JORNAL DE
ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatura
Porto Alegre | Dezembro | 2012 | R$ 2,00 | www.facebook.com/jornaldeartes www.twitter.com/jornaldeartes
Wes Anderson e Seu Reino da Lua Nascente Por Dario P. Regis *
Teatro Sul Fúrico Os Plagiários - Uma adulteração Por
Walnei Costa *
PercPOA 2012 Por Luiz Jakka
A Casa da Fonte de
Anna Akhmátova Por | Berenice Sica Lamas *
Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 2 Espaço Nomeando
CARTUM
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NOMEANDO é um conjunto de iniciativas abertas a propostas que promovam a Cultura, a Educação e o Desenvolvimento social. Confiram as atividades oferecidas no período de férias.
Cursos e atividades de férias:
Inglês Espanhol Percussão Dança Africana Capoeira Angola (também para crianças) Lazer e Cultura para a terceira idade Musicalização para crianças Multimídia com crianças
Nós da Poesia - Volume 2 é mais um resultado da atuação coletiva oriunda do Instituto Imersão Latina - IMEL que completou 7 anos em outubro de 2012.O livro é a soma de esforços da rede de escritores, jornalistas, produtores culturais, pesquisadores, artistas independentes e ativistas preocupados em defender e mostrar toda a diversidade cultural, ambiental e de idéias da América Latina. Neste segundo volume essa soma de esforços reuniu poetas e escritores de todo Brasil que lançam sua voz para mostrar seus olhares sobre os aspectos da vida e realidade que compõe suas histórias, experiências no nosso país e mundo.
FOTOGRAFIA
A Linguagem da Fotografia Por | Clovis Loureiro * A linguagem da fotografia é a linguagem do ver. Do visto. O que, afinal, um fotógrafo expressa é o seu modo de ver o mundo. E podemos ver com mais ou menos inteligência, com mais ou menos sensibilidade, com mais ou menos originalidade, mais ou menos espontaneidade.
Ver é um ato intencional e criativo, exige vontade e motivação interior. Geralmente os fotógrafos são pessoas que se deleitam com o ver. Ver com profundidade significa compreender. Alguém caminha por uma ampla calçada a beira mar, numa tarde serena. De repente, vê à sua frente um banco vazio, umas pedras emergindo da água e uma pequena árvore seca que, desde o ponto de vista em que se encontra, estão harmoniosamente dispostas no espaço. Ele compreende que aquela imagem é ele mesmo naquele momento, é aquela tarde, é aquela experiência. Isto é a fotografia. A experiência pode adquirir graus cada vez maiores de complexidade, ou pode ser simples como um sorriso. E desta maneira variam as fotografias. Então tudo o que temos a fazer é, basicamente, desenvolver a nossa observação, afirmar a nossa atenção. É graças a curiosidade, à observação minuciosa e uma certa engenhosidade no olhar que se chega à percepção de imagens significativas. Estar alerta é importante. Estar presente. Se estamos perdidos em pensamentos, a realidade (pelo menos a visível) se nos escapa dos olhos. E da câmera. A fotografia é enfim a testemunha da qualidade do nosso ver. Não vemos, porém, apenas com os nossos olhos. Podemos fazê-lo com a totalidade do nosso ser. Ver é sempre dinâmico. Reconhece e descobre objetos. Cria relações e atribui significados. Projeta nossas fantasias, evoca nossos sentimentos e provoca reações. Reagimos: fotografamos. A cada maneira de ver corresponde uma linguagem fotográfica, e a parte `a limitação da necessidade do mundo se manifestar a nossa frente, suficientemente iluminado, para que o fotografemos, não há limites para a linguagem fotográfica. Sempre inventamos novas maneiras de ver. A fotografia nasce da capacidade de maravilharmo-nos, de encontrar sentido, de deixarmo-nos tocar por aquilo que vemos. Como já afirmaram muitos fotógrafos não há nada a fazer, a não ser estar presente, estar aberto ao mundo sentir-se implicado com aquilo que se vê. Fotografia é imagem. Mas não apenas. Ela é o
JORNAL DE
Porque no Brasil ainda se tortura tanto? Porque o genocídio nas períferias é aplaudido pela impresa? Porque a Argentina está acabando com o monopólio da grande mídia? E julgano militares envolvidos nos Vôos da Morte? Porque, no Brasil, um partido de esquerda está no poder, e a direita ainda comanda?
Clauveci Muruci / sem tulo
Fica a dica para quem quiser conhecer essa e outras publicações do IMEL www.imersaolatina.com
Bilheri
tempo detido, é a memória. É a evidência da luz que incidiu sobre um objeto específico, num lugar específico, num momento específico. Se por um lado isto soa como uma limitação, por outro é o próprio mistério da fotografia. Aquilo que vemos numa foto aconteceu. Às vezes de uma maneira que não sabemos como ou porque a fotografia não explica. Mas aqueles objetos e pessoas que se gravaram sobre o filme e hoje são imagens, ontem existiram. É isso que estimula nossa imaginação. Fotografia é a linguagem do inesperado, boas fotografias não acontecem toda hora. A fotografia é um encontro. Eis o seu sabor. Um encontro entre o fotógrafo e o momento. Uma cena e o seu reconhecimento. A fotografia trabalha com o acaso e se vale da intuição. Assim se realiza o encontro. Tudo o que queremos ao tirar fotografias é compartilhar nossa visão do mundo e nossa sensibilidade à vida como os outros. É como dizer: olha só aquilo! E aí está todo o significado. Não há mais nada a explicar. Nada a acrescentar. O resto é por conta de quem observa a fotografia. Num mundo tão inflacionado de imagens, a maioria delas arrogantes e fetichistas, quando não simplesmente sensacionalistas, por que não nos abrirmos àquelas fotografias sensíveis e reveladoras, cheias da autenticidade de quem se sente comprometido com a vida?
Tire seus originais da gaveta!
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Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 3 CRÔNICA
Os Sapos Por |
pelas águas submergiram. Na margem do lago para respirar o fim da longa es agem. E foram mortos os sapos, ali mesmo porque eram sapos. Dizimados em um ritual autotélico e, que não tenho entendimento para dar explicação, donde a ação de
Djine Klein*
matar por tão prolífica não permite palavras para explicação. I.
Era o que pretendia a crônica dos sapos, o momento ins ga e as palavras surgem como vendavais. Mas vários dias de chuvas para um lago sofrido de peixes e garças tristes, então é conferir o que suas águas dizem.
