AH - Pensar O Vale - Energia | 25 de maio de 2016

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EDITORIAL

INTRODUÇÃO

Vital para a economia e o desenvolvimento

Soluções viáveis AI CERTEL

O

sistema de abastecimento energético do Vale do Taquari é precário e inseguro. A afirmação certeira se sustenta a partir das entrevistas, dos dados e das análises que vêm a seguir. Faz tempo, o jornal A Hora acompanha as carências desse setor e testemunha problemas decorrentes da interrupção das redes que levam energia para os vários recantos regionais. O grito de empresários, liderados pela Câmara de Indústria e Comércio, o drama de agricultores, os alertas de técnicos especializados. Conjunto de queixas que aumenta a relevância do tema central desta publicação. Em plena transformação tecnológica, com novos modelos de geração de energia pedindo passagem, se ergue inaceitável a região agonizar por melhor abastecimento. As reportagens que sustentam este caderno inédito traduzem um raio X daquilo que temos e somos. Mas também daquilo que dispomos e poderíamos ter. O Vale – tantas vezes dito – tem geografia abençoada pelos deuses. Goza de vasta riqueza hídrica, capaz de comportar bem mais do que as duas usinas hidrelétricas instaladas nos rios Forqueta, entre São José do Herval e Putinga, e Boa Vista, em Estrela. Projetos de instalação de novas estruturas esbarram, até aqui, na burocracia e na falta de vontade política. Um dos motivos primordiais da produção deste material reside no fortalecimento da bandeira que pede pressa na liberação dos nove projetos de usinas aprovados para os rios Forqueta e Taquari. Não fosse a demora e o marasmo das instituições públicas, o Vale não estaria produzindo parcos 5% de energia de tudo que consome. Pior que isso é depender de apenas uma linha de transmissão que traz os 95% restantes ao Vale. Ao lado do potencial gerador hidrelétrico, fortalecem-se os exemplos de geração de energia renovável. Solar, biogás e eólica oferecem as melhores chancelas para o Vale acompanhar os movimentos mundiais no sentido de apostar na energia limpa. Vale a pena conferir. Sem energia não há desenvolvimento. Essa frase será repetida por vários entrevistados a seguir. Não é por menos. Ela resume com clareza a importância de ser fortalecida e popularizada a mobilização acerca da energia elétrica.

Fundado em 1º de julho de 2002

Publicação do jornal A Hora. Vale do Taquari - RS

Diretor-geral: Adair Weiss Diretor de Conteúdo: Fernando Weiss Diretor Administrativo: Fabrício de Almeida

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Nos rios Forqueta e Taquari, multiplicam-se as possibilidades de instalação de novas hidrelétricas ANDERSON LOPES

Ao mesmo tempo, existe campo vasto para geração de energia renovável, como solar e de biometano

Redação Av. Benjamin Constant, 1034/201 Fone: 51 3710-4200 CEP 95900-000 - Lajeado - RS www.jornalahora.inf.br

Textos: Thiago Maurique Diagramação: Gianini Oliveira e Fábio Costa

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares.

Capa: WO Agência de Marketing

Proibida a venda avulsa


para um problema urgente

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elhorar o abastecimento de energia é fundamental para o desenvolvimento do Vale do Taquari. Com um crescimento populacional médio de 5% ao ano, aumento ainda maior no consumo e apenas uma ligação com o Sistema Integrado Nacional, a região corre o risco de ficar às escuras e enfrentar novos apagões, como o registrado no verão de 2014. O tema é uma das principais bandeiras da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT) e nos últimos dois anos foi debatido em diversos encontros, audiências públicas e reuniões com autoridades estaduais e nacionais. Empresários, líderes da sociedade civil organizada, agentes públicos e instituições de classe buscam soluções diante da fragilidade da rede. Entre as medidas imprescindíveis, está a ampliação e desburocratização dos projetos de produção de energia. Hoje, o Vale gera apenas 5% do total consumido e o restante é recebido por meio de uma única linha de transmissão entre Nova Santa Rita e Lajeado. Bastaria uma pane para interromper todo o funcionamento. Apesar de expor os problemas, o diagnóstico também aponta caminhos baseados no potencial gerador. O Vale começa a 1,3 mil metros em relação ao nível do mar e chega a quase zero. Em 200 quilômetros de rios, temos 1,1 mil metros de quedas de água. Nos rios Taquari e Forqueta, foram identificados pelo menos nove pontos possíveis para construção de hidrelétricas. Somados, os projetos gerariam eletricidade suficiente para atender a demanda dos mais de 350 mil habitantes da região. Mas esbarram na burocracia para sair do papel. As energias renováveis são opções importantes e inadiáveis. Com uma economia baseada na agricul-

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Queda no abastecimento de energia, no verão de 2014, matou mais de 500 mil frangos na região e expôs a precariedade do sistema

Conforme estimativa da Câmara de Indústria e Comércio regional (CIC-VT), a produção de energia própria impulsionaria o crescimento, elevaria o PIB e ampliaria arrecadação de ICMS dos municípios.

tura familiar, a região apresenta o maior potencial gaúcho para a produção de biogás e bioenergia. O governo estadual incentiva investimentos na área, que também solucionariam o problema da destinação dos dejetos agropastoris. Aliado a isso, mudanças nas legislações federal e estadual tentam estimular projetos de pequena geração, beneficiando especialmente a área de energia solar. Diante da elevação das tarifas de energia, investimentos privados são cada vez mais comuns no setor. Conforme estimativa da Câmara de Indústria e Comércio regional (CIC-VT), a produção de energia própria impulsionaria o crescimento, elevaria o PIB regional e ampliaria a arrecadação de ICMS dos municípios. No caso das hidrelétricas maiores, ainda resultariam royalties para os municípios atingidos pelas águas. Atento às necessidades, o governo gaúcho, por meio da Secretaria de Minas e Energia, elaborou o Plano Energético Estadual. O documento detalha o cenário existente e contempla projetos previstos em todas as regiões. Junto com o já concluído mapa eólico, estudos solarimétricos e do potencial bioenergético, visa orientar investimentos no setor. Tal realidade motiva esta publicação especial. Iniciativa inédita é fruto de parceria do A Hora com a CIC-VT e o Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. Uma radiografia completa capaz de nortear novas iniciativas e corroborar mobilizações coletivas e regionais. Comissão especial: seis instituições formam o grupo de discussão no Vale. Elas são representadas por Valdacir Bresciani, da CIC-VT; Sidnei Eckert, da Amvat; Jonas Calvi, da Avat e Codevat; Júlio Salecker, do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas; e Ernani Mallmann, da Certel.


OPINIÃO Energia: nossa bandeira principal

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Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC VT) desenvolve um trabalho com a comunidade regional envolvendo os setores empresarial, político e ambiental pela retomada do crescimento e para recuperarmos o PIB que já foi de 4,% e agora está um pouco acima dos 3,43%. Hoje o PIB é de R$ 10.064 bilhões (FEE/RS 2015, ano-base 2013). A entidade acredita que um dos caminhos para promovermos esse crescimento é a partir da construção de hidrelétricas na região. Hoje o Vale do Taquari produz 13 megawatts de energia, mas temos potencial 20 vezes maior, de acordo com projetos de instalação. Com a implantação, poderíamos nos tornar autossustentáveis na produção de energia. Os projetos de energia hídrica representam investimentos de R$ 1,5 bilhão e significam nossa independência na produção e geração de energia, fortalecendo, portanto, desde residências urbanas, indústrias até o agronegócio em geral. Este caderno tem como grande objetivo socializar as informações referentes à questão energética, seja na produção de energia hídrica, biomassa, fotovoltaica e a eólica, para então, podermos negociar avanços com autoridades das mais diferentes áreas. Paralelo a essa luta, a entidade busca formas de implementar importantes projetos de infraestrutura regional, como a maior utilização do Rio Taquari, integração mais efetiva com a ferrovia e ainda a finalização de acessos asfálticos a municípios que ainda não têm. Dessa forma, a CIC VT espera fortalecer a diversificada cadeia produtiva da região, que tem na sua predominância o agronegócio. Precisamos de uma atenção maior dos governantes, principalmente para destravar projetos que impedem o nosso crescimento sustentável e comprometem a nossa qualidade de vida. Assim pensamos em construir uma agenda positiva e, mesmo diante da crise, criarmos criarmo um cenário positivo, po e de crescimento crescim desenvolvimento desenvol sustentável. sustentá

Um vale com potencial para gerar energia

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oucas regiões do RS tem tamanho potencial para a geração de energia como o Vale do Taquari. A fonte hídrica é a mais explorada até o momento, mas há um potencial latente também em relação à biomassa e à fotovoltaica. Em relação à energia proveniente de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), há vários projetos em andamento, muitos deles em caráter prioritário junto à Secretaria de Minas e Energia. A estimativa é de que o Vale do Taquari tenha condições de produzir 260 MW, capazes de abastecer uma população de 350 mil pessoas, tornando assim a região autossuficiente. Quanto à geração de energia a partir da biomassa, a região tem forte atuação na produção de suínos, aves e leite, cujos dejetos gerados por essas atividades são a principal matéria-prima para a produção do biometano. Há poucos dias, a Assembleia Legislativa aprovou a lei número 14.864, que institui o Programa RS-Gás, sendo que uma linha de crédito está sendo aberta junto aos bancos de fomento do Estado para incentivar a instalação de empreendimentos dessa natureza. Em parceria com a Univates e Sulgás, estamos elaborando o Atlas do Biometano, que vai evidenciar todo o nosso potencial nessa área. A exploração de energia fotovoltaica é a que mais tem despertado interesse, uma vez que a luz solar é gratuita e sua incidência se faz presente na maior parte do ano. A Alemanha, por exemplo, é o país europeu que mais faz uso desse energético, tendo uma incidência de luz solar muito menor que a do RS. Nesse sentido, está em fase de elaboração o Atlas Solarimétrico, uma radiografia completa sobre essa fonte energética no RS e que deverá ser lançado até o fim deste ano. O maior desafio dos empreendimentos de energia, seja de qual for a natureza, esbarra nas dificuldades dos licenciamentos ambientais. Já ocorreram avanços, como a criação da Sala de Atendimento Integrado, onde o empreendedor pode acompanhar o andamento da demanda e conversar com os técnicos da Fepam, bem como ocorreu a redução do tempo de espera por uma licença ambiental, que caiu de 909 dias para 180 dias, com a expectativa de que até o fim do ano esse prazo seja de até 140 dias. Mesmo com essas melhorias, ainda há muito por ser feito. Partimos absolutamente do zero na estruturação da Secretaria de Minas e Energia, e aí saúdo a decisão do governador Sartori em recriá-la, para torná-la um ponto de referência para o setor. Aliado a isso, a busca por um abastecimento de energia com qualidade para os gaúchos é uma constante, e, pois, assim como o fornecimento de água, ela é um serviço essencial essenc para o cidadão. E nessa busca por po serviços públicos qualidade o Vale do de mais qualid Taquari terá sempre um aliado na defesa dos seus interesses.

