Especial do jornal A Hora
MAIO | 2016
Circulação mensal GIOVANE WEBER
Grão valorizado A soja garante empregos no campo e na cidade. É um combustível fundamental da engrenagem que movimenta a economia dos municípios. Nesta safra, serão colhidas 16,3 milhões de toneladas, volume 4,1% maior que o registrado no ciclo anterior. Apesar do preço elevado, produtores estão cautelosos quanto a novos investimentos ou ampliação da área cultivada em virtude da incerteza política e econômica.
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Grão sustenta economia A soja surgiu como alimento há mais de cinco mil anos, cultivada no Oriente, principalmente na China. Chegou ao Brasil pela Bahia, em 1882. Com a migração japonesa, o grão se difunde pelas terras brasileiras e chega oficialmente ao RS em 1904, na região de Santa Rosa. Tornou-se o principal produto do agronegócio no estado e seu grão, farelo e óleo mantêm a liderança das exportações gaúchas desde 2007. Em 2015, mais uma vez, a oleaginosa ajudou a consolidar a expansão da agropecuária. Se não fosse o resultado do setor, que registrou alta de 13,6% em 2015, o PIB do RS – cuja retração foi de 3,4% – poderia ter sido mais negativo. Soja, tecnologia e produção o RS tem de sobra. Não foi por acaso que o volume do grão no estado, o terceiro maior produtor do país, dobrou nas últimas duas décadas e deverá alcançar neste ano colheita superior a 16 milhões de toneladas. A supersafra é fruto do trabalho de agricultores e
É necessário ampliar acordos comerciais com nossos clientes para reduzir barreiras técnicas, sanitárias e tarifárias. investimentos em adubação do solo, melhora na genética das sementes e mecanização. O bom preço faz a atividade substituir culturas como arroz e milho. A monocultura não é saudável para o sistema. O produtor precisa pensar sempre em rotação e em estabelecer uma boa cobertura para o solo. É preciso buscar a agregação de valor da soja comercializada pelo Brasil. Isso melhora a produtividade da indústria e ajuda a incrementar as vendas de farelo, óleo e proteínas animais. É necessário ampliar acordos comerciais com nossos clientes para reduzir barreiras técnicas, sanitárias e tarifárias. A melhoria das condições logísticas é outro desafio. No RS, segundo estatísticas da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, 88% da safra é transportada por rodovias, 9% por ferrovias e 3% por hidrovias. Nos Estados Unidos, só 25% da safra é escoada por estradas. O restante, por meio de ferrovias (40%) e hidrovias (35%). Enquanto no Brasil o custo com transporte chega a 8%, nos EUA não passa de 3%. Enquanto os problemas persistem, o produtor começa a planejar o próximo ciclo. Apesar da incerteza política e econômica preocupar, os bons preços contribuem para estabilizar as finanças e dar garantia para investir em tecnologia, genética e cuidado com o solo para elevar ainda mais a produtividade. Boa leitura
Índice
Editorial
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Simulador permite visualizar perdas
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Agroindústrias – Produtos valorizados pela origem e qualidade
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Entrevista com Carlos Simm, presidente da Federacite
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Apesar da supersafra de soja, é preciso cautela
Tenho dito A seguir, a opinião sintetizada sobre este caderno dos integrantes do grupo de discussão, que participam a cada mês da elaboração das principais pautas e temas abordados. Existe uma oferta de crédito de R$ 1,8 bilhão pelo Moderfrota até o final do atual Plano Safra (R$ 900 mil via BNDES e R$ 900 mil via Banco do Brasil).). A agricultura está bem. Foi o cenário político que contaminou o setor e abalou a confiança do produtor, que investe menos. Existe demanda e mercado para ter reposição de máquinas maior do que temos, no entanto, o agricultor está deixando de repor. É um momento favorável para fazer er isso, porque temos os recursos nas linhas de financiamento e essas condições ções terminam dia 17 de junho, última data para protocolo no BNDS. Não sabemos bemos quais as propostas do novo Plano Safra. A taxa de juros, de 7,.5% ao ano, ainda é atrativa, uma vez que está abaixo da taxa Selic, que hoje é de 14,25%. Se alguém quiser investir, faça agora, pois as condições do segundo semestre são incertas. Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA)
As chuvas excessivas na Argentina, que podem resultar perda de cinco milhões de sacas, terão influência positiva na oferta global do grão e seus derivados, visto que o país é o maior produtor e exportador de farelo de soja. A força da demanda é visível, tanto nas vendas como nas exportações. A projeção é de preços mais altos. O produtor precisa tomar a decisão certa e ter acesso à informação com credibilidade, analisar a tendência de mercado, o comportamento do clima e de safras em países como EUA, maior produtor mundial, para cl planejar sua lavoura. O recomendado é fixar preços de venda da próxima plan safra em dólar, a menos que as propostas em reais sejam muitos boas. É uma forma de fugir da volatilidade cambial do mercado. Carlos Cogo, da Consultoria Agroeconômica
ores es Como nos últimos três anos os lucros para a maioria dos produtores fraa foi satisfatório, recomendo que parte dos custos da próxima safra seja bancada com dinheiro próprio. Neste clima de incertezaa econômica e política, deve-se evitar contrair dívidas. Precisamos melhorar o cuidado com o solo, observar a qualidade das sementes e insumos adquiridos, fundamental para se obter bons índices de e. produtividade. Alencar Rugeri, assistente técnico co estadual de Soja da Emater
Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS
DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss
COORDENAÇÃO Giovane Weber
Diretor Geral: Adair Weiss Diretor de Conteúdo: Fernando Weiss Diretor de Operações: Fabricio Almeida
PRODUÇÃO Giovane Weber
ARTE Gianini Oliveira e Fábio Costa
Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)
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O manejo do solo, indispensável à agricultura, é um conjunto de técnicas que proporcionam alta produtividade a baixos custos. Fundamentais, elas evitam a degradação e possibilitam que as culturas aproveitem melhor o solo, a adubação e a água.
