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Sant’Ana do Livramento . Sábado, 30 de Julho de 2016 | Edição comemorativa - Não pode ser vendida separadamente

Sant’Ana do Livramento

193 anos De Palomas à Linha Divisória

FOTO: FABIAN RIBEIRO

História, presente e futuro

A PLATEIA www.aplateia.com.br


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193 anos de Livramento

Expediente

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EDITORIAL - “Ah... Livramento me espera...”

Esse recorte da música Diário de Um Fronteiriço, do santanense Ricardo Martins serve perfeitamente para definir um sentimento que traduz, ao mesmo tempo, a saudade e a vontade de estar na terra natal. A exemplo de outras diversas composições dos talentos locais, exalta a simplicidade rudimentar que faz de Livramento, da Fronteira, um diferencial para quem nasce aqui ou a adota como sua. Telurismo, por um lado, adoração, por outro. É uma espécie de bairrismo desprovido de qualquer xenofobia. Um sentimento positivo na defesa do chão de nascimento. Afinal de contas, rumando para seu bicentenário, Sant’Ana do Livramento continua sendo a Cidade Diferente do Livramento, que seu Hino canta - reverencia os heróis e profetiza o mundo do progresso e do desenvolvimento continental, em letra e música do professor Agapito Prates Paulo -; pautando a fraternidade e a liberdade como elementos primordiais e acentuando, como Cidade Símbolo da Integração Brasileira com os Países do Mercosul - em conformidade com um disposto legal, a Lei 12.095 de 19 de novembro de 2009 – um referencial político que, é bem verdade, já foi muito importante em nível estadual e, hoje, pela falta de representatividade, ainda deixa muito a desejar. Entretanto, Sant’Ana ou Livramento, como ao município se referem os santanenses ou fronteiriços, completa, em 30 de julho de 2016, 193 anos de emancipação política com perspectivas e probabilidades de desenvolvimento, muitas delas ainda não passando desta condição teórica para a prática. Esse realismo de constatação permite também entender as diferenças econômico-sociais em relação a outros municípios. É, porém, a pujança, a força de vontade, a vontade ferrenha das pessoas que habitam o muniFOTOS | cípio, outro dos diferenciais que

Marcelo Pinto REVISÃO | Marcos Ozanan Diretoria | Alex Sandro DIAGRAMAÇÃO | Editora-chefe | Ralph Quevedo Antonio Badra Jonathan Almeida Elis Regina Cartaxo Banco de Imagens-AP PROJETO GRÁFICO | Kamal Badra Fabian Ribeiro Jonathan Almeida

continua conduzindo os rumos de uma população (estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE) em 2015 de 82.968 pessoas, cabendo considerar que esse número registra a tendência de oscilação, podendo haver aumento em um eventual novo Censo Populacional que venha ser realizado, já que somente em termos de eleitores aptos a votar em 2016 o município registra 73.089 pessoas, conforme informações do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Destes são 33.984 do sexo masculino e a maioria, 39.118 do sexo feminino. Sant’Ana do Livramento, passado, presente e futuro. Terra que acolhe. Gente que batalha. Cidade de heróis, vultos históricos. Município de contrastes, curiosidades, fatos pitorescos, de tradicionalismo e gauchismo, de agropecuária e de gigantescas indústrias que não mais retornarão, de colonização no passado distante e assentamentos no mais recente. Divisa que não divide, em que pese a simbologia dos marcos que estão distribuídos, num serpentear de caminhos da linha geográfica que marca a identidade da brasileira Sant’Ana do Livramento e da uruguaia Rivera. Chão de gente simples, trabalhadeira – ou seja, antes que o termo gere dúvida, quem trabalha muito e com gosto pelo trabalho -. Do mate amargo bem cevado e dos vinhos saborosos, incrustrada nas coxilhas. E para concluir com a mesma musicalidade, afinal de contas, rememorando uma canção para Sant’ Ana do Livramento e o Caty, a poesia de Vilmar Vila de Menezes, Tuna e Tunão, interpretada pelo Grupo Os Tapejaras, o trecho do chamamé Para Sant’Ana do Livramento: “Avante Sant’Ana! Querência de todos que acreditam em ti. Marchamos unidos buscando horizontes que tanto sonhamos. Teu povo já sabe e o Rio Grande conhece a força daqui. Seguimos com fé, perseguindo os caminhos que há muito buscamos!”

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Município De Sant’Ana Do Livramento LINHA DO TEMPO

Criada a Colônia do Santíssimo Sacramento em 22 de janeiro. O primeiro sinal de vida portuguesa no extremo sul se registra. Espanhóis haviam avançado para as imensas áreas de terra que compreendiam Livramento, Bagé e imediações. Portugueses descem do Nordeste brasileiro para garantir a posse dessas terras.

Predominância, desde tempos ancestrais anteriores ao descobrimento do Brasil, no pampa aberto e sem divisas dos indígenas. Na região, principalmente habitavam Minuanos e Charruas, sendo predominante a segunda etnia.

1500

1600

1680

Os primeiros missionários jesuítas vindos da Espanha, começam a circular pela região, a partir da região das Missões

1700

Circulavam pela região de campos pampeanos índios, gaudérios, bandoleiros, e nômades eventuais, assim como fugitivos que acampavam em capões de mato.

Envio à região de Livramento e Bagé do Exército Pacificador, comandado pelo 1º Conde do Rio Pardo, Diogo de Souza. Exército Pacificador é dividido em duas frações, uma na área do Rio Ibirapuitã e outra na Cidade de São Diogo, Acampamento Militar Cidadela São Diogo

A área do futuro município estava praticamente abandonada.

1801

1810

1811 Independência de Colônias Espanholas na região do Rio da Prata e Primeira Intervenção Militar do Brasil Reino (Colônia de Portugal)


4 193 anos de Livramento Primórdios do povoamento, com a concessão das primeiras sesmarias pelo Marquês de Alegrete Luís Teles da Silva Caminha e Meneses, 8.º conde de Tarouca e 5º Marquês de Alegrete (27 de abril de 1775 — 21 de janeiro de 1828) militar e administrador colonial português. Foi governador da capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, de 13 de novembro de 1814 a 19 de outubro de 1818. Consolidação da posse dos sesmeiros

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Povoamento da região é incentivado, quando assumiu o governo da Província, o Conde de Siqueira, Dom José Castelo Branco da Cunha de Vasconcelos e Souza, ampliando o número de sesmarias doadas.

Antonio José de Menezes, Antonio Ignacio, Belarmina Coelho da Silva, Antonio Alves Correa, Francisco Luiz Magalhães, Francisco Antonio da Fonseca, Francisco da Costa Maia, Isabel Fernandes, José Francisco de Amorím, José dos Santos Jardím de Menezes, José Caetano Carvalho e Souza, Marechal José de Abreu, José de Castro Canto, Eulalia Pereira, Maria José Nunes, Manoel Thomaz do Nacimento, Manoel Joaquim Assunsão, Pedro José de Almeida, entre outros.

1814

1818 1823

1834 A abastada fazendeira Ana Ilha de Vargas doa à Igreja Católica uma imagem de Nossa Senhora de Santa Ana, na condição de ser esse o nome a ser dado ao Curato que estava estabelecido desde 1824.

1822

Capela alcança o status de Curato

1843

Depois do período estacionário em relação a Revolução Farroupilha, Sant’Ana começa a registrar movimento, ante a ocupação da povoação pelo então Marechal Caxias e, no Topador, o célebre duelo entre o presidente da República Riograndense, Bento Gonçalves da Silva e o coronel Onofre Pires marcam o período

1830

1827

1824

Instalação do Agrupamento Nossa Senhora do Livramento e efetiva construção da Capela Definitiva da Igreja Católica. Frei Bernardo das Dores, carmelita foi o “cura”.

Provisão do Vigário Geral da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Antônio Vieira de Soledade concede licença, em 16 de março, para construção da primeira capela próximo ao Arroio Ibirapuitã. A construção foi consumida pelo fogo ateado por um dos sesmeiros, cujo nome a História não apurou.

1848 Distrito criado pela Lei Provincial 156 e estabelecimento da Freguesia de Sant’Ana do Livramento

O acampamento Imperial Carolina foi abandonado e as tropas seguiram, em meio de grande entusiasmo para Bagé. Foram esses mesmos soldados que em 20 de fevereiro enfrentaram o inimigo no combate de Ituzaingó.

Curato usa livros de batizados e casamentos e remanesce um pequeno aglomerado de casas e do assentamento do Acampamento da Imperial Carolina

1851 Constituído o Exército Libertador, comandado por Caxias, que como em 1826 escolhe Sant’Ana do Livramento para concentrar o grosso da tropa. Segundo Regimento de Cavalaria se estabelece na cidade e o Estado Maior ocupa uma casa próximo à praça principal da cidade, então designada Praça de Caxias (hoje General Osório). Em 4 de setembro do mesmo ano o Exército Libertador penetra no território oriental com 16.200 homens, sendo 6.500 da Infantaria, 8.900 de Cavalaria, 800 de Artilharia e 23 Bocas de Fogo.


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193 anos de Livramento Separação de Alegrete e ascensão a Vila, em 10 de fevereiro. Constituído o Distrito Sede em 29/06. Criação da primeira Câmara Municipal, com os vereadores: Francisco Maciel de Oliveira, Firmino Cavalheiro de Oliveira, Domingos Gomes Martins, Antonio Soares Coelho, Israel Rodrigues do Amaral, Bernardino Gonzaga de Souza e Francisco de Paula Pereira de Berros.

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1857

1865

Visita do Imperador Dom Pedro II e seu Genro Conde D’ Eu à Vila

O poeta argentino José Hernández se estabelece em Livramento, onde escreve parte da “bíblia” do Gaúcho, o célebre Martin Fierro.

1871

Lei Provincial 1.013, de 06/04 confirma a elevação à condição de cidade com a denominação de Santa Ana do Livramento ou Sant’Ana do Livramento

1876

Criação da Alfândega em Sant’Ana do Livramento

1900

Primeira Divisão Administrativa: o município é constituído de 4 distritos: Sant’Ana do Livramento, São Diogo, Upamaroti e Quaraí. Pelo Decreto Estadual n.º 7.199, de 31-03-1938, o município de Sant’Ana do Livramento teve sua denominação simplificada para Livramento. O mesmo Decreto o distrito de Conceição passou a denominar-se Porteirinha e ainda extinguiu os distritos de Passo do Espinilho e São Diogo, sendo seu território anexado ao distrito de Porteirinha, pertencente ao município de Livramento.

Economia do município

A economia de Sant’Ana divide-se em graus de iniciativas, mas tem sobretudo na agropecuária, especialmente, seu esteio e margem de empregabilidade de recursos humanos na produção agrícola. A produção pecuária – bovinos de corte, bovinos de leite, ovinos e equinos -; assim como a agricultura, mais recentemente com um avanço significativo da soja, além do arroz, fruticultura, olivocultura, entre outros investimentos no segmento revelam a realidade de ingestão de recursos. Comércio, especialmente varejista, com ênfase na área supermercadista, eletroeletrônicos (redes de lojas), franquias, empresas tradicionais, e serviços, como hotelaria, postos de combustíveis, vêm a seguir. Segundo dados da Casa Civil do governo gaúcho, o Índice de Retorno de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (IPM) para 2016, referindo Sant’Ana do Livramento, registra 0,092895, ao passo que a receita incremental, atinge R$ 709.718,00. Se em 2014 o município amargou, com a decisão da vinícola Almadén (Miolo Wine Group) de retirar seu engarrafamento dirigindo-o para Bento Gonçalves, com os investimentos na sojicultura, estimulados pela Agrosoja Sant’Ana - hoje geradora da maior parcela de retorno de ICMS ao município -, a tendência de retorno registrou melhora. Dados de 2014, da Secretaria da Fazenda do Estado registram que o valor nominal em arrecadação

de ICMS - sem desconto de inflação - no ano de 2014 ficou em R$ 16.551 milhões, o que perfaz 0,1% do total estadual. A mesma fonte acusa que em termos de retorno do imposto em 2015, Sant’Ana registra a posição 34, atrás de Bagé (31), Uruguaiana (22) e Pelotas (11), Erechim (20). Informações do Conselho Regional de Desenvolvimento da Fronteira Oeste (Corede - FO) registram que o Valor Adicionado Bruto (VAB) em 2012 acusava destaque para o setor de serviços (14,6%). Livramento, no VAB da criação de bovinos - incluindo a produção de leite superava Alegrete, com 18,6% contra 18,2%. Os primeiros registros do avanço da soja começavam a surgir, mantendo-se, no caso do município fronteiriço, o referencial da uva. De 2012 para 2016, os referenciais apontam para incremento em algumas atividades, especialmente a soja, a cultura de oliveiras, mantendo-se a pecuária (leiteira e de corte), assim como outras já conhecidas. Informações do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) do ano 2015 reportam a existência de 3 frigoríficos atuando (Predileto, Camacho e Estância, este último focado na carne ovina) 01 entreposto de mel e derivados, 42 fábricas de conservas de produtos cárneos, sendo charque e embutidos; 01 entreposto de carnes e derivados, 07 micro queijarias e 1 granja avícola.

1911 Lavouras de soja vem crescendo significativamente nos campos agricultáveis de Sant’Ana do Livramento nos últimos anos

1938

Em divisão territorial datada de 1-07-1950, o município é constituído de 2 distritos: Livramento e Pampeiro.

1950

Volta às origens, o município de Livramento voltou a denominar-se Sant’Ana do Livramento.

1957

Em divisão territorial datada de 1-07-1960, o município já denominado Sant’Ana do Livramento é constituído de 2 distritos: Sant’Ana do Livramento e Pampeiro. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1988.

1960

Agroindústrias de derivados crescem O trabalho conjugado do SIM - Serviço de Inspeção Municipal - da Secretaria da Agricultura, bem como Cooptec, Emater - Ascar e Programa Estadual da Agroindústria Familiar foi elemento facilitador para esse desenvolvimento. Dados de 2011 registravam mais de 400 empregos diretos e indiretos, com mais de 60 agroindústrias nesse segmento, havendo algumas ainda, com reserva visando registros. Também é mencionável a agroindústria de produtos cárneos, como linguiça, charques e outros derivados, como salames. Há utilização de carne ovina e bovina das produções locais. Doces, outra das nascentes fontes de emprego das produções locais, sobretudo frutíferas, mesmo que ainda em pequena escala e em produções artesanais. Queijo, entre outros produtos provêm das agroindústrias santanenses Outra atividade que registrou incremento significativo nos últimos anos foi a agroindustrial. Queijos (estilo caseiro, temperados, colonial), doce de leite, ambrosias, rapaduras, entre outros, assim como iogurtes e bebidas lácteas também foram alvo de investimentos por parte de pequenos investidores, normalmente produtores, os quais buscaram, com êxito, agregar valor às atividades desenvolvidas.


