Documento A Hora - 29 e 30/04/2023

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ENERGIA PARA O VALE

CARÊNCIAS, OPORTUNIDADES E ALTERNATIVAS

SUSTENTABILIDADE ARTICULAÇÃO

De uma rede precária, com quedas constantes no abastecimento energético, comunidade e líderes aumentam vigilância sobre prestação do serviço.

INVESTIMENTOS

Potencial hídrico da região para instalação de centrais hidrelétricas reduz dependência de Itaipu e, para o futuro, proporciona carga suficiente para acompanhar o desenvolvimento do Vale.

Avanço do sistema fotovoltaico, implementação de geração de energia a partir de resíduos orgânicos e projetos para instalação de parques eólicos indicam caminho para um futuro sustentável.

ABRIL /2023

NÚMERO DE USINAS

FOTOVOLTAICAS NA REGIÃO

PANORAMA REGIONAL DO SETOR DE ENERGIA

PRIVILEGIADO PELO

POTENCIAL HÍDRICO E OUTRAS FONTES

LIMPAS, O VALE IMPULSIONA PROJETOS DE GERAÇÃO

Ainda que toda energia gerada seja incorporada pelo sistema nacional, a região avança em iniciativas para buscar maior segurança na capacidade instalada. Desde a publicação do Grupo A Hora em 2016, intitulada “Luz sobre o Vale”, houve mudanças

significativas no cenário regional. A expansão do sistema fotovoltaico, novas subestações e aportes das empresas e cooperativas do setor contribuíram para este momento. A nova fase de investimentos aposta na diversificação de fontes energéticas e sustentabilidade.

USINAS E ÁREA DE ATUAÇÃO

CLIENTES POR CONCESSIONÁRIA E COOPERATIVAS

RGE

Certel

Certaja

Cerfox

CAPACIDADE INSTALADA

41,4 MW – fonte hidrelétrica

146 MW – energia solar

Hidrelétricas instaladas

Projetos de geração

Produção Capacidade de atendimento

2
Venâncio Aires
Certel
Certaja
Boqueirão do Leão
RGE Cerfox
PARQUE EÓLICO 42 MW 130 mil habitantes Corrêa PCH PEDRA BRANCA 4,1 MW 10 mil habitantes HIDRELÉTRICA SÃO PEDRO 4,1 MW 10 mil habitantes PCH MOINHO VELHO 4,1 MW 12,3 mil habitantes PCH VALE FUNDO 5,6 MW 16,8 mil habitantes PCH VALE DO LEITE 6,4 MW 16,8 mil habitantes CGH Boa Vista 0,7 MW 2,1 mil habitantes PCH Olaria 4 MW 12
mil habitantes
UEH Bom Retiro 35,1 MW 105 mil habitantes PCH RASTRO DE AUTO 7 MW 21 mil habitantes PCH SALTO DO FORQUETA 6,1 MW 18,3 mil habitantes
MUNICÍPIO POTÊNCIA INSTALADA EM MW Anta Gorda 3,4 Arroio do Meio 8,3 Arvorezinha 2,9 Bom Retiro do Sul 4,3 Canudos do Vale 0,4 Capitão 0,9 Colinas 1,6 Coqueiro Baixo 0,7 Cruzeiro do Sul 5,1 Dois Lajeados 1,5 Doutor Ricardo 0,6
8,2 Estrela 14,6
Vilanova 1,6
0,5
1,5 Imigrante 1,7 Lajeado 20,7 Marques de Souza 1,1 Mato Leitão 2,1 Muçum 1,6 Nova Bréscia 3 Paverama 2,1 Poço das Antas 0,7 Pouso Novo 0,4 Progresso 1 Putinga 1,3 Relvado 0,9 Roca Sales 2,8
do Sul 1,6
0,7
0,7
0,6
Encantado
Fazenda
Forquetinha
Ilópolis
Santa Clara
Sério
Tabaí
Taquari 6,8 Teutônia 9,4 Travesseiro
Venâncio Aires 24,4 Vespasiano Corrêa 1,9 Westfália 2,7
Vale do Taquari 146 RS 1,8 mil
Brasil 16,6 mil
Felipe Neitzke felipeneitzke@grupoahora.net.br
REPORTAGEM EXPEDIENTE COORDENAÇÃO EDITORIAL IMPRESSÃO ARTE E DIAGRAMAÇÃO
Filipe
Rodrigo Martini e Alexandre Miorim Grafica Uma/ junto à Zero Hora
Lautenir Azevedo Junior
Faleiro filipefaleiro@grupoahora.net.br Bibiana Faleiro bibianafaleiro@grupoahora.net.br

RESPOSTA FRENTE ÀS CRÍTICAS

A situação crítica enfrentada pela RGE decorre, em grande parte, da falta de investimentos em manutenção e modernização da rede elétrica. A infraestrutura da concessionária, que atende mais de 2,5 milhões de consumidores em 264 municípios gaúchos, é antiga e está sujeita a falhas frequentes.

Além disso, a concessionária enfrenta problemas para contratar mão de obra qualificada nas áreas de manutenção e reparo na rede elétrica. Com a concorrência de outras empresas do setor e a escassez de profissionais capacitados na região, a empresa tem tido dificuldades em garantir um serviço de qualidade para os clientes.

Levantamento da concessionária aponta que a maioria dos casos de interrupção no abastecimento de energia ocorrem devido a presença de vegetação, em especial, o plantio de eucaliptos, nas proximidades da rede elétrica.

Frente a essa informação, foi criada uma força tarefa entre as equipes da RGE para procurar moradores e orientar sobre os limites para o plantio desse tipo de árvore.

Sobre as críticas, a RGE afirma que trabalha para solucionar os problemas na rede elétrica da região. A empresa garante investir, tanto em obras de modernização em subestações quanto em aumento das linhas de transmissão. Sobre a mão de obra, mantém seleção permanente para contratar profissionais para atuar na manutenção da rede elétrica.

“MELHOROU MUITO, QUASE 100%”

Nas localidades do interior, áreas com mais deficiências no

atendimento da concessionária RGE, a constatação é que os investimentos ao longo de 2022 trouxeram um novo patamar. “A rede estava sucateada. Era poste de madeira pendurado, escorado. Ficava no improviso meses. Qualquer vento mais forte ficávamos dois a três dias sem energia”, relembra o presidente da associação de água de Arroio do Ouro, em Estrela, Ivair Spiecker.

Além da falta de energia, as quedas constantes impactavam o abastecimento de água, além de gerar despesas à associação. “Ano passado, tivemos de tirar umas três ou quadro bombas para levar

água às propriedades.”

