AH - Tudo | 24 de dezembro de 2015

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EDITORIAL

Afinal, o que esperar de 2016?

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s análises econômicas mais realistas e desapaixonadas indicavam, fazia algum tempo, que a crise econômica brasileira era iminente. Por muitos anos seguidos, o governo pisou fundo demais no acelerador dos gastos públicos e aliviou o pé no freio do controle da inflação. Em pouco tempo, arruinou a confiança construída nas últimas décadas de ajustes e reformas, sem falar nas pedaladas fiscais. O descompasso veio acachapante. O povo brasileiro percebeu, no dia a dia, o aumento no custo de vida, a dificuldade para quitar dívidas, a restrição maior no acesso ao crédito e o desemprego batendo a porta. O ano de 2015 se encerra com muito mais dúvidas do que certezas. O sinal de alerta está ligado. Soma-se à instabilidade econômica, a crise política. Falcatruas e roubalheiras escancaradas todos os dias, com ênfase para a Operação Lava-Jato, uma das maiores e mais profundas investigações sobre abusos com dinheiro público já realizadas 'na história deste país', pioram o cenário. O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e as eleições municipais injetam dramaticidade e insegurança. Diante dessa turbulência política e econômica, o que esperar de 2016? O tema eleito para compor o caderno Tudo desta edição avança sobre as projeções e discute saídas para o ano que se inicia. A desconfiança e o medo alardeados pelos quatro cantos do país invadem corações e mentes e mexem na vida e no bolso de cada brasileiro. O aprofundamento da recessão e o avanço do desemprego atingem o

A desconfiança e o medo alardeados pelos quatro cantos do país invadem corações e mentes e mexem na vida e no bolso de cada brasileiro.”

estado de ânimo dos consumidores e empresários. Em uma inversão preocupante, os indicadores que deveriam subir estão em queda, enquanto aqueles que deveriam cair sobem. Mas o que fazer para superar tudo isso? Cruzar os braços e esperar a tempestade passar para depois juntar o que sobrou? Tal omissão vai na contramão dos caminhos apontados por economistas, gestores, administradores. Ao passo que o governo, na sua mais alta esfera, contamina os estados com sua incompetência na condução das finanças e políticas nacionais. Só resta como saída para os demais o aprimoramento dos processos em todos os patamares, visando uma adequação a nova realidade. Superar a crise exigirá o aperto do cinto da austeridade fiscal e a aprovação de ajustes profundos, em se tratando de administração pública. Para a iniciativa privada, a receita é parecida. Investir em gestão e na constante melhoria dos processos é tarefa imperiosa. Para

Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS Diretor Geral: Adair Weiss Diretor Editorial: Fernando Weiss Diretor Administrativo: Fabrício de Almeida Diretor Comercial: Sandro Lucas

o trabalhador é imprescindível que se qualifique por meio de treinamentos focados em tecnologia e inovação. Afinal, profissionais preparados e prontos para atender as demandas das empresas têm emprego garantido. Saímos de uma análise macro para uma reflexão regional mais otimista. A diversidade produtiva, sustentada pelo agronegócio coloca o Vale do Taquari em situação mais confortável. Os índices de desemprego das grandes capitais e metrópoles superam em muito os regionais. Por enquanto, sobram vagas no Vale, apesar de a geração de emprego ter sido menor do que em anos anteriores. Mesmo com o diferencial da variedade produtiva, que elimina e dependência de um setor industrial, o Vale não está imune aos impactos da crise política e econômica do Brasil. É preciso “pé no chão”, mas também criatividade para implementar as reformas necessárias. A demanda por alimentos é crescente no mundo inteiro. Espe-

Textos: Filipe Faleiro, Rodrigo Martini, Thiago Maurique, Estevão Heisler e Giovane Weber

Capa: WO Design Arte/Diagramação: Gustavo Tomazi

Revisão: Daniela Maronesi Monteiro Coordenação: Fernando Weiss

cialistas apontam o Brasil como o celeiro mundial, capaz de abastecer em grande escala o mercado global. Reside nessa peculiaridade, outra via de oportunidade maiúscula para o Vale. Focar as políticas para aprimorar a produção e oferta de alimentos é garantia de retorno, seja na esfera pública ou privada. Em 2016, teremos eleições nas 36 cidades do Vale Taquari. Em algumas delas serão conhecidos novos administradores, em outras teremos gestores reconduzidos. Neste ano, prefeitos contaram as moedas para fechar as contas no azul. Foram forçados a conter despesas diante da queda na arrecadação. O apadrinhamento político/partidário e o consequente inchaço da máquina pública neste momento de aperto financeiro, mais do que nunca, é inaceitável. A tarefa de acabar com o assistencialismo e as políticas eleitoreiras para implementar gestões desenvolvimentistas desafiam os bons prefeitos do Vale. Turno único não basta para equilibrar receita e despesa nas prefeituras. Por todas as razões acima, este caderno vem recheado de artigos plurais e aprofundados sobre o cenário desenhado para 2016. Ao levar aos leitores do Vale do Taquari, produto analítico sobre o norte provável do comportamento econômico e político do próximo ano, o jornal A Hora o faz contemplando o contraditório na busca de municiar a sociedade com informações suficientes para que possam tirar conclusões e tomar melhores decisões no ano que se inicia. Conhecimento traz mais segurança e liberdade. Conhecimento é poder. Boa leitura!

Projeto Gráfico: AGEA Propaganda & Marketing

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística) Proibida a venda avulsa


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CAMINHOS PARA O VALE DO TAQUARI

Gestão e coragem: fórmulas para enfrentar a crise

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nstabilidade política e econômica cria incertezas, afasta investidores e reascende temor da volta da inflação e do desemprego. Ano que termina mostrou aos setores produtivos a necessidade de realinhar o planejamento,

rever gastos, diminuir custos e otimizar processos. Em 2016, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff tumultua o cenário político. As eleições municipais impactam no serviço público. Prefeitos terão de equilibrar as políticas eleitoreiras com gestões mais eficientes.


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Setores industriais visualizam redução no consumo e na produção. Em âmbito regional, os efeitos da turbulência na economia nacional têm menor impacto. A diversificação, a força da produção primária, as cooperativas e a gestão eficiente nas empresas garante oportunidade de crescimento, mesmo com as projeções negativas. A seguir, um panorama sobre as perspectivas de negócios, as oportunidades e os desafios para o Vale continuar crescendo.

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Diversidade de produção alivia impacto da crise

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VALE DO TAQUARI

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desaceleração da economia obriga a uma revisão de comportamento tanto da população quanto gestores públicos e dos empreendedores. Após uma década de crescimento, puxado pelo aumento no consumo, em especial de bens duráveis (como veículos e imóveis), mas também da oferta de produtos e serviços, aliado à facilidade na concessão de créditos e isenções de imposto, o ano de 2015 trouxe cenários que lembraram as dificuldades vividas durante os anos 90. Ainda que o quadro não seja de hiperinflação e de taxa de desemprego beirando os 30%, o país perdeu em competitividade. O dólar, pela primeira vez, alcançou a casa dos R$ 4 e reduziu o interesse dos investidores internacionais no país. Para 2016, mais ajustes pela frente. No RS, a crise nas finanças públicas ocasionou a aprovação de um novo aumento no tributo. O ICMS gaúcho se mantém entre os mais altos frente aos demais entes federados. Realidade preocupante, em

especial nas regiões metropolitanas e capitais do país. No Vale do Taquari, os impactos da crise também chegaram, como um princípio de “marolinha”, mas serviu para alertar a sociedade local sobre a necessidade de fazer o dever de casa e repensar gastos, investimentos e aperfeiçoar gestões. Momentos de crise podem virar oportunidade. A produção alimentícia da região, com destaque para o leite, frangos e suínos, significa a chance de contrariar prognósticos pessimistas e conquistar novos mercados. De olho nessa possibilidade, cooperativas da região voltam os olhos para países do leste Europeu e para a China. Para os agricultores, garantir produtividade na lavoura, investir em gestão e procurar diversificar as produções são receitas para obter lucro. As perspectivas para o agronegócio no país são o oposto do previsto à indústria. No campo do emprego e renda, o Vale mais uma vez se distingue das outras regiões do RS. Em comparação a 2014, houve uma queda de 15,4 mil admissões neste ano. Ainda assim, a indús-

tria (setor com maior índice de desemprego no restante do estado), manteve-se estável, contratando menos, mas com apenas 18 vagas fechadas, segundo dados do Ministério do Trabalho contabilizados até novembro.

Recessão para 2016, diz Fiergs A retomada do crescimento, para o presidente da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Heitor José Müller, passa por uma postura governamental. A agenda econômica deve ser prioritária após a estagnação vista em 2015, em que o Produto Interno Bruno (PIB) sofre com uma queda de 3,5%. Na perspectiva para 2016, o ano será de recessão, com queda de 2,5% no PIB. Frente ao quadro estimado, o consumo tende a ter nova retração, resultando aumento do desemprego e diminuição na renda das famílias. De acordo com Müller, esse número leva em conta a perspectiva

A cadeia produtiva regional está alicerçada nos

A participação da indústria de transformação no PIB brasileiro caiu de 15% para 11,4% entre 2011 e 2015.” Heitor Müller Presidente da Fiergs


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alimentos. A diversidade elimina a dependência de um único setor e favorece o Vale na hora de enfrentar turbulências econômicas. O desafio é fortalecer o selo “Vale dos Alimentos”

de continuidade das incertezas, aliado ao menor ímpeto do consumo das famílias, da inexistência de margem de manobra por parte do governo para estimular a economia e de uma contribuição insuficiente do setor externo para contrabalançar esses fatores, a despeito da desvalorização da taxa de câmbio. Para ele, a crise política no âmbito nacional freia a solução dos problemas econômicos. “Esperamos um desfecho, para que, com amplo entendimento, possamos apresentar medidas importantes a serem votadas pelo Congresso.” Na visão da federação, há condições para o país sair do momen-

to de crise e retomar os índices satisfatórios da atividade industrial. Para tanto é preciso reduzir a ociosidade das fábricas, a taxa de câmbio favorece as exportações e há mão de obra qualificada disponível. “Não há necessidade de novos investimentos para aumentar a produção”, realça Müller. A Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da Fiergs prevê três cenários possíveis para o próximo ano. O economista chefe da federação, André de Nunes, alerta para o que chama de maior recessão da história nacional em 114 anos. “A participação da indústria de transformação no PIB brasileiro caiu de 15% para 11,4% entre 2011

e 2015. Ao fechar o ano, a queda estimada para indústria nacional é de 7%”. Para o RS, estima que o setor produtivo de transformação deve sofrer com perdas de 9,1%. Para Nunes, haverá um recuo mais significativo na atividade industrial. A queda no PIB gaúcho, projetado em 2,8%, deve alcançar 3% em 2016. Apesar de a agricultura alcançar recorde e a safra gerar receita importante ao estado, isso será insuficiente para impulsionar o crescimento do PIB no RS. No aspecto público, as incertezas no pagamento do salário do funcionalismo e a redução dos serviços deverão permanecer.

Em um campo positivo hipotético, a Fiergs não descarta uma lenta recuperação a partir do segundo semestre. Tal expectativa depende do volta da estabilidade no campo político. O economista da federação admite a possibilidade de intensificação da redução na atividade industrial. Caso isso ocorra, diz, haverá um agravamento da crise política e fiscal, bem como a total paralisia do setor público. O desemprego pode alcançar índices ainda mais preocupantes, e a confiança dos consumidores e dos empresários continuará em declínio. Isso traria uma retração no PIB de no mínimo 4% e no RS, 4,5%.


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Medidas para tirar o país da dificuldade

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ara o presidente da Fiergs, a melhora no cenário econômico passa pelo equacionamento da crise política e pela condução de um ajuste fiscal do setor público. "Esses dois pontos estão na raiz dos desarranjos de curto prazo. Se isso ocorrer, poderemos focar em uma agenda econômica profícua de longo prazo, para que o país e o Estado cresçam de maneira sustentada." A federação, diz Müller, defende a adoção de medidas que sinalizem que o governo está em sintonia com os anseios do setor produtivo. "Em primeiro lugar é preciso aumentar a eficiência da gestão pública, a partir da redução no número de ministérios." A Fiergs apoia mais participação da iniciativa privada na economia, seja por meio de programas de concessões e desestatizações, ou via Parcerias Público-Privadas (PPPs). Porém o excesso de cláusulas impostas pelo governo diminui a rentabilidade dos projetos, frisa Müller. Além disso, a insegurança jurídica atua para inibir investimentos em áreas primordiais, como no caso da infraestrutura. Outro problema que atravanca

o fortalecimento da economia, realça o presidente da Fiergs, é a carga de impostos. Para Müller, a Reforma Tributária deve avançar, sob pena de reduzir ainda mais o desenvolvimento no país. "A proporção dos tributos indiretos, que geram distorções na cadeia produtiva, é muito mais alta no Brasil em comparação com importantes pares internacionais." Diante da defasagem público-administrativa, cita o setor previdenciário como o mais preocupante para o futuro. "A Reforma na Previdência não pode mais esperar. Da forma com que está, vamos gerar um passivo sem precedentes nos próximos anos. Devemos repensar privilégios concedidos." Em relação à geração de empregos, Müller frisa a necessidade de modernizar a legislação trabalhista, diminuindo o custo das contratações e das demissões. "O governo deve compreender a importância da abertura comercial. Firmar acordos com parceiros relevantes. Afinal, pagamos um preço muito caro pelo nosso fechamento, tanto em termos de tamanho do mercado consumidor, quanto de custos para as importações."

