Roteiro do mau estacionamento

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Região de Leiria

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21 | Maio | 2009

abertura

texto ∑ Marina Guerra

Roteiro do mau estacionamento nas nossas cidades

O REGIÃO DE LEIRIA percorreu as ruas das cidades e dá-lhe a conhecer alguns dos piores exemplos de estacionamento dos automobilistas da região. Subir passeios, estacionar em cima das passadeiras, obrigar os peões a circular na estrada e desrespeitar os sinais de trânsito são algumas das infracções cometidas com maior frequência e puníveis por lei. “É só um minuto” é a justificação mais utilizada e, que se traduz, muitas vezes, na falta de sensibilidade dos automobilistas para com os peões. As situações são muitas e acontecem todos os dias à nossa porta.

Grupo de cidadãos usa autocolante para conseguir passeio livre Tem um carro estacionado em cima do passeio, mesmo em frente a casa sa ou ao local de trabalho? Incomoda-o -o tal comportamento e quer mudar a situação? Não desanime, infelizmente ente não é o único caso existente na região, ou mesmo no país, e já existe ste um espaço onde pode denunciarr o “estranho caso de estacionamento to abusivo”. O blogue Passeio Livre (http:// // passeiolivre.blogspot.com) surgiu u em 2008, depois de um grupo de cidadãos discutir frequentemente a questão na internet. Trata-se de uma página acessível a todos os cibernautas, onde é possível enviar fotografias e/ou comentários relacionadas sobre o estacionamento abusivo em locais destinados à circulação pedonal, um pouco por todo o país. Paralelamente, a direcção do Passeio Livre apela a todos os os

utilizadores para imprimir o autocolante disponível no blogue e colar nos veículos “incomodativos”. Mas existem regras. O autocolante só deve ser usado quando um veículo está estacionado no passeio, num local onde o estacionamento no passeio não esteja explicitamente autorizado pela sinalização, numa passadeira p ou num local de passagem de peo ões, quando a passagem não está õ sinalizada. sin O autocolante deve ser colocado no vidro lateral da viatura e, nunca no ffrontal, porque os restos do papel podem dificultar a visão do condupod caso o autocolante não seja devitor, c damente retirado. dam Dada Da a procura pelos autocolantes, a primeira versão está a esgotar, pelo pri que a direcção do blogue, que conta com cerca de vinte pessoas a colaborar activamente nesta iniciativa, está a ac preparar uma segunda versão. prep


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10 ABERTURA | ROTEIRO DO MAU ESTACIONAMENTO Se durante anos era difícil estacionar em Leiria, com a construção do novo estádio municipal, a cidade ganhou cerca de dois mil lugares de estacionamento. Mas porquê estacionar num parque devidamente sinalizado, se o carro pode já ficar virado para casa, em plena Estrada Nacional 109. A situação é frequente, ao fim de semana, enquanto decorre a Feira de Maio. Dezenas de pessoas invadem as bermas e atravessam a estrada, com pouca precaução.

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O estacionamento pode ser selvagem

A Todos os espaços

A O acesso à EN109

A A afluência nos horá-

verdes, acessos, passeios e bermas foram aproveitados pelos visitantes da Feira de Maio, no domingo passado. O trânsito ficou congestionado na Rotunda da Almoinha Grande.

parecia, à primeira vista, complicado. Na verdade, tratava-se de uma fila de carros estacionados, na berma da estrada. Domingo, o programa de festas terminava no recinto da Feira de Maio.

rios de saída da Escola Secundária Domingos Sequeira tornam o Largo Dr. Serafim Lopes Vieira caótico. A solução encontrada foi subir o passeio e deixar o carro à sombra.

A

O único espaço livre é o que permite às viaturas contornar o edifício por trás do “Pão Quente”, bem no centro da cidade. Os carros invadem os passeios dos dois lados e deixam a estrada para os peões.

Eu levava-o comigo mas não passa na porta...

Lá no alto... ali... está um sinal... Vê?

Há quem lhe chame comodismo, outros entendem que é indiferença. Ou quem sabe excesso de zelo pelo veículo que os transporta todos os dias de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Se pudessem muitos dos proprietários levavam o carro para aquele lugar que está vago na secretária do lado. Apesar do mau exemplo, esta moda tem poucos adeptos na região de Leiria.

É bastante clara a finalidade da sinalização vertical nos exemplos que aqui apresentamos: É proibido parar ou estacionar nestas zonas, mesmo que seja para as tradicionais cargas e descargas. Contudo, ninguém parece ligar muito a isso e a sinalética, ao contrário de outros casos, até está bem visível.

A O desnível existente

A Junto ao Jardim-

no passeio foi mal interpretado. Este serve para facilitar o acesso à rampa e posteriormente ao interior do edifício e não para permitir aos carros um lugar de estacionamento privilegiado.

escola João de Deus, na Avenida Nossa Senhora de Fátima, os carros acumulam-se em cima do passeio. No horário de entrada e saída da escola, a confusão rodoviária instala-se.

A Se há local onde não

A O proprietário não

A O episódio é curioso.

