Documento

Page 1

NOVEMBRO/2023

FREDERICO SEHN

A CARTA DO VALE ELMAR SCHNEIDER

TIAGO MICHELON

AMVAT

AMAT

ASSUMIMOS COMPROMISSO COM AS PESSOAS QUE SOFRERAM TANTO.”

A TRAGÉDIA NOS UNIU. VEMOS UM NOVO FORMATO VOLTADO À PREVENÇÃO.”

: E AGORA?

EVÂNIA SCHNEIDER

CHARLES ROSSNER

UNIVATES

AMTURVALES

TEMOS DIRETRIZES E, APESAR DAS NOSSAS DIFERENÇAS, BUSCAMOS AÇÕES CONCRETAS.”

TEMOS DE OLHAR PARA O RIO COM RESPEITO, POIS ELE NOS MOSTROU A FORÇA QUE TEM.”

DAIANI MARIA AVAT

AS ENTIDADES FORAM PROVOCADAS E SAÍMOS COM A ESPERANÇA DE QUE ALGO PODE SER FEITO.”

LUCIANO MORESCO CODEVAT

CRIAMOS EXPECTATIVAS. AGORA É ATINGIR OS PASSOS BÁSICOS PARA NÃO FICARMOS NO MESMO.”

JULIO SALECKER COMITÊ

DEVEMOS AMADURECER E ENTENDER A LEGALIDADE E COMO FUNCIONA O COMITÊ.”


2

SEMINÁRIO UNE REGIÃO PARA MITIGAR EFEITOS DAS CHEIAS REPRESENTANTES DAS INSTITUIÇÕES DO VALE, GESTORES PÚBLICOS, ALÉM DE ESPECIALISTAS DO PAÍS E DO RS, TRAÇAM OBJETIVOS DE CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZO PARA TORNAR OS MUNICÍPIOS MAIS RESILIENTES DIANTE DE EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS. DOCUMENTO ESPECIAL APRESENTA PRINCIPAIS PONTOS DA DISCUSSÃO QUE SEMINÁRIO OCORREU EM 14

OCORREU DURANTE

DE NOVEMBRO NA UNIVATES.

TODO O DIA 14

PAINÉIS E PALESTRAS

DE NOVEMBRO, NA

DESTACARAM POSSÍVEIS SOLUÇÕES

ANÁLISE TÉCNICA

de monitoramento, prevenção e alertas, além de projetos de construção de estruturas para reservar água e reduzir a velocidade das enchentes. Entre os destaques do movimento está a participação de todas as entidades regionais, dos setores públicos, representação do setor produtivo e de pesquisadores. Todos assumiram o compromisso de auxiliar no enfrentamento dos desafios relacionados às enchentes. Organizado pelo Grupo A Hora, em parceria com Amvat, Amat, Avat, Amturvales, CIC-VT, Codevat e Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas, o evento contou com o patrocínio da Caixa, Governo Federal e Corsan, além do apoio do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE).

A enchente de 4 e 5 de setembro foi a maior catástrofe climática da história gaúcha, com chuvas acima da média durante quatro dias nas cabeceiras do Rio Taquari. O episódio demonstrou o despreparo da sociedade para lidar com condições climáticas adversas. Neste sentido, o seminário se propôs a ir além da discussão sobre causas e vulnerabilidades. Também tentou ser propositivo, para busca de movimentos viáveis e concretos para melhorar a resposta regional. Como evidências, os painelistas e palestrantes destacaram algumas iniciativas fundamentais. Começar pela reorganização das defesas civis, revisitar os planos de contenção, e avançar com estudos sobre a bacia hidrográfica Taquari/Antas. Junto com isso, cobrar melhorias nos sistemas de monitoramento, de previsão e alertas. Para o futuro, os projetos de construção de estruturas para reservar água, visando

UNIVATES.

O

Seminário "Pensar o Vale Pós-Enchente" reuniu cerca de 150 participantes. Também foi transmitido ao vivo pela internet, nas plataformas digitais do Grupo A Hora (disponível no canal A Hora TV, no Youtube). Com o objetivo de discutir estratégias para reduzir os impactos das enchentes na região, o evento resultou na “Carta do Vale do Taquari”. O documento tem a ambição de traçar as metas de curto, médio e longo prazo para evitar mortes e prejuízos decorrentes de eventos climáticos extremos. Dentre os apontamentos estão a reorganização das defesas civis, planos de contenção, estudos sobre a bacia hidrográfica Taquari/ Antas, melhorias nos sistemas

PRODUÇÃO

EXPEDIENTE

REALIZAÇÃO

TEXTOS

Filipe Faleiro filipe@grupoahora.net.br

FOTOS

Frederico Sehn e Aldo Lopes

ARTE E DIAGRAMAÇÃO

Lautenir Azevedo Junior

COORDENAÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss Felipe Neitzke

reduzir a velocidade das enchentes.

PARTICIPAÇÃO O compromisso de entidades regionais, públicas e privadas, é crucial para um futuro mais resiliente. Inclusive o prefeito de Estrela e presidente da Amvat, Elmar Schneider, enfatizou a surpreendente agressividade da última enchente, que serviu como catalisador para a reflexão e a ação conjunta. Afirmação também presente nas análises do presidente da Amat, e prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon “Agora precisamos somar forças na busca pela prevenção. O principal intuito de todos nós é cuidar das pessoas.” “Apesar de nossas diferenças, das nossas opiniões divergentes, temos todas a representação do nosso Vale. Estamos aqui, olhando como podemos, de fato, ter ações concretas após o trauma”, resumiu a reitora da Univates, Evania Schneider.

IMPRESSÃO Grafica Uma/ junto à Zero Hora

PATROCÍNIO

EVANIA SCHNEIDER REITORA DA UNIVATES

APESAR DE NOSSAS DIFERENÇAS, DAS NOSSAS OPINIÕES DIVERGENTES, TEMOS TODAS A REPRESENTAÇÃO DO NOSSO VALE. ESTAMOS AQUI, OLHANDO COMO PODEMOS, DE FATO, TER AÇÕES CONCRETAS APÓS O TRAUMA”


3

COMPROMISSO DOCUMENTADO AO FUTURO

COMO RESULTADO DO SEMINÁRIO PENSAR O VALE PÓS-ENCHENTE, FOI ELABORADA A “CARTA DO VALE DO TAQUARI”. OS APONTAMENTOS SERVIRÃO DE BASE PARA AS DIRETRIZES COBRADAS PELA REGIÃO FRENTE ÀS AUTORIDADES PÚBLICAS DO ESTADO E DO PAÍS. CONFIRA O TEXTO NA ÍNTEGRA:

