Viver Cidades - 29/11/2022

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A segunda etapa de coleta e análise de água de dois rios e doze arroios da região apresenta uma leve melhora no Índice de Qualidade da Água (IQA), se comparada com primeira. Das 23 amostras testadas, seis registraram aumento no IQA. Mesmo assim, os mananciais continuam nas duas piores faixas da escala de cinco.

Rios e arroios da região continuam com qualidade ruim e péssima

ACADÊMICOS DE DIREITO SAEM DA SALA DE AULA E VEEM UM RIO POLUÍDO

Grupo de estudantes pesquisou sobre os mananciais da região e ficou impressionado com a contaminação por esgoto doméstico

Páginas 10 e 12

CADERNO ESPECIAL NOVEMBRO E DEZEMBRO | 2022

Henrique Panis Barzotto e Everton Jardel Prediger, do Unianálises percorreram os 23 pontos para coletar amostras de água

QUALIDADE DA ÁGUA MELHORA EM SEIS PONTOS, MAS não ultrapassa a categoria ruim

Os dados representam os comparativos das análises feitas em março e outubro em 23 pontos em dois rios e 12 arroios da região

segunda etapa de análise de água de dois rios e 12 arroios da região apontou uma me lhora em seis locais de coleta, conforme o Índice de Qualidade de Água (IQA). Mesmo assim, os 23 pontos testados seguem nas faixas ruim e péssima, as piores da escala. Os dados foram reve lados a partir dos laudos emitidos pelo Laboratório Unianálises, da Universidade do Vale do Taquari – Univates, contrata do pelo Grupo A Hora, dentro do projeto Viver Cidades.Na primeira análise, em março, 12 pontos ficaram na faixa péssima, e 11, na ruim, enquanto que a de outubro apresentou seis e 17, respectivamente.

Os mananciais que melhoraram os índices são o rio Taquari, em Lajeado, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul; os arroios da Seca, em Colinas, Boa Vista, em Estrela, Saraquá, na foz, em Lajea do, e Sampaio em Cruzeiro do Sul

O trabalho

A amostras foram coletadas pelos técnicos Laboratório Unianálises Hen

rique Panis Barzotto e Everton Jardel Prediger. Em parte do roteiro por terra, foram acompanhados pelo biólogo Cristiano Steffens.

O percurso pelos rios Taquari e For queta foi viabilizado pela Defesa Civil de Arroio do Meio, que disponibilizou barco e equipe.

Depois da emissão dos laudos, Steffens interpretou os dados apura dos e comentou sobre as variações.

O projeto

O projeto Viver Cidades, do Grupo A Hora, prevê, entre outras ações, o mo nitoramento de 23 pontos em manan ciais nos municípios de Lajeado, Estre la, Cruzeiro do Sul, Teutônia, Colinas, Clara do Sul, Marques de Souza, Arroio do Meio, Encantado e Forquetinha.

O trabalho começou no início deste ano. Os resultados da primeira análise foram divulgados em abril, a segunda etapa está contemplada nesta edição.

O monitoramento segue em 2023, com outras duas etapas. A intenção é revelar a qualidade da água, comparar os dados das quatro coletas e propor ações de conscientização para que comunidade, o poder público e a incia tiva privada lancem um olhar para os mananciais e possam colaborar para melhoria dos índices.

Também faz parte do projeto o termo de cooperação entre o Grupo A Hora e o Ministério Público do Rio Grande do Sul para o desenvolvimento de ações na área de monitoramento de nascentes e da qualidade da água na Bacia Hidrográ fica do Rio Taquari.

TEXTOS
Luciane Eschberger Ferreira Luciane Eschberger Ferreira Aldo César Lopes
Grafica Uma/ junto à Zero Hora EXPEDIENTE FOTOS IMPRESSÃO
PRODUÇÃO ARTE E DIAGRAMAÇÃO Marcelo Grisa
A

Manancial, em Encantado, segue na faixa péssima, com IQA 19,31

Para o biólogo Cristiano Ste ffens, da Global-Eco Consulto ria Ambiental, a qualidade da água “melhorou significativa mente” entre os dois períodos analisados, passando de 12 pontos classificados como pés simo na análise de março para seis na coleta de outubro.

