Viver Cidades - Abril de 2023

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Agroecologia aproxima produtor e consumidor

Produção de orgânicos sofre com os efeitos das secas recorrentes. Entretanto, quem opta pelo cultivo de alimentos livres de agroquímicos encontra maneiras de manter a atividade. Márcia Ferri (foto) aposta em determinados vegetais e mantém a propriedade aberta para o turismo de experiência. Outro produtor planta pela primeira tomates em estufa e fora de época.

Páginas 22 e 23

NA PRÁTICA

Estudantes de Ensino Médio e Superior criam projeto para manter espaços públicos limpos

Páginas 4 e 6

CISTERNAS

Agricultores adotam soluções ambientais para enfrentar a seca na produção leiteira

Páginas 18 e 20

CADERNO ESPECIAL ABRIL | 2023
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Novas e velhas gerações

Quando falamos em meio ambiente, geralmente, o que desejamos é a recuperação ambiental. Tentamos sensibilizar as pessoas. Para tanto, apresentamos cenários muito ruins. Rios e arroios poluídos, lixo sendo descartado de forma incorreta…

Como sensibilizar e incentivar as novas gerações a fazer diferente do que temos feito? Diferente do que seus avós fizeram?

Dizem que o exemplo é a melhor forma de ensinar. Em vez de dizer “separe o lixo”, simplesmente o faça e convide a participar. Durante a produção do suplemento Viver Cidades, tivemos a oportunidade de conversar com crianças, adultos e idosos. Fo-

ram várias entrevistas, fotografias, vídeos para compor as 24 páginas desta edição. Procuramos buscar exemplos positivos e de soluções para os problemas.

É fantástico como as crianças estão abertas às propostas e conscientes do seu papel na sociedade. Alunos que hoje estão no 5º ano, explicam como funciona um biodigestor. Mais do que isso, falam sobre a importância de reduzir o desperdício e dar destinação correta às sobras. O mais admirável é que eles, na faixa de 10 anos, aprenderam sobre o tema há dois anos, quando estavam no 3º ano escolar - quando o biodigestor foi instalado na escola. Desde muito cedo sabem como agir para preservar o meio em que vivem.

Jovens do Ensino Médio são desa-

fiados a criar campanha de educação ambiental, e dão resposta além das expectativas.

Nos dá a impressão que as novas gerações tratam das questões ambientais com mais naturalidade. De fato, preocupam-se com a preservação, com a educação do cidadão. Têm a consciência do mundo degradado no qual vivem e se importam. Se importam em fazer diferente. Mesmo sem saber, se importam com as gerações vindouras.

Cabe aqui destacar uma grande diferença entre ontem e do hoje. Ontem, não existia o acesso à informação e ao conhecimento como na atualidade – na palma da mão. Além disso, os serviços públicos eram muito limitados – há 40 anos não havia coleta de lixo tampouco rede

de água em cidades da região metropolitana de Porto Alegre, por exemplo. O desconhecimento sobre os impactos ambientais imperava. Então não cabe aqui demonizar as gerações passadas por suas atitudes no ontem. Porém, o conhecimento agora é acessível, as pesquisas e descobertas evoluíram. O que não cabe mais é insistir em agir como se fosse ontem.

E se o exemplo é a melhor forma de ensinar, também é a forma de aprender. As novas gerações estão aí, dispostas a dar bons exemplos. Quem quiser, é só seguir.

Boa leitura!

TEXTOS Luciane Eschberger Ferreira
PRODUÇÃO EXPEDIENTE IMPRESSÃO ARTE E DIAGRAMAÇÃO Marcelo Grisa
Grafica Uma/ junto à Zero Hora Diretor Executivo: Adair Weiss Diretor de Mercado e Estratégia: Fernando Weiss Diretor de Conteúdo Editorial: Rodrigo Martini
EDITORIAL

Teoria e prática unidas pelo meio ambiente

Instalação de biodigestores em escolas dá destinação correta aos resíduos orgânicos e auxilia no abastecimento de gás de cozinha

Os colegas Bianca H. Becker, Maria Fernanda Feix, Rafaela Hüxher Kroth, Pedro Feix Barden e Arthur da Silva Junqueira sabem, na ponta da língua, para que serve e como funciona um biodigestor. Eles estão no 5º ano, na Escola Municipal de Ensino Fundamental São Judas Tadeu, na Linha Grão Pará, em Venâncio Aires. Desde o 3º ano, os estudantes conhecem o sistema de produção de gás de cozinha a partir de resíduos orgânicos. Em 2021, a escola foi uma das 20 instituições municipais e uma estadual contempladas com o projeto de biodigestores. Com recursos federais, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente realizou visitas técnicas nas instituições para ver a viabilidade de instalar os equipamentos.

O secretário de Meio Ambiente, Nilson Lehmen, destaca o trabalho da engenheira química e fiscal ambiental Carin Taiara Gomes, e do engenheiro ambiental Maurício Knak de Almeida, responsáveis por todo o trabalho. “O projeto foi exclusivamente técnico, sem nenhuma interferência política.”

