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Adriano Ribeiro
Homem morre de frio da ‘Ilha do Silício”
Não há como normalizar o fato de uma pessoa morrer de frio nas ruas de Florianópolis. Conforme foi revelado nesta semana, pela Secretaria de Estado da Saúde, um morador em situação de rua, de nome Saimon Bertolo, de 41 anos, gaúcho, morreu por hipotermia na avenida Mauro Ramos, próximo a rua Anita Garibaldi, no centro da Capital, nesta segunda-feira (12). Apesar da confirmação pelo Estado, a prefeitura informou que ainda investiga a causa da morte. Não estou aqui dizendo que a culpa é do Poder Público, mas o mínimo que se espera é que a cidade não tenha retrocessos na questão social, indiferente se a morte foi de frio ou não. Lembrando que ações de equipes de abordagens nas ruas e oferecimento de abrigos são obrigatórias por parte das prefeituras em situações quando a temperatura fica abaixo de 10 graus. O secretário de Assistência Social da Capital, Leandro Lima disse nesta semana que a políti- ca social em relação aos moradores de rua na Capital é “acolher para emancipar”. É claro que todo mundo concorda que o ‘enxugar gelo’ não resolve. Fazer só o assistencialismo não traz solução, pelo contrário, aumento mais esse problema crônico que já é uma dor de cabeça em qualquer cidade do Brasil. Sim, é importante encami- nhar esse cidadão e principalmente tirá-lo da rua e dar dignidade. Mas, enquanto isso não acontece, e isso demora para acontecer, não pode ser o Estado omisso com o básico que é acolhimento, alimentação, saúde e higiene. OU o secretário espera emancipar o morador de rua sem que antes ele consiga andar com as próprias pernas?
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Assistência social é humanizar
Lembrando que o atual secretário de Assistência Social da Capital, Leandro Lima, é um funcionário de carreira do sistema carcerário e é ex-secretário de Justiça e Cidadania do Governo do Estado de Santa Catari- na e ex-diretor do Departamento de Administração Prisional (DEAP). Não vou criticá-lo por esse, no mínimo desvio de currículo, com certeza deve ter competência também para tocar a Assistência Social da Capital. Se não tivesse condições, o prefeito Topázio Neto com certeza não teria lhe conferido o cargo. Só aponto um detalhe secretário, nesse novo desafio, o trabalho baseado em humanizar, acolher, proteger, não o contrário.
Vereadores lamentaram
O caso do cidadão morto pelo frio na Capital, como não poderia ser diferente, repercutiu na Câmara de Vereadores. Vários parlamentares falaram sobre o tema. “De todos os tipos de tragédias que existem, as piores são aquelas que poderiam ser evitadas”, comentou o vereador Maycon Costa (PL). “Nós falhamos vereadores, todos nós falhamos, da esquerda à direita, do governo à oposição. Falhamos e carregamos uma parcela de culpa pelo abandono do poder público”, completou o vereador. “Um homem morreu de frio, na Ilha do Silício, terra do progresso, das praias badaladas, do melhor IDH”, questionou.
Cirurgias eletivas
O vereador Renato Geske (PSDB) fez um apelo para que os governos federal e estadual avancem no oferecimento de cirurgias eletivas. Ele citou, por exemplo, que em Santa Catarina há uma fila de 53.708 pessoas aguardando um procedimento. Ele citou que SC é o sétimo estado do País com maior número de pessoas aguardando na fila. “Realmente, a questão da saúde não é prioridade no Estado”, ponderou.
Diácono questiona causa mortis
Já o vereador Diácono Ricardo (PSD) discordou da Secretaria de Estado de Saúde que divulgou que o homem teria morrido de frio. Ele argumentou que não saiu ainda o laudo cadavérico e disse preferir esperar o laudo emitido pelo IML. Diácono ainda detalhou que o cidadão tem 24 atendimentos pela prefeitura da Capital, entre esses, vários relacionados à saúde. Ele comentou que trabalha direto com esse público de moradores em situação de rua e por isso prefere a precaução sobre o caso específico. Informou ainda que está providenciando o sepultamento do cidadão - caso sua família não providencie - pois o conhecia de seus trabalhos sociais. O vereador ainda defendeu a internação involuntária para tentar avançar nas abordagens a esse público.
Cadê os policiais, governador?
Vereador Maycon da Costa foi um dos que usou a palavra para
A vereadora Tânia Ramos (PSOL) também usou a tribuna para lamentar. Ela não entrou
EXPEDIENTE no mérito da causa da morte, mas disse que a gravidade está na morte de uma pessoa nas ruas, independente da forma como isso ocorreu. A vereadora cobrou mais ações do poder público para atender esse público em situação de vulnerabilidade.
A vereadora Manu Vieira (Novo) cobrou que se amplie o debate sobre políticas de assistência social. Ela salientou que há muitos formatos de ações, porém, há que se debater a resolutividade desses trabalhos.
A realização de uma audiência pública para ampliar esse debate foi sugerida e acatada pelo presidente João Cobalchini (UB) que já busca datas para sua realização.
Na semana passada, assim que completou 60 dias da tragédia do massacre na creche de Blumenau, o Governo do Estado correu para divulgar para a imprensa através de sua Agência de Notícias, que as primeiras escolas de SC passam a contar com policiais armados. Uma forma de abrandar o fato de a promessa do governador Jorginho Mello (PL) não ter sido cumprida.
Vocês lembram, quando aconteceu a tragédia em Blumenau o governador foi notícia nacional ao afirmar que em 60 dias TODAS as escolas do Esta- do teriam um policial armado. Já tratei aqui sobre esse assunto, inclusive me adiantei ao afirmar que isso não seria possível por falta de policiais na reserva para cobrir as mais de 1.000 escolas. Garanto que vira o ano e isso não será realidade. E, aos poucos, o governo vai evitar ao máximo falar do assunto para este cair no esquecimento do catarinense. Não que seja favorável à ideia proposta pelo governador, mas, sou favorável de o homem público cumprir aquilo que promete. O contrário é má fé, mentira e manipulação da opinião pública.
O Programa é do Partido
Por falar em governador Jorginho Mello, vossa excelência continua usando o espaço de inserções para propagandas na televisão, que deveria ser usado para divulgar as propostas e ideias do partido, no seu caso, o PL, para falar de suas ações como gestor público à frente do Governo do Estado. O prefeito Topázio Neto (PSD) tentou fazer o mesmo e na primeira inserção o PSOL entrou na Justiça e conseguiu tirar o material do ar. Será que o resultado do voto bolsonarista da última eleição acovardou os demais partidos e políticos catarinenses que ficaram com tanto medo de Jorginho que até esse tipo de desfaçatez estão aceitando sem ao menos reclamar?