Mas hoje, afirma Spiecker, o cenário é outro. “Melhorou muito, quase 100%”. Toda a rede foi trocada. Os postes de madeira foram substituídos, diz. “Agora é concreto e reforçado”. O serviço foi concluído em outubro. Passa por todo Arroio do Ouro, parte de Linha Delfina, Linha Figueira, até a barragem Eclusa de Bom Retiro do Sul.

COMUNIDADES RELATAM NOVA REALIDADE

“Se os temporais lá do fim de 2021 e início do ano passado fossem hoje, não teríamos nem metade dos problemas”, estima o produtor rural, Luiz Colleti. De acordo com ele, inclusive a potência da energia também aumentou. “Colocaram transformadores novos e a rede trifásica está muito mais presente.”

De acordo com ele, havia muita preocupação quando a RGE assumiu o serviço. Antes, a responsável era a AES Sul. “Falavam que ia piorar. Mas não foi o que aconteceu. Não tem nem comparação. O que foi feito por aqui, nunca tínhamos visto.”

Além da troca de toda a rede, também foram feitas manutenções pontuais, aumento de carga e limpeza com retirada de árvores próximas dos fios. Proprietários

foram comunicados a não plantar eucaliptos a menos de 10 metros da rede.

Produtor de árvores para extração, José Inácio Scheibel, confirma que o cenário hoje é diferente do ano passado. “Parece que toda a pressão fez efeito”. O agricultor de Estrela faz remissão às cobranças da comunidade e do município, que inclusive ingressou na Justiça para cobrar agilidade nas manutenções por parte da concessionária. “Não vi mais poste de madeira. Talvez tenha alguns ainda, mas em locais muito afastados. Se olhar a rede, não tem mais aquelas árvores perto. Esse era um dos grandes problemas por aqui.”

Em outras localidades com problemas históricos o relato é similar. Em Picada Canudos, Arroio do Meio, cerca de 30 famílias conviviam com quedas constante de energia. Muitos problemas ligados a queda de galhos e árvores sobre os fios.

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E REPRESENTANTES DA COMUNIDADE ORGANIZARAM FRENTE PARA ARTICULAR DEMANDAS COM A CONCESSIONÁRIA
INVESTIMENTOS CONCLUÍDOS
MUDARAM PATAMAR NA COMUNIDADE
ENTRE 2021 E 2022,
AUTORIDADES LOCAIS
PRODUTORES RURAIS DE ARROIO DO OURO, EM ESTRELA, AVALIAM MELHORIAS NO ABASTECIMENTO DE ENERGIA NO INTERIOR.
EM OUTUBRO
FILIPE FALEIRO

LUIZ

SE OS TEMPORAIS

LÁ DO FIM DE 2021

E INÍCIO DO ANO PASSADO FOSSEM

HOJE, NÃO TERÍAMOS

NEM METADE DOS PROBLEMAS.”

Morador da localidade, Adriano Luiz Schwingel, conta que havia uma cobrança da comunidade para melhorias desde 2020. Foram pelo menos 20 protocolos feitos na unidade de atendimento em Lajeado. As equipes fizeram as manutenções, limpeza e troca de postes na metade do ano passado. Depois disso, não houve mais relatos de interrupções recorrentes na localidade.

PARTE ALTA DO VALE

Na microrregião de Encantado, há histórico de problemas. O prefeito de Muçum, Mateus Trojan, avalia que houve evolução na situação do abastecimento de energia entre o verão de 2022 e este ano. “Em linhas gerais, foram feitas troca de redes, substituições de postes de madeira no interior e elevação da rede de energia para trifásica. Os últimos meses já mostram um cenário bem diferente.”

Ainda assim, algumas críticas seguem, em especial, para serviços de infraestrutura. De acordo com ele, o município solicitou a retirada de uma linha de abastecimento e de um transformador da praça central, para concluir a obra da rua coberta. “Fizemos o protocolo em outubro passado. Inclusive pagamos pelo serviço para ser feito de maneira mais ágil. Até agora, isso não foi feito e nos obrigou a revisar o fim da obra da rua coberta. Isso nos deixou bastante chateados, pois tratamos para ser rápido, recebemos a garantia que seria feito, e isso não aconteceu.”

No que se refere ao atendimento às comunidades, pelo diagnóstico do município, as localidades mais suscetíveis a queda de luz são Linha 20 de Setembro, 13 de maio, Linha Alegre e Barra das Contas. “No geral melhorou bastante. Nitidamente houve avanço no atendimento das nossas demandas.”

Na avaliação de Trojan, o cenário do ano passado, em que algumas

PLANO DE MELHORIAS

Nas audiências entre concessionária, órgãos de fiscalização e municípios, no ano passado, a empresa apresentou planos de trabalhos. Entre as promessas, destacam-se:

Compromisso com a limpeza e inspeção preventiva das redes;

Investimento de cerca de R$ 25 milhões em ações de manutenção e melhorias nos 28 municípios atendidos no Vale;

localidades chegaram a ficar uma semana sem energia, tende a não se repetir. “Talvez tenhamos algum problema pontual, em alguma localidade mais afastada.”

VIGILÂNCIA INSTITUCIONAL

A avaliação de que houve melhorias é referendada entre outros gestores públicos. A própria Amvat mantém um canal de diálogo com os prefeitos sobre o avanço nos serviços e sobre algum problema pontual.

O presidente da entidade e prefeito de Estrela, Elmar Schneider, adverte que o período com mais problemas de abastecimento acontecem de setembro a janeiro. “Em um primeiro momento, podemos, sim, dizer que o cenário é melhor do que os dos anos anteriores.

Talvez é possível termos alguns problemas, mas em pontos afasta-

dos e localizados.”

Além da vigilância de representantes dos municípios, também é seguida de perto por órgãos de fiscalização. O Ministério Público oficiou a RGE para elaborar um plano de ações para garantir luz aos clientes.

O documento foi apresentado em 2019, depois foram atualizados nos anos seguintes. O atual, feito em 2022, começou a ser implementado entre abril e maio do ano passado.

ANÁLISE REGIONAL

O presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Luciano Moresco, relata que a região enfrenta dois cenários no que se refere ao fornecimento de energia elétrica: clientes atendidos por cooperativas e pela concessionária RGE. Ele recon-

EM UM PRIMEIRO MOMENTO, PODEMOS, SIM, DIZER QUE O CENÁRIO É MELHOR DO QUE OS DOS ANOS ANTERIORES. TALVEZ É POSSÍVEL TERMOS ALGUNS PROBLEMAS, MAS EM PONTOS AFASTADOS E LOCALIZADOS.”