Insumo para mais desenvolvimento

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stamos diante de dois desafios relevantes. O primeiro diz respeito ao próprio tema central que mobiliza a região, que é o de aprofundar o diagnóstico da situação atual e oferecer alternativas diante do desafio energético do Vale do Taquari. O outro, não menos importante, é o de assumir e publicizar essa bandeira, tarefa que se impuseram com determinação a Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari, o Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas e o jornal A Hora, legítimos porta-vozes das demandas da região. Assim, saudamos essas ações e, como presidente da Assembleia Legislativa, a primeira mulher nessa condição em 180 anos de história, colocamos o Parlamento gaúcho à disposição para contribuir nos debates e na busca das melhores soluções. Sabemos que a energia elétrica se consolida cada vez mais como a grande força motriz de todos os setores e gradativamente vai substituir até mesmo a gasolina como combustível dos carros. A energia é um insumo fundamental para o desenvolvimento econômico, que pode ser relacionado diretamente com outro desenvolvimento, o do potencial hidrelétrico de um país. Estudos apontam que, de modo geral, países economicamente desenvolvidos apresentam uma taxa de aproveitamento do seu potencial hidráulico bem superior à dos países em desenvolvimento. A boa notícia é que no Brasil o aproveitamento deverá chegar a 30% com os projetos instalados e em construção ou outorgados. O RS caracteriza-se por ser um dos estados mais privilegiados em termos de potencialidades em diferentes modais de energia. Entretanto, o planejamento energético no RS não vinha sendo desenvolvido de forma adequada. O Plano Energético do RS elaborado pela Secretaria Estadual de Minas e Energia foi uma resposta a essa defasagem ao apresentar um conjunto de diretrizes e propostas de políticas públicas na área de energia para o decênio 2016-2025. O Plano, que subsidia boa parte das informações deste artigo, dedica um capítulo especial às Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHS), destacadas como fontes de energia renováveis. No Vale do Taquari, privilegiado por seu potencial hídrico, o A Hora dá conta de que a Cooperativa Regional de Eletrificação Teutônia (Certel) instalou duas e projeta mais cinco PCHS no Rio Forqueta e existem outras em discussão. A opção pelas energias limpas e renováveis vai contribuir para impulsionar o desenvolvimento da região. Entretanto, persiste a necessidade de agilizar a concessão das licenças de instalação. A solução para esse gargalo passa pelos reforços necessários na estrutura da Fepam. E assim o Vale se insere diretamente, em pelo menos dois pontos, nas ações previstas no Plano para adequar o sistema energético do estado. Seja em energia como em outros temas de interesse público, ninguém conhece melhor suas necessid necessidades e alternativas de soluções que as próprias comunidades. E, no caso do desafio energético do Vale do Taquari, Taqu as instituições da região dão exemplo exem de como se mobilizar para obter ob os melhores resultados em benefício de todos.

LUCAS REDECKER LU PRESIDENTE DA CÂMARA DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DO VALE DO TAQUARI

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SECRETÁRIO ESTADUAL DE MINAS E ENERGIA

PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL



História aponta para potencial adormecido

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s iniciativas de geração de energia no Vale do Taquari remontam ao início do século passado. Em 1922, o técnico em Engenharia Industrial, Hanz Wirz, instalou a primeira indústria de turbinas hidráulicas para pequenas hidrelétricas no estado, ao lado do Porto de Estrela. Formado na Alemanha e com passagens pela Espanha e Argentina, Wirz também fabricava moinhos, engenhos de serra e bombas manuais. A primeira turbina foi comercializada em 1923, para José H. Prediger, em Arroio da Seca Baixa. Em uma queda d'água de 2,7 metros, Prediger instalou um gerador com 2,65 quilowatts (kW) de potência. No mesmo ano, outros dois geradores foram implantados na localidade. Um deles, de 2,8 kW em uma queda de 6,7 metros, na propriedade de Wilibaldo Lautert, e o outro de 6,33 kW em 6 metros de queda na propriedade de Rodolfo Suhre. Entre 1947 e 1949, foi construída a usina Augustin, no Arroio Boa Vista, em Linha Geraldo, Estrela. A hidrelétrica forneceu energia ao curtume Agostin, algumas propriedades rurais e a uma pequena fábrica de esquadrias de madeira durante décadas. A iniciativa partiu dos empreendedores Reynaldo Affonso Augustin, Bertholdo Schwingel e Frederico Pedro Lohmann, responsáveis pela construção do canal e da implantação da primeira turbina, com 74 Kw de potência. Em 1951, foi instalada a segunda turbina, de 124 Kw.

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Em 24 de janeiro de 1950, começou a funcionar a usina de Vila Teutônia. Com uma potência de 75 Kw, o empreendimento foi liderado por Reinoldo Aschebrock e atendia os moradores da localidade e redondezas. Entre 1923 e 1977, 117 pequenas geradoras foram instaladas pela indústria de Wirz no Vale do Taquari. Ao todo, elas eram responsáveis pela geração de 2.365 kW. Era a forma de conseguir acesso à eletricidade em

Obra concluída na década de 70, a barragem eclusa de Bom Retiro do Sul espelha o potencial de

Apesar do dano ambiental já consolidado e do potencial para gerar energia, a eclusa nunca se transformou em usina e hoje é alvo de uma disputa judicial.”

uma época com poucos investimentos públicos no setor. As pequenas instalações começaram a ser abandonadas nos anos de 1970, a partir da consolidação da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e da criação das cooperativas de produção e distribuição de energia.

Pronta faz 40 anos, eclusa não produz Construída pelo governo federal, a obra da Barragem Eclusa de Bom Retiro do Sul foi iniciada em 1959, na gestão de Juscelino Kubitschek. A previsão

era concluir os trabalhos em cinco anos, mas, após a construção de quatro pilares no Rio Taquari, foi paralisada por dez anos. Durante a Ditadura Militar, o presidente Arthur da Costa e Silva decidiu retomar a obra. Natural de Taquari, o coronel defendia o empreendimento por acreditar em melhorias na navegabilidade do rio. A barragem foi concluída em 1977 no governo de Geisel. Com 109 metros de comprimento, a estrutura é constituída por seis pilares, com comportas-vagão duplas de 17 metros de largura. A barragem tem um vertedouro fixo, com 50 metros de extensão na margem direita, e uma escada de peixes para permitir a migração durante a piracema.


ARQUIVO A HORA

geração de energia encalhado faz anos. Os projetos para exploração da estrutura foram protocolados ainda na década de 1980

Apesar do dano ambiental já consolidado e do potencial para gerar energia, a eclusa nunca se transformou em usina e hoje é alvo de uma disputa judicial.

Capacidade para 40,3 mil pessoas As usinas em operação no Vale foram construídas a partir dos anos 2000 pela Cooperativa Certel. A primeira delas, hidrelétrica Salto Forqueta, tem potência instalada de 6.124 Kw e está localizada entre São José do Herval e Putinga. A obra foi iniciada em fevereiro de

2001, durante o aniversário de 45 anos da Certel. Na data, foi formalizado o contrato de financiamento com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). A usina levou 21 meses para ser concluída e teve apoio da Univates para a conclusão dos projetos ambientais. Uma Área de Proteção Ambiental de 45 hectares foi criada como medida compensatória aos impactos da obra e uma escada de peixes foi construída para assegurar a reprodução das espécies. A segunda hidrelétrica construída foi a Boa Vista, em Linha Geraldo, Estrela. Iniciada em 2003, a obra reaproveitou a estrutura da Usina Augustin. A estrutura tem dois geradores. Um

As hidrelétricas instaladas no Vale geram 13,4 megawatts e representam apenas 5% do que a região consome.

deles foi repotencializado e ligado a uma nova turbina da 150 kW. O local da primeira turbina foi reformado, permitindo ampliação em 250 kW. Também foi implantada uma terceira unidade geradora de 550 kW. Hoje, a usina gera eletricidade suficiente para 1,3 mil residências. A terceira hidrelétrica em operação no Vale é a Rastro de Auto, entre Linha Lajeado Bonito, Putinga, e Linha São Sebastião, São José do Herval. Construída pela Certel em parceria com a Electra Power Geração de Energia, é resultado de R$ 50 milhões em investimento. Localizada no Rio Forqueta, a usina tem potência instalada de 7.020 kW, e 43,20 metros de queda na barragem. A geração anual chega a 34,6 milhões de kW, suficiente para abastecer 21 mil pessoas. Todas as hidrelétricas estão equipadas com sistema de telecomando a distância, com transmissão de dados via banda larga a partir do Centro de Operações do Sistema, em Teutônia. Todas as operações e informações estão disponíveis nos computadores dos operadores. Juntas, as três hidrelétricas somam 13,4 megawatts (MW) e representam 5% dos cerca de 240 MW consumidos no Vale do Taquari. O percentual é considerado baixo diante do potencial hidrelétrico da região. Com uma topografia que inicia em 1,3 mil metros acima do nível do mar e chega próximo dos 200 metros em um raio de 30 quilômetros, o Vale é cortado por rios como o Forqueta e o Taquari, formando o cenário ideal para a produção de energia.