Simulador permite visualizar perdas U
m equipamento demonstrativo desenvolvido pela Embrapa de Passo Fundo, o simulador de chuvas, permitiu aos agricultores visualizarem melhor as perdas que ocorrem nas lavouras e passam despercebidas. O equipamento simula uma chuva intensa em dois sistemas de plantio em caixas coletoras de água instaladas no solo. Um representa um plantio em nível, e o outro no mesmo sentido da inclinação (“morro abaixo, morro acima”, como dizem os agricultores). Ambos são cobertos com a mesma quantidade de palha, mesmo tipo de solo e declividade. Extensionista da Emater/RS-Ascar, Vagner Moro, explica que a ideia é demonstrar que, em ambas as áreas, a água vai escorrer por debaixo da palha. A diferença é que, naquela que simula um plantio em nível, a velocidade de escorrimento da água será menor que a da área plantada no mesmo sentido da declividade. Com essa percepção das perdas ocasionadas no solo demonstradas pelos tratamentos, “pretende-se orientar os produtores a utilizarem outras técnicas em conjunto para diminuírem as perdas nas lavouras”, diz. Uma alternativa para amenizar o escoamento superficial da água da chuva, diz o técnico, é a utilização da palhada ou cobertura vegetal simultaneamente com outras técnicas, como o plantio em nível, o sistema de plantio direto com rotação de culturas, tudo isso associado a um terraço. Com o emprego de todas essas técnicas de manejo do solo, pretende-se aumentar o tempo que a água permanece
DIVULGAÇÃO
Manter o solo protegido favorece a infiltração de água da chuva e diminui a erosão
na lavoura, tornando-a disponível por mais tempo para as plantas. “Pelo simulador, demonstramos a importância de assegurar a água no solo, evitando a erosão, diminuindo as perdas de insumos, aumentando a produção das culturas e a lucratividade da propriedade.” Na demonstração, fica comprovado que toda água que escorre para o rio tem fertilizantes, fungicidas, inseticidas e demais
[...] assegurar a água no solo, evitando a erosão, diminuindo as perdas de insumos, aumentando a produção das culturas e a lucratividade da propriedade.” Vagner Moro, extensionista
contaminantes, que poluem os mananciais, além de encarecer o tratamento da água para o consumo, e que pode causar ainda enchentes e estragos em estradas, pontes e em toda propriedade.
Palhada
Muitos agricultores consideram que a palha oriunda de restos culturais ou de plantas de cobertura na lavoura é suficiente para a conservação do solo. Segundo Moro, a palha é de grande importância, mas deve ser utilizada com outras práticas conservacionistas de solo. Ela ajuda a quebrar o impacto da gota da chuva, no entanto, essa não é a solução para o aumento da infiltração de água no solo. “Se a água não infiltrar no solo, ela vai escorrer por debaixo da palha e isso muitas vezes não é percebido. Tudo o que estiver entre a palha e a superfície do solo pode ser perdido com a água e, dessa forma, ela está roubando muitos agricultores", disse Moro.
Outro aspecto importante, de acordo com o técnico, é que a maioria das culturas é plantada em linha reta por causa do maior rendimento operacional oferecido por máquinas cada vez maiores, com o dimensionamento muitas vezes inadequado para a realidade de muitas propriedades. Mas o plantio em linha reta nem sempre é a melhor opção, porque toda vez que não se planta em nível os sulcos formados pela semeadura acabam se tornando canais preferenciais para o escoamento da água da chuva e à disposição da enxurrada. “É nos sulcos que está a maioria dos insumos e que podem estar sendo carregados para fora da lavoura camuflados por debaixo da palha”, ressalta o técnico.
Solo protegido O produtor Aldoir Roversi, 51, de Júlio de Castilhos, cultiva 96 hectares com soja. Para elevar a produtividade, tem um cuidado especial com o solo. “Quanto mais coberto, mais água se acumula na lavoura e ameniza o estresse hídrico da planta em épocas de seca. Além disso reduz as perdas de adubo e fertilizantes.” O pastejo do plantel de vacas leiteiras é evitado em dias de chuva. Se fizesse, aumentaria a degradação e seria necessário uma maior quantidade de adubos e fertilizantes para retomar seu potencial produtivo.
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Nas feiras e exposições, um dos endereços mais movimentados é o das agroindústrias. Produtos coloniais remetem a hábitos do interior e proporcionam degustação de queijos, salames, vinhos, sucos e schmiers e também comercialização de roupas feitas à mão.
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Valorizados pela origem e qualidade C
om qualidade e procedência, os itens garantem o sustento de milhares de famílias e a sucessão dos negócios em pequenas propriedades. De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), o estado tem 1,7 mil agroindústrias cadastradas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar Selo Sabor Gaúcho. São gerados 3,4 mil empregos. Segundo Jocimar Rabaioli, assessor de Política Agrícola e Agroindústrias da Fetag, pelo censo do IBGE de 2006, nove mil famílias gaúchas transformam o que produzem nas
propriedades e,assim, agregam valor à produção primária. Embora não seja possível mensurar o faturamento anual desse segmento no mercado local e em políticas públicas, Rabaioli destaca que apenas o resultado obtido pelas agroindústrias na participação em feiras chega a R$ 10 milhões por ano. Produtos como embutidos de suínos, artesanato, derivados do leite, entre muitos outros, garantem lucro aos agricultores. “A diversidade da agricultura familiar faz o sucesso dos empreendimentos. Um agrega valor ao outro e é graças a isso que os consumidores encontram um mix tão grande de produtos nas
feiras”, diz Rabaioli. De acordo com ele, cada vez mais o agricultor familiar percebe a importância de produzir, transformar e comercializar. “Estimamos em crescimento anual de 25% no número de empreendimentos que saem da informalidade”, aponta. Para Rabaioli, as feiras trazem oportunidades ilimitadas aos agricultores por garantir a venda direta ao consumidor, abertura de novos canais de comercialização, contatos comerciais e troca de experiências. “Os produtores podem falar, por exemplo, de onde e de que forma os produtos são produzidos, quais suas particularidades e o que os
torna mais saborosos, propiciando, desta forma, negociar diretamente com o consumidor final, sem intermediários.” Para Dionatan Tavares, diretor de Agricultura Familiar e Agroindústria da SDR, a agroindústria é fundamental para a sobrevivência da pequena propriedade, principalmente se a família for grande. O secretário de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, Tarcísio Minetto, destaca que esses empreendimentos são uma oportunidade para a geração de valor, que está ligada diretamente à formação de mão de obra e, consequentemente, à oferta de produtos de qualidade.