A Para cargas, descar-

estava presente e não foi possível esclarecer o que estava a fazer no largo Infantaria 7. O veículo está a travar a entrada da garagem, em cima de um passeio e ao lado de uma paragem de autocarro.

Todas as semanas, este carro está parado pelo menos uma hora, na Rua Mouzinho Albuquerque. Um mau estacionamento que tem horário certo

gas ou compras, a zona interdita a paragem e estacionamento na Avenida Heróis de Angola está diariamente ocupada com uma ou duas filas de carros, aos olhos de toda a gente.

se deve cometer uma infracção ao Código da Estrada, deve ser na Avenida Ernesto Korrodi, entre o Quartel da GNR e a Esquadra da PSP. Todavia, a localização não intimida os condutores

A

Este é um bom exemplo do que não deve ser feito na Rua Miguel Franco Agostinho. A sinalização horizontal e vertical está bem visível.

A

O sinal alerta para a entrada e saída de camiões, pelo que a paragem e estacionamento de viaturas é proibida, junto à Rotunda das Indústrias. A mensagem passou despercebida.


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Vou ali e volto já. É um minuto... É a principal justificação para os carros que ficam estacionados em segunda fila. Na maioria dos casos, a espera é superior a uma hora.

Pequenos, cabemos em qualquer lugar De quatro ou duas rodas, são pequeninos e cabem em qualquer buraco. Mas estorvam, sobretudo quando resolvem ficar em cima do passeio, naquele espaço próprio para os peões.

A Não está à venda mas

A Todos querem ir à

tem a contribuição do sinal de trânsito para lhe dar um destaque talvez nunca conseguido. Numa zona de obras, em plena Avenida D. João III, nada parece incomodar o “piqueno”.

Feira de Maio e o domingo é o dia preferido para quem trabalha durante a semana. Todavia, apesar de o passeio da Avenida 22 de Maio ser largo, há que respeitar o Código da Estrada.

A

Quem lidera esta fila de carros é um dos exemplares mais pequenos das quatro rodas. Na Rua Dr. Manuel Magalhães Pessoa, na segunda-feira de manhã, é tão frequente um carro em cima do passeio como um parqueado.

A

São vários os lugares de parqueamento grátis existentes na Rua de S. Francisco. O pior é esperar que o automobilista chegue para podermos tirar o carro. A situação é uma constante naquela rua.

A

Na Nova Leiria, a área é residencial e muitos são os habitantes que encontram sérias dificuldades para estacionar correctamente. Quando os espaços escasseiam, resta a segunda fila como alternativa.

Passadeira? Qual passadeira? Aprendi em criança: “Olho para um lado e olho para o outro e depois...”, Ops!, tenho um carro à minha frente. A gincana começa e os peões fazem manobras incríveis para chegar ao outro lado.

A É tão fácil. Basta

A Pode ter sido uma

estacionar, sair do carro e temos a passadeira mesmo ali ao lado. Os dedos eram poucos para contar os veículos assim estacionados, no último domingo, na Avenida 22 de Maio.

emergência mas ninguém vai saber, à excepção do dono do carro que o deixou em cima da passadeira, na segunda-feira de manhã, em frente ao Centro de Saúde Dr. Gorjão Henriques.

A

Está a andar? Não. O veículo que vê na imagem está estacionado no meio da via, sem ninguém lá dentro. Damos, no entanto, uma nota positiva ao condutor por não ter parado um metro mais à frente, na passadeira.

A rua está cada vez mais apertada... A Numa das mais movimentadas avenidas de Leiria - Heróis de Angola - a presença de carros em segunda fila é uma realidade. Os consumidores não demoram e no máximo em meia hora dão lugar a outro veículo.

A Com organização e bem alinhados, conseguem estacionar junto ao Largo Alexandre Herculano mais de sete veículos. A dificuldade impõe-se na hora de saída.

Imagine o cenário: centro histórico de Leiria e um residente sente-se mal. Tem que ser transportado ao hospital. Como? A Os pilaretes servem Experimente os precisamente para impedir o estacionamento meios aéreos. Em abusivo em zonas de circulação, como terra o trânsito está difícil é o caso, junto da Sé de Leiria. Trinta metros à condicionado. frente existe um parque.

A Juntinhos para econo- A A rua não tem saída. mizar lugares. De qualquer forma, o REGIÃO DE LEIRIA pergunta: e se o carro do meio quiser sair? Saí para a frente ou para trás? Já agora, uma cadeira de rodas passa?

Agora, imagine uma idosa com sacos de compras ou apoiada em canadianas. Será que consegue aceder à Rua António da Costa? Talvez não...