Sou andeiro de pegar as trilhas do amanhecer antes dos pássaros. E naquela manhã, os pés como sempre, nunca me obedecem ao que a cabeça diz. Ainda chovia chuva
“E com que perplexidade meus olhos encontrando sapos mortos, espalhado pelo caminho como se um João e Maria, marcando a trilha com migalhas de pão, os corpos ainda mornos das criaturinhas...” In: Diário dos moradores, Condomínio Cantegril. Djine Klein
água como se alguém farinhasse a paisagem. O dia cinza frio que só os loucos saem de casa. Dos desdobramentos do passeio ma nal e estou chamando para que me escutem, talvez um poeta, um cien sta que compreenda das naturezas desumanas? E que expliquem com bons argumentos, aclarar a minha tanta incompreensão. E socorro
Na crônica dos sapos, o sapo e não vi o homem ser interrogante. Apenas uma criatura sombria e que se perdeu de si. Um algoz humano sem humanização, só vazio de sen do. E compaixão pelos outros seres é a palavra morta, um NÃO. Não acontece a generosidade nem pelos seus, que os corpos na trilha por onde também passam foi ngida em rubro. E se Rubra o sangue de onze sapos na memória do algoz? Não sei. Mas mais vida germina entre os seixos e o capim. A vida que brota vida da terra, que se agita na beira de um lago e beirais jardins, sobre-existe nos seres simples e complexos. Sendo ambíguo o gesto do homem que sabe e mata por matar os seres que fazem a própria vida possível. Também faz a ciência um homem civilizado e, escreve barbárie em seu próprio jardim de repouso.
para a paisagem que punge na visão. Os corpos dos mortos, um assassino em fúria que na cerração fuga-se. E sobre o lago em silêncio um pássaro espia em sobrevoo,
III.
Em ousar uma escrita para a crônica dos sapos me deparei com o homem
ainda mais perplexo que eu. No contorno das águas, realçando uma escrita de
ignoto. Sem linguagem afe va, sem memória, sem consciência de
covardia, a cena revela-se trágica e que ninguém viu, noves fora os restos mortais,
ser um ser animal humano. E que sente dor, que se desespera na
que sapos eram as vi mas. E a marca humana assinalada nos despojos.
noite do indisível.
Ah, condomínio onde mora a civilidade e a segurança abrange o que a moeda vale,
Quando as palavras calam para que ele no medo se escute a fera.
em pagamentos por tranquilidade. E o luxo do reino próprio ou é qualidade de vida o
Então se desumaniza e pra ca o gesto vil. Depois esquece que
que aí se constrói! A reserva se diz PP e a violência contra os que ali sempre
carrega um potencial de crueldade. Não se lembra do primi vo ou
habitaram se diz o quê? Onde homens de bem matam os sapos ou assassinam a
prefere a covardia. E volta para os seus saciado, até a próxima crise
paisagem.
de tédio. Um amanhecer junto ao lago e ele outra vez fera.
Mas que agravo representa o batráquio entre o lago e a trilha? Apenas sinto os
Este homem que encontrei feraz numa manhã de sábado próximo a minha casa
vizinhos, cada qual seguindo por si próprio ou com abismo no acolhimento que a
junto a um lago, não era um menino. E a criança que um dia foi estava morta. Quem
vidraça lhes define o abrigo. E na contramão dos fatos, eu do lado de fora, e o
ou o que a assassinou eu não sei. Mas percebo o doente que se versa um abismo. E
silencioso lago pensando no mar verde que reflete. Ou abisma-se daquele seu
uma canção com poema se escrevendo, um ser em construção de si, acontecendo
contorno, onde com traço de afastamento descreve amargurado ao passante triste
em harmonia na paisagem que habita, essa ainda não acontece. E que gente pessoa
sou nesta manhã.
humana era de ser sempre uma canção.
É des no de sapo ser assassinado inglório em amanhecer brando de chuvas. Então quem interromperia o passo e convidaria o algoz para re-visitar sua obra.? Antes
IV.
A crônica dos sapos é um desses absurdos que acontece de poetas
que desapareça o fato. Eu perguntaria sobre a sanha e que de pronto explicasse
tentando escrever crônicas. Mas crônica informa ou repete o
sobre o gesto em território de paz. E se também paga o dízimo pedágio para estar na
co diano. Poeta deforma. Encurva a frase e se vê espantado nos
paisagem? Ou existe o mau lugar onde paraíso de gente e o bicho insiste habitar...
fatos. Poeta é criatura que ousa criar obra sem demanda, por
Então, homem fera-se?
vontade de mergulhar no co diano nervoso e submergir com objeto esté co. Portanto devo desis r da crônica dos sapos. E o
II.
Era ainda imprecisa a crônica dos sapos. Verificava a linguagem dos
que fica não deu poema, um monstrengo. Poeta é assustado. Um
batráquios garimpando memórias de um menino em mim. E
irresponsável na produção de algo sem finalidade. Mas sempre
cheguei aos sapos numa manhã de outono, com um poeta Manuel
esbarrando naquilo que se diz realidade.
ainda coaxando no pensamento. Mas em metáforas ou aos saltos
Depois é usar unguentos que a velha vozinha ensinava e, curar os arranhões
sapos são sapos. Criaturas de paz que menino brinca e o sapo
ardendo. E aqui encerro a crônica dos sapos, com um algo de ver gem por todo o
sofrendo acinte. Mas o homem que me obriga a crônica é frio,
corpo. E o pesar das palavras que encistem em denunciar o gesto infame.
amargo. Um bicho a margem e, seu salto não faz riso. Projeta-se uma queda para o próprio vazio. Esbarrei numa hecatombe e, as ví mas do ritual insano eram sapos, sapos. Dourados sapinhos verdes amarelos, que depois de muitos dias de chuva, tangidos
* Contato (djineklein@gmail.com)
Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 4 ARTIGO
A Casa da Fonte de
Anna Akhmátova – Poeta Russa Por | Berenice Sica Lamas * O museu literário da grande poeta russa Anna Akhmátova (1889-1966) organiza-se na Casa da Fonte, an go Palácio Sheremé ev à rua Liteiny, em São Petersburgo - Rússia, em circuito consagrado à literatura. Em meio a um jardim verdejante, com fontes, árvores, plantas, relvas e flores, onde a poeta viveu por mais de 30 anos, preservando as peças da casa com seu mobiliário, pertences, fotografias, objetos, artefatos, prateleiras com livros e tendo o significado cronológico de
Cloveci
10 épocas. Em inglês e russo, à disposição em cada peça, textos informa vos e explica vos. Alguns versos e frases suas aparecem gravados em vidros, num resultado esté co muito bonito e gracioso. Versejei por entre os cômodos, plena de emoção. Muitos espelhos. Quadros. Abajures. Estatuetas dentro de um armário. Uma mesa com o
Eu visitei o poeta ao meio-dia em ponto. Domingo. Quietude no amplo quarto E, fora das janelas, o frio (A.A.)
