Janeiro | 2019

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ARTES Jornal de Ano 19 | N° 01 | JANEIRO 2019

R$ 3,00 | US$ 1,50 | € 1,50

Porto Alegre # 1 | Ano 18 | Janeiro - 2019

Detalhe tela da exposição «Sou Pintor Porque Não Estou Con go» do ar sta Sergio Stein, exposta no MARGS durante julho de 2018, em Porto Alegre


JORNAL DE

ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua

Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Design Gráfico/Capa/Diagramação | Marieli Becker Muruci Site|www.murucieditor.com.br CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 99874 - 6249

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO

» Floren De Bas [ Pg 06 | Dário de uma vida Meia hora passada das sete da manhã

» Paulo Leônidas [ Pg 10 | Street Expo Photo -

Promênade Fotográfica

» Paulo Leônidas [ Pg 18 | A obra disruptiva e Dissonante de Sergio Stein

» Marcos Reimann [ Pg 23 | Lei do preço fixo

do livro e outras ideias embaladas

Capa tela exposição «Sou Pintor Porque Não Estou Con go» do ar sta Sergio Stein, exposta no MARGS durante julho de 2018, em Porto Alegre


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A cor do

NEGRO A Cor do Negro é tema de exposição dos fotógrafos Jorge Aguiar e Fernando Zago no mês da Consciência Negra. Para celebrar o mês da Consciência Negra, os fotógrafos Jorge Aguiar e Fernando Zago, com a curadoria de Aguiar, apresentam “A Cor do Negro”, um trabalho com 30 imagens impressas em tecido Voil, na Casa de Cultura Mário Quintana, no Jardim José Lutzenberger. Trata-se de uma narrativa poética de fragmentos da história de homens e mulheres que, apesar de vítimas de violência múltipla e preconceito, fazem da falta de oportunidade e intolerância sua força para lutar e resistir. Os protagonistas da exposição são os negros do século XXI. “Quando se fala em raça, o que é certo: negro ou preto?”, combatendo o racismo impregnado na nossa fala cotidiana é: “se 'preto' não é raça, 'negro' muito menos”, diz o curador.

Sobre Jorge Aguiar: Fotojornalista há 42 anos, Jorge Aguiar trabalhou no Jornal do Comércio e no extinto jornal Diário de Notícias. Participou de exposições internacionais na Espanha, França, Portugal, Japão e Iraque. É fundador do Instituto Luz Reveladora Photo da Lata, instituição sem fins lucrativos que ministra oficinas de pinhole a jovens e adultos em áreas de vulnerabilidade social. O projeto Photo da Lata/Fotógrafos Comunitários recebeu em 2003 o Prêmio Direitos Humanos da UNESCO como melhor projeto de divulgação dos direitos humanos no RS.


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O projeto coletânea "Saia Justa” busca destacar os autores da região Fronteira Oeste, nos gêneros de poesia, crônica e contos. A proposta é um incen vo à escrita cria va, e visa promover o conhecimento da produção autoral da região.

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INSCRIÇÕES ABERTAS

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E J O H É Ã NH

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A M A

Apesar de ser uma cção, as criações imaginárias desta narrativa dão asas ao leitor e o prende do início ao m pela sua agudeza de espírito e pela hilaridade de seus personagens, numa sucessão de acontecimentos que foram marcantes ao longo dos anos em que ocorreram, contando a história de uma pequena cidade, com pessoas comuns e suas singelas e generosas amizades e convivências.

Adão Villaverde professor, engenheiro e deputado.

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DIÁRIO DE UMA VIDA Meia hora passada das sete da manhã Por

Floren de Bas

Todo dia acordo com a sensação de estarmos dentro de um filme, para melhor situá-lo “O Show de Truman – O show da Vida”. Retrata a vida de um homem que teve sua vida inteira filmada e transmitida ao vivo pela TV, 24 horas por dia via satélite para todo o mundo, desde o seu nascimento. E assim trago dessa percepção “A vida e sua rotina”: No despertar de cada manhã com rotinas de significados”. Arrumamos nossa cama juntos. O primeiro lençol é para fixar no colchão, que amanhece “sempre” desarrumado, porque temos a máxima de que 1/3 da vida dormimos, só que dormindo, tenho minhas dúvidas. Confabulamos noite a dentro como James Joyce em Ulisses. Após isso pegamos o segundo lençol, que precisa ficar milimetricamente bem enquadrado junto a cabeceira da cama e, ao final, os travesseiros que precisam ficar em pé, pois o felídeo deita-se deixando seu “parfum du chat”. O que posso notar é que a arrumação de nossa cama fica perfeita e, ao mesmo tempo, chega o gato Galeano caminhando em volta de nossa cama e como “no show da vida” o gato se estica com suas duas patas superiores armadas unhando o colchão como de costume. Paro para observá-lo. A meu ver ele diz: “Ei, estou aqui, não vão me dar atenção???” Vânia “sempre” atenta, saí de nosso quarto em direção a área onde fica o pote da ração do felino, na maioria das vezes o pote esta cheio, mas Galeaninho gosta de um pouco de ração nova todos os dias. Sua protetora Vânia limpa sua caixa de areia, enquanto chego na pequena cozinha


