SETEMBRO | 2016
Circulação mensal GIOVANE WEBER
Especial do jornal A Hora
Confiança retomada Depois do período com queda nas vendas, agora a estabilidade de preço das commodities, a definição política e as projeções de um La Niña moderado trazem otimismo ao setor de máquinas agrícolas e equipamentos. Saldo positivo dos negócios na Expointer indica um cenário mais promissor.
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Planejamento é decisivo
mundo está em constante transformação. A velocidade com que tudo muda obriga todos os segmentos da cadeia produtiva a serem cada vez mais eficientes. É preciso tomar as decisões certas na hora exata. E na agricultura moderna não é diferente. Com planejamento, os pequenos detalhes que às vezes passam desapercebidos se tornam decisivos para o sucesso da atividade. Na hora de comprar uma máquina ou equipamento, não é diferente. Apesar da retração econômica, no agronegócio o cenário é positivo tendo em vista o preço estável das commodities, previsão de clima favorável, definição do cenário político e a estimativa de uma boa safra de grãos. Isso anima tanto a indústria como o produtor. Existe a necessidade latente de renovação da frota. No Brasil, 41% dos tratores têm mais de 20 anos. Em colheitadeiras, esse número sobe para 48%. No entanto, é preciso tomar cuidado com a compra feita por impulso. Com crédito mais restrito, menor prazo de pagamento e juros mais elevados, é fundamental calcular na ponta do lápis o retorno financeiro e as condições de honrar a dívida contraída. Uma das estratégias da indústria de maquinários para amenizar os riscos aos produtores é a possibilidade de receber parte do valor em soja na próxima colheita, sistema conhecido no país como barter.
Planejar é uma arte e deve sempre estar em aprimoramento. Muitas vezes o dinheiro foi aplicado em coisas que nada vão somar ao seu negócio e o produtor acaba tendo um prejuízo enorme. Antes de aderir ao modelo, cada agricultor deve fazer a conversão do preço dos insumos ou máquinas para sua moeda, que é o grão. E quando se calculam os desembolsos e os prazos de vencimento, é necessário planejar as entradas de recursos para que o fluxo de pagamentos fique equilibrado com as receitas, evitando que se pague juros ou se acumule dívidas. Com um bom planejamento, o produtor terá garantias de sucesso na sua atividade e será um dos sobreviventes neste universo tão competitivo e que nos obriga a ser os melhores para permanecer na na atividade. Antes de fechar um negócio, é primordial analisar todas as variáveis do mercado: impostos, juros, fornecedores, linhas de financiamento, preço das commodities, safra mundial, receita e despesa, entre outras. Quem planeja com antecedência e faz isso bem consegue racionalizar custos e obter maior produtividade. Portanto, antes de investir, é indispensável analisar se o investimento é necessário e quais suas vantagens. Um bom negócio significa um bom lucro. Boa leitura!
Índice
Editorial
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Frutas nativas conquistam espaço
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Entrevista com Paulo Brack, biólogo e mestre em Botânica
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Produtores apostam no cultivo da pitaya
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Máquinas e implementos agrícolas – Hora da retomada
Agroindústrias – Inovação e qualidade abrem mercado
Tenho dito A seguir, a opinião sintetizada sobre este caderno dos integrantes do grupo de discussão, que participam a cada mês da elaboração das principais pautas e temas abordados. Qualqu investimento deve ser precedido de criteriosas avaliações. Analisar a Qualquer real necessidade. No caso de investimentos que impactam na propriedade, a atenção redobra, iniciando pela atenção às variáveis como os fatores meteorológicos e cambiais, mercado em relação ao consumo e competitividade de produção global. Esse contexto interfere tanto na avaliação referente à viabilidade do investimento quanto no poder de sua liquidação. A mecanização que conforte as tarefas na atividade é sempre uma aposta favorável, mas todo investimento precisa, obrigatoriamente, se pagar e gerar superávit para ser viável. Lauro Baum – Diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado
As máquinas agrícolas são importantes para a otimização da mão de obra, ra, diminuição da penosidade e potencialização das atividades agropecuárias na propriedade rural. Ao adquirirá-las, avaliações da real necessidade e que a mesma agrega renda o suficiente para pagá-la, devem ser mensuradas. Comprar uma máquina e ter que diminuir a renda familiar pelo pagamento das prestações tem que ser considerado. O produtor deve avaliar se contratar serviço de terceiros não é mais em conta. Marcelo Antônio Araldo Brandoli oli Engenheiro agrônomo e gerente regional da Emater de Lajeado
Ante Antes de adquirir uma máquina ou um equipamento, devemos analisar a real ne necessidade da aquisição. Analisar o tempo de uso por ano, tamanho da lavoura e quem vai operar. A propriedade comporta o investimento? E se o serviço for terceirizado? É preciso colocar na pauta as vantagens e desvantagens de cada alternativa. Fazer a compra de uma máquina é um alto investimento, no entanto, tendo o maquinário próprio podemos planejar o serviço, por exemplo, o dia da colheita. Se optarmos por um serviço terceirizado, o custo será bem menor, mas corremos o risco de não ter o auxílio na hora certa. Tendo a máquina, temos a possibilidade de prestar o serviço a terceiros, ter mais uma fonte de renda e com isso pagar as prestações da compra. Se optarmos pela aquisição, devemos considerar também a assistência técnica fornecida pela empresa vendedora, no que se refere à qualidade, disponibilidade e custos do serviço. Enfim, antes de comprar, temos que analisar a necessidade. Gilberto Moacir da Silva – Médico-veterinário
Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS
DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss
COORDENAÇÃO Giovane Weber
Diretor-geral: Adair Weiss Diretor de Conteúdo: Fernando Weiss Diretor de Operações: Fabricio Almeida
PRODUÇÃO Giovane Weber
ARTE Gianini Oliveira e Fábio Costa
Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)
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Depois de um período de descaso com as frutas nativas produzidas no RS, pesquisas recentes, associadas às feiras de produtos agroecológicos, mostram a importância desses produtos e as possibilidades de transformar o cultivo em atividade rentável.
