AH - Agronotícias | 23 de julho de 2016

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Editorial

Além de um negócio, uma opção de vida O cooperativismo é uma forma inteligente e sustentável de empreender que se diferencia dos demais modelos por valorizar a participação dos associados, a gestão democrática e também por zelar pelo crescimento de toda a comunidade onde está inserido. Como afirma o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Marcio de Freitas, por esses motivos, o pensamento cooperativista ganha novos adeptos todos os dias e se apresenta como uma alternativa empresarial capaz de gerar renda e, ao mesmo tempo, contribuir para a construção de um Brasil mais justo e igualitário. É fácil falar bem de um sistema assim, cujo sucesso está evidenciado em números, principalmente no agronegócio. O segmento agrícola abrange um milhão de cooperados e gera 170 mil empregos, além de representar mais de 6% do PIB do agronegócio. De cada cem produtores brasileiros, 64 são associados de cooperativas agrícolas, que somam mais de 1,6 mil instituições (ligadas à OCB). No Vale do Taquari, são mais de 200 mil associados.

O grande diferencial do cooperativismo é que a riqueza é aplicada onde é produzida Hoje, 48% de toda a produção agropecuária do país passa de alguma forma por uma cooperativa, que também responde por 21% da capacidade estática de armazenagem de grãos do país, sendo responsável por 19,7% da assistência técnica. O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo representa o quinto maior conglomerado financeiro do Brasil. Registrou crescimento de 171% nos últimos dez anos. Está presente em 95% dos municípios, sendo que em 564 deles a cooperativa é a única forma de inclusão financeira na região. O ramo da saúde agrega mais de 265 mil cooperados e emprega mais de 90 mil pessoas. Em âmbito mundial, o Sistema Unimed é o maior sistema de cooperativismo médico e a Uniodonto é a maior cooperativa odontológica. No RS, são 358 municípios que recebem energia elétrica de uma cooperativa. São 63 mil quilômetros de extensão de rede elétrica que levam energia de qualidade e trazem segurança para o agricultor produzir e para a indústria beneficiar a matéria-prima. A cooperação desponta não apenas como um modelo de negócio, mas como uma opção de vida. O cooperativismo é um exemplo do Brasil que dá certo. Boa leitura!

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A ideia de Rochdale conquistou o mundo

primeira cooperativa do mundo foi fundada por 28 tecelões em um bairro de Manchester, Inglaterra, no dia 21 de dezembro de 1844. Durante um ano, cada participante contribuiu mensalmente com uma libra para a economia da instituição. O sistema implantado na época réune hoje mais de 4,5 bilhões de pessoas. “Tendo o homem como principal finalidade e não o lucro, os tecelões de Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo que os submetia a preços abusivos e do desemprego crescente advindo da Revolução Industrial”, descreve texto sobre a fundação da cooperativa no Wikipédia, cuja referência foi John K. Walton, autor do livro Co-operative movement, que está na obra The Oxford Companion to British History. A fundação da entidade buscava criar uma alternativa econômica e de trabalho, tendo em vista que na época a jornada de trabalho era de 16 horas diárias, até para mulheres e crianças. Em um ano, a Cooperativa de Consumo de Rochdale já tinha 74 sócios, e o capital tinha sido expandido para180 libras. Em 1847, a instituição passou a vender tecidos e alimentos. Três anos depois, comprou um moinho para reduzir o preço da farinha, arrendou um grande

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Padre Theodor Amstad armazém e abriu três filiais no mesmo bairro. No ano de 1855 já eram 400 sócios. Em uma década, o chamado “Armazém de Rochdale” era mantido por 1,4 mil cooperados. Assim, a primeira cooperativa do mundo passou a ser referência para outras iniciativas. Em 1881, na Inglaterra, já existiam mil cooperativas e 500 mil cooperados. O primeiro registro de cooperativismo no Brasil é de 1847, quando o médico francês Jean Mau-

rice Faivre e um grupo de franceses fundaram a colônia Tereza Cristina, nos Campos Gerais do Paraná. Mas os agricultores não se adaptaram ao sistema e abandonaram as terras. A chamada “cultura da cooperação” teve outras iniciativas com a colonização portuguesa. Quase foi interrompida durante a época da escravidão, mas emergiu no fim do século XIX com o Movimento Cooperativista Brasileiro a partir de iniciativas de funcionários públicos, militares, profissionais liberais e operários. A primeira cooperativa de consumo desse movimento que se tem conhecimento surgiu em Ouro Preto (MG), em 1889, chamada de Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. Mais tarde, se expandiu para Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e RS.

Pioneirismo no crédito O cooperativismo de crédito no RS surgiu em 1902 a partir da visão do padre suíço Theodor Amstad. Em 28 de dezembro daquele ano, na Linha Imperial, em Nova Petrópolis, ele e 19 moradores fundaram a Caixa de Economias e Empréstimos Amstad, modelo cooperativo que deu origem ao

Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS

DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss

COORDENAÇÃO Giovane Weber

Diretor Geral: Adair Weiss Diretor de Conteúdo: Fernando Weiss Diretor de Operações: Fabricio Almeida

PRODUÇÃO Giovane Weber

ARTE Fábio Costa e Gustavo C. da Silva

Sistema Sicredi, primeira cooperativa de crédito do Brasil e que existe até hoje. Quatro anos depois, começam a funcionar as cooperativas no meio rural a partir dos agricultores. O padre Amstad morreu em 1938. Ele coordenou a criação de 38 cooperativas no estado.