procurando a esponja e o produto para passar na mesa para nosso gostoso café. Porque limpo a mesa? O gato Galeano acha que a mesa é cama. Em tempo: quando levantamos a mesa esta cheia de pelos e as marcas das patas em cima. Não dá para comer em cima da cama do Galeano não é mesmo pessoal??? As vezes o café é feito a quatro mãos. Para que possam imaginar quadro a quadro a história. Café da manhã são duas grandes xícaras de café com leite sem açúcar com pão francês ou pão sovado com manteiga. Uma combinação perfeita do café com pensamentos atravessados, “a voz do inconsciente” me toma. Isso só compartilho com vo6. É verdade que cada tempo tem suas histórias e clímax. Em verdade não controlo meus pensamentos que atravessam a realidade. E vem na ordem das preocupações eternas: como estarão meus irmãos? Minhas filhas? Os amores? Os amigos?As crianças Sírias e Palestinas que sofrem em guerras, assassinatos de animais, transsexuais, mulheres, índios e negros. Pergunto-me o que você fará Floren com os estúpidos assassinos? Respondo afirmando, querendo e desejando um mundo melhor. Na mesma linha do pensar, adentra a voz. - “Como fazer? Fazer o quê?” A pergunta vai e volta como Ping Pong. Faço isso com a mesma rigidez da fonte de letra preferida “Times New Roman”, que insiste em aparecer em “Garamond“ tamanho 10 nessa escrita... Só acreditar em um mundo melhor não basta! Precisamos pôr em prática os devaneios delirantes de um ser em constante conflito com a sociedade. Dar voz à razão. Veio-me subitamente, “imagens de dois seres juntando plásticos nas ruas”. Espero que tenham desconfiado quem são. Questiono-me: juntar plásticos das ruas da cidade baixa em Porto Alegre faria a diferença? Na dúvida devemos continuar. E assim por diante vem a pergunta complexa. Estamos sendo melhores pessoas para os que estão a nossa volta? Droga, não!!! Posso afirmar, com certeza, que não conseguimos dar conta das relações familiares. Pronto. Precisamos modificar a estrutura familiar. É claro que os pensamentos estão moldados de utopias! Vamos viver em coletivo para estarmos sempre presente na vida de todos. Continuo indagando-me em silêncio. A voz segue me apontando impossibilidades de ações. Agora você quer ter todos por perto? A voz segue me indagando. Já deu uma lida no número de pessoas que você tem de amigos? Respondo à voz, sim. Emendo, pela contagem chega na casa dos mil. Como dona de mim mesma acerto a voz! Querida voz com alegria justificando nas palavras de Jean Cocteau que afirmou “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”... Assim guardo a voz na caixinha dos guardados na esperança de dias melhores. Voltando a realidade que se faz presente. Sento-me a esquerda de Vânia a mesa de nossa sala de estar. Todos os dias “a vejo” mordiscando seu pão com manteiga e no tempo, na marca de segundos acontece, as casquinhas caem do pão sobre a mesa. Como “sempre” com sua mão esquerda cata as casquinhas com seus dedinhos significativos e estendo minha mão direita acariciando. Não tenho que explicar. O sagrado do tocar no amor que tenho por ti? Zelo e respeito?


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Artes Plásticas | Beth Turkieniez

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli apresenta a exposição “Ao Quadrado”, da artista Beth Turkieniez. A mostra, com curadoria de José Francisco Alves, teve abertura dia 11 de dezembro na galeria Iberê Camargo, com entrada franca. Beth Turkieniez já soma mais de 40 anos de dedicação diária ao seu trabalho em artes plásticas: experimentando, reciclando e mergulhando em processos ao encontro de novos conceitos e novos olhares. “Ao Quadrado” é composta de quadrados dispostos na sala de exposição em dois projetos que se fundem. Apresentam técnicas e suportes diferentes convidando o expectador junto à artista a dar um novo significado ao que está exposto. A mostra pode ser visitada até 27 de janeiro. Visitas mediadas podem ser agendadas com o Núcleo Educativo do MARGS, pelo e-mail educativo@margs.rs.gov.br. O MARGS funciona de terças a domingos, das 10h às 19h, sempre com entrada gratuita.


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Ao Quadrado Por

José Francisco Alves | Curador

A porto-alegrense Beth Turkieniez, radicada em São Paulo desde 1989, volta à capital gaúcha para realizar, pela primeira vez, uma individual na principal instituição de arte do Rio Grande do Sul, o MARGS. Nesse ínterim, Beth desenvolveu uma extensa carreira em nível nacional e internacional, com prêmios e distinções. Ao todo, são mais de 40 anos de dedicação diária às artes plásticas, cuja marca pessoal é focada no interesse em experimentar, reciclar e mergulhar em processos distintos, rumo ao encontro de novos conceitos e novos olhares. Antes de começar nova vida em São Paulo, a artista partiu daqui com uma sólida e invejável formação artística. Não somente com estudos acadêmicos em Artes Plásticas e Arquitetura na UFRGS, mas por meio contatos e orientações de nossos grandes mestres, incluso no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Em especial, Beth estudou desenho com Paulo Peres, xilogravura com Danúbio Gonçalves, pintura com Ado Malagoli e Iberê Camargo, e escultura com Sonia Ebling, Vasco Prado, Xico Stockinger e Carlos Tenius. A presente exposição, “Ao Quadrado”, seu trabalho atual, compõe-se de pinturas em formato quadrado, dispostas na sala de exposição em dois projetos que se fundem. São obras que apresentam técnicas e suportes diferentes, convidando o expectador, junto com a artista, a propôr continuamente um novo signicado aos trabalhos expostos. Beth também utiliza pigmentos indianos, com tintas que ela mesma produz. Os tons são trabalhados incansavelmente até se obter a intensidade e a opacidade que cada pintura requer, possibilitando uma série em conversa sem m, entre as múltiplas composições possíveis, construindo e reconstruindo o grande quadrado. Um primeiro conjunto é formado com telas (na maioria em grandes dimensões) que apresentam medidas múltiplas entre si, estabelecendo o diálogo entre as cores, suas intensidades e superfícies, num contínuo deslocamento das peças enquanto formação e nalização. São montadas 24 pinturas em técnica mista sobre linho, sendo seis de 2 x 2m, duas de 2 x 1m, três de 1,20 x 1m, quatro de 1 x 1m e nove de 0,5 x 0,5m. O segundo conjunto trata-se de um painel de vinte e cinco quadrados, em suporte de madeira de 0,4m x 0,4m, à semelhança de uma colcha de retalhos, pincelando séries e períodos diferentes, escolhidos aleatoriamente. Abordam fragmentos do cotidiano, indagações, sentimentos, angústias, questionamentos e momentos que habitam o interior de uma mulher, únicos e particulares, mas também universais e compartilhados.


