calçadas”, tema espinhoso, difícil de ser traduzido em prática pelos governantes. Por meio do “Juro que vi”, busquei levar um pouco do nosso rico folclore às residências aonde chega o Cenário. Com “O mulato: Um equilibrista social” tratei do tema racismo de maneira interrogativa e provocativa, portanto estimulante. Ao buscar um pouco de inspiração em Gabriel Garcia Márquez, com seu Santiago, tentei estimular o espírito investigativo e espicaçar a curiosidade literária do leitor, no que apontava soluções para os perigos com as queimadas da cana nas proximidades dos perímetros urbanos. Arrisquei-me um pouco no universo da fantasia por meio de algumas fábulas. Com “O guerrilheiro do cerrado”, trouxe as montanhas e serras de Minas Gerais até aqui, fazendo um esforço, recompensador, no sentido de mostrar a saga de uma família que ajudou a transformar um pouquinho nosso Município. “Natal, onde está você?” foi um título controverso, gerou debates interessantes. Com ”Pelé”, entrei no íntimo dos saudosistas, relembrando o futebol memorável das copas conquistadas, tangenciando seus fracassos. “Churrasco dos pais” deixou algumas famílias preocupadas, nada que uma boa conversa não resolva. Em “Águas de Março”, com a humildade necessária, quis mostrar que planejamento em algumas áreas é fundamental, para evitar que a saúde financeira dos municípios fique comprometida. Aliás, com o “Prazer da Leitura e o Desafio da escrita”, queria e quero, que você
DANO AMBIENTAL EMAIR JUNIO DE FREITAS*
“Eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas.” (Confúcio) Andava um pouco chateado, mas não devia. Isso me acontece poucas vezes, mas acontece. Questionam-me, às vezes, porque escrevo difícil, porque meus textos, de maneira geral, são longos, ou porque uso palavras inusitadas. Que por essas razões me questionem, considero absolutamente normal. Mas, o desconforto acomete. Escritores, colunistas, editorialistas, têm que aprenderem e crescerem com as críticas. Fazer pouco caso seria infantilidade, registrá-las tampouco sábio seria. Faz parte do ofício de quem escreve conviver com as emoções, nelas incluídas as decepções, as frustrações e demais desconfortos. Curiosamente, há quem me sugira escrever “um pouco de tudo”. Os assuntos solicitados, na maioria das vezes, têm a ver com a cidade, mais especificamente sobre questões ligadas ao meio ambiente, à sustentabilidade, à infraestrutura, enfim, sobre quase tudo. Com menos frequência, a violência urbana (roubos, polícia, destemperos). Há algum tempo, fui questionado por um jovem, que pouco à vontade perguntou qual seria o tema do meu próximo artigo. Respondi: “O prazer de ler e o desafio da escrita”. Disse-me ele: “Quando for criticar algum governante, me avise. Vou ler com prazer.” Ler e escrever, conclua-se, são temas que escapam ao seu interesse. Gosto muito do tema “ciência política”, ocasiões em que trato de ressaltar que desconheço inúmeras coisas, não tendo, assim, autoridade para me meter em assuntos específicos, mas os interlocutores me interrompem categóricos: “Vocês, que escrevem em jornal, falam sobre tudo, conhecem a vida.” Em parte aceitam minhas argumentações, ou fingem aceitá-las, pois percebo alimentarem dúvidas sobre as minhas reticências. Mas, a verdade é que escrevo sobre assuntos diversos, dentro do possível. E, lógico, nem
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leitor se sinta motivado a começar a registrar suas emoções, abra seu conhecimento para o mundo. Conhecimento é para ser transmitido, repassado para as novas gerações. A médio e longo prazo este aprendiz de escritor, articulista ou romancista, se o jornal permitir, e principalmente, se houver motivação suficiente, pretende falar “um pouco” sobre relacionamentos humanos com o ainda pré-título “E aí, vamos discutir a relação?” E com “Um minuto de reflexão” tomar a liberdade de adentrar em assuntos mais complexos (se me sentir seguro)... Pretendo concluir pequena adaptação de um conto, que tem o título provisório “O encantamento de Lulu Mutuquim”, que fala das coisas que o poder faz com as pessoas. A seguir, em “O direito de escolha” aparecem os resultados dos tais deslumbramentos, tratando de como a cidade responde às decepções e às demandas, mas, principalmente, à truculência de certos gestores. Com “Diálogos no Levi”, ainda em formatação, brinco um pouco com a vida, até porque a vida muitas vezes tem que ser tocada de maneira lúdica e irreverente. Sob o título “A Batalha”, quero tanto reverenciar mais um motuquense, como lembrar a coragem de 25.000 brasileiros na conquista de Monte Castelo, feito tão pouco conhecido entre nós. Bem, o título foi retrospectiva, mas a expectativa é que, viajando por este Brasil imenso, tão cheio de contradições, e talvez por isso mesmo tão apaixonante, tentarei fazer: Feito postais das minhas “viagens”, falando do que vi e vivi, e os textos chegariam aos leitores numa nova série, que o leitor poderia talvez chamar “Um pouco de tudo”. Finalmente aos parceiros do Cenário e, em especial aos leitores que apreciam minha coluna, muito obrigado e, BOAS FESTAS!