Propostas aguardam liberação há anos Ao todo, nove projetos de usinas hidrelétricas foram inventariados na região. Se concretizadas, as unidades juntas seriam capazes de produzir 280 MW. Hoje, os mais de 350 mil habitantes da região, junto com os empreendimentos comerciais e industriais, consomem aproximadamente 220 MW.

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Capacidade de usinas para região

e três instalações entre Pouso Novo e Coqueiro Baixo: Vale Fundo, de 5,6 MW, Vale do Leite, 6 MW, e Olaria, 4 MW. Somadas, as PCHs agregariam 25,2 MW ao quadro de geração do Vale, suficientes para abastecer 75,6 mil habitantes.

Disputa judicial trava sonho antigo

Pequenas Centrais Hidrelétricas A mais próxima de ser concretizada é a usina hidrelétrica Foz do Jacutinga, de 5,5 MW. A obra era disputada na Aneel pela Certel e a empresa Bolognesi, com decisão favorável à cooperativa. Agora, aguarda liberação da Fepam para ser realizada. Quando concluída, terá capacidade para abastecer 16,5 mil pessoas. Localizada no Rio Forqueta, entre Putinga e Fontoura Xavier, é uma das cinco pequenas usinas com menos de dez MW de potência. Também estão previstas as usinas Moinho Velho, de 4,1 MW, entre Pouso Novo e Putinga,

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Somada, a capacidade geradora dos projetos de novas usinas hidrelétricas para o Vale seria suficiente para abastecer 800 mil pessoas, mais do que o dobro de toda população regional. Urge agilidade na liberação dos nove projetos que aguardam aval das instituições públicas.

Projeto mais antigo para geração de energia no Vale do Taquari, a usina na eclusa de Bom Retiro do Sul dá sinais de avanço após anos de disputa judicial. Com a barragem concluída faz quase 40 anos, a eclusa forma o maior lago da região, com 30 quilômetros de extensão, chegando aos municípios de Cruzeiro do Sul, Estrela e Lajeado. As intenções de exploração da estrutura para fim de geração de energia remontam aos anos 1980. A Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do RS (Fecoergs) e a empresa Moinho Estrela, hoje Bom Retiro Energia, mostraram interesse. A Fecoergs abriu mão do empreendimento em favor da empresa, cujo projeto prevê a geração de 30 MW, capaz de abastecer uma população de 90 mil pessoas. Na época, a burocracia para os projetos na área de energia era menor. Bastava solicitar autorização da Companhia Estatual de Energia Elétrica (CEEE) e encaminhar o projeto ao Departamento Nacional de Águas e Energia (DNAEE). Porém, por décadas, os ministérios dos Transportes e de Minas e Energia disputaram a propriedade da obra, atrasando o processo. Nesse meio-tempo, ocorreu a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que estabeleceu novas regras para os trâmites. Entre as novas exigências, estava a realização do inventário do rio, que inclui levantamentos de geologia, topografia, socioambiental, hidrologia e aproveitamento ideal. A empresa Energias Complementares do Brasil (ECB) solicitou e recebeu da Aneel autorização para inventariar área. Após a conclusão do estudo, registrou projeto de uma usina com 43 MW/h de potência, iniciando uma batalha judicial com a Bom Retiro Ener-


JUREMIR VERSETTI/CHINELAGEM PRESS

Energia, hoje detentora da Licença Prévia emitida pela Fepam. De acordo com Arruda, toda a documentação exigida para o empreendimento foi protocolada na Aneel no início de abril de 2016. Em nota, a Aneel alega que o processo está em análise técnica.

Projeto ousado para Muçum

Em Muçum, projeto de usina protocolado em 2008 na Fepam teria capacidade de produzir 79,5 Mw para abastecer 240 mil pessoas

gia pelo direito ao empreendimento. Advogado da Bom Retiro Energia, Ângelo Arruda afirma que o Superior Tribunal de Justiça deu ganho de causa à empresa. Segundo ele, um julgamento do Tribunal Regional Federal discute a

necessidade de apresentar autorização ambiental por parte da Fepam como condição para autorização da Aneel. Em nota, a Fepam afirma ter solicitado manifestação da Aneel quanto à situação do empreendimento, tendo em

vista a disputa entre as duas empresas. Conforme o órgão, a ECB não apresentou o despacho da Aneel com o projeto básico para autorização ambiental. Em dezembro de 2015, o documento foi enviado em nome da Bom Retiro

Desenvolvido pela Certel, é o projeto com maior capacidade de geração. Com previsão de produzir 79,5 MW, seria suficiente para abastecer uma população de 240 mil habitantes. A obra orçada em R$ 330 milhões esbarra na burocracia para ser concretizada. Protocolada em 2008 na Fepam, a proposta de construção da usina na localidade de Barras das Contas, em Muçum, havia sido indeferida pelo órgão no início de 2015, sob alegação de estar localizada em área classificada como “livre de barragens”. A Certel protocolou uma explicação técnica e reenviou os estudos responsáveis pela decisão. No dia 8 de janeiro de 2016, a estatal publicou em seu site o cancelamento da negativa. Em nota, o órgão informa que o processo de licenciamento prévio terá prosse


guimento com a analise do estudo de impacto ambiental. Conforme a Certel, a proposta será modificada seguindo os apontamentos da Fepam e reenviada para obtenção de uma licença prévia. Em seguida, o estudo ambiental será elaborado para obtenção da licença de instalação. A previsão da cooperativa é participar do leilão até final de 2017 para após viabilizar e iniciar as obras.

DIVULGAÇÃO

Geografia favorável e experiência no setor Além de ter a geração de energia como componente histórico regional, o potencial do Vale inclui ainda uma topografia favorável, a experiência técnica da Certel Energias na construção de barragens e o apoio da população aos projetos. Em abril de 2012, foi realizado o enquadramento das águas da bacia Taquari-Antas, que incluiu consultas públicas à comunidade regional sobre a utilização do recurso hídrico. Mais de 90% dos votos para geração hidrelétrica nos usos não consultivos, atestam o apoio da comunidade a atividade. A geografia da região também favorece a geração, em especial para hidrelétricas. Em uma área de cerca de 200 quilômetros, cortados por diversos cursos d’água, a altitude varia de 2 metros a 1,3 mil metros acima do nível do mar. Nos inventários dos dois principais rios da região, foram identificados nove locais possíveis de serem aproveitados para empreendimentos hidrelétricos. cinco desses aproveitamentos ficam no Forqueta e três no Taquari. Em termos de construção de usinas, a Certel Energia apresenta franca evolução. No primeiro empreendimento, a PCH Salto Forqueta, a cooperativa contratou praticamente todos os ser-

viços da obra, cujo custo alcançou R$ 15,5 milhões. A iniciativa seguinte, na usina Boa Vista, foi toda construída com mão de obra própria. A cooperativa incluiu pedreiros e engenheiros em sua folha de pagamento, atuando também como integradora da obra, que custou R$ 2,9 milhões. Devido a maior dimensão da PCH Rastro de Alto, a Certel decidiu realizar a obra em um sistema misto. Parte do trabalho foi executada por profissionais da própria cooperativa e parte foi realizada por empreiteiras contratadas. Ao completar 60 anos, em fevereiro de 2016, a Certel inaugurou a sua quarta usina hidrelétrica, segunda completamente construída com mão de obra própria. Localizada em São Francisco de Paula, a PCH Cazuza Ferreira tem potência instalada de 9,1 MW, capaz de abastecer uma população de 28,3 mil habitantes. O investimento na estrutura alcançou R$ 35 milhões. A energia gerada abastece uma subestação da Eletrosul e chega ao sistema nacional por meio de uma linha de transmissão que liga Caxias do Sul a Tubarão (SC). Também alcança uma ligação até a região de Vacaria.

Insegurança na rede e apagões Além de gerar energia, usinas são determinantes para o orçamento dos municípios locais

Nos inventários dos dois principais rios da região, foram identificados nove locais possíveis de serem aproveitados para empreendimentos hidrelétricos.