tabuleiro de xadrez já esculpido e desenhado na madeira. Uma vitrola e uma máquina fotográfica an quíssimas. Baú, valises, bolsa e casaco pendurados num cabide de parede, como se a poeta vesse acabado de chegar. Galhos de flor de pessegueiro em um vaso. Telefone de parede. Leques e máscaras. Ambiente austero, cozinha rús ca, tudo muito frugal, sóbrio e despojado, denotando a época vivida. Anna escreveu Noite, Rosário, Revoada branca, Anno Domini, Réquiem (durante prisão do filho), Poema sem herói, Eu sou a sua voz, A corrida do tempo, entre outros livros. Amiga de Boris Pasternak e Amedeo Modigliani. Enfrentou a morte do amigo Maiakovski em 1930 e vivenciou o terror de Stalin entre 30 e 40 - que mergulhou o país em um banho de sangue - e também a Rússia invadida por Hitler em 41. Experenciou o silêncio e a expulsão da associação de poetas em sua cidade. Ganhou o tulo de doutor honoris causa na Universidade de Oxford na Inglaterra em 1965. Sua poesia inovadora, compacta, precisa e impensável fora do contexto histórico sovié co, é quase reverenciada na Rússia, e traduzida em vários países. In mista e ao mesmo tempo cole va, fala dos fantasmas do passado, da angús a da existência, da história vivida, e diz do ser humano e sua dignidade, do equilíbrio dos contrários. O museu resgata sua imagem, sua cria vidade e obra poé ca, mostrando de modo também sóbrio e cria vo, a pessoa que a poeta Anna foi e como vivia. Es ve neste museu em 2009, quando visitei São Petersburgo na Rússia. Clima ameno, quase calor na época. Sen -me completamente envolvida pela atmosfera da casa/museu, e apesar do meio austero, a modernidade dos vidros facetados com poemas inscritos e a vegetação levam a uma emoção serena, um tanto nostálgica. A obra de uma poeta que lutou contra a opressão, o horror, a melancolia social. Poeta reverenciada, voz da amargura de todo um país. Um mistério e uma magia pairam ali. Uma opacidade turva meus olhos viajantes.
* Berenice Sica Lamas é Psicóloga e escritora
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Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 5 POESIA
Avalanche ma
iljart e
co m
Viamão
Por: Jane Peixoto
Cultural
Ficou a se embalar no tempo Um desejo incon do de um momento Que no turbilhão das emoções Arrastam desvairadas as paixões Que te fazem perder a razão Te interceptando o raciocínio Apenas sen ndo o fascínio Da ilusão passageira Que te prosta em cegueira Fazendo do tudo o nada E do nada o tudo Na avalanche do sonho Para anjos e demônios Percorrerem o teu corpo E te veres de um sopro Numa deusa e numa louca Na sanidade pouca Que te torna densa Sem nenhuma recompensa Apenas o mergulho Do não ter sido.
il. s@gma
POESIA
Leveza Por: Fernanda Blaya Figueiró Não se pode optar por ela É quase como desconstruir uma Casa pedra por pedra Haverão grandes Mistérios Coisas esquecidas Não se sabia das formigas Nem do mofo ou da umidade Ninguém notou quem teceu teias e Furou o reboco
Cloveci Muruci
A leveza vem por conta própria e Desaparece assim sem aviso Ficou bonita esta an ga janela Que já não abrem nem fecha Essa pedra que ainda guarda o charme Do desfeito
POESIA
O Despertar Por: Stela Maris Vaz Ribeiro
POESIA
Fotografia Por:
Lúcia Barcelos Meu amor paradigma de como amar; construção for ficada, edificada; com base profunda; escavada nas profundezas do meu ser, e alicerçada com o melhor de mim... O meu amar é dialé co e nutre-se com argumentos da beleza de ser o mais lindo, o mais sen do, mais vivido, mais puro e amado... O meu amor era assim. E eu amava amar com toda força que só o amor... Amava sen r a grandeza do que é o amor, meu sangue a pulsar em imensidão carmim, assim em mim. E eu mesma manutenciando esta construção do meu amor não precisava de nada; eu só amava, e o meu amor era o próprio sustento dessa edificação de sen mentos. E eu amava, e cuidava, alimentava esse amor. E amava amar assim... _ E te amei sem moderação! Negligenciando tua indolência no meu amar... Assim deu-se a queda, tua des tuição. E o meu despertar; o reconhecimento de mim, não perdi nada...Sou eu que sou capaz de amar assim!
Apoio Cultural :
Café da Praça
O ponto de encontro da Cultura
Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 6
vida ao verso
O Jornal de Artes abre espaço em duas páginas onde estarão as produções do Grupo diVersos e outros amigos, e os autores de Viamão, para nossos leitores terem contato com um universo maior da nossa produção literária. “É preciso expor a mercadoria”, enfatizou outro dia Bertolt Brecht, explicitamente. É nosso dever mostrar na prateleira nossos objetos de arte. A editora de literatura, Djine Klein estará encarregada de trabalhar junto a esses autores, e descobrir o melhor achado, um pequeno diamante junto a peneira de algum descuidado poeta , e trazer do fundo do rio a tímida criação. Boa leitura.
Cloveci Muruci
Mo vação Por | M.Conceição
Hyppolito
Tu és o inefável O ENORME, o sen mento Cloveci Muruci
Que nasce no coração da gente Como brotando do ser Mesmo por um não ser, De uma vivência INCERTA E da pressão que nos cerca E que nos faz te desconhecer... TU PODES ESTAR PRESENTE No meio da romaria
Nunca Soube Por | Dênia
Bazanella
Beber tudo? Comer todas? Não imaginar uma
Imagens da Manhã
negativa, nem mesmo aos mascates? Aos
Por Gerson
Nunca soube ao certo o que era "viver bem".
que grita por ANISTIA
corretores de seguro? Ou aos pobres
E que segue, sem saber
vendedores de sonhos? Faminto, tinha ido a
Se pode ter ou não ter
todos os lugares do mundo. Peregrino entre
Um prato farto na mesa?...
práticas, prédicas e partidos, iniciou-se em caminhos que prometiam desvendar os mistérios do corpo, da alma e do mercado
Tu podes estar presente
financeiro. Pagou um baseado pra subir aos
No meio dos flagelados
céus. E um carro novo pra conhecer o inferno.
Dos ricos, dos condenados Dos homens que tem poder?
Era certo: depois dos portões haveria dívidas, resgates e muitos verões hipotecados. Duvidava se haveria tempo de vender a mãe antes do Natal. Lambia lento o mapa absurdo
E do VÍCIO que nos consome?
das cicatrizes no peito, enquanto, nas costas,
Das feridas e das dores
a vida desenhava outros contornos.