(*) Servidor da Unesp - FCF/CAr e-mail: motuca_city@hotmail.com
compelido Dano é o Basta ficar configurado o a reparar o prejuízo causaprejuízo para que o dano indedo a alguém por responsável legal seja pendenteterceiros, então mente dos dano ambiental compelido a repará-lo fatores que é o prejuízo, lelevaram ao são ou ameaça de lesão ao patrimônio ambiental, acontecimento do evento. No caso de dano ambiental, infeque pode ser a degradação de áreas de preservação permanentes lizmente nem a força maior que são ou reservas legais da propriedade “fenômenos da natureza”, superior às forças humanas, como por exemrural. O Artigo 225, parágrafo 3º da plo, o rompimento de barragem em Constituição Federal estipula que as razão de precipitação pluviométrica condutas e atividades lesivas ao meio anormal, raios e terremotos e nem ambiente sujeitarão seus infratores o caso fortuito que é obra do acaso, a sanções penais e administrativas, como por exemplo, uma explosão, independentemente da obrigação de são capazes de excluir a responsabilidade objetiva ambiental. Assim, reparar o dano. E para quem eventualmente prati- se verificado um acidente ecológico, ca dano ao meio ambiente, pode estar seja por falha humana ou técnica, sujeito a diversas sanções, ou seja, seja por obra do acaso ou por força pode ser processado criminalmente da natureza, deve o empreendedor e concomitantemente na esfera responder pelos danos causados, administrativa ser multado, e ainda, podendo, quando possível, voltar-se obrigado a reparar o dano. Portanto, contra o verdadeiro causador, pelo em caso de dano ambiental as san- direito de regresso, quando se tratar ções que estão sujeitas os autores de fato de terceiro. A preocupação com a consersão várias. Agora na ótica da reparação do vação do meio ambiente é uma dano em si, são duas as formas, sen- questão de sobrevivência, de do a primeira o retorno ao status quo garantir sobrevida às gerações ante, ou seja, a situação que a coisa presentes e possibilitar as mesmas tinha anteriormente e a segunda seria condições de vida às gerações futuras, mas que a meu ver não indenização em dinheiro. Outra questão bastante impor- pode ser feita a qualquer custo, ao tante a título de informação é que ponto de responsabilizar empresas a Lei n.º 6.938/81 (Lei de Política e indivíduos que não concorram Nacional do Meio Ambiente) em para o evento danoso ambiental, seu Artigo 14, parágrafo 1º, adotou pois o Estado dispõe de vários a sistemática da responsabilidade mecanismos e meios para presercivil objetiva e que foi totalmente vação ambiental, tal como, criação recepcionada ou acatada pela atual de parques ecológicos nas mais Constituição Federal, sendo assim, diversas regiões. E aqui não estou falando em é irrelevante e impertinente a discussão da conduta do agente a título retrocesso nas conquistas de âmbito de culpa ou dolo para atribuição do ambiental, que foram significativas, positivas e indispensáveis para a dever de indenizar. A responsabilidade objetiva é humanidade, devendo ser sempre exatamente o dever de indenizar implementadas e inovadas, mas sem sem mesmo ter culpa ou dolo, e imposição de normas extremamente independentemente da conduta do duras e inflexíveis, onde a responagente que até mesmo tenha prati- sabilidade não é excluída por força cado atos no sentido de tentar impe- maior ou caso fortuito. dir o evento danoso. Portanto, basta ficar configurado o dano ambiental para que o indivíduo ou no caso de (*) advogado, empresa o responsável legal seja emairjfreitas@adv.oabsp.org
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Conquista de CNPJ marca fundação de nova terceira idade