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Frutas nativas conquistam espaço
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aproveitamento de frutas nativas pode representar uma nova fonte de lucro ao produtor. No entanto, além da escassez de matéria-prima, outro desafio é conquistar o paladar do consumidor. Sem garantir espaço na mesa, a safra pode estar fadada a um nicho de mercado restrito, rentável, mas limitado. Mirian Costa, de São Lourenço do Sul, montou uma agroindústria de sucos orgânicos em 2000. Apostou em um nicho pouco explorado, o beneficiamento de frutas nativas – araça, ananás silvestre, amora e butiá. “Oferecemos os tradicionais (uva e pêssego), mais é o diferente que desperta curiosidade do cliente e incrementa o nosso lucro.” Por ano, são envazados 11 mil litros, cujo preço médio da garrafa de um litro alcança R$ 12. Entre os desafios, cita a necessidade de popularizar o consumo, dificuldade em conseguir regulamentar os produtos e a exploração das frutas, além da necessidade de montar campanhas para destacar os benefícios à saúde e conscientizar os produtores a manter ou até mesmo incentivar a expansão da área, como é o caso dos butiazais. Por ciclo, vende três mil litros de suco da fruta. A matéria-prima é colhida na propriedade e comprada de outros produtores, ao preço de R$ 2,50 o quilo. O butiá, por exemplo, é rico em fibras, tem mais potássio do que a banana e 100 gramas da polpa suprem a necessidade diária de vitamina A de um adulto. Em todo estado, a área de butiazais está em decadência. Em Tapes, está localizada a maior área da América do Sul, em torno de três mil hectares. Conforme o engenheiro agrôno-
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Mirian vende cerca de 3 mil litros de suco de butiá por ano. Dificuldade é aumentar a oferta de matéria-prima
mo, Antonio Carlos Paganelli, a planta já foi fundamental para fornecer matéria-prima para grandes empresas, e a crina vegetal retirada das palmeiras era usada para forro de colchões e sofás. Com a entrada da indústria petroquímica, houve redução do uso da matéria-prima. Como a maior parte está localizada em grandes latifúndios, a exploração das frutas é pouco expressiva. “Precisa de licença, um processo burocrático e demorado. Se existe a retirada e a venda, ela ocorre informalmente, sem registro.” Uma árvore leva em média oito anos para iniciar a produção. Cada pé rende de um a três cachos, cujo peso varia entre dez e 30 quilos. A safra inicia em novembro e se estende até março. Paganelli se diz preocupado com o baixo índice de regeneração dos butiazais. Na maioria das áreas, a
planta divide espaço com a criação de gado, que acabam consumindo as mudas após o brotamento. “O ideal é reduzir a quantidade de animais por área para favorecer o desenvolvimento de mais plantas por hectare. Se isolar o gado, as espécies nativas sufocam o butiá e ele morre.”
Procura aumenta O consumidor paga mais pelo produto orgânico, cultivado no espaço onde se preserva a natureza e se deixa de utilizar agrotóxicos Mirian Costa, agricultora
As atuais políticas mundiais pedem produtos mais ambientalmente associados à conservação da natureza. Com isso, aumenta a procura por frutas nativas como é o caso do butiá. De acordo com Rosa Lia Barbieri, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a expectativa é que em um futuro próximo o consumidor possa ter à disposição vários produtos obtidos a partir do butiá. “Para
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que isso aconteça, há uma base estabelecida por uma pesquisa da Embrapa, que fala sobre formas de manejo da cultura, como manter plantações e como conservar as populações naturais dessa planta nativa”, conclui. Segundo a engenheira agrônoma Mercedes Rivar, no Uruguai, há uma lei que impede o corte das palmeiras. "As plantas já são antigas, com 200 e até 300 anos. Lá existe um trabalho para a conservação do butiá", explica.
Para saber Frutas nativas: têm ocorrência de forma natural na região, sem interferência humana
Frutas exóticas: vêm de um local diferente de sua origem, como as laranjeiras e macieiras
Potencial explorado Em torno de dez famílias assentadas na região dos Campos de Cima do Serra passaram a estruturar cadeias produtivas com base no potencial de frutas nativas (pinhão, butiá, uvaia e jabuticaba). Sob orientação do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap), uma das três prestadoras de assistência técnica contratadas pelo Incra/RS, os agricultores transformam as frutas nativas em fontes de alimento e geração de renda. O projeto iniciou em 2009. No ano passado, o grupo comer-
cializou cinco toneladas, a maioria em feiras e exposições. “Antes o butiá era só para tratar porco”, lembra Gilberto Possamai, do assentamento Nova Esmeralda, em Pinhal da Serra. Conforme o técnico do Cetap, Alvir Longhi, “a ideia é construir cadeias produtivas de espécies negligenciadas pela grande indústria, mas com grande
potencial nutritivo e econômico. Pinhão, guabiroba, araçá, goiaba serrana e uvaia são produtos nobres, mas pouco conhecidos e acessíveis ao público. Em vez de substituir a mata por lavouras, os agricultores aprenderam que é possível produzir alimentos ao mesmo tempo em que recompõem as áreas de preservação permanente e da reserva exigida por lei.