Valorização do dólar aumentou os custos de

Fazer a lição de casa, orienta Eggers

Nestes tempos de recessão, os governantes impõem regras que não são as melhores para as indústrias.”

Nelson Eggers Diretor da Fruki

Diretor da Fruki, uma das empresas mais antigas do RS, Nelson Eggers, confirma a obrigação de um novo comportamento frente aos desafios criados com a instabilidade econômica. Na indústria de refrigerantes, a valorização da moeda americana resultou mais gasto com os insumos, açúcar, alumínio, resinas plásticas. Outro aumento considerável nos custos de produção foi a energia elétrica. Ainda assim, diz Eggers, foi possível absorver os custos sem repassar para o consumidor. “Temos mais de 90 anos de história e ao longo desse tempo, aprendemos a lidar com as mais diversas situações econômicas e políticas. Por isto, investimos e continuaremos investindo na qualificação da nossa equipe, em novos equipamentos e naquilo que demonstre ser necessá-


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produção. Proprietário da Fruki, Nelson Eggers, considera que as medidas adotadas pelos governos, em nome do ajuste fiscal, sacrificam o desenvolvimento das instituições

rio para atingirmos nossas metas.” O otimismo de Eggers, calcado no modelo gerencial que trouxe sucesso à marca, se baseia na conquista de espaço da Fruki no mercado gaúcho. Sabendo da previsão de estagnação, o empresário realça os comportamentos primordiais para manter as contas em dia. “Fazer a lição de casa” é o mantra para o próximo ano.

Dentro deste preâmbulo, controlar custos, conquistar novos clientes e se consolidar como preferência dos gaúchos é a perspectiva para 2016. “Daremos sequência ao nosso principal investimento para 2016, que é a inauguração de um novo Centro de Distribuição para atender a Zona Sul do Estado, com localização em Pelotas.” Diante da crise política e de con-

fiança, aliada às decisões de aumentar impostos, Eggers classifica como uma tentativa de ampliar receitas sem avaliar o impacto para o setor produtivo. “Nestes tempos de recessão, os governantes impõem regras que não são as melhores para as indústrias. Precisamos retomar o foco do desenvolvimento, a partir da solução dos problemas políticos que paralisam o país.”

A fábrica de refrigerantes Fruki foi fundada em 1924 por Emílio Kirst, em Arroio do Meio. A indústria emprega hoje cerca de mil funcionários, em cinco municípios do Estado. A empresa planeja para os próximos anos uma nova fábrica de sucos, chás, isotônicos, vitaminas e bebidas à base de soja. O investimento de R$ 60 milhões é disputado por 50 cidades gaúchas.


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Sem pessimismo na construção civil

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inda que os prognósticos apontem para redução nos financiamentos para compra de imóveis, o segmento da construção civil no Vale encontra espaço para continuar se desenvolvendo. Em comparação com os anos anteriores, houve uma pequena redução na demanda, mas nada que leve os empreendedores ao desespero, atesta o presidente do Sinduscom-VT, Roberto Jachetti. Para ele, o momento inspira precaução. Manter o lucro e o desenvolvimento depende do comportamento do empresário. "Temos de fazer o dever de casa. Minimizar os custos, mensurar e atingir a produtividade necessária, buscar técnicas e, claro, lançar imóveis que estão em falta no mercado, inovando na forma de projetar e apostando em localizações estratégicas."

Na avaliação de Jachetti, a região do Vale do Taquari, por ter uma economia diversificada, possibilita expansão. "Diante da nossa realidade, é possível se adequar rapidamente." Conforme o presidente do Sinduscom, 2015 teve uma leve queda nas vendas no segundo semestre. Contudo o mercado não ficou estagnado, afirma. A procura por imóvel continuou. "Porém as pessoas estão mais cautelosas. Seguem comprando. Um dos maiores empecilhos não está na crise econômica, mas na dificuldade de conseguir liberação de créditos. Seja a demora ou mesmo a menor porcentagem liberada pelas instituições financeiras." Os problemas enfrentados pelo país, na opinião de Jachetti, são mais de ordem moral, no campo da política, e de confiança no setor empreendedor. O cresci-

Um dos maiores empecilhos não está na crise econômica, mas na dificuldade de conseguir liberação de créditos.”

Roberto Jachetti Presidente do Sinduscom

mento na construção civil visto nos anos anteriores, em especial após o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, resultou abertura de diversas loteadoras. Algumas sem o conhecimento e a estrutura necessária para se manter no mercado por muito tempo. Neste momento de instabilidade ficarão no mercado as empresas que contam com a credibilidade do consumidor, acredita. Para 2016 e 2017, Jachetti adverte para uma possível estagnação, mas com continuidade nas vendas. “Existe uma tendência de decréscimo no setor imobiliário em todo o país, mas nossas cidades têm problemas com falta de produtos. Faremos pesquisas de mercado para reinventarmos os investimentos. Com isso, poderemos saber mais precisamente o que fazer e onde fazer."

ANDERSON LOPES


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Queda no mercado de automóveis facilita a compra

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mercado automobilístico foi o mais afetado pela retração da economia em 2015. Responsável por 20% do PIB, setor teve queda nas vendas de 16,1% no país e 26% no RS em relação ao ano anterior. Economista e empresário do setor, Rogério Wink afirma que os resultados do Vale foram semelhantes ao do restante do país, uma vez que a indústria, o comércio e os serviços da atividade são globais. “Como o ano foi de retração, impactou também na economia regional.” Alega que a região é pouco

Haverá mais promoções e condições mais vantajosas para a aquisição.”

Rogério Wink Economista e empresário

afetada pela redução na produção de veículos, pela inexistência de fábricas e o pequeno número de fornecedores de matéria-prima do setor com base no Vale. Porém, comércio e serviços do segmento representam uma parcela importante da economia local. “As consequências deste ano foram menor geração de oportunidades, rendas e impostos no Vale”, ressalta. O economista prevê um cenário de adaptação e ajustes internos em 2016. Para ele, as empresas iniciam o ano pressionadas a buscar liquidez por meio de giros mais rápidos nas vendas, o que deve favorecer

ANDERSON LOPES

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O mercado automobilístico é um dos mais

os consumidores. “Haverá mais promoções e condições mais vantajosas para aquisição”, aponta. Segundo ele, será o melhor momento para consumidores capitalizados ou com capacidade para obter crédito investir em um veículo e para a renovação das frotas empresariais.


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comercialização de usados e os serviços de pós-vendas, como assistência técnica e venda de peças, evitou resultados mais comprometedores. Para o setor voltar a expandir, é necessário uma economia interna aquecida e melhores níveis de confiança, mas também uma reestruturação nos modelos de negócios. Para incentivar a venda, defende investimentos em inovação, em ganhos de produtividade e ações de marketing agressivas.

Competitividade internacional

sensíveis às mudanças. Venda de automóveis depende de boas condições de crédito e estabilidade nos índices de emprego e renda

Motivos da instabilidade Segundo Wink, o setor automotivo é muito sensível as variações do “ humor da economia”, por comercializar bens de consumo de valor elevado. Como a maioria

das vendas ocorre por meio de financiamentos, indicadores de emprego, renda e taxa de juros são decisivos para investimentos de longo prazo.

“Houve forte retração na venda de veículos novos”, ressalta. A valorização do dólar também contribuiu para o cenário, aumentando preços e reduzindo margens de lucro da venda de importados. A fragilidade da economia gaúcha explica o desempenho ainda pior no RS. Conforme Wink, a

Conforme Wink, a principal perda com a crise é em relação à competitividade do Brasil no mercado internacional. “Os custos são elevados e temos uma logística precária, por isso produtos aqui ficam menos atrativos em relação aos concorrentes.” Segundo ele, são necessários recursos tecnológicos e humanos de alta qualidade para competir no mercado global. Um cenário de baixa escala de vendas e instabilidade política e econômica provoca justamente a redução nesses investimentos.


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Na contramão das projeções negativas ARQUIVO A HORA

Ao contrário dos outros setores, o agronegócio cresceu 9,4% do PIB, consolidando-se como principal alternativa em meio à crise

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recesso da economia brasileira, inflação em alta, menor oferta de crédito, juros e dólar mais elevados, nem sempre é sinônimo de pé no freio. De olho em 2016, empresários e produtores ligados ao agronegócio, em plena crise identificam oportunidades para crescer e se fortalecer no mercado. Diante do crescimento no setor primário, diversificar minimiza os efeitos da crise. A agropecuária será o único setor da economia a registrar salto positivo. Enquanto isso, a indústria teve queda de 8,9% e o setor de serviços 1,5%. O PIB da atividade deverá crescer 9,4%, reflexo da maior safra histórica colhida no estado, de 32,5 milhões de toneladas de grãos, aumento de 13%, apesar das fortes perdas ocorridas em alguns municípios do sul do estado. Conforme o presidente do Sistema Farsul, Carlos Sperotto, esse resultado é fruto de investimen-

Diversificar dá sustentabilidade ao negócio. Se uma atividade rende menos, a outra compensa.”

Vergílio Perius Presidente da Ocergs

tos em tecnologia realizados pelo setor nos últimos anos. O faturamento aumentou 8%, chegando a R$ 37,8 bilhões. O resultado equalizou uma queda mais expressiva do PIB gaúcho em 2015, projetada em 2,75%. Pela projeção da entidade, a economia do estado deve sofrer uma queda de 2,8% em 2016. "O produtor fez a sua parte. Os investimentos em tecnologia permitiram nos posicionarmos bem em um ano de crise", afirma.

Oportunidade para mais crescimento Com 2,5 milhões de associados e 54,7 mil empregos diretos, as cooperativas gaúchas são responsáveis hoje por 10,1% do PIB do estado. O faturamento de R$ 31 bilhões,

alcançado em 2014, é resultado da atuação em setores estratégicos da economia: agropecuária, crédito, saúde e infraestrutura. No entanto o crescimento de 10% ao ano, segundo o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do RS (Ocergs), Vergílio Perius, não é suficiente para acomodação. "Precisamos focar na agroindústria e no beneficiamento da matéria-prima." Para ele, a crise sempre é positiva para o cooperativismo, pois o setor trabalha com pessoas. "Sempre buscamos nos organizar melhor, fazer projetos coletivos e nos unirmos mais. Na crise, quem sofre é o capital e não o trabalho – nós somos trabalho. Os pessimistas enxergam dificuldade. Os otimistas veem uma oportunidade. Somos otimistas." Destaque pela produção de alimentos e por sediar as duas maiores cooperativas do ramo no estado, o Vale do Taquari é considerado um dos mais cooperadores do mundo, conforme Perius. E o segredo para superar as adversidades do mercado está na diversidade dos ramos em que as cooperativas atuam. "Diversificar dá sustentabilidade ao negócio. Se uma atividade rende menos, a outra compensa." Ao completar seis décadas de fundação, a Cooperativa Languiru, de Teutônia, é um exemplo de que a diversificação dos negócios ajuda a minimizar os impactos da crise. No total são sete segmentos de atuação: aves, suínos, leite, rações, lojas de máquinas e insumos, supermercados e postos de combustíveis. Conforme o presidente, Dirceu Bayer, após quase chegar à falência em 2000, a distribuição do faturamento em diferentes negócios ameniza o impacto em momentos de dificuldades. "Para reduzir os custos fixos e otimizar os processos, todas as plantas industriais estão com a plena capacidade de produção tomada."


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Agregar valor à matéria-prima

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os últimos anos a cooperativa Languiru investiu no aumento da capacidade de produção e de industrialização, visando atender novos mercados e permitir a produção de um mix de produtos variados, sempre com foco nas exigências do consumidor. "Damos atenção especial para a exportação de carne de frango e suínos", frisa Bayer. Segundo o presidente da Languiru, o primeiro já estava consolidado, com clientes distribuídos nos cinco continentes, em mais de 40 países. Essa flexibilidade permitiu aumentar o volume de carne de frango vendida para o exterior em 2015, favorecida pela alta na cotação do dólar e abertura de novos mercados. A exportação de carne suína já havia iniciada em 2014, sendo fortalecida neste ano, com crescimento significativo no volume vendido e conquista de novos clientes em diferentes países. "Nosso faturamento chegava US$ 2,3 milhões por mês. Em outubro, o valor alcançou US$ 5,5 milhões." Também foram tomadas medidas de reestruturação interna para reduzir as despesas. Foi realizada uma revisão no mix de produtos, o que permitiu reestruturar processos e reduzir o custo dos produtos.

Bayer diz que o crescimento previsto para o próximo ano está alicerçado na busca de alternativas que não visem apenas o aumento no volume de produção, mas em agregar valor aos produtos industrializados. "Em momentos de dificuldades financeiras não basta apenas aumentar o faturamento, mas também reduzir despesas e rever processos. Esta filosofia tem contribuído para o crescimento." Para o próximo ano não há previsão de novos investimentos, tendo em vista os projetos executados entre 2013 e 2014, quando a cooperativa aplicou R$ 150 milhões. "Seria arriscado fazer os investimentos agora. É bom ter cautela. Retomaremos os investimentos maiores à medida que a economia estiver em uma situação mais equilibrada." O próximo projeto a ser executado é uma fábrica de queijos. Serão aplicados R$ 12 milhões na industrialização de 100 mil litros por dia. As atividades iniciam apenas em 2018. De acordo com Bayer, é uma forma interessante para a Languiru desconcentrar o Leite Longa Vida. "Em determinados meses, ele oscila. É interessante termos uma alternativa. Além disso, será mais um atrativo entre os mais de 15 mil clientes no RS."