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“Não há desculpa para estacionamento abusivo” A entrada para a Praça Rodrigues Lobo, em Leiria, é o ponto crítico de estacionamento abusivo na cidade de Leiria. Quem o diz é Fernando Carvalho, vereador do pelouro dos Transportes e comunicações, na Câmara Municipal de Leiria. “Pela nobreza do espaço e por ser uma área reservada a cargas Fernando e descargas, a entrada para a Pra- carvalho ça Rodrigues Lobo devia estar sempre sem carros. A autarquia ainda não está a conseguir obter resultados ali”, afirma o responsável. Na origem do comportamento dos cidadãos estão, segundo Fernando Carvalho, razões educacionais e culturais. “As pessoas ou estão preparadas e cumpridoras das normas existentes, ou então, têm que se criar formas de limitar o estacionamento abusivo”, diz. A colocação de floreiras ou pilaretes, sobretudo na zona central de Leiria, são as principais medidas que a autarquia tem procurado implementar para evitar carros indevidamente estacionados. “Na zona do Rossio não estava prevista a existência de floreiras ou pilaretes mas tivemos que os colocar porque as pessoas invadiram o espaço”, refere. Questionado sobre os lugares vazios nos parques pagos de Leiria, o vereador recorda que foram feitos grandes investimentos e como alternativa existem as zonas de estacionamento no Estádio e no Mercado Municipal. “Há alguns anos atrás, a desculpa era que não existiam parques de estacionamento. Agora, há parques para todo o tipo de procura. Não há qualquer desculpa para o estacionamento abusivo que ocorre em Leiria”, garante.

A

Mil condutores autuados por mês “Era só um minuto…”. A justificação é das mais utilizadas pelos condutores da região quando confrontados com um papelinho no visor ou um agente da PSP junto da viatura. São sobretudo as paragens de autocarros, passadeiras, passeios e lugares destinados a pessoas com deficiência os locais mais usados por condutores apressados ou, quiçá, distraídos. A verdade é que todos os meses, perto de mil automobilistas são autuados pelo Comando Distrital da PSP de Leiria e 50 viaturas são rebocadas. Todavia, fonte do Comando esclarece: “Nesta matéria não actuamos para atingir médias, mas para resolver os problemas da mobilidade das pessoas”. Na área de abrangência da GNR de Leiria (Leiria, Batalha, Marinha Grande e Porto de Mós), a paragem em segunda fila ou no passeio, de apenas cinco minutos, para ir levar o filho à escola é a principal justificação que os militares da GNR recebem. Fonte da GNR explica que na origem deste comportamento está o “comodismo” e preferem aguardar pelo regresso do condutor antes de utilizar os conhecidos bloqueadores de rodas. “Raramente os usamos. O nosso objectivo é retirar o carro e desimpedir o caminho e não bloqueá-lo mais ainda”, diz a mesma fonte. Só no primeiro trimestre deste ano, foram levantados 92 autos de estacionamento indevido. Já a PSP utiliza bloqueadores de rodas, sempre que se verifique uma “situação de grave perigo ou impedimento para a circulação”, procedendo-se à remoção dos veículos.

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À sombra está fresquinho! Quase todos os carros já vêm equipados com sistemas de arrefecimento. Mesmo assim, ainda há quem prefira o ar fresco natural, conseguido debaixo de uma árvore, que por acaso, está em cima do passeio

A São raros e têm que

A Mesmo à medida. Não é preciso nem mais um

ser bem aproveitados os poucos lugares à sombra existentes na cidade de Leiria. O passeio até à Feira de Maio pode ser debaixo de sol intenso, mas há que pensar na viagem de regresso.

bocadinho e o carro fica arrumado, na Nova Leiria, na perfeição. O automobilista só tem que ter cuidado ao sair do carro para não bater com a porta na árvore.

A Uns aproveitam o sol para produzir energia eléctrica, outros escolhem a sombra da Estrada dos Marinheiros.

Peões na estrada, carros no passeio Podia ser uma sequela do filme americano, mas o stress urbano origina exemplos como os que apresentamos. Galgam-se O carro ficou durante A A uma semana da passeios para con- A todo o domingo estacioFeira de Maio terminar, a nado em cima do passeio em conhecer seguir um lugar tão da Rua D. José Alves Cor- ansiedade as atracções deste ano, reia da Silva. Quem por levou o automobilista a próximo quanto ali passou a pé, teve que subir o passeio e deixar entrar na estrada, contorde fora uma das rodas. possível do destino nar a viatura e regressar Vantagens de ter um ao passeio mais à frente “suv”. pretendido.

A

Entre subir um passeio e provocar danos materiais no veículo, limitando o espaço para os peões, e estacionar num parque a pagar, o desafio é irresistivel para muitos condutores, que escolhem a primeira opção.

O que é nacional, é bom! O REGIÃO DE LEIRIA foi até aos concelhos da Batalha, Pombal e Marinha Grande conhecer o comportamento dos condutores. A tradição mantémse: o passeio perde terreno para os veículos de quatro rodas.

A A requalificação do

A Na passada segunda-

Largo onde decorrem as tradicionais tasquinhas da Batalha é recente e, de tal forma atractiva, que o condutor não resistiu e parou lá no meio, indiferente a tudo o resto.

feira, o Parque da Cerca, na Marinha Grande, tinha alguns lugares vazios. O facto não mereceu a atenção do automobilista que preferiu ficar por ali, a dificultar a passagem.

A

Se um ligeiro incomoda muita gente, um pesado de mercadorias incomoda muito mais. A passagem até ao parquímetro, no Largo do Cardal, em Pombal, é feita, obrigatoriamente, pela estrada.


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