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Ronaldo Vicente
Grupo agora trabalha para possuir sede própria A conquista do CNPJ marcou a fundação de um novo grupo da terceira idade na cidade, idealizada em julho, após breve paralisação da organização vinculada à Prefeitura por conta dos problemas relacionados aos cargos comissionados. Os trâmites burocráticos foram concluídos
no dia primeiro de novembro e a documentação foi apresentada aos membros no dia treze, no galpão de festas da igreja São Sebastião. “Estamos felizes por esta conquista, pois foi realizada de forma independente a partir do desejo de todos os membros”, destacou a
Membros no encontro do dia 14 no salão de festas da igreja
presidente Neusa Amistá Rateiro. Antes mesmo da formalização legal do grupo, vinham sendo realizados encontros semanais com o intuito de entreter os participantes, além da realização de viagens
Maior parte das famílias de Motuca possui renda entre 2 e 5 salários mínimos Senso demonstra que em 2010 existiam 35 famílias com renda menor que um salário De um total de 1.357 domicílios permanentes de Motuca, 546 possuem rendimento mensal entre dois e cinco salários míninos, a maior da cidade, de acordo com dados do censo 2010, divulgado em novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE. Rendimentos acima de 20 salários mínimos se enquadram na menor classe, com três domicílios. Segundo o IBGE, existem no município 35 famílias com renda
mensal de ½ salário mínimo. O senso 2010 contabilizou 4.290 moradores em Motuca. A maior parte são homens, com um total de 2.162 (50,4%). Mulheres representam 2.128 (49,6%) dos habitantes da cidade. Do total de moradores, 72,5% vivem na área urbana. A faixa etária entre 40 e 59 anos é a maior da cidade, com 25,5%. A pesquisa também revelou que em Motuca 59% dos moradores possuem a pele branca. Pardos
correspondem a 35,1% da população, seguido de negros, como 5,7% e amarelos, com 0,3%. Com relação aos domicílios, segundo o censo, 53,10% são próprios e 17,5% são alugados. Os restantes são cedidos por empregadores ou ocupados de outra forma. Na maior parte das residências, moram famílias com até três pessoas., com uma média de 3,15 moradores.
de lazer. “Aqui eles fazem o que gostam, como crochê, distraem-se com os jogos e passeiam”, relatou Neusa. Neste ano, foram para o Guarujá, Clube Náutico e Termas de Olímpia. Os recursos para manter as atividades, segundo ela, vêm da mensalidade de R$ 15, proveniente dos bingos jogados nos encontros e do realizado uma vez por mês com a participação da comunidade. Neusa revelou que o próximo objetivo do grupo é adquirir uma sede própria. “Já existe um projeto para viabilizar-
mos esta ideia”, diz. A tesoureira Sônia de Aquino exaltou o momento de fundação do grupo, depois da dificuldade em criá-lo. “Estamos felizes por tudo ter dado certo”, destacou. O aposentado Osvaldo Bonifácio, de 79 anos, ressaltou a importância do grupo da terceira idade para ele e a esposa Luiza Amistá Bonifácio, de 72 anos. “Só deixamos de vir a um encontro porque tivemos que ir ao médico”, contou. “Estes dois dias aqui são os mais aguardos por nós na semana”. Vida própria O evento que marcou a fundação da organização contou com a participação dos vereadores Renato Luis Rateiro e José Carlos Francisco de Arruda, que atuaram na conquista do CNPJ. “Agora, o grupo da terceira idade existe de fato e de direito, algo inédito na história de Motuca”, destacou Rateiro. Já Arruda, ressaltou a iniciativa dos membros para viabilizar a ideia. “A partir desta postura, vocês ganharam vida própria”, disse.