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Jovens e inovadores Basta uma volta no pavilhão das agroindústrias em feiras para ver que uma nova geração de produtores assume o comando. Jovens na faixa de 30 anos tomam a frente da gestão e aliam a tradição herdada dos pais com a vontade de inovar. “O bom de ser dono do próprio negócio é ser livre para ir e vir. Trabalhamos bastante, mas por algo que é nosso. Se estivesse em uma empresa batendo cartão neste momento, não poderia vir até a Expoagro Afubra conferir as novidades e aprimorar o trabalho na propriedade”, comenta Marcelo Rabaiolli, 26, de Imigrante, proprietário de uma agroindústria de suco de laranja e uva. Com ajuda do irmão Marciano, 32, legalizou o empreendimento há dois anos. Por ciclo, são industrializados 44 mil litros de suco de uva integral. “Vender o produto in natura dava prejuízo. Nesta safra perdemos 90% das frutas. Sem a agroindústria, a saída seria buscar emprego na cidade e abandonar a propriedade, pois estaríamos sem renda”, conta Marcelo. Na exposição pela primeira vez, aproveitaram para lançar o suco de laranja integral, feito apenas com o néctar da fruta. Para cada litro produzido, são necessários dois quilos de frutas, trazidas de São Paulo. A garrafa de um litro é vendida a R$ 8, mesmo preço cobrado pelo suco de uva. Para a feira, foram fabricados dois mil litros. Com a boa aceitação, a meta é ampliar a oferta. Entre as dificuldades, cita a concorrência com empresas maiores. “Conseguem abastecer o mercado com grandes volumes e valores inferiores.” Segundo Marciano, a conquista de clientes é justificada pela qualidade, a forma artesanal de produzir e a procedência. “Usamos frutas sadias e não misturamos nada de corantes ou água. É o suco puro.”
Quiabo vira conserva
Reconhecido pelos benefícios à saúde, o quiabo virou uma
Derivados de suínos Os irmãos Moisés, 43, e Lauro Ludwig, 50, de Poço das Antas, investiram R$ 130 mil na construção de uma agroindústria especializada em beneficiar derivados de carne suína, em 2013. “Por mês vendíamos uma média de 20 quilos de linguiça e torresmo. A procura aumentou e decidimos legalizar para ampliar a oferta”, conta Moisés. Por mês, são industrializados 180 quilos de carne. A matéria-prima é obtida na propriedade. São criados 50 animais em ciclo completo. Por semana, são abatidos dois
boa fonte de renda para o casal Jair e Doralina Bertuol, de Encantado. No sítio de cinco hectares, há dois anos começaram a aproveitar a oferta de frutas e hortaliças para produzir schmiers, compotas e conservas. O mix de produtos chega a 23 itens. Antes do beneficiamento, os produtos eram vendidos em feiras ou nas casas. “Além do baixo preço, muito era desperdiçado. Hoje tudo se aproveita”, destaca Jair, que trabalhou durante 32 anos como pintor. Entre as novidades apresentadas na exposição, estava a conserva de quiabo e a schmier de laranja com cenoura.
destinados à produção de linguiça, carro-chefe de vendas, além de torresmo, morcilha, charque, salame e salsichão caseiro. Os preços variam entre R$ 18 e R$ 28 o quilo. O elevado preço do milho reduz os lucros. No ano passado, a saca de 60 quilos era comprada por R$ 25, hoje chega a R$ 45. Entre as metas, espera conseguir a adesão ao Susaf, que garante a venda para todo estado. “O consumo aqui é limitado. A maioria dos clientes é de outras cidades e vem comprar aqui.”
Transformamos uma tradição em um negócio rentável. Claudio Posselt, produtor
Cada unidade é vendida a R$ 8. “O quiabo em conserva é um sucesso entre o público”, alegra-se Doralina. A hortaliça é produzida apenas nos meses quentes. São em torno de mil pés. Por safra, são envazados três mil vidros. “É a insulina natural contra o diabetes. Divulgar os benefícios à saúde ajuda a incrementar a demanda.” A amora é outra fruta com destaque entre os consumidores. Por ciclo, são colhidos quatro mil quilos, tudo transformado em schmier e geleias. Com cem pés cultivados, o casal lança nos próximos meses a schmier de banana. “Tudo é cultivado sem uso de agrotóxicos. Nos preocupamos com a nossa saúde e a do consumidor.”