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193 anos de Livramento

A retomada da carne/lã e o leite ovino Na ovinocultura, com um rebanho superior a 450 mil cabeças, atualmente em fase de valorização nos quesitos lã e carne, principalmente, é digno de nota o criatório de Corriedale, Ideal, Merino (Australiano e Dohne), Poll Dorset, Texel, entre outras. Entre 2014 e 2015 foram reforçadas as bases de perspectivas dos criatórios ovinos - com a já mencionada valorização da carne -. Também é mencionável o investimento em ovinos leiteiros, da raça Lacaune, para fornecimento destinado a produção de queijos e iogurtes. Um destaque é a Megal, agroindústria familiar da família Galanos, especializada na produção de iogurte grego – utilizando, além do leite bovino, o leite de ovinos Lacaune para seu produto. Em recente oportunidade, tendo como foco, entre outros a organização e a valorização da produção ovina,

com apoio da Associação e Sindicato Rural, foi instituída uma Associação de Criadores de Ovinos – abrangendo todas as raças trabalhadas-, presidida pelo expert Jair Menezes, segundo o qual, independente das raças trabalhadas, há mercado significativo, o que gerou novas perspectivas para o setor, atraindo investidores para lã e para carne, principalmente. Há, ainda, a partir de pequenas propriedades, trabalho com pelegos e peles, especialmente enfatizando a cultura tradicionalista gaúcha, além do artesanato em lã, em que se destacam feitios de xergões, ponchos entre outras peças do vestuário tradicional e convencional em lã. A artesã Jacy Bacy Dargélio, por exemplo, é uma dos talentos atuantes nesse setor, com trabalhos comercializados em todo o Rio Grande do Sul e além do território gaúcho.

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Agricultura pujante e geradora de divisas Na agricultura Sant’Ana do Livramento registra incremento na produção de soja, mediante investimentos de produtores que convergem para o município, vindo de outras regiões. Mais de 35 mil hectares era o registro de 2015 no que se referia à produção de soja em Livramento. O número de área, conforme o engenheiro agrônomo Teomar Muller, da Agrosoja Sant’Ana, já supera os 40 mil ha, em que pese o ano atípico registrado neste 2016, com muita umidade. De 2014 para 2015 o aumento no investimento na oleaginosa no município foi de 10 mil hectares. A produtividade oscila, mas fica dentro da faixa dos 3.000 quilos por hectare, considerando os fatores climáticos adequados. O Brasil é o segundo maior produtor de soja no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos da

América. O preço atrativo de remuneração dessa commodity é um dos fatores que estimula o investimento no cultivo. O ano de 2015 registrou oscilações de temperatura e fenômenos de clima em âmbito macrorregional os quais geraram prejuízos na produção de soja, assim como em outras culturas. A umidade, excesso de chuvas – especialmente em períodos em que a oleaginosa precisava de tempo estável – foi fator determinante para alguns prejuízos registrados. Outra variável que tem causado extrema dificuldade à cultura, bem como a todo o setor primário, é a condição de trafegabilidade das estradas do meio rural, incondizentes com aquilo que é necessário para que o setor possa realizar o escoamento de produção a contento.

Equinos e aves também demonstram importância A equinocultura também tem em Sant’Ana do Livramento criatórios reconhecidos em nível estadual. Dados de 2009 apontam um criatório com machos e fêmeas em número superior a 17 mil animais. A predominância é dos cavalos crioulos. Na avicultura há referenciais de granjas –

com produção de animais para corte em pequena escala, ovos e, ainda, um dos destaques que o município projeta para o Rio Grande do Sul e o Brasil, o criatório de aves ornamentais, mediante o trabalho constante do produtor Carlos Guido Mastela Iglesias, da Granja Almeida.

Azeite de Ouro nas terras do pampa Produção de ovinos no município está consolidada e busca seus novos rumos comercias

Arroz e o aumento de custos No arroz, dados do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), 30º Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural de Sant’Ana do Livramento (Nate), na safra 2015/2016 o município semeou 10.512 hectares, colhendo essa totalidade, com produtividade de 6.292 quilos por hectare, ou 66.142 toneladas. Ainda de acordo com a mesma fonte, houve redução no que se refere à safra anterior, quando o município de Livramento semeou 9.715 hectares, colhendo nessa totalidade, com uma produtividade de 7.696 sacos por hectare, ou seja 74.767 toneladas. Essa redução na lavoura orizícola se dá em função de fenômenos climáticos, assim como, principalmente, conforme a Associação Santanense de Arrozeiros, a elevação significativa dos custos de produção, a desvalorização do produto em âmbito mercadológico, com queda de preços, especialmente no que se refere à remuneração do produtor; bem como o custo mais alto dos recursos de subsídio de plantio, além de questões como dívidas anteriores, securitização, entre outros elementos.

Na safra 2015/16, mais precisamente em levantamento apontando janeiro deste ano realizado pela Seção de Política Setorial - Departamento Comercial e Industrial do IRGA, considerando uma produtividade média, aumentaram os custos variáveis - as despesas de custeio da lavoura, bem como os custos fixos. O que é pago ao orizicultor pelo mercado, conforme a Associação de Arrozeiros é muito aquém do que deveria, já que a produção, na atualidade, vem servindo basicamente para cobrir os custos. Os cultivos de trigo, milho, cevada, entre outros também são registrados no município, embora em menor escala. O desestímulo registrado por alguns produtores em função da relação custo-remuneração fizeram com que as lavouras de trigo praticamente fossem descontinuadas, ao passo que o plantio de milho ainda é realizado. As lavouras de milho, em pequena escala, são realizadas por criadores da agricultura e pecuária familiar, enquanto a cevada registrou maior escala, não havendo hoje informações se ainda existem áreas dignas de menção.

Lavouras mecanizadas da orizicultura registram seguidos aumentos no custo de produção

Uma iniciativa recente é a produção de olivais. A Olivopampa, no Passo da Cruz, a 35 minutos do centro de Sant’Ana do Livramento, propriedade do casal Fernando e Sibele Rotondo. Na mesma data, é inaugurada uma agroindústria familiar que atua na produção de azeite de oliva, sendo a quinta fábrica de azeite no RS. O engenheiro agrônomo peruano, especialista no setor, Fernando Humberto Rotondo e sua esposa Sibele Mantovani Rotondo optaram pelo município de Livramento para implantar seu projeto, iniciado por uma pesquisa em 2008, sobre possíveis terroirs e optando por Sant’Ana pela temperatura, luminosidade, amplitude térmica, entre outras características de clima, solo e recursos hídricos. Naquele ano adquiriram 92 hectares na Tafona - Cerro da Cruz, no ano seguinte prepararam e corrigiram o solo, iniciando o plantio e a produção de mudas em viveiro. Os anos que se seguiram foram de projetos e plantios para terceiros, formatação de parcerias, sendo a primeira com o investidor Konstantinos Galanos,

detentor de 10 hectares. Como incentivador, o falecido José Mantovani, pai de Sibele, que plantou a primeira muda de oliveira no projeto Olivopampa em 2009. Azeites extra virgens de alta qualidade. Primeiro vieram os azeites de Arbosana e Arbequina, variedades de oliveiras que foram os pioneiros do Ouro de Sant’Ana, depois, um blend intenso, um blend suave, ambos premium e, a seguir, o blend suave Novello (primeira colheita). O azeite Mono – varietal Arbosana (rotulo laranja), não foi produzido em 2016. A chuvosa primavera 2015, afetou a florada e pegada desta variedade. A empresa produz e mantém um viveiro com as variedades Arbequina, Arbosana, Koroneiki, Manzanilla, Coratina, Picual, Grappollo, Frantoio, Leccino e Manzanilla. A primeira colheita comercial, de 20 mil quilos ocorreu em março de 2014, tendo iniciado a elaboração do azeite. Em novembro do mesmo ano começaram a engarrafar o Ouro de Sant’Ana, que está disponível no mercado. Também há disponibilidade da azeitona de mesa.