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Motuca é tema de estudo de universitários Livro histórico com foco na emancipação, estudo do impacto econômico após o fechamento da usina e um portal jornalístico foram desenvolvidos por estudantes da cidade Jairo Falvo
Uma análise sobre o impacto econômico do fechamento da usina Santa Luiza. Um livro sobre a história de Motuca com enfoque na emancipação política. Um portal jornalístico com mecanismo participativo e colaborativo para o desenvolvimento de conteúdo. Estes três temas abordando aspectos de Motuca foram desenvolvidos por universitários da cidade em seus Trabalhos de Conclusão de Curso. Livro reportagem Com o título “Sertanejos, estrangeiros, forasteiros. Dos primeiros boiadeiros à emancipação política de Motuca”, a jornalista Gabriela Marques Luiz, repórter do Cenário desde sua segunda edição, em maio de 2008, e estagiária da revista Kappa, de Araraquara, desde outubro deste ano, escreveu o primeiro livro sobre a história de Motuca, com enfoque na emancipação política. “É o momento com maior quantidade de informações disponíveis”, destaca Gabriela, que durante o ano entrevistou doze pessoas e reuniu grande material de pesquisa para a elaboração do livro reportagem. O trabalho foi desenvolvido como objeto de avaliação final para aprovação no curso de jornalismo do Centro Universitário de Araraquara (Uniara), onde recebeu ótima avaliação da banca examinadora. A ideia inicial, segundo ela, era relatar apenas o processo de emancipação, que ocorreu de 1986 a 1990. “Mas depois percebi a neces-
Gabriela, Marília, Alessandro e Jeferson na Praça da Matriz
sidade de ampliar o recorte temporal, abrangendo também a criação do município”, relata. A falta de documentos e de testemunhas da época inicial da localidade, revela, foi uma das principais dificuldades encontradas para a elaboração dos textos. Portal jornalístico Os web designers Alessandro de Paula e Jeferson Januário Antunes, recém formados pela Uniara, desenvolveram durante o ano um portal jornalístico com um diferencial: a existência de uma rede social como processo participativo/colaborativo para o desenvolvimento de conteúdo. “Após realizarem o cadastro, os leitores se tornam produtores de notícias, ao terem a possibilidade de alimentarem ou sugerirem assuntos para o portal”, explica Alessandro, que trabalha como designer gráfico em uma empresa de Matão. Para desenvolver o projeto, o grupo, que também contou com a participação de Fausto Henrique Capovila Céspedes, de Nova Europa-SP, escolheu uma empresa de Motuca, o jornal mensal Cenário, fundado em dezembro de 2007. “Ele está cada vez mais presente na vida dos moradores, uma vez que se trata de um meio de comunicação que procura fazer um bom trabalho jornalístico”, explica Alessandro. A migração do jornalismo im-
presso para o ambiente on line é uma realidade, de acordo com ele. “A internet apresenta inúmeras possibilidades, além de proporcionar um aumento do público alvo do jornal
ao sair do limite do município”, observa. Alessandro revela que existe o interesse do grupo e do periódico de colocar a ideia em prática. Impacto econômico Após o fechamento da usina Santa Luiza, em dezembro de 2007, surgiram muitas especulações sobre o futuro de Motuca. Com a eminente queda de receita pela redução na quota-parte do Imposto Sobre Circulação e Mercadorias (ICMS), cogitou-se até a possibilidade do município voltar a ser distrito. Durante o ano de 2010, a economista Marília Angélica Lavezzo, levantou dados oficiais e informações bibliográficas para analisar tecnicamente este importante período da história da cidade, bem como a avaliação do processo de emancipação a partir das finanças públicas. O estudo foi realizado para a conclusão do curso de economia na Uniara. De acordo com Marília, desde a
emancipação, o Índice de Participação do Município (IPM), utilizado para calcular o ICMS, sempre foi constante em Motuca. A partir de 2010, quando terminou a participação da usina, houve drástica queda de aproximadamente 24%. “O declínio do índice será observado nos próximos anos, ratificando a crítica de muitos especialistas em finanças públicas do processo desorientado de criação de novos municípios ocorrido no Brasil na década de 1990”, argumenta. Além da política de busca por empresas, Marília avalia que uma das alternativas para minimizar a drástica redução seria elaborar uma legislação tributária mais realista. “Motuca possui uma política irreal de tarifas de água e esgoto, que sequer cobrem os custos com o sistema de saneamento básico”, destaca. Ela observa, no entanto, dificuldade de aumento de impostos em razão da baixa renda per capita da população.