Do tacho ao mercado
Claudio Posselt, de Venâncio Aires, trabalha no beneficiamento de cana-de-açúcar faz 14 anos. Em função da crescente demanda, em 2014 investiu R$ 80 mil na construção de um novo prédio de 220 metros quadrados. Por ano, as vendas superam nove mil toneladas de melado, açúcar mascavo e schmier colonial. O preço médio do quilo é de R$ 6. “Transformamos uma tradição em um negócio rentável.” Com ajuda da família, ainda são produzidos 180 litros de leite por dia e cultivados 30 mil pés de tabaco. A diversificação ajuda a manter estável a economia e estimula o filho Rodrigo, 18, a continuar na propriedade. “Embora o rendimento por hectare seja menor quando comparado com o fumo, é um alimento e sempre terá mercado.” A Embrapa Clima Temperado apresentou nove novas variedades de cana-de-açúcar de maturação precoce e tardia durante a feira. Elas podem ser usadas tanto para a produção de etanol quanto para outros produtos como o açúcar mascavo, melado, cachaça e outros derivados. De acordo com a analista da Embrapa Clima Temperado, Cândida Raquel Scherrer Montero, combinados e bem manejados, os cultivares permitem um longo período de utilização pela indústria. “Para isso, é interes-
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sante que os produtores tenham diferentes variedades, pois, assim, conseguem ter produtividade de maio a novembro.”
famílias a apostar na fruticultura.” Além de programas sociais, o produto é vendido em um paradouro às margens da BR386, mercados e restaurantes de todo país.
Três gerações e muito sabor Os avós, pais, tios e o agricultor Patrick Castoldi, de São José do Herval, formam o maior patrimônio da Agroindústria Castoldi. São os proprietários e a mão de obra da fábrica de doces, geleias, polpa de frutas, conservas e picles. Os Castoldi produzem até três toneladas de doces e conservas por mês, e chegaram na Expoagro Afubra com mais de meia tonelada em produtos. A fábrica tem uma boa comercialização porque integra um projeto de fornecimento de merenda escolar diretamente das agroindústrias. “Hoje atendemos escolas em cinco municípios na região de Soledade”, orgulha-se. A presença em feiras é para ampliar o mercado, a produção e a renda. “Afinal, esse é o objetivo da agroindústria: começar pequena, trazer melhor qualidade de vida, empregos e renda à família, e seguir crescendo.” Sucesso entre os clientes são
Tabaco é substituído
as geleias e polpa de frutas exóticas como pitanga, guabiju, cereja, jabuticaba e physalis, todas cultivadas na propriedade. Embalagens de 400 gramas congeladas rendem dois litros de suco. Entre as dificuldades, destaca a falta de matéria-prima. “Existe pouca oferta e em poucos dias o estoque termina.” O preço médio é de R$ 8. Além disso, outras frutas como manga, goiaba, laranja, bergamota, pêssego, figo, uva, amora, mamão e abacaxi são processadas. “Nada se per-
Variedade, qualidade, matéria-prima cultivada sem agrotóxicos e preço acessível garante a conquista de novos clientes
de. Compramos qualquer quantidade, desde que tenha qualidade. Isso tem incentivado muitas
Ademir Radaelli, 47, de Doutor Ricardo, plantou fumo por 20 anos. O contato direto com os agrotóxicos, a falta de mão de obra e a oscilação do preço fizeram o produtor trocar de atividade. As hortaliças cultivadas na horta passaram a ter mais importância. De alimento para subsistência, tornaram-se a matéria-prima para Radaelli montar seu próprio negócio, uma agroindústria de conservas. Com R$ 70 mil, construiu um prédio e comprou máquinas. Participou de cursos e se especializou. Em setembro de 2015, lançou os primeiros potes com pepino, beterraba, couve-flor, brócolis e cebola. Por ano, a meta é envazar cinco mil unidades. “A renda é menor, mas trabalhar com alimento, cultivado de forma orgânica, me deixa mais feliz e sei que nunca faltará cliente na porta de casa.”
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ENTREVISTA
A Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiências (Federacite) reforça a proposta de investir no conhecimento como ferramenta para enfrentar momentos de crise no agronegócio. Debates reafirmam a importância da gestão, diálogo, adesão de novas tecnologias e organização das cadeias produtivas para fidelizar clientes.
A crise como oportunidade para crescer
Cites é um bom começo. Buscar atividades complementares, que tenham sinergia, mas não conflitem (ou compitam) com as exercidas pelos pais. Agroindústria, agroturismo e produções intensivas de alto valor agregado são alguns exemplos. Estimular as especializações fora da propriedade e dar-lhes oportunidade de praticar seus conhecimentos são práticas altamente recomendáveis. As escolas familiares agrícolas devem servir de modelo e exemplo da integração e fixação do jovem à propriedade.
A
O conhecimento é que movimentará o mundo agro daqui por diante e não mais a informação? Simm – O conhecimento tecnológico, a sustentabilidade e a gestão eficiente são os fatores que farão a diferença no futuro. A informação continuará fundamental para a organização de cadeias produtivas e para o Benchmarking. Entender o mercado e se antecipar às mudanças conquista e fideliza os clientes. Considero as viagens como a mais importante ferramenta para se ampliar os conhecimentos.
o completar 30 anos, a Federacite, comandada pelo engenheiro agrônomo Carlos Simm, realiza uma série de debates pelo estado com foco em temas como gestão de pessoas, da propriedade, sucessão e meio ambiente. “Nosso objetivo é sensibilizar produtores a pensar na crise como oportunidade de crescimento.” Esse conceito surgiu na França da década de 40, após a Segunda Guerra, como forma de encontrar soluções para a reorganização do setor produtivo. Iniciou no RS na década de 70. Hoje, o RS conta com 127 Cites, que reúnem 1,4
mil produtores. A Hora – Como é possível enxergar uma oportunidade em meio à crise? Carlos Simm – A falta de organização das cadeias produtivas e a gestão deficiente das propriedades são pontos a serem mais compreendidos e debatidos. Entendemos que muitos produtores podem ter, sem saber, passivos nas áreas ambiental, pessoal, fundiária e administrativa. Em cada um desses temas, existem muitos aspectos que precisam ser colocados para se evitar prejuízos futuros. Especialistas colocarão suas experiências para serem comp compartilhadas com os produtores Evitar desperdícios produtores. e reduzir despesas de estão ao alcance de todos. Testemunhos loc locais, de experiências bem-suce bem-sucedidas enriquecem o debate. Como envolver mais os jovens no agronegócio? Simm – O envolvimento aumentará, se a ele for dado espaço. Estimular a participação dos filhos nas reuniões dos
Carlos Roberto Simm Engenheiro agrônomo, 61, administra a Fazenda Clarice, em Campestre da Serra, é presidente do Sindicato Rural de Ipê, Antônio Prado e Campestre da Serra, da Associação dos Produtores Rurais dos Campos de Cima da Serra (Aproccima) e da Federacite.