Embora seja um avanço passar oito pontos de qualidade péssima para ruim, nada avançou em termos de classifica ção, ou seja, os mananciais da região continuam nas duas piores classes en tre as cinco faixas previstas.

Entre os destaques negativos apre sentados no relatório está o arroio Lambari, com índice 19,31. Na medi ção de março era 22,26. O ponto de coleta é na parte final do manancial. O Arroio Engenho, em Lajeado, passou do IQA 15,31 – o mais baixo entre os 23 da primeira análise - para 23,39, na amostra coletada em outubro. Embora tenha melhorado, ainda permanece com menos de 25, ou seja, na faixa péssima. Outros dois mananciais continuaram na pior classe, ao lado do Engenho e do Lambari – o Saraquá, em Santa Clara do Sul; e arroio Encantado, em Lajeado.

Dos pontos que se mantiveram na faixa ruim, cinco melhoram o índice, en quanto quatro, baixaram. Os destaques em variação são os pontos localizados no Arroio Posses, em Teutônia, que su biu o IQA de 26,82 para 31,93, e no Rio Forqueta, em Marques de Souza, com queda de 30,61 para 28,52.

Ainda na faixa ruim, o IQA mais baixo é 26,6, registrado no Rio Taquari, em En cantado. E o mais alto, 32,54, no Arroio Boa Vista, em Teutônia.

O arroio Saraquá apresenta uma parti cularidade. No ponto de Santa Clara, per maneceu classificado como péssimo, na segunda etapa de análises, em outubro. No ponto sob a ponte da ERS-453, no bairro São Bento, manteve-se na catego ria ruim. Entretanto, melhorou de péssi mo para ruim na amostra coletada sob a ponte da avenida Beira Rio, no bairro Conservas, em Lajeado – o IQA, em mar ço, era 19,15, e em outubro, 27,43.

Nas duas análises, o rio Forqueta re gistrou o IQA mais alto. Na primeira, 30,61, no ponto em Marques de Sou za, e na segunda, na amostra de Ar roio do Meio.

Mesmo assim, o manancial está na faixa ruim.

FAIXAS

Taquari Encantado Antes da captação da Corsan 27,3 Ruim 26,6 Ruim

Rio Taquari Arroio do Meio Antes da captação da Corsan* 17,2 Muito Ruim 30,81 Ruim 3 Rio Taquari Lajeado Antes da captação da Corsan 21,8 Muito Ruim 31,48 Ruim 4 Rio Taquari Cruzeiro do Sul Depois da cidade 20,12 Muito Ruim 30,38 Ruim 5 Arroio Jacaré Encantado Ponte da ERS-129 sobre o arroio 27,8 Ruim 24,93 Muito Ruim 6 Arroio Lambari Encantado Porção final do arroio* 22,46 Muito Ruim 19,31 Muito Ruim 7 Arroio da Seca Colinas Ponte da ERS-129 sobre o arroio 21,96 Muito Ruim 30,66 Ruim 8 Arroio Grande Arroio do Meio Ponte da Rua Dom Pedro II 29,62 Ruim 24,86 Muito Ruim 9 Rio Forqueta Marques de Souza Ponte MarquesTravesseiro 30,61 Ruim 28,52 Ruim 10 Rio Forqueta Arroio do Meio Ponte da ERS-130 sobre o arroio 23,32 Muito Ruim 32,77 Ruim 11 Arroio Forquetinha Forquetinha Ponte da Vila Storck 30,6 Ruim 28,79 Ruim 12 Arroio do Engenho Lajeado Rua Leopoldo Heineck 15,31 Muito Ruim 23,39 Muito Ruim