Jovem da cidade realiza primeira experiência no cinema como ator Silvio Martins é protagonista de curta-metragem filmado em Araraquara de forma independente
A tragédia, o desespero, o absurdo... Carlos, infortunadamente, se vê preso num típico mundo kafkiano. Em busca da liberdade, defronta-se com seu próprio destino. O drama da personagem é protagonizado por Silvio Martins (26), jovem da cidade que realizou sua primeira experiência no cinema com o curta-metragem ‘O Que Foi Que Eu Fiz?’, filmado em Araraquara neste ano de forma independente. “O Marcelo Tanisho, diretor e roteirista do curta, é meu colega de trabalho e como sabe que gosto de música e de cinema, fez o convite, que aceitei sem pestanejar”, relata Martins. Ele revela que possuía há tempos a vontade de realizar um projeto cinematográfico. “Eu e o Marcelo chegamos a discutir a realização de um vídeo clip, que acabou não dando certo”, conta. O curta, desenvolvido pelo grupo araraquarense Epiccâmera, contou com a participação de cinco atores amadores – entre
Divulgação
Martins, em uma das cenas do filme
eles Ana Luisa Falvo (6), prima de Martins, também moradora de Motuca – e de 25 figurantes. Foi produzido com baixo orçamento, custeado em sua maior parte pelos próprios participantes. As filmagens contaram com apoio da Prefeitura de Araraquara, que ajudou a disciplinar o trânsito em algumas das gravações, além de ceder ônibus e motorista. “Conseguimos bastante coisa como alimentação e equipamentos na base da conversa, a partir de acordo para inserir os nomes dos apoiadores nos créditos do filme e em nosso site”, diz.
Lançamento A pré-produção, com a definição dos atores, locações e equipamentos, levou um mês e meio. A gravação foi realizada em aproximadamente dois meses. Atualmente, o filme está em fase final de edição. O lançamento está previsto para ocorrer no início do ano que vem. De acordo com Martins, após a estréia o grupo pretende disponibilizar o curta em um site (ver box) e no you tube. marcelotanisho.com.br/ oquefoiqueeufiz/
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Igreja da usina é restaurada
Jairo Falvo
Adquirida em estado precário, família procurou deixá-la com as carcterísticas originais
Madeiras dos forros estragadas, vazamentos, pinturas deterioradas, ausência de móveis e objetos religiosos, vidros e telhas quebrados, além de um emaranhado de teias de aranhas e vários pássaros mortos. Este foi o cenário observado pelos membros da família Mascellani, de Matão, quando abriram as portas da Igreja São Francisco de Assis, na Usina Santa Luiza, adquirida por eles no ano passado juntamente com outros espaços físicos. “Era uma situação triste de se ver”, lembra o administrador Pedro Henrique Mascellani, um dos proprietários. Como são bastante religiosos, todos os membros da família decidiram restaurar
a igreja e deixá-la acessível novamente à comunidade de Motuca. “Inicialmente, fomos conversar com o Padre Benedito, que tinha guardado alguns dos objetos e móveis do local, e ele gostou muito da ideia”, revela. O objetivo, de acordo com Mascellani, foi deixá-la com as características originais. Para isso, a família emprestou vídeos de casamentos realizados na igreja, além de pesquisarem fotos tiradas no local. “Só não conseguimos encontrar os vidros, pois não são mais fabricados”, diz. Sua mãe, a aposentada Regina Inês Rossi Mascellani, descobriu que a igreja da usina é réplica da Igreja Bom Jesus,
em Matão. “Só existe uma pequena diferença na torrinha”, relata. Ela conta que recuperou a toalha elaborada pela falecida dona Luiza Malzoni Rocha Leite, uma das proprietárias da indústria. No dia quatro de dezembro, data da reinauguração da igreja na usina, Regina revela que se emocionou ao ver o prédio restaurado, após vários meses de trabalho. “Um dia antes completei 34 anos de casada e o padre Benedito nos convidou para realizar a cerimônia de renovação dos votos”, diz. Por coincidência, a secretária Lucimeire Baesso e o marido completaram 22 anos de casados dois dias antes da inauguração e também foram convidados pelo padre para celebrarem a renovação. “Foi uma emoção muito grande e uma surpresa, pois não sabíamos da celebração”, declara Lucimeire. “A igreja é um local onde freqüentei desde sua construção, foi onde me casei e é uma satisfação vê-la restaurada”, complementa.