A rentabilidade passa pela redução dos custos e do desperdício. Orçamento, fluxo de caixa, controle de receitas e despesas são ferramentas indispensáveis numa empresa moderna.
O país se acomodou em ser um fornecedor de matéria-prima para o mundo? Como podemos agregar valor aos produtos que exportamos hoje com pouco ou nenhum beneficiamento? Simm – De fato exportar matéria-prima não é a melhor estratégia, mas, mesmo nas commodities, é possível agregar valor. As carnes são um bom exemplo, antes de exportar milho e farelo de soja, exportamos frangos e suínos. Na carne bovina, o objetivo é atingir nichos de mercado para alta qualidade e valor. Acordos comerciais entre nações, ou blocos econômicos, devem sempre pautar esse tema. Os países desenvolvidos, e que competem conosco no agronegócio, possuem cadeias produtivas organizadas, onde cada elo procura se fortalecer sem comprometer o sistema. Certificações de sistemas produtivos, como as indicações geográficas, e a produção sustentável ambientalmente, também são alternativas muito valorizadas por consumidores exigentes. Creio que podemos colocar na pauta de exportação o agroturismo, a indústria que mais cresce no mundo. A evolução tecnológica e a profissionalização do agronegócio também melhorarão nossa balança comercial. Considerações finais Simm - Nossa sede fica no Parque de Exposições Assis Brasil em Esteio. O movimento foi criado para congregar os clubes que integram o movimento citeano em atividade a 40 anos. A entidade já registrou a 127 clubes no RS e completou 30 anos em 25 de abril. Um Cite é composto normalmente por 12 produtores, que se reúnem uma vez por mês em uma das propriedades. A busca de soluções compartilhadas é a essência do movimento. Também é um grande formador de líderes no meio rural. Os próximos debates ocorrem dia 14 de julho, em Camaquã e 30 de agosto, em Esteio, durante a Expointer. Entrevista feita por e-mail
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CAPA
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A colheita de soja deste ano baterá novo recorde de produção, 16,3 milhões de toneladas, 4,1% superior ao do ano passado. Os custos altos, crise política e econômica e clima instável minimizam o entusiamo na lavoura. Mesmo com boa rentabilidade, produtores estão cautelosos quanto a novos investimentos, principalmente a compra de máquinas.
Apesar da supersafra, é preciso cautela O
s bons preços recebidos pelos produtores nos últimos anos contribuíram para a expansão da área plantada e da produtividade da soja nas regiões tradicionais e nas novas fronteiras da agricultura. Apesar do excesso de chuva, que provocou prejuízos pontuais, o RS, terceiro maior produtor do país, colherá uma nova safra recorde de soja. Levantamento final da Emater em 328 municípios, entre 17 e 23 de abril, mostra que a colheita será de 16,3 milhões de toneladas – 4,1% maior do que a registrada no ciclo anterior. No total de grãos, será a segunda maior safra gaúcha da história, com 28,93 milhões de toneladas, ficando atrás só de 2015. As regiões de Erechim e Passo Fundo registraram as maiores produtividades, com 3,47 mil quilos e 3,42 mil quilos por hectare, respectivamente. A supersafra representa um faturamento de R$ 19,3 bilhões para a economia gaúcha. Alencar Rugeri, assistente técnico estadual de Soja da Emater, atribui o bom resultado das lavouras ao aumento de 3,9% na área plantada, cuidado com o solo e investimentos em tecnologia de precisão. Mesmo com a cotação em alta, R$ 77 a saca de 60 quilos, recomenda a venda escalonada. “Nunca vamos acertar o momento em que a cotação alcança maior valor. A conjuntura internacional, dólar, oferta, demanda, clima são situações muito distantes da lavoura e fora do domínio do produtor.” Mesmo com a maior parte da frota de máquinas acima de 20 anos de uso, Rugeri sugere cautela na hora da troca. “É preciso analisar a
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Aumento na área plantada foi de 3,92%, alcançando 5,470 milhões de hectares. A produtividade média é de 2.988 kg/ha
real necessidade e qual a vantagem disso.” Como as margens dos últimos três anos foram altas para a maioria dos produtores, a opção deles bancarem parte da safra é uma saída para evitar a
O produtor continua na busca de novas tecnologias, para elevar a produtividade, só que em ritmo menor em função da crise Décio Teixeira, presidente da Aprosoja
contratação de dívidas. “Ter um capital reserva é o ideal para enfrentar eventuais dificuldades.” Segundo Rugeri, antes de ampliar a área, é preferível dar mais atenção ao solo, qualidade dos insumos, sementes e pulverização, fundamental para fazer o controle de pragas e doenças. “Muitas vezes este maquinário e a tecnologia de aplicação é mais importante do que um trator ou colheitadeira.” A estimativa é de que a produtividade das lavouras fique em 2.938 quilos por hectare (49 sacas). Conforme levantamento da entidade, a safra total de verão chegará a 28,8 milhões de toneladas – a segunda maior da história. O valor bruto da produção atingirá R$ 28,9 bilhões. Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja do
Rio Grande do Sul (Aprosoja), Décio Teixeira, o setor deve retomar os investimentos após a crise política ser solucionada. Há investimentos, no entanto, que precisam ser feitos para a engrenagem agrícola continuar rodando – de equipamentos a sementes, fertilizantes e defensivos. Mas a decisão de investir em máquinas e equipamentos, alerta o analista, não depende apenas de bom resultado da safra, mas de disponibilidade de crédito no mercado. “O produtor vai investir naquilo que é necessário, disso não tem como fugir, até porque ele precisa manter os mesmos níveis de produtividade para compensar os altos custos de produção”, aponta.