Comparativo do Índice de Qualidade da Água dos 23 pontos *Por conta dos locais serem de dífícil acesso, as amostras foram coletadas em pontos próximos
Ótima 91 a 100 Boa 71 a 90 Regular 51 a 70 Ruim 26 a 50 Péssima Zero a 25 Ponto Curso de Água Município Ponto de coleta IQA - Março IQA - Outubro
13
14
15
16 Arroio
cidade 23,85 Muito Ruim 24,55 Muito Ruim 17 Arroio Saraquá Lajeado Ponte do bairro São Bento 26,14 Ruim 26,72 Ruim 18 Arroio Saraquá Lajeado Sob a ponte da Av. Beira Rio* 19,15 Muito Ruim 27,43 Ruim 19 Arroio Encantado Lajeado Parque Professor Theobaldo Dick 19,08 Muito Ruim 21,88 Muito Ruim 20 Arroio Estrela Estrela Cascata Santa Rita * 29,84 Ruim 32,45 Ruim 21 Arroio Estrela Estrela Ponte da Rua Coronel Brito * 27,8 Ruim 27,41 Ruim 22 Arroio Sampaio Cruzeiro do Sul Ponte da ERS-130 sobre o arroio 22,72 Muito Ruim 30,38 Ruim 23 Arroio Posses Teutônia Ponte da ERS-128 sobre o arroio 26,82 Ruim 31,93 Ruim
PIOR ÍNDICE
Lambari
1 Rio
2
Arroio Boa Vista Teutônia Bairro Boa Vista, antes da cidade 28,32 Ruim 32,54 Ruim
Arroio Boa Vista Teutônia Ponte depois da cidade 26,98 Ruim 30,43 Ruim
Arroio Boa Vista Estrela Ponte do bairro Boa União* 22,18 Muito Ruim 31,75 Ruim
Saraquá Santa Clara do Sul Ponte após a
TEM O
DE QUALIDADE Arroio

DE COLIFORMES

TERMOTOLERANTES melhora na maioria dos pontos

Outros quatro parâmetros foram analisados, conforme resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente

Oíndice de coliformes termotolerantes (E coli), que indica a presença de esgoto doméstico na água, teve melhora em 14 pontos, dos 23 analisados na coleta de outubro em comparação a de março. A classe 1 (melhor) passou de dois pontos para nove, a classe 2, de oito para quatro, a classe 3, de três para dois, e a pior classe, de onze para seis. Além dos coliformes termotole rantes, outros quatro parâmetros são analisados, conforme prevê a Reso lução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (veja quadro).

No item coliformes termotole rantes, o destaque negativo foi o arroio Lambari, em Encantado, que passou de 3,5 mil para 92 mil unidades/100ml. De acordo com o biólogo Cristiano Steffens, a varia

Oxigênio Dissolvido na Água (OD)

Representa a concentração de oxi gênio na água. É imprescindível para preservação da vida aquática. Concen trações muito baixas comprometem a sobrevivência de peixes e outras espé cies. A baixa concentração de OD indi ca contaminação por esgoto (poluição orgânica).

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)

Representa a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgâni ca, ou seja, oxigênio dissolvido na água que foi consumido por bactérias e outros microorganismos nos processos de de gradação da matéria orgânica. Valores altos de DBO indicam o lançamento de carga orgânica, principalmente esgoto do méstico, e também efluentes industriais.

Fósforo

É um parâmetro importante para os processos biológicos. Em excesso,

ção, tanto para maior quanto para menor carga de E coli depende de diversos fatores. Pouca chuva pode aumentar a concentração, assim como a chuva em abundância favo res a depuração da água.

Outra possibilidade é a redução ou o aumento do despejo nos mananciais.

Segundo Steffens, geralmente, a carga e, consequentemente, o índice, não muda muito em áreas urbanas. O contrário ocorre em zonas rurais, quando pode haver períodos com lançamentos de dejetos. A aduba ção orgânica (esterco), com ação da chuva pode avançar até o manancial, elevando os índices de E coli.

O biólogo destaca que, repetindo as análises no próximo ano, como é previsto no projeto Viver Cidades, será mais fácil entender os padrões de qualidade. As próximas coletas ocorrerão em março e outubro de

2023. “Será possível comparar os períodos e verificar se o comporta mento é sazonal ou se são outros fatores.”