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)



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Aperto fiscal, desequilíbrio das contas públicas, aumento dos juros, desvalorização cambial, inflação acima da meta, endividamento, desemprego, recessão. Em uma conjuntura macroeconômica tão desfavorável, é difícil encontrar um segmento que desenhe projeções positivas para 2016. Seria possível driblar os problemas que abalam a economia do país e crescer em meio à crise? As cooperativas acreditam que sim.

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ESPECIAL

Expansão à prova de crise O momento é de instabilidade e pede cautela. Mas isso não significa que não seja uma boa hora para traçar planos de expansão – e até metas para duplicar o faturamento. O presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius, defende que da mesma forma que, em bons momentos, existem setores em crise, é possível prosperar em meio a uma situação adversa. Nesta década, a taxa média de crescimento supera 10% e alcançou um faturamento histórico em 2015 – R$ 36,1 bilhões – aumento de 15,75% em relação ao exercício anterior. A movimentação econômica é superior a de gigantes no setor alimentício, como BRF, que fechou 2014 com R$ 29 bilhões. A arrecadação de muitas cooperativas ultrapassa a dos municípios onde estão instaladas. Elas são responsáveis por 11% de toda riqueza produzida no estado. Em muitos municípios, são a empresa mais importante e a maior empregadora e geradora de receitas. “O grande diferencial do cooperativismo é que a riqueza é aplicada onde é produzida”, pontua Perius. No RS, em torno de 60% de tudo que é produzido de origem vegetal ou animal tem a participação de um sócio cooperativado. Mais da metade dos produtores é cooperativada. Na contramão de um cenário de austeridade e recessão econômica, o sistema cooperativista gaúcho continua atuando como um agente propulsor de desenvolvimento socioeconômico do estado. “Esse desempenho favorável só respalda o trabalho e o papel fundamental e insubstituível realizado pelas cooperativas, que geram desenvolvimento econômico e

O grande diferencial do cooperativismo é que a riqueza é aplicada onde é produzida Vergilio Perius, Presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS

DIVULGAÇÃO/DÁLIA ALIMENTOS CARINA MARQUES

social para o estado e beneficiam milhares de gaúchos, destaca Perius. Neste ano, o cooperativismo gaúcho investirá R$ 1,7 bilhão em setores fundamentais da economia, contemplando investimentos em agroindústrias, tecnologia da informação, assistência técnica, comunicação, melhoria nos processos operacionais, qualificação (formação, orientação e inclusão) e ampliação da capacidade física de armazéns, silos, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), habitações, transporte e novos hospitais.

Associados aumentam 94,6% O desenvolvimento do cooperativismo gaúcho se reflete no aumento dos seus ingressos, que nos últimos seis anos registrou uma expansão de 94,6%. Neste contexto de crescimento das cooperativas, destacam-se as atividades relacionadas aos ramos: agropecuário (11,6%), crédito (33,8%), saúde (18%), infraestrutura (8,2%) e transporte (35,5%). O setor de agronegócio cooperativista registrou faturamento de R$ 22,1 bilhões em 2015, representando aumento de 11,6% em relação ao ano anterior. O ramo de crédito faturou R$ 6,8 bilhões em 2015 – crescimento de 33,8% em relação a 2014. As cooperativas de crédito são responsáveis pela geração de R$ 805,5 milhões nas sobras antes das destinações, valor que indica uma expansão de


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21,8% em relação a 2014, o que representa 61,2% do total. O indicador reforça a eficiência econômica das cooperativas gaúchas, que registraram em 2015 um crescimento de 33% nas sobras apuradas, atingindo R$ 1,3 bilhão. Quanto ao patrimônio líquido, formado pelas cotas dos associados, resultados do exercício, fundos e reservas legais e estatutárias, o sistema cooperativista gaúcho alcançou R$ 10,7 bilhões – aumento de 12,95% entre 2014 e 2015. Em relação aos ativos, o setor registrou um acréscimo de 15,25% entre 2014 e 2015. Nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 103,9% no total desses ativos, que em 2015 atingiu R$ 54,5 bilhões. Na geração de tributos, as cooperativas alcançaram R$ 1,8 bilhão, uma expansão de 6,1% em relação a 2014. Os ramos saúde, infraestrutura e transporte também apresentaram destaque em 2015, com um faturamento de R$ 6,71 bilhões. O valor representa 18,5% do faturamento total das cooperativas gaúchas. Juntos, os três setores geram 13 mil empregos diretos e contam com 515,4 mil associados.