CARTA DO VALE DO TAQUARI Plano de prevenção e evacuação. Ampliar o Sistema de Informações e Monitoramento da Bacia Hidrográfica, modernizando as estruturas existentes e ampliando com novas estações de monitoramento. Isso deve acontecer em todos os pontos da bacia, fundamentalmente, os afluentes dos rios nos territórios que sofrem com inundações. Com melhorias na estrutura existente e instalação de novas estruturas, a previsão de enchentes precisa ser ampliada. Ou seja, o foco é a antecipação das informações, para a tomada de decisão. Responsabilidade: Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) • Trabalhar como Sistema de Gestão Integrado Regional, no qual entidades, municípios, Defesa Civil, entre outros, devam conformar uma rede colaborativa dos atores da Bacia, com visão regional. Perpassa o fortalecimento da Defesa Civil regional, com a construção de planos de contingência, planos de gestão de riscos e planos de gestão de desastres, com qualificação de equipes, sistema de informação e manutenção de estruturas para atendimento das populações atingidas. Assim perpassa: • Criar mapas hidro geotécnicos, mapas com cotas de enchentes, estudos hidrológicos, estudos de possíveis barramentos, estudos para preservação de margens e rios, sistemas de aviso e alertas de enchentes e preparação e simulações com a sociedade para enfrentamento dos desastres. • Criar planos de contingência para todos os riscos possíveis, como transportes, evacuação de hospitais, produtos químicos, análise de encostas, planos para gestão de secas, entre outros. • Levantar as áreas passíveis de inundação com base planimétrica da cidade, com o objetivo de subsidiar as informações dos órgãos de Gestão e Controle, para que os mesmos possam ter informações confiáveis na gestão da informação. Responsabilidade: municípios da Bacia, Defesa Civil e entidades regionais • Instalar Sistemas de acompanhamento e redundância nos municípios da Bacia Hidrográfica, com: • Identificação de marcas de cheias históricas e réguas convencionais em locais de fácil acesso, com objetivo de educar a sociedade; • Identificar, em locais de fácil acesso, como pontes, postes, espaços públicos, entre outros, níveis de referência de cotas do rio, cotas de alerta, atenção e inundações, com instalação de câmeras, para que toda sociedade tenha acesso; Responsabilidade: municípios da Bacia • Promover a Educação para o tema de Prevenção de Desastres, nas escolas e nas famílias, com programação de eventos, palestras, educação para a gestão do risco e treinamento da população afetada nos municípios. Construir uma cultura de simulados para identificar falhas, educar a população e promover a prevenção de desastres. Responsabilidade: municípios da Bacia e Defesa Civil

Ocupação das margens e mobilidade urbana. Desenvolver a fase C do Plano da Bacia Hidrográfica TaquariAntas, indicando as ações e projetos necessários e executar as ações necessárias para minimizar os impactos das enchentes vividas pela região. Responsabilidade: Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas e SEMA

Financiamento e ações para estruturas e movimentos de proteção.

• Promover ações de curto prazo que identifiquem as áreas de risco e promover ações para a realocação da população atualmente atingida pelas enchentes. Responsabilidade: municípios da Bacia, com apoio do Estado do RS

Constituir uma estrutura regional para captação de recursos públicos, recursos de organizações nacionais e internacionais, para operacionalização dos projetos e ações determinados nos planos regionais e municipais. Responsabilidade: municípios da Bacia, com apoio das entidades.

• Identificar ou revisitar as áreas de preservação permanente, áreas de ocupação de margens dos rios e arroios em áreas urbanas e rurais, e promover ações para adequação desses territórios, nas condições descritas abaixo: • Promover ações de recomposição da vegetação ciliar e da cobertura vegetal em áreas declivosas e próximo às nascentes. • Executar projetos e obras de estruturas para contenção de cheias. • Planejar o zoneamento de áreas inundáveis e executar estudos de normas quanto ao uso do solos mais condizentes com a convivência com as cheias. • Localizar e mapear áreas com problemas de erosão laminar, drenagens assoreadas e áreas suscetíveis à poluição, identificando e minimizando atividades causadoras. • Disciplinar o uso dos solos na agropecuária. Responsabilidade: municípios da Bacia, Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas.

• Articular institucionalmente a região e seus atores, para consolidar as entidades de representação regionais, que promovam o desenvolvimento do Vale do Taquari, especialmente o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica TaquariAntas, com participação efetiva dos prefeitos e vereadores nas decisões. Responsabilidade: municípios da Bacia e entidades regionais

• Planejar os municípios da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, adequando ou readequando os planos diretores ou planos municipais, levando em conta as adaptações e a resiliência necessária às mudanças climáticas que acontecem na atualidade. Responsabilidade: municípios da Bacia, com apoio do Estado do RS


4

LIÇÕES DO SEMINÁRIO

DESPREPARO REGIONAL E ESTADUAL REQUER PLANO INTEGRADO

A

necessidade de qualificar o centro estadual de monitoramento, associado as carências da Defesa Civil são gargalos que precisam ser superados. Por outro lado, ações e projetos desempenhados em outras regiões do país e do mundo mostram caminhos para seguir. O Subchefe da DC no Estado, o coronel Marcus Vinícius Gonçalves Oliveira, destacou algumas deficiências. “O tamanho da Defesa Civil significa o tamanho do sofrimento que se quer evitar para a população. Devemos olhar para cidades como Blumenau e avaliar como estamos organizados para oferecer respostas eficientes”, ressaltou o coronel. Sobre gestão e coordenação regional, o militar reconheceu a necessidade de melhorias, em especial na determinação de uma grande liderança. Em cima disso, sugere uma revisão sobre a função dos coordenadores municipais. De acordo com ele, só se pensa em Defesa Civil para reagir no momento da adversidade. “Quando entramos em contato, é fundamental entender qual é o escopo da situação. Se o coordenador da Defesa Civil está cortando um galho de árvore, quem está gerenciando? O coordenador deve ser um gestor que chefia, coordenando os esforços públicos do município e das organizações setoriais para uma resposta eficiente.”

CENTRO REGIONAL Para o ex-diretor do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), e atual integrante do Departamento para o Clima e Sustentabilidade, Osvaldo Moraes, é necessário um Centro de Defesa Civil completo, tanto na região quanto na estrutura estadual. Ele destaca a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, unindo especialistas em meteorologia, geologia e ciências sociais. “É indispensável que tenhamos especialistas que compreendam os sinais para evitar tragédias. Os desastres não são apenas eventos extremos, mas o impacto na vida das pessoas. Precisamos entender a vulnerabilidade de onde esses eventos ocorrerão.” A proposta destaca a importân-

OSVALDO MORAES EX-DIRETOR DO CEMADEN

É INDISPENSÁVEL QUE TENHAMOS ESPECIALISTAS QUE COMPREENDAM OS SINAIS PARA EVITAR TRAGÉDIAS. OS DESASTRES NÃO SÃO APENAS EVENTOS EXTREMOS, MAS O IMPACTO NA VIDA DAS PESSOAS.”

Cemaden, tínhamos profissionais que estudaram em Pelotas, em Santa Maria e outras universidades. Precisamos ter estruturas para esses técnicos também ficarem por aqui.”

AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO

MARCOS OLIVEIRA SUBCHEFE DA DC DO RS

O TAMANHO DA DEFESA CIVIL SIGNIFICA O TAMANHO DO SOFRIMENTO QUE SE QUER EVITAR PARA A POPULAÇÃO. DEVEMOS OLHAR PARA CIDADES COMO BLUMENAU E AVALIAR COMO ESTAMOS ORGANIZADOS (...).”

cia de uma sala de operações estruturada, indo além da meteorologia, como Walter explicou: “não é apenas sobre prever o clima; é sobre ter um conjunto interligado de conhecimentos.”

REALIZAÇÃO

Em outras instituições e departamentos do país, muitos dos especialistas são gaúchos. “Em Blumenau, vimos que são profissionais formados nas nossas universidades. Em Brasília, quando atuei no

As características das localidades e como se antecipar aos riscos. Dois aspectos que podem ser trabalhados dentro das salas de aula, defendeu Moraes. Desde a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011, com mil pessoas mortas, o país se deparou com um dilema: não havia plano de proteção. “Precisávamos ir além da ajuda humanitária”, relembrou. Assim se formou o Cemaden, como uma tentativa de se tornar um órgão científico, para além da duração de mandatos governamentais, e ser uma instituição de Estado. Como primeiro desafio, o estabelecimento de sistemas de monitoramento e alerta robustos, integrados com as áreas mais vulneráveis. Esse movimento, acredita, foi ao encontro da compreensão de como o gerenciamento de riscos precisa ser em nível coletivo e também individual. Justo neste contexto entra a consciência so-

cial e os programas de ensino nas escolas. “A criança tem um papel fundamental. Ela tem o poder de levar a informação para casa e conscientizar a família.”

IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO Junto com a educação, outra ferramenta indispensável é a comunicação. “Os alertas por SMS são uma bobagem. A comunicação é um sistema amplo que precisa ser aprofundado e envolve um processo educativo. As pessoas precisam não apenas receber alertas, mas acreditar neles e entender como agir.” Acreditar nas informações passa por dotar órgãos públicos e instituições de conhecimento, com facilidade de acesso e objetividade nos alertas. Esses sistemas complexos de prevenção, monitoramento, alerta e socorro precisam de conhecimentos distintos, desde hidrologia, geologia, meteorologia, passando por ciências sociais e assistência técnica às famílias vulneráveis. Para Osvaldo Moraes, as abordagens de conhecimentos divergentes na verdade se complementam. Essas evidências, disse, comprovam a importância de equipes especializadas.


5

EVENTO COM REPRESENTANTES DE

APRENDIZADO DEPOIS DO DESASTRE Blumenau, em Santa Catarina, se tornou referência nacional por uma série de investimentos, desde obras estruturais, com diques e barragens, até as chamadas medidas não estruturais, no campo da organização social e do conhecimento.

ASSOCIAÇÕES E ENTIDADES APONTOU FALHAS E PRIORIDADES NA PREVENÇÃO DE CHEIAS

O secretário de Defesa Civil do município, Carlos Olimpo Menestrina, apresentou como se deu o

caminho para que a cidade sofresse menos com enchentes e deslizamentos de terra. Entre os marcos históricos, menciona a enchente de 1983. “Foi a mais longa da nossa história. Foram 32 dias com a cidade embaixo d’água. Tivemos prejuízos em todas as áreas. Perdas materiais das famílias, das nossas empresas, no emprego.” O resultado foi famílias deixando áreas de várzea e subindo os morros. Sem um controle de como essa habitação ocorria, o próximo episódio ficou marcado como a principal tragédia em 174 anos do município catarinense. Em 2008, a enxurrada provocou deslizamentos. Como resultado, 24 mortes, cerca de 2,1 mil construções danificadas ou destruídas, quase 25 mil pessoas tiveram de deixar suas casas. Como medida protetiva, 62 abrigos foram ativados. “Pessoas ficaram sem casa por dois anos. Nos propusemos a pagar o aluguel social, mas não tinha espaço. Não tinha onde elas morarem”, relembrou Menestrina. Foi neste momento que se iniciou a implantação dos planos de prevenção e contingência. “Isso que o Vale do Taquari faz hoje (terça-feira), foi o que fizemos há 15 anos.” Dentro das estratégias, recursos para qualificação da Defesa Civil. Hoje a secretaria tem 44 servidores técnicos, divididos em três diretorias (gestão de risco e desastres; geologia e análise de risco; e meteorologia). Outro destaque do secretário é o comprometimento da sociedade. “Hoje a nossa comunidade sabe o que fazer antes e depois. Tudo está mapeado e à disposição das pessoas. Tanto que eles não se preo-

cupam mais quanto o nível do rio vai chegar. Blumenau aprendeu a ser resiliente e cada cidadão tem seu próprio plano de ação.”

PLANEJAMENTO E VONTADE POLÍTICA A lição de Blumenau se sustenta em uma abordagem abrangente para enfrentar eventos climáticos adversos, com um detalhamento dos riscos e vulnerabilidades. Em cima disso, frisou a importância do planejamento, da decisão governamental (vontade política) e da resiliência comunitária. “O grande segredo está no planejamento, na capacidade de sentar e conversar com diversos setores. Em Blumenau, contamos com a expertise da universidade, que desempenha um papel funda-

mental. Isso vocês têm aqui com a Univates”, ressaltou Menestrina. Com pessoas qualificadas para antecipar os perigos e analisar as áreas suscetíveis, se consegue estabelecer, passo a passo, quais os rumos para proteger a população e mitigar prejuízos materiais. Menestrina enfatizou que o planejamento é um processo contínuo, que envolve a alocação estratégica de recursos e a definição de projetos específicos.

Ensinamentos

CARLOS MENESTRINA DEFESA CIVIL DE BLUMENAU

O GRANDE SEGREDO ESTÁ NO PLANEJAMENTO, NA CAPACIDADE DE SENTAR E CONVERSAR COM DIVERSOS SETORES. EM BLUMENAU, CONTAMOS COM A EXPERTISE DA UNIVERSIDADE, QUE DESEMPENHA UM PAPEL FUNDAMENTAL.”

A palestra do secretário Menestrina também contou com a participação do prefeito de Blumenau. Confira alguns apontamentos da experiência do município catarinense que podem auxiliar o Vale do Taquari: Prevenção e Parcerias: Ênfase na importância da educação como ferramenta fundamental. Parcerias com universidades e instituições estrangeiras para fortalecer a capacidade de prevenção e resposta. Desafios Contínuos e Resiliência: Discussão sobre planos de ocupação de áreas de risco. Apresentação de estratégias para lidar com desastres, incluindo planos de contingência. Formação de um consórcio regional para qualificação das defesas civis. Decisões Políticas e Proteção à Vida: Ênfase na importância das decisões políticas para o avanço das ações de prevenção. Priorizar a preservação da vida e depois dos bens materiais. Conclusão:

NO PRIMEIRO PAINEL DO SEMINÁRIO, SUBCHEFE DA DC DO ESTADO, MARCOS

PATROCÍNIO

OLIVEIRA, ENALTECEU A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO VOLTADO À PREVENÇÃO

Análise contínua sobre a eficácia das medidas adotadas. Decisões embasadas em dados técnicos.