OS PARÂMETROS DA ANÁLISE

pode causar eutrofização da água. A eutrofização de um corpo de água re sulta no crescimento excessivo de al gas e plantas aquáticas que, quando mortas, são decompostas por bacté rias que consomem o oxigênio da água, tornando-o indisponível para outras espécies. O fósforo está presente nos esgotos domésticos, devido à presença de detergentes superfosfatados e ma téria fecal. A drenagem provocada pe las chuvas em áreas agrícolas (dejetos de animais e uso inadequado de fertili zantes) e urbanas também contribuem para contaminação dos cursos d’água. Os efluentes industriais, sem tratamen to adequado, também são fontes rele vantes de fósforo.

Coliformes termotolerantes

São bactérias encontradas no apa relho digestivo de animais de sangue quente e são indicadores de poluição por esgoto doméstico. A bactéria Esche richia coli (E. coli) é a principal represen tante deste grupo e é o melhor indicador da contaminação da água por fezes.

Turbidez

Reflete a transparência da água, sen do inversamente proporcional à con centração de partículas. Mudanças bruscas de turbidez são detectadas vi sivelmente. O uso da terra na bacia hi drográfica pode tornar a água dos rios mais turva. Falta de cobertura vegetal, especialmente de matas ciliares, e ero são levam ao assoreamento do rio e ao aumento da turbidez.

Potencial Hidrogeniônico (pH)

Afeta o metabolismo de várias espé cias aquáticas. Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) estabelece que, para proteção da vida aquática, o pH deve estar entre 6 e 9.

Temperatura

Os organismos aquáticos são afetados por temperatura fora dos seus limites de tolerância. Todos os corpos d’água apresentam variações de temperatura ao longo do dia e das estações do ano. No entanto, o lançamento de efluentes com

altas temperaturas pode causar impacto significativo dos corpos d’água.

Nitrogênio amoniacal

A principal procedência é oriunda de esgotos sanitários, os quais lançam ni trogênio orgânico (presença de proteí nas) e amoniacal (por meio da quebra de partículas da ureia). Também provém de indústrias químicas, petroquímicas, side rúrgicas, farmacêuticas, conservas ali mentícias, matadouros, frigoríficos e cur tumes. Emissão em grandes quantidades somada a outros fatores pode afetar ne gativamente o abastecimento público de água e a preservação da vida aquática.

Resíduo total

(resíduos sólidos)

É a matéria que permanece após a evaporação ou secagem da amostra de água. Depositados no leito dos cor pos d’água, podem causar assoreamen to, o que impacta a navegação e poten cializa o risco de enchentes. Também causa danos à vida aquática.

ÍNDICE
CONFIRA OS RESULTADOS NA PÁGINA 8 >>
Biólogo Cristiano Steffens, parceiro no projeto do Grupo A Hora, acompanhou parte das coletas feitas por terra

Resultados dos parâmetros

230 4,999 4,999 0,6 0,499 0,139 0,139 6,7 8,9 10 4600 22 4,999 4,999 0,499 0,499 0,139 0,139 7 8,8 11 110 540 4,999 4,999 0,6 0,499 0,139 0,139 6,2 9,1 12 160001 17000 4,999 4,999 3,6 0,9 0,42 0,16 2,3 7 13 210 15 4,999 4,999 0,6 0,499 0,27 0,14 6,4 6,6

