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“Não é o aluno que tem que se adaptar à escola, mas a escola ao aluno”
O processo de ensino e o desenvolvimento da qualidade de vida para indivíduos com autismo é uma grande preocupação entre pais de crianças com o transtorno. Entender quais caminhos seguir e onde buscar informação torna-se fundamental
Ana Lorenzini* analorenzini@grupoahora.net.br *Estagiária. Texto sob supervisão de Felipe Neitzke
LAJEADO
Apreocupação com o desenvolvimento da qualidade de vida para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é comum entre os pais. Entidades de atendimento especializado atuam na conscientização sobre o autismo e cuidados com os indivíduos.
Para falar sobre o tema, a terapeuta ocupacional e gestora de saúde do TEAcolhe Encantado e Apae, Patrícia Elisa Funcke, e a pedagoga e diretora da escola Recanto de Encantado, Floraci Simone Baseggio, participaram, na última quinta-feira, 29, de “Nossos Filhos”, programa multiplataforma do Grupo A Hora.
Em atuação há 50 anos, a Apae Encantado conta com serviços de saúde, sociais e educacionais voltados a pessoas com o transtorno. Segundo Patrícia, a instituição, muitas vezes, é o único suporte das famílias e o número de pessoas que buscam o serviço aumenta cada vez mais.
Entre os serviços de saúde oferecidos, o TEAcolhe conta com 400 usuários, a clínica de reabilitação intelectual 150, e o centro de reabilitação física possui mais de 7 mil. Já na área da educação, a escola Recanto conta com 74 alunos e, na área da assistência social, outros 35 usuários.
Acesso à educação
Crianças com pequenos graus de autismo têm garantido por lei o direito ao acesso à educação numa rede de ensino comum. Porém, em muitos casos, esses indivíduos são mandados a instituições como a Apae.
“Isso nos faz perceber o quão deficiente o sistema de educação é. Muitas vezes a escola não está preparada para ter esse aluno inserido no ambiente”, pontua Floreci. Para a pedagoga, falta engajamento dos profissionais com este assunto.
Patrícia acrescenta que, como educadores, é preciso estar em constante aprendizado sobre a questão. Ela ressalta que a ten-
Cuidado nunca é demais. Entender a situação da criança passa por um processo empático do profissional e da família” dência é que o número de crianças com diagnóstico de autismo aumente. “Entrei na apae há dez anos, e ainda vejo locais com o mesmo discurso de que não estão preparados para receber indivíduos com o TEA”, aponta.
Por outro lado, espaços especializados, como a escola Recanto, possuem uma metodologia de ensino com planejamento individualizado. Floreci detalha que esses locais funcionam com a mesma legislação que outras instituições, com o diferencial da quantidade de alunos e a pessoalização do atendimento.
Nessas instituições, a entrada de alunos vem pela Apae e os professores passam por capacitações constantes. A pedagoga aponta que os profissionais são especializados em entender a dificuldade do aluno e trabalhar em cima destas a partir de rotinas.
Para ambas as especialistas, no momento, a grande necessidade destes ambientes de ensino é o auxílio social e público com verba. “Precisamos de mais profissionais para atender as crianças, mas para isso acontecer, estamos em busca de auxílio financeiro”, ressaltam.
Capacitação
Gestora de saúde do TEAcolhe Encantado, Patrícia explica que a organização atua no reconhecimento da realidade e fragilidades dos municípios. Com essa ação, conseguem auxiliar com estratégias para a resolução destas questões.
Com uma equipe de seis profissionais, entre terapeutas ocupacionais e psicopedagogas, promovem a educação continuada e levam conhecimento pela região.
“No momento não conseguimos atender a todos os municípios, mas buscamos promover eventos de acesso geral”, acrescenta.
O Seminário Integrado de Formação, que acontece de 17 a 20 de julho, é um dos exemplos de ação. Patrícia comenta que a troca de ideias entre profissionais facili- ta, principalmente, o diagnóstico precoce. Para ela, quanto antes o início dos estímulos de tratamento aos pequenos, melhor é o desenvolvimento.
A profissional ressalta que o seminário é o ambiente ideal para que os professores compartilhem suas dúvidas. Ela frisa que a área do cuidado com esses indivíduos precisa de cuidado e enfoque especial.
“Educação Infantil é onde tudo acontece. Como os professores estão, na maior parte do tempo, em contato com as crianças, é importante que eles saibam lidar com a criança e com a família”, complementa Floreci.
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Ambas as profissionais ressaltam, ainda, a necessidade do cuidado com a busca de informações. “As famílias se desesperam quando veem no google o que é o Transtorno do Espectro Autista. Por isso, procurar ajuda especializada nisso é sempre a melhor escolha”, finalizam.
Saiba mais
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância.
Pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação ou interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Todos os pacientes com autismo partilham estas dificuldades, mas cada um deles será afetado em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares.