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Retomada econômica: onde, cara pálida?

Júlio Miragaya (*)

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AGÊNCIA BRASIL

Nas últimas semanas, o desgoverno Bolsonaro tem alardeado que a economia voltou ao normal, que o desemprego e o preço da gasolina diminuíram, que a inflação foi estancada e que o auxílio Brasil vai fazer a economia bombar neste segundo semestre, tentando convencer o povo de que vale a pena reelegê-lo. Há alguma verdade neste discurso? Vejamos.

Comecemos pelo PIB. Se a economia, segundo o IPEA, crescer 1,8% este ano, terá crescido 3,34% no período 2019/22, ou 0,82% na média anual. Ou seja, o PIB per capita registrará queda nesses 4 anos. Se medido em dólares, a queda será ainda maior. O PIB de US$ 1,449 trilhão em 2021 foi 44,6% menor que o PIB de US$ 2,614 trilhões em 2014, quando a economia do Brasil era a 6ª maior do planeta.

Em relação ao mercado de trabalho, Bolsonaro celebra que o desemprego caiu para 9,3% em junho. Mas não há o que comemorar, pois o contingente desempregado, incluindo os desalentados, chega a 14,4 milhões. O que ele não diz é que no Brasil, após a Reforma Trabalhista, os empregos que têm sido gerados são informais e precários. Os empregos com carteira assinada, muitos temporários ou com jornada intermitente, fecharam junho em 35,8 milhões, ou 5,6 milhões a menos que em dezembro de 2014, no governo Dilma (41,2 milhões).

Já os assalariados sem carteira assinada atingiram o número recorde de 13 milhões. Somados aos que trabalham por conta própria (25,7 milhões), empregos domésticos (5,9 milhões) e auxiliares familiares não remunerados (1,8 milhão), o total na informalidade chega a 46,4 milhões, ou 47,2% do total ocupado, que inclui ainda 11,9 milhões de assalariados do setor público e 4,2 milhões de empregadores. O rendimento médio caiu 5,9% em um ano, de R$ 2.794 para R$ 2.652.

Bolsonaro se vangloria de ter reduzido o preço da gasolina ao consumidor. Mas isto se deu às custas das receitas dos estados (redução do ICMS), preservando a “pornográfica” distribuição de US$ 27,2 bilhões de dividendos no 1º semestre/22 aos seus acionistas (63% investidores privados), superior aos 23 bilhões distribuídos pelas 5 gigantes privadas do setor somadas (Exxon, Shell, Chevron, BP e Total). E embora o preço na bomba em julho (média de R$ 5,50) seja 25,6% inferior ao preço médio de maio, ainda é 26,7% superior ao preço médio de janeiro de 2019, quando assumiu o governo (R$ 4,34).

Bolsonaro diz que estancou a disparada da inflação. Porém, basta ir ao supermercado para perceber que não passa de deslavada mentira. Se a inflação oficial em 12 meses está em 11,9%, a inflação para os que ganham até 3 salários-mínimos gira em torno de 18%.

O resultado é que, segundo a CONAB, o consumo médio de carne bovina no Brasil será de 24,8 quilos por habitante em 2022, sendo que em 2006 (governo Lula), foi 73% maior (42,8 Kg/hab). A disparada dos preços associada à queda da renda do trabalho resultou em aumento da miséria (33 milhões de pessoas passando fome) e do endividamento das famílias: 77% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo 30% inadimplentes.

As políticas do governo propiciam lucros extraordinários para banqueiros, grandes empresários, empresas de petróleo, de energia elétrica e a turma do agronegócio. Tais políticas, além de concentrarem ainda mais a renda e a riqueza, favorecem a escalada inflacionária, que o governo tenta conter aumentando a taxa básica de juros, já em 13,75%.

A consequência é o aumento extraordinário dos gastos com juros da dívida pública, que saltarão para R$ 700 bilhões este ano, e da dívida pública bruta, no patamar recorde de R$ 7,3 trilhões. Bolsonaro não vai quebrar. Ele já quebrou o Brasil e o povo brasileiro. Falta a grande mídia divulgar a notícia.

(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia

A verdadeira face do atual desgoverno

J. B. Pontes (*)

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Para permanecer no poder, Bolsonaro teve que ceder o controle do seu desgoverno ao Centrão e à elite econômica, representada por Paulo Guedes. Bolsonaro sempre pertenceu ao Centrão, um agrupamento informal de partidos políticos cujo objetivo principal é “levar vantagem em tudo”.

Os parlamentares que o integram são hábeis na prática do toma-lá-dá-cá no jogo sujo da política. E Bolsonaro entregou a eles o controle da parte mais importante do governo, o orçamento público, em troca do apoio político e, principalmente, para evitar a abertura do processo de impeachment, objeto de mais de 140 requerimentos.

E os integrantes do Centrão fizeram e fazem a festa com o dinheiro público, por meio do orçamento secreto - cuja dotação neste exercício alcançou R$ 16,2 bilhões -; das emendas individuais e de bancadas infladas (R$ 16,8 bilhões); e da investida sobre os orçamentos de órgãos do Poder Executivo ou a ele vinculados. Alguns exemplos são o Ministério do Desenvolvimento Regional, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales o São Francisco e do Parnaíba. Para agradar e alcançar o apoio da elite econômica entregou a gestão da economia a Paulo Guedes, o ”posto Ipiranga”, que supostamente teria solução para tudo nessa área. Guedes teve, assim, a possibilidade de, com toda liberdade, executar as medidas econômicas e sociais defendidas pelo Instituto Millenium - IMIL, do qual foi ele um dos fundadores, retomando a agenda neoliberal do governo Fernando Henrique Cardoso.

O Instituto Millenium é uma instituição formada por um conglomerado de intelectuais ideológicos de direita, favoráveis à proposta neoliberal, cujos mantenedores, parceiros e patrocinadores são, entre outros, a Editora Abril, O Estado de S. Paulo, o Grupo RBS, a Abert, a Universidade Estácio de Sá, Gerdau e Suzano, Porto Seguro Seguros, Bank of America Merrill Lynch e Rede Globo.

O IMIL é voltado essencialmente à defesa do direito de propriedade e da livre iniciativa. Defendem privatizações, o sistema financeiro, a redução dos direitos sociais, combate qualquer política afirmativa por parte do Estado e faz campanha contra a regulamentação das comunicações. Atua como um verdadeiro partido político de ideologia direitista.

Fica fácil, portanto, entender a agenda econômica e social adotada pelo desgoverno Bolsonaro: sucateamento do Estado; desvalorização dos servidores públicos; entrega do patrimônio público (privatizações); ampla liberdade para o empresariado; e retirada dos direitos dos trabalhadores.

Os resultados dessa política estão agora explícitos: os banqueiros, os grandes empresários, o agronegócio, dentre outros, lucrando como nunca e o Estado cada vez mais fraco e sucateado. Em contrpartida, os trabalhadores e o povo em geral estão mais pobres e famintos.

É esse o governo que agora, no desespero pela possibilidade concreta de não ser reeleito, diante da enorme desaprovação e rejeição popular, quer o voto dos pobres. Lança irresponsavelmente, a menos de três meses das eleições, um pacote de bondades, válido somente até o próximo dezembro, para tentar enganar o povo.

Tenho certeza de que a sabedoria popular saberá enxergar o objetivo eleitoreiro dessas bondades anunciadas de última hora, cujo objetivo é comprar o voto popular com recursos do Tesouro, ou seja, de todos nós. Vamos desmascarar esse imbróglio em outubro, nas urnas eletrônicas.

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