A filosofia do cooperativismo prega a união de pessoas em prol de um objetivo comum. Essa união é fundamental em períodos de dificuldade, como neste ano.”

Dirceu Bayer Presidente da Languiru

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Feiras de produtores ganham mais espaço.

Cooperar é a solução, diz Bayer Para Bayer, a força da agricultura familiar é a grande responsável pela superação das dificuldades, assim como o modelo associativo de negócio. "A filosofia do cooperativismo prega a união de pessoas em prol de um objetivo comum. Essa união é fundamental em períodos de dificuldade, como neste ano." Ressalta que as cooperativas têm um papel econômico e social muito relevante na sociedade em que estão inseridas. Diferentemente de outros modelos empresariais, elas visam o bem-estar dos associados.


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A agricultura familiar encontrou nos últimos anos um novo formato para levar renda e desenvolvimento ao meio rural. Produzir alimentos garante lucro mensal e permanente

"O simples fato de que todas as sobras são reinvestidas na região em que são geradas já justifica essa diferenciação. Os recursos disponíveis são aplicados em prol do associado, aumentando cada vez mais a qualidade de vida da comunidade." O diferencial em momentos de crise está no modelo de produção e gestão. "A união e o comprometimento de todos os associados, melhoram os índices de produtividade e qualidade, agregando mais valor à cadeia produtiva." Além de leite, a Languiru abate mais de 150 mil frangos e 1,4 mil suínos por dia e exporta para 42 países. Apesar do momento delicado da economia, em novembro o faturamento alcançou R$ 1 bilhão.

Hoje é a quarta maior cooperativa e a 49ª maior empresa do RS. São mais de seis mil associados.

Alterar “cardápio” de ofertas O presidente da Associação das Indústrias Brasileiras Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, afirmou que o RS precisa “deixar de ser corredor de passagem e se firmar como estado exportador”. Segundo ele, para driblar a crise, é preciso alterar o “cardápio” de ofertas no mercado internacional. Destaca que o Brasil não acessa 40% do mercado que mais remu-

Para se ter uma ideia, o Japão paga US$ 500 mil por um contêiner de língua bovina.” Antonio Camardelli Presidente da Abiec

nera, mesmo tendo rebanhos com genética reconhecida e grandes volumes de carne bovina para comercializar. “Para se ter uma ideia, o Japão paga US$ 500 mil por um contêiner de língua bovina”, conta. Ele ressalta que, no caso da carne bovina, a conquista de novos mercados depende da sanidade, da qualidade dos produtos e, especialmente, dos acordos internacionais. Conforme Carmardelli, os países em crise ou que estão saindo dela têm se mostrado como grandes oportunidades de negócio. “Estamos exportando 15 mil toneladas de carne bovina por mês para a China, e a expectativa é de que cheguemos a 200 mil toneladas em 2016”, estima.


Em busca do mercado externo

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produção de alimentos se consolida como oportunidade. Talvez esse possa ser o diferencial para o Vale do Taquari devido à produção de leite, aves e suínos. As cadeias de suínos, leite e aves apostam na abertura de novos mercados e na otimização dos custos para o ano que vem. O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, estima um crescimento de 2% para a avicultura. Para ele, o prognóstico não é ruim, se considerada a situação econômica vivida pelo país. Destaca como prioridade o mercado internacional, cuja participação nas vendas de carne de frango chegou a 48% neste ano. Opinião divida com o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips), José Roberto Goulart, como motivo de reequilíbrio da suinocultura em 2015. "Quando o mercado interno recuou, o externo foi a saída para suprir o excesso de produto." A menor oferta da produção chinesa, devido a problemas ambientais é vista com otimismo por Goulart. "Teremos oportunidade de atender além dos chineses, outros clientes que deixam de ser abastecidos pela China." Segundo o presidente do Sin-

É um período de ajustes e sempre tivemos crises para enfrentar, a exemplo de 2008, quando o cooperativismo se sobressaiu.”

Gilberto Piccinini Presidente da Cosuel

Qualidade e rastreabilidade do leite podem garantir às cooperativas a conquista de mercados

dicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat), Alexandre Guerra, a meta é aumentar a produtividade como forma de suprir as despesas mais elevadas. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, a oferta até 2030 deverá crescer em 35%. Defende a agregação de valor aos produtos agropecuários para aumentar a presença brasileira no mercado externo. "Os outros países processam as commodities que exportamos e vendem no mercado internacional, ganhando muito mais. Precisamos reverter isso", alerta.

Turra ressalta o avanço do agronegócio nos últimos 55 anos. Cita a produção de grãos, que passou de 17 milhões de toneladas em 1960 para 200 milhões de toneladas neste ano, e da carne bovina, que saltou de 1,3 milhão de toneladas para 9,8 milhões de toneladas no mesmo período. O setor não cresceu mais, segundo ele, por conta de acordos comerciais ideológicos. "Hoje, o Brasil está aprisionado a acordos com países que representam 2% do PIB mundial. Por conta disso nossas exportações representam apenas 1,2% das transações comerciais do mundo", compara.


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Novo patamar para o leite gaúcho

no exterior. O Labortório Unianálises favorece a consolidação da cadeia leiteira regional

Na Dália Alimentos, de Encantado, o pessimismo fica do lado de fora. Com 68 anos, reconhecida pelo pioneirismo, a empresa inaugurou neste mês o primeiro condomínio leiteiro que tem ordenha robotizada executado de forma associativa por pequenos produtores de leite. A estrutura foi erguida em Nova Bréscia e reúne 16 famílias. Com capacidade de alojar 262 vacas, a estimativa é de atingir 6,5 mil litros de leite em sua capacidade máxima. Outras três estruturas do mesmo porte em Roca Sales, Arroio do meio e Candelária devem ser inauguradas e passar a operar a partir de 2016, totalizando um investimento de R$ 20 milhões. Conforme o presidente do Conselho de Administração, Gilberto Antônio Piccinini, a escolha pela ordenha robotizada foi motivada pela busca de uma solução para o déficit de mão de obra na região e uma alternativa para

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incrementar a produtividade dos produtores familiares. Cita que esses condomínios já são uma realidade exitosa na produção de suínos, onde a recria de leitões para a terminação é feita de forma associativa. Na área do leite, a cooperativa foi buscar subsídios e modelos implantados nos países da Europa e EUA. "O pequeno produtor não tem como competir com a realidade de produção que está sendo implantada. Estruturados em sociedade, com alta tecnologia e baixo custo de produção, um produtor que é pequeno em escala pode ficar grande com os demais do grupo e se manter na atividade." Piccinini traça um cenário positivo para a cooperativa, mesmo diante das indefinições na economia, aumento da taxa de juros em nível federal e dos impostos em nível de estado. "É um período de ajustes e sempre tivemos crises para enfrentar, a exemplo de 2008, quando o cooperativismo se sobressaiu. Precisamos ajustar as verbas e investir para nos momentos bons usufruirmos dos lucros e podermos compartilhar isso com os associados."


“É preciso investir em gestão”

C

om a tendência de margens apertadas de lucratividade, a palavra de ordem é gestão. O consultor Carlos Cogo, da Consultoria Agroeconômica, destaca que o produtor precisa buscar estratégias para maximizar os recursos disponíveis, calcular formas de reduzir os custos e usar cada centavo da melhor forma possível. "A meta é fazer cultivos menos onerosos e colher igualmente ou mais do que em safras anteriores." Segundo levantamento, o agronegócio brasileiro deve continuar na contramão da economia brasileira em 2016. Para Cogo, área plantada, produção e faturamento devem continuar crescendo. Destaques para a soja, cujo faturamento deve atingir R$ 105,4 bilhões, cana de açúcar (R$ 50,5 bilhões,; milho (R$ 36,8 bilhões) e café (R$ 22,3 bilhões). Entre as situações que preocupam nesse ciclo está o aumento do pacote de insumos básicos (sementes, fertilizantes e defensivos, dentre outros), o qual responde por 58% a 65% dos custos de produção dos grãos no Brasil. Em média, 72% das matérias-primas necessárias à produção de fertilizantes e defensivos são importadas. A alta da taxa cambial impactou diretamente esses insumos – a alta acumulada de 44,2% do dólar entre janeiro e outubro foi repassada parcial ou integralmente aos custos de fabricação/produção – e aos preços

É momento de o produtor estreitar relações com quem ofereça segurança e garantia de portfólio de produtos e serviços.”

André Pessoa Consultor e empresário

dos insumos. Sofreram impacto do reajuste os preços da energia, óleo diesel, fretes, irrigação, mão de obra e as taxas de juros do crédito rural. Como maior desafio cita o clima, devido à ocorrência do fenômeno El Niño, o qual deve se intensificar em janeiro. Segundo Cogo, a projeção é de 212,388 milhões de toneladas, 1,8% acima da atual (2014/15). A área de cultivo de grãos deverá crescer 1,3%, para 58,683 milhões de hectares, uma expansão de 771 mil hectares em relação aos 57,912 milhões de hectares cultivados em 2014/15. Projeta a manutenção do crescimento do agronegócio frente a queda nos demais setores da economia. "O PIB da agropecuária deverá crescer 2,4% em 2016, contra uma projeção de novo recuo no PIB brasileiro, estimado em, pelo menos, -1,5%."

Boa perspectiva de preços A safra de soja 2015/16 deve ter boa rentabilidade, pois a expectativa é de manutenção dos níveis de preços próximo aos atuais e da taxa de câmbio desvalorizada, além da estabilidade ou pequena recuperação no mercado internacional. A previsão é feita pelo consultor e sócio-diretor da Agroconsult, André Pessoa.

ARQUIVO A HORA

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Com as contas “apertadas”, agricultores têm

Segundo ele, cerca de 40% da safra gaúcha já foi vendida, e a valores atrativos, aumentando a chance de boa rentabilidade. Para garantir que o restante da produção também tenha resultado positivo, o produtor deve dobrar cuidados com a ferrugem asiática. "O El Niño favorece o desenvolvimento da soja, mas também da ferrugem. Já temos casos no estado. Precisamos monitorar todos os dias a lavoura", recomenda. O consultor também chama a atenção para a importância do cuidado com as relações comerciais e o capital de giro, devido à falta de crédito, que será uma das grandes dificuldades nesta safra e mais ainda na próxima. "O crédito será escasso em todos os elos da cadeia, do produtor a indústria, e quem já


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sez do grão, base para a alimentação dos plantéis de suínos e aves.

Crédito escasso

mais uma preocupação: saber administrar. Precisam implantar métodos de gestão para manter os lucros e atender o mercado exigente

estava fragilizado deverá ficar mais ainda nos próximos meses. Sugiro o produtor não assumir riscos com

aventureiros comerciais", aconselha. Com a menor área cultivada em 45 anos, quem apostou na cultura

de milho deverá obter excelentes resultados, aliado ao clima favorável e preço elevado devido à escas-

A safra que está por vir também traz os reflexos da retração da tomada de crédito rural, especialmente por conta da inexistência do pré-custeio. No exercício anterior, houve redução de 4% nos recursos tomados, somando R$ 19,7 bilhões. Enquanto o custeio geral aumentou em 5%, os investimentos caíram 26%, e a comercialização, 2%. Para 2016, a expectativa para o país se mantém negativa. O PIB do RS deverá cair 2,8%, e o do Brasil, 2,6%. O setor de serviços deverá encolher em 2,67%, reflexo da queda da atividade econômica e do consumo das famílias, que estão sofrendo com uma inflação acima de 10%, fato que não ocorria desde 2002, impactando na confiança no país. O mesmo sentimento é compartilhado pelos empresários que não sentem segurança para investir. “É importante observar que a crise de 2015 não começou neste ano. A economia está em trajetória decrescente desde 2011 e em 2014 já fechou próxima de zero”, afirma.


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ENTREVISTA

“Não é possível programar políticas fiscais que revertam a recessão”

O

presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RS) e professor da Ufrgs, Fernando Ferrari Filho, adverte para o risco do aumento no desemprego e na inflação. Situações que trariam ainda mais redução no consumo. Para ele, adotar uma política monetária flexível, estabelecer PPPs e propor reformas estruturais são fundamentais para o futuro da nação.

A Hora: Saímos de uma década de crescimento e de aumento no consumo. Em 2015, muito pela crise política, houve incertezas que atingiram os setores produtivos. Assim, que tipo de expectativas pode ter para 2016? Fernando Ferrari Filho: As expectativas para 2016 são ainda piores, pois a perspectiva de perda do grau de investimento é grande; a crise política tende a se agravar, caso o PMDB decida deixar o governo, e o processo de impeachment da presidente será um dos focos do Congresso Nacional. Com expectativas tão desfavoráveis, as tomadas de decisão de investimento tendem a ser postergadas. O contexto político interfere de que maneira no desenvolvimento do PIB nacional e estadual? Filho: A dinâmica econômica é baseada em expectativas, sejam

econômicas, políticas, psicológicas. Se há instabilidade política, logo as expectativas se deterioram. Quais os setores mais atingidos pelas incertezas na economia? Filho: Investimento é a variável mais afetada, quando as expectativas são desfavoráveis. Nos últimos meses, os setores mais atingidos pela crise são os da construção civil, automotivo e metal-mecânica. Como isso atinge a população? Há risco de aumento no desemprego? Por quê? Filho: O desemprego está em ascensão. Ademais, com uma inflação crescente, o rendimento médio da população cai. Desemprego e inflação, portanto, reduzem a massa salarial e o poder de compra da população, implicando queda de consumo.