Colheita nos olivais plantados há alguns anos proporciona azeites de alta qualidade


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10 193 anos de Livramento Outros segmentos da fruticultura Pujança na produção de peras, pêssegos, morangos, limões, laranjas, bergamotas, lima e limão siciliano, noz pecã, figos, ameixas, amoras, pitanga, entre outras frutíferas, como o guabiju – em alguns casos confundido com a jabuticaba – que é um dos clássicos locais. Há iniciativas, na agricultura familiar e houve, dos anos 90 em diante, mais investimentos – inclusive com políticas públicas para incremento produtivo de peras e pêssegos. Não existe, entretanto, acen-

A vitivinicultura do Paralelo 31 tuado processo industrial para essas frutas, em que pese se registrar venda in natura, assim como da melancia, melões, entre outros. São, entretanto, potencialidades já consolidadas em iniciativas individuais. Em âmbito regional, após a iniciativa em torno dos pereirais, ocorreram ações de incremento e estímulo em pêssego e melancia, inclusive com festas específicas, em âmbito de município, estimulando tais culturas frutícolas e o consumo.

Produção de pêssegos (brancos) é das culturas tradicionais sazonais no município

Hortas também estão na pauta Na horticultura é sempre lembrada a família Braz, que é uma das investidoras há muito tempo. A olericultura local pauta a produção de folhosas, como alface, repolho, acelga, agrião e couve, bem como raízes, bulbos e tubérculos, em muitas pequenas propriedades. Cebola, alho, cebolinha, pimentão, batata,

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cenoura, salsa, funcho, tomate, abóbora e abóbora para doce, hortelã, ervilha, orégano, manjerona, manjericão, erva-cidreira, alecrim, além de espinafre, brócolis, couve flor, mandioca, rabanete, nabo e rúcula registram alguma produção em âmbito local. Há comercialização direta por parte dos produtores.

A produção de uvas para vinhos finos, bem de Flores da Cunha, em função dos custos de como para suco, especialmente na região de transporte e logística. Palomas, se constituem em referenciais de Santa Colina, também outrora chamada “viníSant’Ana para o Rio Grande do Sul e o Brasil, cola dos japoneses” – pelo fato de os primeiros já que os parreirais continuam produtivos e, proprietários serem de origem asiática – hoje ainda, há implantação de novas áreas conforme está consolidada na rede composta pela Cooas sazonalidades permitem. perativa Serrana. A Santa Colina foi adquirida Plausível mencionar que o município, pelas pela Vinícola Nova Aliança em 2005. características de clima e solo é atualmente A Vinícola Salton também está em Livramento, conhecido em nível mundial como produtor de produzindo uvas Cabernet Franc, Cabernet Sauvinhos finos. Desde 1974, quando a californiana vignon, Chardonnay, Gamay, Marselan, Merlot, Almadén instalou-se no município, a produção Pinot Grigio, Pinot Noir, Sauvignon Blanc, Tannat vitivinícola vem num crescendo e enfatiza uvas e Teroldego. Fez um investimento significativo para vinhos finos, espumantes, vinhos de mesa, em Livramento e constrói sua adega. Detém sucos orgânicos, integrais, adoçados e nectares uma área de 640 hectares, produzindo espude frutas. mantes, frisantes,em linhas como Exclusividade, Em que pese a questão logística que, em 2014 Adega, Desejo, Fantasia, entre outras. fez com que o engarrafamento fosse totalmente A Vitivinícola Cordilheira de Santana, Adega transferido para Bento Gonçalves pela deten- Regional de Vinhos Finos, tem o privilégio de tora da marca (Miolo Wine Group), a produção cultivar seus próprios vinhedos, localizados em continua pujante, conforme refere o engenheiro Sant’Ana do Livramento, região reconhecidaagrônomo Fabrício Domingues, responsável mente apropriada para o desenvolvimento de pelo gerenciamento da unidade santanense castas de uvas nobres. Nas viníferas brancas, Almadén no Miolo Wine Group. Diga-se de a Cordilheira produz Chardonnay, Gewurztraipassagem, a Almadén é a única vinícola brasi- ner e Sauvignon Blanc; nas tintas, Cabernet leira que produz 100% das uvas com produção Sauvignon, Merlot e Tannat. Rosana Wagner é anual superior a cerca de 6 milhões de quilos a enóloga responsável pela tarefa de elaborar excelentes vinhos. de uvas viníferas. Levantamento do Ibravin sobre a área cultivada Há, ainda, além das vinícolas, vários produtores com videiras até 2014 estabelecia Livramento rurais que investiram no plantio de viníferas, como destaque, com 980,80 hectares, tendo, alguns deles, inclusive, além de comercializar a naquele momento, sido registrada redução de produção, separam uma parte para produções área plantada em 2011, porém, recuperação artesanais de vinhos e sucos. e elevado aumento a partir do ano de 2012. A Dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) Almadén mantém uma área plantada superior reportam uma queda significativa na produção 575 hectares de uma área total de 1.200 (dado gaúcha - e em Livramento não foi diferente de 2007) de uvas Chardonnay, Gewurztrami- sendo essa uma excepcionalidade sazonal de ner, Sauvignon Blanc, Riesling Renano e Itálico, 2015 refletida sobre o início de 2016. Chenin Blanc, Saint Emilion, Merlot, Cabernet Sauvignon, Tannat, Gamay Beaujulais e Pinot Noir. Ainda, está presente em Livramento, a Cooperativa Nova Aliança (dona das marcas Santa Colina, Cerro da Cruz, Aliança e Collina Del Sole, entre outras) mantém mais de 1.350 hectares de vinhedos, com produção de 38 mil toneladas ao total. Também transferiu seu engarrafamenFabrício Domingues com uvas de alta qualidade nos parrerais de Santana to em 2014, para o município


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Os números do comércio, serviços e indústria

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ados do Sebrae sobre o perfil das cidades gaúchas (2014) indicam que Sant’Ana do Livramento detém um total de 5.049 microempresas - no levantamento o setor agropecuário está aqui posicionado -, 193 pequenas empresas e 25 médias e grandes empresas. A composição foi resultante de pesquisa por setor e porte na composição de mercado, conforme número de funcionários.

São 255 empresas da indústria de transformação, 4 pequenas e 2 médias - grandes. O segmento da construção civil detém 117 micro e 1 pequena empresa, ao passo que o comércio registra 2.786 micro, 104 pequenas e 11 grandes e, na área de serviços, são 1.342 microempresas, 84 pequenas e 12 grandes. O levantamento também registra 549 pequenas empresas no segmento agropecuária, extração vegetal, caça e pesca.