AINDA HÁ BASTANTE PARA AVANÇAR, EM ESPECIAL, NO ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR. NO ENTANTO, O ABISMO ENTRE RGE E OUTRAS CONCESSIONÁRIAS REDUZIU.”

EPISÓDIOS DE TEMPORAIS EVIDENCIAM FALTA DE MANUTENÇÃO E LIMPEZA DA REDE. MOBILIZAÇÃO REGIONAL PROVOCOU REAÇÃO DE CONCESSIONÁRIAS E FORÇAS-TAREFAS PELO INTERIOR

hece que a RGE assumiu uma rede defasada da AES Sul. Porém, ao mesmo tempo, não havia um plano para resolver os principais gargalos, como a estrutura de postes de madeira.

Moresco afirma que as melhorias implementadas pela RGE passaram por três momentos decisivos: a mobilização de clientes e autoridades regionais em cobrança por melhores serviços, a aproximação intermediada pelo Ministério Público e, por fim, a apresentação de um plano de investimentos.

Ele destaca que, após um temporal em setembro de 2021, as dificuldades enfrentadas foram o ápice e que a situação poderia ter sido evitada se a rede fosse mais sólida e estivesse preparada àquele cenário.

“Ainda há bastante para avançar, em especial no atendimento ao consumidor. No entanto, o abismo entre RGE e outras concessionárias reduziu.”

Na avaliação dele, as regras sobre modelo de concessão precisam ser revistas, pois falta uma atuação mais incisiva por parte das agências reguladoras, em especial da Agergs.

Moresco defende que as multas em caso de descumprimento dos contratos e por falhas na prestação do serviço sejam revertidas em investimentos para qualificação da distribuição, em especial às comunidades interioranas, as mais atingidas pelas oscilações de energia.

Troca de 5 mil postes de madeira por unidades de concreto. Em 2019, 44% dos postes na área de abrangência dentro do Vale eram de madeira.

Investimento projetado é de R$ 15 milhões nas trocas;

Instalação de 43 religadores telecomandados. A tecnologia possibilita manobras de transferência de carga, à distância, entre sistemas elétricos, e o isolamento de defeitos nas redes de distribuição;

RGE prometeu mais agilidade nos reparos da rede.

PRINCIPAIS CRÍTICAS

Precariedade das linhas de transmissão;

Falta de investimento para manutenção preventiva; Equipes de plantão sem conhecimento da região;

Demora para reestabelecer a energia.

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COLLETI AGRICULTOR DE ESTRELA ELMAR SCHNEIDER PREFEITO DE ESTRELA E PRESIDENTE DA AMVAT LUCIANO MORESCO PRESIDENTE DO CODEVAT DIVULGAÇÃO

SEGURANÇA ENERGÉTICA

EMPRESA E COOPERATIVAS ASSEGURAM INVESTIMENTOS

CONCESSIONÁRIA E PERMISSIONÁRIAS

PROJETAM, JUNTAS, INVESTIR MAIS DE R$ 190 MILHÕES

NESTE ANO. RECURSOS

INCLUEM CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA E MELHORIAS NA REDE

Aregião vive um momento de transformação no segmento da energia elétrica. Em meio aos gargalos que envolvem a estrutura de rede por parte de RGE, há iniciativas para ampliar a capacidade de geração e assegurar qualidade no serviço.

Para acompanhar o desenvolvimento da região, a concessionária e permissionárias mantêm plano de investimento que inclui a troca de postes, novas redes, ampliação de carga nas subestações e usinas de geração. Para este ano, o valor previsto supera R$ 190 milhões. Já para os próximos cinco anos, pode alcançar R$ 1 bilhão.

Das grandes apostas para o setor estão a usina hidrelétrica da Certel no Rio Taquari, entre Bom Retiro do Sul e Cruzeiro do Sul, além do parque eólico em estudo na região de Teutônia. Os investimentos milionários devem gerar

HOJE TEMOS 85%

DA CARGA SOBRE A REDE PRÓPRIA, ISSO FAZ COM

QUE TENHAMOS

AUTONOMIA NA

DISTRIBUIÇÃO E MENOR RISCO DE FALHAS”

energia para mais de 230 mil habitantes. Em relação ao atendimento dos clientes, as concessionárias também apostam na tecnologia para oferecer maior eficiência.

RGE ASSUME COMPROMISSO COM A REGIÃO

Frente às carências na rede de distribuição da RGE, a concessionária se comprometeu a investir pelo menos R$ 430 milhões até 2026. Na primeira fase do planejamento foram aplicados mais de R$ 100 milhões, o que incluiu a instalação de uma subestação em Arvorezinha.

PRECISAMOS OLHAR

O sistema de telecomando permite a ativação da rede de forma automática e remota. Além disso, devem aumentar os aportes na redundância da rede, o que faz com que as cidades tenham mais de uma fonte de entrada de energia.

CERTEL PREPARA CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICAS

Já para 2023, o volume de recursos deve ser mantido, conforme detalha o gerente de serviços comerciais Fábio Calvo. “Precisamos olhar para o cliente e elevar a qualidade da estrutura para um nível de segurança e confiabilidade cada vez maior.”

Calvo destaca que, para isso, há um plano arrojado que inclui deixar a rede com pelo menos 95% dos postes de concreto ou fibra nos próximos cinco anos. “Hoje temos cerca de 80% das estruturas de madeira substituídas. Só no ano passado trocamos na área do Vale do Taquari mais de 7,6 mil postes.” Em relação aos avanços tecnológicos, o gerente de serviços da RGE enfatiza a aplicação de recursos na instalação de religadores.

Deve iniciar no segundo semestre a obra da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Vale do Leite, no Rio Forqueta, entre Pouso Novo e Coqueiro Baixo. Para a implantação da usina, estão previstos R$ 45 milhões em 2023. Ao todo, durante o ano, a Certel deve destinar R$ 74,7 milhões entre geração, manutenção e melhorias de redes.

O complexo terá capacidade de gerar 6,4 megawatts (MW), energia suficiente para atender 16,8 mil associados. Já para o ano que vem, estão previstas as obras da hidrelétrica no Rio Taquari entre Bom Retiro do Sul e Cruzeiro do Sul. A partir da unidade serão produzidos 35,1 MW. O volume compreende demanda de 105 mil habitantes.

De acordo com o presidente da Certel, Erineo Hennemann, já houve a liberação da licença de instalação, porém ainda falta obter a outorga de autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Do nosso resultado de R$ 35 milhões, a maior parte, R$ 21,5 milhões, será destinada aos investimentos.”