As medidas do governo, de ajuste fiscal, são soluções para o momento? O aumento de imposto do ICMS no RS contribuem ou não com a economia? Quais as alternativas que poderiam ser adotadas para evitar a majoração à população?

Desemprego e inflação, portanto, reduzem a massa salarial e o poder de compra da população, implicando queda de consumo.”

Filho: Na atual situação fiscal do governo, não é possível programar políticas fiscais que revertam a recessão, uma vez que os desequilíbrios das contas públicas recrudesceriam. Política monetária flexível, até porque a atual inflação não é de demanda, parcerias público-privadas e proposições de reformas estrutural-institucionais são fundamentais. Que tipo de oportunidade se abre nestes momentos de incerteza? Algum setor terá crescimento? Filho: O futuro, como diria Keynes, é incerto. Portanto, é difícil prever quais setores se beneficiarão desta situação econômica. Em princípio, setores voltados para o mercado externo tendem a se beneficiar, uma vez que houve uma desvalorização acentuada da taxa de câmbio.


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ANDERSON LOPES

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Qualificação sustenta o emprego e o desenvolvimento

D

urante o período de explosão das ofertas de emprego no Vale do Taquari, empresas sofriam para encontrar no mercado a mão de obra com qualidade necessária para funções técnicas. Ao mesmo tempo, sobravam vagas nas quais a qualificação não era exigida. Com a mudança no cenário econômico a formação profissional passou a ser uma necessidade ainda maior, seja para garantir o aumento da produtividade, no caso das empresas, ou assegurar a empregabilidade dos trabalhadores. Superintendente do Sesi RS, Juliano Colombo afirma que o Vale do Taquari sofre menos os efeitos da crise na comparação com outras regiões por ter uma economia mais diversificada e sustentável. Mesmo assim enaltece a importância de preparar profissionais para suprir as empresas e impulsionar a região para um maior crescimento. Ele aposta na qualificação como

indutora do desenvolvimento sustentável e afirma que a retomada do crescimento no Brasil só ocorrerá com uma educação que desenvolva a capacidade de transformar e se adaptar às realidades do mercado. Colombo acredita que um investimento diferente na qualificação evitaria problemas econômicos como os deste último ano. Segundo o superintendente, mais que apenas ensinar técnicas, existe a necessidade de desafiar os alunos a buscar constantemente o conhecimento. Como a indústria, cada vez mais automatizada, procura soluções tecnológicas para continuar crescendo, é preciso preparar trabalhadores para se adaptar a essas mudanças constantes. “Precisamos de mais pessoas que saibam operar equipamentos complexos.” O superintendente enfatiza a importância de aprender línguas estrangeiras para manter a conexão com as tecnologias avançadas de diferentes países. Para Colombo, essa conexão só é

Evolução tecnológica exige capacidade de

Precisamos de mais pessoas que saibam operar equipamentos complexos.”

Juliano Colombo Superintendente do Sesi RS

possível por meio de mudança no sistema educacional. Segundo ele, a maneira de ensinar na qual o professor expõem e os alunos recebem não é mais plausível. “Precisamos de um modelo que faça sentido, esteja conectado com o presente e prepare para o futuro.” Para que isso seja possível, defende o investimento em qualificação de professores, remodelação das escolas e mudanças no currículo, de forma a instigar o interesse pelo conhecimento. “Se o ensino não for atrativo, o jovem não terá vontade de aprender e


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diagnosticar problemas e encontrar soluções diante de cenários complexos. Conhecimento em operação de equipamentos sofisticados é cada vez mais necessário para atender o mercado

não conseguiremos prepará-lo para o mercado de trabalho e a contribuição no desenvolvimento do país e de sua região.” Diretor de Operações do Departamento Regional do Senai-RS, Carlos Artur Trein, sinaliza a importância de trabalhar não apenas aspectos técnicos, mas sim formar competências para gestão e de relacionamento comportamental. Conforme Trein, se hoje existe uma redução na procura por mão de obra ela é motivada pela crise econômica. Porém classifica a situação como passageira e afirma que as necessidades serão seme-

lhantes ou até maiores após este ciclo de queda, principalmente no setor industrial.

Mercado exige qualificação e envolvimento O conhecimento da função, a expertise e o envolvimento com algo maior do que garantir o salário no fim do mês acompanham trabalhadores diferenciados. Esse perfil de profissional, acredita o reitor da

Univates, Ney Lazzari, tende a não sofrer com os riscos do desemprego. “As organizações contratam e treinam os funcionários. As empresas não podem perder esse conhecimento na primeira crise. Isso naqueles trabalhos que não podem ser feitos por qualquer um.” Na universidade, conta Lazzari, um novo contratado fica no mínimo 15 dias em treinamento antes de desempenhar a função. “Quanto mais qualificado, mais fácil será para adquirir os conhecimentos para a função. Ele passa a fazer parte da engrenagem, se torna importante. São aqueles funcio-

nários que estão trabalhando mais do que pelo salário. São engajados, comprometidos com algo maior, com um ideal.” De acordo com o reitor, o Vale tem índices menores de desemprego muito em função da identidade local. Há uma relação com o trabalho que supera o relacionamento entre patrão e empregado. Os funcionários se tornam propagadores do ideal da empresa, diz. “Há uma relação de proximidade do chefe e do trabalhador. Quanto mais se sentir pertencido desse ambiente, mais difícil é retirá-lo da empresa.”


Indústria passa por revolução

O

diretor do Senai alerta para o surgimento de um novo modelo industrial, em franca expansão no setor metal-mecânico. “É o segmento mais abrangente do setor no RS e já utiliza o conceito de indústria 4.0, a fábrica do futuro.” Para Trein, o modelo representa uma nova revolução, no qual os recursos de produção estão altamente ligados entre si em esquemas reconfiguráveis de acordo com as necessidades momentâneas. Com isso, cresce a necessidade de profissionais cada vez mais qualificados. “Ainda precisaremos do solda-

dor, mas ele não irá se expor em ambiente insalubres, e utilizará seu conhecimento para desempenhar a função por meios tecnológicos”, aponta. Neste cenário, serão necessários profissionais críticos, que trabalhem sem supervisão sabendo identificar, analisar e resolver problemas. A adaptação a essa nova realidade exige profundo conhecimento lógico e matemático, além de habilidade em comunicação. Trein defende uma educação voltada para essa necessidade da indústria, conectada às novas tecnologias. “É preciso menos teoria e mais prática.”

ANDERSON LOPES

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Para especialistas, educação precisa de mais prática e menos teoria para atender empresas

Também prevê mudanças no ensino de matérias como português e literatura. Para ele, devem estar mais focadas no estímulo a leitura e a interpretação de textos. “São questões efetivas do mundo do trabalho, muitas vezes deixadas de lado.”

Na avaliação do diretor, a maior necessidade do setor privado é encontrar pessoas que ajudem as empresas a transformar sua própria realidade mais rapidamente. Para ele, é a única forma de se adaptar em um mundo de evolução cada vez mais veloz.


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De vilões, eletrônicos viram ferramentas de profissionalização

A

popularização de celulares, smartphones e outros eletrônicos é motivo de debates constantes entre educadores. Visto como um prolema no sistema tradicional de educação, os aparelhos podem se transformar em instrumentos educacionais na opinião de Julian Colombo. Ele relata experiências com turmas de ensino técnico em que um aplicativo para celular foi utilizado para exercitar os conteúdos aprendidos em sala de aula. “Tivemos resultados positivos porque utilizamos a tecnologia em favor do conhecimento.” Afirma que os métodos de ensino precisam se adaptar à geração que nasceu após a internet. Defende o uso de simuladores educacionais e recursos digitais como a realidade virtual aumentada. “A interação digital permite melhor entendimento mesmo nos cursos à distância.” A capacidade de buscar conhecimento é considerada por Colombo como um dos principais fatores de empregabilidade. Para ele, apesar

do diploma ser pré-requisito no mercado, o profissional diferenciado deve estar constantemente atualizado e tem na internet uma ferramenta para isso. “As informações estão disponíveis na rede, é preciso educar seu uso.” Considera fundamental essa mudança de modelo de ensino já na infância, devidos as diferenças entre gerações. “As próximas chegarão mais rápido em tudo”, acredita. Segundo ele, tanto escolas como empresas terão o desafio de se adaptar a nova geração de nativos digitais.

Taxas de Evasão Nos últimos quatro anos o Governo Federal tentou solucionar o problema da falta de mão de obra especializada com a criação de programas como o Pronatec. Índices de evasão elevados levaram a União a mudar as regras da iniciativa, condicionando o pagamento das instituições à percentuais de conclusão de curso acima dos 85%.

ELIZE BOZZETTO/UNIVATES

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Ensino técnico propõe formação de profissionais

A explosão do consumismo vista na última década deu uma falsa sensação de poderio econômico.”

Ney Lazzari Reitor da Univates

Segundo Colombo, os motivos são vários. Antes da crise, afirma, as pessoas não precisavam estudar para conseguir emprego. Com a mudança no cenário econômico e a escassez de vagas, a desistência tende a diminuir. “Não é um problema não só no Pronatec, mas em toda faixa etária de jovens adultos.” Conforme Carlos Trein, as taxas são maiores em cursos destinados aos beneficiários de outros programas governamentais como o Bolsa Família e menores quando os horários da qualificação não inviabilizam o trabalho. “No Senai os índices foram de 25% e estamos atuando para a redução.”


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abril, havia risco de nem conseguirmos pagar os salários dos funcionários. Temos um fundo de reserva, mas fizemos muitos investimentos, só no teatro foram R$ 90 milhões em dois anos. Frente à situação deste ano, como a instituição se planeja para 2016? Lazzari – Acreditamos que vai ser complicado também. Ainda que tenhamos uma menor dependência do Fies, verificamos queda no número de alunos. Algo em torno dos 150 a menos. Como são de cursos distintos, não há como encerrar turmas. Será um custo que precisaremos absorver.

capazes de se manter constantemente atualizados. Univates defende menor dependência de programas governamentais, como o Fies

“Governo federal nos deu um calote” O ano de 2015 foi complicado para a gestão da Univates. Logo nos primeiros meses, a alteração nas regras do Fies surpreendeu a reitoria. Diante da importância do financiamento para alunos e à instituição de ensino, o não pagamento das parcelas do programa por parte do Ministério da Educação obrigou a Univates a repensar estratégias. A primeira constatação:

é preciso reduzir a dependência do governo federal. Veja na entrevista com o reitor Ney Lazzari: A Hora – Em termos da instituição, qual avaliação do ano de 2015? Ney Lazzari – Foi bem complicado. Em 2014, prevíamos um período de continuidade. Mas logo

nos três primeiros meses, somos atingidos pelas mudanças no Fies. O governo federal simplesmente não pagou. Nos deu um calote. Houve o pagamento de algumas partes, mas ainda nos deve 40% dos valores dos últimos três meses do ano. São algo em torno dos R$ 5 milhões. Pode ser que chegue 20 de dezembro e o governo quite a dívida. Agora só resta esperar. Em

Tivemos bons índices de desenvolvimento nas últimas décadas, a procura por formação superior também seguiu essa lógica, programas governamentais possibilitaram estudantes de média e baixa renda o acesso a cursos de graduação. A partir de agora, o planejamento feito em 2013/14 terá que ser reestruturado? Lazzari – A explosão do consumismo vista na última década deu uma falsa sensação de poderio econômico. Até 2013, estávamos a favor da correnteza. Agora, investimentos que pretendíamos fazer serão postergados. Precisamos aumentar o Unianálises. Melhoria orçada em R$10 milhões. Mas, não pretendemos fazer em 2016. A Univates está se reorganizando, repensando contratações, protelando investimentos. Gostaria que isso fosse passageiro, que na metade do ano que vem o país retomasse o crescimento.


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Fecomércio projeta retração no varejo Vendas devem cair nos primeiros seis meses de 2016 no RS. Entidades do varejo mostram que

O

desempenho do comércio gaúcho em 2015 deve se repetir no primeiro semestre do próximo ano. A projeção da Fecomércio-RS mostra que as dificuldades do setor atingirão o ápice nos primeiros meses de 2016 com a manutenção dos baixos índices

de confiança do consumidor. Para os gaúchos, janeiro começa com o aumento no ICMS do estado. A medida aprovada por diferença de um voto na Assembleia Legislativa amplia em 1% a taxa básica do tributo e em 5% a alíquota das tarifas de telefonia, energia elétrica e dos combustíveis.