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Street Expo Photo | Promenade Fotográfica Na exposição fotográfica “Street Expo Photo” o espectador, à medida que avança e se desloca, discerne a distância, centenas de objetos: num momento os captura, em outro momento os perde, oferecendo a ele uma gra ficante sensação de inesperada reflexão e espetáculo. Por

Paulo Leônidas de Porto Alegre/RS

O conceito de percurso ou promenade se refere por natureza a um fim esté co, uma experiência sensorial recente na nossa história, é certamente um fenômeno, que se manifesta especialmente no jardim “pi oresque” inglês e no urbanismo no inicio do século XIX. A ideia do percurso variado, de interessantes pontos de vista, das surpresas e encantos e do aparente movimento da Arte de acordo com o posicionamento dos objetos e da percepção que se tem deles ao se perambular no espaço, foram qualidades buscadas ao longo da nossa civilização. Na Grécia o mesmo sen do de perambular ou passear se encontra no verbo peripateo, composto por peri (ao redor) e pateo (caminhar), desta maneira a escola dos Peripaté cos de Aristóteles (384 a.C - 322 a.C), encarna o sen do de estar a passear ou perambular pelos arredores: a caminhada do saber. Na exposição fotográfica “Street Expo Photo” o espectador, à medida que avança e se desloca, discerne a distância, centenas de objetos: num momento os captura, em outro momento os perde, oferecendo a ele uma gra ficante sensação de inesperada reflexão e espetáculo. Essa ideia das Artes onde o espectador se move é algo que, por exemplo, encontramos nos impressionistas que a tentavam retratar dentro de suas pinturas, par cipando de suas naturezas e prazeres sensoriais, e que Charles Baudelaire (1821 – 1867) , descreve como um flâneur. O flâneur da “Street Expo Photo” atravessa as ruas caó cas e os espaços escondidos da cidade e encontra na escadaria de um importante objeto urbano, o histórico Viaduto Otávio Rocha, exposição de trabalhos de 92 fotógrafos de vários lugares do Brasil. Este estupendo esforço é a inicia va do fotógrafo e produtor cultural Marcos Monteiro, de Porto Alegre. Na “Street Expo Photo” a percepção do flâneur parece incidir sobre o que é transitório na cidade, mas ele não se limita a cri car a transitoriedade, alimenta-se dela. Esta Arte transformada em “coisa” pública, procura inicialmente

contrapor-se à aristocracia das salas exposi vas, que vem a se revelar no protagonismo do observador da cidade, o flâneur. Este protagonismo do observador e a qualidade dos convidados transcende na belíssima curadoria de Marcos Monteiro (fotógrafo/ produtor cultural, Porto Alegre) e Marcos Varanda (fotógrafo/ produtor cultural, São Paulo). As fotografias na exposição e os cidadãos par lham um espaço que é, de fato, um “aqui” e um tempo que é, sem dúvida, u m “a g o ra ” v i v e n c i a d o s e s p o n ta n e a m e n te e c u j o comprome mento recíproco acaba por fazer com que as imagens fotográficas se remetam uma para a outra sem mediação, a não ser, exatamente a do nosso olhar, esta talvez a grande qualidade da “Street Expo Photo”. Em vez de criar menos objetos de sedução visual, a fotografia que vemos expostas relacionam, mediam e projetam significados. Na exposição o significado final de qualquer imagem ultrapassa a fotografia; ele redireciona nossa consciência para o mundo e a nós próprios ao permi r uma sensação de iden dade e vida. A Arte significa va faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados. Na verdade, essa é a sua grande missão. A exposição “Street Expo Photo” é a mais importante e impactante exposição ar s ca “open space” de 2018 em Porto Alegre.

Exposição “Street Expo Photo”. Ocorrida na Escadaria Viaduto Otávio Rocha,Porto Alegre, de 10 de novembro de 2018 a 10 de dezembro de 2018 Criação e Produção: Marcos Monteiro. Curadoria : Marcos Monteiro e Marcos Varanda. Fotos Ar go: Marcos Monteiro.