6

MEDIDAS ESTRUTURANTES

BARRAGENS, DRAGAGEM E REVI DAS CIDADES: SOLUÇÕES APONT

C

onhecer os cursos d’água, o tipo de solo, a situação dos corredores ecológicos nas margens do rio é o ponto de partida para se pensar no que fazer em termos de melhorias estruturais ao longo dos municípios do Vale do Taquari. A enchente de setembro colocou em xeque tanto as previsões dentro dos planos diretores, com as cotas de nível, quanto a acessibilidade. A principal ligação entre a região e a capital, na ponte do Rio Taquari, precisou ser interditada para análise estrutural. Alguns afirmam que mais meio metro de água seria suficiente para levar a passagem entre Lajeado e Estrela. No segundo painel, especialistas orientam quais os principais desafios tanto para garantia da mobilidade nos municípios e localidades, quanto para redução na velocidade da chegada da água.

ROGÉRIO PORTO GEÓLOGO E ECONOMISTA

A IDEIA É CONTER A ÁGUA, E AS BARRAGENS SÃO INDISPENSÁVEIS. PRECISAMOS PENSAR GRANDE; UMA BARRAGEM COM 500 HECTARES DE ÁREA ALAGÁVEL EXIGIRIA CERCA DE 80 BARRAGENS PARA SEGURAR CHUVAS DE ATÉ 500 MILÍMETROS.”

DRAGAGEM E AS BARRAGENS Geólogo e economista, ex-secretário estadual de Meio Ambiente durante o governo de Yeda Crusius, Rogério Ortiz Porto, iniciou com uma retomada histórica sobre o sistema Norte-Americano contra cheias, criado em 1882. Nos EUA, a primeira regra era que em áreas de alto risco era proibido morar. Quem se instalasse não teria cobertura do Estado, ou seja, estava por sua conta e risco. Para a região, destacou a necessidade de reduzir a velocidade da chegada da água. “No Vale, temos 53% de cobertura vegetal e 31% de campos nativos, então o manejo do solo é muito relevante.” Neste sentido, as florestas nativas têm um papel crucial.“Elas controlam as chuvas que descem. Só que a bacia vem do planalto, e essa água escorre muito rápido.” Também reforçou a importância da dragagem. “Os cursos são estreitos. Então a dragagem é essencial para garantir o fluxo adequado.” Ele destacou a importância das grandes e pequenas barragens. “A ideia é conter a água, e as barragens são indispensáveis. Seria 80 barragens para segurar chuvas de até 500 milímetros.”

PESQUISADORES, AUTORIDADES PÚBLICAS E REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA BUSCAM REFERÊNCIAS PARA ORGANIZAR AÇÕES REGIONAIS

MUDANÇAS CLIMÁTICAS A secretária estadual de Meio

REALIZAÇÃO

Ambiente (Sema), Marjorie Kauffmann, alertou sobre o aumento da incidência de episódios meteorológicos extremos. Desde os três anos de seca, com bilhões em prejuízos ao setor produtivo, até hoje, com as chuvas permanentes trazidas pelo fenômeno El Niño. Pela previsão da Sema, a equipe de meteorologia do Estado acredita em chuva acima da média até março. Tanto que novas enchentes em diversas localidades gaúchas continuam no radar da Sala de Situação. Tal condição, disse Marjorie, exige urgência de planejamento e resiliência diante dos impactos crescentes das mudanças climáticas. Natural de Lajeado, a secretária afirmou: “embora nossa co-

munidade conviva com enchentes ordinárias, agora enfrentamos um evento extraordinário. Estamos vivenciando os primeiros efeitos críticos e, acreditamos que mais frequentes das mudanças climáticas”, destacou Marjorie. Desde 2010 os especialistas gaúchos e das instituições federais de monitoramento afirmam que o Rio Grande do Sul é um corredor vulnerável do país. Ciclones extratropicais, frentes frias estacionárias (como a que causou o alto volume de chuvas na bacia do Rio Taquari no início de setembro), em contraste com as secas. Episódios que sempre aconteceram na história. Agora com mais regularidade pelos efeitos do aquecimento global. Conviver com tais períodos obriga resiliência, entende a secretária. Conforme Marjorie, o Estado mapeou pelo menos 600 áreas gaúchas como vulneráveis. São mais de 60 municípios. “Poucos têm planos de contingência. Precisamos de planejamento, em todos

os níveis. Aos municípios é preciso reavaliar as áreas atingidas, talvez refazer os planos diretores, inclusive com novas cotas e com um arranjo viário com mais mobilidade e segurança em eventos extremos.”

REGIÃO INTERLIGADA Para resolver os problemas, a abordagem deve ser regional. Essa defesa da secretária de Meio Ambiente vai ao encontro do entendimento dos gestores locais. No comitê composto por três prefeitos, as constatações apontaram para esse norte. Marjorie detalhou os movimentos dos municípios desde a enchente e enalteceu a importância de se continuar com essa união regional. “Estamos todos conectados. O que acontece em Arroio do Meio impacta em Lajeado, em Estrela. Precisamos de um planejamento unificado e estratégico.”


7

ISÃO TADAS

AUGUSTO ALVES PROFESSOR DA UNIVAES

QUANDO SE FALA EM DECIDIR, EXISTE O ASPECTO POLÍTICO TAMBÉM. NEM TUDO QUE FOR EXIGIDO VAI SER ATENDIDO. NÃO É LÁ E NEM CÁ. A SOLUÇÃO ESTÁ NO MEIO TERMO.”

MARJORIE KAUFFMANN SEC. DE MEIO AMBIENTE DO RS INUNDAÇÃO DE SETEMBRO NO VALE FOI A MAIOR TRAGÉDIA NATURAL DA HISTÓRIA DO RS

AOS MUNICÍPIOS É PRECISO REAVALIAR AS ÁREAS ATINGIDAS, TALVEZ REFAZER OS PLANOS DIRETORES, INCLUSIVE COM NOVAS COTAS E COM UM ARRANJO VIÁRIO COM MAIS MOBILIDADE E SEGURANÇA EM EVENTOS EXTREMOS.”