O mesmo estudo aponta que 164 (3,11%) são restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas; 203 (3,85%) do comércio varejista de materiais de construção; 270 (5,13% do comércio varejista de equipamentos de informática e comunicações; 355 (6,74%) do comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo e 390 (7,40%) do comércio varejista não especializado, 464 (8,81%) de pecuária e 811 (15,40%) do comércio varejista de produtos novos - não especificados anteriormente - e de produtos usados. A participação no número de empresas por setor, conforme os dados, registra, em 2014, 27% para serviços; 5% na indústria de transformação; 2% na construção civil, 55% para o comércio e 10% para agropecuária, etc... Dados de 2013 registram a participação dos setores no valor adicionado, sendo a administração pública, com R$ 292.701,00 (19,3%); R$ 971.741,00 964, 1%) para serviços e comércio; R$ 198.703,00 (13,1%) para agropecuária e R$ 52.557,00 (3,5%) para a indústria. O maior empregador, considerando os vínculos empregatícios de 2014, é o comércio, com 2.065 empregos, seguido do setor de serviços, com 2.010 empregos, considerando, respectivamente, empresas com 0 a 9 funcionários e com 500 ou mais (caso dos serviços). O Produto Interno Bruto (PIB) do município, conforme dados de 2013, atingiu R$

1.312,523,84 - ou seja, 0,40% do Rio Grande do Sul. No mesmo ano, o PIB per capta agintiu R$ 15.681,00. Conforme o Sebrae, conforme dados de 2016, o potencial de consumo urbano da cidade é de R$ 1.323 milhões, ou seja, o 33º no Estado e 390º no Brasil. Considerando a classe de rendimentos, predomina a classe C1 com R$ 274 milhões, seguida da B2 com R$ 245 milhões, B1 com R$ 230 milhões; C2 com R$ 223 milhões, A, com R$ 169 milhões e D/E com R$ 184 milhões. Considerando o tipo de despesa, os santanenses registram potencial, em 2016 de manutenção do lar (26,4%), outras despesas (18,6%) e alimentação no domicílio (12,8%). Chamam atenção, nessa composição os gastos com veículo próprio (5,1%), material de construção (4,7%), alimentação fora do domicílio (4,5%) e medicamentos (3,4%) além de outras despesas com saúde (2,6%). Ainda conforme o estudo, mencionando dados de 2014, as despesas municipais por função registram 50,75% para outros, 20,39% para educação e 17,71% para saúde. Saneamento vem a seguir com 4,04%. Do que o município gasta tem ainda 3,55% para o Legislativo e 2,99% com infraestrutura urbana; 0,36% com transporte e 0,11% com segurança, além de 0,09% com cultura. Habitação, desporto e lazer estão posicionados na faixa zero em termos de despesas do Executivo.

Outras atividades ligadas ao setor primário Comércio é uma das bases, na economia de fronteira, atraindo consumidores dos dois lados da linha divisória

Silvicultura também registra, em Livramento, investimentos em propriedades rurais. Há

extrativismo vegetal de pequena escala para produção de lenha e toras.


12 193 anos de Livramento

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Sírios, libaneses, árabes, palestinos: fronteiriços O comércio santanense registra desenvolvimento a partir dos caixeiros, viajantes que circulavam pelos caminhos e estradas interioranas. Naqueles primórdios, era a forma mais acessível de aquisição, já que ainda não havia um circuito de lojas estabelecidas. Elas começaram a surgir a partir do incremento do povoado, de forma lenta e gradativa. Armazéns, quitandas, bolichos, comércio de secos e molhados, com o decorrer dos anos e ante as necessidades dos habitantes, constituiram o sistema comercial de negócios. Árabes, libaneses começaram a chegar. Várias regiões de fronteira entre Brasil e Uruguai passaram a contar com imigrantes que vieram para constituir suas vidas ou trouxeram suas famílias, escolhendo Livramento e Rivera para trabalhar. Segundo a historiadora Liane Chipollino Aseff, há cogitação de que o primeiro imigrante sírio libanês chegou ao Rio da Prata por volta de 1868, na Argentina, porém, cita, “a Direción General de Imigración recebeu o primeiro registro oficial a partir de 1887”. A historiadora também refere que no Uruguai

- citando o literado e pesquisador Antônio Seloja, a chegada de árabes, teria ocorrido em 1879/1880. Liane Chipollino Aseff refere que era atrativo na região a economia vigorosa dos frigoríficos de Livramento, no período entre 1917 e o apogeu, durante a Segunda Guerra Mundial, “quando a indústria de carnes abastecia as frentes aliadas”. Entre 1890 a 1920, “Os patrícios que já estavam instalados, conforme ela, faziam o acolhimento dos irmãos no país desconhecido, fossem sírios, libaneses - ou naquele momento - os raros palestinos”. Cita Juan Molke, estabelecido em Rivera nos primeiros anos do Século XX, comerciante respeitado e bem sucedido, que recebia muitos casais e jovens solteiros enviados sob sua recomendação pelos pais ou amigos.“Em Sant’Ana do Livramento, a trajetória dos irmãos Chein serve para ilustrar a adaptação e descaracterização dos costumes áres impostos na terra estrangeira. Os irmãos Fouad e Inácio Chein, nascidos e batizados no Líbano, chegaram ao Brasil em 1914, acompanhados de seus

pais Nahim Jorge Chein e Kanra Azario Chein” - escreve Liane Chipollino Aseff. Também, conforme a historiadora, Sant’Ana possuia uma comunidade estratificada, onde os estabelecidmentos comerciais eram fundados na tradição familiar. Pontua que “A maioria das casas era identificada com brasileiros natos, mantendo certa resistência aos comerciantes estrangeiros. Então, muitos imigrantes árabes perceberam que naquela região,a respeitabilidade e a ascensão social estavam intimamente ligadas”. Faz referência a Rage Maluf, que emigrou para São Paulo em 1924 e, no princípio, com praticamente todos seus compatriotas, trabalhava como vendedor ambulante em várias cidades do sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e São Paulo), tendo escolhido Livramento para fixar residência em 1930. “A região havia se estabelecido em reduto da comunidade estrangeira, italiana, espanhola e árabe. Havia um restaurante italiano, uma pensão espanhola e a Pensão da turca Vitória Maluf” - cita Liane Chipollino Aseff. Em relação aos imigrantes palestinos a histo-

riadora refere que em meados dos anos 50 chegaram, em menor número. Cita Ibrahim Hussein e, mais tarde, Hilmi Abdallah. “Varejistas, em sua grande maioria, introduziram novas formas de comercializar e uma multiplicidade de mercadorias, unindo preços populares e diversidade. Geralmente, suas lojas eram batizadas com um símbolo que identificava sua terra, como Casa Natal, Jerusalém, Belém, Palestina, entre outras. “As famílias pioneiras tanto as sírio- libanesas como palestinas inscreveram-se nos anais do crescimento econômico da região, graças a sua força de trabalho, determinação e, finalmente, a consolidação de um crescimento econômico ímpar” - menciona a historiadora. Na atualidade, é pleno o legado comercial e desenvolvimentista que os árabes, tanto muçulmanos quanto cristãos, por sua história e trajetória dedicada imprimiram na vida cotidiana de Sant’Ana e Rivera. Também são registradas presenças de comerciantes de origens italiana, espanhola, portuguesa, húngara, japonesa, coreana, chinesa, africana, russa e entre outras nacionalidades.