Do parto de um novo homem Que nasce pra se perder?...
Compressa. Agora cansado, com a prata cobrindo os cabelos, nada parecia tão exato. Nem mesmo o úmero de degraus até a porta. Nem mesmo o eco da merda deslizando na
Tu podes estar presente No grito de uma MASSA? Que no sufoco se arrasta,
descarga do vaso. Nem mesmo o cheiro do café invadindo as mesas vazias do bar. Agora, na hora perdida de isolamento e silêncio, não
Dias de Oliveira
Na luz fraca que anuncia o dia descubro no quarto coisas e cores que o pleno dia esconde. São sombras, vagos realces, leves contornos como se tudo por distração fosse coberto com fina seda. Não existem palavras, tampouco silêncio, pois o som do vento traz can gas de pássaros que desconheço e jamais verei. O teto, brinca infinito, desenhado por reflexos de água, que balançam de lá para cá feito mobili alongado. Faz frio lá fora e em minha janela um pássaro azul desafia o vento com suas penas arrepiadas, como a querer vencer ou mudar o tempo, talvez sonhando primavera, mas é inverno e o sol preguiçoso só virá mais tarde. Enquanto na penumbra um chapéu fantasia de assombração o cabideiro, parecendo um gigante coberto de trapos, inclinado a uns livros, que parecem pedras, ao alcance de sua mão... Então cubro a cabeça, feito uma criança e adormeço, até o sol me despertar e espantar meus medos...
sabia ao certo o que seria "morrer bem".
Sem saber como agir, Sem saber como fugir, Sem esperança de GLÓRIA
Agasalha a dor, colhe um sorriso os olhos brilham no aconchego de um abraço escuta o palpitar do coração fluindo sobre a pele lisa e azulada canções de amor, contemplação espaços de paz, prece amiga no inverno de vidas an gas.
Pois quem a tem, na desforra Guarda a mesma pra si...
Cuidadora
TU PODES ESTAR PRESENTE???
Por Gerci Oliveira Godoy
Apoio Cultural :
JOÃO DOSLIVROS
Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 7 TEATRO
Teatro Sul Fúrico Os Plagiários - Uma adulteração Por
Walnei Costa *
Os Plagiários tem uma ficha técnica fantás ca, envolve um elenco numeroso e brilhante e uma equipe sensacional. A peça foi resultado do projeto Conexão Braskem Em Cena, desenvolvido para o 19° Porto Alegre Em Cena, proporcionando uma experiência rara entre os quatro grupos vencedores: Teatro Sarcáus co, Companhia Santa Estação, Cia.
Viviana Shames | Foto: Elison Couto
Caixa do Elefante e Grupo Falos & Stercus, para quatro apresentações no fes val, tendo assim oito mãos na direção, uma coisa temerária, visto q a fogueira das vaidades é o q mais aniquila o trabalho cole vo no jogo d cena, em qualquer setor profissional, mas não apenas deu certo como sobreviveu a morte anunciada das 4 apresentações e no domingo, dia 4 de novembro, a peça fazia a apresentação final da atual e renovada temporada, e desta vez fruto exclusivo do empenho do grupo, sem alguma ajuda d custo semelhante a ob da para a montagem original ( q não foi muita - pelo contrário a realidade da captação d recursos para projetos de gaúchos no Rio Grande do Sul, é bem precária - sempre um sufoco, mesmo quando existem verbas, elas são asfixiantes), mas como não ta morto quem peleia, não só fizeram a peça quase sem recursos como, d lambuja, se engajaram no movimento d resistência a demolição - absurda- do Centro Cenotécnico do RS.
chama-se Os Plagiários- Uma adulteração ficcional sobre Nelson Rodrigues. Os quatro diretores Guadalupe Casal, Jezebel De Carli, Mário de Balen e Marcelo Restori, com coreografias d Larissa Sanguiné e colaboração cênica d Carolina Garcia, imprimem uma velocidade muito grande aos tempos das falas, as trocas d cena e aos movimentos d luz, deixando a platéia quase sem fôlego, aproveitando ao máximo a força e a disposição sica e emocional do elenco q d fato mereceria elogiosos comentários individuais, pois todos ram muito bom proveito das suas intervenções, e é muito bom ver um elenco vibrante como este em ação, cada um q entrava em cena era uma pulsação d vida exuberante, atrizes destemidas, atores cheios d vigor, uma delícia, e em ordem alfabé ca aí
Os quatro grupos d Porto Alegre contemplados com o prêmio, são d nível
vai o nome das feras q certamente garan rão futuros bons espetáculos pra vc
internacional, suas equipes, seus diretores e elencos poderiam estar
leitor: Ana Luiza Bergmann, Bia Noy, Carla Cassapo, Cris Bocchi, Camila Vergara,
trabalhando em qualquer capital cultural do mundo sem dever nada a ninguém,
Carol Mar ns, Elison Couto, Filippi Mazu , Fredericco Restori, Frederico
e deve ter sido di cil para os julgadores escolhe-los, pois a qualidade do teatro
Vi ola, Gabriela Greco, Larissa Sanguiné, Nátali Caterina Karro, Pedro
gaúcho, q sempre foi boa , está cada vez mais alta.
Nambuco, Rafael Becker, Ricardo Zigomá co, Viviana Schames e Valquiria
Porto Alegre Em Cena é um grande fes val, q tem trazido os melhores grupos do
Cardoso.
Brasil e do mundo e essa constância tem ajudado a formar ar stas cênicos,
A instalação cênica, os adereços e os figurinos são muito bons, grandes
provavelmente como nunca antes na história do Rio Grande do Sul, gerando
contrastes acontecem nas informações visuais, valorizados pela luz q é precisa,
uma reciclagem muito bem temperada e con nua.
a trilha sonora é possante e a música ao vivo com uma banda competente e
O texto da peça é uma homenagem aos 100 anos d Nelson Rodrigues, escrito
integrada a cena, dá mais brilho ainda a este encantador espetáculo.
pelo dramaturgo Diones Camargo q faz uma costura muito cria va da vida e
Rio Grande do Sul é um útero gerador d talentos a muito tempo. Tenho visto
obra do autor, deixando algumas pistas sobre possível influência d “Cacilda I” d
muita gente boa desde q voltei a morar aqui e na seqüencia também vou ocupar
José Celso Mar nez Correa, onde o encontro com Nelson e Ziembinski e a
essas linhas estabelecendo um paralelo entre os
morte da atriz Cacilda Becker, em cena durante apresentação d “Esperando
econômicas aplicadas pelo mercado q tratam com muita diferença os atores d
Godot”, também movimentam a trama daquela peça, e os repórteres extraídos
fora e os residentes no Rio Grande, d uma forma q infelizmente desvaloriza
da dramaturgia rodrigueana narram os úl mos momentos da coma d Cacilda, q
nossos ar stas. “Não podemos se entregar pros homens”... Bom espetáculo!