Produção alternativa Um grupo de professores e alunas da Univates busca conscientizar os produtores da importância de manter e apostar nos cultivos de frutas nativas. Conforme a professora Miriam Helena Kronhardt, a maioria dos agricultores da região não acredita que esse tipo de atividade possa render lucros. Cita a necessidade de tornar o produto conhecido, por meio de exposições ou realização de cursos. Para ela, as espécies normalmente comercializadas são exóticas, consideradas mais produtivas pelos agricultores. As nativas são uma opção saudável e nutritiva, além de
contribuir para preservação da biodiversidade. E um ambiente equilibrado influencia positivamente na produtividade das propriedades, destaca. “A exploração sustentável promove o aumento do equilíbrio ambiental. Preserva-se a mata e ao mesmo tempo produzimos alimentos.” Segundo Miriam, o novo Código Florestal possibilita o manejo sustentável das áreas de reserva legal. “Essa mudança envolve governantes, consumidores e produtores. É fundamental investir na divulgação dessas novas alternativas nas propriedades.” Destaca a existência de espécies consideradas nobres e com potencial, no entanto, a indústria negligencia a sua compra e por isso são desconhecidas do consumidor. Como por exemplo, cita: cereja, guabiroba, mamãozinho do mato, amoras nativas, ananás, pitanga, guabiju, goiabinha serrana, araticum e diversos tipos de maracujás. “Ajudaria a diversificar e diminuir a monocultura. Faltam pesquisas e incentivos fiscais para aumentar a oferta e a comercialização.”
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Entrevista
“Precisamos mudar o hábito da população”
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egundo o biólogo, mestre em Botânica pela UFRGS e doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos, Paulo Brack, o principal problema não é a oferta de frutas. Existe demanda e o interesse do agricultor. O que dificulta é a legislação, principalmente relacionada ao enquadramento no Ministério da Agricultura. “Não há como classificar porque não existe nenhum espaço de enquadramento dessas frutas nativas, seja em suco, néctar ou polpa.” Além de mais apoio por parte dos governos, diz que é necessário uma mudança no hábito da população no momento de comprar frutas. “Esses produtos orgânicos precisam estar ligados a um olhar também do consumidor, da população que consome frutas nas cidades e no campo, para que as pessoas deem mais importância e procurem na feira esse tipo de produto.”
As frutas nativas do RS ainda estão restritas a cultivos em pequenas propriedades. Em Bento Gonçalves e Antônio Prado, existem plantios da goiaba serrana e araçá, por exemplo. Cita que as pesquisas para melhor aproveitar essas frutas estimulam o cultivo e o beneficiamento. Hoje mais de 95% das frutas nativas consumidas no RS são importadas de outros estados como é o caso da pitanga e jabuticaba. Apesar do potencial, o cultivo é praticado apenas em pequenas áreas. “Requer muito atenção, diferente das culturas tradicionais, como milho e soja, onde o trabalho é mecanizado.” Para o professor Brack, as frutas nativas abrem um horizonte de resgate da agrobiodiversidade, frente
ao modelo de monocultura que transformou o país no maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Existem cerca de três mil frutas nativas brasileiras que acontecem em ambientes naturais.”
Elas enriquecem os ecossistemas e também as áreas de produção
Como podemos mudar o hábito da população e incentivar o consumo? Brack – As mostras em eventos são importantes. E associar esses produtos a rotas turísticas é outro caminho. O trabalho de pesquisa dos componentes nutricionais que são muitos, no caso flavonoides, antioxidantes, e resgate do uso por comunidades e também a educação ambiental. Algumas cidades no Brasil utilizam-se de produtos das frutas nativas na merenda escolar.
A Hora – Entre os desafios que o senhor cita, está o da busca por um enquadramento das frutas nativas junto ao Mapa e a mudança na legislação. Como podemos conquistar isso e valorizar essas culturas hoje pouco exploradas comercialmente? Paulo Brack – A batalha é grande, mas cabe aos agricultores e as pessoas que trabalham nas suas agroindústrias com esses produtos pleitear no Mapa para que sejam enquadrados de forma simplificada os derivados de frutas nativas, como sucos, geleias, sorvetes, entre outros. Aqui no RS, a Cadeia das Frutas Nativas esteve neste caminho, mas reconhecemos que hoje o quadro politico não está favorável, até pelo fechamento do MDA, que estava mais sensível ao tema.