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STREET EXPO PHOTO


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ARQUEOLOGIA DO CAMINHO

Leandro Machado

Artista visual Leandro Machado apresentará o livro e a exposição

Leandro Machado - Arqueologia do Caminho em quatro cidades, com o financiamento da SEDACTEL nº 26/2017 Edital de Concurso “Pró-cultura RS FAC #juntospelacultura_2” fechando ciclo em Porto Alegre na metade de 2019


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Na proposta “Arqueologia do Caminho”, de Leandro Machado, a ideia do artista visual era buscar espaços periféricos, outros lugares na Capital que não fossem tão centrais, imagens que não aquelas que a mídia normalmente evoca. Na visão de Leandro, andarilhar tinha como objetivo desconstruir o que se acha que se conhece profundamente. “Parece que as pessoas da cidade são somente aquelas que circulam pelo Centro, Cidade Baixa, Moinhos de Vento... Porto Alegre é tão mais ampla, vasta, poderosa! São lugares periféricos, mas – ao mesmo tempo – outros centros. Fui a lugares que desconhecia, outros que só sabia pelo nome, aquilo que estava escrito no cabeçalho do ônibus, como Itu Sabará, Sarandi, Vila Elizabeth, Retiro da Ponta Grossa, Lami... É uma outra Porto Alegre, às vezes até mais bonita que esta que a gente conhece”, conta. O projeto que tem o nanciamento da SEDACTEL nº 26/2017 Edital de Concurso “Pró-cultura RS FAC #juntospelacultura_2” e produção da STEPHANOU Cultural, levará o Livro e a Exposição Leandro Machado Arqueologia do Caminho, na nalidade de promover a circulação deste produto cultural, às cidades do Rio de Janeiro/Brasil – Espaço Cultural Canto da Carambola, Montevidéu/Uruguai – Galeria Marte, La Rochelle/França – Centre Intermondes, e Porto Alegre/Brasil – Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), de dezembro/2018 a agosto/2019. No dia 8 de dezembro, o artista visual gaúcho, desembarcou no Rio de Janeiro, para abertura da exposição e lançamento do livro Leandro Machado - Arqueologia do Caminho, no Canto da Carambola, Rua do Oriente 123 – Santa Tereza – Rio de Janeiro/RJ, com distribuição gratuita do livro a partir das 18h, sessão de autógrafos e um bate-papo com o público presente sobre o processo de criação (prática que será realizada em todas as cidades contempladas). O projeto visa dar voz a essas pessoas, a esses lugares, conhecer e trocar. No cotidiano, em geral, nossas rotinas têm um traçado pré-denido, sempre parecido, conforme aponta o artista. Foram realizadas caminhadas pela Zona Norte de Porto Alegre, iniciadas em dezembro de 2015 (duas vezes por semana). O fotógrafo Paulo Corrêa e Leandro Machado circularam pelos bairros IAPI, Leopoldina, Cohab Rubem Berta, Parque Santa Fé, Sarandi [Vila Elizabeth, Valão, Asa Branca, Meneghetti] e por um trecho da avenida Sertório. Neste trajeto, surgiram outras Porto Alegres [desconhecidas], modos especícos de comércio nos bairros e vilas, diferentes modos de existir, territórios negros, comunidades de resistência. O artista atentou para a presença dos chalés, os condomínios em número crescente, evidenciando as questões de controle e segurança. Entre as estradas, caminhos, praças, apareceram nos registros manifestações das artes visuais, o protagonismo do meio ambiente (plantas, ervas, bichos, córregos, esgotos, valões), o lamento da ausência do poder público... O projeto foi apresentado pela primeira vez em 2016, no Atelier Jabutipê, na época nanciado pelo Fumproarte da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. Após os lançamentos nas cidades do Rio de Janeiro, Montevidéu e La Rochelle, o projeto retorna à cidade de origem, Porto Alegre, no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS) para apresentar novamente o projeto e as vivências que o artista experimentou nestas novas cidades.


penso poder mover aquelas tardes consternadas

poesia de


Quando os diabos eram loiros «Correio do Colono»

Marcos Francisco Reimann Era uma vez uma cidade em que todos os habitantes eram pecadores, mas usavam nomes de santos e anjos... “Quando os diabos eram loiros”, de Marcos Reimann, é um romance em que o personagem principal é jornalista, a exemplo do que ocorre em “Número Zero” de Umberto Eco, “Exclusiva” de Annalena McAfee e “Furo” de Evelyn Waugh.

E-BOOK

Porto Alegre | Brasília | Passo Fundo | Alegrete

Conheça os outros e conhecerás a mesmo! Nele, um jovem estagiário secundarista é convidado a trabalhar na reportagem. Do ponto de vista pedagógico é uma receita de como não deve ser feito um jornal, tendo em vista que os profissionais são totalmente envolvidos pelos fatos, além de distorcê-los. Na Era da Internet essas relações de envolvimento e distanciamento merecem ser especialmente discu das. Nada é o que parece ser, como nas redes sociais!

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mann

Quando os diabos eram loiros

LIVRARIAS EM

Tudo isso pode ser feito com humor, ironia e acumulação de conhecimentos históricos

Marcos Francisco Reimann

LOJA VIRTUAL

Mas, ao contrário do que ocorre nos romances citados, esse está ambientado no interior do Rio Grande do Sul, no universo de uma aldeia, em que são vizinhos, pessoas de diferentes origens.

O texto ficcional também oferece a oportunidade de confrontar os dilemas é cos que os jovens jornalistas vão enfrentar, as opções colocadas diante das publicações e as relações dos meios de comunicação com os poderes ins tuídos.

ancisco Rei Marcos Fr


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uminos

"Há uma divindade sublime na música, que eu acredito que possamos nos conectar, no momento em que atingirmos o pleno respeito sobre ela. Um momento de entrega e comunhão, em que as vaidades se calam e cada músico deixa de ser simplesmente um instrumentista, para ser uma ferramenta fundamental para atingirmos a música na sua plenitude. Em Luminoso eu me realizo como ser humano e meus sentimentos mais profundos foram registrados em 15 faixas, em que o coração sempre foi o alicerce."