O ano de 2014 evidenciou a urgência da discussão em torno da geração de energia. No ano em que um apagão nacional expôs a fragilidade do sistema, a região se viu diante de um blecaute na única linha de transmissão que liga o Vale ao sistema brasileiro. Na primeira semana de fevereiro, uma queda no sistema de distribuição deixou cerca de 20 mil pessoas sem energia. O problema interrompeu o funcionamento de sistemas de ventilação e nebulização em granjas e causou a morte de cerca de 500 mil frangos, com prejuízo avaliado em R$


FOTOS ARQUIVO A HORA

Apagões e prejuízos em 2014 desnudaram os problemas no sistema de abastecimento do Vale

5,4 milhões. Naquele verão, o produtor Sérgio Schruer, 55, perdeu 1,2 mil frangos com 35 dias de vida. Desde então, Schruer continua sofrendo com pequenas quedas. No fim de semana dos dias 23 e 24 de abril, ficou mais de 72 horas sem luz devido a um problema no contador. Dessa vez, o tempo sem eletricidade não resultou maiores prejuízos à propriedade localizada em Fazenda Lohman, Roca Sales, mas a insegurança na rede faz o produtor avaliar a compra de um gerador. “Ainda estou pagando pelo aviário, mas é um investimento necessário, porque corro risco de perder a produção novamente.” A aflição aumenta principalmente nos dias de chuva. Segundo ele, a região tem muitos postes de madeira em condições precárias. “Alguns ainda estão de pé porque ficam pendurados pelos fios. É um perigo.” No apagão de 2014, Sander Paulo Nietiedt, 32, ficou dois dias sem luz. Produtor de leite e suínos, acumulou mais de R$ 3 mil em prejuízos. Além de perder 1,2 mil

litros de leite que estavam no resfriador, muitas vacas desenvolveram mastite. “Todo o nosso sistema é automatizado, seja a ordenha bovina ou a alimentação dos porcos. Sem luz, nada funciona”, ressalta. Segundo ele, outras quedas de luz foram registradas após o apagão, mas sem consequências mais graves. Nietiedt também tenta viabilizar a compra de um gerador para evitar novos prejuízos, mas o principal empecilho é o custo. “Para o que eu preciso, o investimento chega a R$ 45 mil.” A compra de um gerador também é objetivo de Danilo Wildner, 72, morador de Sampaio, Santa Clara do Sul. Produtor de aves faz mais de 20 anos, afirma que as quedas de energia resultam perdas constantes. A família de Wildner integra projeto de ampliação da produção, Diante da insegurança do sistema, uma das exigências é aquisição de um gerador capaz de assegurar as condições ideais para o desenvolvimento dos animais até os 30 dias de vida. Na propriedade de Paulo e Marlise

Produtor Sérgio Schruer, 55, amargou a perda de 1,2 mil frangos com 35 dias de vida

É só cair uma chuva mais forte ou um raio que a luz termina. Já ficamos dois ou três dias sem energia.

Mahler, também em Sampaio, as reclamações persistem. Conforme Marlise, os fios do contador de luz esquentavam e derretiam no verão, causando quedas recorrentes. A família chegou a instalar uma nova entrada para a rede, mas os incômodos persistem. “É só cair uma chuva mais forte ou um raio que a luz termina. Já ficamos dois ou três dias sem energia”, relata. O casal já perdeu uma geladeira e outros equipamentos eletrônicos devido a oscilações e tentou trocar a rede da AES Sul pela da Certel, mas não obteve permissão. Conforme Marlise, a produção de 35 mil frangos precisa de ventilação e água durante o verão. Segundo ela, uma queda de duas horas representa a morte de frangos. “Ainda não temos como comprar um gerador, então vivemos inseguros.” Hoje, o Vale do Taquari recebe energia de uma única linha de transmissão, entre Lajeado e Nova Santa Rita. Com capacidade para suportar até 320 MW de potência, a ligação entre a região e o Sistema Nacional Integrado está próxima do limite.


Diante de um crescimento populacional de cerca de 5% ao ano e da instalação de novas indústrias de médio e grande porte, urge a necessidade de uma opção de entrada de energia. Caso contrário, uma pane no sistema seria capaz de deixar toda a região às escuras. Presidente da Certel, Erineo Hennemann afirma que a ligação entre Garibaldi e Lajeado teria capacidade de garantir segurança de abastecimento por, no mínimo, 15 anos.

Problemas com empresa atrasam nova linha Uma segunda linha de transmissão para o Vale do Taquari foi licitada pelo governo federal em junho de 2013. O leilão previa a conclusão da linha entre Garibaldi e Lajeado e de novas subestação em 2016. As obras garantiriam oferta de 160 MW adicionais à região, mas sequer foram iniciadas. O conjunto de obras compreende a linha de 47 quilômetros de extensão entre os dois municípios e outra linha, com 16,4 quilômetros dentro de Lajeado, além de duas subestações de energia, sendo uma no Vale e outra na Serra Gaúcha. Vencedora da licitação, a empresa MGF Energy foi questionada por especialistas desde o início do

processo diante da viabilidade econômica da proposta apresentada, considerada de alto custo e baixo retorno. Sem cumprir os prazos, a companhia acabou descredenciada do processo. Uma nova licitação deve ser concluída ainda em 2016. O início da operação é adiado para 2021. A informação foi confirmada em abril, durante visita do gerente-executivo do Operador Nacional do Sistema (ONS), Manoel Botelho, ao estado. Na época, Botelho alertou para a gravidade da situação, ressaltando que, em caso de pane, a região ficaria às escuras.

Medidas emergenciais sem garantias Em março, uma reunião entre ONS, CEEE-GT, Eletrosul, RGE, Certel, AES Sul e a Empresa de Pesquisa Energética debateu medidas de urgência para evitar problemas no abastecimento. Apesar disso, não há certeza da efetividade das ações. Na ocasião, a AES Sul informou a necessidade de instalar um transformador na Subestação Lajeado 2 e outro na Subestação Venâncio Aires, além de recapacitar a linha de transmissão entre as duas subestações de Lajeado. A CEEE-GT assegurou a disponibilização de até quatro unidades reservas do transformador. ARQUIVO A HORA

Um dos principais problemas regionais é a dependência de apenas uma linha de transmissão

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ENTREVISTA/ JÚLIO SALECKER

“Temos potencial A Hora – Por que a demanda por energia passou a ser um dos principais temas em debate no Vale do Taquari? Júlio Salecker – Estamos envolvidos nesse projeto da CIC desde 2014. Aqui na região sempre se falava em aumentar os acessos de asfalto, mas era preciso garantir também o acesso de elétrons. O diagnóstico era de que precisávamos de mais disponibilidade de energia no Vale do Taquari. É uma demanda mais difícil de compreender, porque todo mundo passa sobre o asfalto, enquanto a energia é virtual. Você aperta um botão, ligou a luz, mas não sabe como ela chega. A CIC abraçou essa bandeira de que ou a energia tinha que chegar ou ser gerada internamente na região. A segunda opção é melhor para evitar a evasão de recursos. Os problemas enfrentados no verão de 2013 para 2014 evidenciaram a fragilidade da rede. O que ocorreu naquele período? Salecker – Além de ter o apagão nacional, tivemos um blecaute regional, porque temos apenas uma entrada de energia. Uma coisa é o produto, o MW/h, que a região precisa, outra é o fio para que essa energia chegue até aqui. Temos apenas um acesso. Se você conversar com pessoas de São Paulo, por exemplo, dirão que somos loucos. Nas regiões semelhantes à nossa, eles têm duas a três entradas. Até agora, nós tivemos mais sorte que juízo. Isso não é culpa da Certel nem de nenhuma das concessionárias. É um histórico, desde a época da CEEE. A segunda linha de transmissão prevista para o Vale deveria ficar pronta neste ano, mas problemas com a empresa travaram a obra. O governo anunciou nova licitação e o prazo ficou para 2021. Existe viabilidade de outros projetos antes desse prazo? Salecker – Houve uma reunião na CEEE-Transmissão em Porto

Julio Salecker é diretor de Geração de Energia

Alegre para definir essa questão. Teremos todo um projeto emergencial para fortalecer a rede. Se isso vai resolver o problema ou não, depende da demanda. Do consumo de cada casa, comércio e indústria. Se der um calorão, poderemos ter problema. Essa fragilidade dificulta a atração de empresas? Salacker – Essa é a principal questão. Não é nem tanto saber se vamos ficar no escuro, e sim de confiabilidade. Do jeito que está, uma empresa de porte interessada em se instalar no Vale analisa essa questão antes de fazer investimentos. Também avalia quando esses problemas estarão resolvidos. Caso contrário, corre risco. Não acredito que teremos problemas, mas alguém disposto a construir um empreendimento milionário não vai correr esse risco. A Certel tem diversos projetos previstos no campo da geração de energia. Como está o andamento e qual a po-


l hidrelétrico inestimável para usar” ANDERSON LOPES

nossa única linha de transmissão, mas ajuda. Até porque, se completarmos as duas usinas maiores, teremos a geração de 120 MW na soma. A região não consome tudo isso de madrugada, por exemplo. Essa energia tem que sair também. A linha é imprescindível. Qual a previsão de iniciar as obras da Foz do Jacutinga e os demais? Salecker – Gostaríamos de iniciar em breve a Foz do Jacutinga e dar seguimento aos projetos do Rio Forqueta, com foco em Muçum, mas tudo depende da Fepam. No caso da Foz do Jacutinga, eles passaram anos falando que tínhamos um concorrente na Aneel e que enquanto a agência não desempatasse, não fariam nenhum esforço. Mas, não importa quem vai fazer, a Fepam tem que olhar o projeto e dizer se é viável ou não. Saiu o desempate, faz quase dois anos, protocolamos o pedido na Fepam. Era só pegar o nosso projeto mais a resolução da Aneel e analisar. Mas ainda nem começaram a fazer.

da Cooperativa Certel e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas

tencialidade? Salecker – Não são alternativas, porque serão concluídas depois de 2021. As duas propostas mais impactantes são Bom Retiro do Sul e Muçum, que podem iniciar depois de várias soluções burocráticas. Tem a questão da Fepam, ainda por se resolver. Cassaram um embargo que eles mesmos tinham imposto à hidrelétrica de Muçum. A primeira análise foi equivocada e tivemos que provar que estava errado. Demorou um ano para isso e ainda precisam analisar o processo para emitir a licença. Dos projetos previstos, quais estão em estágio mais avançado? Salecker – A mais avançada é a Foz do Jacutinga. É uma usina de 5,5 MW. Não é uma potência significativa, mas ajuda a compor o cenário energético, ainda mais se pensarmos na soma dessas pequenas usinas. Se pegarmos o Forqueta inteiro, que é o nosso foco, são 25 MW em cinco usinas. Não chega a ser uma solução, por exemplo, para a

Temos um grande potencial bioenergético, utilizando os dejetos da produção animal, é uma grande oportunidade e dever moral, agregaremos valor na geração de energia e ajudaremos muito na limpeza de nossas águas.