O segredo para crescer Perius é categórico: é preciso formar novos líderes e aprimorar sempre mais a gestão. Em uma sociedade cada vez mais complicada, com relações humanas complexas e um mundo informatizado, é necessário preparar os jovens, dar oportunidade, oferecer cursos e fazê-los participar do dia a dia da cooperativa, para que, no futuro, se tenha bons líderes tanto à frente da propriedade como das entidades, aponta. Cita o Programa Jovem Aprendiz do Campo, desenvolvido na Cooperativa Languiru, de Teutônia, e na Cotrijal, de Não-Me-Toque, em que 45 jovens participam durante 21 meses de aulas teóricas e práticas e se preparam para assumir a gerência dos negócios desenvolvidos pelos pais. Durante o estágio, trabalham com produtos e segmentos específicos nos quais a cooperativa atua. Parcerias desenvolvidas com a Alemanha, há seis anos, buscam aprimorar a gestão e o controle. “Condições climáticas, políticas, preços, tributos e crédito, em quase todo mundo são iguais. O diferencial está na forma de gerir. Por isso investimos muito para termos melhores gestores,”afirma Perius. Ele destaca os 11 cursos de pó- graduação em Cooperativismo em andamento só no RS, com mais de 300 alunos matriculados. “Preparamos cada vez mais gente para administrar gente. As pessoas precisam se entender. Esse é

o segredo, trabalhar com pessoas e não capital, qualificar a gestão.” Embora a crise econômica e política afete o setor com a elevação dos insumos e demais itens, para Vergilio, ele cresce quando são verificadas turbulências. “Não que precisemos da crise para crescer. O cooperativismo é diferente da sociedade de capital financeiro. Nós somos gente, sociedade de pessoas. Quando vem as dificuldades, nos unimos mais, discutimos mais, criamos ânimo e buscamos no coletivo formas de ir para frente. Os investimentos não param”, garante. Cita as crises de 1929 e 2009 para exemplificar que o cooperativismo mundial sempre cresceu em meio às dificuldades enfrentadas. O percentual de crescimento ficou acima do registrado em qualquer outro setor privado, afirma.


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Socializar o poder

Nós nos multiplicamos na cooperação. Não somos competidores – sozinhos somos fracos – a cooperativa em síntese é força dos fracos, já dizia o slogan criado por padre espanhol. Vergilio Perius, presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS

“Ninguém faz nada sozinho” De acordo com o embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para o cooperativismo mundial, Roberto Rodrigues, o setor agrega hoje, direta ou indiretamente, 4,5 bilhões de pessoas no mundo. “Não existe, em todo o planeta, movimento socioeconômico de defesa da democracia e da paz mais importante que o cooperativismo”, enfatiza. O ex-ministro da Agricultura (2002 e 2006) e atual coordenador de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) destaca a necessidade de uma estratégia integrada de políticas públicas voltada para fortalecer o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para o agrônomo Rodrigues, no país, existe uma plataforma diferenciada, com espaço territorial capaz de absorver, dentro dos paramentos ambientais, vários investimentos no agronegócio. Os principais gargalos do agro estão nas políticas de renda, incluída a logísti-

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Conforme Perius, o segredo do desenvolvimento do sistema está na forma de gerir e dividir o poder. “Nós socializamos o poder, é a nossa grande virtude. Quando se individualiza o poder, se individualiza o risco, o resultado. Os nossos sócios valem pelo que são e pelo que têm – um pouco mais ou outro menos, mas todos têm um voto”, destaca. Cita como desafio para o Brasil e o mundo a necessidade de aprender a socializar o poder político, dividindo-o por todos. Para o líder, o modelo adotado pelas cooperativas é um bom exemplo a ser copiado. “Criamos a divisão de lucros, formamos núcleos, comunidades de associados, promovemos assembleias, temos comitês de compra e venda, buscamos a participação efetiva e total onde todos definem onde e como investir o capital. Cada cooperativa é uma grande colmeia, cada um faz seu papel e funciona muito bem”, afirma. Para manter o crescimento, sugere maior integração, mais parcerias, negócios e fusões; mais políticas públicas e o fortalecimento das cooperativas de crédito, em que a meta é chegar a 20% de associados, número equivalente ao índice europeu. No RS, esse percentual chega a 12%, enquanto no país não passa de 6%.

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É uma grande ferramenta de desenvolvimento justo e igualitário, tanto na área rural quanto nas cidades. Eu acredito em cooperativas(...) onde ninguém faz nada sozinho, pelo contrário: os resultados vêm do trabalho coletivo. Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura

ca, e nas políticas comerciais. “Somente uma parceria público-privado pode fazer com que o agronegócio saia do buraco, que foi o modelo de concessão montada pela Dilma, onde o investidor não tem lucro. Então ninguém quer investir assim. Faltam regras. Com regras claras, poderemos buscar investimentos internacionais”, analisa. Quanto às políticas de renda, Rodrigues elege pontos como: modernização e flexibilizações do crédito rural, maior abrangência do seguro rural, políticas mais avançadas no preço de garantia, Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), montagem de uma rede de logística de escoamento, e progressão do mercado futuro. A respeito das políticas comerciais, aponta a necessidade da efetivação de acordos bilaterais entre Mercosul, União Europeia e o bloco econômico do Tratado Transpacífico (TPP), formado por Estados Unidos, Japão, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Peru, Malásia, México, Nova Zelândia, Cingapura e Vietnã; agregação de valor ao produto; e fortalecimento do Mercosul.