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Mel: A primeiro do Rio Grande

Pecuária mantém-se entre os destaques Na pecuária de corte, o fornecimento de genética (touros rústicos, em centrais de inseminação, etc) é destaque, com ênfase nas raças britânicas e suas sintéticas. Hereford (Polled Hereford), Braford, Angus e Brangus. O rebanho bovino ultrapassa as 550 mil cabeças. A oferta de animais rústicos destinados à reprodução com foco direcionado para a produção de carnes gera, a cada temporada, movimento significativo para as cabanhas, o que vem se refletindo, ano a ano, nos remates desenvolvidos no período primaveril, bem como nas vendas realizada nas propriedades. O presidente da Associação e Sindicato Rural de Livramento, Luiz Cláudio Andrade, atesta que se trata de um mercado que está consolidado no que se refere ao fornecimento de qualidade genética, que sai dos campos

de Livramento para todo o Brasil, graças ao trabalho diferenciado das cabanhas, às taças britânicas trabalhadas, bem como as variáveis de campo, manejo e, claro pesando também a tradição centenária da pecuária local, constituindo em reserva genética em âmbito estadual e fornecendo esta para o Brasil inteiro. Na pecuária leiteira, em que pese algumas deficiências de logística e questões estruturais da municipalidade, há esteio. As produções, com o trabalho, entre outras, da Cooperforte e da Cosulati, mantém pujante a atividade, com oscilações e, ainda, a questão da precificação tida como insuficiente dado o crescimento contínuo dos custos fixos e variáveis. Se em 2007 a falta de pastos, queimadas pelas geadas contínuas gerou redução de cerca de 800 mil litros de leite, houve recuperação de lá para cá. O APL - Arranjo Produtivo do Leite, estabelecido em Livramento, em parceria com outros elementos da cadeia – como a Associação de Criadores de Gado Leiteiro - gerou um incremento, entre 2005 e 2011 de 5 milhões para 20 milhões de litros. Predominam as raças Holandesa e Jersey. Genética de refêrencia dos animais de corte, e também de leite, marcam os tradicionais remates da fronteira

A apicultura é outra das atividades que está evidenciada em Livramento. A Associação Santanense de Apicultores (ASA) está trabalhando – mesmo que os últimos dois anos tenham sido cruéis para o segmento, pelos problemas de floradas. Sipriano Silva Pires, da ASA, revela que mesmo apesar de uma série de dificuldades produtivas, o mel produzido em Livramento ainda é bem valorizado. Sant’Ana do Livramento sempre se caracterizou como a primeira cidade em produção de mel no Rio Grande do Sul. A atipicidade do tempo no ano de 2015, entretanto e continuidade das alterações no verão de 2016 - com muita chuva, vento e umidade - geraram mortandade nas colmeias. Assim como Livramento é a primeira produtora estadual, o Estado Rio Grande do Sul é o maior produtor do Brasil. Dados científicos apontam que em anos considerados normais a mortalidade das colônias, em taxa aceitável, abrange 15%, porém, ano passado, houve números superiores a 50%.A falta de alimento natural para as abelhas fez com que os criadores tivessem que, aumentando seus custos de produção, proporcionar esse Apicultura na fronteira é uma atividade que permite a produção de mel, entre outros derivados de altíssima qualidade

alimento, como medida para tentar reduzir a mortalidade. A floração, prejudicada pela umidade, fez com que o rendimento de mel por colmeia, em alguns casos, fosse inferior a 5 quilos, ao passo que a média gaúcha anual é de 20 quilos por colmeia. Na prática, os apicultores colheram de 10 a 15% apenas do volume esperado. Na venda direta ao consumidor, o quilo de mel, segundo margem estadual, oscila a partir de R$ 8,00 a R$ 16,00. Livramento é destaque pela qualidade, sobretudo pelos bosques de eucalipto existentes. Registrável, ainda, que Livramento é o terceiro município do Brasil (dados de 2013) em produção de mel, ao passo que Rivera é a principal cidade produtora do Uruguai.


14 193 anos de Livramento Iniciativas e eventos Há uma infinidade de ações realizadas durante os 365 dias do ano, que vão desde passeios de bicicleta até cavalgadas. Além das iniciativas do setor privado, há promoções da área pública e em parceria entre ambos os segmentos. Entre os vários eventos realizados em Livramento e na Fronteira, há o Festival de Gastronomia e Produtos do Pampa, cuja terceira edição com foco em um dos sabores locais - o choripan - está sendo desenvolvido neste aniversário de 193 anos. Ainda: temporada de veraneio no Lago do Batuva, eventos de motociclistas, apreciadores de som automotivo, tuning, rebaixados e carros antigos; Campereada Internacional, rodeios das entidades tradicionalistas e particulares, Semana Farroupilha e desfile de 20 de Setembro, Expofeira de Ovinos de Verão, Expofeira de Primavera, shows de bandas e

intérpretes famosos da música, Réveillon, torneios de tênis e golfe, padel e carnaval de clubes e de rua, Festival Internacional de Pandorgas e Semana Santa; Estação Cultura, Ovinoart, Festa das Nações, Feira de Livros, concursos tradicionalistas, entre outros.

Semana Farroupilha em Livramento: Tradicional e pautada pela participação expressiva da população

Projetos e perspectivas Para a última Copa do Mundo, a fim de recepcionar os estrangeiros, Livramento ganhou um CAT – Centro de Atenção ao Turista que está em fase de retomada. De outra parte, está em construção, por iniciativa uruguaia, um Centro de Recepção ao Turista no Parque Internacional. Há vários anos, em termos de projeto sugerido à Fronteira, há o Projeto Turístico Prioritário e Emergente, do servidor público aposentado Bernabé

Ramos Basaldúa, visando unificar os esforços no sentido de fazer com que os turistas conheçam os pontos atrativos de Livramento e Rivera, a partir de uma central binacional que organize agendas e direcione as iniciativas. Há perspectivas extremamente positivas, graças ao investimento nas águas termais, associadas a comércio e serviços, no complexo que o empresário João Gabriel Hillal idealizou e está em fase de implementação.

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Pontos turísticos Existe muita diversidade de opiniões a res- Cerro de Palomas, o Porto Seco, as casas peito do ponto referencial em termos de de Nelson Gonçalves, do General Flores da turismo em Livramento. Os defensores do Cunha, entre vários outros locais, como as Cerro de Palomas – uma das imagens refe- entidades tradicionalistas espalhadas pelo renciais do município – o qualificam como o perímetro urbano, com calendários próprios principal, entretanto, são contra-argumenta- de eventos. dos por quem defende outros pontos, como Dependendo da preferência, há muito em o Parque Internacional. Em termos de pontos termos de história, cultura e eventos a ser de visitação, há os museus David Canabarro, vistos em Livramento e Rivera. da Folha Popular, a Casa de David Canabarro, o próprio Parque e a Praça Flores da Cunha, a usina eólica do complexo Cerro Chato e seus aerogeradores, a Santinha do Planalto, as estradas da divisa em que são visíveis os marcos que estabelecem a identidade geográfica do Brasil e Uruguai, Clube Campestre e sua arquitetônica norte-americana/britânica, Pecuária convive harmoniosamente com os aerogeradores da usina eólica