MEIO TERMO Professor de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Augusto Alves, expressou satisfação pelas diferentes análises apresentadas no seminário. “Parece que todos já falaram o que eu tinha pensado. Isso é muito positivo, pois temos uma visão compartilhada sobre a necessidade de enfrentar os desafios. Partimos da certeza sobre a importância de estudos aprofundados, e reconhecemos a complexidade de tudo isso.” Neste contexto, sublinhou que qualquer solução precisa de discussão, de análise da comunidade e, quando há conflitos, precisa prevalecer a análise técnica. Como exemplo, citou os parques de Lajeado, locais antes habitados e agora destinados para espaços públicos. “A ocupação da beira do rio, os parques feitos em Lajeado, fun-

PATROCÍNIO

cionam como áreas de descompressão da cidade. Lá não houve prejuízos. Foi barro. A limpeza resolveu.” Em cima disso, continuou: “essa análise é complexa. Em Estrela, e isso não é uma crítica, o parque, lindo feito lá, foi destruído. Agora, pergunto: é seguro ou não para investir? Saber disso é muito difícil.” Ele enfatizou que o planejamento urbano envolve aspectos técnicos e políticos, destacando a importância de considerar eventos extremos. “Quando se fala em decidir, existe o aspecto político também. Nem tudo que for exigido vai ser atendido. Não é lá e nem cá. A solução está no meio termo”.

SEGUNDO PAINEL DO SEMINÁRIO SE CONCENTROU NAS ANÁLISES CLIMÁTICAS E TAMBÉM NA PREVISÃO DE OBRAS ESTRUTURANTES NA BACIA

Análise técnica Projeto de Rogério Ortiz Porto, com enfoque na construção de barragens: Zoneamento de Risco: A ênfase no manejo do solo se relaciona com a cobertura vegetal e a topografia da região. Nas margens, há 75% de ocupação vegetal.

Barragens: Seriam 80 ao longo dos 14 mil quilômetros de cursos d’água do Rio Taquari e seus afluentes. Reservação de Água e Geração de Energia Elétrica: As contenções teriam três funções. Controle da velocidade da água, reserva em períodos de estiagem e geração de energia elétrica.


8

ORGANIZAÇÃO REGIONAL

ESTUDO TÉCNICO ANTES DE PROJETAR INTERVENÇÕES

N

Collischonn enfatizou a importância da regulamentação das áreas ocupadas e alagadas por meio de uma gestão mais eficaz. Junto com isso, um esforço conjunto para monitoramento, previsibilidade e sistemas de alerta, com o uso de tecnologias que permitam uma antecipação mais precisa sobre o impacto dos eventos climáticos.

a bacia hidrográfica do Taquari/Antas, há 119 municípios. Em número de cidades, é a maior do país. Pelo limite das cidades, há diferentes regras para uso do solo e também com áreas habitadas dentro de terrenos alagáveis. Cenário que demonstra como a expansão urbana é feita sem considerar conhecimento técnico regionalizado. A partir disso, a legislação nacional e estadual prevê que qualquer obra de infraestrutura que interfira no funcionamento dos cursos d’água precisa estar embasado no chamado Plano de Bacia. No painel de encerramento, Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente se dedicou a explicar como é possível avançar em termos de pesquisa e estudos técnicos, a diferença entre os custos estruturais e de organização.

POLÊMICA SOBRE ABERTURA DE COMPORTAS

PRIMEIRO AS MEDIDAS NÃO ESTRUTURANTES Para o professor de Hidrologia da UFRGS e integrante da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Walter Collischonn, antes de fazer projetos para barragens, investimentos em dragagem ou de retirada de rochas do leito do rio, é preciso dar atenção às medidas não estruturantes. Como a bacia hidrográfica do Rio Taquari/Antas é uma das mais complexas do país, as obras para conter água exigem um investimento muito elevado e, mesmo assim, podem ser insuficientes para evitar enchentes. “Temos de lembrar, barragens e reservatórios não eliminam o problema. No próprio Vale do Itajaí, em uma das enchentes, mais de 10 mil pessoas ficaram desabrigadas em Rio do Sul, uma cidade com 60 mil habitantes.” Como as cheias intensas podem acontecer de qualquer forma, não existe como eliminar alternativas. O certo, afirmou Collischonn, é congregar os dois tipos de medidas. Neste momento, para iniciar, o investimento precisa ser em prevenção. “Vamos fazer agora, pois as medidas não estruturais são mais rápidas e baratas. Também vamos precisar delas mesmo se fizermos

WALTER COLLISCHONN PROFESSOR DA UFRGS

VAMOS FAZER AGORA, POIS AS MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS SÃO MAIS RÁPIDAS E BARATAS. TAMBÉM VAMOS PRECISAR DELAS MESMO SE FIZERMOS AS OBRAS. TEMOS DE TER ESTUDOS PARA QUE NOS DIGAM. O QUE ADIANTA GASTAR 50 PARA ECONOMIZAR DOIS?” as obras. Temos de ter estudos para que nos digam. O que adianta gastar 50 para economizar dois? Isso tudo precisa ser avaliado.”

REALIZAÇÃO

Há três pequenas centrais hidrelétricas nos rios de cabeceira ao Taquari. Inclusive houve questionamentos de prefeitos da Serra quanto à operação das unidades. Alguns apontaram que a força da água foi fruto da “abertura de comportas”. Collischonn descarta essa possibilidade. De acordo com ele, duas são com lâmina d’água, sem espaço para reserva. Uma apenas tem um reservatório, mas pequeno para ter causado tanto estrago. “Aqui na nossa parte, no Vale, não tem qualquer relação. Pode ter alguma nas localidades próximas a barragem.” No entanto, cobra melhores informações por parte dos operadores. “Quem opera as barragens precisa ser transparente.”

JÚLIO SALECKER VICE-PRES. COMITÊ DA BACIA

VAMOS DIZER QUE VENHA O BANCO MUNDIAL AQUI, DISPOSTO A DESPEJAR DINHEIRO. ELES VÃO DIZER: CADÊ O PLANO DE BACIA? AHN, NÃO TÊM! ENTÃO ESQUECE. É ASSIM. PRECISAMOS DESSE DOCUMENTO PARA TUDO.”

PLANO DE BACIA PARADO DESDE 2012 Das três etapas previstas pelo Plano de Bacia, a região parou no segundo. O documento é uma exigência legal para qualquer política pública ou obra estruturante ao longo dos rios que compõem a região do Taquari/Antas. A afirmação parte do vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas, Júlio Salecker. “Entregamos as duas primeiras etapas ao governo do Estado em 2012. Até agora não tivemos devolutiva.” As três etapas vão de diagnósti-

co, prognóstico e plano de ação. “Recebemos a garantia que o estudo vai recomeçar. Passaram diversos governos, e não avançamos mais”, disse. Pelo entregue até agora, havia 28 ações previstas para os mananciais.

Das nascentes que desembocam no Taquari até a foz, em Triunfo, no Rio Jacuí, a bacia tem 119 municípios.São 27 mil quilômetros de área de chuva, com interferência sobre a parte baixa do Vale. “É a maior do país em número de cidades. Na parte baixa, onde estamos, são 12. Aqui pode estar um céu de brigadeiro, um dia lindo, e mesmo assim termos enchente. Basta chover nos outros 102.” De acordo com ele, sem essas informações do plano, nenhum investimento pode ser feito. “Vamos dizer que venha o Banco Mundial aqui, disposto a despejar dinheiro.