Elias Barboza


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Nos dias 14 e 15 de dezembro o premiado bandolinista Elias Barboza apresenta seu mais novo CD Luminoso, ao lado de seu grupo Elias Barboza Quinteto, formado por Elias Barboza no bandolim, composições e arranjos, João Vicente violão sete cordas, Matheus Kleber acordeon e piano, Fabio Azevedo cavaquinho e Fernando Sessé na percussões e sampler. Luminoso é um trabalho de música instrumental em que o conceito principal é composto por músicas no formato de “canções instrumentais”. O ouvinte ao escutar as músicas, sente que elas perfeitamente poderiam ter letras e pode facilmente cantarolar as melodias. O trabalho parte do choro, mas contempla ritmos de todo Brasil. Gêneros como o baião, frevo, afrosamba, xote, com as influências de compositores como Dominguinhos, Baden Powell, Dorival Caymmi, foram inspiração para o bandolinista, se somando com as composições dentro do gênero do choro, onde Jacob do Bandolim, Pixinguinha e Radamés Gnattali, sempre foram referências para Elias. Os músicos que formam o Quinteto se encontram em uma perfeita sintonia, não só musical, mas também de empatia e amizade. Cada um tem características específicas que somadas resultam em um som moderno, contemporâneo, mas com o fundamento dos grandes mestres da música brasileira. O show ainda conta com as participações de Ju Rosenthal e Gabriel Maciel nos vocais, Eliseu Rodrigues clarinete, Lucian Krolow flauta, Ronaldo Pereira sax tenor, Mathias Pinto violão sete, Guilherme Sanches e Giovanni Berti nas percussões. Em 2014 o choro Luminoso, de Elias Barboza, foi o grande vencedor do festival IV Moenda instrumental, em Santo Antônio da Patrulha/RS e João Vicente ganhou melhor instrumentista. Em 2018 o samba Quando Samba Chora, de Elias Barboza ganhou Melhor Música Instrumental, Melhor Arranjo e Melhor Melodia, no festival Musicanto em Santa Rosa/RS. Ainda em 2018 Matheus Kleber ganhou Melhor Instrumentista na Oitava Moenda instrumental, em Santo Antônio da Patrulha/RS.

Elias Barboza é o bandolinista do Quinteto, o compositor, arranjador e idealizador do projeto. Toca um bandolim cheio de dinâmicas e ornamentos influenciado pelo mestre Jacob do Bandolim.

Fabio Azevedo é o cavaquinista do Quinteto. Seu avô foi um dos fundadores do Clube do Choro de Porto Alegre, junto com o avô de Elias. Fabio traz ao trabalho a vivência do samba, com uma linda palhetada.

Matheus Kleber é o acordeonista e pianista do grupo. Ele é o solista que divide os temas com Elias. Tem uma sensibilidade única e uma linha de improvisação de muito bom gosto. Fernando Sessé é o percussionista do Quinteto. Trabalha com diversos estilos musicais e com uma grande variedade de instrumentos percussivos. No Quinteto seu ilú, pandeiro, sampler, cajon com vassourinhas e pratos são destaque. Ele acompanha sempre atento ao solista, caprichando em dinâmicas e nuances.

João Vicente Macedo é o violonista sete cordas do Quinteto. Toca um sete cordas de nylon elegante, influenciado pela escola de Raphael Rabello. Traz ao trabalho muitas contribuições pessoais de arranjo.


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A obra disruptiva e dissonante de

Por Paulo LeĂ´nidas

Fotografias de Vanderley Soares e Nilton Santolin


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Certamente cada um de nós carrega um único e vasto “depósito” mental de informações ao observarmos as telas do pintor. As nossas schematas mentais procuram nos ajudar na compreensão do mundo de Sergio Stein onde sua pintura propõe-se a reorganizar nossas percepções e confirmam amplamente a importância da imaginação como instrumento de conhecimento.

A experiência

imaginária da obra de Sergio Stein revela estruturas do real inacessíveis quer à experiência dos sentidos quer ao pensamento racional. O olhar colocado em suas obras, ou o impacto do Outro em nosso olhar, como afirma Jacques Lacan, desencadeia uma série de associações incongruentes ou coerentes em nosso espaço cerebral, que nos tornam afetados por suas representações e símbolos. Assim como Lacan, certamente muitos teóricos passaram pela questão do olhar e das diferentes dimensões expressas através desse canal da realidade objetiva para a realidade subjetiva. De resto, o olhar não é apreensível pela visão. No olhar, a focalização reporta-se, muito subjetivamente, ao lugar do Outro e isto se acentua nos quadros de Sergio Stein. O que está em jogo nas suas pinturas é, ao mesmo tempo, um quiasma, uma reversibilidade e imbricação entre visão e olhar. O olhar, que é atravessado pela pulsão escópica. Esta pulsão é um processo dinâmico que consiste numa pressão ou carga energética que faz o organismo tender para o objetivo das telas. Esta representação escópica, é eletivamente esse olhar insondável, angustiante e às vezes insuportável do Outro nas suas telas, um buraco negro no nosso campo visual, semelhante à lacuna aberta à castração. Telas que, tudo de uma vez, a reação e a rejeição da busca do gozo proibido e perdido é o objeto que simboliza ou encarna a falta original Não dispondo de presença palpável e empírica, antes mental, sua obra estabelece um olhar dotado de um nítido estatuto fantasmático.. A obra fascina pois há, na sua dissimulação e na sua ausência, uma força estranha que força o espírito a se voltar para o inacessível. O olhar se desprende do órgão e passa a ser vislumbrado através de uma nova possibilidade: dos olhos do inconsciente.


