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FIM DE SEMANA, 23 E 24 DEZEMBRO 2023 edição nº 417

A tradição nos

presépios

Figuras bíblicas debaixo da árvore de Natal simbolizam a religiosidade da data e renovam a vida e o amor


Bastidores

Na noite de Natal

F

oram nossos pais ou nossos avós que nos ensinaram a enfeitar a casa para a chegada do Natal. Com bolinhas no pinheiro, muitas vezes de galhos reais, logo abaixo é recontada a história do nascimento de Jesus em Belém. Maria, José, o boi e o burrinho. Os pastores e os reis magos, que eram considerados as pessoas mais cultas daquele tempo e representam diferentes etnias. Com a família reunida, tudo é colocado no seu devido lugar. E estamos prontos para a data. As crianças ajudam na montagem do presépio e já começam a entender seu significado. Nas casas cristãs, o momento também aproxima as famílias de Deus. O Natal é comovente, nostálgico, saudoso. Uma data que todos querem aproveitar ao máximo, reunir o máximo de pessoas, pensar sobre a vida, agradecer. Mas, quando a gente cresce, parece que tudo se torna mais rápido e, enquanto o Natal durava mais

de um mês quando éramos crianças, hoje chega com a rapidez com que vai embora. A rotina apressada está na lista dos motivos e a necessidade de comprar os presentes também. Quando viramos adultos, entendemos que o Papai Noel trabalha, e muito, nesta época do ano. Tanto assim que, por vezes, não sei se consegue aproveitar. Por outro lado, os presentes simbolizam o amor que temos por aqueles que presenteamos. Podemos culpar o capitalismo, mas a troca na noite de Natal também nos faz queridos e querer bem. A vida adulta faz com que a noite de Natal não seja tão mágica quanto já foi um dia, quando as crianças que fomos ainda acreditavam no Bom Velhinho. Mas ela ainda carrega muito daquele sentimento de criança. E nos faz refletir sobre o tempo e as prioridades. Afinal, seu significado está sim debaixo da árvore, mas um pouco acima dos presentes, já que é a figura do menino Jesus que nos faz celebrar. Esse é um dos ensinamentos de nossos pais que não devemos esquecer jamais. Neste Natal, desejo que um pouco daquela magia de criança permaneça dentro de nós, que a família reunida nos traga conforto e que 2024 traga um pouquinho mais de paz. Boa leitura!

Bibiana Faleiro

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DICA

cultural A vida para além da fronteira Rosane Cardoso

professora de literatura

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omo é partir sem perspectiva de retorno? Como viajar sem saber, ao certo, para onde vamos? Como é ver o pai, ou a mãe ou os irmãos partir(em)? Voltarão? A vida ao quase alcance será, de fato, a terra prometida? De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (IOM), de 2015 a 2020, o número de imigrantes aumentou mais de 1% na América Latina, o que vem a representar 2,6% de toda a população da região. No movimento migratório também estão os refugiados, pessoas que precisam sair de seus países devido a perseguição política, racial, violação dos direitos humanos, etc. Infelizmente, a chegada de estrangeiros em determinados países tem provocado manifestações contrárias às (i) migrações por parte de grupos que consideram que pessoas de fora possam estar usurpando empregos e/ou dilapidando a economia do país que os recebe. Com isso, os migrantes frequentemente sofrem com discriminação social e são vítimas de abusos de ordem trabalhistas ou mesmo de si-

tuações análogas à escravidão. No Brasil, tanto os refugiados quanto os migrantes têm acesso à educação, saúde e trabalho, desde que busquem a devida documentação. Mas, independentemente da situação, são sujeitos que deixam o espaço onde nasceram e se deslocam ao desconhecido. Este, dificilmente, é um caminho fácil. Seja uma mudança no próprio país ou para outro, do real ao mágico, a literatura infantil e juvenil tem revelado o drama do desterro observado pelo olhar da infância. Migrantes, publicado em 2021, de Issa Watanabe (Peru) é uma obra que se compõe unicamente de ilustrações feitas pela própria autora que estudou literatura e Belas Artes em universidades estrangeiras. A artista morou por anos em Mallorca, Espanha, onde conviveu com muitos migrantes fugindo da miséria e de conflitos armados. Já na capa, vemos um grupo de animais atravessando a escuridão e silêncio absolutos, seguidos de perto pela morte. Ao passar as páginas, a fome e a morte sem eufemismos vão subtraindo personagens. O grupo au-

menta e diminui, dorme, acorda, caminha sem jamais saber exatamente o que está à frente. Segundo a autora, a escolha por animais tem por objetivo a não determinação de raça ou lugar, dada a universalidade da situação. Nesse sentido, o livro enaltece a mescla cultural e a união de um grupo que tem em comum apenas o fato de pertencer ao reino animal. Coelho e leão, garça e urso, sapos e girafa, hipopótamo e galo convivem e se dão as mãos. São todos iguais, na medida que sobrevivem juntos, com os olhos arregalados de medo e expectativa. Sem dar respostas, o final da narrativa acena com a esperança de árvores que se abrem em flores.

