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Oferecendo a outra face

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A bondade de Deus

A bondade de Deus

gunta: o que entenderam os primeiros leitores diante destas palavras?

Ao realizarmos este exercício, vemos que o primeiro público que recebeu o Sermão do Monte era formado por judeus. Dessarte, perante tal mensagem do Salvador, certamente a plateia fez uma associação direta à chamada ‘lei da retaliação’, registrada em Êxodo 21.24, Levítico 24.20 e Deuteronômio 19.21. Ora, essa norma não tinha a premissa de estimular a vingança, mas objetivava proteger o infrator de uma penalidade mais severa do que a demandada pela transgressão cometida.

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De certa forma, vemos que Cristo, no Sermão do Monte, amplia os significados da Lei, expressando o caráter do Reino de Deus. Do cume do Monte, o Senhor proclama a essência e a majestade de Seu discurso. A expressão “abriu a boca” conota a solenidade de Sua mensagem.

2. Qual é a outra face?

São Jerônimo, presbítero que viveu no quarto século, cita que intérpretes místicos comentavam o seguinte: “uma vez ferida nossa face direita, não se nos manda apresentar a esquerda, porém a outra; isto é, a outra direita, o justo não tem face esquerda. Se um herege nos fere em alguma disputa, e quiser ferir nossa fé, que representa a direita, ofereça-lhe outro testemunho das Sagradas Escrituras”.

Lembremo-nos que, em muitas passagens bíblicas, a ‘face direita’ tem de ver com as questões eternas, espirituais, enquanto a ‘face esquerda’ refere-se às questões temporais, terrenas.

Contudo, não se pode pensar que esse versículo seja uma ‘carta branca’ para o quietismo e para permitir que pratiquem todo tipo de injúria ou ladroice contra os servos do Senhor. Esse alerta nos chega de homens como São Gregório Magno, que viveu entre os séculos V e VI. “Sem embargo, enquanto em alguns casos devemos tolerar que nos roubem as coisas temporais, em outros, guardando a caridade, devemos impedi-lo, não só por nosso interesse, senão também para evitar que os ladrões se percam. Mais devemos temer pelos ladrões, que sentir a perda das coisas terrenas. Quando se perde a paz do coração a respeito do próximo por uma coisa terrena, evidencia-se que amamos ao próximo menos que às coisas”.

3. Só os renascidos podem dar a outra face

Ao apontar para tão elevada posição, o Senhor nos encaminha rumo à perfeição. Pela numerologia bíblica, o número 3 indica o que é perfeito. No contexto referido, o Pregador enumera três exemplos: bater na face; tirar a capa e obrigar a caminhar uma milha. Perceba que, no último exemplo, forma-se o número três (ao ser obrigado a trilhar uma milha, que caminhemos mais duas, ou seja, três). Esses detalhes corroboram com o imperativo “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48). Essa perfeição não advém da natureza humana, mas é resultado da graça de Deus.

Vemos essa graça em milhões de testemunhos de homens e mulheres santos, registrados nas Escrituras ou mesmo na história da Igreja. Pode- mos citar o exemplo do pastor Batista Charles Spurgeon, o qual era amigo de outro pregador, Newman Hall - este, escrevera um livro intitulado ‘ Come to Jesus’ (Venha a Jesus). Entretanto, outro pregador da época publicou um artigo ridicularizando Hall. Em um primeiro momento, o escritor tolerou as críticas, mas dado momento resolveu rebatê-las. Ele escreveu uma carta irônica, repleta de sarcasmos e revanchismo. Todavia, antes de enviar o documento, o dr. Hall decidiu mostrá-lo a Spurgeon, para que este opinasse sobre o assunto. Após ler as páginas, o Batista opinou que o texto fora muito bem escrito e que as críticas mereciam ser contrapostas. “Mas”, continuou Spurgeon, “falta-lhe uma coisa: sob seu nome, você deve escrever as palavras ‘autor de Venha a Jesus’”, declarou. Hall fitou Spurgeon por algum tempo e, prontamente, rasgou a carta. Aquele conteúdo poderia ser corriqueiro para qualquer pessoa, não para um filho de Deus.

Como servos do Senhor, somos nascidos de novo. No Evangelho de João, o Senhor Jesus emprega a expressão “nascidos da água e do espírito”. Essa expressão significa que o renascimento em Deus gera purificação. O renascido consiste na Igreja do Senhor, para a qual Cristo se entregou “purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (Ef. 5.26).

Essa purificação nos coloca em uma posição vertical. Diferentemente do ‘velho homem’, o renascido não se molesta com nada, quer sejam bofetadas, roubos, perdas. Ele está livre em Cristo.

Oremos e vivamos tal realidade! n

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