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Menos disposição para investir Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Almir Dalpasquale, a indefinição política e econômica contamina o entusiasmo e reflete em menor disposição na hora de investir. Um dos setores mais afetados será o de máquinas agrícolas. No primeiro trimestre, as indústrias operaram com 73% de ociosidade e produziram 7.349 unidades. A produção de tratores, cultivadores e colheitadeiras caiu 52,2% na comparação com o mesmo período de 2015. Com o baixo uso da capacidade instalada, as fabricantes têm adotado, desde 2015, medidas como redução de jornada e folgas para tentar evitar demissões, a exemplo do que fazem as montadoras de veículos. Há empresas
cujos funcionários têm férias coletivas comprometidas até 2018. Apesar das medidas, nos últimos 12 meses, o segmento eliminou 2.592 vagas e emprega hoje 15.242 funcionários, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Atrelados à lavoura, estão setores fornecedores, como as indústrias e revendas de insumos, sementes e máquinas agrícolas. Das 32,2 milhões de toneladas de fertilizantes comercializadas no Brasil em 2014, 13 milhões foram destinadas à lavoura de soja, número bem acima da cultura seguinte, o milho, com 5,3 milhões de toneladas, informa o levantamento da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda).
Grão estocado Apesar dos bons resultados de produtividade no ciclo atual, a crise no cenário político e econômico traz incertezas ao produtor de soja. As mais de seis mil sacas do grão colhidas em cem hectares cultivados neste ciclo pelo agricultor Ruben Müller, de Teutônia, foram estocadas. A esperança é de uma melhor valorização nos próximos meses. “A oscilação do dólar fez o valor da saca cair R$ 8 nas últimas semanas. Pelas projeções de analistas, a cotação aumenta, por isso, prefiro não vender.” O rendimento obtido por hectare é considerado bom, apesar da instabilidade meteorológica provocada pelo El Niño. Para o próximo ciclo, projeta
Müller vai antecipar a compra de insumos para o próximo ciclo
mais dificuldades e margens de lucro apertadas. Na safra atual, o custo de produção aumentou em torno de 20%. “Além da previsão do clima ser menos favorável, a gente não sabe em quanto ficará o preço dos insumos, a cotação do dólar e a situação do país. Tudo influencia e reflete diretamente nos ren-
dimentos da nossa lavoura.” O irmão Edo Erno faz a mesma análise. Diante do cenário, nenhum financiamento será feito. Comprará somente com recursos próprios. “Alguns estão empolgados, compram máquinas e terras. Não é hora de fazer dívidas. Nunca se sabe o que vem pela frente.”
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Colheita só com a foice Às 5h, Senésio Selgen e Marco Rambo, de Alto Conventos, seguem para a lavoura de soja. No terreno íngrime, o uso de qualquer maquinário é inviável. Todo trabalho, do plantio à colheita, é manual. As plantas são cortadas com uma foice e colocadas em pequenos feixes. “Por dia uma pessoa consegue cortar até 20 sacas”, calcula Selgen. Após, são recolhidos com uma carroça e levados até a trilhadeira, instalada em um local plano. Neste ciclo, foram cultivados em torno de três hectares e a produção chegou a quase 50 sacas. “É difícil, dá muita dor na coluna, mas já estamos acostumados. Colhemos assim há mais de 50 anos”, conta Selgen. Ele recorda da época em que a cultura era a
principal fonte de lucro nas mais de cem propriedades rurais da localidade, a única agrícola de Lajeado. “Algumas famílias colhiam até 600 sacas por safra, tudo à mão. O trabalho sofrido
Por dia uma pessoa consegue cortar até 20 sacas Senésio Selgen, agricultor
fez os jovens buscarem emprego na cidade e, sem mão de obra suficiente, os pais abandonaram a atividade. Apenas eu continuo no plantio, isso até me aposentar.” O vizinho, com o qual troca serviço, trabalhou por 20 anos em indústrias e há dois voltou a se dedicar à lavoura após se aposentar. “Se tivéssemos uma área adequada para o uso de máquinas, com certeza poderíamos aumentar a nossa produtividade e reduzir o trabalho braçal.” Por ciclo, Rambo planta quatro hectares de milho, em duas etapas – silagem e produção de grãos. Tudo é destinado para a engorda de animais. Ele conta que a maioria das propriedades foi comprada por moradores da cidade e transformada em chácaras.
Diante da instabilidade, produtor diversifica Para manter a renda estável mesmo em épocas de crise, o produtor Otávio Reinaldo Hinrichsen (foto de capa), de Cruzeiro do Sul, aposta na diversificação. Além dos cinco hectares de soja, planta três hectares de aipim (duas mil caixas) e outros dez de milho-verde (40 mil espigas), ambos vendidos para a Ceasa de Porto Alegre. Neste ciclo, colheu 300 sacas de soja, vendidas a R$ 65 cada. No entanto, o resultado financeiro, mesmo com
o valor maior devido à valorização do dólar, ficará igual ao do ano passado em virtude do aumento nos custos. A área será mantida na próxima safra. Hinrichsen descarta qualquer tipo de investimento em máquinas ou financiamentos. “Não vou abrir mão da qualidade das sementes ou usar doses menores de adubos e agroquímicos. Até pretendo investir em esterco de galinha para melhorar a fertilidade do solo, pois disso depende parte do sucesso da lavoura.”