A elevação no imposto pode potencializar a inflação no estado. A alta nos preços superou os 10% em 2015 e é apontada pela Fecomércio como um dos principais indutores da crise brasileira. O índice foi pressionado justamente pela ampliação de tarifas controladas pela União, como as de ener-

VARIAÇÃO DO PIB EM 2015 Brasil

9,7

Até o terceiro semestre

Rio Grande do Sul Até o segundo semestre

SERVIÇOS

INDÚSTRIA

2,1

PIB

-0,4

-0,9

AGROPECUÁRIA

-2,1

-3,2 -5,6 Fonte: Fecomércio

-8,2

gia elétrica e combustíveis. A desvalorização cambial é outro fator que explica os índices inflacionários. A valorização de 40% do dólar frente ao real resultou encarecimento de insumos e de produtos básicos, como carne, pão e bebidas. O preço da moeda americana deve se manter próximo dos R$ 4, devido ao aumento da taxa básica de juros nos EUA e da manutenção das turbulências do cenário político brasileiro. Conforme a Fecomércio, a indefinição fiscal em nível nacional cria um circulo vicioso. O deficit primário resulta crescimento na dívida pública. Como consequência, o risco de insolvência aumenta, reduz o grau de investimento do país e impulsiona a desvalorização do câmbio. Com a inflação alta, cai o poder de compra. O aumento nos índices de desemprego amplia a sensação de insegurança do consumidor. Sem consumo, a arrecadação estatal também reduz. Para as entidades ligadas ao varejo, o Vale do Taquari sofreu menos com a crise em relação às demais regiões. Os motivos são: a diversificação da economia e os baixos índices de inadimplência, que garantem a manutenção da oferta de crédito. No cenário nacional, números


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Para 2016, as perspectivas são de nova o Vale do Taquari sofreu menos com a com a crise econômica em relação às demais regiões

de último trimestre registram queda de 4,3% no PIB. O encolhimento da economia é constante desde o início de 2014. No RS, o primeiro semestre apresentou retração de 0,9%. Os números são impulsionados

pelo fraco desempenho no setor industrial. A queda registrada no Brasil foi de 5,6%. No RS, o índice foi ainda mais expressivo, com redução de 8,2%. No setor de serviços a redução foi menor, de 2,8% no país e 3,3% no esta-

queda no PIB do Brasil e do RS, porém menor, variando em torno dos 2%.

do. Os resultados só não foram piores graças ao setor agrícola, que subiu 2,1% no Brasil e 9,7% no RS. No varejo o desempenho gaúcho foi pior do que o brasileiro. Sem incluir as vendas de veículos e materiais de construção, a queda no comércio gaúcho foi de 5,3%, contra 3,3% do país. Somados os dois segmentos, os números passam para redução de 11,3% e 7,4% respectivamente. Para 2016, as perspectivas são de nova queda no PIB do Brasil e do RS, porém menor, variando em torno dos 2%. Apesar da inflação continuar elevada, os índices devem ser menores do que em 2015, variando entre 6% e 7%. A Fecomércio prevê pequena redução na taxa básica de juros, que deve girar em torno dos 13,5%, ainda considerado um índice alto. Com base nessas perspectivas, a estimativa para o setor é de recuo de 3,2% na atividade de comércio e de 2,0% na de serviços. Na projeção da entidade, a economia começa a retomar o fôlego no segundo semestre de 2016, como resultado do ajuste fiscal.


Campanha tenta recuperar a confiança

D

iante da situação difícil na economia, o setor empresarial gaúcho iniciou a campanha #ReageRS. Capitaneado pela Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), em parceria com a Fecomércio-RS, Federasul, Sindilojas, CDL, OAB-RS, ARP, Agert e Sindha, a iniciativa visa retomar os índices de confiança do consumidor gaúcho, abalados pela crise. De acordo com o presidente da AGV, Nelson Noer, a intenção é criar uma narrativa positiva para combater a incerteza que paralisou o consumo no RS. Cita as diversas notícias negativas sobre a economia e a segurança como principais indutores para a retração da atividade comercial. Para a AGV, a queda nos números do comércio não é resultado da ausência de dinheiro no bolso dos consumidores, mas sim da falta de confiança para investir. “Dinheiro parado só piora as coisas.” Conforme Noer, essa paralisia prejudica toda a sociedade. “Se eu não voltar a consumir ir para a rua, estarei desempregando gente da minha casa pela minha falta de atitude”, alerta. Ele defende ajustes nas empresas para melhorar a produtividade e garantir

a sobrevivência diante do cenário econômico conturbado. Segundo a AGV, as principais medidas para o empresariado superar o momento turbulento são os investimentos na qualificação do quadro funcional e na criação de atrativos que diferenciem cada empresa das demais existentes no mercado.

Movimento #ReageRS defende o incentivo ao

Diversificação favorece o Vale O presidente da AGV afirma que a região sente menos os efeitos da crise em relação às demais. Conforme Noer, isso ocorre devido aos baixos índices de inadimplência do Vale e da diversificação da economia. Enquanto a média do RS ficou próxima de 13%, o número de devedores na região alcançou 9,6% em outubro. Presidente eleito da CDL Lajeado para os próximos dois anos, Heinz José Rockembach, se mantém otimista quanto ao desempenho do comércio em 2016. Para ele, o cenário de dificuldade faz parte de um ciclo. “Quem não estava preparado para gerir o seu negócio pode chegar a um ponto crítico.” Para Rockembach, os empresá-

ARQUIVO A HORA

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Quem não estava preparado para gerir o seu negócio pode chegar a um ponto crítico.”

Heinz Rockembach Presidente do CDL Lajeado

rios precisam se posicionar com firmeza e rever os gastos para evitar problemas, mas projeta números semelhantes aos de 2014 no comércio. “Acredito que o poder aquisitivo na nossa região é um dos melhores do interior do estado.” Relata pesquisas que apontam para o crescimento de 5% a 7% nas vendas das capitais brasileiras em relação a 2015. Conforme o presidente da CDL, a crise é passageira e pode se tornar oportunidade a depender das atitudes do empresariado. Uma das principais bandeiras das entidades empresariais diante do cenário econômico é a redução da carga tributária. Liderada pela Fecomercio-RS, a campanha “Basta de Tanto Imposto!” foi atuante na tentativa de conter a criação de novos tributos e a ampliação de alíquotas que pressionam o setor produtivo, como o aumento do ICMS. Para Luiz Carlos Bohn, a elevação nos impostos não resolve os problemas de arrecadação e tem o potencial de reduzir o consumo e aumentar mais a recessão. “A saída passa pela geração de receita por


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DIVULGAÇÃO

MUDANÇAS NO ICMS EM 2016 TELEFONIA, ENERGIA E COMBUSTÍVEIS

A alíquota básica passa de 25% para 30% Telefone

Gasolina

Luz elétrica

R$ 150,00

R$ 400,00

R$ 200,00

R$ 160,65

R$ 428,40

R$ 214,20

VESTUÁRIO, ALIMENTOS E OUTROS

A alíquota básica passa de 17% para

18%

consumo para fortalecer a economia. Novas taxas de imposto valem a partir de janeiro

BEBIDAS outras fontes, correção de distorções, redução de gastos da máquina pública e gestão.” Bohn projeta mais força para o movimento em 2016 com a possibilidade de “recriação” da CPMF por parte do governo federal. “Antes de pensar em mais imposto, é urgente uma reforma no sistema tributário que permita o crescimento econômico do país.” Relata que a carga tributária brasileira chega a 36% do PIB,

número até inferior em relação aos países desenvolvidos, mas sem o mesmo retorno em termos de serviços e infraestrutura. Com isso, a competitividade do país no mercado internacional é menor, devido aos altos gastos com logística. Para a Fecomércio-RS, o sistema tributário deveria ser de fácil entendimento e simples de cumprir. A entidade defende uma reforma para simplificar, reduzir e desburocratizar a forma de arrecadação.

A alíquota de cerveja passa de 25% para

27%

A alíquota do refrigerante passa de 18% para 20% NÃO MUDA

25%

para alimentos da cesta básica, transportes e materiais de contrução. FONTE: FECOMÉRCIO


40

Vale tem menor índice de desemprego do RS

E

m comparação com 2014, houve uma redução de mais de 1,4 mil vagas de emprego, conforme números do Cadastro geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Na microrregião Lajeado-Estrela, nas três principais atividades (indústria de transformação, comércio e construção civil) a variação entre admissões e demissões mostra o fechamento acima de mil postos de trabalho. Conforme o presidente da Fiergs, Heitor Müller, ao longo de 2015 houve um processo intenso e disseminado de fechamento de vagas de emprego formais. "A crise atual é mais intensa sobre a indústria. No RS, o setor foi responsável por 80% do total de desligamentos. Caso não haja mudança no atual cenário, projetamos, infelizmente, mais demissões para 2016." Pelos dados da Fiergs, no acumulado de 12 meses, entre outubro de 2014 ao mesmo mês deste ano, foram 69,4 mil demissões na indústria de um total de 87 mil

novos desempregados de todos os setores produtivos. No Vale do Taquari, o balanço entre admissões e demissões na indústria de transformação mostra estagnação. Até novembro de 2015, o setor havia empregado 17.043 mil trabalhadores e demitido 17.061, uma variação negativa de 18 vagas. Ainda assim, é o menor índice de desemprego entre as demais regiões do RS. Em 2014, as admissões foram quase seis mil acima do visto neste ano – 23.644. Já os desligamentos alcançaram 23.244 postos. Resultando um saldo positivo de 400 vagas. "As expectativas para o RS apontam para uma intensificação do fechamento de vagas, condizente com uma retração mais forte no PIB em relação ao ano corrente", diz Heitor Müller. Segundo o presidente da Fiergs, diante das condições econômicas restritivas, o setor privado passa por ajuste, visando se adaptar a um novo quadro de custos crescentes e forte deterioração da demanda. "Defendemos que o setor público também faça sua

GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NO VALE

52.092 49.611

parte nesse processo, gerando um reequilíbrio das contas. Entretanto não podemos aceitar que o ajuste venha por meio de mais aumentos de impostos, que prejudicam as duas pontas: oferta e demanda." No campo da geração de emprego, o segmento da construção civil teve redução no número de vagas neste ano. Conforme dados do Caged, até novembro houve 2.837 admissões. Por outro lado, os desligamentos superaram 3,1 mil. O que resultou fechamento de 352 postos de trabalho. Realidade distinta da vivida em 2014. Na variação absoluta entre demissões e admissões, foram 359 vagas abertas. No total, 4.353 pessoas entraram no mercado de trabalho e 3.994 foram desligadas.

36.618 37.495

23.644 23.244

17.043 17.061

Admissões Desligamentos

10.475 9.986

6.635 7.385 4.353 3.994

2014

2015

COMÉRCIO

2014

2.837 3.189

2015

CONSTRUÇÃO CIVIL

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INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

2014

2015*

GERAL *até novembro


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ENTREVISTA

“Treine os funcionários para manter clientes”

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economia não cresce, uma empresa só cresce se tirar uma fatia de mercado de outra. Então, tenha muita atenção aos clientes e às necessidades. Não se esqueça de que o atendimento toma lugar de destaque em qualquer conjuntura, mas em tempos recessivos, a atenção quanto a esse tema deve ser dobrada. O atendimento dado pelo funcionário é a imagem que o consumidor tem de como a empresa o enxerga e o valoriza. Treine os funcionários para preservar clientes, pois manter clientes é sempre mais barato do que conquistar novos. Além disso, em um cenário restritivo, monitorar custos e processos de perto tem importância dobrada.

residente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, aponta medidas para os empresários superarem as dificuldades impostas pela retração na economia. Entre elas, atenção aos clientes, treinamento constante do quadro funcional e monitoramento de custos e produtividade. A Hora - Após um ano de retração na economia brasileira, as projeções para 2016 são de mais dificuldades. De que forma esse cenário afeta atividade comercial e quais as projeções da entidade para o próximo ano?

resultado será uma combinação entre aumento de preços e queda nas vendas. Projetamos que esse aumento de ICMS para o ano que vem pode causar uma redução adicional das vendas do comércio de cerca de 0,7%.

Luiz Carlos Bohn - Vivemos uma situação econômica difícil, que mistura aumento de desemprego, queda da renda, inflação alta, juros elevados e deterioração da confiança. Todos esses elementos são determinantes para as vendas do comércio, por isso essa crise está nos atingindo em cheio. A raiz do problema é o descontrole fiscal do governo e sua falta de capacidade de reunir forças políticas para implementar as soluções necessárias. Infelizmente, no cenário atual, não existem perspectivas de solução para esse problema no ano que vem. Por isso projetamos mais um ano difícil, com queda de 2,0% do PIB.

Até que ponto o pessimismo e a ausência de confiança dos consumidores agravam a crise?

Qual o impacto do aumento do ICMS no RS na lucratividade das empresas? Até que ponto a medida pode agravar as dificuldades enfrentadas no setor? Bohn - O aumento do ICMS agrava a situação. O impacto não se dá apenas sobre as empresas, mas sim sobre a sociedade como um todo, que terá uma parcela ainda maior da sua renda direcionada ao pagamento de tributos, ao invés de investir em seu bem-estar. O

Bohn - A deterioração da confiança do consumidor é um dos elementos dessa crise. No entanto, existem razões para que o consumidor esteja pessimista: vê colegas perdendo o emprego, os preços subindo significativamente, aumento de tributos e, quando liga a TV, só assiste a notícias sobre corrupção e brigas políticas. Claro que esse pessimismo ajuda a piorar os resultados econômicos, mas ele é mais consequência do que causa. Precisamos de notícias de resultados econômicos bons para que o consumidor volte a ficar otimista. Que atitudes os empresários devem tomar para se manter no mercado diante do cenário mais competitivo e restrito? É possível crescer, mesmo em tempos de crise? Bohn - A crise dificulta as coisas, no entanto existem medidas que podemos aplicar em nossas empresas para aumentar a eficiência. Em cenários em que a

Desemprego e inflação, portanto reduzem a massa salarial e o poder de compra da população, implicando queda de consumo.”