Desde o início do novo governo, existe a promessa de mais agilidade por parte da Fepam. Você enxerga esses avanços? Salecker – Antes da licença na Fepam, o projeto não existe. Caso contrário, se gasta recursos com a área, topografia, sondagens e pode ser impedido. Tem uma usina em Rio da Várzea com licença de instalação e obra andando, cujo licenciamento foi caçado. Entendemos a preocupação ambiental, o problema do nosso órgão vai postergando, não decide, depois lá na frente vem dizer que não pode. Mas concordo que tivemos evoluções. Inauguramos recentemente a usina Cazuza Ferreira e percebemos agilidade no processo final. Quais as características que favorecem a produção de energia na região? Salecker – Temos fábricas de turbinas e equipamentos de hidrelétricas desde 1922 e a primeira usina foi instalada em 1923. A Mecamidi Wirz fabricou mais de 117 pequenas usinas instaladas na região do Codevat. Somos geradores natos. Tínhamos a barragem de Encanta-

do, na Lagoa Garibaldi, a barragem do Harmonia. Em Encantado, conseguiram 240 metros de queda. Somos um povo que tem isso no sangue. Além disso, nosso Vale começa a 1,3 mil metros em relação ao nível do mar e chega a quase zero. Em 200 quilômetros, temos 1,1 mil de quedas. Temos um potencial hidrelétrico inestimável para utilizar. Como você enxerga a resistência de ambientalistas às hidrelétricas? Salecker – A geração de MW/h está na Constituição do Brasil como um bem de utilidade pública. Têm muita ONGs e pessoas que não concordam. Fui à reunião no Ministério Público em Porto Alegre e saí apavorado com as críticas de radicais às hidrelétricas. Não consigo entender. Três Gargantas na China colocou aquele monte de cidade embaixo d'água, mas estamos conversando sobre pequenas usinas que não estragam nada nos rios, muito pelo contrário. Se formos analisar a enchente de 2010, que dizimou os rios Forqueta e Fão, as margens preservadas foram as do lago da Salto Forqueta. Uma pequena usina ajudou a preservar. Qual o benefício da instalação de uma hidrelétrica para um município? Salecker – Primeiro o ICMS agregado, o índice de retorno. Via de regra, a arrecadação vai para o município onde está instalada a casa de máquinas. A não ser que os municípios vizinhos façam um acordo antes ou durante a construção da usina e enviem o documento à Secretaria da Fazenda. Em Putinga, a maior empresa de índice agregado é a Salto Forqueta. Não teve acordo porque uma usina fica em Putinga e outra em São José do Herval. Mas em outros locais, como Bom Retiro do Sul, a sugestão é por um acordo, incluindo os municípios atingidos. Usinas acima de 30 MW, no caso de Muçum e Bom Retiro do Sul, também têm pagamento de royalties. Os únicos usuários de água que pagam por usar o recurso no Brasil são as hidrelétricas, isso desde a década de 70. Existe um fundo estadual de recursos hídricos com R$ 60 milhões ano pago pelas hidrelétricas gaúchas.

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Caminho para produção limpa e sustentável S e as características topográficas, técnicas e culturais do Vale do Taquari favorecem a instalação de hidrelétricas, a matriz econômica focada na produção de alimentos demanda não apenas de energia, mas também de uma solução para os dejetos da atividade agrícola. Conforme levantamento da Agência Nacional das Águas (ANA), realizado em 2007, cerca de 56% da poluição encontrada na região hidrográfica do Guaíba é proveniente da bacia que atravessa a região. No caso dos rejeitos orgânicos de animais, o percentual sobe para cerca de 66,6%. O motivo é a alta concentração de granjas de suínos, aves e produção leiteira ao longo da bacia Taquari-Antas. A atividade agrícola é responsável por 90% dos lançamentos prejudiciais ao ambiente nos mananciais da região. Nesse cenário, o investimento em biodigestores se torna ainda mais necessário, pois, além de gerar energia ou gás, o material pode ser utilizado como adubo orgânico. Para estimular os investimentos, o governo do Estado desenvolve programa de incentivo e elabora um atlas do biometano gaúcho. Liderado pela Univates para a Companhia de Gás do Estado do RS (Sulgás), o mapeamento das potenciais fontes visa orientar investimentos na atividade. O levantamento é realizado desde a metade de 2015 por meio de análise dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes). Também são visitadas agroindústrias, aterros sanitários e estações de tratamento de efluentes domésticos. Após a conclusão, o atlas estará dispo-

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nível impresso e digital. Principal matéria-prima do biogás, a biomassa é um resíduo sólido encontrado em restos de alimentos, resíduos de madeira, palha do arroz e esterco de animais. Ela pode gerar o combustível por processo de queima, decomposição, extração e transformação.

Incentivo do Estado

Aprovado em abril na Assembleia Legislativa, o Programa Gaúcho de Incentivo à Geração e Utilização de Biometano (RS-Gás) foi desenvolvido pela Sulgás e pela Secretaria Estadual de Minas e Energia. Com ele, o governo quer ampliar a oferta de gás natural para regiões não atendidas pelo gasoduto Brasil-Bolívia. O RS-Gás vislumbra aumentar o acesso a fontes de gás, energia, gerar emprego e renda e reduzir o problema de destinação de dejetos da atividade agrícola. Junto com o Vale do Caí, o Vale do Taquari é considerado pelo Piratini a região com maior potencial gerador de biometano. O programa cria linhas de crédito especiais junto ao BRDE e ao Badesul para investimentos na cadeia do gás, além da criação de parcerias público-privadas. Conforme a proposta, a Sulgás garantirá a compra da produção pelos próximos 20 anos. Por meio de uma chamada pública, a ser lançada no segundo semestre deste ano, inicia a aquisição de projetos de biometano, com volume total estimado de 200 mil metros cúbicos por dia. Hoje, os gaúchos consomem dois mi-

lhões de metros cúbicos diariamente. Por ano, o RS perde R$ 166 milhões em ICMS para o Mato Grosso, estado onde o gasoduto ingressa no Brasil e o imposto é tributado. O Piratini também intenciona reduzir os custos de logística incentivando o consumo do gás na região onde ele é produzido e estimular a utilização de gás encanado.

Números da Sulgás Extensão da rede canalizada:

966,4 km 38 municípios (25 por rede canalizada e 21 por gás natural comprimido (GNC).

27.576 clientes Clientes por segmento: · Industrial: 119 · Veicular: 81 · Comercial: 575 · Residencial: 26.783 · Cogeração: 2 · Geração ponta: 14 · Termelétrico: 1

A usina solar, instalada em 2015, na Univates, tem capacidade para gerar 5% de toda eletricidade


REPRODUÇÃO

Distribuidora do Vale é referência A rede Charrua é responsável pela distribuição de gás GNV no Vale do Taquari e outras regiões do Estado. Prestes a completar 20 anos de atuação no setor, a empresa tem capacidade para comprimir dois milhões de metros cúbicos por mês. A distibuidora fornece o combustível em Lajeado e outros 11 municípios gaúchos, com previsão para novas unidades em Soledade e Rio Grande. Além disso, também leva o produto em unidades industriais da Serra e Região Metropolitana. A companhia utiliza tecnologia para compressão e transporte, propiciando fornecimento do produto onde não há previsão de rede de gás encanado. Presidente do Grupo Arco, detentor da empresa, Elvídio Eckert considera o gás natural como o com-

Ecomentano projeta investimento de R$ 80 milhões em Estrela para a implantação de uma fábrica de gás natural por meio de biodigestores

bustível do futuro.

R$ 80 milhões de investimento ANDERSON LOPES/ARQUIVO A HORA

consumida no Campus Lajeado. Projeto é pioneiro entre as instituições de ensino do país

Estrela é um dos dois municípios do RS a receber investimentos da empresa Ecometano. Em abril, ela confirmou a aplicação de R$ 160 milhões na construção de duas fábricas no RS. Além do Vale, a Serra Gaúcha também terá uma unidade, em Carlos Barbosa. Cada planta custará R$ 80 milhões. Denominadas de Uter, terão capacidade para receber até 722 toneladas de rejeitos agroindustriais por dia. A produção deve chegar a 35 mil metros cúbicos diários de biometano e 500 toneladas de fertilizante. A quantidade de gás é suficiente para abastecer 2,5 mil carros ou 30 mil residências por dia. O projeto aguarda liberação da Fepam e as obras têm duração prevista de 18 meses. Em Estrela, a instalação será na localidade de Santa Rita. As operações ocorrem por meio de parceria com a empresa Folhito. Conforme a Ecometano, a política de eliminação dos passivos orgânicos adotada pelo governo gaúcho foi decisiva para o investimento. A empresa pertencente ao grupo MDCPar, do Rio de Janeiro, tem unidades na capital do estado de São Paulo, e em Salvador (BA). De acordo com o engenheiro de projetos da Ecometano, Alexandre Sousa da Rosa, a intenção da empresa é aproveitar os resíduos orgânicos da região e transformá-los em uma fonte de receita ao mesmo tempo em que proporciona a destinação correta dos materiais. Além de converter dejetos das gran-

jas e agroindústrias do Vale, a planta também terá capacidade para receber carcaças de animais mortos. Conforme Rosa, essa opção surgiu durante o mapeamento da potencialidade da geração regional. De acordo com ele, o estudo demonstrou a dificuldade dos produtores em realizar a destinação adequada. Após receber tratamento térmico, as carcaças serão enviadas aos biodigestores onde ajudarão na produção do biogás. Conforme o secretário de Agricultura de Estrela, José Adão Braun, o município presta o serviço de enterrar carcaças de animais mortos nas propriedades. Segundo ele, são realizados em média três atendimentos por dia, na maioria para enterrar vacas. Diante do ônus criado pela demanda, considera a iniciativa da Ecometano fundamental. Para ele, além de assegurar a destinação correta, evita problemas de poluição e ainda resulta na geração de energia por meio da matéria orgânica.