9

Próximos passos e

Prioridade Finalizar o Plano de Bacias, com o diagnóstico, prognóstico e Plano de Ação. Documento estagnado desde 2012, com duas etapas concluídas das três previstas. A falta desse plano impede investimentos e ações eficazes na região, sendo essencial para qualquer política pública ou obra estruturante.

MARCOS BASTIANI VEREADOR DE MUÇUM

MEDIDAS NÃO ESTRUTURANTES ESTÃO LIGADAS AO MONITORAMENTO, PREVISÃO, PREVENÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA REDE DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS

ESPECIALISTAS DESCARTARAM O CICLONE EXTRATROPICAL COMO CAUSA DA ENCHENTE

Eles vão dizer: cadê o Plano de Bacia? Ahn, não têm! Então esquece. É assim. Precisamos desse documento para tudo.”

PATROCÍNIO

PARTICIPAÇÃO “O comitê de bacia é o parlamento da água. Enquanto os homens

fizeram os limites territoriais e políticos, Deus fez o desenho dos cursos d’água. Pela constituição federal e do RS, são os integrantes deste grupo que devem orientar sobre as cotas de inundação, por exemplo”, destacou Salecker. No entanto, ocorre o contrário. “Cada município diz de acordo com seu plano diretor. Não se olha para o conjunto. É o Plano de Bacia que precisa regrar isso”. Na formação do comitê, são 52 cadeiras. Uma das sugestões do especialista é ter na governança mais participação dos prefeitos. “Para mim seria essencial. Hoje os comitês estão paralelos ao sistema de poder. Com a presença de um prefeito enquanto presidente, podemos aumentar a representatividade, fazer com que se direcione recursos à infraestrutura regional. É o bem público, isso todos nós estamos buscando.”

CURSO D’ÁGUA MODIFICADO O engenheiro, vereador e morador da beira do rio em Muçum, Marcos Bastiani, tem a régua de medição do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) a poucos metros de casa. “Eu abro a janela

TEM DE SER FEITA UMA DRAGAGEM. ANTIGAMENTE, SE USAVA PARA MINERAÇÃO. AS PEDRAS SE TRANSFORMARAM EM MATÉRIA-PRIMA PARA NOSSAS ESTRADAS.”

e vejo como está o rio.” Pela experiência, contabiliza enchentes recordes desde 1990. “Em 31 de maio, vi a maior. Estava em 20,54 metros. Sempre aprendi pelas cotas, que quando chega a 20 ali em Muçum, estamos diante de uma cheia histórica.” No entanto, essas marcas começaram a ficar mais frequentes. “Depois foi em 2001, com 21,56. Outro recorde. Em 2020, achei que nunca ia ver, ficou em 22,02 metros. Nem vou falar a deste ano, que foi de 26,11 metros. Essa recorrência faz com que eu me pergunte: o que está acontecendo?” Entre as explicações que avalia como plausível, o vereador destacou o excesso de pedras no curso d’água. Para Bastiani, o Rio Taquari está assoreado, com muito cascalho no canal. “Tem de ser feita uma dragagem. Antigamente, se usava para mineração. As pedras se transformaram em matéria-prima para nossas estradas.” Para o futuro, após o Plano de Bacia estar concluído, sugere que o rio

Organização Necessidade de medidas não estruturantes antes de investir em obras complexas. Reconhecimento de que obras estruturantes, como barragens, não eliminam completamente o problema das enchentes. Investimento em Prevenção Destaque para a regulamentação de áreas ocupadas e alagadas como parte de uma gestão mais eficaz. Chamado para um esforço conjunto em monitoramento, previsibilidade e sistemas de alerta, usando tecnologias avançadas.

Participação Política e governança: Reconhecimento do Comitê de Bacia como o “parlamento da água” e sua importância na orientação sobre cotas de inundação. Sugestão de aumentar a participação dos prefeitos na governança do Comitê para garantir maior representatividade e direcionamento de recursos à infraestrutura regional.

seja reativado enquanto hidrovia. Inclusive com um modelo de concessão para permitir a mineração.


10

Detalhes

EDUCAÇÃO E CUSTEIO

DESPREPARO FRENTE ÀS CATÁSTROFES

CRIAR UMA CULTURA DE SIMULADOS PREPARA A SOCIEDADE PARA ENFRENTAR ADVERSIDADES DE FORMA EFICAZ.” ABNER DE FREITAS CEO DA STARTUP HOPEFUL

NA MINHA EXPERIÊNCIA, VEJO QUE O GOVERNANTE É UM GENERALISTA. ELE PRECISA DA EQUIPE E DE INFORMAÇÕES PARA DECIDIR. E TEM DE SER ASSIM.” RANOLFO VIEIRA JÚNIOR VICE-PRESIDENTE DO BRDE

Para o palestrante, entender os conceitos de vulnerabilidade e desastre são os primeiros passos para mudança cultural.

• Desastre é uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou sociedade em qualquer escala devido a eventos perigosos interagindo com as condições de exposição, vulnerabilidade e capacidade, levando a perdas e impactos humanos • Aprender com as falhas traz mais benefícios do que negá-las. • É preciso criar uma cultura de simulados para identificar falhas antes dos desastres. Assim é possível aperfeiçoar. • Um desastre é a soma de variáveis sem controle (exposição), condição ideal e a real (vulnerabilidade), e a capacidade de resposta.

ABNER DE FREITAS DETALHOU COMO

ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO PARA DESASTRES, ABNER DE FREITAS, DETALHOU IMPORTÂNCIA DE TREINAR AS COMUNIDADES E AS CRIANÇAS PARA EPISÓDIOS EXTREMOS

E

m uma sociedade que muitas vezes reage sem preparo diante de catástrofes, Abner de Freitas, CEO da Hopeful, startup de educação para desastres, ressaltou a necessidade da preparação comunitária. Durante apresentação no Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente, apontou que uma das soluções está em mudar a forma como encarar e responder aos extremos. “Nosso trabalho é voltado a educar as pessoas e instituições sobre o que fazer antes, durante e depois de uma tragédia”. Segundo Freitas, por isso é fundamental planos de contingência com cenários e estratégias específicas para cada situação. “Se chover: o que eu faço? Se inundar: o que eu faço? Se pegar fogo: o que eu faço?” Entre as lições, cita as estratégias norte-americanas. Diante de riscos,

autoridades dos EUA emitem alertas e falam diretamente à população por meio de transmissões oficiais nos veículos de comunicação. No Brasil, as coletivas de imprensa ocorrem depois do desastre.

É POSSÍVEL CRIAR PROGRAMAS VOLTADOS PARA PREPARAR AS PESSOAS E AS CRIANÇAS PARA EVENTOS CRÍTICOS

EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA Para Abner de Freitas, é preciso manter iniciativas e abordagens centradas na educação comunitária. Ter consciência de como reagir e mitigar prejuízos humanos e também materiais. Neste sentido, mais do que falar sobre é preciso também treinar. Em cima disso, os simulados identificam áreas de aperfeiçoamento antes dos desastres. “Criar uma cultura de simulados prepara a sociedade para enfrentar adversidades de forma eficaz.”