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A dissonância visual nas obras de Sergio Stein provocam

um estado de tensão

psicológica igual ao causado quando se experimenta uma disparidade entre o que se espera ver e o que realmente se vê. Este conceito está relacionado a um fenômeno bem conhecido na psicologia social chamado dissonância cognitiva, é o que acontece quando percebemos uma discrepância entre nossa percepção e o nosso comportamento. Uma parte importante da motivação humana no dia a dia é encontrada na redução da dissonância, na medida em que as pessoas, normalmente, não escolhem viver em uma tensão psicológica. Em termos psicológicos, tal estado é aversivo, para ser evitado ou resolvido. Quando olhamos para a obra de Sergio Stein talvez nossa primeira reação talvez seja "o rosto do homem não deveria aparecer mais reto?” ou qualquer outra observação semelhante. Há algo radicalmente "errado" nessa pintura, ou as leis da física foram subitamente suspensas. O que isso significa? Na verdade, estamos experienciando uma dissonância visual. Quando se olha para suas pinturas, um tipo de dissonância visual se desenvolve no sentido de que o que "se vê" é contrário ao esquema daquilo que “esperamos ver”, e que isto faz parte de nossa experiência acumulada no mundo. As pinturas do artista ao serem vistas por uma pessoa, esta experimenta certamente a sua inconsistência interna e tendem a tornar-se psicologicamente desconfortável e, portanto, também motivada a reduzir a dissonância cognitiva, fazendo mudanças para justificar o comportamento estressante, seja adicionando novas partes à cognição que causem a dissonância psicológica ou evitando ativamente situações e informações contraditórias que provavelmente aumentam a magnitude da dissonância cognitiva. A obra de Sergio é exemplar em sua desequilibrante provocação e o tornam um dos maiores artistas em atividade. A sua trajetória deste grande e genial pintor representa a essência da luta do indivíduo contra as circunstâncias como o eterno problema dos antigos gregos, nas figuras de Prometeu e Ulisses, na batalha de sua vida contra os deuses.


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LEI DO PREÇO FIXO DO LIVRO E OUTRAS IDEIAS EMBALADAS Por Marcos Reimann

O Natal vinha chegando e as grandes editoras e livrarias manifestaram o desejo de ganhar um presente: A chamada “Lei do Preço Fixo” dos Livros. A ideia não é exatamente nova, mas recebeu um embalo. Circulando por Brasília, o Sr. Ber nardo Gurbanov, da Associação Nacional das Livrarias – ANL, foi entrevistado do Correio Braziliense. O tema foi assunto da Folha de São Paulo (Tendências e Debates, 15.12.18), com várias intervenções, e a “crise da cultura do livro” apareceu no “Valor” (José de Souza Martins, 14.12.18). A “Carta de Amor aos Livros” do Luiz Schwarcz, do Grupo C o m p a n h i a d a s L e t r a s, c h o r a a possibilidade de desempregar pessoas e clama pela salvação dos pequenos livreiros. Putz. Os pequenos nem sabiam que tinham e s s e s a m i g o s s e c r e t o s. E a m i g o s importantes, vejam só! Parece algo bem articulado, mas possui poucas chances de aprovação. Lembrei, imediatamente, dos tempos do Sarney, quando a polícia federal saiu pelos campos, caçando bois, dado o desaparecimento da carne tabelada.

A situação pode não ser tão grave assim ou é, muito pelo contrário, um excesso de oferta mal colocada, fora dos lugares. A movimentação das maiores livrarias e dos grandes editores é apenas um ponto, entre muitos, da crise do livro. Parece mais um enfrentamento pontual do avanço mercadológico da Amazon, dentro da “guerra dos descontos”. Ainda assim, a gigante do ramo não resiste à novidade. Trabalha com um volume de títulos bem maior e está se dando bem na Alemanha, com preço fixo e tudo. Vivemos na fantasia, na retórica. Nada é o que parece ser. Belos argumentos: Fo m e n t o a o c o m é r c i o d o l i v r o , acessibilidade aos leitores, igualdade de condições, proteção do emprego, ampliação da “diversidade” bibliográfica (diversidade sem regionalização?) e o fortalecimento das pequenas livrarias. Só boas intenções, enquanto a competição é cruel, furiosa, com uns matando os outros à míngua. Do ponto de vista legislativo, a proposta está colocada no Projeto de Lei do Senado nº 49, de 2015, da Senadora Fátima