De acordo com Lehmen , além da gestão de resíduos, o sistema é uma ferramenta de educação ambiental.

O processo

O biodigestor, conforme Carin, é abastecido com restos de alimentos, tanto in natura quanto cozidos. A mistura de esterco bovino e água faz fermentar as sobras de alimentos, gerando o gás. Por meio de uma tubulação, chega à cozinha. “O gás gerado não é suficiente para demanda da escola, mas ajuda a abastecer”, explica Carin.

Do processo, sobra um líquido (bioadubo), usado como fertilizante natural.

Este adubo é distribuído para as famílias dos estudantes e para comunidade do entorno.

Conforme a diretora Lisiane Siebeneichler, o biodigestor auxiliou na educa-

Estudantes do 5º ano conhecem o sistema do biodigestor

O abastecimento com sobras de alimentos fica a cargo dos funcionários da escola

ção ambiental e até mesmo para reduzir o desperdício de alimentos. Embora o abastecimento com sobras de comida e a retirada do adubo líquido do tanque sejam feitos por profissionais da escola, os estudantes passaram a observar o quanto sobrava nos pratos. “Os alunos do pré ao 9° ano se servem no bufê. Hoje, eles põem no prato o que têm vontade de comer. Caso queiram, podem repetir, mas não desperdiçam o alimento.”

Líquido que sobra do processo é um adubo natural distribuído para as famílias

Jovens se unem para melhorar o ambiente da cidade

Criatividade aliada à tecnologia pretende deixar espaços públicos mais limpos e convidativos a passeios

Passear em espaços públicos, especialmente em parques, pode ser uma experiência desagradável. Tutores de cães nem sempre recolhem os dejetos deixados durante o passeio. Além disso, é comum encontrar bitucas de cigarro, latas e garrafas de bebidas, embalagens de alimentos, entre tantos outros resíduos.

Diante do problema, estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco e dos cursos engenharia de software e engenharia da computação, da Universidade do Vale do Taquari – Univates, se uniram para encontrar soluções que estimulem o hábito de recolhimento dos dejetos e, ao mesmo tempo, emita um alerta quando esta regra social é quebrada.

Os acadêmicos da Univates, orientados pelo professor Alexandre Wolf, estão estudando o processo de software para o desenvolvimento de propostas de aplicativos móveis para gerar alertas e georreferenciar as ocorrências de descarte de dejetos de maneira indevida. O trabalho encolve as disciplinas de Programação Mobile e Projeto Integrador III.

Luísa Hauschild, 16, e Kailane Mirela Pires Viecili, 18, fazem parte da equipe do Castelinho, orientada pela professora Claimeri Pasa, na disciplina de comunicação e marketing. A

tarefa dos alunos é desenvolver uma campanha publicitária de conscientização sobre o descarte, especialmente de dejetos de animais. Para tanto, estão buscando informações sobre a história do município de Lajeado, o significado e a composição de cores utilizadas na bandeira e no brasão do município para elaboração da logomarca e do slogan da campanha.

Kailane destaca a importância de conscientizar as pessoas quanto ao descarte correto. “É pela saúde das pessoas e dos animais e pode servir para todos os tipos de lixo.”

Wolf destaca que esse tipo de iniciativa está alinhado com os princípios pedagógicos do Aula+, a gradua-

ção da Univates, que visa a aproximar teoria e prática por meio de ações com a comunidade. A proposta ainda valoriza a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

O projeto, com a parceria entre diferentes etapas da formação estudantil, é um dos direcionamentos sugeridos pelo Novo Ensino Médio, com o intuito de valorizar o protagonismo estudantil, envolvendo os estudantes com assuntos de cunho social, cultural e de saúde pública, contribuindo e conscientizando a comunidade.

De acordo com Claimeri, um dos objetivos da disciplina Comunicação e Marketing no Ensino Médio é fazer com que o estudante entenda que ele é parte integrante da sociedade e pode posicionar-se para a resolução de questões sociais explorando o uso de diferentes práticas de linguagem, buscando o desenvolvimento de habilidades que possibilitem o exercício criativo, a partir da análise e observação das características da linguagem aplicadas em campanhas de marketing e publicidade. “A parceria é um desafio que estimula a criticidade e

o exercício da autonomia do protagonismo estudantil”, complementa o professor Wolf.

Quanto à regulamentação, foram realizados contatos para que a questão seja levada à Câmara de Vereadores para debate”, destaca o professor Alexandre Wolf.

Professor Alexandre Wolf leciona na Univates
Disciplina de comunicação e marketing está a cargo da professora
Claimeri Pasa
Kailane e Luísa integram a turma de Ensino Médio do Castelinho

Conversa Viva abre diálogo

com estudantes sobre a água

Condições dos mananciais chamam a atenção dos adolescentes para o cuidado com o meio ambiente

Dividir conhecimento com estudantes é um dos propósitos do projeto Viver Cidades, que tem como principal ação a análise de água de rios e arroios da região. Em seu segundo ano de execução, o Viver abriu ainda mais o leque. Por meio da atividade Conversa Viva, passou a levar aos estudantes os resultados das análises.