ANTES DA DECISÃO, O CONHECIMENTO Ex-governador, o atual vice-presidente do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE), REALIZAÇÃO

Ranolfo Vieira Júnior, detalhou o funcionamento do programa junto com o Banco Mundial. No assunto financiamento e ações para estruturas e movimentos de proteção, Ranolfo Vieira Júnior, ressaltou a importância de estudos e evidências científicas para embasar decisões futuras. “Na minha experiência, vejo que o governante é um generalista. Ele precisa da equipe e de informações para decidir. E tem de ser assim. Daqui para frente, temos de nos preparar.” Esse preparo, continuou, precisa estar sustentado em evidências técnica/científica. Como forma de contribuir nestes investimentos, apresentou a possibilidade de financiamentos por meio de consórcios municipais, em especial para ampliar os conhecimentos sobre a

EX-GOVERNADOR, RANOLFO VIEIRA JR. DETALHOU O PROGRAMA SUL RESILIENTE

bacia hidrográfica Taquari/Antas. Uma das iniciativas conta com apoio do Banco Mundial. O programa “Sul Resiliente” tem orçado em créditos quase R$ 500 milhões destinados aos municípios em áreas vulneráveis. A equipe técnica das duas instituições financeiras esteve no Vale do Taquari em 25 de outubro.

A visita passou por cinco municípios, com o propósito de vistoriar os impactos da enchente, avaliar de que maneira as linhas de financiamentos subsidiadas podem ser direcionadas e debater com os prefeitos projetos para recuperação das cidades e melhorias no preparo para eventos extremos.


11

EDUCAÇÃO E CUSTEIO

BLUMENAU: LIÇÃO APÓS A TRAGÉDIA

Resumo das ações

EXPOSIÇÃO A RISCOS, MAPEAMENTO E PLANO DE AÇÃO • Identificar quais fenômenos climáticos interferem sobre as vulnerabilidades. Em cima disso, planejar medidas e obras para mitigar os efeitos. MEDIDAS ESTRUTURANTES E NÃO ESTRUTURANTES •Todo o terreno é mapeado. A equipe de Defesa Civil tem 44 servidores, entre os quais profissionais técnicos em hidrologia, meteorologia e geologia. Como obras, foram construídas barragens, diques e o aprofundamento da calha do rio.

T

erceiro maior município de Santa Catarina fica no Vale do Itajaí, região vulnerável para enchentes e deslizamentos. O secretário da Defesa Civil, Carlos Olimpo Menestrina, detalhou os processos, investimentos e melhorias. Tudo começou pelo mapeamento das exposições (fenômenos climáticos), vulnerabilidades e plano de ação. “Na região do Vale do Itajaí, nossos principais problemas são as enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra.” Como medidas diretas, houve o investimento na construção de barragens, diques e no aprofundamento da calha do rio. Dentro das estratégias não estruturantes, Menestrina ressalta a formação da secretaria de Defesa Civil. Hoje, o setor tem 44 servidores técnicos, divididos em três diretorias (gestão de risco e desastres; geologia e análise de risco; e, meteorologia). Pelo sistema atual, há sensores, radares meteorológicos e plataformas de coleta de dados em tempo real. Toda a comunidade pode acessar esses dados por meio de um aplicativo (AlertaBlu). “Hoje a nossa comunidade sabe o que fazer antes e depois. Blumenau aprendeu a ser resiliente e cada cidadão tem seu próprio plaPATROCÍNIO

PALESTRA DE CARLOS MENESTRINA,

no de ação.”

CUIDAR DAS PESSOAS O prefeito Mário Hildebrandt (participou por videoconferência) destacou a prioridade em preservar a vida e depois os bens materiais. “É preciso vontade política. O prefeito vai receber críticas quando decidir e também quando não fizer nada. Para mim, o gestor precisa ter como base cuidar das pessoas. Eu, quando coloco a cabeça no travesseiro, estou com minha consciência tranquila, pois tudo o que fazemos é para proteger a vida.”

INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA Todas as construções em áreas mapeadas passam por aval da Defesa Civil. As cotas de inundação e as condições das barrancas dentro do Plano Diretor estão previstas pelo mapeamento da secretaria de Defesa Civil. A própria comunidade informa quando alguma construção é feita em algum lugar suspeito. “Caso seja irregular, demolimos. Não é permitido”, disse Menestrina.

DA DEFESA CIVIL DE BLUMENAU, DEMONSTROU OS MOVIMENTOS APÓS 2008, QUADO 24 PESSOAS MORRERAM

No que diz respeito à infraestrutura, Blumenau conta com cinco diques equipados com tecnologia alemã, com bombas que drenam a água antes de chegar em áreas habitadas. Cada um com um custo aproximado de R$ 4,5 milhões. Ainda há três barragens com potencial de reduzir até dois metros o Rio Itajaí. O sucesso dessas medidas depende do entendimento e comprometimento dos gestores, afirmou.

MONITORAMENTO DA BACIA A diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil (SGB/ CPRM), Alice Castilho, ressaltou o objetivo central da instituição de disseminar o conhecimento científico para auxiliar as gestões públicas há mais de 50 anos. A obrigação com alertas começou faz três décadas. Hoje o serviço opera em 17 bacias. Entre elas está o Taquari/Antas. “Projetamos melhorias com a instalação de estações em locais estratégicos, como Barra do Fão, Santa Tereza e Guaporé.

TECNOLOGIA •A comunidade pode acessar essas informações pelo aplicativo “AlertaBlu”. CONTROLE RIGOROSO • As construções passam por avaliação da Defesa Civil. Caso esteja em área de risco, obras são proibidas. FUNCIONAMENTO DE DIQUES E BARRAGENS • São cinco diques equipados com tecnologia alemã, contendo bombas que drenam água antes de atingir áreas habitadas. Três barragens têm o potencial de reduzir o nível do Rio Itajaí.

Além disso, estamos modernizando estações em Auler, Ibiraiaras, Vacaria, Encantado, Muçum, Estrela, Lajeado e Bom Retiro, para 2024”. O orçamento atual, perto dos R$ 50 mil, será elevado para R$ 200 mil.