Existem quantas espécies no RS? Praticamos algum cultivo comercial? Brack – Encontramos referências bibliográficas para mais de 170 espécies com uso alimentício que ocorrem aqui. E outras 30 fomos descobrindo por experi-
mentação. Então temos no RS, pelo menos, 200 espécies de frutas comestíveis. Obviamente, um número limitado é produzido comercialmente, e em forma ainda bem esparsa. Poderíamos citar a jabuticaba, o fisalis, o butiá, a pitanga, o araçá, e fora daqui (Colômbia e Nova Zelândia), com enorme sucesso a goiabeira-serrana. Para o uso condimentar, ganhou destaque comercial extremo a aroeira-vermelha, ou pimenta-rosa, com preços acima de R$ 200 o quilograma. O pinhão também entra no rol das frutíferas, apesar de ser uma semente. Infelizmente, os cultivos comerciais estão restritos no Brasil, principalmente nos estados de São Paulo e Pernambuco. No Cerrado, na Região Centro Oeste, e isso ocorre aqui no RS, são em grande parte coletados de plantas que crescem nas matas e outros ecossistemas naturais. O senhor afirma que as frutas nativas abrem um horizonte de resgate da agrobiodiversidade e afirma que elas são uma forma de vencermos a monocultura, como fumo ou soja. Como isso seria possível? Brack – Alertamos para o fato de que as frutíferas nativas devem ser plantadas em policulturas orgânicas ou agroecológicas, senão, se tem que usar veneno, por exemplo, situação comum nas monoculturas, daí não tem sentido. E elas enriquecem os ecossistemas e também as áreas de produção, pois durante vários meses da primavera e verão haverá produção de frutas nativas. E o interessante é associarmos as espécies a cada região de ocorrência. Ou seja, a goiabeira-serrana é da Serra. A uvaia, a jabuticaba e o sete-capote são do Planalto e Alto Uruguai. A juçara é do Litoral e parte da encosta sul do Planalto, no caso de áreas que hoje o fumo tomou conta.
Considerações finais Brack – A fruticultura com nativas faz um resgate à agrobiodiversidade e mostra que a agroecologia é um ponto fundamental para fazermos frente a este modelo agrícola que transformou o Brasil no maior consumidor de agrotóxicos do mundo. As frutas nativas deveriam ter um espaço muito maior do que têm hoje.
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Fruta exótica se adapta muito bem em qualquer região e tem mercado no Brasil e no exterior. Produtores a apostar na cultura. Desafio é tornar a fruta conhecida e divulgar os benefícios para a saúde.
Produtores apostam no cultivo da pitaya DIVULGAÇÃO
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ma fruta saborosa, com riqueza nutricional e alta concentração de vitaminas do complexo B, começou a ser produzida no RS em 2015. A pitaya é originária das florestas tropicais do México e tem como maiores produtores Colômbia, Vietnã e Equador, que disputam a rentabilidade do comércio europeu. O produtor Jorge Volkweis iniciou o cultivo da fruta em pequenas propriedades da Lomba Grande, em Novo Hamburgo. Neste ano, a cultura foi divulgada na Expointer pela empresa Pitay Sul e pela Emater. Com adubação orgânica, cada muda pode gerar, em média, 30 frutas por ano. Nos primeiros seis meses após o cultivo, produz a média de dois frutos por pé. Com o passar dos anos, alcança até 200. “Temperatura e solo influenciam na produtividade”, diz Volkweis. A produção pode chegar a 3,8 mil mudas e cem mil frutas por hectare plantado. A rentabilidade e o mercado exportador, especialmente da Europa, estimulam a expansão da cultura. Derivados do fruto, como geleia e sorvete, já são produzidos por empresas gaúchas. A fruta que chama atenção pelo aspecto e beleza pode ser do tipo rosa ou branca e pesar até um quilo. Na propriedade de Volkweis, a polinização é feita de maneira manual à noite quando as flores se abrem. Após 40 dias, a planta frutifica. Além da venda in natura, o produtor projeta aproveitar a fruta na produção de sorvete, geleia 100% diet, cosméticos, cápsulas e corantes.
para isso pode enfrentar problemas para vender o produto.”
Saudável
Por hectare, produtividade alcança 11 toneladas. Desafio é popularizar o consumo
Tornar a fruta conhecida Para destacar os benefícios da fruta, são realizados estandes de degustação na rede Zaffari, para quem a pitaya é vendida. Após os clientes terem a oportunidade de experimentar a fruta, as vendas passaram de 40 quilos para mais de 170 por semana em cada unidade. O valor médio chega a R$ 27 por quilo. Quando era importada do México, saltava para R$ 59. Derli Bonine, assistente técnico em Fruticultura da Emater Regional de Lajeado, recomenda cautela na hora de investir no cultivo de frutas exóticas, pois muitas vezes não há garantia de sucesso. “Manejo, falta de tecnologia adequada, conhecimento e preço elevado ao cliente são empecilhos.” O custo para implantar um hectare varia. Não existem fornecedores de mudas no estado. Então, o recomendado é o produtor fazer a muda após adquirir os primeiros exempla-
res. Por hectare, com o cultivo realizado num espaçamento de 3x3 metros, a produtividade por planta chega a dez quilos – 11 toneladas por ha. Bonine orienta para cuidados no solo, pois a planta não suporta excesso de umidade e geada. Para tornar a fruta conhecida, aponta a necessidade de fazer campanhas e oferecer degustações nos pontos de venda. “Quem não dispor de capital
Previne diabetes e doenças cardiovasculares, além de inibir a vontade de comer doce. Tem um leve sabor adocicado, que lembra o do kiwi. Com ação termogênica e apenas 50 calorias em cada 100 g, é ótima aliada do emagrecimento. Fonte de tiramina, um aminoácido que ativa o hormônio glucagon, a pitaya é capaz de estimular o organismo a utilizar os estoques de glicose e de gordura e transformá-los em energia. Também é rica em vitamina C, cálcio, ferro, fósforo e potássio. A pitaya tem pele escamosa, com aparência semelhante à da alcachofra. Sob sua casca — que pode ser rosa ou amarela —, esconde-se uma polpa vistosa — branca ou avermelhada —, salpicada de pequenas sementinhas e rica em fibras, vitamina A e minerais como ferro, zinco, potássio e manganês. O sabor da fruta é doce, e a textura, gelatinosa.