No setor governamental, o que é necessário para evitar o agravamento da situação econômica? Quais medidas garantiriam a retomada do crescimento do setor? Bohn - Se a raiz do problema é o descontrole fiscal, a solução necessária é retomar a sustentabilidade financeira do setor público, voltando a gerar valores positivos para o superávit primário e estancando o aumento da dívida pública como proporção do PIB. Além disso, considerando que o Brasil já possui uma carga tributária muito elevada e a população não tolera mais aumentos de tributos, a forma correta de fazer esse ajuste fiscal é por meio da redução de gastos do governo. Para fazer isso é necessário um governo com entendimento do problema, para ter convicção da solução, credibilidade, para que consiga convencer a população dessa necessidade e, principalmente, apoio parlamentar para implementar medidas impopulares.


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GESTÃO PÚBLICA E A CRISE EM ANO ELEITORAL

O desafio de gerir

R$ 1,1 bilhão O exercício de 2015 se encerra com alguns prefeitos contando as moedas para fechar as contas públicas. Em 2016, último da atual legislatura, a previsão é de novas dificuldades com escassos recursos da União e do Estado, ao mesmo tempo em que políticos precisam se

inovar para concorrer dentro das novas regras eleitorais. Implementar gestões mais eficientes e projetar o destino dos recursos – e a possível ausência deles — são os principais desafios dos gestores. Em todas as 38 cidades do Vale, o orçamento total previsto para o próximo ano ultrapassa R$ 1,1 bilhão.

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Gestão eficiente desafia prefeitos

O lucro do poder público é a melhor prestação dos seus serviços. A comunidade não vive de favor. Ela paga impostos e deve ter sua contrapartida em serviços.” A frase do advogado e especialista em Direito Público, Gladimir Chiele, resume o que a sociedade espera de sua administração municipal. Com as recorrentes e acintosas quedas nos repasses de FPM e ICMS aos municípios, enfrentadas de forma ainda mais acentuada durante todo o ano de 2015, os prefeitos das principais cidades da região já tiveram que optar por uma série de alternativas para tentar driblar a crise. Dívidas, ações judiciais e por vezes o mau uso dos recursos públicos agravam determinadas situações.

Desde o início do ano, uma série de organizações civis alertava para o pior. A Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) é uma delas. Em setembro passado, anunciava um déficit de quase R$ 37 milhões para todos os 38 municípios do Vale do Taquari, reflexo da queda de repasses de FPM e ICMS. No Estado, a redução pode chegar a R$ 780 milhões. De acordo com a Famurs, esses montantes correspondem à diferença entre receitas superestimadas pelos governos federal e estadual e o valor previsto para ser transferido às administrações municipais. Tal prejuízo, segundo analistas da federação, é consequência do lento desempenho econômico do país, da retração da

DIVULGAÇÃO

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Consultor Jurídico, Gladimir Chiele orienta medidas além de turno único. “É preciso que o

Em alguns casos, os prefeitos gastam dois terços a mais do que recebem.”

Paulo Ziulkoski Presidente da CNM

economia e da consequente baixa arrecadação de impostos. No Vale do Taquari, o maior impacto deve mesmo decorrer da queda no retorno de ICMS, cuja previsão é que os municípios deixem de receber R$ 23,4 milhões do imposto em 2015. Já soma do prejuízo em relação ao FPM pode atingir R$ 13,4 milhões. Outra entidade civil representante dos prefeitos, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) alerta para novas quedas em dezembro de 2015 e janeiro de 2016. Para o mês corrente, a estimativa do Tesouro da União era de uma queda de 8,2% do FPM em relação ao mesmo período de 2014. No entanto, o índice deve chegar a 12,5%. Em janeiro, o impacto previs-


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das 38 cidades. Muitos desses recursos já engessados para áreas da saúde e educação. Mesmo assim, Luiz Carlos Folador, presidente da Famurs, alerta para a necessidade de prever discrepâncias entre os recursos orçados e o que de fato será repassado no ano. “Em 2015 houve problema. Os prefeitos realizaram um planejamento de custos em cima de uma lei orçamentária que acabou não se confirmando na sua integralidade.” Para ele, isso difi-

Executivo demonstre com clareza que precisa reduzir custos”

to é ainda mais forte. Segundo o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, a redução no retorno do FPM chegará a 17,2% em relação a 2015. “Os meses de janeiro, dezembro e fevereiro costumam ser os melhores do ano em arrecadação. Por isso as novas estimativas devem trazer ainda mais responsabilidade aos gestores. É de suma importância ter total prudência na execução dos investimentos, pois a receita está estagnada.” Ziulkoski lembra que 2016 será ano de eleições municipais, e que os gestores devem redobrar a atenção com suas despesas, principalmente pela previsão de novos atrasos por parte do governo federal. O presidente diz a que hoje são R$ 36 bilhões empenhados com os municípios, que assumiram obras

e agora aguardam pelos repasses. Desse montante, cerca de 5% está acumulado no Estado. “Em alguns casos, os prefeitos gastam dois terços a mais do que recebem.”

Cenário “bilionário” para 2016 Apesar de todas as más notícias e conturbadas previsões, como é de praxe, os orçamentos municipais aumentaram em toda a região. Conforme leis orçamentárias já aprovadas nas respectivas câmaras de vereadores, os prefeitos possuem mais de R$ 1,1 bilhão previsto para gerenciar nos cofres

Será preciso cancelar contratos, exonerar cargos comissionados, adotar turno único quando possível, cortar salários e reduzir salários.”

Luiz Carlos Folador Presidente da Famurs

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cultou o fechamento dos caixas. O responsável pela federação reforça a sugestão dada aos prefeitos também este ano, e prevê novos ajustes para encarar a realidade orçamentária disposta aos administradores municipais. “Será preciso cancelar contratos, exonerar cargos comissionados, adotar turno único quando possível, cortar salários e reduzir salários.”

Pequenos já penaram em 2015 Os municípios de menor porte realizaram uma série de medidas paliativas durante o ano para fecharem as contas. Em Cruzeiro do Sul, onde o saldo negativo gerado pela queda no retorno de ICMS e FPM chega a R$ 1,1 milhão, por exemplo, o prefeito César Marmitt adotou medidas de contenção ainda no primeiro semestre. Entre elas, ele e mais oito secretários abdicaram de 20% do salário até o fim de dezembro, medida que poderá seguir em 2016. O prefeito também suspendeu contratos de publicidade de comunicação durante o mesmo período, e anunciou turno único no Parque de Máquinas do município. Atitudes semelhantes foram tomadas pelo prefeito de Roca Sales, Nélio Vuadem. Com uma previsão de perder cerca de R$ 1,1 milhão em retornos, ele reduziu em 10% o salário dele, do vice, de quatro secretários, e de todos os cargos comissionados lotados na prefeitura. Além disso, ele exonerou seis CCs e mais dois estagiários. Outras cidades também adotaram turno único, entre elas Forquetinha.


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“É preciso ter muita cautela”

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refeito de Westfália, município destaque entre todas as cidades brasileiras, Sérgio Marasca, dá a receita para encarar a crise. Apesar da queda de quase R$ 1 milhão em retornos em 2015, ele prefere manter o otimismo. “Temos que ter bastante cautela e não forçar muito o aumento do orçamento. Estamos vendo que o PIB está quase zerado.” Para Marasca, não é momento de “extrapolar”, mas sim de “segurar na realidade nacional e mundial”. “Tem que se portar como administrador empresarial. É o mesmo. A única diferença, o lucro do empresarial é o financeiro. O nosso é qualidade de vida, educação, desenvolvimento. Não podemos pensar politicamente.” “Já exerço a presidência do Con-

sisa. Vai carregar um pouco. Eu não deveria ser o próximo. Tem o Adroaldo (da Croce, prefeito de Relvado), o Maneco (Emanoel Hassen, prefeito de Taquari), o Schmidt (Luís Fernando, prefeito de Lajeado, e o Brandão (João Brandão, prefeito de Tabaí). Mas eles entenderam assim.”

Sem emendas para a região Outra forma bastante utilizada por gestores para realização de obras ou investimentos específicos, as emendas parlamentares também foram pífias neste ano. De acordo com um estudo divulgado pela Famurs, de janeiro até outubro, só 0,25% dos recursos

Tem que se portar como administrador empresarial. [...] Não podemos pensar politicamente.”

Sérgio Marasca Presidente da AMVAT

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previamente agendadas para o estado de fato foram transferidos pela União. Conforme o presidente da federação, Luiz Carlos Folador, só três projetos foram executados no do período analisado. Dos R$ 998 milhões em emendas aprovadas pela bancada gaúcha, apenas R$ 2,5 milhões foram pagos pelo governo federal. Pelo estudo da Famurs, nenhuma verba foi aplicada no Vale do Taquari entre janeiro e outubro. Os três únicos projetos cujos valores foram transferidos aos cofres municipais beneficiarão Unidades de Atenção Especializada em Saúde, de Bento Gonçalves e Santo Augusto. A outra emenda é para estruturação, reaparelhamento e modernização das Instituições de Segurança Pública do Estado. Folador alerta para a falsa expectativa gerada pelas emendas parlamentares. “Uma emenda não paga acaba frustrando as expectativas dos gestores, por consequência retarda o desenvolvimento. Acho que essa forma de repasse precisa ser reavaliada.” Além dos três projetos já quitados, o Estado aguarda os valores de outras 574 propostas aprovadas.


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Com a implantação do turno único ficou determinantemente proibido a realização de horas extras, a não ser em casos excepcionais.” Paulo Costi Prefeito de Encantado Idade: 53 anos Nascido em: Porto Alegre Grau de instrução: Superior Completo Coligação vencedora em 2012: União por Encantado (PP/PTB/PT)

A Hora - Muitos prefeitos chegam ao fim do ano com dificuldades para fechar as contas. Outros, graças a manobras ao longo do ano, conseguem se equilibrar. Qual o caixa do município nesta reta final de 2015 e qual foi o maior motivador do aperto financeiro? Paulo Costi - Fazendo-se uma leitura do quadro em todo o país desde o início do ano foi perceptível, quando comparado ao ano anterior, o desequilíbrio econômico, pois as despesas operacionais cresceriam e a receita nominal se manteria. Conscientes dessa realidade procuramos nos adequar, mesmo com todas as ativi-

dades do Centenário, neste ano tão especial para nós encantadenses natos ou de coração, as quais abrangeram todos os setores da comunidade, onde todo o povo foi homenageado. Apesar das dificuldades financeiras, foram priorizadas obras importantes na área da saúde, educação e também a rota do desenvolvimento. Mesmo assim, deveremos chegar ao final de 2015 cumprindo a lei de responsabilidade fiscal. Redução de horas extras, turno único, corte de CCs. Qual a eficácia destas medidas para a economia dos cofres públicos? O que foi feito em sua cidade especificamente?

Costi - A atual administração já antes da crise se instalar procurou, especialmente, não ocupar vários dos cargos dos CCs disponíveis adequando o quadro funcional para atender as demandas, conscientizando que cada um poderia dar um pouco mais de si em prol da população. Com a implantação do turno único ficou determinantemente proibido a realização de horas extras, a não ser em casos excepcionais. Isso nos permitiu de fato adequar a receita e a despesa para o equilíbrio das contas públicas. Ao que tudo indica, as dificuldades devem persistir em 2016. Em alguns casos, se agravar. Como o município se prepara para o próximo ano e quais as medidas projetadas pelo governo? Costi - A preocupação, o trabalho e o empenho com as contas vão continuar, embora os índices mostrem que Encantado deverá crescer. Mas considerando o questionamento e a afirmação

de que poderemos enfrentar novas dificuldades, a atual administração saberá conduzir, como fez durante este ano, com austeridade e bom uso dos recursos públicos, atendendo como sempre as pessoas. Mas 2016 também é ano eleitoral. Como cortar despesas, reduzir serviços públicos (saúde, turno integral, obras de manutenção, etc) e manter o crescimento? Costi - Naturalmente a situação exige mais em tentar fazer muito com menos. Não pretendemos reduzir serviços, mas sim continuar prestando atendimento qualificado às pessoas. O município conta com vários investimentos de recursos federais e também obras importantes estão em execução e outras aguardando o início. A nossa administração foi pautada pela renovação de toda a frota de veículos, aquisição de equipamentos mais modernos em diversas áreas e a realização de várias obras.


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A receita está dentro de estimativas realistas, sem supervalorizações, considerando a situação vigente no país e as características locais.” Rafael Mallmann Prefeito de Estrela Idade: 44 anos Nascido em: Estrela Grau de instrução: Superior completo Coligação vencedora em 2012: Trabalho, diálogo e coração (PMDB/PT/PTB/PSC/ PSB/PSDB)

A Hora - Muitos prefeitos chegam ao fim do ano com dificuldades para fechar as contas. Outros, graças à medidas realizadas ao longo do ano, conseguem se equilibrar. Qual o caixa do município nesta reta final de 2015? Qual o déficit/superávit previsto? E qual foi o maior motivador do aperto financeiro? Rafael Mallmann - Em 2013, o município apresentou um superávit orçamentário de R$ 659,1 mil e, em 2014, de R$ 7,1 milhões. Neste ano, tendo em vista a recessão econômica que atinge o país, houve queda na arrecadação de ICMS e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Entretanto aprovamos um orçamento com 93% da expectativa de receita, o que nos dá tranquilidade para trabalhar visando o fechamento das contas deste exercício, bem como a expectativa de que haja um pequeno superávit. Redução de horas extras, turno único, corte de CCs, corte de

diárias, suspensão de concursos públicos e outras medidas foram as principais medidas apresentadas pelos gestores da região para amenizar a crise. Qual a eficácia disso para a economia financeira dos cofres públicos? O que foi feito em sua cidade especificamente? Mallmann - Em nosso município, procuramos trabalhar durante todo o ano de acordo com nossa disponibilidade financeira. Diante disso, não tomamos medidas como a adoção de turno único, corte de CCs ou suspensão de concursos. Houve, basicamente, o corte de horas-extras dos servidores e de diárias dos secretários. Na escassez de recursos próprios para novos investimentos, muitos governos optam por financiamentos para obras de pavimentação e habitação, por exemplo. Qual sua opinião sobre esse tipo de investimento? Quanto o seu município tem financiado hoje? E quais são os empreendimentos envolvidos?