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Bezerra. Proposta anterior, do Deputado Augusto de Carvalho, foi rejeitada na Câmara. Reescrita, a matéria foi debatida em Audiência Pública, em 30 de junho de 2015, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Fui ler os anais do encontro e nada me convenceu dos nobres propósitos dos apoiadores, apesar das ideias interessantes e algum idealismo. Havia um aparente consenso entre os participantes e ninguém soube explicar como os pequenos seriam beneficiados. Receberiam um “pacote”? Os lançamentos teriam um preço fixo por um ano e depois seja o que Deus quiser. Duvido que, para os bons títulos e na boa hora, as pequenas livrarias seriam chamadas. Seria uma espécie de “primeiro preço” para os ricos “consumidores”, nem sempre leitores, do objeto físico ou virtual. Depois do jogo rápido, as sobras e insucessos de público e renda ficam para os outros. Novas edições só se o mercado exigir. Capitalismo puro e besta: Livro de grife e “promoção”! Não consigo detectar em que isso irá “democratizar” a leitura e ampliar o mercado e a livre concorrência no Brasil. Funciona na França e na Alemanha, mercados altamente regulados nessa matéria; não funcionou na Austrália e no Reino Unido; e, nos EUA, nem se cogita. Para que se cumpram as regras do “Preço Fixo”, seria chamado o PROCON. No Parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania – CCJ essa atribuição passa a ser do Poder Judiciário. Muito confuso, tanto na teoria como na prática! Na teoria: Em que o consumidor poderia ser prejudicado? Alguém vai vender acima do preço fixo? Ou prejudicadas se consideram as grandes livrarias, em termos de concorrência? Multas seriam aplicadas, de até dois milhões de reais, pelo PROCON ou pelo juiz, e dificilmente seriam cobradas. Quem vai executar um pequeno livreiro? Na prática, quem vai impedir que o livro tabelado seja revendido, seis horas depois, numa estação de metrô, pela metade do preço? Desconfio que a “indústria do livro” faz mais política do que comércio. E não é política no bom sentido, no mais das vezes. Alguém brincou, na Audiência Pública”, que o mercado do livro brasileiro é o que mais reúne “Presidentes”. Quantos Sindicatos e Associações os livreiros, os distribuidores e as editoras possuem? E que interesses defendem? Curiosamente, uma entidade nacional de autores inexiste. Trabalhadores e livros exibem algo em comum: “São muito protegidos”. Claro que esse aparato de “gigolôs” Raramente encontro os livros do livro está com dimensões grandes para um mercado pequeno. que procuro nas grandes Deviam usar esse poder “representativo” por uma política ampla em defesa do livro, que certamente passa pela revisão dos compromissos livrarias. Estão lá os livros também nas editoras de livros didáticos, que são o filé econômico. que eles querem vender, os Será que o livro didático não trabalha contra os livros locais e mais vendidos lá fora. Lá os nacionais? jovens, ricos ou de classe

média, encontram os livros Pelo que entendi, os grandes livreiros e editores estão associados ao cinema. Boa totalmente fora da realidade. Aqui em Brasília, os livros usados estão parte deles, de pura disponíveis nas paradas de ônibus. Aparecem jogados, no meio do propaganda, deviam ser entulho nas quadras comerciais: alguém foi vendê-los nos sebos e ficou revoltado com os preços oferecidos. Em Porto Alegre, os distribuídos de graça. mendigos ganham bibliotecas para revender nas calçadas. Bibliotecas não querem livros, professores doam acervos inteiros. Até os bibliotecários, preferem o ZAP. Nos sebos, as prateleiras estão abarrotadas e está difícil de arrancar um livro de dentro, com tanta pressão e disputa por espaço. Em Curitiba, parece que os funcionários dos sebos estão com nojo de livro. Não suportam mais. Em São Paulo, não deve ser diferente. Ninguém consegue, sequer, tirar a poeira de tantos livros. Raramente encontro os livros que procuro nas grandes livrarias. Estão lá os livros que eles querem vender, os mais vendidos lá fora. Lá os jovens, ricos ou de classe média, encontram os livros associados ao cinema. Boa parte deles, de pura propaganda, deviam ser distribuídos de graça. Autores nacionais são poucos. Há muitos, então discriminam todos. As editorasmães, com seus elevados instintos democráticos, engoliram diversas outras. O Grupo Companhia das Letras (Penguin) têm, pelo menos, dezoito filhas legítimas. No Grupo Editorial Record seriam quinze as filhotas. Na Livraria Leitura, aqui de Brasília, a gerente me informou que não aceitam livros de pequenas editoras porque já trabalham com duzentas editoras. Seria uma distribuidora só? Parece monopólio ou oligopólio, não? Há restrições à circulação de livros. Feiras que abrem inscrições e criam inúmeras exigências. Seis meses antes, já não entram mais livros nas feiras. Agarrados ao fetiche dos livros, os “donos dele” querem mais dinheiro público, livros limpinhos e cheirosos, tabelados, a serem vendidos no ambiente seleto de pessoas que possuem bons cartões de crédito, no mundo Visa, Mastercard... Na Escandinávia, os livros são recolhidos e “queimados” para que os novos cheguem ao mercado. Sacrilégio puro! Mas, se há alguém oferecendo livros velhos e sujos por dois ou três reais, porque não os recolher para redistribuição, reciclagem ou incineração? Custaria menos do que um financiamento, desses grandes, do BNDES, com fundos a serem perdidos. Se nas estações de trem da Alemanha os livros parecem ser de papel de jornal, porque não publicarmos livros bem baratos, de papel reciclável? A preços de jornais? A publicidade é agressiva na internet e não respeita ninguém. Há algo que impeça a propaganda nos livros populares? Delivery imediato de livros? O livro precisa correr atrás do leitor! Prefeituras e Estados preferem comprar novos computadores e novas tecnologias (dá mais propina, inclusive), ao invés de dotar as bibliotecas com um mínimo de atrativo. Precisamos “incendiar” as bibliotecas no bom sentido. Dá gosto de ver aquela de Curitiba! Para muitas crianças pode ser o novo lugar em que, a exemplo das grandes livrarias, o leitor pode encontrar o computador, o ar condicionado, café, chá e livros, principalmente livros! A convivência com eles é a única forma de criar leitores. Há, de fato, uma “Política Nacional do Livro e da Leitura”, mas não parece merecer sequer o status de Lei e os resultados não são visíveis.