Curiosidade
Temperatura e solo influenciam na produtividade Jorge Volkweis, produtor
A fruta é conhecida como a flor da noite, pois suas grandes flores brancas só florescem ao luar. Pitaia – termo indígena que significa “fruto de escamas” –, também conhecida como fruta-dragão. Dentre as frutas, é uma das que provocam maior duração da saciedade.
Após um período de retração nas vendas, com a redefinição política e melhora do cenário econômico, fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas estão mais confiantes. A esperança é depositada também na estabilidade de preço das commodities e nas projeções de um La Niña moderado – que deverá refletir bem menos no resultado da safra do que o El Niño do ano passado.
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Capitalizados, agricultores começam a renovar a frota e apostam em tecnologia para elevar a produtividade no próximo ciclo
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Hora da retomada
saldo positivo dos negócios na 39ª Expointer, realizada entre 27 de agosto e 4 de setembro, em Esteio, pode ser um indicativo da retomada da confiança da agropecuária. As boas perspectivas para a safra 2016/17 e a ocorrência do fenômeno La Niña de intensidade moderada a fraca, aliadas ao crescimento da renda do produtor e aos primeiros números positivos do ano no mercado, aumentam o otimismo de fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas. Conforme Paulo Beraldi, diretor comercial da Valtra, houve uma
retração de 8% na safra de grãos 2015/16 devido, especialmente, aos fatores meteorológicos. Para a safra 2016/17, está previsto um incremento de 16%. Com o aumento da produção, cresce o interesse do produtor na aquisição de máquinas, como tratores, colheitadeiras e plantadeiras. “O clima está ajudando e isso motiva o agricultor”, considera. Neste ano, a renda do agricultor aumentará 20%, principalmente pelo impacto da variação cambial. A receita na soja e no milho tende a crescer, respectivamente, 7% e 23%. O RS é o principal mercado
em colheitadeira para a Valtra. O cenário de 2016 fez com que o produtor ficasse reticente em fazer investimentos, mas a demanda é latente. A indústria oferece soluções agrícolas com diversas faixas de preço para apoiar os clientes a manter a produtividade e a rentabilidade dos negócios em alta, explica o gerente de vendas, Luiz Cambuhy. Líder do segmento de tratores no RS faz mais de cinco décadas, com 27% do mercado, a Massey Ferguson, prevendo o reaquecimento do setor para os pequenos e médios produtores, investiu no desenvolvimento de máquinas que
possam otimizar o trabalho desse segmento. O diretor comercial, Rodrigo Junqueira, vê a feira como marco da volta do crescimento do agronegócio no estado. Com o valor das commodities e taxa de câmbio favorável ao produtor, esperamos melhoras no mercado, projeta. “Fenômenos climáticos como o La Niña, que impactam diretamente a produção, se mostraram menos intensos que as previsões, ampliando a confiança e a possibilidade de safra cheia”, analisa.
Otimismo na indústria A mudança de “humor” nas concessionárias é motivada por três fatores: capitalização do produtor, definição política e clima favorável às lavouras para a safra de verão. Segundo o diretor comercial da Trator Peças Mário, representante da Case IH para o Vale do Taquari, Fábio Nietiedt, as vendas de tratores e plantadeiras aumentaram 50% em agosto em comparação com o
primeiro semestre. O pagamento à vista registra alta de 200% em relação ao ciclo anterior. “O produtor colheu e vendeu bem o grão. Guardou dinheiro para aproveitar os descontos devido à queda nas vendas.” Com os negócios em alta, já é registrada a falta de alguns modelos de tratores. Dependendo da potência, a entrega é programada apenas
para janeiro de 2017. Plantadeiras demoram até 60 dias para chegar da fábrica. “Muitas indústrias estão despreparadas para atender a demanda. Aliás, o produtor não deixa de investir em tecnologia, pois é fundamental para atingir bons resultados.” O reajuste no valor chega a 7% nos últimos 12 meses. Da mesma maneira, o vice-presidente da New Holland para a Amé-
rica Latina, Alessandro Maritano, prevê um cenário positivo, apesar de ainda registrar prejuízo. “Teremos uma retomada mais intensa em colheitadeiras, enquanto tratores devem ter leve queda, arriscou dizer. A New Holland aposta atingir o mesmo patamar de vendas verificadas em 2015. A Valtra e Massey Ferguson projetam queda geral de 10%.
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FELIPE NEITZKE
CAPA
Desconfiança motivou queda A instabilidade política e econômica vivida pelo país no primeiro semestre foi a principal causa da queda nas vendas, analisa o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Francisco Maturro. Para ele, a incerteza levou o agricultor a retrair investimentos, como renovar a frota. No entanto, acredita na volta da estabilidade político-financeira, com reflexos positivos para o setor. “A indústria está sofrendo, mas está em vias de recuperação. É uma organização sólida, equilibrada, que está fortalecida e máquina não fica velha só pelo uso, mas também pela evolução tecnológica”, aponta. Em agosto, foram comercializadas 4,5 mil máquinas agrícolas e rodoviárias. A alta em relação ao mesmo período do ano passado chega a 7,3% e 12,5% frente a julho. No acumulado do ano, ainda há queda de 22,1% nas vendas, com um total de 25,6 mil máquinas, entre janeiro e agosto. O presidente da Anfavea, Antonio Megale, espera o início de uma recuperação econômica. “O nível de confiança do consumidor e do investidor ainda está abalado devido à conjuntura econômica e política. Isso posterga novas compras.” No segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias, a entidade espera vender 38 mil unidades. Isso representa uma baixa de 15,5%. A estimativa para produção é de queda de 16,4%, com 46,2 mil unidades no fim do ano. E para as exportações uma retração de 18,6%, com 8,2 mil unidades.