pesos
e as medidas
no inicio da carreira par cipou da remontagem d “Ves do de Noiva” no papel d Lucia. Mas como já disse Tom Zé vivemos a “esté ca do plágio” e a peça d Diones
* Walnei Costa é Ator
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Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 8
1 - O fim do objeto ar s co ? Por | Wilson
Cou nho
Desde que o pós-modernismo assumiu a cena cultural, a par r da pop arte, tem-se discu do, com razão, o fim do objeto ar s co, trocado por uma arte efêmera, reproduzida em fotos, vídeos e livros. Embora a definição do que é pós-modernismo nunca seja consensual, o conceito domina o panorama cultural. Serve para explicar muita coisa e muita coisa serve para não explicá-lo. As belas esculturas de Richard Serra, por exemplo, expostas “in site”, aparentemente, se opõem à possibilidade de deslocamento da Escultura escultura moderna. Ao menos, é esta a argumentação do escultor americano. Obras modernas, como a cívica “Coluna Infinita”, de Constan n Brancusi, também não podem ser deslocadas, embora o romeno seja um dos pioneiros do modernismo. O stabile de Calder, em Chicago, foi feito para o local. Ele foi um ar sta modernista. As definições no campo do pósmodernismo parecem jogos de azar. Às vezes, sai bingo. Outras vezes, não. De qualquer forma, existe um clima, não só no Brasil, mas no exterior também, de oposição à deliqüescência da materialidade do objeto ar s co. Houve, a par r dos anos 80 e 90, quando a arte novamente parecia mergulhar em uma de suas constantes crises, um fenômeno só agora inteiramente percep vel. Quando boa parte das pessoas estava acompanhando o enterro da arte (a pintura já era missa de sé mo dia), nunca se criou, em quase todo o planeta, uma quan dade enorme de centros de arte, fora novos museus. A demanda sobre o que colocar lá dentro – o que outrora avalizava o gosto de uma época –, foi deslocada, porque eram necessárias obras que evitassem que aqueles prédios novos não passassem por mausoléus. A quan dade imensa de ar stas, da qual as bienais apenas fornecem uma pálida idéia, talvez os obrigue a uma linguagem padrão, norma va, que possa agradar, sem esforço, à mais nova profissão em torno da arte, conseqüência da superpopulação de ar stas e de centros culturais: a sua excelência, o curador. Tanto os museus tornaram-se espetáculos que pouco importa o que se mete dentro deles – é o caso do museu de Bilbao –, quanto os curadores, e não mais os crí cos e os poetas, são obrigados a cercear, limitar e divulgar algum po de forma de arte. Há obras feitas para curadores e curadores feitos para obras. Depois, a geração que assumiu tais cargos começou a interessar-se e formar-se em arte, a par r dos anos 70 – ou seja, o da canonização de dois astros da suposta destruição da arte: Marcel Duchamp e Joseph Beuys. Não nham conhecimento nem do alto modernismo e nem cultura geral para a compreensão do que foi a arte produzida no passado. Além disso, o historicismo é di cil de superar, até mesmo devido à sua facilidade, e, deve-se dizer, de sua fragilidade teórica. O encontro dos centros culturais e dos novos
Richard Serra museus com os curadores produziu um efeito que ainda se prolonga no meio ar s co: qualquer coisa é arte. O pós-modernismo, neste caso, não passa de um populismo niilista. Depois que happenings e performances deixaram de ser engraçados, a instalação ocupou, até na maioria dos casos, a nova forma populista de exibição: mexe-se nela, anda-se, escuta-se barulhinhos, morde-se alguma coisa, sente-se o vento, somos obrigados a andar descalços, etc, o que tornou os museus e centros culturais verdadeiros playgrounds para alegrar o adulto idio zado e a criança “cria va”. É fácil, também para boa parte dos curadores, garan r que estão oferecendo sensações. Não é isso o que um dia a arte tentou vender? Há um outro fator: alguns curadores estão ligados ao mercado como imãs à geladeira. É claro que nem tudo é desastre. Apesar da maré baixa, há excelentes ar stas mostrando sua arte. Curiosamente, mesmo os mais inven vos – como os “novos de meia-idade” escultores ingleses – não destruíram o objeto ar s co nem o prazer que eles oferecem. Isto quer dizer que, independente da vazante da arte, ar stas de qualidade acabam tendo algum elo com a tradição. O velho Richard Serra – com passagem na “arte povera” – con nua sendo bom exemplo. Algumas outras não são. Além disto, há palavras de Fernando Pessoa, quando um poeta de sucesso bateu as botas: “Quando morreu, morreu mesmo”. Isto serve para muito ar sta midiá co e de obra volá l. Embora haja sempre boas no cias, o sistema funciona – e mal. A “experimentação”, da qual a instalação tem o demérito de servir, transformou-se num gênero acadêmico. O academicismo não é mera palavra para denegrir uma espécie de arte, mas um sistema orgânico que começa pelas aulas “cria vas” para crianças (o educador cisma em ves -las com parangolés de papel crepom), passa pela universidade (subs tuta da Academia de Belas Artes) com seus cursos – pasme – de pósgraduação para ar stas, vai para o mercado e encontra-se, em museus e centros de arte, com a figura do curador.