Vídeos, fotos e gráficos mostram o ciclo da água, a partir da nascente. O processo de coleta de amostras, de barco e por terra, e os resultados apurados após da análise são apresentados às turmas.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Oscar Karnal, em Lajeado, foi a primeira a receber a Conversa Viva. Turmas de 8º e 9º tiveram a oportunidade de ouvir e falar sobre abastecimento de água, esgotamento sanitário, agentes poluentes entre outros temas ligados ao meio ambiente.

A coordenadora de projetos especiais do Grupo A Hora, Luciane Eschberger Ferreira, compartilhou a experiência de acompanhar a coletas das amostras de água dos rios Taquari e Forqueta e de treze arroios. “Em locais de difícil acesso, encontramos resíduos como latas, viandas de isopor, fraldas descartáveis e, o pior, lâmpada fluorescente.”

O resultado as análises não surpreenderam tanto os estudantes quanto os riscos à saúde provocados pela contaminação por esgoto doméstico a quem banha-se em determinados pontos. “As primeiras análises mostraram condições ruim e péssima, em uma escala que ainda tem os níveis ótimo, bom e regular.

A aluna Emanuele da Silva, 13, já adota algumas ações para preservar as águas. A. separação do lixo é uma delas. Além disso, quer levar os aprendizados do dia para casa e, com a família, incentivar o cuidado e a preservação do meio ambiente.

Professor de História da instituição, Jaison Oliveira da Silva levou a turma do 9º ano para participar da palestra. Ele destaca que, embora os assuntos sejam trabalhados em sala de aula, trazer para a escola pessoas com uma ligação direta com a temática, auxilia na proximidade dos alunos com os problemas na própria cidade e região.

“A medida em que vamos trazendo alguns assuntos do cotidiano, como a questão dos rios, do lixo, da poluição, eles percebem a realidade e pensam sobre isso”.

Turmas de 8º e 9º ano da FOK, em Lajeado, foram os primeiros a participarem da Conversa Viva

Agenda

02/05: EEEF Leo João Frölich, em Venâncio Aires

05/05: EEEF Pedro Scherer, em Lajeado

16/05: EMEF Vida Nova, em Lajeado

17/05: EEEF Professora Leontina e EEEF Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Venâncio Aires

18/05: EMEF Cônego Hugo Wolkmer, em Estrela

30/05: EMEF Carlos Gomes, em Marques de Souza

07/06: EMEF Odilo Afonso Thomé, em Estrela

22/jun: EMEF São João, em Lajeado

Escolas que receberam a atividade

EEEM Gomes Freire de Andrade, em Teutônia, dia 13 de abril

EEEF Tancredo de Almeida Neves, em Teutônia, dia 4 de abril

Professor Jaison considera importante aproximar os estudantes da realidade local

Abelhas

têm papel fundamental nos ecossistemas

Produção de mel se torna quase secundária diante da importância para o meio ambiente

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as abelhas e outros polinizadores desempenham um papel vital na manutenção dos ecossistemas terrestres. Cerca de 85% das plantas com flores presentes nas matas e florestas nativas e mais de 3/4 das espécies cultivadas dependem da polinização para uma produção de qualidade e quantidade significativas. Na Mata Atlântica, por exemplo, 90% das espécies vegetais são polinizados por abelhas. “Nesse sentido, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a presença de polinizadores é imprescindível para o sucesso da reprodução das plantas em qualquer ecossistema, incluindo os agrícolas”, destaca a engenheira agrônoma, Juçara Ferri.

Embora algumas culturas sejam totalmente independentes da polinização promovida por insetos, ou seja, são autoférteis, em torno de 75% das

espécies vegetais existentes são dependentes de agentes polinizadores (água, vento, animais, etc). “Nesse

contexto, as abelhas, além de serem importantes polinizadores, são ainda consideradas um grande bioindicador da qualidade do meio ambiente”, completa Juçara.

Este serviço de polinização, de transporte de pólen, permite a fertilização das plantas e sua reprodução e é um processo fundamental para a perpetuação das mais variadas espécies vegetais.

Perigos

Devido à soma de diferentes fatores, como a redução das fontes de alimen-

to e locais de nidificação (construir seu ninho), ocupação intensiva das terras e uso indevido de defensivos agrícolas, as populações de abelhas nativas têm sido reduzidas, colocando em risco todo o bioma em que vivem.

A engenheira agrônoma relata que um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, vincula o uso dos inseticidas neonicotinoides (de origem na molécula de nicotina) com o desaparecimento das colônias de abelhas durante o inverno. “De modo semelhante, um estudo brasileiro identificou que um dos agrotóxicos mais comuns no Brasil, o neonicotinoide imidacloprido, pode estar colocando em risco as abelhas nativas”, relata.