Até 160 Até 3 Até 3,7 Até
Maior que 6 Coliformes Termotolerantes Demanda Bioquímica de Oxigênio Nitrogênio Amoniacal Fósforo Oxigênio Dissolvido Pontos Março Outubro Março Outubro Março Outubro Março Outubro Março Outubro 1 480 1700 4,999
2 35000 130
3 7000
4 13000 170
5
6
7
8
9
20
21
22 4900 170 4,999
0,499
23 1700 15 4,999
0,499
Classe I Ótimo Classe II Bom Classe III Limítrofe Classe IV Pior classe
0,1
4,999 0,499 0,499 0,139 0,139 11,3 10,2
4,999 4,999 0,9 0,499 0,139 0,139 8,2 7,8
70 4,999 4,999 0,5 0,499 0,139 0,139 6,6 7,6
4,999 4,999 3,3 0,499 0,139 0,139 8,4 7,4
490 4900 4,999 4,999 0,499 0,499 0,139 0,14 11,2 10,7
3500 92000 4,999 4,999 1,7 0,7 0,33 0,28 7,6 7,1
13000 14 4,999 4,999 0,9 0,499 0,16 0,32 8,7 6,9
240 4600 4,999 4,999 0,6 0,499 0,139 0,139 10,1 8,4
140
14 220 83 4,999 4,999 1,1 0,499 0,32 0,15 5 6,3 15 11000 49 4,999 4,999 0,6 0,499 0,14 0,17 8 7,5 16 790 3500 4,999 4,999 2 1,8 0,66 0,16 1,6 1,2 17 2200 1700 4,999 4,999 1,1 0,499 0,139 0,139 7,7 7,2 18 92000 1700 5,1 4,999 1,8 0,5 0,14 0,139 4,1 7,7 19 4300 4300 5 4,999 9,2 4,2 0,76 0,34 1 0
170 17 4,999 4,999 0,499 0,499 0,139 0,139 11,7 5,1
380 1700 4,999 4,999 1,3 0,499 0,139 0,139 2,3 7,6
4,999 0,5
0,21 0,139 6,5 7,4
4,999 0,499
0,139 0,2 4,8 6,2
amostras
por
analisadas

ACADÊMICOS DE DIREITO SE SURPREENDEM COM o grau de poluição DO RIO TAQUARI

Desafio lançado na disciplina de Direitos Humanos leva estudantes a pesquisar sobre a qualidade da água; entre os dados coletados está o resultado das análises divulgadas pelo projeto Viver Cidades

Conversando com pesso as ligadas aos projetos que envolvem a bacia hidrográfica de Lajeado, analisando os vários materiais que recebe mos, a conclusão é que a situação das águas é péssima. Os arroios das cidades são os principais meios de chegada de efluentes domésticos e industriais ao rio Taquari, o que faz com que o tra balho de toda a população e órgãos municipais seja essencial para que possamos ter melhores resultados na qualidade do nosso Taquari.”

A citação traduz as impressões de cinco acadêmicos de Direito da Universidade do Vale do Taquari –Univates ao concluírem o desafio proposto na disciplina de Direitos Humanos. Eduarda Cenci, Eduardo Camillo, Eduardo Costa, Eduardo Delavald e Fabiele Ferrari tiveram como tarefa buscar informações so

bre a situação atual do rio Taquari e seus afluentes e levantar os maiores problemas de contaminação e suas origens. A partir disso, produzir mate rial informativo que possa impactar e conscientizar a população da região do vale do Taquari.

Busca de dados

A busca por informações começou pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fe pam) e Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram). Sem alcançar os objetivos, os estudantes partiram para as secretarias municipais de Meio Am biente e ao Ministério Público. Tam bém de valeram dos resultados das análises de água feitas em 23 pontos de dois rios e 12 arroios e publicados no caderno Viver Cidades, em abril.

“O Grupo A Hora e o Ministério Público são parceiros no projeto de monitoramento dos mananciais, que

tem grande importância para nossa pesquisa”, relata Camillo.

Conclusões

Além de detectar a péssima quali dade da água de diversos mananciais, os jovens acreditam que boa parte da comunidade desconhece a situação precária do rio e não sabe da exis tência de intervenções que buscam melhorar a situação dos mananciais.

“Projetos e iniciativas deveriam ser cada vez mais frequentes, pois a população é alimentada por mitos e teorias negacionistas, que infelizmen te levam muitos a negar o óbvio, como as mudanças climáticas e a poluição. Assim é necessário lembrar sempre a importância de se criar movimentos sobre o nosso meio ambiente, não esquecendo que temos gerações futuras que precisam de nós hoje”, diz o relatório.