Agronegócio, a mola propulsora As cooperativas agropecuárias tiveram um faturamento 11,6% maior no ano passado em relação a 2014. Segundo o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, entre os motivos, estão os investimentos em assistência técnica para os produtores. “Por meio dela, aumentamos a produtividade e, aumentando ela, poderemos fazer com que o produtor tenha mais renda e resultado, e isso ajuda no aumento do consumo de alimentos. É o cooperativismo na manifestação do desen-

volvimento endógeno”, salienta. Pires salienta também os investimentos em infraestrutura, industrialização e modernização das cooperativas. Nos últimos três anos, só de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram investidos R$ 1,5 bilhão pelo sistema no RS. Em recursos próprios de cada cooperativa, foram, pelo menos, R$ 250 milhões. De acordo com o dirigente da FecoAgro/RS, uma das razões para a ampliação é o aumento na originação da soja em 16% na última safra,

que representa um total de 45% do que foi colhido no estado – sete milhões de toneladas. “Isso se deve também à credibilidade que as cooperativas têm junto ao produtor mesmo neste momento de incertezas", observa. Além da soja, as cooperativas também adquirem 45% do leite produzido no RS, com o processamento de 1,7 bilhão de litros de leite por ano. Entre outros números do ramo agropecuário gaúcho, o setor reúne 327,4 mil associados em 132 cooperativas e gera 33,3 mil empregos.



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ENTREVISTA

“O nosso capital é gente”

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ntusiasta do sistema de cooperativas e produtor no interior de São Paulo, Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), fala sobre desafios, oportunidades, necessidade de formar novos líderes e como enfrentar a crise por meio do modelo cooperativista. Agropecuarista e cooperativista faz mais de 20 anos, Freitas é natural de Patrocínio Paulista (SP). Cultiva café, mantém produção de olerícolas orgânicas e criação de gado. É graduado em Administração pela Universidade de Brasília (UnB).Ingressou no movimento cooperativista em 1994. Atuou como presidente na Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec) e

na Cooperativa de Crédito Rural (Credicocapec). Presidiu a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) entre 1997 e 2001. Desde 2001, coordena a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). A Hora – Como podemos formar novos líderes para o movimento cooperativista e para o Brasil? Márcio Lopes de Freitas – Acredito que esse conceito de liderança vem sendo ampliado. Há pessoas que nascem com mais aptidão, mas há casos em que as pessoas nos mostram que é possível aprender a ser líder. E a melhor maneira de se

preparar líderes é na escola, com educação e informação. Por isso, digo que é preciso criar essa base escolar, a fim de oferecer condições para que esses novos líderes se desenvolvam. Se eles não tiverem espaço, certamente ficarão inibidos sob um tampão de padrões sociais, de paradigmas que se estabelecem na sociedade. Talvez esse seja o maior desafio, pois muitas vezes a presença de um novo líder pode parecer uma ameaça para o antigo líder ou para a gestão anterior. E o segredo talvez esteja em deixar que a nova liderança não seja uma ameaça, mas uma evolução do processo, uma transição, pois essa é uma questão de renovação natural, como é tudo na natureza e na história da humanidade. Existe uma receita de sucesso? Freitas – O cooperativismo é uma questão de gente. Uma cooperativa é uma sociedade de pessoas, não de capital financeiro, muito menos de material. O nosso capital é gente! Então é muito difícil desenhar um modelo de sucesso que sirva para

todos os segmentos da economia cooperativa, especialmente se considerarmos as diferenças geográficas e culturais do nosso país. O que existe são questões que podemos elencar como pilares centrais do desenvolvimento, sem os quais nenhuma cooperativa se desenvolve. Antes do projeto econômico, da profissionalização, vem o viés social. As pessoas precisam estar unidas pela confiança. O segundo pilar é o da profissionalização. Cooperativa é um negócio e, como tal, tem de ter gestão profissionalizada, muita formação técnica, qualificação, projeto de viabilidade econômica. O terceiro e talvez o gerador do equilíbrio entre os aspectos social e técnico é a governança. A crise econômica que o país vive influenciou negativamente em algum aspecto as cooperativas? Freitas – Sem dúvida. Se os mercados encurtam, se o crédito fica difícil, se a taxa de juros sobe, todo mundo fica no prejuízo, começando pelos mercados. O consumidor está um pouco mais cauteloso.


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FLORA EGÉCIA

O cooperativismo planta as sementes para que, no futuro, possa colher frutos de um trabalho pautado na ética, transparência e atenção às pessoas”. Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras

Sem falar nos desempregados, que perdem a capacidade de compra. Isso afeta os mercados, a demanda, os juros sobem, gerando desconfiança de uma forma geral e cria uma temeridade entre as pessoas, que tendem a se retrair. Não dá para negar que isso acaba batendo na porta das cooperativas de maneira global. Entretanto, afeta de uma maneira um pouco menor do que a uma empresa mercantil do mesmo setor. Porque a cooperativa tem um nível de comprometimento muito maior com as pessoas. Então, isso faz com que, de uma forma muito sutil, a cooperativa mitigue efeitos nocivos da crise. Ela não pode, simplesmente porque vendeu menos, diminuir a produção, por exemplo. A razão? Simples. É porque o dono dela é o cooperado, aquele que produz e vive dessa produção. Diferente de uma empresa mercantil que basta tomar a decisão de produzir menos e faz os cortes. A cooperativa tem de achar mecanismos de colocar esse produto no mercado e viabilizar o negócio, se arriscando, às vezes, mas

sempre mantendo suas estruturas de mercado. Quais as principais barreiras enfrentadas? Freitas – O mercado hoje é global, não é territorial. As grandes barreiras hoje acabam sendo políticas por assim dizer, ou seja, as reservas que se faz. E o Brasil não atuou bem nisso, não foi um bom negociador de suas políticas comerciais globais. Principalmente nos últimos anos, o Brasil se preocupou muito com o relacionamento com países aqui da América Latina, do hemisfério sul, mas muito mais na esfera social do que comercial. O Brasil ficou um pouco preso, amarrado ao Mercosul, e perdeu um pouco a visão estratégica do mercado globalizado. Nós estamos atrasados do ponto de vista de relacionamento com o mercado e também das políticas públicas. Se o governo não se empenha, não há como conseguir isso individualmente, por maior que seja o esforço e a competência dos players. O Brasil ainda consegue ser pujante na exportação do agro graças à competitividade e competên-

cia do setor agropecuário. Por exemplo, nós vendemos muita soja porque é a mais barata. O mesmo ocorre com o frango, que é barato, porque o custo de produção é baixo. Então, se o governo brasileiro não melhorar sua relação comercial com os grandes compradores globais, poderemos ter dificuldades. Considerações finais Freitas – O Brasil precisa de gente que se preocupe com os seus semelhantes e o cooperativismo surge como um instrumento capaz de estimular o trabalho conjunto a fim de que, unidas, as pessoas realizem sonhos, mudem suas realidades e sejam mais felizes. Nós temos orgulho de ser cooperativistas, afinal, pertencemos a um movimento diferenciado, ético, responsável e sustentável. E é com ações pautadas no respeito às pessoas e ao meio ambiente que o cooperativismo se firmará como um dos caminhos mais promissores no sentido de conduzir o país ao futuro que tanto deseja ver: um Brasil mais justo, forte e feliz. Entrevista feita por e-mail


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Líderes enaltecem a cooperação

Presidente da Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo (Unimed VTRP), médico Aldo Pricladnitzki É crescente, no mundo todo, a expansão dos princípios cooperativistas. Atuante, estruturado e fundamental para a economia, o sistema tem por objetivo ser cada vez mais conhecido como um modelo integrado e forte. É isso que faz a diferença aqui. Além de impulsionar o crescimento econômico, fortalece o bem-estar social, com respeito às pessoas. Na Unimed, trabalhamos por uma medicina próxima, humana e de qualidade. Cuidar está no nosso DNA.

Gerente Regional da Emater/RSAscar, Marcelo Brandoli As cooperativas de produção agropecuária, crédito e eletrificação são fundamentais para o desenvolvimento rural sustentável da região. Geram renda, empregos e inclusão social, além de incrementarem o crescimento das cidades e do estado. O setor movimenta 11% do PIB e as cooperativas agrícolas somam 59% do PIB agropecuário. Incentivam a sucessão. Mantemos parceria para realizar eventos, exposições, fóruns tecnológicos, dias de campo, palestras e projetos de crédito. Presidente Agroindustrial São Jacó (Cooperagri) de Teutônia, Osmar Jacobs O sistema é um dos pilares da produção agrícola e pecuária, gerando milhares de empregos diretos e indiretos, projetos de educação continuada, Jovem Aprendiz, entre outros. Muitas famílias no interior e na cidade dependem diretamente das cooperativas para sua subsistência, seja na entrega da sua produção ou na compra de produtos com melhores condições.

Diretorexecutivo do Sicredi Ouro Branco RS – Teutônia, Neori Ernani Abel As cooperativas têm em sua essência o desenvolvimento das comunidades onde atuam. Municípios onde estão instaladas essas entidades apresentam um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) significativamente superior aos que não têm sede de cooperativa em sua região. Isso porque os resultados gerados pelos empreendimentos cooperativos ficam na região, o que faz girar a economia local, proporcionando ainda mais renda e qualidade de vida para as pessoas.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado, Lauro Baum O diferencial do progresso com certeza está alicerçado na forma associativa de trabalhar. As cooperativas têm um compromisso social diferente das empresas privadas, que em muitos casos nem se importam com quem está ligado a elas.

Presidente da Federação RS Uniodonto e vice-presidente da Uniodonto Vales do Taquari e Rio Pardo, Irno Pretto O cooperativismo nunca mais desaparece das comunidades por seus ensinamentos e vivências que transcendem o tempo. Podem até desaparecer o nome, mas ficam os ensinamentos, a cultura desenvolvida ao redor do conhecimento e do negócio que realiza. O associativismo, a solidariedade, a participação em eventos, o relacionamento social, o desenvolvimento regional passam pelas sociedades cooperativas e, o mais importante, são permanentes.