De acordo com a Embrapa, nas regiões tropicais, as abelhas sociais (Meliponina, Bombina e Apina) estão entre os visitantes florais mais abundantes. No Brasil, as abelhas sem ferrão (Meliponina) são responsáveis pela polinização de 40 a 90% das espécies arbóreas. “Portanto, o uso racional e adequado de agrotóxicos conforme recomendações técnicas das bulas dos respectivos produtos, bem como a preservação das matas nativas, são fatores que estão diretamente ligados a preservação dessas espécies”, ressalta Juçara.

Na Mata Atlântica, 90% das espécies vegetais são polinizados por abelhas

As abelhas, além de serem importantes polinizadores, são ainda consideradas um grande bioindicador da qualidade do meio ambiente”
Juçara Ferri Engenheira agrônoma

Josué Bigliardi é um dos que utiliza a estrutura da Associação dos Apicultores, em Encantado, para extrair e beneficiar o produto

Vale do Taquari tem 1,7 mil apicultores

O Vale do Taquari tem 1,7 mil apicultores, segundo o engenheiro agrônomo Cezar Burille. Ele é supervisor regional da Emater RS-Ascar e assistente técnico em apicultura e erva-mate. Com base no escritório de Encantado, Burille destaca que a região é boa produtora de mel. “O Vale do Taquari tem uma característica importante para produção de mel, que é ter mata nativa e de eucalipto, além de uva-do-japão, por exemplo.” Além disso, não há grandes lavouras de grãos, que geralmente utilizam agrotóxicos.

A estimativa de produção regional anual é 380 toneladas. Boa parte é exportada, além da distribuição para outros estados e consumo interno. “Temos bons profissionais e estruturas, como Casa do Mel - unidade de beneficiamento de produtos de abelhas –em Encantado, em Roca Sales, que é nova e melhor da região”, destaca Burille. Em breve, entrará em operação a unidade de Doutor Ricardo.

região favorece a produção

Entreposto beneficia produtores da região

O engenheiro agrônomo Eduardo Mariottti Gonçalves destaca que a Emater/ RS-Ascar, onde trabalha, dá apoio técnico, com cursos de formação, além de viabilizar a participação dos apicultores em feiras.

Outro ponto que considera importante é o processo de extração do mel. “A Associação de Apicultores de Encantado mantém a unidade de beneficiamento e segue todos os protocolos de boas práticas, o que garante o selo de qualidade.” A Casa do Mel dispõe de todos os equipamentos e áreas físicas necessárias para que os associados tenham em seus produtos o selo Susaf-RS - Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte.

O presidente da associação, criada em 2012, Valdir Dalla Vechia, 70, destaca a importância da certificação, já que com ela é possível ter a rastreabilidade do produto. Além disso, diferencia do produto feito e distribuído na informalidade.

O apicultor Josué Bigliardi, 42, relata que os primeiros anos de produção não foram fáceis. Entretanto, hoje ele só produz mel, diferente de outros produtores que se dedicam a outras culturas concomitantemente. Ele orgulha-se de oferecer ao mercado consumidor um produto orgânico, extraído de 200 colmeias, com uma produção acima da média na nacional, que é 30 kg por florada. “Em torno de 50 kg.”

Pesquisa inédita

A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) desenvolve um projeto inédito no país. Trata-se de um inquérito para determinar a prevalência e os fatores de risco do ácaro Varroa destructor em colmeias de abelhas (Apis mellifera) no Rio Grande do Sul, além de uma vigilância ativa para o pequeno besouro das colmeias (Aethina tumida). A pesquisa prevê visita a 375 propriedades, localizadas em 97 municípios gaúchos. Os resultados da iniciativa poderão trazer uma série de benefícios aos apicultores gaúchos para o controle dessas enfermidades. O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de mel do Brasil, com 7,5 mil toneladas por ano.

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Engenheiro agrônomo e assistente técnico em apicultura
O Vale do Taquari tem uma característica importante para produção de mel, que é ter mata nativa”
Cezar Burille
Presença de mata de eucalipto na
Valdir Dalla Vechia e Eduardo Mariotti Gonçalves destacam a parceria entre a associação e a Emater

Vale do Taquari tem um dos

Embora o recurso natural tenha qualidade favorável, especialmente na beira do rio Taquari, ainda assim requer cuidados

O15 de abril é marcado pelo Dia Nacional da Conservação do Solo. “Falar em conservação do solo e ter um dia nacional serve para chamar a atenção a esta pauta, muitas vezes esquecida, e dar a devida importância para este tema, que afeta o nosso dia a dia”, destaca engenheira agrônoma e doutora em fitotecnia, Mara Cíntia Winhelmann.

O solo está no cotidiano da população e tem grande importância para manutenção da vida no planeta. Além da produção de alimentos, serve para obras de engenharia e especialmente para regulação do clima.

Durante os períodos de chuva, o solo faz toda a filtragem e armazenamento de água. “Se não tiver um manejo adequado, muito compactado, por exemplo, a água não vai infiltrar de forma adequada, o que prejudicará o armazenamento no lençol freático, comprometendo o ciclo da chuva, a absorção

pelo solo e o reabastecimento do lençol freático.”