* Wilson Cou nho é crí co de arte
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Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 9
2 - O FIM DA ARTE (como meio de conhecimento) Por Almandrade*
Temos a capacidade de des lar em palavras as experiências visuais que fazem o belo repousar naquilo que é apreendido pelo olhar. Uma obra de arte é tudo que ela contém: forma, textura, cor, linhas, conceitos, relações, etc. É aquilo que se vê, e o que se diz não corresponde exatamente ao que se vê. Não representa nada como imagem de outra coisa. E para ler um trabalho de arte é necessário se par r de um modelo (referências, informações...). Existem códigos a priori (aqueles u lizados pelo ar sta) e códigos a posteriori (aqueles u lizados pelo espectador). A virtude da arte é afirmar um conhecimento, propondo instrumentos que seduzem a inteligência. A invenção de uma linguagem é o resultado de um exercício paciente de contemplar outras linguagens. Como todo discurso é resultado de outros discursos. Exige-se um método. A arte é o que está além dos limites de tudo o que se considera cultura; não pode se restringir a um exó co experimento ou aparência da super cie de um trabalho, que fica para trás, como uma coisa vazia, no primeiro confronto com o olhar que pensa. A arte, entendida, como meio de conhecimento, hoje em dia, vem cedendo lugar a uma experiência ligada ao lazer e a diversão, que envolve outros profissionais como responsáveis pela sua legi mação: o curador, o empresário patrocinador e organizador de eventos, marchands, profissionais de publicidade, administradores culturais e captadores de recursos. Com as leis de incen vo a cultura e a presença marcante da inicia va privada, paradoxalmente, levou a arte a um limite, o fim da obra, do trabalho ligado a um saber. E o ar sta, nem artesão e nem intelectual, sem dominar qualquer conhecimento, está cada vez mais sujeito ao poder do outro. As grandes mostras são grandes empreendimentos para atender à indústria do entretenimento, (mais empresarial e menos cultural), que movimentam uma quan dade significa va de recursos e envolve um número assustador de atravessadores. As contradições modernidade / tradição, contemporâneo / moderno, neste início de século, cede lugar a uma outra contradição: ar stas que pertencem ao me er e ar stas estranhos ao me er, inventados por empresários da cultura, cujos trabalhos se prestam para ilustrar uma tese ou teoria imaginária de um suposto intelectual da arte e garan r o retorno do que foi inves do pelo patrocinador e pelo comerciante de arte. Uma mercadoria fácil de inves r, sem risco de perda, basta uma boa campanha publicitária. O ar sta pode ser subs tuído por um ou por outro, a obra é o menos importante. Aliás, é o que a indústria do marke ng tem feito com as mostras dos grandes mestres como: Rodin, Manet, etc., pouco importa as obras desses ar stas e sim o nome e o patrocinador. A publicidade leva consumidores/espectadores como quem leva a um shopping center. A quan dade de público garante o sucesso. O público é como o turista apressado, carente de lazer cultural que visita os centros históricos com o mesmo ape te de quem entra numa lanchonete para uma alimentação rápida. Na “sociedade do espetáculo”, regida pela é ca do mercado, o ar sta sem curador, sem marchand, sem patrocinador, é simplesmente ignorado pelas ins tuições culturais, raramente é recebido pelo burocrata que dirige a ins tuição. Seus projetos são deixados de lado. Também pudera, essas ins tuições, sem recursos próprios, tem suas programações determinadas pelos patrocinadores. Numa sociedade dominada pelo império do marke ng, a realidade e a verdade são mensagens veiculadas pela publicidade que disputa um público cada vez maior e menos exigente. A vida é vivida na especulação da mídia, na pressa da informação. E neste meio, a arte é uma diversão que se realiza em torno de um escândalo convencional, deixando de lado a possibilidade do pensamento. O fantasma do “novo”, que norteou a modernidade foi deslocado para o ar sta que está começando, pelo menos novo em idade, o ar sta/atleta, a caça de novos talentos e de experiências de outros campos sociais. Totens religiosos, a casa do louco, a rebeldia do adolescente... Tudo é arte, sem exigir de quem faz o conhecimento necessário. Todo curador quer revelar um jovem talento, como se a arte dispensasse a experiência. Um “novo”, sinônimo de jovem ou de uma outra coisa que desviada para o meio de arte, funciona como uma coisa “nova”. Um novo sempre igual, a arte é que não interessa. Pra camente trinta anos depois do aparecimento da chamada arte contemporânea no Brasil, recalcada nos anos 70 pelas próprias ins tuições culturais, um outro contemporâneo surgido nos anos 90 passou a fazer parte co diano dos salões, bienais, do mercado de arte, das grandes mostras oficiais e de inicia va privada. Uma contemporaneidade sintomá ca.
Mao - Andy Warhol / 1973
Estamos vivendo um momento em que qualquer experiência cultural: religiosa, sociológica, psicológica, etc. é incorporada ao campo da arte pelo reconhecimento de um outro profissional que detém algum poder sobre a cultura, (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como tudo de “novo” na arte já foi feito, o inconsciente moderno presente na arte contemporânea implora um “novo” e nesta busca insaciável do “novo”, experiências de outros campos culturais são inseridos no meio de arte como uma novidade. Deixando a arte de ser um saber específico para ser um diver mento ou um acessório cultural. Neste contexto, o regional, o exó co produzido fora dos grandes centros entra na história da arte contemporânea. Nos anos 80, foi o retorno da pintura, o reencontro do ar sta com a emoção e o prazer de pintar. Um prazer e uma emoção solicitados pelo mercado em reação a um suposto herme smo das linguagens conceituais que marcaram a década de 70. Acabou fazendo da arte contemporânea, um fazer subje vo, um acessório psicológico ou sociológico. Troca-se de suporte nos anos 90 com o predomínio da tridimensionalidade: escultura, objeto, instalação, performance, etc., mas a arte não retomou a razão. Na barbárie da informação e da globalização, estamos assis ndo ao descrédito das ins tuições culturais e da dissolução dos critérios de reconhecimento de um trabalho de arte. Tudo é tão apressado que acaba no dia seguinte, os ar stas vão sendo subs tuídos com o passar da moda, ficam os empresários culturais e sua equipe. Uma corrida exacerbada atrás de uma “novidade”, que não há tempo para se construir uma linguagem. O chamado “novo” é a experimentação descartável que não chega a construir uma linguagem elaborada, mesmo assim, é festejado por uma crí ca que tem como critério de julgamento interesses pessoais e ins tucionais. A arte pode ser qualquer coisa, mas não são todos os fenômenos ditos culturais, principalmente os que são gerados à sombra de uma ausência de conhecimento.