Graff comprou um trator mais potente para trabalhar em áreas de difícil acesso. Juro acessível e prazo para quitar motivaram investimento
“Aproveitei o juro baixo” Nilso Graff, de Boqueirão do Leão, trocou o trator simples por um tracionado e de maior potência. Aproveitou os juros baixos do financiamento do Programa Mais Alimentos aliado ao desconto concedido pela revenda. O valor aplicado chega a R$ 80 mil. “Em dez anos pago apenas R$ 10 mil de juros. Se fosse comprar hoje, triplicaria o valor.” Nesta safra, cultiva 90 mil pés de tabaco e dois hectares de milho. O novo trator facilita o preparo da terra no terreno acidentado.
A necessidade do tracionado é justamente para as lavouras que não são planas, existem áreas de difícil acesso e somente com uma máquina mais potente para conseguir trabalhar. “O rendimento deste novo trator é bem maior em relação ao antigo, sem falar da economia de combustível que chega a 10%, dependendo do serviço”. A revenda onde comprou o trator fechou e todos os funcionários foram demitidos devido à crise.
Recuperação será rápida A retomada econômica da agropecuária brasileira deve ser rápida em 2017, acredita Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil. Segundo ele, a crise no setor foi ocasionada apenas pela perda de confiança, o que facilita a recuperação, especialmente nas vendas de máquinas agrícolas. Herrmann se embasa no bom momento do preço das commodities, aumento de área no cultivo de grãos em 5% e a previsão de clima favorável para a safra de verão. Entende que as medidas econômicas serão cruciais para o agronegócio. “Se o governo colocar prioridade dos investimentos no lugar certo,
Perdemos o entusiasmo de fazer as coisas. Se tivermos um cenário seguro, as coisas voltam a acontecer.” Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil
não teremos problemas. O único setor que dá retorno rápido é o agro, seis meses depois já dá resultado”, defende. O presidente crê na manutenção das linhas de financiamento e taxas de juros. O montante destinado para o Plano Safra 2016/17 é a “quantidade suficiente para dar início” aos custeios e depois, se necessário mais, é possível “calibrar.”
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Previsão de estabilidade
CAPA
Foco em produtividade Apesar de receoso, o produtor quer avançar, principalmente em produtividade e menor custo. Para isso, além do cuidado com o solo e a semente, não abre mão de investir em novas tecnologias. É o caso dos irmãos Edson e André Kirch, de Venâncio Aires. Em agosto, compraram uma colheitadeira, cujo investimento chegou a R$ 708 mil. “Buscamos uma máquina com alta performance, maior volume para debulha e separação, aliada a um baixo índice de perdas de grãos. Garantimos mais agilidade”, resume André. A área cultivada no município de Vale Verde, 420 hectares com soja, se manterá neste ciclo. “Vamos continuar a investir em tecnologia para garantir mais produtividade”, afirma
André. No último ciclo, a média colhida por hectare chegou a 60 sacas. A cotação alcançou R$ 81. Em torno de R$ 10 mil sacas ainda estão estocadas. João Ernani Schmitz, de Arroio do Meio, aplicará R$ 250 mil na compra de uma colheitadeira. Capitalizado após três boas safras, pagará 50% à vista. O restante será financiado. “Além do conforto, busco uma máquina para agilizar a colheita e reduzir as perdas durante o processo.” Também investiu R$ 180 mil na compra de dois tratores nos últimos cinco anos. Atribui o sucesso da lavoura à gestão e ao planejamento. Neste ciclo, cultiva 40 hectares de milho e 80 de soja. A meta é colher dez mil sacas de grão. Projeta uma movimentação de R$ 600 mil.
Compra após a safra
Hoje, 66% dos equipamentos agrícolas fabricados no país saem do RS. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), Cláudio Bier, o preço das commodities e a perspectiva de uma boa safra de grãos renovam o fôlego. A estimativa é de melhoria nas vendas, em consequência do aumento do potencial de compra dos agricultores. “Nossas indústrias produzem a pleno e vamos chegar ao fim do ano baixando bem aquele número negativo no qual entramos este ano. Nós estamos animados.” Bier salienta a importância de retomar o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Co-
lheitadeiras. “O maquinário trouxe mais produtividade para o campo. Em uma época de crise, o programa ajudou nossas indústrias. Os agricultores se modernizaram, aumentaram a produtividade. Deu muito certo, mas infelizmente há um ano e meio está completamente adormecido.” A percepção de melhora é compartilhada por Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Acredita que as vendas deste ano ficarão próximas às de 2015 — 42.737 unidades, queda de 30% sobre 2014. “Após a safra, os produtores devem voltar a comprar”, finaliza.
É preciso renovar a frota DIVULGAÇÃO
No Brasil, 41% dos tratores têm mais de 20 anos. Em colheitadeiras, o número sobe para 48%.
Tratores – 1.193.521 + de 20 anos – 41% até 10 anos – 40% 11 a 15 anos – 11% 16 a 20 anos – 9%
mos ter uma máquina com mais potência e agilidade. Aliás a tecnologia ajuda a trazer mais rentabilidade e reduz os custos”, argumenta Fernando. Para este ciclo, os investimentos se concentraram na recuperação do solo com aplicação de calcário e adubo orgânico. Além de 300 hectares de trigo, foram cultivados 75 hectares de milho e serão semeados 580 hectares de soja. A meta é colher 2,7 mil quilos de trigo, 8,5 mil quilos de milho e 3,6 mil quilos de soja por hectare.