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Estou querendo aprender sobre o tema. Mas acho que, gastar dinheiro público com fiscalização de uma tabela de preços é a pior das opções, mesmo que eles saibam como impor o funcionamento do novo “sistema”, sem precisar da Lei (se controlam o mercado, não é?). Use-se o dinheiro público para levar livros e bibliotecas para as periferias, aumentar os “orientadores” de leitura. Livros para os rincões. Livros para a nossa realidade. Regionalização, municipalização, gráficas artesanais. Livros livres de entraves, taxas e impostos (nem passarei perto da questão tributária). Temos 2 milhões de professores. Vamos colocar esse exército para marchar. Duzentas mil escolas. Todas deveriam ter uma estante ou uma mesinha de leitura. Que tal definirmos um “Ano Nacional do Livro” em que os livros circulariam livres de burocracia e os correios levariam os livros, a qualquer canto, por um ou dois reais. Um selo do livro! Dando certo, prolonga-se a experiência. Se alguns milhões de livros chegarem a um consumidor final e saírem do “mercado”, talvez tudo possa ser renovado. Novos leitores precisam aparecer, mesmo que comecem pelos livros velhos. Feiras abertas para quem quiser chegar com o seu livro, novo ou usado. Feiras de novos autores. Diversidade total. Circulação rápida. Distribuição ampla, ilimitada: livros nos cafés, nas bancas, nas farmácias, nos botecos, nas padarias, nas cantinas das escolas, nos postos de gasolina, nas agências lotéricas. Pontos de venda e doação nas Bibliotecas Públicas Municipais. Livros ao alcance da mão, do grito ou mesmo de um clique! Há muita coisa boa interditada, boicotada e engavetada por aí. Livros livres de notas fiscais, censuras e fiscalizações. O livro não pode parar e precisa sair de certas “embalagens”. Deve ir e vir, sem precisar de uma gota de Chanel nº 5.

Marcos Francisco Reimann

autor de “Quando os diabos eram loiros” e já gostou muito de comprar livros!


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Espetáculo PROJETO Vem aqui que é muito tri!

Escola Projeto comemora 30 anos com show de grandes nomes da música gaúcha


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Espetáculo PROJETO - Vem aqui que é muito tri! homenageou a música do RS, reunindo no palco do Auditório Araújo Vianna mais de vinte artistas. Hique Gomez | Arthur de Faria | Chico Saratt | Nei Lisboa | Gustavo Finkler | Nelson Coelho de Castro | Claudio Levitan | Bebeto Alves | Leo Henkin | Marcelo Delacroix | Tiago Flores e Ouviravida | Gelson Oliveira | Renato Borghetti | Antonio Villeroy | Monica Tomasi | Vitor Ramil

No dia 16 de dezembro (domingo), a partir das 18h, a Escola Projeto comemora seus 30 anos com um grande espetáculo no Auditório Araújo Vianna, que vai reunir mais de vinte artistas referenciais da música gaúcha, como Hique Gomez, Arthur de Faria, Chico Saratt, Nei Lisboa, Gustavo Finkler, Nelson Coelho de Castro, Claudio Levitan, Bebeto Alves, Leo Henkin, Marcelo Delacroix, Tiago Flores e o projeto Ouviravida, Gelson Oliveira, Renato Borghetti, Antonio Villeroy, Monica Tomasi e Vitor Ramil. O show PROJETO - Vem aqui que é muito tri! traz ao palco os músicos que já participaram do programa Encontro com o Compositor, que a Projeto realiza há 18 anos para incentivar seus alunos a conhecer, estudar, pesquisar e envolver-se diretamente com os artistas locais e suas obras musicais. Neste grande encontro musical, os músicos Nico Nicolaiewsky e Giba Giba ganham homenagens especiais. No repertório do show, clássicos, sucessos e até novidades da música popular gaúcha, que aproximam crianças e adultos. "Este espetáculo representa o resultado de uma iniciativa artístico-cultural exitosa idealizada pela Projeto, voltada à formação de plateia e valorização da cultura", afirma a diretora da escola, Neca Baldi. "Seguimos um modelo de cidadania frente à arte local que é direcionada de forma destacada às crianças, mas que alcança também seus familiares e a comunidade de Porto Alegre", explica. O programa Encontro com o Compositor, desenvolvido pela Escola Projeto, trabalha com compositores locais e de estilos variados, contribuindo para a ampliação do repertório e para a valorização da música produzida no RS. Assim, os alunos têm a oportunidade de conhecer a obra do músico em profundidade, por meio de atividades de apreciação, execução, improvisação e composição que envolvem a participação do próprio artista. Já participaram do programa os seguintes músicos: Hique Gomez (2001), Arthur de Faria (2002), Chico Saratt (2003), Nico Nicolaiewsky (2004), Nei Lisboa (2005), Gustavo Finkler (2006), Nelson Coelho de Castro (2007), Giba Giba (2008), Claudio Levitan (2009), Bebeto Alves (2010), Leo Henkin (2011), Marcelo Delacroix (2012), o maestro Tiago Flores (2013), Gelson de Oliveira (2014), Renato Borghetti (2015), Antonio Villeroy (2016), Monica Tomasi (2017) e Vitor Ramil (2018). Ao final de cada ano, o artista que participou do programa realiza um show especial, aberto à comunidade. O espetáculo PROJETO - Vem aqui que é muito tri! tem direção e produção artístico-musical de Marcelo Delacroix, com direção de produção executiva de Inês Hübner. Apoio: RBS TV, TVE e FM Cultura.


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