Para mudar o cenário atual, o grupo sugere divulgar pesquisas e levanta mentos, de forma clara e objetiva, a fim de alcançar as pessoas e tocá-las de alguma forma para olharem com mais atenção ao rio. Campanhas de conscientização e educação ambien tal podem se somar às ações.

Outra medida é a criação de incentivo fiscal, como desconto do Imposto Pre

dial Territorial Urbano (IPTU), para cida dãos que façam, por exemplo, limpeza de fossa séptica regularmente e plantio de árvores, sem descartar a fiscaliza ção para coibir danos ambientais.

Luciana Turatti Professora e pós-doutora em Direito
“As atividades também permitem a aplicação direta da teoria recebida na sala de aula. É o confronto da teoria com a prática.”
´´
Levantamento de dados sobre as condições dos rios muda a visão dos estudantes em relação à preservação
Continua >>

Estudantes têm contato com o contexto real

Conforme explica a professora, pós -doutora em Direito, Luciana Turatti, as atividades de extensão dentro dos currículos do curso, como essa ofere cida na forma de atelier, permitem o contato dos estudantes com o con texto real. “No momento em que estes

se propõem a promover atividades de intervenção, eles passam a identificar os reais problemas na sociedade, rece bendo, assim, um banho de realidade e, com isso, se defrontam com situa ções do cotidiano, que, contudo, nem sempre fazem parte do seu ambiente”, desta a professora Luciana Turatti.

Ela observa que o desafio se poten

COM A PALAVRA…

cializa quando os estudantes decidem trabalhar com populações mais vulnerá veis ou quando buscam auxílio de insti tuições e organizações que conheciam, mas não tinham contato. “As atividades também permitem a aplicação direta da teoria recebida na sala de aula. É o confronto da teoria com a prática.”

Os acadêmicos também se deparam

dificuldades de implementação de pro jetos, explica a professora, por conta de burocracias presentes na implemen tação das propostas, interpretações diversas das leis, resistência em aderir às propostas por parte dos grupos es colhidos, dificuldade de comunicação com os órgãos responsáveis e outras situações.

Qual foi o impacto pessoal causado a partir do cenário encontrado?

Eduardo Costa:

O impacto para mim foi muito negativo, as per cepções que obtivemos me desanimaram muito, é preocupante ver a situação atual dos nossos arroios e do rio. Acredito que somente com a colabo ração popular podemos modificar, mas é muito difícil. Penso que com nosso traba lho podemos influenciar outras pessoas a olhar com mais atenção para essa situa ção, porém o estrago é muito significativo.

Eduarda Cenci: Dian te de todas as informações e pesquisas já realizadas, foi possível ver como a situ ação do Rio Taquari e seus arroios é assustadora. Tudo o que estamos tentando propor é o melhor para a população do Vale do Taqua ri e da fauna aquática da nossa região. Acredito que a grande maioria não faz ques tão de saber a real situação do Rio, e quer apenas usufruir dos seus recursos naturais, cada vez mais trazendo prejuízo.

Fabieli Ferrari: O impacto que tive foi de profunda comoção, tendo em vista que um recurso natural tão importante está sendo vítima de descaso e tanta poluição, não tinha total consciência do que o Taquari vinha sofrendo, tais in formações me fazem pensar melhor as ações que realizo no meu dia a dia e o que eu faço para contribuir, tanto para o bem como para o mal deste cenário.

Eduardo Costa:

Mudou muito, inclusive a respeito das causas do alto nível de poluição.

Saber que os esgotos domésticos são os princi pais poluidores dos arroios me trouxe um sentimento de desânimo, o problema para mim se colocou bem maior e bem mais grave. Me serviu também como inspiração para enxergar esse trabalho como aquele grãozinho de contribuição que não vai mudar tudo, mas com certeza pode chamar atenção de algumas pessoas e isso já é uma diferença importante.

Eduardo Camillo: Mudou de mais. Prin cipalmente ao saber que o assunto dos rios e arroios que cercam nosso Vale do Taquari será o principal assunto ambiental dos próximos anos. Ade mais, ao descobrir que umas das principais causas de poluição é o esgoto domésti co (pelo menos nos arroios), foi intrigante.