No Brasil, tanto os refugiados quanto os migrantes têm acesso à educação, saúde e trabalho, desde que busquem a devida documentação”


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No presépio, o signific Para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, famílias enfeitam as casas com figuras bíblicas debaixo do pinheiro. A criatividade faz surgir diferentes peças, que carregam memória, religiosidade e tradição

COMPORTAMENTO Bibiana Faleiro

bibianafaleiro@grupoahora.net.br

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radição mantida entre as famílias cristãs, o presépio montado debaixo da árvore de Natal traduz o verdadeiro significado da data para os religiosos. Costume de gerações, a monta-

gem envolve diferentes materiais e, na figura do nascimento de Cristo, significa a vida nova. É assim que Heidi Collischonn Biehl, 62, vê o pequeno arranjo de personagens bíblicos que ela coleciona. Com 16 tipos diferentes de presépios, a professora de história aposentada montou uma exposição, que pode ser conferida no Sítio das Camélias, em Linha Boa Esperança, interior de Cruzeiro do Sul. As peças ficam espalhadas pelos cômodos da casa dela, herança da família há quase 132 anos. Hoje, a estrutura vem sendo restaurada para receber hóspedes, mas sem perder as características originais do Enxaimel. A exposição fica aberta ao público até o dia 31, com agendamento pelo número (51) 99516-4424. ARQUIVO PESSOAL

Antigamente, as crianças não ganhavam presentes, eles ganhavam um prato com aquelas bochas pintadas, com algum doce, e aí cada criança da casa tinha o seu prato” Heidi Collischonn Biehl professora aposentada

Incentivo na família Heidi lembra que quando tinha cerca de 6 anos, a mãe ganhou um presépio, que ela ajudava a montar em cada Natal. Com seis filhos e os afazeres da casa, com o passar dos anos, a mãe incentivou Heidi, a filha mais velha, a se responsabilizar pelo presépio. “Aos poucos, fui assumindo e os meus irmãos ajudavam. Então essa paixão veio”. O primeiro presépio próprio que ela teve foi de papel, com figuras recortadas. Depois, ganhou um conjunto de palha de milho que estragou com o tempo, até que a filha de uma prima, que é artesã, consertou e começou a fazer presépios também. A cada novo modelo criado por ela, um era presente para Heidi. Outros presépios expostos são de fibra de bananeira, de bucha vegetal, de madeira, entre outros. Ainda, há um calendário de advento com a imagem do presépio, como uma tradição da Alemanha para contar os dias até o Natal. Além de presépios andinos e coroas de advento. Ela também guardou itens da própria infância. “Antigamente, as crianças não ganha-

O presépio de Ana Eunice é uma herança da mãe e traduz a vida nova no período de Natal

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nha vida”.

Memórias da infância

vam presentes, eles ganhavam um prat o com aquelas bolachas pintadas, com algum doce, e aí cada criança da casa tinha o seu prato. Eu achei os seis pratos de papelão”, conta. Para Heidi, mais do que um hobby e de uma expressão artística, os presépios colecionados são o verdadeiro significado do Natal. “Eu tenho uma fé muito grande, eu creio muito. Senti o poder de Deus em algumas ocasiões muito difíceis na mi-

A religiosidade também está presente na casa de Ana Eunice Becker Petter, 62, que vê no presépio o maior sentido do Natal. As peças com as figuras bíblicas que ela monta hoje, junto ao pinheiro com galhos naturais, eram da mãe e estão há décadas na família. Ana Eunice lembra que quando ela e os três irmãos eram crianças, a mãe esvaziava a sala para montar o presépio, no primeiro dia do Advento. “Ela ficava semanas antes colhendo musgos das pedras, plantas e galhos secos no chão. Ela colhia tudo nos potreiros e depois passava um dia montan-


cado do Natal BIBIANA FALEIRO

ENTREVISTA DOM ALOÍSIO ALBERTO DILLI, bispo da diocese de Santa Cruz do Sul

“Deus vem habitar entre nós e isso nos faz celebrar” Como iniciou essa tradição de montar os presépios?

Heidi coleciona presépios expostos no Sítio das Camélias, em Cruzeiro do Sul, que podem ser visitados pela

do. Era grande”, recorda. Sem pisca-pisca na época, o que iluminava eram pequenas

velas. Então, uma vez por semana, a família se reunia ao redor da montagem para rezar e can-

tar. “Eram ligadas só as luzes de velas, era bonito, uma vivência. Hoje em dia as pessoas vão per-

sempre toda a criativa. O que o Natal significa para as famílias?

