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Programa poderá reduzir em até 40% inadimplência na região
from A Hora - 13/06/2023
Desenrola Brasil foi anunciado pelo governo federal na última semana e deve entrar em vigor até julho. Serão negociadas dívidas de até R$5 mil de credores que recebem até dois salários mínimos
Julia Amaral juliaamaral@grupoahora.net
VALE DO TAQUARI
Ter restrições para compras de crédito é uma realidade de muitos brasileiros. Só em Lajeado, dos 63,9 mil CPFs ativos, 17 mil estão inadimplentes. O índice é o maior já observado na série histórica de quatro anos, conforme dados são da Boa Vista e mensalmente monitorados pela CDL Lajeado. O problema se repete em âmbito estadual e nacional. Como busca pela solução, o governo federal anunciou na semana passada o “Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas de Pessoas Físicas Inadimplentes: Desenrola Brasil”. Vinculado ao Ministério da Fazenda, um dos objetivos é facilitar a renegociação entre credores e endividados.
Conforme o professor de economia da Univates, Samuel de Conto, o número de devedores em Lajeado está bem abaixo da média brasileira. Entretanto, mesmo que o percentual de inadimplentes seja menor na região do que no país, o programa ainda deve beneficiar cerca de 40% dos inadimplentes regionais.
Na maior cidade do Vale do Taquari, a maior parte dos devedores são homens (50,1%) na faixa etária dos 30 e 34 anos (18,3%) com renda entre um e dois salários mínimos (40,3%). Em âmbito estadual, a predominância fica entre as mulheres com idade entre 25 a 29 anos e que recebem entre meio e um salário mínimo.
Desenrola Brasil
Serão duas faixas para negociação. Na primeira, pessoas que ganham até dois salários mínimos ou inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal – e que foram negativadas até 31 de dezembro de 2022 – poderão saldar suas dívidas de até R$ 5 mil.
Entrevista
O pagamento poderá ser à vista ou parcelado em até 60 meses, com desconto e juros mais baixos. A segunda faixa é destinada somente a pessoas com dívidas no banco, que poderá oferecer a seus clientes a possibilidade de renegociação de forma direta. Essas operações não terão a garantia do Fundo de Garantia de Operações (FGO).
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Certifica O
Mateus Souza mateus@grupoahora.net.br
Nesse caso, o governo oferece às instituições financeiras, em troca de descontos nas dívidas, um incentivo regulatório para que aumentem a oferta de crédito. O valor do incentivo ainda não foi anunciado.
Expectativa
Primeira das três etapas de execução do programa, a publicação da MP nº 1.176 produz efeitos jurídicos imediatos. A sua plena efetivação, no entanto, dependerá de aprovação do Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados e o Senado têm até 120 dias para apreciar o texto e votar a admissibilidade da conversão da MP em lei.
A expectativa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é que a iniciativa esteja em vigor em julho, permitindo a adesão de credores e devedores e a renegociação de dívidas.
VALE DO TAQUARI
Criado em outubro de 2021, o Arranjo Produtivo Local (APL) Alimentos e Bebidas completa hoje, 13, um ano de certificação por parte do governo do Estado. Uma plenária, às 18h, no auditório do Sesc Lajeado, vai debater as ações desenvolvidas neste período, bem como fará uma verificação do planejamento da entidade.
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A certificação, segundo a coordenadora do APL, Aline Eggers Bagatini, tem como objetivo fortalecer a cooperação e alavancar negócios nas empresas dos dois segmentos, bem como facilitar o acesso a crédito em instituições financeiras, participação de programas governamentais de incentivo, entre outros.
Além disso, nos últimos meses o APL recebeu adesões de empresas importantes do setor na região, como a Neugebauer, sediada em Arroio do Meio, a Divine e a Baldo, de Encantado, e a Biscobom Alimentos, de Mato Leitão.
Inovação no setor
A HORA - No país, são 71,4 milhões de pessoas em situação de inadimplência. O que leva a um número tão alto?
DE CONTO - A inadimplência sempre foi um fator determinante pelo baixo crescimento econômico, ou seja, ao invés das pessoas conseguirem poupar e investir, possuem dívidas e não conseguem fazer frente às suas despesas. Um dos motivos deste comportamento (inadimplência alta) atribuo aos períodos inflacionários da década de 1980 e primeira metade da década de 1990, onde os salários recebidos pelas famílias eram utilizados completamente após seu recebimento para evitar a perda de valor. Sendo assim, mesmo com a estabilização econômica com o Plano Real, em 1994, as famílias mantiveram os mesmos comportamen tos anteriores. Além dis so, o baixo conhecimento em finanças pessoais pelos brasileiros contribui para a pio ra desta situação. E por último, não menos importante, estamos ainda sentindo os impactos no nível de emprego, inflação, juros ocasionados pela pandemia.
Como você avalia o programa Desenrola Brasil? O que se espera para a economia?
DE CONTO - O Desenrola Brasil é um programa do governo federal com o objetivo de auxiliar os brasileiros a tornarem-se novamente adimplentes. Para isso, o governo será uma espécie de fiador dos acordos entre inadimplentes e instituições financeiras. A expectativa é de que 30 milhões de brasileiros voltem a ter o nome limpo, sendo aqueles com a renda mais baixa a tendência de serem os mais beneficiados. No programa ainda há uma outra modalidade objetivando a negociação direta entre inadimplentes e instituições financeiras, sem o intermédio do governo. A inadimplência provoca retração no consumo, desencadeando uma série de fatores negativos na economia, bem como, afeta significativamente a saúde mental das pessoas. Então, ações que visem a diminuição da inadimplência no país sempre são bem-vindas.
O APL Alimentos e Bebidas surgiu como um braço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CICVT), com empresas associadas às entidades vinculadas. Mesmo assim, possui autonomia em sua linha de atuação.
Conforme o presidente da CIC, Ivandro Rosa, o APL foi criado para melhorar o desempenho da região na área de alimentos e bebidas e pode beneficiar o Vale tanto a curto prazo, em questões mais urgentes, como a médio e longo prazo, sendo uma ferramenta de inovação.
“O alimento tem uma necessidade muito maior do que somente saciar a fome. Tem que ter um propósito de inovação, de atender algumas necessidades e estar alinhado com as novas tendências mundiais. É um olhar para o futuro do setor”, salienta.