Turismo como foco de desenvolvimento O turismo, no município de Sant’Ana do Livramento, acaba sendo um derivativo do volume de pessoas que, em conformidade com as oscilações do dólar norte-americano, se dirigem à Rivera para as compras. Iniciativas individuais, entretanto, focadas em eventos e roteiros são as principais formas de concretização de atrativos. O segmento obedece às sazonalidades, pois o município há muito é considerado uma rota de passagem, a entrada dos argentinos e uruguaios rumo às praias gaúchas e catarinenses no período de veraneio – entre outubro e março – e, em períodos determinados (quando da baixa do câmbio, favorecendo a compra de produtos e mercadorias nos Free shops). Entretanto, há uma infinidade de possibilidades e perspectivas que requerem mais estímulo, informação propagada, divulgação e, segundo alguns entendimentos, projetos específicos. Áreas como o tradicionalismo e a gastronomia já registram movimentação significativa em eventos. Nos anais do VII Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul, desenvolvido em 2012 por acadêmicos do Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul, um artigo de Wesley Monteiro Ribeiro, com a co-autoria de Jeffersom M. Rocha, da Unipampa, enfatiza Livramento como uma cidade com turismo sem turistas. A constatação dos dois articulistas é que exceto pela rede hoteleira e gastronomia, o desenvolvimento da atividade turística no município não é proporcionado, em que pese as características da convivência profícua, do grande número de turistas

verificados nos fins de semana, feriados e períodos de datas comemorativas. Batalhas como a do Carumbé, de Catalan, de Taquarembó, a famosa batalha do Sarandi marcam a riqueza histórica do município. “Um marco nas batalhas ocorreu em 1843 a 1844, onde, na Revolução Farroupilha, sucederam desentendimentos entre os farrapos, resultando na batalha entre Bento Gonçalves e Onofre Pires, que, ferido, em 27 de fevereiro de 1844 nas margens do rio Sarandi, no Topador (Sant’Ana do Livramento) veio a falecer um ano antes do término da Revolução”. Citam os feitos históricos de Livramento, ou que tem relação - como a rica descrição do Gaúcho, pelo naturalista britânico Charles Darwin - que permaneceu longo tempo em Maldonado, Uruguai, em 26 de julho de 1832. Ainda, a instituição do primeiro frigorífico do Brasil, do primeiro clube de golfe do País e as cercas de pedras (e mangueiras de pedras) feitas por escravos, apontando como “poucas exploradas historicamente”. Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, Complexo Eólico Cerro Chato, Roteiro Martin Fierro e vários hotéis e pousadas rurais. Registros de janeiro deste ano constatou que cerca de 40 mil argentinos passaram pela Fronteira da Paz, exigindo que a iniciativa privada (Associação Comercial e Industrial, empresas de prestação de serviços em combustíveis, hotelaria, gastronomia e outros parceiros) constituísse próximo à Delegacia de Polícia Federal um Centro de Recepção temporária. A Feisul foi retomada, organizada pela Acil, sendo desenvolvida no fim de semana que marca do aniversário de 193 anos.


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Roteiros Sant ’Ana do Livramento registra pelo menos dois roteiros turísticos instituídos. O primeiro e mais antigo é o Roteiro Martin Fierro, iniciativa de 2009/2010 do Projeto de Desenvolvimento do Pampa Gaúcho do Sebrae/RS, enfatizando o nome do Gaucho Martin Fierro (e, inclusive, denominação de um festival estadual de música que durante mais de 10 anos, com incentivo do Ministério da Cultura do Brasil, foi realizado em Livramento), com fulcro em uma rota que passa por empreendimentos rurais: Estância da Glória Turismo Rural, Estância Cerros Verdes, Pousada Vento Aragano, Fazenda Palomas Turismo rural, vinhedos Almadén e Vitivinícola Cordilheira de Sant’Ana. A idéia central era resgatar o turismo na região do pampa gaúcho. O segundo e mais recente roteiro é a Ferradura dos Vinhedos, iniciativa pensada pelo professor doutor Avelar Fortunato, da Unipampa. De 2013 em diante o projeto se estabeleceu, sendo executado pelo CTG Presilha do Pago, constando de um trajeto iniciado pelo Horto Vitivinícola da Vigia, passando pela Vinícola Salton, seguindo para a Vinícola Nova Aliança, continuando pelo Cerro da Cruz, Cemitério da Cruz, Passo da Cruz, Novos Vinhedos, indo até a Vinícola Almadén, à Vitivinícola Cordilheira de Sant’Ana e encerrando no Cerro de Palomas. Há também iniciativas individuais de empreendedores da Fronteira da Paz, dentro da ideia de não dissociar Livramento e Rivera. Em 2015, o Passeio ao Armour, iniciativa de Marcelo Costa reconstituiu os passos de Dom Pedro Irigoyen, fundador da primeira charqueada, pela linha imaginária de divisa e do antigo caminho do contrabando. A partida é do Parque Internacional depois de rápida passagem pela Praça General José Antônio Flores da Cunha e a culminância no Solar Dom Pedro e região do antigo Frigorífico da Swift Armour. As vinícolas de Livramento também realizam visitas previamente agendadas, da mesma forma que a Estação Ferroviária sedia, entre outros eventos, de forma sazonal, várias atividades atrativas.

Santanenses que a memória registra O município de Sant’Ana do Livramento é prodígio na “produção” de exponenciais nas mais diversas áreas de atuações sociais. É tido como um legítimo berço de políticos, jornalistas, atores/atrizes, bem como toda uma gama de profissionais das mais diversas funções na sociedade brasileira. Há, claro, aqueles que já partiram, tendo escrito seus nomes na história nas suas respectivas atividades; outros continuam suas jornadas, mesmo que distantes da terra fronteiriça. Os mais famosos, é sabido, são conhecidos e reconhecidos, como Nelson Gonçalves, o boêmio, Honório Lemes, entre outros, além daqueles santanenses que estão em atuação em suas funções profissionais, como o jornalista Roberto Kovalick, etc... Sant’Ana registra, pelo menos, dois governadores na história do Rio Grande: José Antônio Flores da Cunha e Antônio Britto Filho. Outro ator global santanense, Hélio Ary Silveira, falecido em 2011, nasceu em Livramento em 1930. Atuou ao lado de Bibi Ferreira, Jô Soares, entre diversas outras atrações da TV Globo. Fez novelas como O Casarão, Duas Vidas, O Astro, Pai Herói, as minisséries Desejo e Os Maias, filmes como As Duas Faces da Moeda, Dona Flor e seus Dois Maridos, Carlota Koaquina. Helio Ary em O Astro Ainda nessa área, Carmen Violeta, nascida em Livramento em 1908, como Germana Barbosa e falecida no Rio de Janeiro em junho de 2005 participou de vários filmes, como Brasa Dormida (1928), Mulher (1932) entre outros filmes. Foi um dos referenciais femininos ainda na época do cinema mudo, quando iniciou. Nelson de Mello, nascido em Livramento em 1899 e falecido no Rio de Janeiro em 1989, militar, foi interventor federal no Amazonas em 1933-35. Integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, comandando o 6º Regimento de Infantaria, unidade de destacado papel na Batalha de Fornovo di Taro. Chefiou o gabinete militar de Juscelino Kubitschek de 1956 a 1961. Foi ministro da Guerra no governo João Goulart em 1962. Castelhano, aliás, Cipriano Nunes da Silveira, nasceu em 1892 e faleceu em 1980 foi atacante que atuou no 14 de Julho e no Santos. Foi o primeiro gaúcho que atuava em clube no Rio Grande do Sul, a ser convocado para atuar na Seleção Brasileira de Futebol, para disputar o Sul-Americano - antigo nome da Copa América.