Colheitadeiras –157.740 + de 20 anos – 48% até 10 anos – 32% 11 a 15 anos – 14% 16 a 20 anos – 7%
Fonte – Anfavea
Produção de máquinas agrícolas e rodoviárias 49,4 mil
57,6 mil
2012
2013
48,8 mil
2014
35,5 mil
2015
46,2 mil
2016*
* Projeção
Com a alta dos juros, a família Jung, de Santa Clara do Sul, deixou de investir na renovação da frota. “Nossa infraestrutura é boa, mas sempre falta algo. No entanto, com as condições de financiamento menos favoráveis, preferimos adiar novas aquisições.” Com a previsão meteorológica favorável, preços estáveis e a perspectiva de uma boa produtividade, os Jung planejam substituir a colheitadeira e comprar novas áreas de terras em 2017. “Pela área cultivada precisa-
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Agroindústrias apresentam novidades e buscam novos clientes para aumentar faturamento. De acordo com a Fetag, o estado tem 1,7 mil empreendimentos cadastrados no Programa Estadual de Agroindústria Familiar Selo Sabor Gaúcho e emprega 3,4 mil pessoas. Movimenta R$ 10 milhões por ano em feiras.
Inovação e qualidade abrem mercado
A
Expointer é um risco para qualquer dieta. Repleta de sabores e aromas, produtores inovam e aproveitam a feira para buscar mais clientes. Depois de 18 edições, o espaço destinado às agroindústrias ficou pequeno. A produtora Odete da Cás, de Farroupilha, participa desde a 1ª edição, em 1999. “Ficávamos em locais externos, sem espaço definido. Hoje reconhecem nossa importância.” De Crissiumal, participa a Saci Agroindustrial de Embutidos, criada há 18 anos. João Carlos Moerschberger tem o apoio do filho Leonardo e do sobrinho. “É um excelente ponto de vendas”, afirma Leonardo, graduado em Informática e pósgraduando em Marketing. Entre os produtos comercializados, os principais são o charque
GIOVANE WEBER
suíno e o salame tipo italiano, eleito pela 3ª vez seguida o melhor do RS.
Novatos buscam espaço
Inaugurada em março, a agroindústria Acedi, de Santa Clara do Sul, participou da exposição pela primeira vez. Conforme Angélica Mallmann, que divide o gerenciamento com o irmão Gustavo, as vendas surpreenderam. “Por ser um produto colonial, teve muita receptividade. Queremos voltar.” Angélica destaca a oportunidade do contato direto com o consumidor. “Explicar a origem e seu processo de beneficiamento faz ele comprar, ter certeza de um produto saudável.” Claudio, 53, e o filho Jonas Klahr, 22, de Lajeado, expuseram deri-
Angélica e Gustavo apresentaram ao público produtos feitos a base de cana de açucar
vados de cana-de-açúcar pelo 2º ano consecutivo. Por mês, comercializam cinco mil toneladas entre schmier colonial, melado batido, líquido, açúcar mascavo, puxa-puxa e amendoim caramelado. O
preço varia entre R$ 2,50 e R$ 10. Entre as dificuldades, destaca os custos com embalagens. “Um pote de 400g custa R$ 0,50. Necessitamos ter materiais mais sustentáveis.”
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Cerveja orgânica A novidade foi apresentada pela Cooperativa Vida Natural, de Picada Café. A garrafa da Stein Haus (300 e 500ml) custa de R$ 11 a R$ 15. A matéria-prima utilizada (cevada, trigo, aveia e centeio) é cultivada sem agrotóxicos. “É bem mais encorpada, forte e muito mais saborosa”, avisa Dionei Brum, estagiário da Coopernatural. Lançada em novembro de 2015, e estreante na feira, já é vendida nos principais supermercados que comercializam orgânicos em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. O sucesso da bebida é tão grande que em um pouco mais de meio ano a produção mensal saltou de 500 para 2,5 mil litros. Outro atrativo ao cliente foi a cerveja com gosto de café – também orgânico. A próxima meta da cervejaria é vender o chope em garrafa e lançar a Fruitbeer, uma cerveja à base de goiaba. Quem passou pela feira teve a oportunidade de conferir 25 estandes com produtos sem o uso de agrotóxicos – sucos, pães, mel, cachaças, hortaliças e geleias. Uma das opções de alimentos orgânicos foi o arroz trazido pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan). São quatro opções do grão e o pacote de um quilo custa entre R$ 3,50 e R$ 8. O jovem cooperado Alan Bosa conta que a produção orgânica começou faz 20 anos, quando os agricultores decidiram levar uma vida mais saudável. “No começo, utilizávamos agrotóxicos na produção, mas era muito ruim para nossa saúde.” Conforme registros do projeto Organics Brasil, em 2015, o índice foi de 25% e, este ano, deve passar de 30%. Já o RS lidera o ranking nacional de produção orgânica com mais de 1,5 mil produtores, seguido de São Paulo e Paraná.