Fabieli Ferrari: Mudou, sem dúvidas, ver que a poluição está tão próxima e quase não é assunto tratado, é deixado de lado, vejo que muitos pen sam de forma individualista, achando que uma simples ação nunca poderá mudar nada ou fazer diferença na sua vida, quando na verdade cuidar do meio ambiente é solidariedade, é pen sar que cada ação poderá até não re fletir no exato momento, mas refletirá amanhã, refletirá nas gerações futuras e de um futuro não muito distante.

O olhar ao meio ambiente e aos recursos hídricos mudou a partir do trabalho a ponto de motivar o engajamento à causa ambiental?

Nascentes: PROTEGER PARA PODER USUFRUIR

Pequena intervenção possibilita melhor aproveitamento do recurso hídrico e preserva o olho d’água

Otema não é novo, tampouco a técnica. Entretanto, é cada vez mais necessário preservar os recursos hídricos, especial mente no campo. Os ciclos de seca e a despesa mensal com água levam os agricultores a procurar alternativas, afinal, diariamente precisam dessedentar os animais, higienizar instalações e ter água para consumo da família.

A propriedade de Luis Vanderlei Hoose, na Picada Felipe Essig, em Travesseiro, era abastecida somente pela associação de água da comunidade. Ele não revela o valor, mas o consumo para dessedenta ção dos suínos e limpeza dos alojamen tos pesava no bolso. Enquanto isso, na parte mais alta da propriedade, no meio do mato, a água brotava na superfície. O oferta de água, o apoio técnico da Emater/RS-Ascar e a legislação muni cipal, que concede incentivos, levaram Hoose a fazer uma pequena intervenção na nascente e canalizar a água até um reservatório. Os usos são diversos, e o gasto com o fornecimento pela associa ção reduziu, garante Hoose.

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL AGILIZA PROCESSO

O engenheiro agrônomo da Emater de Travesseiro, Carlos Dexheimer, conta que a legislação de Travesseiro, de 2018, desburocratizou o processo de pro teção de nascentes. Antes da lei, eram feitas de três a quatro intervenções ao ano. Atualmente, mais de 40 agricultores estão com o sistema pronto e ainda há interessados.

A procura também aumentou depois que um modelo foi instalado na praça central. Dexheimer destaca que as pessoas podem ver como o projeto é sim ples. Outro ganho é o ambiental, já que a perfuração de poço artesiano, que seria uma alternativa, causa muito mais impacto que a proteção de nascente.

MELHORAR O ABASTECIMENTO COM MENOR IMPACTO É UMA DAS VANTAGENS

Para o engenheiro agrônomo, Marcos Schäfer, não faz sentido perfurar poços artesianos e deixar de lado as nascentes, que têm baixo impacto ambiental, custo acessível e servem para vários usos.

“É uma construção de alvenaria, total mente fechada, para evitar a entrada de re síduos orgânicos e manter a qualidade da água que sai da nascente.” Schäfer acres centa que, além do uso na propriedade, é possível captar para consumo humano. “Neste caso, é necessário laudo de potabi lidade e, dependendo da vazão, há exigên cia do documento de dispensa de outorga.

A Emater, conta Schäfer, trabalha com proteção de nascentes há 40 anos, quan do sequer existia legislação específica.

“É um trabalho muito gratificante, prin cipalmente quando se auxilia uma família que está tomando uma água barrenta, que tem contaminantes que podem compro meter a saúde das pessoas.” A proteção, acrescenta, mantém a qualidade da água de quando ela nasce, não permitindo que se contamine no meio do caminho. “Além disso, é preciso compor a mata ciliar e isso garante o retorno de água.”

15
Luis Vanderlei Hoose aproveitou a nascente na parte alta da propriedade para fazer a proteção e usar a água FOTOS: LUCIANE ESCHBERGER FERREIRA Dexheimer mostra o modelo, instalado na praça central de Travesseiro, para que o agricultores possam ver o quanto simples é a intervenção Engenheiro agrônomo Marcos Schäfer destaca a melhora na qualidade de água para as famílias do campo

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