Entre as melhorias desenvolvidas, estão o aumento de capacidade em subestações. O supervisor

de manutenção, Felipe Sonemann, diz que a medida vai aumentar a confiabilidade do abastecimento. “São equipamentos que oferecem melhor resposta.”

Ao mesmo tempo, ocorre a duplicação do circuito elétrico da subestação de Canudos do Vale. O eletricista de linha viva, Moisés Kich, observa a necessidade deste avanço por conta do aumento da demanda de energia. “A duplicação envolve 18 quilômetros de redes e 180 postes. É uma obra que proporcionará mais quali-

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PARA O CLIENTE E ELEVAR A QUALIDADE DA ESTRUTURA PARA UM NÍVEL DE SEGURANÇA E CONFIABILIDADE CADA VEZ MAIOR” FÁBIO CALVO GERENTE DE SERVIÇOS COMERCIAIS DA RGE
INVESTIMENTOS RECENTES
CENTRO
PARA
MELHORES
ASSOCIADOS”
NOSSOS
INCLUEM UM
ADMINISTRATIVO,
DAR
CONDIÇÕES AOS COLABORADORES E
CERTEL
NESTE ANO NOVA SUBESTAÇÃO AMPLIA CAPACIDADE E DIVULGAÇÃO
DIÓGENES LASTE PRESIDENTE DA CERFOX
PREPARA SUBESTAÇÃO PARA SUPORTAR CARGA DA USINA VALE DO LEITE, QUE DEVE SER CONSTRUÍDA

dade para associados de Canudos do Vale, Progresso e Boqueirão do Leão”, afirma.

CERFOX PRIORIZA MELHORIAS NA REDE

A Cooperativa de Distribuição de Energia Fontoura Xavier (Cerfox) atende, hoje, 34 municípios. No Vale do Taquari são 11, com 2,4 mil clientes. De acordo com o presidente da instituição, Diógenes Laste, 83% dos associados estão na área rural. Ele destaca que desde dezembro, a cooperativa adquire energia elétrica pelo mercado livre, além de ter comprado 5% da RGE.

Nos últimos dois anos, foram investidos mais de R$ 20 milhões em melhorias. “Nisso também está a construção de um centro adminis-

VALORES EM 2023

DO NOSSO RESULTADO DE R$ 35 MILHÕES, A MAIOR PARTE, R$ 21,5 MILHÕES, SERÁ

DESTINADA AOS INVESTIMENTOS”

A cooperativa Certaja, com sede em Taquari, mantém cronograma de investimentos neste ano. Estão previstos R$ 15 milhões para reforçar a demanda e acompanhar o desenvolvimento na sua área de atuação. Para o Vale do Taquari, o aporte de recursos representa R$ 5,7 milhões.

R$ 100 MILHÕES

• Troca de postes

• Instalação de religadores

• Ampliação de rede trifásica

R$ 74,7 MILHÕES

• Início das obras da hidrelétrica Vale do Leite

• Ampliação de rede

• Aumento de carga em subestações

trativo, para dar melhores condições aos colaboradores e atender os associados”, destaca Laste. Para este ano, a previsão é destinar R$ 10 milhões, para melhorias de rede e compra de equipamentos.

O presidente da Cerfox ainda destaca o treinamento de lideranças entre os associados, com a escolha de delegados representantes nas comunidades. Com isso, o objetivo da empresa é aproximar os clientes da instituição.

“Essa é uma questão importante, porque temos que ter a nossa cultura voltada ao interesse do nosso associado”. Laste também destaca o investimento da cooperativa em equipamentos, como um religador de energia, assim como redes de média tensão qualificadas.

Nos planos da instituição também estão outras duas hidrelétricas em fase de liberação por

meio da Fundação Estadual de Preservação Ambiental (Fepam). A proposta é para o Rio Forqueta, a Pedra Branca, e a São Pedro, entre os municípios de Arvorezinha, Fontoura Xavier e Putinga.

O projeto teve início em 2010 e foi trancado depois da paralisação das obras da usina em Arvorezinha, pela presença de um sapo raro e em risco de extinção no local. A iniciativa foi retomada em 2018 e a cooperativa faz adequações.

CERTAJA AMPLIA CAPACIDADE

Entre as principais obras programadas, está a instalação de um alimentador exclusivo para atender a demanda na nova fábrica da Fruki, em Paverama. De acordo com o vice-presidente Ederson Madruga, melhorias que representam mais segurança aos associados.

“Hoje temos 85% da carga sobre a rede própria, isso faz com que tenhamos autonomia na distribuição e menor risco de falhas. Dessa forma, permite melhorar as perspectivas para acompanhar o crescimento da região”, pontua Madruga.

Além disso, o vice-presidente da Certaja exalta o fato de oferecer o serviço com a terceira menor tarifa do estado. “Isso é fruto da compra de parte de nossa energia por meio de uma chamada pública, formato de leilão, onde adquirimos de forma muito mais barata do que a praticada até então”, pontua.

R$ 10 MILHÕES

• Compra de equipamentos

• Ampliação e melhorias em redes

R$ 5,6 MILHÕES

• Instalação de alimentador para demanda industrial

• Melhorias na rede de distribuição

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SEGURANÇA NA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA AOS ASSOCIADOS DA CERTAJA RGE INAUGUROU EM FEVEREIRO A SUBESTAÇÃO EM ARVOREZINHA. UNIDADE QUALIFICA ATENDIMENTO PARA MAIS DE 10 MIL CLIENTES
ERINEO JOSÉ HENNEMANN PRESIDENTE DA CERTEL COM INÍCIO DAS OBRAS PREVISTAS PARA 2024, INVESTIMENTO DA CERTEL DEVE DUPLICAR GERAÇÃO DE ENERGIA DA COOPERATIVA
DIVULGAÇÃO
EDUARDO DORNELES DIVULGAÇÃO

FUTURO DO SETOR

REGIÃO APOSTA EM ALTERNATIVAS

POTENCIAL DO VALE

DO TAQUARI FAVORECE PROJETOS DE USINAS COM GERAÇÃO A

PARTIR DA FORÇA

DAS ÁGUAS, DO VENTO, DO SOL E O APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS.

INICIATIVAS BUSCAM A AUTOSSUFICIÊNCIA E SEGURANÇA ENERGÉTICA

Aevolução tecnológica representa possibilidades de inovar a geração de energia elétrica e reduzir a dependência do modelo hidrelétrico e termelétrico. Além das soluções a partir de placas fotovoltaicas, a região avança em projetos de biomassa e eólica.