Presidente da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini Como definiu Roberto Rodrigues, o sistema funciona como uma ponte que liga o bem-estar social, traz melhores condições de vida à população, grupo ou segmento onde está inserido. Somos uma região respeitada pela organização das cadeias em que atuamos: saúde, energia, alimentos, transporte e demais. Nossos antepassados trouxerem esses conceitos e soubemos aproveitá-los bem para organizar a sociedade de forma social e economicamente viável.

Ex-presidente da Acsurs e médicoveterinário, Gilberto Moacir da Silva O agricultor participa de uma “Cooperativa de Produção”, que industrializa o produto e comercializa no mercado nacional e internacional. Para produzir com qualidade e produtividade, ele conta ainda com o apoio de uma “Cooperativa de Crédito” e uma “Cooperativa de Energia”. Essas diversidades presentes no Vale melhoram as condições socioeconômicas de todos os envolvidos.

Presidente da Cooperativa Certel, Erineo José Hennemann Somos empresas diferenciadas, pois, além de visarmos o resultado econômico positivo nas nossas atividades, zelamos pelo atendimento excelente e colocamos em primeiro lugar o benefício que será possibilitado ao associado, que é a razão da nossa existência. Ao seguir os princípios doutrinários, tornamos o sistema um modelo econômico muito mais humanizado, mais atento às reais necessidades do seu público.

Presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer A cultura do associativismo está evidenciada na região desde a época da colonização na construção de escolas, clubes, igrejas e centros comunitários. Hoje somos a motriz do desenvolvimento regional, tendo sua razão de existir no compromisso social com seus associados e comunidade onde atua.

Presidente da Sicredi Vale do Taquari RS, Adilson Carlos Metz O modelo impulsiona o desenvolvimento por meio da participação econômica e democrática da sociedade e gera crescimento com distribuição de renda.

Presidente do Sicredi Região dos Vales, Ricardo Cé Temos uma importância econômica e social expressiva. Junto com os outros setores econômicos e sociais, o sistema promove o desenvolvimento da nossa região. Sem as cooperativas o Vale perderia muito no sentido de agregação e união entre as pessoas. A cooperação e a colaboração são fundamentais.

Presidente da Cooperativa Rural dos Vales, Orlando Stein Cooperar é agir de forma coletiva, trabalhar junto em prol de um objetivo comum. Vejo mais desenvolvimento humano em regiões onde há atuação desse modelo. Uma das nossas riquezas são as pessoas que buscam interação, inovação e resultados.



A seguir serão contadas histórias de famílias para demonstrar como o cooperativismo faz a diferença nas comunidades onde está presente. Será destacada a importância da dimensão humana e econômica do modelo na vida das pessoas, tendo como principais características o trabalho e a união.

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Sucessão nos negócios Ezequiel Dullius, 32, de São Rafael, Cruzeiro do Sul, trabalha ao lado dos pais na criação de suínos. A atividade está na terceira geração da família. Começou com o avô, Adolfo, de forma independente, com apenas dez matrizes. Por ano, eram vendidos em média 250 suínos. Em 1979, a família passou a integrar o quadro social de uma cooperativa. Inácio, 61, destaca as mudanças, principalmente a garantia de compra dos leitões. “No modelo independente quando era bom sobrava comprador. Na crise o jeito era engordar para o consumo próprio.” Com orientação técnica e acesso a crédito, as instalações foram modernizadas e o plantel foi ampliado, passando a 20 matrizes. Com a melhora na genética, o número de leitões quase dobrou. Permaneciam na granja até 63 dias, quando eram encaminhados para terminadores. Em 2006, a maternidade onde eram alojadas 66 matrizes foi desativada

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GIOVANE WEBER

e o produtor passou a se dedicar ao alojamento de leitões. Investiu R$ 150 mil na construção de um condomínio com quatro chiqueiros, com capacidade de alojar dois mil suínos. Os animais chegam com sete quilos e deixam a granja 40 dias depois, com peso médio de 25 quilos. Por cabeça, o preço médio pago pela coo-

Dullius é associado faz mais de 37 anos e mantém 1,8 mil suínos no programa de creche

É essencial propagar os benefícios da cooperativismo para conseguirmos cativar os jovens a assumir a gerência dos negócios. Juntos, somos fortes e todos ganham. Inácio Dullius, produtor

perativa é de R$ 3,40. “Temos orientação técnica, ração entregue na granja, participação nos lucros e possibilidade de manter um sistema moderno de produção, adequado às exigências do mercado consumidor. Sozinhos, teríamos desistido há muitos anos.” Inácio é delegado faz mais de 30 anos e se diz um associado ativo, daqueles que levanta nas as assembleias para opinar, cri-

ticar, se for preciso, e também elogiar, reconhecer os acertos. Na sua área de atuação, presta assistência a mais de 20 famílias, produtoras de leite e suínos. Cerca de 30% delas estão com a sucessão encaminhada. “É essencial propagar os benefícios do cooperativismo para conseguirmos cativar os jovens a assumir a gerência dos negócios. Juntos, somos fortes e todos ganham.”

Produção de alimentos une famílias Gorete Ogliari, 55, reside em Sinimbuzinho, Boqueirão do Leão. Desde 2010, dedica-se à produção de alimentos, destinados para escolas do município e de São José do Herval, por intermédio da Cooperativa Léo-Boqueirense de Agricultores Familiares, a qual ajudou a criar.