Schmier de agrião GIOVANE WEBER
Aliete conseguiu vender os 50 quilos da schmier expostos na feira. Clientes aprovaram a novidade
Quem não conhece pode estranhar à primeira vista. O agrião, de sabor peculiar e presente nas saladas, agora tem uma nova utilidade, graças à Aliete Gabriel, de Monte Belo do Sul. Entre tantos estandes com geleias e schmiers, ela inovou. No primeiro dia de feira, vendeu seis potes (300g) ao preço de R$ 6 cada. Para a Expointer, foram produzidos 50 quilos. A receita foi elaborada com ajuda de uma nutricionista. “Cozinha as folhas, amassa e acrescenta açúcar. Apesar de diferente, é ótima, de sabor muito agradável”, garante sorridente. Além do agrião, outras compo-
tas e conservas são oferecidas, como nespera, pitanga, marmelo, acerola, guabiroba, cereja, jabuticaba, goiaba, e das tradicionais, figo, uva e pêssego. Toda matéria-prima é da propriedade, onde trabalha ao lado do marido e dos três filhos. A agroindústria foi criada faz 15 anos, depois que um temporal de granizo danificou o pomar de dois hectares de pêssego. “Beneficiamos as frutas e foi um sucesso. O que antes era desperdiçado hoje virou uma boa fonte de lucro.” Aliete oferece 35 variedades diferentes de geleias, compotas e schmiers. Mais de 90% é vendido em feiras por todo país.
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Geleia de erva-mate Quem pensa que erva-mate é só no chimarrão ou chá vai se surpreender. A cada nova edição da Expointer, uma novidade surge aplicando o ingrediente do chimarrão dos gaúchos. Neste ano uma das apostas é a geleia de erva-mate, lançada pela MZ Alimentos, de Encantado. Em outros anos, teve o sorvete do chá, que virou um sucesso. O agricultor Vitório Pedro Zanella conta que a receita foi desenvolvida pela filha, a engenheira química Marilete Zanella, usando como base uma pasta feita com chuchu. “No início, a gente tentou fazer a geleia de mate com pasta de maçã, mas o gosto da fruta predominava. Então trocamos pelo chuchu, por ser neutro”, revela. Mas o produto não é a única novidade que a agroindústria trouxe para a feira neste ano, os visitantes também podem provar uma geleia de hibisco e outra de tomate.
Selo de qualidade atesta procedência Agroindústrias com as questões fiscal, sanitária e ambiental em dia podem solicitar autorização para utilizar o selo Sabor Gaúcho nos produtos. A marca é sinônimo de produção oriunda da agricultura familiar, conforme explica o diretor do Departamento de Agricultura Familiar e Agroindústria da Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Dionatan Tavares. “O selo é uma marca que identifica os produtos com origem na agricultura familiar gaúcha, que participam do Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf). É um selo de identificação e certifica a qualidade. O empreendimento que o recebe teve todo um acompanhamento de assistência técnica que garante ao consumidor um produto de alta qualidade no balcão”, afirma. Criada faz dois anos, a Agroindústria Hornning, de Paverama, nasceu do espírito empreendedor de Anderson Avila, 25. O negócio começou despretensioso para evitar o desperdício de ovos da propriedade familiar. Ele resolveu investir em uma máquina e balança para produção de massas (espaguete, talharim, espinafre). Por semana, são vendidos 200 quilos. Além da mulher, recebe ajuda dos sogros e do pai. Há oito meses, conquistou
GIOVANE WEBER
Criada há dois anos, agroindústria vende até 200 cucas por semana
Com o Sabor Gaúcho as pessoas sentem mais segurança em comprar o produto Anderson Avila, empreendedor
o selo, diversificando a produção com pães, cucas e biscoitos. “Notei que com o Sabor Gaúcho as pessoas sentem mais segurança em comprar o produto, melhorando minhas vendas em 30 a 40%”, afirma. Em sua primeira participação na Expointer, a agroindústria Hornning preparou um biscoito amanteigado com cobertura de mousse de limão. “Vendemos por dia uma média de cem cucas, 30 a 40 pães e 50 pacotes de bolacha.”
Jovens e mulheres são destaque A cada edição, aumentam as vendas, os visitantes e também o número de mulheres e jovens no Pavilhão da Agricultura Familiar. Neste ano, eles chegam a 87%. Segundo o secretário-geral da Fetag, Pedrinho Signori, mulheres e jovens são o “carro-chefe” desse trabalho de agregar valor às pequenas propriedades, enquanto os maridos se voltam mais à lavoura. “Elas não param. Cuidam da família, dos afazeres domésticos, produzem e garan-
tem presença em diversas feiras ao longo do ano.” Para o secretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Tarcísio Minetto, a juventude traz para a agroindústria familiar uma produção inovadora. “Os jovens são mais ousados, mais curiosos, pagam para ver. Estão aqui com grandes e novos produtos.” Quanto à participação dos jovens, o que os mantêm no campo são políticas públicas
e subsídios, como o Programa Estadual de Agroindústria Familiar. “Querem estrutura, renda e acesso à tecnologia. Muito já foi feito, mas precisamos avançar e conectá-los ao conhecimento para implementar à sua realidade”, destacou Signori. Em 227 estandes, foi possível encontrar famílias de 131 municípios, sendo 17% estreantes. Desse montante, 94% participam do Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf) e
utilizam o Selo Sabor Gaúcho, 38% empregam matéria-prima vegetal e 35% animal em seus produtos, e 15% trabalham com produtos orgânicos. As vendas passaram de R$ 2 milhões. Entre as 441 mil propriedades rurais gaúchas, 378 mil pertencem à agroindústria familiar. Em torno de 70% dos produtos alimentares que estão na mesa da população são de origem agro-familiar, o que significa 27% do PIB do agronegócio.