Viável pela mão de obra GIOVANE WEBER
Conforme o engenheiro agrônomo Nilo Cortez, antigamente todo serviço de plantio, controle de inço e colheita era feito à mão. As famílias mais numerosas garantiam a oferta de mão de obra para todas as etapas produtivas. As sementes eram de origem crioula. Em cada safra, os melhores exemplares eram selecionados e cultivados na época considerada a ideal, de acordo com a fase da lua. “Tinha gente para plantar no dia específico. Hoje, plantar assim é inviável.” Cortez destaca que havia um controle natural das lagartas e demais pragas nas lavouras de milho e soja, plantadas em consórcio nas mesmas áreas. “Existia pouco espaço para as mariposas voarem, o chão estava coberto e a presença de folhas e pendões atrapalhava. Ocorriam problemas apenas nas beiradas.” Com a expansão da área urbana, instalação de fábricas e abertura de vagas de emprego, os jovens deixaram o interior. As áreas planas foram arrendadas e todo serviço é executado com o auxílio de máquinas. A maioria das propriedades com áreas íngremes foi reflorestada ou se transformou em pastagem.
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Apetite chinês aumenta
De acordo com o engenheiro agrônomo e analista financeiro, Fernando Muraro, a China deve consumir uma média de 4,7 milhões de toneladas de soja em cinco anos. No mesmo período, a estimativa é que a América do Sul produza 7,5 milhões de toneladas do grão. “A diferença na oferta e demanda tornará o mercado de soja do ciclo 2015/16 escorregadio.” Para Muraro, o El Ñino contribuirá para a produtividade da soja e do milho no país, mas ganha vantagem o produtor que entender a relação oferta e demanda do ciclo e que saiba negociar o grão. “Diferente do que observamos em temporadas anteriores, estocar grãos não significa valorizar o produto. Alto estoque quer dizer menos chance de negócio e baixa volatilidade”, comenta. Ivan Wedekin, diretor da Wedekin Consultores, com uma das menores taxas de subsídio público do mundo, de apenas 4,4% de investimento governamental, quem atua no campo precisa encontrar alternativas para continuar produzindo com
A diferença na oferta e demanda tornará o mercado de soja do ciclo 2015/16 escorregadio Fernando Muraro, Engenheiro agrônomo
qualidade e menos recursos. “A saída é o crédito rural, que saltou de R$ 42 bilhões em 2005 para R$ 154 bilhões em 2015”. A estratégia parece estar funcionando. Não à toa, a produtividade nas lavouras mantém crescimento de 3,53% ao ano desde 1975 e o Brasil já é considerado referência em pesquisa e tecnologia no campo. A boa notícia é que o interesse da China por soja e milho deve crescer mais, já que os asiáticos apostam na expansão da produção de suínos e os farelos de milho e soja terão mais procura. Outra notícia boa para o produtor brasileiro, segundo o analista de mercado da Agrinvest, Marcos Araújo, é o excesso de chuvas na Argentina, cuja perda está estimada em até cinco milhões de toneladas. O clima adverso afeta a qualidade do grão no país, que é o maior exportador mundial de farelo e óleo de soja. Com esse cenário, os preços em Chicago podem ultrapassar os US$ 10 por bushel em curto prazo. O momento é positivo para fechar negócios. DIVULGAÇÃO
Cenário turbulento O cenário de incertezas confunde até especialistas. Analistas projetam o câmbio entre R$ 2,50 e R$ 5 ao longo do ano. Segundo o consultor em Agronegócio, Carlos Cogo, esse é o item que define a competitividade no mercado externo. Apesar de cotado próximo a US$ 11, preço bem mais baixo do recorde próximo a US$ 17 registrados em 2012, o valor da saca de soja na Bolsa de Chicago não deve sofrer novas quedas. Alerta para a ocorrência do La Niña, que historicamente oferece risco à produção de milho, soja, trigo, açúcar, algodão e café. “O inverno deste ano deve ser mais frio e menos chuvoso.” A área de cultivo de grãos deve crescer 1,3% em 2015/16, para 58,611 milhões de hectares, uma expansão de 760 mil hectares em relação aos 57,851 milhões de hectares de 2014/15. “Entre 2009 e 2016, houve uma expansão de 24,5% na área ou 11,5 milhões de hectares. A produção de soja, projetada pela USDA, está estimada em cem milhões de toneladas. A projeção de exportação, entretanto, foi elevada para 59,5 milhões de toneladas. A China consumirá 95,2 milhões de toneladas e as importações tendem a aumentar em 5,9% neste ciclo. Segundo Cogo, o avanço da colheita e da oferta interna, com o aumento da esmagamento, pressiona as cotações para baixo. No médio e longo prazo, os principais fatores que influenciarão os preços futuros são o clima durante o desenvolvimento da safra 2016/17 nos Estados Unidos, a demanda importadora por parte da China, as oscilações do dólar nos Estados Unidos e do real no Brasi.
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Processamento
Reflexo positivo no comércio Quando a safra é boa, todo mundo ganha. A soja gera um lucro que o agricultor vai gastar no comércio direto, comprando o que precisa para continuar no negócio, como máquinas agrícolas e fertilizantes. Sempre que pode, o produtor investe em novas tecnologias e maquinários. A última compra dele ajudou a manter os 40 empregos diretos gerados na Trator Peças Mário de Lajeado. “Dependemos de todos os investimentos feitos por eles, tanto como maquinários, peças, serviços. A retração dos
Produção em milhões de toneladas no RS 2011/12 – 6,52 2012/13 – 12,53 2013/14 – 12,86 2014/15 – 14,88 2015/16* – 15,60
negócios ocorreu pela oferta de crédito mais restrito e baixa confiança dos agricultores”, diz o diretor-comercial Fábio Nietiett. Apesar do cenário, o empresário está otimista e projeta aumento nas vendas a partir do segundo semestre. Argumento justificado pela safra recorde, preços estáveis e o fato de o agricultor precisar investir cada vez mais em tecnologia para amenizar a falta de mão de obra e garantir maior produtividade. “Os tratores e demais implementos avançam muito
Produtividade em mil quilos 2011/12 – 1,55 2012/13 – 2,71 2013/14 – 2,60 2014/15 – 2,83 2015/16* – 2,80
rápido. Ninguém mais fica com a máquina por 30 anos. Essa troca é feita a cada seis, tendo em vista a possibilidade de obter mais economia, rendimento e menos perdas.” A queda nas vendas era esperada, segundo Nietiett, tendo em vista o desempenho da economia, dificuldades de conseguir linhas de financiamento, juros mais elevados e a compra antecipada, já que em 2013 e 2014 a oferta de crédito era melhor com juros mais acessíveis e o produtor aproveitou para renovar a frota.