Abandonou a atividade leiteira devido à instabilidade dos preços e aos elevados custos. “Hoje tenho mercado fixo e consigo um preço justo. No leite, não há essa garantia.” Por mês, entrega 400 unidades de repolho, alface, além de 150 dúzias de ovos caipiras. Outro

diferencial está na produção orgânica. Para incrementar a renda, os integrantes da família cultivam tabaco e trabalham no setor de transportes. Gorete destaca a importância da cooperativa em intermediar a venda e organizar a produção. “Cada sócio produz uma parte

e a cooperativa comercializa. Se fosse vender em feira ou direto em mercados, o risco de ocorrer perdas seria grande, além da oscilação do preço.” Além dela, outras cem famílias trabalham no cultivo de hortigranjeiros em Boqueirão do Leão e Gramado Xavier.

Criação de aves em núcleos Em um modelo semelhante ao do leite, a cooperativa Dália Alimentos investirá na avicultura. Serão formados oito núcleos, totalizando 64 aviários. Cada um terá capacidade de alojar 275

mil frangos de corte. O produtor Rogério Petrini, 34, de Marques de Souza, cria frangos faz 20 anos. São 11 mil animais alojados. Considera o modelo uma forma de aumentar

os lucros e atender as exigências da indústria, tanto em escala como em qualidade. Na opinião de Petrini, é arriscado investir sozinho na construção de um novo aviário, cujo

valor mínimo é de R$ 500 mil. Dependendo da localização, oferta de mão de obra e proximidade com o frigorífico, muitas indústrias nem se interessam em liberar novos projetos, enfatiza.


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ANDERSON LOPES

Condomínios mantêm produção O casal Nilson Gonzatti, 65, e Lourdes, 66, de Roca Sales, desistiu de produzir leite em janeiro, após 40 anos na atividade. Entre os motivos, ausência de sucessores, problemas de saúde e intenso trabalho braçal. No início do mês, eles retomaram a atividade, agora no sistema associativo, pioneiro na América Latina, idealizado pela Dália Alimentos, de Encantado. Eles integram as 16 famílias do condomínio Florença, inaugurado em junho. “Vamos ter 20 vacas. Este projeto é a única maneira de manter a produção no meio rural. Os produtores estão velhos, cansados de trabalhar sem ter folgas ou férias. Agora teremos como descansar e mesmo assim manter nossa renda mensal.” Além das vacas leiteiras, o casal mantém 700 suínos na propriedade. Segundo o presidente do condomínio, Pasqual Bertoldi, a ideia surgiu em 1998, após integrantes da cooperativa conheceram modelos associativos de produção na Europa,

operados por ordenha robotizada, com produtores reunidos em grupos. Das 16 famílias unidas, apenas cinco ainda produzem leite. A idade média é de 55 anos. “Esse modelo é o futuro, aqui nossos filhos e netos podem voltar a ser agricultores, sem precisar deixar o emprego na cidade”, argumenta. São 16 produtores, 27 filhos e sete netos. Quatro gerações representadas. Produzir, industrializar e vender. Esse é o segredo para manter o emprego e a renda e obter mais qualidade de vida. O condomínio Florença é o segundo empreendimento, de um total de quatro, a iniciar as atividades. Os outros dois serão instalados em Arroio do Meio e Candelária. A Dália Alimentos investirá R$ 20 milhões. Cada estrutura terá capacidade de alojar 262 animais, cuja produção diária está estimada em 6,5 mil litros, em quatro anos, média de 30 litros por vaca. A ordenha será feita com auxílio de três robôs, importados da Suécia em parceria com a DeLaval.

Após se associar a um condomínio leiteiro, casal Nilson e Lourdes volta a apostar na atividade

Importante saber O RS é o segundo maior produtor de leite do Brasil. Em 2015, foram 4,6 bilhões de litros, média de 12 milhões por dia. O leite influencia na economia de 94% dos municípios gaúchos. As cooperativas agropecuárias têm 327,4 mil associados e 33,3 mil empregados e contribuem para manter novas gerações no campo.


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ESPECIAL MACIEL DELFINO

Cooperação entre alunos As cooperativas escolares são formadas exclusivamente por alunos. Existem 55 entidades no estado, com mais de dois mil jovens. O objetivo é incentivá-los a exercer o protagonismo, a liberdade, a independência e a democracia. Em Teutônia, a Cooperativa Languiru e Sicredi Ouro Branco, em parceria com a Ocergs-Sescoop/RS, desenvolve o Projeto Aprendiz Cooperativo. Serão ministradas 1,1 mil horas/ aula, durante 18 meses, com atividades práticas e teóricas. Participam alunos com mais de 14 anos de idade de oito escolas do município. Segundo o pesquisador e assessor para Cooperativas Escolares, Everaldo Marini, elas são “um laboratório de aprendizagem e de desenvolvimento dos valores cooperativistas”. Por meio delas, os alunos aprendem sobre gestão de cooperativa, condução de reuniões, funcionamento de uma assembleia, noção de empreendedorismo e educação financeira. Tornam-se cidadãos responsáveis e comprometidos com a sociedade, afirma.