No segmento da energia solar, o setor cresceu mais de 2.000% em cinco anos. Diante do potencial da tecnologia, a geração instalada alcança 146 megawatts (MW).

Em paralelo, surgem projetos para o aproveitamento de resíduos orgânicos e da força do vento.

A geração a partir da biomassa é antigo debate regional, contudo poucas iniciativas evoluíram. Entre as unidades modelo estão a desenvolvida pela Folhito. O complexo de biogás construído em Estrela possibilita a autossuficiência em energia para a empresa e po-

tencial de vender o excedente.

De acordo com o empresário Rodolfo Lanius, a unidade também produz biometano, combustível para a frota da companhia. “No momento não compensa vender o excedente da energia elétrica, por isso, optamos em aproveitar o material orgânico para abastecer nossos veículos que usam o kit GNV.”

Segundo ele, assim como houve a popularização dos sistemas fotovoltaicos, a região possui grande potencial em gerar biogás. Essa pode ser também uma alternativa para transformar o passivo ambiental, que são os dejetos da produção de suínos e bovinocultura, em um ativo econômico.

FORÇA DO VENTO

Na busca pela diversificação de fontes de energia, a Certel investe em projeto de parque eólico. A torre de testes instalada em 2021 traz dados otimistas quanto à qualidade do vento e potencial produtivo. A partir dos primeiros resultados, a expectativa é que a usina possa gerar 42 MW, quantidade suficiente para abastecer 130 mil habitantes.

Para viabilizar o parque, a estimativa é investir cerca de R$ 400 milhões. “Falta pouco mais de um ano para finalizar os testes, mas já podemos perceber a viabilidade da usina. A intenção é instalar 10 torres em uma área a mais de 600 metros de altitude entre os municípios de Teutônia, Imigrante e Westfália”, reitera o presidente da Certel, Erineo Hennemann.

Segundo ele, entre as vantagens do sistema, estão a rápida instalação e durabilidade. “A geração por meio do vento é uma fonte limpa e

renovável, além de ser um material capaz de produzir energia por mais de 100 anos.”

Em relação aos impactos ambientais, destaca a necessidade da supressão localizada de vegetação. Ainda conforme Hennemann, o dano é mínimo. “Ao diversificar as fontes de energia, a cooperativa faz o melhor aproveitamento do potencial da região. Hoje, todos os nossos projetos são voltados às usinas de geração renovável.”

Embora ainda não esteja definido quando o parque será construído, a expectativa é que a partir de 2024, com o fim dos testes, possa ser implementado em curto espaço de tempo. Para isso, nos próximos meses deve avançar com a documentação em busca da liberação da agência reguladora e órgãos ambientais.

PRODUTOR INVESTE EM USINA DE BIOGÁS

Tornar a propriedade rural mais

sustentável foi o desafio do produtor Nestor Reckziegel, do interior de Paverama. Além de dar correta destinação aos dejetos da bovinocultura leiteira, havia a necessi-

dade de reduzir o custo com energia elétrica. Uma das alternativas encontrada foi a instalação de uma usina de biogás. Os dejetos gerados pelo rebanho de 180 vacas em lactação é canalizado e transferido ao biodigestor. A partir do processo orgânico, o gás alimenta o motor e gera energia para atender cerca de 60% da demanda da fazenda.

8
HENNEMANN PRESIDENTE DA CERTEL
AO DIVERSIFICAR AS FONTES DE ENERGIA, A COOPERATIVA FAZ O MELHOR APROVEITAMENTO DO POTENCIAL DA REGIÃO”
ERINEO
INVESTIMENTO
PARA
HABITANTES
CERTEL AVALIA GERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DA FORÇA DO VENTO.
É ESTIMADO EM R$ 400 MILHÕES EM USINA COM CAPACIDADE
ABASTECER 130 MIL
NESTOR RECKZIEGEL INVESTIU R$ 760 MIL EM COMPLEXO PARA GERAR ENERGIA A PARTIR DO SISTEMA DE BIOGÁS NÚMERO DE PLACAS FOTOVOLTAICAS CRESCEU MAIS DE 2.000% EM CINCO ANOS FELIPE NEITZKE

DE ENERGIA LIMPA E RENOVÁVEL

De acordo com Reckziegel, a implantação da unidade iniciou no ano passado, com investimento de R$ 760 mil, entre recursos próprios e financiamento. A expectativa é obter o retorno por meio da economia na conta de luz em até sete anos.

“Após quatro meses de operação é possível afirmar que o projeto atende os objetivos ambientais e financeiros.” Ainda assim,

DIVULGAÇÃO

Reckziegel destaca que o desafio está em aumentar a eficiência do sistema. A matéria orgânica gerada corresponde a menos de 80% da capacidade de produção do grupo gerador.

A partir da usina de biogás, o produtor reduziu a fatura de energia mensal de R$ 15 mil para pouco mais de R$ 5 mil. Segundo ele, há a perspectiva de ampliar a área de alojamento dos animais para operar na totalidade do sistema de energia.

APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS

Outra vantagem apontada para o sistema é o aproveitamento dos resíduos na irrigação das lavouras de milho. “A matéria orgânica sai do biodigestor e vai para lagoas onde é feito o aproveitamento nas áreas de grãos e pastagens. Isso reduz também a demanda por fertilizantes químicos”, observa Reckziegel.

O produtor ainda avalia investir no segmento de suínos. Segundo ele, os dejetos possuem maior capacidade de energia ao ponto de suprir toda a demanda da fazenda estimada em 20 MW por mês. “Eu poderia ter investimento em placas fotovoltaicas, mas o modelo do biogás traz um benefício ainda maior e deixa a propriedade

em dia no aspecto da responsabilidade ambiental.

VALE GERA 7,8% DA ENERGIA SOLAR DO RS

Alternativa para reduzir a conta de luz e contribuir na sustentabilidade, o mercado de energia fotovoltaica registra crescimento acelerado. Em cinco anos, o número de pequenas usinas geradoras na região saltou de 786 para 16,2 mil. Essas unidades somam mais de 146 MW em potência instalada.

As placas em residências, empresas, propriedades rurais e prédios públicos representam 7,8% da geração no RS. Entre as cidades do Vale do Taquari com maior número de sistemas está Lajeado. São mais de 2,9 unidades geradoras com capacidade de 24,4 MW. Na sequência está Venâncio Aires, com 2,6 mil usinas que produzem 20 MW. Os dados constam em painel da geração distribuída da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Desde 2012, a geração própria de energia solar já proporcionou ao RS a atração de mais de R$ 9,7 bilhões em investimentos. No mesmo período foram gerados pelo menos 54,1 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 2,9 bilhões aos cofres públicos, conforme dados da associação do setor.