Imagem frontal do prédio religioso, enfeitado com luzes
Missas no local Para o Padre Benedito Firmino da Silva, a restauração da igreja da usina vem de encontro a um interesse de toda a comunidade católica de Motuca. Preocupado com furtos e deterioração, ele retirou alguns móveis e objetos após seu fechamento para serem
preservados. “Os proprietários vieram até mim e reunimos as peças que estavam divididas em algumas igrejas do assentamento para trazê-las para cá”, destaca o padre Benedito, que a partir do início do ano que vem celebrará uma missa todos os meses no local.
Família pretende alugar espaços Ideia é angariar recursos para cobrir os custos de manutenção do local, considerados altos De acordo com o administrador Pedro Henrique Mascellani, após terminarem de reformar os espaços físicos adquiridos pela família, a ideia é alugar o clube e o ambulatório, que possui várias repartições, para eventos. “Antigamente eram realizadas muitas festas aqui e nossa intenção é que o dinheiro do aluguel cubra os custos de manutenção, que é muito alto”, diz.
Ele revela que foram realizadas dezenas de viagens de caminhão para retirar os entulhos e sujeiras do local. “Estava muito sujo”, enfatiza. A família Mascellani é proprietária de uma transportadora em Matão. No ano passado, compraram seis casas, o ambulatório, o bocha, o salão de festas, a quadra esportiva e a igreja, construções localizadas em área da extinta
usina Santa Luiza. Alguns dos membros da família já estão morando no local.
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Os antigos natais e anos novos de Motuca Festividades de fim de ano mostravam sempre a localidade como uma grande família, com as casas abertas e comemorações na praça Arquivo pessoal
Dona Zefina, Paulo Aquino e Nadir. O sonho dela de ter um Papai Noel em Motuca foi concretizado pelo Paulo, que fez a alegria das crianças nos anos 80
Por Fábio Falvo
maioria das crianças só tomavam refrigerantes em datas especiais, neste caso o guaraná, pois, a Coca-Cola não chegava em Mo-
tuca. Os enfeites e árvores de natal não eram comuns também; tradicionalmente, as famílias montavam presépios em suas casas. O presépio mais famoso era o montado por Antonio Engue na Usina Santa Luiza. Em sua composição, além de retratar o local do nascimento do menino Jesus e a presença dos pastores e dos reis magos, havia também cenas do cotidiano do interior, com figuras que se moviam e riachos com água corrente. Além desse, haviam famosos presépios na igreja matriz e na Usina, preparados pela Dona Marisa do Doutor Rafael. Ainda na Usina eram distribuidos presentes, oferecido um grande churrasco para os funcionários e familiares e uma ceia, confraternizada pelos moradores da Usina, que além do farto cardápio havia
Perguntado sobre os natais antigos, a primeira reação é um belo sorriso. Em seguida vem a lembrança de uma mesa farta no almoço e o guaraná que as crianças apreciavam devagar para não acabar. O momento máximo para as crianças era reservado para o Papai Noel. Esperá-lo não era tarefa fácil, mas recompensadora na manhã de natal, pois, os brinquedos eram presenteados somente nesta época, daí o valor da espera. Estas lembranças são de décadas anteriores à de 60, em que a
CAUSOS DE MOTUCA, por Pedro Vaz de Lima
A morte do peru que não morreu No final dos anos sessenta, havia várias pequenas propriedades em Motuca. Nelas, viviam portugueses, italianos, espanhois..., e nada era tão esperado como o natal. O natal daquela época tinha significado de fartura na mesa (macarronada, frango caipira assado, leitoa e o mais extraordinário “guaraná quente”), além do tão sonhado peru assado. Um certo sitiante português criou uma dessas aves para ser assada justamente no natal. Na véspera, toda família se reuniu para preparar as guloseimas da ceia. Aí começou aquela carnificina: mata porco, mata frango, faz farofa, a maldita maione-
se que eu odeio... e por aí vai. Para matar o peru, ele tinha uma técnica muito usada na época: embriagá-lo para depois passar a faca. Dois ilustres personagens motuquenses, que adoravam encher o pote, foram escalados para fazer o serviço. O sitiante informou onde estava a pinga. Eles tinham que dar para o peru e depois de uma hora teriam que matar e limpar a ave. Um dos beberrões saiu com um litro da famosa tatuzinho. Depois de uma hora, o outro companheiro
voltou dizendo que o bicho era resistente e que a pinga não fez o efeito esperado. Então, pediu outra. Com desconfiança, o português atendeu ao pedido. Quatro horas passadas, cansado de esperar e preocupado com a ceia, o sitiante foi averiguar a situação no galinheiro. Ao chegar, veio a surpresa. Enquanto os dois beberrões estavam completamente bêbados, o peru gozava de muita saúde, desejando um feliz natal e próspero ano novo aos nossos leitores do Cenário. Até o ano que vem!