Biodigestores contra passivo ambiental Em abril de 2015, foi inaugurado o projeto-piloto de biodigestores da cooperativa Languiru. Desenvolvido por meio de parcerias com o aporte do go-

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verno da Alemanha, tem o apoio da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs). Instalados em Bom Retiro do Sul, junto à Unidade de Produtora de Leitões (UPL) Novo Mundo, os equipamentos têm capacidade de gerar 20 Kw ou cerca de 5 metros cúbicos de biogás por hora. As tratativas para o projeto iniciaram em novembro de 2012, fruto de um estágio realizado na Alemanha pelo engenheiro ambiental da cooperativa, Tiago Feldkircher. No país, o Biogás recebe incentivo por meio de financiamentos governamentais e é utilizado tanto para geração elétrica quanto para o aquecimento. Representantes das empresas alemãs visitaram a UPL e elaboraram o projeto. Encaminhada ao governo alemão, a proposta recebeu aporte financeiro. As instalações de Bom Retiro do Sul permitem utilização do biogás no aquecimento da água de chuveiros e na substituição do gás de cozinha. A cooperativa recebeu o suporte técnico do Instituto de Pesquisa Agroscience, da Alemanha, órgão de pesquisa científica para melhorias na agricultura e manejo animal, e da empresa Örkobit, especializada na construção, instalação e operação de plantas de biogás.

Dejetos viram energia e gás Equipamento responsável por transformar dejetos agropastoris em gás, utilizado como fonte de energia ou transformado em eletricidade. É apontado como saída para a destinação adequada dos dejetos do Vale do Taquari

A partir do piloto, a Languiru segue os estudos na área com apoio da Univates, também aproveitando dejetos e

resíduos de outras unidades produtivas e industriais da cooperativa. Conforme Feldkircher, a intenção da

cooperativa com o projeto era dar uma destinação adequada aos dejetos provenientes da UPL.

Incentivo às pequenas produções O governo gaúcho criou lei que isenta de ICMS a energia produzida em pequenas centrais geradoras de energia renovável, desde que conectadas à rede de distribuição convencional. A legislação passa a valer a partir do dia 1o de junho deste ano, e incentiva a produção doméstica, comercial e industrial por meio de placas solares, biodigestores e pequenas torres de captação eólica. O benefício vale para minigerações, com até 1 Mw de potência e microgerações de até 100 Kw. Antes da lei, o governo cobrava 30% de ICMS sobre a energia excedente produzida em uma residência enviada à rede de distribuição. A isenção foi possível graças à adesão do Estado a um convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). O termo assegura que a isenção não impactará a arrecadação gaúcha, pois apenas 186 instalações desse tipo


estão registradas no RS. O uso da energia solar no estado é pequeno, principalmente em função do custo de implantação dos painéis de captação. Na Aneel, uma capacidade de 7,06 Kw de potência instalada está registrada no RS. O estado tem média de seis horas diárias de insolação, índice superior ao registrado no norte do Brasil, e também é grande produtor agropecuário, atividade cujos dejetos podem gerar bioenergia. Diante do encarecimento da energia e do surgimento de tecnologias mais baratas no mercado, o apoio governamental ajuda a impulsionar o setor. A Secretaria de Minas e Energia elabora, em parceria com a Univates, o Atlas Solarimétrico do Estado. Com previsão de lançamento em 2016, o material visa indicar os pontos mais favoráveis para investimentos no setor.

Retorno chega em seis anos Com sede em Porto Alegre, a empresa EPI Energia Projetos e Investimentos, especializada em sistemas de geração solar e eólica, mantém uma unidade de pesquisa no Vale do Taquari. O laboratório fica na propriedade da diretora da empresa, Annelise Dessoy, em Cruzeiro do Sul. Na unidade, são realizados testes

ARQUIVO A HORA

Com módulos solares e aerogeradores, laboratório da EPI Energia fica em Cruzeiro do Sul

de equipamentos, demonstrações a clientes, além de treinamentos para representantes e técnicos de instalação. No centro de demonstrações, existem dois aerogeradores de pequeno porte e três diferentes conjuntos de módulos fotovoltaicos. No telhado do laboratório, há um painel de captação solar para geração de energia elétrica e outro para aquecimento de água. O telhado também abriga uma estação capaz de medir a velocidade do vento e os índices de radiação solar. O sítio tem ainda um conjunto fotovoltaico de solo, com duas opções de fixação, por meio de estacas ou com sapatas de concreto. Todos os equipamentos estão ligados em uma central,

Modelo para ser ampliado Painéis fotovoltaicos captam a radiação emitida pelo sol e transformam em impulsos elétricos. Sistema pode abastecer consumo de casas, comércios e indústrias, além de ser conectado à rede para envio de eletricidade excedente.

onde são simulados diferentes sistemas, a depender da capacidade do investimento e do tamanho do projeto. Nos próximos três meses, a empresa pretende instalar na propriedade um estacionamento solar, com módulos fotovoltaicos que geram energia ao mesmo tempo em que proporcionam sombra aos veículos. Além do laboratório em Cruzeiro do Sul, a EPI também tem uma unidade de pesquisa eólica e fotovoltaica na PUCRS, em projeto aporte das empresas alemãs WKA e Sequa, e apoiado pelo Senai-RS. A unidade serve para auxiliar a formação de profissionais das áreas de engenharia, com foco na energia renovável. De acordo com Annelise, antes de

apostar também na energia fotovoltaica, a EPI estava concentrada em projetos de energia eólica. O primeiro laboratório da empresa foi instalado faz cerca de dez anos na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), junto ao museu oceanográfico. Conforme a diretora, em 2012, a Aneel criou uma resolução permitindo que o consumidor instale pequenos geradores e troque energia com a distribuidora local para reduzir o valor da fatura de energia, permitindo avanços no mercado do setor. Ela afirma que a principal vantagem dos pequenos sistemas de energia elétrica está na economia doméstica. O retorno do investimento demora em média seis anos, para equipamentos cuja vida útil pode chegar a 50 anos, ressalta. No caso das placas solares, existe garantia de 25 anos contra defeitos. Criada em 2004, a EPI Energia Projetos e Investimentos é representante da empresa alemã EAB New Energy, que atua faz mais de 20 anos no mercado de produção renovável. Além do Brasil, a companhia desenvolve projetos na Argentina, Chile, Uruguai e outros 11 países da Europa, Ásia e América do Norte.

Univates aposta na energia solar Uma das principais iniciativas em geração de energia por meio de células fotovoltaicas está instalada na Univates. A universidade inaugurou em abril de 2015 uma usina solar com capacidade para produzir 5% de toda eletricidade consumida no câmpus Lajeado. O projeto é pioneiro entre as instituições de ensino do país. São 1,1 mil painéis que produzem 25 mil Kw ao mês. A quantidade é suficiente para abastecer o prédio da Tecnovates, que tem área construída de 5,2 mil metros quadrados. É o equivalente ao consumido por cem famílias de quatro pessoas. Antes de instalar a microusina, a instituição aplicou um teste com dez placas fotovoltaicas que resultou no cadastro de Gestora de Energia na Aneel. Diferente dos modelos instalados em residências, o sistema não acumula eletricidade em baterias e toda a carga produzida é liberada na rede da AES Sul.

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THIAGO MAURIQUE

ENTREVISTA/ ODORICO KONRAD

“Um economista diria que estamos perdendo dinheiro.” A Hora – Quais os principais potenciais do Vale no campo das energias alternativas? Odorico Konrad – A Univates trabalha a biomassa e o biogás faz quase uma década. Em 2007 e 2008, apostamos em pesquisas sobre o tema e o Vale é referência. Mas também temos iniciativas na energia solar. Com mais de mil placas instaladas, a universidade é única do país com uma estrutura dessas. Acredito que daqui a cinco ou dez anos esse número será insignificante, diante da potencialidade. Mas a energia solar fotovoltaica se mostrou muito satisfatória. A substituição dos combustíveis fósseis na produção de energia é viável? Konrad – Hoje a energia eólica participa mais da matriz energética do que o carvão, por exemplo. Mas são coisas separadas. O carvão é uma reserva, uma energia segura. Se houver uma catástrofe ambiental e não tivermos mais disponibilidade solar ou de vento e a biomassa morrer, o carvão estará lá. Como as energias fósseis são seguras, deveriam ficar reservadas para o caso de necessidade. Se nunca forem necessárias, melhor ainda. Mas é muito

errado queimar gasolina como fazemos hoje, sabendo que ela é finita. As renováveis conseguem substituir totalmente as demais matrizes? Konrad – Precisamos pensar em energias firmes. Se alguém me perguntar por que o carvão e o petróleo dão certo, o motivo é a facilidade de reservar essas fontes de energia. Posso guardar um tanque de petróleo e transportá-lo por quilômetros que continuará com o mesmo potencial energético. Quando

Sabemos que temos um potencial espetacular de biomassa e energia solar, mas é preciso um olhar híbrido.”