* Almandrade é ar sta plás co, poeta e arquiteto
Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 10
PercPOA 2012 Por Luiz Jakka *
Olá amigos, é com imenso prazer que, a par r desta edição, começo a escrever sobre música no Jornal de Artes. Eu, como educador, músico e percussionista, não poderia deixar de mencionar um evento que acontece este mês em Porto Alegre e que tem uma relevância toda especial. É o PercPOA 2012*!!! A importância deste evento para o cenário musical gaúcho é de uma grandeza ímpar, primeiro por se tratar de um evento com a chancela do Ministério da Cultura/ Funarte, e o apoio de vários órgãos nacionais, estaduais e municipais, além de empresas privadas e organizações ins tucionais, e que acontece no Centro Municipal de Cultura, no Teatro Renascença, nos dias 16/17 e 18 deste mês, e segundo por sua programação bastante intensa e que vai contemplar o público com seminários, oficinas, homenagens e shows que irão mostrar um panorama do que esta acontecendo de significa vo na percussão do estado. A percussão, que acredita-se ser a primeira manifestação musical do homem, desde a pré-história, tem um significado especial no contexto da música popular produzida no país e não é diferente aqui no estado. Lógico que com menos intensidade que em outros estados que veram, de forma pontual, a influência da cultura negra em todos os seus aspectos. As manifestações musicais populares com percussão sempre se deram no âmbito das cidades, principalmente naquelas que foram centros escravagistas, ou que, posteriormente, possuíam escravos libertos, e tanto pelo uso em rituais afroreligiosos como pelo uso em seu co diano musical ou, também, em eventos. Portanto a percussão popular u lizada na música produzida no estado, se limitou pra camente à música urbana, notadamente em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, não por acaso berços do samba, carnaval e rituais religiosos, estes nos chamados “terreiros”. Mesmo assim não foram muitos os gêneros musicais que adotaram a percussão nos seus arranjos e composições, sendo o samba, o choro e mais recentemente a mpb, os principais gêneros a incluir. Então o significado deste PercPOA muito importante para a música produzida no estado, seja pelas discussões acerca do papel, do uso e dos rumos que a percussão vai tomando nas ins tuições de ensino, em todos os níveis, ou seja pelas propostas musicais que teremos oportunidade de assis r. Os temas a serem deba dos no seminário, “Musica na Escola: Trajetória, Ações e Eixos de Atuação”, “Musica na Escola: Interfaces com a Percussão” e “ Percussão e Educação Musical em Debate” são super importantes no contexto da educação musical e da formação de novos profissionais, educadores ou instrumen stas. Ao mesmo tempo estarão acontecendo oficinas específicas, de instrumentos e gêneros, em vários locais da cidade, com renomados percussionistas nacionais e estrangeiros. E para finalizar a programação, shows e mais shows com muita batucada, muito suingue e muita energia!!!
Luiz Jakka
E atenção!!! Tudo “de grá s”, como alguns costumam dizer... Vale ressaltar o esforço do músico, produtor e agitador cultural Elojac que, juntamente com seu staff, conseguiu realizar este evento singular e que esperamos tenha con nuidade para os próximos anos. No momento em que cada vez mais se ampliam os horizontes da música popular dentro das universidades, nada mais apropriado que um evento que propõe várias discussões e reflexões a respeito, buscando dignificar aquele instrumen sta tão fundamental para a criação e boa execução da música popular brasileira propriamente dita, em todos os seus gêneros. Espero que a mídia, as ins tuições e o povo em geral saibam reconhecer o esforço e a dedicação de todos os envolvidos neste projeto e que possamos em breve ter outro PercPoa!!! Finalmente quero dizer que vou procurar colocar neste espaço as minhas impressões, reflexões e observações sobre o mundo da música, tanto no cenário regional quanto nacional e internacional, sob todos os aspectos. Um grande Axé a todos!!!
* Luiz Jakka é professor, músico e educador social
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Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 11
Wes Anderson e Seu Reino da Lua Nascente Por Dario P. Regis *
Em meio a tantos filmes interessantes no Festival do Rio 2012, a única opção possível é priorizar aqueles que mais te interessam. Fui ver umas das atrações mais concorridas dessa semana na Mostra Panorama do Cinema Mundial: Moonrise Kingdom, a última comédia do diretor texano Wes Anderson. Sou fã de carteirinha de filmes autorais, aqueles em que o realizador deixa sua marca inconfundível e cria seu próprio estilo. Wes Anderson é um diretor assim. Quem acompanha sua obra sabe que um trabalho seu pode ser reconhecido mesmo que o expectador esteja vendo um fragmento de filme sem nenhuma informação a respeito, tamanha a força de sua autoralidade e a precisão de sua assinatura. Essa é uma característica de poucos e escolhidos diretores do cinema contemporâneo. Com Anderson foi assim desde seu primeiro filme, Bottle Rocket, de 1996. Depois veio Rashmore, de 1998, Os Excêntricos Tenenbauns (The Royal Tenenbaums) de 2001, A Vida Marinha com Steve Zissou (The Life Aquatic with Steve Zissou) de 2004, Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited) de 2007, O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox) de 2009, e agora Moonrise Kingdom, de 2012. Todos são comédias, mas nenhum é simplesmente cômico. Um filme de Wes Anderson se caracteriza pelo mergulho que faz no mundo mágico e aventureiro do diretor, e pelo que tem de pictórico e pitoresco, esquisito e excêntrico, pessoal e intransferível .. Meu preferido dele até agora era Viagem a Darjeeling, mas Moonrise chegou abalando estruturas, e me pareceu o melhor Anderson até agora. O que não é difícil quando se trata de um diretor que vem se superando a cada trabalho. “É incrível a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer”. A frase de Caetano Veloso, carregada de verdade profética, me veio à mente durante a projeção desse filme. Moonrise Kingdom narra a trajetória de dois adolescentes, Sam e Suzy, que tem em comum o fato de terem ambos 12 anos e serem, cada um a sua maneira, seres ímpares, raros, mal-compreendidos, “problemáticos” para o convívio social e, por isso mesmo, solitários. Quando duas pessoas assim se encontram, a afinidade que se instaura é tanta, que o elo que estabelecido é, no mínimo, avassalador. Estamos no verão de 1965 em New Penzance, uma pequena ilha perdida na costa da Nova Inglaterra. Sam Shakusky (Jared Gilman), órfão, é recusado por seus últimos pais adotivos que não aguentam mais as encrencas em que o menino insiste em se meter. No momento ele está vivendo no Campo de Escoteiros Ivanhoé, com um líder neurastênico (Edward Norton) e um bando heterogêneo de outros jovens escoteiros, todos hilários em suas diferenças. A 12 milhas de distância, Suzy Bishop (Kara Hayward) vive numa bela e confortável casa com três irmãos menores e seus pais (Frances McDormand e Bill Murray). Filha mais velha de uma família aparentemente convencional, ela está sempre se metendo em brigas com suas colegas de sala, não faz amizades, tem como objeto de estimação um binóculo e gasta seu tempo lendo histórias de aventura em livros infanto-juvenis que rouba da biblioteca. Sam e Suzy se conhecem “casualmente” numa apresentação de teatro infantil da Arca de Noé em que ela faz o papel do corvo. É amor à primeira vista. A partir daí começa uma voraz correspondência e, meses depois, ambos fogem de seus respectivos lares para se encontrarem e viverem juntos algo que eles ainda não sabem muito bem o que é. Pronto! Está inaugurada a ação do filme. Quando a fuga deles é descoberta, o grupo de escoteiros se junta aos pais de Suzy e, com a ajuda do comissário de polícia da ilha (Bruce Willis), partem no encalço dos jovens fugitivos. Mas nada consegue deter a força do encontro estabelecido entre eles. Juntos e em fuga numa ilha (quase) deserta, eles vivem a aventura do primeiro amor e a descoberta da sexualidade .. É bomba !! Outros personagens impagáveis vão se somando a trama ao longo dos 94 minutos de filme. É o caso do comandante Pierce (Harvey Keitel), da agente do serviço social (Tilda Swinton) e de um hilariante personagem narrador (Bob Balaban) que aparece do nada com informações (in)úteis, falando diretamente ao expectador e desmontando qualquer resquício de convencionalidade que possa ter restado na estrutura narrativa. Ele traz o elemento meteorológico que paira sobre o enredo como uma ameaça dramatúrgica a ser definida: um grande temporal se aproxima velozmente do arquipélago, e pode pegar de surpresa nossos personagens, definindo seus destinos, trágica ou gloriosamente. O tom teatral marca o andamento do filme. Os diálogos são inteligentes e afiadíssimos. As locações são estruturadas como cenários e cada sequência é meticulosamente trabalhada. O resultado não poderia deixar de ser um verdadeiro colírio para os olhos. O enquadramento das tomadas é perfeito, e cada movimento de câmera é milimetricamente planejado. Reparei um exagero de zoom-outs (será?), mas que não comprometem o conjunto.