OUTRAS FONTES GERADORAS

GEOTÉRMICA:

Usa o calor natural da terra por meio de poços geotérmicos. Países com mais uso dessa técnica são os Estados Unidos, Filipinas, Indonésia, China, Japão, Chile, México, França, Alemanha e Islândia.

É uma fonte de energia renovável e de baixa emissão de gases poluentes. No Brasil, não há uso desse modelo para gerar energia.

ENERGIA DAS ONDAS: A movimentação do mar é uma fonte de energia renovável, com grande

potencial de geração para áreas costeiras. Apesar de ser estudada desde 1890, o modelo não está disponível de forma comercial. A instalação dos equipamentos para gerar este tipo de energia aconteceu pela primeira vez em setembro de 2008, em Portugal, no Parque de Ondas da Aguçadoura. No Brasil, há uma experiência implantada em 2012, na Usina de Pecem, no Ceará. É a primeira na América Latina, com capacidade de produzir 100 MW com a força das ondas do mar.

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FELIPE NEITZKE PRESIDENTE DA CERTEL, ERINEO HENNEMANN (D), DESTACA ESTUDO PARA IMPLANTAÇÃO DE PARQUE EÓLICO
FELIPE NEITZKE

A HISTÓRIA DA ENERGIA NAS ÁGUAS DO VALE

A PARTIR DA DÉCADA DE 1920, AS PRIMEIRAS INSTALAÇÕES HIDRELÉTRICAS FORAM

IMPLANTADAS NA REGIÃO. AINDA HOJE, MUNICÍPIOS COMO ENCANTADO, TEUTÔNIA E PUTINGA GUARDAM VESTÍGIOS DAS PRODUÇÕES

Ahistória da energia elétrica no Vale do Taquari começa no século passado, pelas águas da região. O marco foi o ano de 1922, quando o técnico em Engenharia Industrial, Hans Wirz, instalou a primeira indústria de turbinas hidráulicas para pequenas hidrelétricas no estado, em Estrela.

Formado na Alemanha e com passagens pela Espanha e Argentina, Wirz também fabricava moinhos, engenhos de serra e bombas manuais. A primeira turbina foi comercializada em 1923, para José H. Prediger, em Arroio da Seca Baixa, em Imigrante.

Até 1977, 117 pequenas geradoras foram instaladas pela indústria de Wirz no Vale do Taquari. Ao todo, elas eram responsáveis pela geração de 2.365 kilowatt (kW). As pequenas instalações começaram a ser abandonadas nos anos de 1970, a partir da consolidação

da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), hoje área da Rio Grande Energia (RGE), e da criação das cooperativas de produção e distribuição de energia.

LUZ DAS 18H ÀS 22H

A região ainda apresenta vestígios do início das instalações elétricas pelo Vale. Em Encantado, a Lagoa da Garibaldi conta essa história. Construída na década de 1930, pela família Bratti, o local abrigava duas lagoas para gerar energia à cidade por meio de uma hidrelétrica. A ideia foi das famílias que moravam na Linha Garibaldi, Lambari e Santo Antão, que possuíam comércio e moradias ao longo do Arroio Lambari.

A construção das lagoas foi feita de forma manual. A primeira delas, há cerca de 200 metros acima da que é conhecida hoje. Irno

Augusto Pretto, 80, recorda que o avô, Augusto Pretto, e o pai, com 20 anos na época, auxiliaram na perfuração das rochas e na construção da estrutura. “Vinha muita gente à cavalo conhecer a hidrelétrica e ver como poderiam reproduzir”, conta.

Dos relatos da família, Irno lembra que a água era coletada dos morros vizinhos por meio de valas para se ter maior volume. Um túnel também foi feito entre a lagoa de cima e a de baixo para canalizar a água quando precisasse. Naquele início, os moradores da localidade tinham energia elétrica só à noite, das 18h às 22h.

“Quando veio a luz elétrica foi um evento inusitado”, conta Irno. Ele lembra que além de energia, a força da água da barragem também servia para criar ferramentas, com um martelo hidráulico e ferro em brasa.

A estrutura funcionou até 1958, quando parte da lagoa mais ao alto se rompeu e o abastecimento de energia passou a ser da hidrelétrica de Putinga. Anos mais tarde, a lagoa foi recuperada e a usina voltou a gerar energia por algum tempo, até ser desativada outra vez. As duas lagoas ficaram fechadas por anos, até a década de 1980, quando começou a se pensar em explorar o local como área de lazer.

A BARRAGEM E O MUNICÍPIO

Criada por volta de 1945, por uma sociedade anônima, a barragem de Putinga foi construída por meio de ações vendidas na comunidade. Naquela época, a Hidrelétrica Putinga SA era responsável por, além de abastecer a cidade, distribuir energia para as vilas vizinhas.

Foi assim por cerca de 10 anos, até um acidente em 1953. Morador da localidade, Glacir Victorio Gheno, 78, foi responsável pelo trabalho na barragem entre 1974 e 1998, a exemplo do pai, que também ocupou o ofício, e lembra do ocorrido daquele ano.

Era sábado, 12 de setembro, perto das 15h. O pai foi verificar o nível da água da barragem e viu que a estrutura estava cedendo, não aguentou a pressão e rompeu.

“Saiu água morro abaixo. O pai pegou o caminhão e desceu buzinando e gritando para quem estava nas margens do rio”.

O acidente fez estrago. Levou muitas casas, gado e plantações. Mas nenhum morador ficou ferido. A hidrelétrica foi reconstruída entre 1972 e 1973 e funcionou até o início dos anos 2000.

“O gerador era de 400 kilovoltampere (kva). Antes eram só lâmpadas. Depois começou a ter chuveiros,

motores, e lá por 98 a hidrelétrica não conseguia mais tocar toda a cidade”, conta Gheno. No tempo de funcionamento, a usina passou por leilão, em 1973, e foi administrada por uma empresa privada até a prefeitura readquirir as instalações. “Com o passar dos anos, os tubos da barragem começaram a perder a liga de cimento, enferrujaram e romperam todos os canos. Daí parou de funcionar”, recorda Gheno.