Conforme a engenheira agrônoma, um dos fatores que contribui para inundações nas áreas urbanas é a

quantidade de ruas asfaltadas, que impermeabilizam o solo. A pavimentação com bloquetos de concreto minimiza o impacto, mas não resolve o problema. Para Mara, as cidades deveriam ter áreas verdes e um sistema de escoamento mais eficaz.

Encostas

Muitas vezes, os deslizamentos de terra ocorrem em encostas. Mara observa que o código florestal protege as encostas de morros. Por estarem cobertas de vegetação nativa, estarão protegidas, porque as raízes seguram o solo, e as copas das árvores reduzem o impacto da chuva. Os deslizamentos geralmente ocorrem por conta da retirada da vegetação e por ocupações irregulares.

Agricultura

Antes de iniciar o plantio de qualquer cultura é necessário observar a topografia e o zoneamento agroclimático, que determina qual produção é mais adequada em uma região. Quanto ao solo, a engenheira agrônoma destaca: “Há indícios visuais, como pedregulhos e rochas. O solo é um organismo vivo, com minhocas, fungos, insetos. Até as plantas que estão neste solo dão indícios do que cultivar.” Em relação aos nutrientes, é possível fazer uma análise química e, conforme o resultado, fazer a correção.

Contaminantes

“A região do Vale do Taquari possui um dos solos mais férteis do Rio Grande do Sul”, afirma. São áreas que favorecem a agricultura. Porém, é necessário o manejo adequado para continuar a produção de alimentos de qualidade. “Assim como faziam os nossos antepassados.”

Encostas de morros são protegidas pelo Código Florestal

Ela cita como fundamental o uso adequado dos dejetos, dos agroquímicos e dos adubos.

FÁBIO KUHN

solos mais férteis do RS

ENTREVISTA | Mara Cíntia Winhelmann, engenheira agrônoma

Viver Cidades: Na nossa região, a mata ciliar está bastante degradada. Quais são os impactos da falta de preservação?

Mara Cíntia Winhelmann: A mata ciliar serve de proteção para a margem dos rios. Sem ela, ocorre erosão, pois a mata ciliar “segura” e retém a água reduzindo a velocidade do fluxo, fazendo com que a água penetre no solo. Se essa proteção for removida, ocorre um aumento na velocidade da água, que não infiltra, acaba “lavando” as margens, causa erosão e desmoronamento de barrancos.

Em áreas urbanas, o que cada cidadão pode fazer para contribuir com o ciclo da chuva, absorção pelo solo e reabastecimento do lençol freático?

- Nas áreas urbanas é interessante fazer a coleta de água da chuva para utilizar na irrigação de jardins e hortas, lavagem de calçadas e carros, por exemplo. Isso já contribui para reduzir o volume de água que vai para os rios e também evita usar água tratada, que

tem custo. Assim como manter áreas verdes. Evitar a impermeabilização do solo, cobrindo totalmente com asfalto e concreto para que essa água consiga infiltrar e não ocorra o escoamento superficial.

Como evitar a contaminação do solo, seja por efluente ou outros contaminantes?

- É muito importante que cada cidadão faça o descarte adequado de lixo, pois quando descartado de forma inadequada, como em terrenos baldios, causa a poluição do solo e da água. Da mesma forma, as indústrias devem ter licença ambiental de acordo com sua atividade e dar a destinação adequada aos resíduos gerados.

Mata ciliar reduz a velocidade da água e evita erosão

ALDO LOPES 13
Ruas asfaltadas contribuem para alagamentos quando ocorre chuva intensa

Amostra de água coletada no Castelhano acende alerta

Aguapés cobrindo o espelho d’água do arroio podem indicar presença de carga orgânica

Na primeira coleta de água no arroio Castelhano, em Venâncio Aires, o espelho d’água coberto por aguapés chamou a atenção da equipe de reportagem e dos técnicos do laboratório Unianálises. O trabalho ocorreu no dia 19 de abril e integra o projeto Viver Cidades, que monitora a qualidade da água de dois rios e 13 arroios de 11 municípios da região.

O trecho do Castelhano, no bairro Grão Pará, depois do local de captação da Corsan, estava com a lâmina d’água coberta pelas plantas aquáticas flutuantes. Da ponte, na avenida Grão Pará, até a primeira represa era quase impossível de ver a água. O cenário contrastava com o fotografado em fevereiro deste ano, quando a reportagem esteve no local (veja as fotos).

Plantas aquáticas

De acordo com o biólogo Cristiano Steffens, a grande quantidade de aguapés pode indicar a presença de carga orgânica e de fósforo e nitrogênio. “Por isso eles se multiplicam rapidamente.” Apesar das plantas contribuírem para filtrar as impurezas da água, elas acabam sendo prejudiciais, porque não permitem a passagem da luz solar, necessária para fotossíntese nas plantas submersas.

As amostras de água, tanto do arroio Castelhano quanto dos demais 25 pontos, serão analisadas pela equipe do Unianálises. Os resultados serão divulgados em junho, no próximo suplemento Viver Cidades. Conforme Steffens, com os laudos será possível identificar a causa da presença dos aguapés.