Mallmann - Em nosso governo também realizamos financiamentos para obras importantes e necessárias à comunidade, pois há escassez de recursos próprios para investimentos, tendo em vista que grande parte das verbas do orçamento são vinculadas, como para a saúde e educação. Os financiamentos contraídos pelo nosso governo somam R$ 13 milhões e se referem às obras do PAC II, para a pavimentação e capeamento de ruas, e o Minha Casa, Minha Vida, para a implantação dos núcleos habitacionais Nova Morada I e II, que juntos contam com 250 moradias. Ao que tudo indica, as dificuldades devem persistir em 2016. Em alguns casos, se agravar. Como o município se prepara para o próximo ano? E que tipo de medidas são projetadas pelo governo para amenizar os efeitos da crise anunciada, e seguir atraindo novos investidores, gerando assim emprego e renda? Mallmann - Vamos manter a política de trabalhar dentro da realidade financeira. O orçamento para o ano que vem, aprovado pelo Legislativo, é de R$ 87,1 milhões, 9,10% superior ao deste ano. A receita está dentro de estimativas realistas, sem supervalorizações, considerando a situação vigente no país e as características locais. Ao mesmo tempo, manteremos as parcerias com entidades empresariais e instituições, e com

as demais esferas de governo, para buscar novos empreendimentos e qualificar os existentes, assim como para consolidar projetos importantes para o desenvolvimento de Estrela e do Vale do Taquari, como é o caso do Porto Fluvial. Mas 2016 também é ano eleitoral. Como cortar despesas, reduzir serviços públicos (saúde, turno integral, obras de manutenção, etc) e ao mesmo tempo manter o crescimento e a aprovação do eleitorado? Mallmann - Estamos trabalhando dentro da realidade financeira atual para mantermos os serviços essenciais e necessários, sem que haja prejuízos à população. Implementamos nossas ações a partir do primeiro dia de governo e seguimos atuando, com nossa equipe, para cumprir todas as metas estabelecidas, independentemente de ano eleitoral. As obras e projetos realizados ao longo dos três primeiros anos de nossa gestão demonstram o nosso compromisso com a população, dotando os bairros com obras de infraestrutura; implantando o maior projeto habitacional da história de Estrela; ampliando ações em saúde com a construção de novas unidades e implantação de ESFs, incentivando as empresas e, acima de tudo, trabalhando em parceria com entidades e comunidade para tornarmos Estrela protagonista no cenário regional.


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O financiamento é um ótimo instrumento para municípios com orçamento pequeno viabilizarem grandes obras.” Emanuel H. de Jesus Prefeito de Taquari Idade: 35 anos Nascido em: Taquari Grau de instrução: Superior completo Coligação vencedora em 2012: Agora é a hora, todos por Taquari (PT/PRB/PDT/ PTB/PMDB/PR/PSD/PSB/PC do B)

A Hora - Muitos prefeitos chegam ao fim do ano com dificuldades para fechar as contas. Outros, graças a medidas realizadas ao longo do ano, conseguem se equilibrar. Qual o caixa do município nesta reta final de 2015? Qual o déficit/superávit previsto? E qual foi o maior motivador do aperto financeiro? Emanuel de Jesus - O ano de 2015 foi atípico para as prefeituras. Mas especialmente no município de Taquari, onde o orçamento é proporcionalmente menor aos demais municípios do Vale, as dificuldades foram maiores. Houve uma grande redução dos repasses constitucionais (FPM e ICMS, especialmente), principais fontes de recursos de Taquari. Mas vamos finalizar o ano com o pagamento dos servidores em dia, garantia de contrapartidas aos investimentos que temos em andamento no município, mas também com déficit,

que deverá ser recuperado no início de 2016.

estamos realizando, principalmente na área de infraestrutura. Na escassez de recursos próprios para novos investimentos, muitos governos optam por financiamentos para obras de pavimentação e habitação, por exemplo. Qual sua opinião sobre esse tipo de investimento? Quanto o seu município tem financiado hoje? E quais são os empreendimentos envolvidos?

Redução de horas extras, turno único, corte de CCs, corte de diárias, suspensão de concursos públicos e outras medidas foram as principais medidas apresentadas pelos gestores da região para amenizar a crise. Qual a eficácia disso para a economia financeira dos cofres públicos? O que foi feito em sua cidade especificamente? Quanto isto representou, por mês, desde que foram implantadas tais medidas?

De Jesus - Hoje estamos executando uma obra do PAC 2, cujo investimento é de R$ 7,5 milhões para proporcionar a pavimentação de 17 ruas com toda a infraestrutura. Este recurso é financiado a juro subsidiado e de suma importância para o crescimento da cidade. Dentro dos limites legais e da ponderação necessária, o financiamento é um ótimo instrumento para municípios com orçamento pequeno viabilizarem grandes obras.

De Jesus - Em Taquari, adotamos medidas de gestão para economia e redução de custos, mas atingimos as metas estipuladas, garantindo o pagamento dos servidores em dia, a manutenção dos serviços principais, especialmente nas áreas de saúde e os recursos necessários para as contrapartidas dos inúmeros investimentos que

Ao que tudo indica, as dificuldades devem persistir em 2016. Em alguns casos, se agravar. Como o município se prepara para o próximo ano? E que tipo de medidas são projetadas pelo governo para amenizar os efeitos da crise anunciada, e seguir atraindo novos investidores, gerando assim emprego e renda?

De Jesus - Em Taquari, só para 2016, devemos iniciar o investimento de mais de R$ 10 milhões em obras, possíveis através do trabalho de captação de recursos. Serão cerca de 25 ruas para pavimentar, 2 Unidades Básicas de Saúde, 2 Escolas de Educação Infantil, 2 Academias de Saúde, entre outros investimentos, como o fechamento do prédio do Centro Administrativo, que aguarda há mais de 25 anos a sua finalização. Estamos também em fase final de licenciamento ambiental do no nosso Distrito Industrial, uma necessidade antiga de Taquari. Mas 2016 também é ano eleitoral. Como cortar despesar, reduzir serviços públicos (saúde, turno integral, obras de manutenção, etc) e ao mesmo tempo manter o crescimento e a aprovação do eleitorado? De Jesus - Desde o início da gestão programamos um ritmo acelerado de obras, investimentos e mudanças na cidade. Portanto, no ano eleitoral, esse ritmo será mantido, independentemente das eleições. Até porque o eleitor deve avaliar o mandato do gestor como um todo, e não apenas o último ano. Eventuais efeitos da crise devem ser transparentemente informados à população.


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Nunca foram criadas expectativas que não pudessem ser realizadas.” Sidnei Eckert Prefeito de Arroio do Meio Idade: 53 anos Nascido em: Arroio do Meio Grau de instrução: Superior Incompleto Coligação vencedora em 2012: Arroio do Meio para todos (PT / PTB / PMDB / DEM)

A Hora - Muitos prefeitos chegam ao fim do ano com dificuldades para fechar as contas. Outros, graças a medidas realizadas ao longo do ano, conseguem se equilibrar. Qual o caixa do município nesta reta final de 2015? Qual o déficit/superávit previsto? E qual foi o maior motivador do aperto financeiro? Sidnei Eckert - Desde 2009, ao assumir a administração municipal, sempre entre os dias 10 e 15 do mês, se faz a avaliação financeira da gestão municipal, afim de verificar se as receitas e despesas aconteceram conforme o programado. Só fazemos investimentos novos quando temos previsão de caixa para cobrir o investimento. Sempre trabalhamos contando com recurso para pagamento de férias e 13º salário, com uma folha de pagamento extra em caixa, prevendo qualquer eventualidade. Dessa forma, durante esses sete anos, conseguimos administrar o município, sem sobressaltos, de forma equilibrada, com salários e fornecedores em dia. Redução de horas extras, turno

único, corte de CCs, corte de diárias, suspensão de concursos públicos e outras medidas foram algumas medidas apresentadas por gestores da região para amenizar a crise. Qual a eficácia disso para a economia financeira dos cofres públicos? O que foi feito em sua cidade especificamente? Eckert - Em nenhum momento Arroio do Meio fez corte de turno ou serviços. Seguimos normalmente nossa rotina de trabalho nas áreas de saúde, educação, infraestrutura, agricultura, indústria e comércio, o que foi possível graças à máquina pública enxuta e gestão transparente e austera. Desde 2009, realizamos reuniões comunitárias pensando no fortalecimento do espírito comunitário e participativo no município, intensificando ainda o contato direto com as lideranças, o que permite uma discussão transparente sobre o orçamento e a aplicação de recursos. Dessa forma, nunca foram criadas expectativas que não pudessem ser realizadas. Contamos ainda com a ajuda da comunidade, dos servidores públicos municipais, empreendedores e imprensa no cumprimento das nos-

sas metas. Somando essas ações, foi possível evitar um quadro de crise no município. Na escassez de recursos próprios para novos investimentos, muitos governos optam por financiamentos para obras de pavimentação e habitação, por exemplo. Qual sua opinião sobre esse tipo de investimento? Quanto o seu município tem financiado hoje? E quais são os empreendimentos envolvidos? Eckert - Desde 2000, as administrações de Arroio do Meio realizam financiamentos moderados na faixa de R$ 1 milhão, para investir em obras de infraestrutura e pavimentação. Só se contrata novos investimentos com o pagamento do contrato anterior. Desta forma, não cria-se maiores dificuldades financeiras para o município. Ao que tudo indica, as dificuldades devem persistir em 2016. Em alguns casos, se agravar. Como o município se prepara para o próximo ano? E que tipo de medidas são projetadas pelo governo para amenizar os efeitos da crise anunciada, e seguir atraindo novos investidores, gerando assim emprego e renda? Eckert - Arroio do Meio trabalha há anos focado na diversificação econômica e no desenvolvimento de uma agricultura forte, com significativo aumento da produção. Focado também na indústria forte e criação do condomínio industrial para micro e pequenos empreen-

dedores, bem como a atração de novas empresas, investindo no aumento da sua capacidade produtiva. Nosso comércio e serviços são qualificados, atraindo inclusive clientes de fora. Tudo isso faz com que se possa ter um pequeno aumento na arrecadação para o ano de 2016, e possibilita dar continuidade a uma administração que nos últimos anos mantem um quadro enxuto de servidores, sem aumento de CCs, mas, principalmente, cuidando sempre dos pequenos gastos com o orçamento projetado para o ano de 2016, que foi executado em cima de uma realidade que já se anunciava e antevia. Continuamos fazendo um rigoroso acompanhamento das entradas, e, principalmente das despesas. Temos a esperança, quase certeza, de que teremos um ano de 2016 onde poderemos continuar a cuidar bem da saúde, educação e bem-estar da nossa comunidade. Mas 2016 também é ano eleitoral. Como cortar despesas, reduzir serviços públicos (saúde, turno integral, obras de manutenção, etc) e ao mesmo tempo manter o crescimento e a aprovação do eleitorado? Eckert - Os cenários do mundo atual no estado e país mostram que a população em geral e as nossas comunidades querem uma administração pública responsável todos os anos, independentemente de ser um ano eleitoral ou não. É com esta filosofia que Arroio do Meio vem sendo administrada.


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Para o próximo ano estamos cautelosos com o orçamento, já que sabemos que não será um ano fácil.” Luís F. Schmidt Prefeito de Lajeado Idade: 55 anos Nascido em: Boqueirão do Leão Grau de instrução: Superior Completo Coligação vencedora em 2012: Lajeado pode mais (PT/PDT/PTB/PMDB/PSC/ PPS/PSB/PPL)

A Hora - Muitos prefeitos chegam ao fim do ano com dificuldades para fechar as contas. Outros, graças à medidas realizadas ao longo do ano, conseguem se equilibrar. Qual o caixa do município nesta reta final de 2015? Qual o déficit/superávit previsto? E qual foi o maior motivador do aperto financeiro? Luís Fernando Schmidt - Não há só dificuldades. Há muitas realizações, muitas obras sendo feitas e a população sendo muito bem atendida em todas as áreas. Claro que sempre há o que melhorar, mas oportunidades estão aí, para todos. Nosso projeto é coletivo. Não é à toa que Lajeado é a número 1 do estado em desenvolvimento, segundo o Índice Firjan, e subiu para a 13ª posição no ranking nacional. Mas, a boa notícia é que nosso governo vai encerrar o ano, que não foi fácil para ninguém, com superávit em torno de R$ 1,8 milhão.