Arquivo pessoal
Ceia de natal da família Santos, na década de 60. Seu Lúcio fazia questão de receber a todos para compartilhar a mesa
teatro e presépio vivo. O Papai Noel mais famoso de Motuca foi o Paulinho Aquino, idealizado por um sonho da Dona Zefina, de ter um que destribuisse balas para a criançada. Paulo aceitou o desafio e Dona Zefina cuidou de tudo, confeccionando a roupa do Paulinho, que tinha características bem diferentes do bom velhinho, por ser alto e magro. Assim a comitiva do Papai Noel saiu pela cidade, seguida por carros buzinando, atraindo dezenas de crianças, que corriam atrás dos confeitos e para acenar para o Papai Noel! Lúcio dos Santos e a família sempre realizaram a ceia de Natal, que além da comida e bebida, havia boa cantoria, que se estendia
pela madrugada, momento em que os motuquenses Brás, Aurelinho, Nelson Capivara e outros passavam para cumprimentar o Seu Lúcio, que fazia questão de recebê-los para cear. Ao terminar a festa, seus filhos, netos e genros faziam serenata para o casal, Lúcio e Angelina! Os antigos Reveillons, se resumiam na reunião das pessoas, como uma grande família, no galpão, onde havia leilões de assados. As pessoas ali ficavam se divertindo e aguardando os sinos, tocados pelo Lagartixa, anunciarem a chegada do novo ano. Após os brindes, a praça era toda coberta por garrafas de champanhe quebradas, outra tradição motuquense!
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Vôlei é vice-campeão da Liga de Orlândia Equipe chegou à final de forma invicta e perdeu por 3 sets a 2 para Guaíra em jogo emocionante na casa do adversário Divulgação
Motuca chegou à final da competição com apenas uma derrota, exatamente para Guaíra. “O desempenho foi bom, porque mesmo sem treinarmos juntos, chegamos às finais perdendo somente um jogo”, ressalta o jogador Victor Freitas. A equipe treinava raramente. “Sempre treinávamos apenas um dia antes do jogo, porque estamos
sem técnico. Neste dia, quem nos auxiliou foi a professora de educação física Ana Carla Mestre, auxiliada pelos voluntários Paulo Rogério e Raul Rita”, afirma um dos jogadores da equipe Lauan Bellardo. O sub-21, que também disputava a liga, foi desclassificado após a equipe se desfazer e ficar sem atletas para disputarem a competição.
Jogadores em pose para foto juntos com o chefe de esportes Iei
A equipe Infantil é vice-campeã da Liga Pró-Voleibol de Orlândia. O time deixou escapar o título da liga após perder para Guaíra, no dia 11 de dezembro, na casa do adversário. O jogo, disputadíssimo, começou bem para Guaíra, que venceu o primeiro set por 25x21. Recuperada, Motuca voltou com tudo e fechou o segundo set por 25x20. Como não mantiveram o mesmo de-
sempenho no terceiro set, Guaíra fechou o placar com 25x23. O quarto set era decisivo para Motuca, que precisava vencer. Em um set disputadíssimo, o time motuquense fechou com 28x26. O quinto e último set da Liga, emocionante, era um ponto para cada lado. Quando o placar estava 16x16, Motuca cometeu dois erros seguidos e Guaíra venceu por 18x16.
Victor Freitas recebe a taça do vice-campeonato
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