Monitoramento

Contratado pelo Grupo A Hora para fazer o monitoramento de rios e arroios, o laboratório Unianálises faz a coleta das amostras em 26 pontos e analisa, considerando as características físicas, químicas e biológicas. Os laudos são interpretados pelo biólogo Cristiano Steffens.

O trabalho começou em 2022 e segue neste ano. As duas primeiras etapas de análise ocorreram em final de março e início e em outubro do ano passado. O intervalo de cerca seis meses considera a sazonalidade, para

que seja possível fazer comparativos A equipe começou a terceira etapa de coletas no início de abril. Parte do trabalho feito por terra e parte, embarcado. Foram 23 pontos em mananciais de Encantado, Arroio do Meio, Lajeado, Cruzeiro do Sul, Colinas, Marques de Souza, Forquetinha, Teutônia, Estrela e Santa Clara do Sul. A última rota, em Venâncio Aires, incluiu um ponto no rio Taquari,

na vila Mariante, e dois no arroio Castelhano. As análises pontarão melhora ou piora da qualidade da água dos mananciais.

Biólogo aponta a presença de carga orgânica como possível causa da proliferação de aguapés

Arroio Castelhano em fevereiro de 2023 Arroio Castelhano em abril, coberto de aguapés

Em Venâncio Aires os pontos de coleta para o monitoramento da água são no Arroio Castelhano, próximo da Corsan, e no Taquari, na Vila Mariante (foto)

Relembre os resultados das etapas de abril e outubro de 2022

Rio Taquari abril/22 outubro/22 Situação

Encantado Ruim Ruim

Arroio do Meio Péssimo Ruim

Lajeado Péssimo Ruim

Cruzeiro do Sul Péssimo Ruim

Rio Forqueta abril/22 outubro/22 Situação

Marques de Souza Ruim Ruim

Arroio do Meio Ruim Ruim

Arroio do Engenho abril/22 outubro/22 Situação

Lajeado Péssimo Péssimo

Arroio Grande abril/22 outubro/22 Situação

Arroio do Meio Ruim Péssimo

Arroio Sampaio abril/22 outubro/22 Situação

Cruzeiro do Sul Péssimo Ruim

Arroio Posses abril/22 outubro/22 Situação

Teutônia Ruim Ruim

Arroio Encantado abril/22 outubro/22 Situação

Lajeado Péssimo Péssimo

Arroio Saraquá abril/22 outubro/22 Situação

Santa Clara do Sul Péssimo Péssimo

Lajeado (ponto um) Ruim Ruim

Lajeado (ponto dois) Péssimo Ruim

Arroio Boa Vista abril/22 outubro/22 Situação

Teutônia (dois pontos) Ruim Ruim

Estrela Péssimo Ruim

Arroio Lambari abril/22 outubro/22 Situação

Encantado Péssimo Péssimo

Arroio Jacaré abril/22 outubro/22 Situação

Encantado Ruim Péssimo

Arroio da Seca abril/22 outubro/22 Situação

Colinas Péssimo Ruim

Arroio Forquetinha abril/22 outubro/22 Situação

Forquetinha Ruim Ruim

Arroio Estrela abril/22 outubro/22 Situação

Estrela (dois pontos) Ruim Ruim

Índice de qualidade da água: Índice de qualidade da água:

Melhorou Piorou Se manteve

Ótimo, bom, regular, ruim e péssimo

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Estrela recomenda a instalação de cisternas na área rural

Embora não seja novidade, coletar e armazenar de água da chuva têm se tornado cada vez mais necessário. Por conta das recorrentes secas no estado, fica evidente a escassez nas áreas rurais. “Temos volume de precipitação, mas mal distribuída, tanto no inverno quanto no verão”, afirma o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura do município, Arly Volken. “Temos que guardar enquanto está sobrando”, complementa.

A administração de Estrela faz alguns movimentos para estimular os produtores rurais a instalarem sistemas de captação de água da chuva. Uma das frentes é apresentar as vantagens e sugerir a instalação no momento de liberação da licença ambiental. “Não é obrigatório, porque a legislação não prevê”, comenta a coordenadora de Meio Ambiente de Estrela e bióloga, Rosângela Celli Johann. “Mas recomendamos”, afirma.

Outra maneira de sensibilizar os produtores rurais é mostrar o quanto o sistema é simples. “Os agricultores

estão entendendo isso e colocando o projeto em prática”, observa Volken.

Rosângela concorda que há despesa e, neste sentido, as secretarias municipais buscam recursos específicos para instalação das cisternas.

“Além de ter reserva, as famílias vão utilizar menos a água retirada dos poços artesianos e distribuída pelas associações. O ganho ambiental é importante”, destaca a bióloga.

Rosângela ressalta a crescente demanda de alimentos e ao mesmo tempo a necessidade de aumento de produtividade. “Nossa produção de

Saiba mais

Água coletada serve para dessedentação dos animais

aves, suínos, está crescendo, tanto que tivemos que baixar as bombas nos poços das associações de água pelo aumento do consumo.”