Redução de horas extras, turno único, corte de CCs, corte de diárias, suspensão de concursos públicos e outras medidas foram as principais medidas apresentadas pelos gestores da região para amenizar a crise. Qual a eficácia disso para a economia financeira dos cofres públicos? O que foi feito em sua cidade especificamente? Quanto isto representou, por mês, desde que foram implantadas tais medidas? Schmidt - Importante dizer que estamos conseguindo realizar o que nos propusemos. Nosso projeto está beneficiando a todos, desde o pai e a mãe trabalhadores, que precisam de creches 12 meses para deixar seu filho, até o empreendedor, do micro ao grande. Lajeado tem, senão o menor, um dos menores índices de CCs em comparação a outros municípios. Inclusive, houve redução. Também reduzimos horas extras, cortamos diárias e implantamos

turno único. Lajeado, hoje, é um grande canteiro de obras. Na escassez de recursos próprios para novos investimentos, muitos governos optam por financiamentos para obras de pavimentação e habitação, por exemplo. Qual sua opinião sobre esse tipo de investimento? Quanto o seu município tem financiado hoje? E quais são os empreendimentos envolvidos? Schmidt - Há financiamento antigos e novos. São valores que não implicam em desajustes nas contas e que significam melhorais enormes, como em infraestrutura, por exemplo. Financiamentos via PAC e Badesul, por exemplo, têm incrementado os investimentos do Município em pavimentação por exemplo. Lajeado está avançando nesta área. Ao que tudo indica, as dificuldades devem persistir em 2016. Em alguns casos, se agravar. Como o município se prepara para o próximo ano? E que tipo de medidas são projetadas pelo governo para amenizar os efeitos da crise anunciada, e seguir atraindo novos investidores, gerando assim emprego e renda? Schmidt - As dificuldades não nos assustam. Para o próximo ano estamos cautelosos com o orça-

mento, já que sabemos que não será um ano fácil para os brasileiros. Mas trabalhamos com otimismo de que logo nossa economia estará equilibrada e novamente a população voltará a usufruir de todas as conquistas até aqui realizadas. Exemplo disso é o projeto habitacional que será usufruído por 448 famílias. Mas 2016 também é ano eleitoral. Como cortar despesar, reduzir serviços públicos (saúde, turno integral, obras de manutenção, etc) e ao mesmo tempo manter o crescimento e a aprovação do eleitorado? Schmidt - Vamos trabalhar normalmente, respeitando a legislação, os limites orçamentários, o desejo da coletividade. O turno único segue até fevereiro. Em março, retomaremos às atividades normais, de preferência sem precisar cortar investimentos na saúde, na educação, na segurança. Em parte, vai depender de nossa criatividade, como já o fizemos com as câmeras de videomonitoramento, chamando a comunidade para auxiliar; como fizemos para oferecer creches 12 meses ao ano; como fizemos com a ampliação do presídio estadual, desta vez atendendo ao chamamento da comunidade. Esse é nosso projeto. Trabalhar coletivamente.


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ENTREVISTAS

Não implantamos o turno único porque a redução de gastos não representa um valor elevado [...] e prejudica o atendimento de serviços à população” Renato Altmann Prefeito de Teutônia Idade: 51 anos Nascido em: Teutônia Grau de instrução: Ensino Médio Completo Coligação vencedora em 2012: Teutônia com muito orgulho (PP/PMDB/PRB/PT/ PPS/DEM/PSB)

A Hora - Muitos prefeitos chegam ao fim do ano com dificuldades para fechar as contas. Outros, graças à medidas realizadas ao longo do ano, conseguem se equilibrar. Qual o caixa do município nesta reta final de 2015? Qual o déficit/superávit previsto? E qual foi o maior motivador do aperto financeiro? Renato Altmann - Sempre trabalhamos com bastante segurança no controle financeiro. Analisamos todas as semanas os repasses federais e estaduais e comparamos com a previsão. À medida que constatamos redução nos valores repassados, reforçávamos aos secretários a austeridade e o enxugamento de gastos. O principal motivador do aperto financeiro em 2015 foi a redução nos repasses federais (FPM) e estaduais (ICMS). Em todos os exercícios trabalhamos com uma margem de segurança, deixando um superávit que varia de R$ 1 a 3 milhões. Redução de horas extras, turno único, corte de CCs, corte de diárias, suspensão de concursos públicos e outras medidas foram as principais medidas apresentadas pelos gestores da região para amenizar a crise. Qual a eficácia disso para a economia financeira dos cofres públicos? O que foi feito em sua cidade especificamente? Altmann -Em Teutônia, não implantamos o turno único, porque

percebemos que a redução de gastos não representa um valor elevado e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) já comprovou que esta medida não é a mais indicada, principalmente porque se prejudica o atendimento de serviços à população. Reduzir horas extras e controlar o uso de diárias já é uma prática comum em Teutônia, não apenas em tempos de crise. Desde 2009, sempre ficamos com o olhar atento para estes quesitos. Também não fizemos cortes de CC’s e recentemente lançamos um concurso público para várias áreas. Adotamos apenas duas medidas na área de recursos humanos que impactam em economia aos cofres municipais: unificação de duas secretarias em uma (R$ 240 mil de economia por ano) e a implantação do Regime Próprio de Previdência Social (garante aposentadoria em valor integral ao funcionário e projeção de economia de R$ 1 milhão aos cofres municipais por ano em comparação com o repasse ao INSS). Outra forma de economizar recursos é na hora da compra. Na escassez de recursos próprios para novos investimentos, muitos governos optam por financiamentos para obras de pavimentação e habitação, por exemplo. Qual sua opinião sobre esse tipo de investimento? Quanto o seu município tem financiado hoje? E quais são os empreendimentos envolvidos?

Altmann - Financiar investimentos é permitir a imediata execução de obras com o pagamento parcelado anos à frente. É uma alternativa interessante quando não há a disponibilidade imediata de recursos financeiros. Desde 2009, financiamos a compra de retroescavadeiras (R$ 1 milhão) e pavimentações da Rua 2 Leste, Estrada de Linha Ribeiro e 5 trechos de ruas urbanas via Caixa RS (R$ 3 milhões). A previsão é que até abril de 2016, todos esses financiamentos estejam quitados. O maior financiamento realizado foi via PAC2, recursos aplicados em 2014. São R$ 8,9 milhões via governo federal para a pavimentação de 21 novas ruas com calçada e a recuperação de 5 ruas. Esses recursos têm prazo de 20 anos para devolução. A construção de 128 casas populares, pelo programa Minha Casa Minha Vida, consistiu em uma parceria entre governo federal (R$ 5,76 milhões para a construção) e Município (R$ 1,1 milhão com a doação da área). Ao que tudo indica, as dificuldades devem persistir em 2016. Em alguns casos, se agravar. Como o município se prepara

Em todos os exercícios trabalhamos com uma margem de segurança, deixando um superávit que varia de R$ 1 a R$ 3 milhões.”

para o próximo ano? E que tipo de medidas são projetadas pelo governo para amenizar os efeitos da crise anunciada, e seguir atraindo novos investidores, gerando assim emprego e renda? Altmann - Continuaremos nosso ritmo de trabalho: economizar, investir com equilíbrio e fazer o máximo com os recursos disponíveis. O desafio atual do gestor municipal é fazer mais com os mesmos recursos, pois apenas 18% de todos os impostos arrecadados voltam para o Município. Em novembro de 2015, a Cooperativa Languiru anunciou a implantação de uma queijaria em Teutônia, junto à atual indústria de laticínios. O Município doou uma área de aproximadamente 5 hectares. Outro investimento que deve repercurtir na economia é o Frigorífico Frigovale. O surgimento de empresas em setores como metal-mecânico, logística, acabamentos e alimentos se somam ao calçado, lácteos e madeireiro. Foram 1.338 novas empresas de janeiro de 2009 a julho de 2015. A média em 2014 e 2015 foi de 220 novas empresas por ano. Mas 2016 também é ano eleitoral. Como cortar despesar, reduzir serviços públicos (saúde, turno integral, obras de manutenção, etc) e ao mesmo tempo manter o crescimento e a aprovação do eleitorado? Altmann - Será um ano de muita responsabilidade, pois trata-se do fechamento de mandato e ano eleitoral. Continuaremos focados nos investimentos equilibrados, mantendo nosso ritmo de trabalho dos anos anteriores, com os pés no chão e olhar atento ao cenário macroeconômico. Gestão dos recursos públicos e equilíbrio nos investimentos são nossas palavras-chave.


DEZEMBRO/2015

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O turno único é uma medida que reduz as despesas operacionais, mas não em grande monta. O resultado é maior na criação de um ambiente para outras medidas” Gladimir Chiele Advogado especialista em Direito Público Consultor Jurídico de diversas Administrações Municipais do Estado

A Hora - Diante da crise anunciada, e em um ano de eleição, como os prefeitos de cidades médias e pequenas podem agir para evitar maiores impactos? Gladimir Chiele - Todos os municípios, independentemente do porte e do orçamento, bem como o próprio Estado e a União, estão fazendo e necessitam de ajustes fiscais para equilibrar as contas. O descontrole é evidente, por conta de problemas históricos, estruturais e de má gestão. O que se precisa, além de responsabilidade fiscal, é responsabilidade administrativa e gerencial, ponto que os gestores municipais estão começando a atuar com mais intensidade, em vista da pior crise em décadas. A ação de todos é adequar os gastos ao que se produz de receita, sem aumentar impostos. O ente público precisa melhorar a qualidade do gasto. Não apenas gastar bem, mas com eficiência e qualidade. E ainda estamos muito longe de conseguir isso. Há uma dificuldade maior por se tratar de ano eleitoral? Chiele - O ano eleitoral é de maior pressão para todo o conjunto da administração. As pressões são imensas, mas no âmbito municipal, esse sentimento é mais presente pela proximidade do cidadão. Todos temos um papel importante a cumprir no processo eleitoral. A mudança e a seriedade nos gastos públicos estão em quem faz a política, mas

essa escolha ocorre por meio da eleição. Somos todos responsáveis pelo o que acontece de bom, mas principalmente de ruim no país, pois escolhemos os governantes. E sempre buscamos fugir dessa realidade culpando ‘eles’, como se ‘eles’ fossem uma entidade vinda de outro planeta e imposto no parlamento e no governo. Devemos parar de culpar os outros e agir com grande interesse em cada eleição, para escolher sempre o melhor e o mais comprometido com a comunidade e o bem do país. Quais são as principais medidas tomadas até o momento pelos prefeitos no estado para tentar amenizar os efeitos da crise? Elas deram resultado? Chiele - Fizemos um trabalho de orientação dos gestores ao longo do último semestre. Contudo, embora seja importante fechar 2015 no azul, a meta é fixar procedimentos para amenizar os efeitos da crise no último ano de mandato, que é o mais complexo, por força das restrições eleitorais, das previsões civis e criminais da Lei de Responsabilidade Fiscal, e da necessidade de adequar a gestão fiscal do município. Medidas foram tomadas, como a publicação de decreto de contenção de despesas, manutenção ou redução do valor nominal do orçamento para 2016, sem reajuste ou com reajuste menor do que o inflacionário, exoneração de servidores comissionados e efetivo pé no freio dos gastos.

Os serviços não podem parar ou reduzir, especialmente em áreas essenciais, então isso tudo acaba provocando um engessamento do governo, que se vê obrigado a conter gastos mesmo onde não poderia mexer. A adoção de turno único e corte de CCs são medidas que geram resultado? Ou possuem mais “valor eleitoral” do que efetivamente “econômico”? Chiele - O turno único é uma medida que reduz as despesas operacionais, mas não em grande monta. O resultado é maior na criação de um ambiente para outras medidas de redução que podem ser impactantes, como contingenciar orçamento, exonerar cargos em comissão ou até mesmo outros serviços contratados, diminuir o ritmo de obras e serviços de infraestrutura, conceder ou eliminar reajustes salariais, enfim. É preciso que o Executivo demonstre com clareza que precisa reduzir custos. Daí, cortar CCs pode ser uma ação com resultados positivos neste conjunto, mas financeiramente o efeito é pequeno.

O ente público precisa melhorar a qualidade do gasto. Não apenas gastar bem, mas com eficiência e qualidade. E ainda estamos muito longe de conseguir isso.”

Além de evitar impactos para a sociedade, os gestores precisam pensar em seguir crescendo. Quais ações você sugere? Chiele - A questão mais importante é que, falando dos municípios ou de outras esferas de governo, os ajustes precisam ser feitos. No caso dos municípios, é preciso rever a legislação estrutural que trata do plano de cargos e salários, do plano de carreira, readequar esse plano no magistério, criar mecanismos de controle da gestão, avaliação dos serviços prestados e crescimento profissional e salarial baseado também no merecimento. Não basta ser servidor público, é preciso prestar um atendimento de qualidade ao cidadão. O lucro do poder público é a melhor prestação dos seus serviços. A comunidade não vive de favor. Ela paga impostos e deve ter a contrapartida em serviços. Há cidades que estão buscando reformar suas estruturas, como Caxias do Sul. A adequação é necessária para que o orçamento local possa manter em dia o pagamento da folha, mas que também restem recursos para investimentos.Por fim, cabe referir que a situação vem se deteriorando ao longo dos últimos anos. Problemas políticos, divergências acentuadas na condução dos destinos da politica nacional, descontrole das contas públicas, redução da atividade econômica, baixa da arrecadação geral, queda no PIB e os casos de corrupção tem levado o país e todos os entes públicos a um estado de engessamento e letargia, exacerbando a incapacidade de reação e provocando o início da depressão econômica. Só em tempos de guerra ou de verdadeiras catástrofes mundiais os países entraram em depressão, como ocorreu nos anos 1920 nos Estados Unidos.





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