Área plantada 2011/12 – 4,20 2012/13 – 4,62 2013 /14 – 4,94 2014/15 – 5,25 2015/16* – 5,45
40,7 milhões de toneladas Exportação 55,3 milhões de toneladas Produção de farelo de soja 30,9 milhões de toneladas – 15,2 milhões de toneladas serão exportadas Produção de óleo de soja 8,07 milhões de toneladas – 1,5 milhão serão exportadas
Fonte – Conab, Emater e Abiove
Custo por hectare 2014/15 – R$ 2.355,06 2015/16 – R$ 2.788,47 * Projeção
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ropriedades leiteiras investem em aquecedores solares para ter água quente nas salas de ordenha. Ainda são poucas, mas revelam uma tendência, uma vez que tecnologia reduz os gastos com luz. Além disso, ela é ecologicamente correta. “Instalamos os painéis solares há uns quatro anos. Economizamos R$ 150 por mês. É uma energia limpa e gratuita, basta captar”, comenta Lucas Alves, de Arroio do Meio. A família foi uma das pioneiras a aquecer a água com a luz do sol e usá-la nos equipamentos de higienização. Instalado em cima da sala de ordenha, o reservatório térmico – com capacidade para 200 litros de água – e os painéis solares compõem um cenário cada vez mais comum tanto na cidade como no interior. Hoje, apenas 500 imóveis no Brasil utilizam o sistema de captação solar. Mesmo com o pequeno número de adeptos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que o país terá 700 mil residências produzindo a energia que consomem até 2024. Com o aumento de 70% na conta de energia, outro conjunto de painéis foi instalado no telhado da casa. “Usamos no chuveiro, na cozinha. O fogão a gás quase não é usado.” Antes do sistema, a água para higienizar os equipamentos da ordenha, duas vezes por semana, era aquecida com energia elétrica ou gás de cozinha. Conforme Alves, a capacidade de aquecimento é de até 80ºC. “O equipamento tem um termostato que desliga quando a água atinge a temperatura desejada. Não pode subir mais, pois prejudica a vaca.” Detalhe: na ausência do sol, a energia elétrica é ligada automaticamente para que a água aquecida alcance a temperatura ideal.
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Propriedades diminuem custo e melhoram a assepsia das vacas com água aquecida por coletores solares. Modelos custam entre R$ 150 e R$ 30 mil. Além de ambientalmente corretos, ajudam a reduzir a conta de luz no fim do mês.
Economia com o brilho do sol GIOVANE WEBER
ajuda a natureza com o destino correto das embalagens.” Para cada aquecedor solar, foram utilizados 300 litros de garrafas PET e 300 caixas de leite. A temperatura chega aos 42ºC. O custo médio de instalação é de R$ 150 por aquecedor. O sistema permite uma economia mensal de até 25% na conta de luz.
Mais informações
• A área onde serão instalados os painéis precisa receber sol mais que quatro horas por dia. • Contate um engenheiro para analisar a viabilidade. • O valor investido demora oito anos para ser ressarcido. • Não há seguro para o equipamento – caso algum item estrague, a empresa que fornece a energia elétrica não se responsabiliza pelo conserto.
Potencial
sem limites
O empresário Roberto Ammes, de Arroio do Meio, destaca que o potencial brasileiro da energia do sol não tem limites. Entre as vantagens de instalar sistema de energia térmica (água quente), cita a economia de energia elétrica entre 35% e 45% ao mês, conforto e pouca manutenção em comparação com aquecedores a gás. A instalação é feita em residências, salas de ordenha para limpeza dos equipamentos, refeitórios, vestiários e também piscinas. “O desconforto da água gelada é eliminado, mesmo após a época ideal para se tomar banho. Podemos aproveitar ela inclusive à noite, depois do serviço.” Entre os modelos, cita o sistema solar elétrico fotovoltaico, tendência mundial, integrado à rede onde cliente pode reduzir a conta pagando somente a taxa básica, gerando créditos para uso nos meses de maior consumo. O investimento é maior, mas o retorno financeiro é um dos destaques.
Alves instalou dois aquecedores. Economia na conta de luz chega a R$ 150 por mês
Aquecedor de garrafa PET A Epagri de Santa Catarina monta aquecedores utilizando canos de PVC, garrafas PET transparentes de refrigerantes de dois litros e caixas de leite. Conforme o extensionista Vilmar Henkemaier, do município de Rio Rufino, as garrafas PETs envolvem canos PVC e caixas de leite pintadas de preto para absorver o calor solar e aquecer a água que passa pelo sistema, sai da caixa em temperatura ambiente que lentamente se eleva, retornando para a caixa para ser distribuída para chuveiro, pia ou sala de ordenha. “Além de reduzir custos com energia elétrica,
Como funciona • A radiação solar “bate” nos painéis solares colocados no telhado de casas ou condomínios. Eles são compostos por células fotovoltaicas, que absorvem a energia do sol e fazem a corrente elétrica circular entre duas camadas com cargas opostas. • Os painéis “sugam” partículas de energia solar e as transformam em elétrons com a ajuda do equipamento inversor. Ele transforma a energia em eletricidade para ser utilizada em diversos fins, como acender uma lâmpada, ligar a televisão ou o ar-condicionado. • Com o uso de dois aparelhos, é possível medir o consumo da residência e a geração de energia. • O que sobra de energia gerada pode ser colocado na rede elétrica de abastecimento.