Odorico Konrad coordena o Laboratório de Biorreatores da Univates

não tem sol ou vento, qual energia vamos utilizar? A energia por hidrelétricas trabalha em um sistema firme porque a água está reservada. O biogás também pode ser reservado. Sabemos que temos um potencial espetacular de biomassa e energia solar, mas é preciso um olhar híbrido. Durante o dia, tem uma demanda energética, uso o sistema solar. No momento que o sistema solar não atender a demanda, posso complementar com a energia da biomassa que estará em um reservatório.

gia? Konrad – Transportar energia em longa distância resulta perdas e quem paga por isso é o consumidor. Temos valores de energia elétrica altos, seja no ambiente urbano ou rural. Aquele preço que estávamos acostumados a pagar na conta de luz há dois ou três anos não vai mais ocorrer. Se fizermos uma geração descentralizada, com viés renovável, foco em biomassa e energia solar, quando tiver uma oscilação de preços, conseguiremos amortecer um pouco essas subidas repentinas, por exemplo.

Até que ponto a energia alternativa pode suprir as necessidades do Vale? Konrad – Hoje, mais de 90% da nossa eletricidade vem de fora. Não vamos atender a demanda completa, pois não consigo estabelecer uma situação totalmente autossuficiente de imediato. Mas se pudermos aumentar a participação do Vale de 10% a 30%, estamos falando em recursos energéticos e financeiros que ficam na região. Um economista diria que estamos perdendo dinheiro. Não quer dizer que estamos rasgando os recursos, mas mandando para fora. Os recursos circulam onde ocorre a geração de energia.

Qual sua avaliação sobre os benefícios anunciados pelo governo gaúcho? Konrad – Estamos apostando muito em energias renováveis, na pesquisa, na questão tecnológica e econômica e o poder público precisa fazer sua parte para mostrar claramente ao investidor uma tributação ou linhas de financiamento diferenciada. Todos os países com grande matriz solar e de biogás tiveram incentivos governamentais. Temos uma sinalização de melhoria no cenário com a desoneração do ICMS e o projeto da Sulgás. Sem apoio público, a iniciativa privada demora demais para ter a certeza de que o investimento é um bom negócio.

Quais as vantagens de gerar ener-


THIAGO MAURIQUE

hidrelétricos esbarram em dificuldades burocráticas para avançar. Juntos, representariam uma injeção de R$ 1,5 bilhões somente na realização das obras. Conforme a CIC-VT, todo o valor será revertido em custo-benefício para a região. Os projetos resultariam em condição de uma energia mais barata, garantia de abastecimento estável e menor custo para manutenção das linhas de transmissão. Para o presidente da entidade, Ito Lanius, as perdas com os atrasos são imensuráveis.

Benefício econômico sustentável Fundada em 1922 em Estrela, a H. Wirz foi adquirida em 2008 pelo Mecamidi. É especializada na fabricação de turbinas e componentes para PCHs

Geração de energia eleva o PIB regional

O

s impactos do cenário energético para a economia são o principal motivo para as mobilizações em torno do tema. A dependência de uma única linha de transmissão e a pouca geração local causa insegurança para produtores rurais, indústrias, comércios e consumidores domésticos. Diante desse cenário, a CIC-VT lidera mobilização regional pela aprovação dos projetos de geração de energia e por uma

solução ao impasse envolvendo a construção da nova linha de transmissão. Para a entidade, o setor é capaz de alavancar o crescimento do PIB regional. Conforme a CIC-VT, o percentual do Vale na composição do PIB gaúcho teve redução na comparação com o início dos anos 2000. Na época, a região era responsável por 4% de toda a riqueza produzida no RS. O último levantamento da Federação de Economia e Estatística (FEE),

referente à 2012, mostra que o índice reduziu para cerca de 3,4%. A autossuficiência energética é uma das metas para aumentar a participação do Vale na composição do PIB estadual. O exemplo está na região de Osório, onde a instalação de parques eólicos com aporte financeiro do Governo Federal desde 2006 resultou em geração de emprego, renda e arrecadação aos municípios do litoral gaúcho. No Vale do Taquari, nove projetos

O Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat) também integra a mobilização por novos projetos de geração. Segundo ela, no caso das PCHs, além do menor impacto ambiental, a eletricidade gerada também é mais barata em relação às demais. Ressalta o resultado do acionamento das termelétricas a partir de 2014, devido à estiagem que reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Na época, o cada megawatt produzido no país passou a custar quatro vezes mais. No primeiro ano da crise energética o governo tentou segurar as tarifas, mas a política se mostrou insustentável e, em 2015, as contas de luz dispararam. De acordo com a presidente do Codevat, assim como as tarifas, o consumo de eletricidade também aumentou nos últimos anos. O acesso à bens de consumo como ar-condicionados, eletrodomésticos e eletrônicos melhorou a qualidade de vida das famílias, mas teve como consequência a ampliação da demanda energética.


ANDERSON LOPES

Diante desse cenário, uma maior oferta de energia produzida no Vale não beneficiaria apenas a região, mas sim todo o sistema elétrico gaúcho. Mesmo assim, Cíntia destaca a necessidade de atentar para outros aspectos, como os impactos ambientais e sociais dos empreendimentos. Para o Codevat, as propostas de hidrelétricas precisam ser responsáveis no manejo dos rios e da população atingida. Cíntia avalia que os atores regionais estão cientes dessa responsabilidade, buscando dar transparência aos processos e focados em melhorar a qualidade das comunidades. Representante do Conselho de Desenvolvimento Territorial (Codeter-VT), Lídia Margareth Müller alerta para a necessidade de projetos que permitam a ampliação da atividade primária. Propõem o investimento em usinas de compostagens e biodigestores para solucionar o passivo das atividades e ainda gerar energia.

Tendência global O mundo experimenta desde o final do século XIX um avanço tecnológico, populacional e produtivo sem precedentes. O crescimento se intensifica

A necessidade de avanços na oferta de energia para o desenvolvimento da região motivou o debate Pensar o Vale sobre o tema

a partir da metade do século passado. Entre 1971 e 2005 o PIB mundial triplicou e a demanda por energia dobrou. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), 66% da eletricidade consumida no globo é proveniente da queima de combustíveis fósseis. O carvão mineral, um dos principais responsáveis pela emissão

de poluição na atmosfera, responde por quase 40% da produção. Conforme a AIE, a tendência para os próximos 30 anos é de de um aumento de 60% na demanda de energia global. Os motivos são o avanço econômico dos países emergentes a melhoria dos padrões de vida em regiões de alta densidade populacional e o aumento dos

índices de urbanização De acordo com a Agência diante do impacto ambiental crescente, da escassez de combustíveis fósseis e do aquecimento global, é urgente o investimento em projetos de geração de energia limpa e renovável. Caso contrário, o crescimento econômico mundial se tornará insustentável, penalizando principal-


mente países do BRICS(China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul).

THIAGO MAURIQUE

Referência em tecnologia Se a demanda por energia aumenta em escala global, o Brasil tem expertise técnica e potencial natural para se tornar um dos principais e fornecedores eletricidade da América Latina. A ampla experiência no campo hidrelétrico coloca o país como uma referência do setor. Gerente da empresa Mecamidi Wirz, especializada na fabricação de turbinas e componentes para PCHs, o espanhol Carlos Sanches destaca a capacidade brasileira, mas ressalta a necessidade de apoio governamental ao setor. Segundo ele, apesar de ser o principal componente da matriz nacional, a energia hídrica recebe investimentos muito inferiores na comparação com as outras formas de geração. Porém, enquanto boa parte da tecnologia fotovoltaica e eólica é importada, a cadeia produtiva das hidrelétricas, que inclui a fabricação dos componentes, a construção civil e a operação, é totalmente nacional. O impulso ao setor resultaria na produção de energia mais barata, evitando o uso das termelétricas à carvão, uma

Carlos Sanches é gerente da Mecamid Wirz, especializada na fabricação de turbinas componentes para PCHs

Apesar de ser o principal componente da matriz nacional, a energia hídrica recebe investimentos bem inferiores na comparação com as outras formas de geração.

das formas mais caras e poluidoras de produção. Na França, lembra Sanches, o potencial hídrico é 100% aproveitado, e a composição com a matriz nuclear tornou o país um dos principais exportadores de energia da Europa, além de ser o que possui o ar menos poluído. Para ele, é preciso apostar nas novas fontes como a energia solar e eólica, mas sem deixar de lado a capacidade hídrica. Ressalta a diferença entre os grandes obras hidrelétricas realizados pelo governo e os projetos menores como os previstos para o Vale. Os primeiros resultam em danos ambientais e sociais imensuráveis, além de custarem aos cofres públicos entre duas e três vezes o valor orçado originalmente. No caso das PCHs, o orçamento raramente é ultrapassado, os danos são diminutos e existe a garantia de diversificação na matriz.

Energia solar mais barata Entre os integrantes do BRICS, a Índia é o que possui o maior problema em termos de disponibilidade energética. Segundo país mais populoso do mundo, com 1,2 bilhão de habitantes, tem 60% da geração de eletricidade proveniente da queima de carvão mineral.