Em Teutônia, alunos criaram a primeira cooperativa escolar da região. Entidade trabalha na produção e venda de hortigranjeiros

Neste mês, o Colégio Teutônia criou a Cooperativa Escolar de Aprendizagem Teutônia (COOPEAT), a primeira cooperativa escolar do Programa Aprendiz no Campo no RS. Segundo a presidente, Letícia Diesel da Costa, 15, o trabalho oportuniza a cooperação e o desenvolvimento de habilidades em equipe, com a formação de novas lideranças. Enquanto trabalham no plantio das hortaliças no sistema orgânico

e agilizam a produção de balas de mel e gengibre, os alunos traçam estratégias de venda e buscam mais clientes. “Apostamos na produção de alimentos pelo fato do nosso curso ser voltado para a agropecuária. O objetivo é arrecadar dinheiro para custear a viagem no fim do ano. Aprendemos a trabalhar em conjunto e alcançar os resultados coletivamente”, diz. Também foi criada a Cooperativa Escolar dos Alunos do Colégio

FELIPE NEITZKE

Segurança na compra e na venda A família Zuffo, de Alto Honorato, Progresso, entra na terceira geração de cooperativistas. Tudo começou com os pais de Rogério faz mais de 30 anos. O sistema é passado para a filha de 15 anos como um sinônimo de equilíbrio e segurança nos negócios. “Sempre vimos neste modelo uma forma segura de venda da nossa produção. Nunca atrasou um dia sequer o pagamento”, afirma Rogério. Segundo o produtor, graças à cooperação, foi possível fazer investimentos superiores a R$ 250 mil nos últimos anos. O valor foi aplicado na melhora da infraestrutura produtiva de leite e de suínos. Por mês, são vendidos nove mil litros e mantidos 500 animais no programa de terminação. Ro-

gério garante que a cooperativa sempre é a melhor opção para a agricultura familiar, ainda mais em épocas de crise. “A empresa zela pelo seu associado. Temos garantia de remuneração justa, recebemos orientação técnica gratuitamente na propriedade e isso nos dá confiança para manter nossa atividade.” Outra vantagem é a participação nos resultados, política implementada apenas nas cooperativas, diferente das empresas tradicionais. Em 2015, a família recebeu R$ 1,6 mil como um bônus. Esse valor já foi maior, chegou a R$ 3,6 mil. A redução se dá pelas perdas ocorridas durante o último ciclo, principalmente pela elevação do preço da ração e quebra

Teutônia (COOPECT). Natália Moreira Plentz, 13, primeira a presidir a entidade, destaca o valor do trabalho conjunto. “A cooperativa é fruto de um trabalho em grupo, uma experiência nova, uma oportunidade de aprendizado, ao mesmo tempo em que é um grande desafio”, frisa. Teutônia ostenta o título de terra do cooperativismo. Hoje, cerca de 82% da população economicamente ativa é associada a uma ou mais cooperativas.

Para a família Zuffo, sistema garante remuneração justa e equilíbrio financeiro dos negócios

na safra de milho. Embora a filha expresse o desejo de trabalhar na cidade após concluir o curso superior, Rogério mantém a esperança de o filho ca-

çula de 9 anos, no futuro, permanecer na propriedade. “Os condomínios são uma boa alternativa. Se derem certo, cativará muitos filhos a investir”, projeta.


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Crédito para plantar e estocar

ARQUIVO

Marino Johann, de Lajeado, foi um dos 21 sócios-fundadores da Cooperativa Rural dos Vales (Cooperval), criada em 14 de abril de 2004. Na época, o objetivo era oferecer aos produtores de grãos um complexo moderno para armazenar a produção para posterior venda ou consumo próprio na propriedade. A estrutura foi construída em Linha Primavera, Cruzeiro do Sul, com capacidade de estocar mais de 300 mil toneladas. No último ciclo, Johann entregou dez mil sacos de trigo, soja e milho à cooperativa. Entre as vantagens, destaca a opção de estocar o cereal em local

adequado, com a segurança de manter a qualidade e vender quando atingir a melhor cotação. “Estocamos milho durante três anos. Na época, o preço da saca era de R$ 22. Vendemos agora a R$ 35.” Com a criação da cooperativa, a entidade passou a ter acesso a linhas de crédito para compra de insumos, sementes, fertilizantes e químicos. Esses são colocados à disposição dos produtores associados. O pagamento é feito com grãos após a colheita. Além disso, é oferecida orientação técnica gratuita aos produtores. “Ajuda a melhorar a produtividade e nossa lucratividade.”

Família Johann destaca o financiamento da lavoura em troca de grãos como principal vantagem

Números do cooperativismo No Brasil

13 ramos de atuação

6,5 mil

cooperativas

12,7 milhões de cooperados

361 mil

empregos diretos

No RS

Agropecuárias

434

132 ativas 33,2 mil

cooperativas ativas

2,7 milhões de associados

58,8 mil empregos

R$ 36,1 bilhões 11% faturamento em 2015

do PIB

empregos

R$ 22,1 bilhões 59% faturamento

do PIB

Fonte – OCB e Ocergs



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