No filme todo paira um vago tom pastel e a impressão de que tudo está um pouco fora do centro, nos dando a indelével sensação de que personagens e lugares não fazem parte da realidade, mas existem de fato no mundo dos contos de fadas e das histórias de aventura. Aliás, o roteiro é uma grande homenagem ao universo da literatura infantojuvenil, que Suzy segue lendo durante todo o filme. Fantastic Mr. Fox, penúltimo longa de Anderson, foi adaptado de um clássico desse gênero. O elenco dá show. Os dois atores jovens e quase desconhecidos nos papéis principais foi uma escolha arriscada e acertada. Eles são excelentes e contam com a ajuda de um time da pesada. Bruce Willis surpreende numa atuação contida e humanizada que escapa dos estereótipos em que estamos habituados a vê-lo. Bill Murray e Frances McDormand também se esmerilham na construção de seus atípicos personagens, um casal de advogados tão disfuncional que conversam um com o outro em linguagem jurídica. Edward Norton brilha como o líder escoteiro repleto de gestos propositalmente caricatos e nuances cômicas. Harvey Keitel, Tilda Swinton e Jason Schwartzman, apesar de terem aparições menores, também estão impecáveis. A direção de arte, que caprichou nos objetos de época, nos transporta divertidamente aos anos 60, ajudada pela trilha sonora, que faz uma mistura perfeita e inusitada de marchinhas militares, canções pop da época e música clássica da boa, construindo cena-a-cena a expectativa de um grand finale. Como numa ópera. Merece destaque a sequência onde há uma explicação didática sobre a construção de uma peça operística como trilha sonora. Um requinte a mais num filme que esbanja elegância de cabo a rabo, deixa o espectador com um sorriso no rosto o tempo todo, e faz a gente sair do cinema com uma estranha sensação de felicidade. Moonrise Kingdom foi o filme de abertura do Festival de Cannes este ano, em maio último. Estréia no circuito comercial brasileiro já na próxima semana. Que bom! Verei novamente. Espero ver esse filme várias vezes nas próximas décadas .. E já fico na expectativa pelo mais novo projeto de Wes Anderson, The Grand Budapest Hotel, com Johnny Depp, ainda em pré-produção. Não percam !!
Um momento simplesmente genial é o plano-sequência de abertura, em que a residência dos Bishops é exibida como uma casa de bonecas que vai sendo rastreada à exaustão pela câmera, na horizontal e na vertical, enquanto fragmentos de ação vão revelando características sutis dos membros da família. Só essa cena já vale o filme ..
* Dário P. Régis é crítico de cinema e escreve no Blog www.cineenlavena.blogspot.com.br
Porto Alegre |Dezembro | 2012 | ARTES | 12
Naquele ano de 1630 os escravos fugidos dos ca veiros ergueramum quilombo A opressão pintava com sangue Ardia o ódio das vozes doridas O senhor e o escravo O reduto da luta, a maior delas: O Quilombo dos Palmares! Milhares de negros aldeados nessa parte da África Nesse solo de além mar De Alagoas à Pernambuco liberdade zumbizando no ar Aqui onde a palmeira Pindoba é rainha e Zumbi é rei não se foge do capitão do mato Não embrenha-se na mata com a esperança de ser livre qui o estalo do açoite não diz: morre maldito! Aqui se resiste! Nesse território não se morre fácil O Quilombo é nosso! Não tem senhor de engenho dizendo: Dou-lhes farinha e carne seca toma um gole de cachaça e esquece tua dor insana Deita-te no chão e esmorece, mas não sonha Sonhar é proibido para peça feia e magra Temos frutas na tropical paisagem Caça, peixes, solo fér l Argila para a cerâmica Rapadura, aguardente Feijão, batata- doce, mandioca Somos milhares: dez mil, vinte mil, trinta mil, não sei… Estas casas primi vas cobertas de folhas de palmeira Paliçadas duplas de madeira Estes homens da Guiné… Mes ços, indígenas espalham-se por sessenta léguas Todos eles com sua fé e ninguém rouba senão morre São tradições africanas Coisas que se falam de padrões e normas é cas O território Palmarino não tem ordem lusitana Corre, corre quem vem lá? Sou fugido, quero paz, posso entrar nesse quilombo? Pode sim! Aqui o amor à liberdade por 65 anos espantou o inimigo Fizemos deles enxovalho A nós pagavam tributos esses malditos senhores De nós compravam alimentos esses mascates Em troca davam-nos armas e esporro Somos heterogêneos Estão aí as mais variadas nações africanas Algumas culturas da costa guineana, o catolicismo popular Às vezes algum jagunço cai nas armadilhas do mato Incursões policiais reconduzem outros à senzala Ateiam fogo às choças Os levam confiscados pra Recife Esta regra desde 1669 existe por Bernardo Enriques, governador dos mais pa fes dessa tal capitania Mas depois deles vieram outros e mais outros Num certo tempo vieram mil de uma só vez Foram expedições inúmeras Algozes militares ou não Todos eles reles! Cristóvão Lins, Capitão André da Rocha, Manuel Lopes… Eram todos repelidos na guerra de guerrilha O movimento quilombola toda hora se mudava toda hora se par a De repente pararam numa trégua Custos de guerra deixaram em paz o grande e forte Ganga-Zumba Palmares respirava Fizeram um acordo Delimitaram áreas para se viver em liberdade Se é que se vive livre nessa terra Tomaram suas armas Ganga-Zumba envenenado morrera Prenderam João Mulato, Canhonga… Como os sonhos de Zumbi também prenderam Liberdade é di cil eu bem sei Queriam rendição?
Quilombo dos Palmares Por Odilon Machado de Lourenço http://poetadagarrafa.wordpress.comhttp://poetadagarrafa.wordpress.com
Para dona Lurdes