Um dos trechos do roteiro de visitação da Ferradura dos Vinhedos

Wenceslau Malta, santanense nascido em 1931 e falecido em 2011, era pentatleta olímpico e coronel. Representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1956 e 1960. Ganhou medalha de ouro no Pan de 1959 no individual, em Chicago. Será homenageado com seu nome no ginásio do Complexo Olímpico de Deodoro, na Vila Militar, para os jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016.

Antônio Britto Filho ex-governador

Flores da Cunha ex-governador

O ator Angelito Mello, por exemplo, nascido em 1914 em Livramento e falecido em 1989 no Rio de Janeiro, participou, nos anos 70 de sucessos televisivos, em novelas famosas, como Bandeira 2, O Bem Amado, O Astro, Marron Glacê e Dona Beija, entre outras. Ibáñez Filho, nascido em 1926 e falecido em 2006, no Rio, foi ator, produtor e diretor de TV e cinema. Fez filmes nacionais como A Viúva Virgem (1974), Solidão, uma Linda História de Amor (1989) e, na TV, Tocaia Grande (1995), O Primo Basílio (1988), Bambolê (1987) e o Tempo e o Vento (1985), em que interpretou Chico Pinto. Lineu Moreira Dias, nascido em Livramento em 1928 e falecido no Rio, em 2002, foi ator, poeta, contista, dramaturgo e tradutor. Foi casado com a atriz Lilian Lemmertz e é pai da atriz Júlia Lemmertz. Seus últimos trabalhos, em 2001, foram Presença de Anita na TV e Bicho de Sete Cabeças no cinema. Ilustrador e quadrinista, o santanense João Batista Mottini, nasceu em 1923 e faleceu em 1990. Trabalhou na Editora Globo. Ilustrou as histórias baseadas no faroeste como Buck Jones. Fátima Noya, dubladora e atriz de teatro, nascida em Livramento, em 10 de abril de 1960, mora em São Paulo e é responsável pela voz do Zé Gotinha, bem como de Gohan e Goten, de Dragon Ball Z; entre uma série de outros animes. Dubla também filmes. Foi a voz de Betty em Betty, a Feia, entre vários outros. No futebol, o nome de Bendionda está entre os primeiros artilheiros da história do Sport Club Internacional. Belarmino Carlos Leal D’Ávila, nascido em 24 de novembro de 1896 na cidade, foi um centroavante afamado. Foi para a capital em 1911 e jogou na equipe de 1913 a 1917. Fez dois gols em 31 de outubro de 1915, quando o Inter teve sua primeira vitória sobre o Grêmio, por 4 a 1. Em 1917 Bendionda voltou a Livramento para atuar no 14 de Julho. Fez outro Grenal, pelos colorados em 1919. Bendionda, irmão do goleiro Thomás D’Ávila e do zagueiro Felizardo D’Ávila, era tio do folclorista santanense João Carlos D’Ávila Paixão Cortes. Dirceu Araújo Nogueira, nascido em 1912 e falecido em 2002, militar e político, foi General de Exército e Ministro dos Transportes do governo de Ernesto Geisel (1974 a 1979).


16 193 anos de Livramento

Uma senhora de 193 anos Em 30 de Julho de 1823 Sant’Ana do Livramento, hoje Município Símbolo da Integração do Mercosul - conforme legislação específica federal - era estabelecido no território outrora ocupado por índios charruas e minuanos do pampa. Entre as peculiaridades setoriais, a economia de fronteira pela sua atipicidade e sazonalidade desperta curiosidade. A história registra várias passagens fáticas e, mesmo com algumas imprecisões atribuíveis ao decorrer das eras, em 2016 estão sendo celebrados os 193 anos. O primeiro elemento a considerar é a total impossibilidade de dissociar Livramento de sua gêmea uruguaia, Rivera, embora os perfis de ambas sejam bem diferenciados. As linhas geográficas de nacionalidade fazem a divisão, mas em se tratando de uma fronteira seca, o cruzar de pessoas

para um e outro lado, os elos de ligação social, de negócios, econômicos e sócio-familiares são latentes, duradouros e, principalmente, históricos. A professora Vera do Prado Lima Albornoz, no Caderno de História Fronteira Gaúcha: Sant’Ana do Livramento, de 2008, da Secretaria de Estado da Cultura, disponível no Memorial do Rio Grande do Sul, refere um aspecto tão peculiar que até pode gerar surpresa para os não fronteiriços, porém, é usual aos nativos: há ciclos na economia que apontam para uma assertiva: “quando o Brasil vai mal, a fronteira vai bem”, dada a presença de clientes uruguaios fazendo suas aquisições no comércio santanense. Há épocas em que essa convenção se inverte. É o que, entre os locais, convencionou-se chamar “gangorra da economia”. O administrador e contabilista Vinícius Righi, especialista em Desenvolvimento Regional,

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abordando, entre outros elementos, a questão logística, chama atenção, em seu blog no endereço http://vrighi.blogspot.com.br para o que muitos historiadores e autores analisaram e - ainda hoje - avaliam, pesquisam, perscrutam: a fronteira é marcada por ciclos. “A fronteira foi marcada pelo ciclo do frigorífico, passando depois pelo ciclo da

lã e uma série de outros ciclos...” Recorda que em determinados momentos da história era mais rápido obter mercadorias através do Uruguai do que do Brasil, já que “Livramento estava isolada, pois possuía estradas precárias e não tinha ferrovias, ao contrário de Rivera, que era ligada a Montevidéu pela viação férrea”.

Os esteios A economia de Sant’Ana do Livramento tem suas bases no agronegócio, especialmente na pecuária e agrícola, também com contribuição significativa do comércio e serviços. No passado, o município foi esteio para grandes indústrias e agroindústrias, como a Swift Armour e o Frigorífico do São Paulo, o Lanifício Albornoz, a Cervejaria Gazapina, apenas para citar algumas das várias potências que a história santanense constituiu. A criação de gado os campos propiciou os primórdios do que pode ser considerado o primeiro empreendimento industrial de vulto com fulcro na pecuária: a Charqueada.

Resgatando a história do próprio avô, Pedro Ibargoyen, relata na obra O Último Saladeiro, em vasta pesquisa, a fundação da Charqueada Sant’Ana do Livramento, em 1904, precursora da instalação do Frigorífico Armour, que ocorreu em 1917. Pedro Irigoyen - nascido em Montevidéu - filho de imigrante basco, chegado ao Prata em 1853 veio para a fronteira em 1903, tendo se tornado um dos maiores charqueadores do Rio Grande do Sul. Apelidado o “Rei do Charque”, Irigoyen, desde adolescente, convivia com a pecuária e os saladeristas na capital uruguaia, bairro El Cerro.

O comércio Corriam os anos da convergência de pessoas ao município oficialmente formatado em 1823, acrescendo à povoação novos usos, costumes, e negócios. Elas tinham necessidades e as distâncias se registravam significativas, especialmente pelos rudimentares meios de transporte disponíveis. Surgem os viajantes, que adquiriam produtos e mercadorias - desde tecidos, passando por jóias a perfumes - para revender, já que a única forma

de transportar era nos carroções ou no lombo (de cavalos ou mulas). Eram os caixeiros viajantes, ou seja, vendedores que comercializavam produtos fora de onde eles eram produzidos. Com a presença árabe se consolidando, também foram denominados, mediante herança portuguesa, de mascates. Um referencial da presença dos caixeiros viajantes em Livramento é o Clube Caixeiral, fundado em 8 de julho de 1883. Sant’Ana do Livramento, na linha de divisa, é a guardiã da soberania brasileira


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