Para a bióloga é preciso ter visão de futuro, entender a necessidade de produção de alimentos. “Temos que ter condições para que continuem esta produção.”

• Estrela tem uma lei que determina o aproveitamento de água da chuva nos prédios públicos

• Está prevista para entrar em vigor em 2024 a lei do IPTU Verde na área urbana. Imóveis com práticas ambientais terão desconto no imposto.

• Guardar água que cai sobre os telhados dos aviários, por exemplo, evita erosão nas laterais dos pavilhões.

• Grande parte parte das propriedades ainda lava instalações dos animais com água potável.

• É possível captar água da chuva, mesmo com painéis solares instalados nos telhados.

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“Temos volume de precipitação, mas mal distribuída tanto no inverno quanto no verão”
Arly Vonkel engenheiro agrônomo
“Nossa produção de aves, suínos, está crescendo, tanto que tivemos que baixar as bombas nos poços das associações de água.”
SEGUE >
Rosângela Celli Johann bióloga

Pioneiro na produção e nas soluções ambientais

O produtor Adão Braun, 82, tem um longa história na lida do campo. Na propriedade em Linha São Luiz, em Estrela, as 160 vacas holandesas precisam de conforto para produzir leite. “Os bichos não podem sofrer com o calor”, observa Braun. Para tanto, sob o telhado de 2 mil m², ventiladores e jatos de água regulados por temporizadores refrescam os animais. Os bebedouros estão sempre abastecidos, e a limpeza do estábulo é essencial.

Para o “conforto para as vacas” não estourar o orçamento, a chuva que cai sobre o telhado

Ampliação para garantir abastecimento de água

é levada por calhas até os reservatórios, que somam 75 mil litros. As soluções ambientais começaram a ser implantadas em 2014. De lá pra cá, toda água usada limpeza e dessedentação do animais vem da chuva. “Se pode usar a chuva, não precisa tirar água do solo.”

Outro modo de controlar custos é gerar a própria energia, com sistema de painéis fotovoltaicos.

Todas as medidas, passando também pela produção de alimentos para o gado, garantem um produto de qualidade e um preço à altura.

As soluções sustentáveis na propriedade dos irmãos Joel e Jorge Schwingel, em Linha Lenz, foram tão positivas que eles decidiram ampliar os investimentos. A captação de água da chuva é importante para limpeza dos estábulos e manter cheios os bebedouros. Com a instalação de novos reservatórios, a sala da ordenha também será higienizada com água das cisternas. A família trabalha com produção leiteira e tem cem vacas no rebanho.

A família mantém o abastecimento pela associação de água, mas nota a diferença na conta: em meses de pouca chuva o valor é em torno de R$ 300, e quando chove mais, baixa pra R$ 150. A instalação de painéis solares, que produz energia limpa, também reduziu a despesa. O controle de geração ocorre pelo aplicativo.

O engenheiro agrônomo da secretaria da Agricultura de Estrela, Arly Volken tem acompanhado o progresso dos irmãos Schwilgel, e faz uma provocação: “Com o tempo, temos que envolver a irrigação.”

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Joel controla nas contas o retorno dos investimentos Adão Braun (esquerda) é pioneiro na reservação de água em sua propriedade

Agroecologia sofre com a seca, mas produtores não desanimam

Experimentar novos métodos de plantio e incrementar o sistema de venda são algumas apostas

As hortas de orgânicos nunca serão bonitas e organizadas como as do sistema convencional. Proteger o solo com palha, fazer barreira natural com arbustos, deixar o capim crescer nos canteiros são técnicas típicas do sistema de produção de base agroecológica. Entretanto, a seca desse verão contribuiu para minguar a colheita. Para driblar os efeitos do clima, o produtor Leandro Lang apostou no cultivo de tomate em estufa, na Agrocity, bairro Conventos, em Lajeado. A irrigação é gotejante, já que as folhas dessa variedade não devem ser molhadas. “É a primeira vez que estou plantando em estufa e contei com o apoio do Lauro Bernardi (assistente técnico regional em Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar) e da extensionista

Andréia Binz Tonin.

Uma das ações para evitar o tripes – inseto que ataca os tomates - indi-

cada por Bernardi é a distribuição de pequenas bacias azuis com uma solução bem fraca de água e detergente de cozinha. Os tripes são atraídos pela cor e ficam na água.

Lange já tem uma boa caminhada com a produção de orgânicos, tanto que, nas últimas quatro secas, decidiu não arriscar e reduziu o plantio. “Cada ano, a seca fica pior”, constata. Uma das alternativas para melhorar os rendimentos é oferecer a experiência colhe e pague. O projeto está sendo maturado e deve ser colocado em prática ainda este ano na Agrocity.

Experiência

Enquanto Lange planeja o colhe e pague na Agrocity, o casal Carlos e Márcia Ferrari tem experiência em aliar produção orgânica ao turismo.