PROJETO QUER REATIVAR USINA

Há, por parte da prefeitura, a in-

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OBRAS DE UMA USINA EM ARVOREZINHA FORAM PARALISADAS DEVIDO AO SAPINHO-ADMIRÁVEL-DE-BARRIGA-VERMELHA, ESPÉCIE QUE SÓ EXISTE NO PERAU DE JANEIRO A LAGOA DA HARMONIA SURGIU COM A FINALIDADE DE REPRESAR ÁGUA PARA CONSTRUIR UMA HIDRELÉTRICA. NA ÉPOCA, REINOLDO ASCHEBROCK LIDEROU O PROJETO COM A AJUDA DE AGRICULTORES CONSTRUÍDA NA DÉCADA DE 1930, PELA FAMÍLIA BRATTI, A LAGOA DA GARIBALDI SERVIA PARA GERAR ENERGIA AOS MORADORES DA CIDADE.

tenção de reativar a usina. “Isso depende muito de um alto investimento e estamos buscando parcerias com a iniciativa privada”, ressalta o prefeito Paulo Lima dos Santos.

Ainda é preciso um planejamento de impacto ambiental, que envolve a Barragem Santa Lúcia, assim como o entorno da usina. “É um trabalho de várias frentes. Negociação de investidores, liberação ambiental”.

Para Santos, a obra ajuda a preservar a história da cidade, que pode ser conferida no museu do Parque da Usina, criado no local onde funcionava a antiga hidrelétrica.

NO PARQUE DA USINA, EM PUTINGA, RESTAM AS MEMÓRIAS DA ANTIGA HIDRELÉTRICA E DA CASA DE MÁQUINAS QUE FAZIA PARTE DA ESTRUTURA. GLACIR TRABALHOU NO LOCAL POR DUAS DÉCADAS

AS ORIGENS DA LAGOA NA ANTIGA HIDRELÉTRICA

Na década de 1950, outra lagoa foi criada, desta vez, em Teutônia. A Lagoa da Harmonia surgiu com a finalidade de represar água para construir uma usina hidrelétrica. Na época, Reinoldo Aschebrock liderou o projeto com a ajuda de agricultores.

A usina começou a funcionar em 24 de janeiro de 1950, atendendo 90 trabalhadores da vila e arredores.

Mais tarde, outra hidrelétrica foi construída e Teutônia passou a contar com uma potência instalada de 150 Kva, na época, suficiente para suprir todas as casas da cidade. Com o crescente desenvolvimento do sistema cooperativo de produção e consumo no estado, Aschebrock, então, fundou a Cooperativa de Eletricidade Rural de Teutônia Ltda (Certel), em 19 de fevereiro de 1956, que continuou abastecendo os 174 sócios-fundadores da cooperativa. A usina parou de forma definitiva em 1972, por não ter capacidade de produzir o suficiente para toda a população.

UM PROJETO

ESQUECIDO

Outra companhia criada na re-

CRONOLOGIA DA PRODUÇÃO ENERGÉTICA REGIONAL

1922

O técnico em Engenharia Industrial, Hans Wirz, instalou a primeira indústria de turbinas hidráulicas para pequenas hidrelétricas no estado, em Estrela.

1930

Construção da lagoa da Garibaldi e da hidrelétrica em Encantado.

gião alta do Vale foi a Cooperativa de Distribuição de Energia Fontoura Xavier (Cerfox), fundada em 1962, que tinha planos de instalar uma hidrelétrica em Arvorezinha, no Perau de Janeiro.

Funcionário da empresa há 38 anos, Vilson Siquelero lembra da história. O governo do estado havia permitido a construção em meados de 2010. “Começamos esse projeto e o meio ambiente validou, deram licença prévia. Construímos boa parte da rede que seria distribuída e tá tudo lá meio perdido”, conta.

Isso porque a obra foi paralisada para preservar o Sapinho-admirável-de-barriga-vermelha, descoberto em 2006 no município, no Perau de Janeiro. O animal existe apenas em um pequeno trajeto de 700 metros ao longo do Rio Forqueta, exatamente no lugar planejado para abrigar as instalações da hidrelétrica.

Em 2013, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), baseada em um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), reconheceu o risco de extinção do sapinho. Nos níveis regional e nacional, o reconhecimento do risco só veio, respectivamente, em 2014 e 2015, quando o projeto da hidrelétrica foi barrado.

De acordo com Siquelero, foram investidos entre 2 e 3 milhões de reais na construção da estrutura, hoje abandonada, e a Cerfox ainda aguarda ressarcimento. “Na época compramos terras, contratamos serviços para dar continuidade ao projeto”, recorda.

OPERAÇÕES ATUAIS

As usinas hoje em operação no Vale foram construídas a partir dos anos 2000 pela Cooperativa Certel. Em 2002, foi instalada a PCH Salto Forqueta, no Rio Forqueta, entre Putinga e São José do Herval. Três anos depois, a CGH Boa Vista, no arroio Boa Vista, em Linha Geraldo, em Estrela, uma repotencialização da usina Augustin, construída entre 1947 e 1949. A terceira é a PCH Rastro de Auto, no Rio Forqueta, entre São José do Herval e Putinga, criada em 2013. Juntas, as três hidrelétricas somam 13,4 megawatt (MW) e representam 5% dos cerca de 240 MW consumidos no Vale do Taquari. O percentual é considerado baixo diante do potencial hidrelétrico da região.

1945

Hidrelétrica Putinga SA foi criada por uma sociedade anônima. A estrutura era responsável por, além de abastecer a cidade, distribuir energia para as vilas vizinhas.

1947 A 1949

Construída a usina Augustin, no Arroio Boa Vista, em Linha Geraldo, em Estrela. A hidrelétrica fornecia energia ao curtume Augustin, algumas propriedades rurais e a uma pequena fábrica de esquadrias de madeira.

1950

Começou a funcionar a usina de Vila Teutônia.

1953

A barragem de Putinga rompeu e a cidade foi inundada. A estrutura foi reconstruída entre 1972 e 1973.

1956

Reinoldo Aschebrock fundou a Cooperativa de Eletricidade Rural de Teutônia Ltda (Certel), que continuou gerando energia elétrica para os 174 sócios-fundadores da instituição.

1962

A Cerfox foi criada em 9 de julho de 1962, incentivada pela falta de energia nos pequenos municípios do interior. Assim, um grupo de 16 pessoas criou a cooperativa que atende, hoje, 34 municípios.

1969

Criação da Cooperativa de Eletrificação Rural Taquari-Jacuí (Certaja). O objetivo era levar energia elétrica às propriedades rurais daquela área.

1970

As pequenas instalações começaram a ser abandonadas a partir da consolidação da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e da criação das cooperativas de produção e distribuição de energia.