A matriz baseada nos combustíveis fósseis faz com que 13 das 20 cidades mais poluídas do mundo estejam no país. Além disso, 300 milhões de indianos não tem acesso a rede elétrica, e a maior parte das cidades sofre com constantes apagões. Este cenário obrigou o governo indiano investir no desenvolvimento de tecnologias fotovoltáicas. A partir de 2014 a substituição da matriz por carvão virou tônica. Em 2016, o primeiro ministro Piyush Goyal anunciou que, pela primeira vez, o preço do quilowatt-hora de energia solar atingiu o mesmo preço da energia termelétrica. Agora, a ideia é gerar 100 gigawatts de energia solar até 2022, e com isso desligar as usinas térmicas. Seria o primeiro país do mundo a produzir essa quantidade. É quatro vezes mais do que o produzido hoje nos Estados Unidos. O projeto ambicioso avança em velocidade surpreendente. Em 2015, a Índia construiu o primeiro aeroporto que funciona apenas com energia solar, na cidade de Cochim. No mesmo ano, foi projetada a maior estação de produção fotovoltaica do mundo, no estado de Madhya Pradesh. Com todo esse investimento, o custo de produção tende a cair ainda mais. A projeção para 2020 é de que o preço da energia solar esteja 10% menor em relação ao carvão.


Plano contempla a próxima década O

Secretaria Estadual de Minas e Energia lançou no fim de 2015 o primeiro estudo detalhado sobre o cenário energético gaúcho. Iniciado em 2014, o diagnóstico inédito aponta gargalos e investimentos necessários para assegurar o abastecimento pelos próximos dez anos. Diante do encarecimento da energia e da insegurança do sistema, o plano mensura o potencial do RS nas diferentes formas de produção de eletricidade, apostando no setor privado para diversificar a matriz energética. Projetos sólidos terão acesso a crédito facilitado pelo governo gaúcho, por meio de bancos nacionais ou estrangeiros, como o Banco da China. O estudo mostra a necessidade de valorizar as características próprias de cada região. No caso do Vale do Taquari, destaca o forte potencial para abrigar usinas

hidrelétricas e iniciativas de geração por meio de biodigestores. Para viabilizar novas iniciativas, o mapeamento indica o aprimoramento dos intercâmbios de energia para os ambientes na-

Logo que abrimos a Secretaria de Minas e Energia, a primeira visita que recebemos foi da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari.

cional e internacional e o estabelecimento de políticas para captação de recursos. No capítulo Caderno de Propostas, constam mais de 80 iniciativas projetadas em 17 regiões com a participação de órgãos municipais, estaduais e federais, empresas privadas e sociedade civil organizada. Entre elas, estão todas as propostas registradas para o Vale, incluindo usinas hidrelétricas e biorreatores. Também estão incluídas as obras de expansão dos sistemas de transmissão, subtransmissão e distribuição, com ênfase nos empreendimentos da Eletrosul. Resultado de leilão da Aneel ocorrido 2014, inclui 18 linhas de transmissão com investimento previsto de R$ 1,27 bilhão. Entre os projetos, está a segunda linha para a região, ligando Lajeado a Garibaldi. O estudo ainda evidencia a necessidade de estabelecer uma política de con-

Estudo sobre o sistema energético contempla as

servação de energia para adequar o uso racional. Conforme o levantamento, o setor energético é capaz de proporcionar uma redução do insumo de 10% a 15% em dez anos, diminuindo em R$ 1 bilhão a necessidade de investimento na expansão da oferta.


DIVULGAÇÃO

carências e potenciais existentes e aponta saídas viáveis para melhorar o abastecimento gaúcho

Caminhos a percorrer

O Plano Energético enumera por segmento as possibilidades para a matriz elétrica do RS. Recomenda maior

aproveitamento do carvão mineral como oportunidade de desenvolvimento socioeconômico, seja como fonte de energia básica ou como apoio para expansão industrial. Cerca de 90% dos recursos brasileiros de carvão mineral estão localizados

no estado. O estudo projeta a ampliação da termeletricidade na matriz nacional. Hoje, as usinas de carvão representam 1,4% da energia produzida no Brasil. A expectativa é alcançar 6%. Sobre energia eólica, aponta a viabilização de novas expansões. Hoje, o estado tem 66 parques que somam 1,5 gigawatts (GW) à rede. Além de potencial para novos empreendimentos eólicos, o estudo mostra que o RS tem condição para receber fabricantes de máquinas e equipamentos, bem como prestadores de serviços especializados para o segmento. No campo das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), o plano propõe ações para viabilizar a expansão das instalações já existentes e o prosseguimento de projetos registrados na Aneel. O levantamento indica interesse privado no setor devido à facilidade de implantação, concessão de incentivos fiscais e taxas de lucratividade atrativas. De acordo com a pesquisa, as PCHs atendem aos princípios do desenvolvimento sustentável, uma vez que a sua exploração não afeta drasticamente o equilíbrio do meio ambiente. Nas usinas existentes, a proposta é reformar, redimensionar, modernizar equipamentos, além de reativar turbinas desligadas. Os procedimentos são considerados de baixo custo e de fácil realização.

Energias alternativas O estabelecimento de formas alternativas para geração de energia é um dos pontos mais importantes do levantamento. A criação de sistemas limpos para geração de gás, reduzindo assim a dependência do combustível obtido por meio do gasoduto Brasil Bolívia, está entre as prioridades. No âmbito da energia solar, o Mapa mostra a necessidade de elaborar o Atlas Solarimétrico gaúcho para determinar a incidência do sol em cada região e orientar investimentos. O estudo também contempla ações de incentivo à biomassa, capaz de fornecer energia e auxiliar na diminuição do CO². Entre as possibilidades indicadas pelo Mapa, está o investimento em iniciativas pioneiras no mundo. Pesquisas na Ásia e na Europa tentam viabilizar a produção de eletricidade por meio da corrente dos rios e mares, da energia das ondas, e até mesmo em canos do saneamento urbano. Outra tecnologia incipiente, chamada Lucidenergy, para geração de energia elétrica em tubulações de abastecimento de água. O sistema de adutora captura energia da água por meio de turbinas, instaladas dentro dos encanamentos.


ENTREVISTA/ LUCAS REDECKER

“Não há desenvolvimento sem energia adequada” AI/GOVERNO DO ESTADO

A Hora – Qual a intenção do governo ao criar o Mapa Energético do RS? Lucas Redecker – A intenção é contemplar todo o estado, fazendo uma radiografia do setor. É uma ferramenta antes inexistente que apresenta para qualquer empresa ou cidadão as informações sobre a situação energética gaúcha. Hoje está tudo disponível na página da Secretaria de Minas e Energia. Além disso, o estudo faz o diagnóstico do potencial de geração de cada região e apresenta as dificuldades e necessidades locais. A intenção é nortear a busca por projetos e planejamentos para crescimento e desenvolvimento. Não há desenvolvimento sem energia adequada. O que o plano mostra sobre o Vale? Redecker – Observando as características de cada região, vemos que o Vale do Taquari tem uma posição diferenciada. Fica claro que não existe, por exemplo, um potencial eólico de destaque e que o potencial solar, fotovoltáico, é semelhante ao de outros locais. Mas a região tem um potencial grandioso para a energia hídrica. Apesar das características favoráveis por natureza para a criação de PCHs, esse tipo de iniciativa sofre um desestímulo histórico do governo, principalmente com projetos que travam na Fepam. Todos os projetos inventariados para o Vale fazem parte do Mapa. A região também tem um potencial de biomassa e biometano.

Para Secretário de Minas e Energia, Lucas Redecker, mobilização regional é determinante

A busca pela suficiência energética traz resultados para a região? Redecker – Logo que abrimos a Secretaria de Minas e Energia, a primeira visita que recebemos foi da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), junto com outras entidades que vieram mostrar o potencial energético da região e manifestaram a intenção de buscar autossuficiência na geração. Na minha opinião, a suficiência não evita ficar sem energia elétrica, porque, como o sistema é interligado, nem sempre o que é gerado acaba consumido localmente. Mas é importante como contribuição

ao sistema e no estimulo à geração de emprego e renda. Também assegura o crescimento econômico e o retorno financeiro para as regiões produtoras. Quais as dificuldades burocráticas A questão ambiental é um dos principais impasses da área. Como superar essas questões? Redecker – Representa entraves, mas avançamos muito. A Fepam diminui o prazo do licenciamento e já conversa formalmente com o empreendedor. Antes, o empreendedor sequer tinha com quem falar e hoje você marca uma hora e

fala diretamente com o responsável pelo licenciamento. A recriação da Secretaria de Minas e Energia estimulou esses avanços e não tenho dúvida que teremos mais progressos em breve. Qual o tempo médio para a execução de uma usina? Redecker – Não é uma questão de curto prazo. Depois de conseguir os licenciamentos ambientais e as outorgas da Aneel, tem o processo de construção até iniciar a produção e a negociação de venda. Em relação às PCHS, não temos como dar um prazo exato. Tivemos a inauguração da Cazuza Ferreira por parte da Certel, cujo processo de agilidade foi atípico. Mas, muitas vezes, o prazo é mais dos investidores. Quando ele vê que o mercado não está interessante, ele segura o projeto. Quando vê que o mercado está positivo de novo, pede novamente por agilidade. Qual potencial identificado pelo Mapa Energético para a produção de energia alternativa no Vale? Redecker – A biomassa e o biometano são dois potenciais muito próximos e podem ser usados na mesma matriz para produção. O projeto de biometano da Sulgás vai garantir a compra por 20 anos. As regiões com maior potencial são os vales do Taquari e do Caí. Nelas, temos alta concentração de suinocultura, avicultura e bacia leiteira. Também vamos lançar o atlas do biometano no estado, que dará garantia para o investidor sobre as regiões mais propícias para investimentos. Hoje, os produtores sofrem porque não têm o que fazer com os dejetos, o que inviabiliza expansões. Com esse projeto, o dejeto terá valor agregado. O biometano será o grande potencial para gerar riqueza para o Vale.




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