O presépio está completando 800 anos de história, exatamente nesse ano. O primeiro presépio foi realizado por São Francisco de Assis, num lugar da Itália chamado Greggio, é um lugar montanhoso onde tem uma rocha bem grande e uma gruta. Então no ano de 1223, São Francisco quis celebrar o Natal de uma forma parecida com a que aconteceu na gruta de Belém. Ele pede a um senhor chamado João para que arrumasse a gruta, trouxesse feno, manjedoura, um boi e um burro vivos. Homens e mulheres vêm de noite com tachas e iluminam o lugar. Ali se celebra a missa. A partir daquele presépio, novas oportunidades surgiram para fazer o presépio, e se tem

São famílias que celebram o nascimento de Jesus Cristo e querem representar isso nas suas casas, para dizer ‘nós acolhemos esse menino de Belém, também queremos ser como Maria, José, os pastores, queremos participar desse mistério da vinda de Deus entre nós para ser nosso salvador’. Isso é muito bom e temos que recuperar cada vez mais o presépio. Algumas famílias esquecem e perdem o sentido cristão, mas quem tem o presépio tem esse sentido. Não tem sentido fazer a festa, os presentes, sem ter o motivo, que é o nascimento. Deus vem habitar entre nós e isso nos faz celebrar.

dendo esse costume”. Ana Eunice herdou o presépio da mãe quando casou e os filhos dela cresceram com o mesmo conjunto de peças. Agora já é a vez dos netos. Para ela, além do simbolismo religioso, o presépio carrega memórias afetivas e a faz lembrar dos Natais que passou com os pais. Hoje, ela tenta reproduzir os costumes da mãe. Só não faz as bolachas pintadas. Mas lembra

de fazer biscoitos quando criança e colocar em uma lata em frente à casa. Durante a noite, os pais pintavam e devolviam ao pote, dizendo que o papai noel tinha passado por ali. Para Ana Eunice, a simplicidade é a maior virtude do Natal. “A manjedoura é nosso coração hoje, que a gente oferece para Jesus nascer e é para a gente refletir, será temos tudo, se não falta palha para o menino deitar”.

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APRESENTA

Doce e colorido

A loja de Gramado também foi projetada por Lucas Pedó, que aproveitou características da fábrica para o projeto

Lucas Pedó

Lucas Pedó Arquitetura e Design contato@lucaspedoarqdes.com.br @lucaspedo.arq.des

Bibiana Faleiro

bibianafaleiro@gmail.com

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or, doces e imaginação fazem parte da proposta da loja Caracol Chocolates + Florestal Candies, localizada no Centro de Lajeado. O projeto é do arquiteto Lucas Pedó, que buscou criar um ambiente que reme-

tesse a Gramado, sede da fabricante de chocolates, e reafirmar os padrões visuais existentes nas unidades de franquias da marca. O arquiteto conta que a ludicidade do espaço já existia na loja conceito de Gramado. E, com essa solicitação por parte da Florestal Alimentos, ele iniciou o projeto com a ideia de adicionar um setor que conversasse com a linguagem padrão e pré-estabelecida da Caracol, mas que deixasse claro ao consumidor a diferença entre os balcões de balas e de chocolates. Assim, ao adentrar a loja, o cliente visualiza a cafeteria, que fica exposta à iluminação natural estabelecida no ponto onde o pé direito é mais alto, junto à exposição dos chocolates. O setor de balas da Florestal Candies fica ao fundo. Mesmo assim, as cores do ambiente aguçam o consumidor a ir até o final e descobrir todos os produtos expostos. “Essa estratégia de alocar ao fundo o espaço colorido e chamativo valoriza o ambiente e o deixa atrativo para que o cliente percorra todo o espaço comer-

PATROCINADORES

Você. FIM DE SEMANA, 23 MAIO E 24 DEZEMBRO 128 || FIM DE| SEMANA, 30 E 31 DE DE 2020 2023

Antes de ler o letreiro, o cliente já entendeu de qual marca é a loja em que está” Lucas Pedó arquiteto

cial”, destaca Pedó. De acordo com o arquiteto, o desafio do projeto foi reformar todo o espaço, incluindo a substituição e reemassamento das paredes, pintura, rede elétrica, som ambiente, forro e a troca do piso, sem fechar a loja, que fica aberta de domingo à domingo, das 10h às 22h. O profissional afirma que o grande diferencial do espaço é o piso, tanto pelas questões técnicas, quanto pela estética. “O piso é uma serragem de borracha, feito a partir de pneus usados, pigmentado e moldado no local, pelos profissionais”.

Loja em Lajeado segue a identidade visual da franquia, com cor e diversãoi

Loja em Gramado Também foi Pedó quem projetou o setor de balas da loja em Gramado. O arquiteto conta ter aproveitado que no local há a fabricação de chocolates para degustação e quis traduzir isso no espaço comercial. Por isso, no centro da loja, o piso e o teto dão a sensação de movimento, e do

REALIZAÇÃO

centro para as prateleiras, há uma tubulação suspensa, que transmite a sensação de que aquilo foi fabricado ali e está sendo distribuído nas prateleiras. Quando se trata de uma rede de franquias ou filiais, Pedó diz ser imprescindível que os espaços tenham similaridade e padrões visuais, já que o cérebro processa imagens mais rápido do que texto. “Antes de ler o letreiro, o cliente já entendeu de qual marca é a loja em que está”.


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