MAIS RÉGUAS Para além das leituras automáticas, Alice sugere marcos físicos, que podem ser colocados em pré-

do monitoramento

Estrutura atual São 30 pluviometros (medir a quantidade de chuva) e 16 réguas (nível do rio) na bacia Taquari/Antas Investimentos Mais estações de monitoramento. Serão três: Linha Colombo (Rio Guaporé); Passo Carreiro (Rio Carreiro); e Passo Barra do Guaiaveira (Rio Turvo); Municípios atendidos Monitoramento e previsão: Santa Tereza; Muçum; Encantado; Estrela; Lajeado; Bom Retiro do Sul; e Taquari; Apenas com sistema de monitoramento: Roca Sales; Colinas; Arroio do Meio; e Cruzeiro do Sul. Operação de um sistema de alerta São cinco etapas: previsão Meteorológica, monitoramento hidrológico, estimativa de vazão (previsão hidrológica), emissão de boletins de alerta e interação com a Defesa Civil. Quanto maior o tempo de antecedência da previsão, maior a incerteza sobre o tamanho do evento. Redundância Instalação de marcos físicos como complemento das leituras automáticas. Essas réguas podem ficar em prédios, paredões nas margens dos rios, parques e pilares de pontes.

dios públicos, paredões nas margens dos rios e também nos pilares de pontes. Em setembro, os equipamentos automáticos falharam. Por isso, destacou, é necessário ações conjuntas, para haver mais redundância em pontos de monitoramento. “Em situações de emergência, os marcos em diversos locais públicos, como prédios, praças e pilares de pontes, servem de referência.”


12

PALAVRA DO

ARTIGO ARTIGO

AS SOLUÇÕES NÃO CAIRÃO DO CÉU. ERGUEMOS AS MANGAS

E

ntre tantas coisas, o seminário dessa semana deixou claro que a construção dos planos de prevenção deve nascer e se desenvolver aqui. Passado o período mais crítico e doloroso da tragédia – ainda que muitas demandas aguardem por soluções – é imperioso que demos um passo no sentido da prevenção. Para confirmar que de fato aprendemos lições com a catástrofe do início de setembro, chegou a hora de elevar o nível do debate e das nossas ações e decisões daqui pra frente. O Seminário Pensar o Vale Pós-enchente, realizado nessa semana na Univates, é a primeira demonstração real de que estamos dispostos a nunca mais passar pela mesma coisa da mesma forma. O exemplo de Blumenau, em Santa Catarina, serve como grande inspiração. Do estado de caos, em 2008, se organizaram e articularam a tal ponto que 15 anos depois, viram case nacional em termos de prevenção contra enchentes. E detalhe: as soluções nasceram dentro de Blumenau, a partir da resignação comunitária, da decisão política e da união de esforços. Afora o exemplo catarinense, o seminário inédito dessa semana, trouxe especialistas Brasil afora que reforçam a existência de mecanismos de controle e prevenção em pleno funcionamento em outras regiões do país e fora dele, e que podem, guardadas as proporções e peculiaridades, serem adaptadas e implementadas no Vale do Taquari. Ainda assim, toda a experiência e conhecimento compartilhados na produtiva terça-feira do dia 14 de novembro, só terão valor se transformados em AÇÂO local. Restou clarividente que o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari Antas é o canal legítimo para abarcar e liderar os projetos transformacionais. As etapas e movimentos a serem implantados estão retratados de forma cristalina na inédita Carta do Vale do Taquari, assinada

APONTE A CÂMERA DO CELULAR AO QR CODE E CONFIRA DOCUMENTÁRIO EM VÍDEO

O APRENDIZADO EFETIVO PRECISA DE AÇÃO

D FERNANDO WEISS, DIRETOR EDITORIAL E DE PRODUTOS DO GRUPO A HORA

O EXEMPLO DE BLUMENAU, EM SANTA CATARINA, SERVE COMO GRANDE INSPIRAÇÃO”

por todas as entidades classistas da região e endossadas pela Univates e o Grupo A Hora. Mas importante: a carta pela carta não garante nada. O que faremos com ela a partir de agora determinará nosso futuro e dará subsídios para encararmos as próximas enchentes na região, sejam menores ou maiores. Muito trabalho e organização nos esperam. Estejamos cientes e convictos de que as soluções não virão de fora. Pensar o Vale é um compromisso e obrigação que cabe a todos nós, na certeza de que o protagonismo assumido pelas entidades se transformará também em grandes oportunidades desenvolvimentistas à toda região. O seminário e a publicação da Carta do Vale são o início de uma histórica articulação e união que derivam da catástrofe de setembro. Todos temos um papel a cumprir e uma contribuição a dar. E que jamais deixemos interesses individuais, de divisas ou de egos se sobrepor ao que realmente precisa ser feito: um plano regional e de bacia.

iante dos desafios enfrentados pelo Vale do Taquari, o Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente foi palco de discussões profundas e compromissos firmados por autoridades, pesquisadores e representantes da sociedade. Um episódio importante, que pode virar o marco inicial para tornar a região mais resiliente e preparada. A catástrofe de setembro resultou em mais de 50 mortes. Ainda há pelo menos seis desaparecidos. Bilhões de reais em prejuízos materiais, em todos os níveis, das construções familiares até estruturas empresariais. O resultado comprovou o despreparo em diversos níveis. Tanto da previsibilidade, monitoramento e alerta, até o socorro e a recuperação das cidades. Os conceitos divergentes e complementares debatidos no Seminário precisam ter ações práticas. Todo processo educativo, de melhoria seja individual ou enquanto comunidade, se sustenta no aprender e executar. Do contrário, tudo fica no campo da teoria. Muitas delas impossíveis de se confirmar. A Carta do Vale do Taquari se configura em um norte. O que é preciso fazer e ser seguido em curto, médio e longo prazo. Toda a operação voltada para a região precisa ser coletiva, pois há responsabilidades que vão além dos limites criados pelo homem. Neste sentido, dividir essas tarefas representa prever comandos em esferas dos municípios, do estado, do país e da representação da sociedade civil. Ainda assim, o quanto vai demorar? A tragédia vai se repetir, isso todos sabem, mas quando? Ninguém quer ter de contar corpos de novo. Então, é urgente agir. Como primeiro movimento, é preciso aumentar o poder de previsão e monitoramento. Junto com isso, equipar as defesas civis. O formato de hoje, de um coordenador por município, muitas vezes ele sozinho e nomeado para Cargo Comissionado, comprova lacunas neste

FILIPE FALEIRO, JORNALISTA

A CARTA DO VALE DO TAQUARI SE CONFIGURA EM UM NORTE. O QUE É PRECISO FAZER E SER SEGUIDO EM CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZO. TODA A OPERAÇÃO VOLTADA PARA A REGIÃO PRECISA SER COLETIVA, POIS HÁ RESPONSABILIDADES QUE VÃO ALÉM DOS LIMITES CRIADOS PELO HOMEM”

serviço fundamental. Aqui, importante deixar claro, não é uma crítica ao servidor, ou quem ocupa o posto, mas a afirmação de que é pouco. Blumenau, por exemplo. São 44 profissionais. Destes 30 concursados, todos com formação técnica para áreas de hidrologia, meteorologia e geologia. No contexto do Vale do Taquari, é imperativo que o compromisso assumido no Seminário seja seguido por um plano de bacia abrangente, que oriente ações estruturantes e não estruturantes. Só assim a região poderá enfrentar com eficácia os desafios climáticos.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.