A Agroecologia Ferrari faz parte do roteiro Entre Vales e Arroios. Márcia recebe grupos de estudantes, de turistas. E muitos dos visitantes

Agroecologia Ferrari é pioneira na região no sistema colhe e pague

passam a ser clientes. Voltam com frequência para escolher nos canteiros o que vai levar para casa. “As crianças vêm aqui e ficam sabendo de onde vem os alimentos. É muito gratificante ver as descobertas.”

A produtora também se queixa da seca dos últimos verões. Uma das consequências é reduzir a variedade. E é justamente na diversificação que a produtora pretende apostar. Enquanto o clima não favorece, ela mantém o ritual de entregar os chapéus de palha e cestos de vime para os visitantes colherem os alimentos.

Leandro Lange aposta do cultivo em estufa para minimizar os impactos da seca SEGUE >

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ENTREVISTA | Marcos Schäfer, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar

Viver Cidades: Qual a principal diferença entre a agricultura convencional e a orgânica?

Marcos Schäfer: A principal diferença da agricultura convencional e orgânica é que a primeira pode lançar mão e utilizar em seus cultivos e criações os chamados agroquímicos e organismos geneticamente modificados - agrotóxicos ou pesticidas, adubos químicos de solubilização rápida e transgênicos. A produção de orgânicos para ser comercializada necessita ter um processo de controle por meio de certificação ou controle social.

Além disso, os alimentos são produzidos com insumos, na sua grande maioria, naturais, como adubos provindos de materiais orgânicos, biofertilizantes, produtos biológicos e mesmo estercos compostados, entre outros produtos permitidos e controlados, que auxiliem no desenvolvimento dos alimentos de forma mais natural o que permite a concentração de nutrientes de forma equilibrada..

Quais são os requisitos para se tornar produtor orgânico?

- Se considera como orgânicos somente os agricultores que passaram pelo crivo da certificação ou controle social e estão inscritos no cadastro nacional de orgânicos. Existem muitos agricultores que estão em transição ou somente utilizam técnicas que reduzem o uso de pesticidas, o que chamamos de Ações de Base Ecológica na agricultura. A Emater, na região envolvendo os 55 municípios

de sua atuação, atendeu 1634 beneficiários em agricultura de base ecológica em 2022.

Qual o principal benefício para quem cultiva e quem consome um produto orgânico?

- Na produção orgânica, como não são utilizados agrotóxicos, não tem risco dos agricultores e trabalhadores rurais se intoxicarem de forma direta e nem os consumidores de correrem o risco de consumirem alimentos com resíduos de pesticidas.

Qual o perfil dos produtores de orgânicos na região?

- A produção orgânica na nossa região é realizada por famílias de agricultores familiares. O que compõe outro aspecto importante que é a questão social na produção de alimentos. Quando um consumidor adquire um produto orgânico da nossa região está consumindo não somente a garantia de mais saúde em um alimento livre de pesticidas e adubos químicos, mas também a escolha de favorecer as famílias e seu modo de vida, e seus ideais de beneficiar o ambiente e as organizações que comungam com a mesma ideia de um espaço ambientalmente mais equilibrado e socialmente justo além do economicamente viável.

Ao conversar com agricultores que mudaram do sistema de convencional para orgânico, o que eles apontam como pontos positivos?

- A tranquilidade/segurança de trabalhar sem o risco de intoxicação da

sua família. Além disso, a satisfação de comercializar os seus produtos livres de resíduos de pesticidas e saber que está contribuindo com a manutenção da saúde dos consumidores.

Quais são as principais demandas que a Emater recebe dos produtores de orgânicos?

- Acompanhamento das propriedades e dos grupos na orientação de uso de novos insumos e produtos que entram no mercado de orgânicos, além do auxílio contínuo na organização dos grupos para o processo de certificação orgânica e permanecerem com os certificados ativos; organização do escalonamento para a colheita programada de alimentos; a verificação das mudanças na legislação e adaptação da propriedade quando é o caso e o auxílio na busca de locais ou formas de comercialização (organização de feiras, por exemplo); busca de técnicas agroecológicas adaptadas às propriedades e aos cultivos específicos; entre outros.

Quantos produtores de orgânicos temos na região?

- Na região de abrangência da Emater Regional Lajeado envolvendo 55 municípios, tem 282 agricultores orgânicos com certificado ativo no cadastro nacional de produtores orgânicos. Destes 99 são do Vale do Taquari.

Existe uma organização de apoio aos produtores?

- Importante ressaltar também que a organização regional para o apoio e a promoção da agroecologia e produção orgânica/agroecológica é muito importante. Na região do Vale do Taquari atua a AAVT – Articulação em Agroecologia do Vale do Taquari. É uma articulação de entidades que apoia a agroecologia e os produtores orgânicos/ agroecológicos em seus grupos e promove eventos ligados à produção, consumo e busca de políticas públicas para este setor da sociedade. Inclusive está sendo organizado para a semana do alimento orgânico, no dia 30 de maio, em Encantado, o 7º Encontro de Agroecologia do Vale do Taquari.

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