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LUÍSA HUBER

PALAVRA DO

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: ARTIGOARTIGO

A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E A CONTRIBUIÇÃO DO BRASIL

DESAFIO DE ESTABELECER UM SISTEMA SUSTENTÁVEL E RENOVÁVEL

Chegamos a um momento da história em que não é mais possível adiar os planos e ações que busquem uma transição energética segura, justa e social, um pilar de sustentação para o futuro da humanidade. No Brasil, essa é uma agenda prioritária dentro do Governo Federal, em especial na atuação do Ministério das Minas e Energia.

A partir de 2023, após quatro anos de negacionismo, voltamos a ser um país empenhado em dar nossa máxima contribuição na redução das emissões de gases de efeito estufa no âmbito do Acordo de Paris e temos como meta anunciada pelo presidente Lula zerar o desmatamento até 2030.

O esforço brasileiro olha para o planeta como um todo, mas foca sua lente em nosso país, uma vez que a transição energética abre enormes oportunidades de retornos econômicos e sociais, com amplas janelas para a geração de empregos, o aumento da renda, um consumo sustentável e diversas outras oportunidades para nossa população.

O Brasil é reconhecido por possuir uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com mais de 85% de sua matriz elétrica com origem em fontes renováveis, contra uma média de 28% do restante do mundo. Nesse sentido, nosso país tem na geração de energia eólica, solar e na bioenergia um dos principais pontos de sustentação nesta mudança de paradigma exigida a todas as nações para que possamos combater os efeitos das mudanças climáticas.

Nosso projeto prevê investimentos da ordem de R$ 50 bilhões para realizar o maior programa de transição energética do país. Dentro desta iniciativa, estamos prevendo grandes leilões de transmissão, ainda em 2023, para o escoamento de energia eólica e solar das regiões com potencial

Um dos exemplos foi o lançamento, no final de março, do Complexo Renovável Neoenergia, no município de Santa Luzia, interior da Paraíba, que estende por uma área de 8,7 mil hectares. Trata-se do primeiro complexo associado de geração de energia renovável no Brasil que integra, de forma inovadora, a geração de energia eólica e solar, com um investimento de cerca de R$ 3 bilhões e capacidade de geração de 600 megawatts, suficiente para abastecer 1,3 milhão de residências por ano.

Outro ponto que terá atenção especial em nossa pasta diz respeito ao hidrogênio de baixo carbono, um campo enorme de potencial. Nossa meta é sermos um dos principais atores nesse mercado

e, para isso, já trabalhamos no aprimoramento dos marcos legais e regulatórios; na redução de barreiras aos investimentos voltados tanto para o mercado doméstico como para potencial de exportação; na aceleração do desenvolvimento tecnológico e redução de custos e no desenvolvimento regional e criação de empregos.

Nosso país é dono de recursos energéticos diversificados e abundantes. Possuímos escala de mercado, detemos capacidade de inovação tecnológica, mão de obra capacitada e temos uma longa tradição e liderança no campo das energias limpas. E temos potencial de crescer ainda mais em todos estes campos, oferecendo melhores serviços e mais oportunidades aos brasileiros e brasileiras.

Acima de tudo, estamos comprometidos no combate às mudanças climáticas e em uma transição energética rápida, eficiente e segura. A comunicação de todas as essas ações é fundamental para que o Brasil e o mundo estejam cientes de que a pauta ambiental voltou a estar no centro das discussões políticas do Governo Federal. Neste sentido, o trabalho do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, tem sido fundamental.

O tempo está passando e as mudanças climáticas pedem pressa. Segundo dados do relatório Estado do Clima Global 2022, da Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas, os últimos oito anos, entre 2015 e 2022, foram os mais quentes já registrados, com derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar tendo atingido níveis recordes em 2022.

Meses antes da publicação do relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um alerta chocante, em novembro do ano passado, durante a Conferência do Clima da ONU, a COP27, no Egito: “Estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé no acelerador”, sentenciou.

O momento é agora e exige uma aliança de forças em escala global, o Brasil está pronto para assumir seu papel de protagonista.

Ageração de energia elétrica é uma das principais atividades econômicas em todo o mundo. No Brasil, a produção hidrelétrica e termelétrica é responsável por grande parte da matriz energética do país. A dependência dessas fontes pode trazer consequências negativas, como o risco de apagões em períodos de seca, e a sobrecarga do sistema nacional, como houve nos anos 2000.

A geração hidrelétrica é considerada uma das fontes mais limpas e renováveis. No entanto, o país enfrenta uma grande dependência dessa fonte devido à quantidade de rios e bacias hidrográficas. Em períodos de seca, como ocorreu em 2021, a falta de água nos reservatórios das usinas pode levar à redução da produção de energia, colocando em risco a segurança energética da nação.

Além disso, a dependência da usina de Itaipu, que é responsável por uma grande parcela da energia produzida no país, pode levar a uma sobrecarga do sistema nacional de transmissão.

A produção de energia termelétrica atende as necessidades frente a alguma instabilidade. No entanto, essa fonte é considerada menos sustentável, pois precisa de combustíveis fósseis. Eleva a emissão de gases do efeito estufa e contribuem às mudanças climáticas. Além disso, a construção de usinas termelétricas requer altos investimentos em infraestrutura, o que pode ser um problema para um país com tantas mazelas como o Brasil.

Para garantir a segurança energética, políticas públicas são fundamentais incentivar a diversificação, com a im-

plantação de fontes de energia renováveis, como a energia solar, e a construção de pequenas hidrelétricas regionais. Essas fontes são menos vulneráveis e contribuem à descentralização da produção de energia, reduzindo a sobrecarga do sistema nacional de transmissão.

A regulação nacional é necessária para incentivar a adoção de modelos de geração de energia sustentáveis. Programas de incentivo devem ser criados para garantir a produção de energia limpa em residências, empresas e propriedades rurais. Além disso, é importante promover a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias limpas, como a solar e a eólica, para reduzir a dependência das fontes de energia tradicionais. Em suma, a geração de energia hidrelétrica e termelétrica tem importância. Ainda assim, é necessário diversificar a matriz, com a implantação de fontes de energia renováveis. Assim pode-se reduzir a sobrecarga do sistema nacional de transmissão e garantir a segurança energética. A regulação nacional é fundamental para incentivar a adoção de modelos de geração de energia sustentáveis e promover a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias limpas.

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FILIPE FALEIRO, JORNALISTA ALEXANDRE SILVEIRA, MINISTRO DE MINAS E ENERGIA Confira videoreportagem sobre o setor elétrico regional

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