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Publicando Cultura JORNAL DE
ARTES
Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatura
Porto Alegre | Fevereiro | 2013 | R$ 2,00 www.facebook.com/jornaldeartes www.issuu.com/jornaldeartes
Becke & Bion Gêmeo Imaginário Por Walney Costa
A palavra é... ALterNa vO Por Djine Klein
"A Canoa Sobre o Rio Epte" de Claude Monet, é uma das obras que podem ser apreciadas na exposição "Roman smo, a Arte do entusiasmo" no MASP, em São Paulo. Mais informações em www.masp.art.br
Dostoievski Uma visita ao museu dedicado ao escritor russo Por Berenice Sica Lamas
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 2 TEATRO
Becke & Bion Gêmeo Imaginário Por
Walney Costa de Porto Alegre/RS
Peça de Júlio Conte “ O Cérebro não dói o que dói são os pensamentos. O que dói são os pensamentos.” Vou descrever aqui úl ma cena da peça, numa projeção pra além da história, quando Bion pergunta a Beck “Depois da morte, encontrou o q esperava? ” , resposta “ Encontrei ” , “ E o q foi ” ques ona Bion e Becke lhe responde ...
Martha Brito, Catharina Conte, Pingo Alabarce em Becke e Bion. Foto| Gerson Oliveira
Mas isso eu não vou escrever aqui e agora pra não acabar com a graça do suspense punk hindu q tem esse roteiro. Eu como um bom gen l colonizado encontrei em Becke , traduzido pro Brasil, uma fuga ou um atalho, da língua q fui educado a falar na escola social, pra algo poesia q não era comum encontrar nem nos bons autores q curto na minha própria língua . Também via outras possibilidades em Becke q podem sempre renovar o curso desse rio d palavras chaves e metáforas, q ele revela , numa escala crescente d descobertas, pra minha existência , q o teatro feito mestre vem me apresentando por analogia d vida e geografia d alma. Pra mim o som dos textos d Becke só não tem mas significado q o silêncio q pode ser sorvido no tempo da sua respiração, sou apaixonado por ambos e pela possibilidade figural q salta d seus cenários e personagens, pelo abismo da luz na imensidão do vazio, lá do fundo mais escuro das cenas do ser, origem e fim numa coisa só. “Eu não sou nada. Não sei escrever. Calma. Não sei pintar. Não sei tocar piano, não sei cantar. Manicômio do crânio... alguém arranque essa angus a do meu peito... Calma. ...uma coisa aqui no meu peito... e não durmo, passo a noite aterrorizado... Calma. ...tenho medo dos pesadelos, e a minha pele, parece um lagarto... Calma. ...erupções, furúnculos, cistos, quisto e espinhas Calma. Quisto, cisto, cristo, furúnculos. “ “Eu vim aqui por q me foi indicada uma lobotomia” diz Becke a Bion, assim q trocam as primeiras impressões quando se encontram. Becke tava muito quando procurou Bion e pra todos nós q temos admiração pelo talento e inteligência d Becke , rola d ficarmos estarrecidos com essa solicitação, por q da forma como é falada e atuada pelo ator sem transmi r algum po d ironia ou escárnio, faz com q a gente acredite q assim foi. Era um encontro d cobra criada, eles poderiam antever a morte viva q é uma lobotomia. Mesmo jovens, são dois caras q sabemos q são muito foda, um eu conhecia bem mais q outro mas não o suficiente, como ainda não sei o bastante , mas minha pré admiração por Becke faz crescer meu interesse por Bion , e pra quem d antemão tem uma relação inver da ou d idên co conhecimento sobre os personagens ou q ainda não tenha nenhum conhecimento sobre o tema, vai receber um monte d conteúdo ao assis r essa peça q apresenta, desenvolve e joga com toda essa historia muito complexa q é a cabeça desse bicho bem mal educado chamado homem, num baile d Arte, Psique, Éros e Thanatos do pensamento do século 20, futurista e pessimista ao mesmo tempo, num desfile d celebridades da mais alta inteligência .
JORNAL DE
Julio Conte abre as portas d e s s e contar, é um bandeirante dessa sinapse e penso q se ele quiser rará dessa questão setecentos mil mestrados e doutorados, além d outras peças e direções, pois é uma fonte sensacional, q talvez provavelmente não tenha encontrado melhor autor pra mergulhar nesse caldeirão borbulhante do q ele próprio. Fico imaginando as trocentas mil elucubrações q devem invadir a cabeça do Julio, sendo ele ao mesmo tempo médico e ar sta dessa trama q bem é diretor, frente a seu próprio espelho, um aviador da arte decolando todo dia, pra uma pesquisa sem fim e alta . Julio Conte é um baita autor teatral, ator, diretor, médico, psiquiatra, psicanalista, e por tudo isso um professor natural, tem muitas d peças d qualidade escritas q foram encenadas normalmente na seqüência do processo q as gerou, caracterís ca essa q só faz deixar mais viva a cena, pois para todos os envolvidos, o frescor das descobertas e os experimentos nascem juntos. E aqui é importan ssimo q se diga o quanto o grupo d atores e atrizes deve ter contribuído para essa empreitada d muito fôlego, pois o dialé co texto e a indicação d direção só foi possível pela dedicação e capacidade d execução q o elenco transmite a cada gesto, livres da trama percebemos a valorização mutua e recíproca da direção e do elenco, numa bela troca d generosidade, coisa q o teatro também tem pra contribuir ao modelo d ensino oficial q rola por aí. Acompanho Julio Conte, desde “ Não Pensa Muito que Dói “ , lá por 81 , e o cara nunca parou d produzir bons textos e d ensinar teatro , ele é um pensador d teatro e parece q toda sua obra conspirou pra chegar nesse texto atual q tem muitas d suas questões em pleno processo d balanço, construção do novo e destruição do q ver q não mais ser . “Enfia-se uma cânula supra orbitaria e dá-se uma pequena martelada. Ao romper ligações neurológicas do lobo frontal terminam-se todas as angús as e ansiedade “ , e isso é tudo q não acontece na peça Becke &Bion - Gêmeos Imaginários, q deve voltar a cartaz a qualquer momento, certamente num teatro perto d ! No Elenco Martha Brito, Catharina Conte, Pingo Alabarce, Cris ano Godinho, Thiago Tavares, Gabriel Ditelles. Figurino, Mirelle Ri el. Cenografia, Ana Lorenzon Ka a Picolo, Visagismo Vinicius Cardoso. Iluminação, Marga Ferreira e Alexandre Lopes Fagundes. Preparação corporal, Thais Petzold. Preparação Vocal, Lígia Mo a. Trilha composta, Violoncelos , Celau Moreyra, Pianos: Luiz Mauro Filho e Celau Moreyra. Estúdio e Técnica de Gravação, Fabio Mentz. Operação de som, Rúbia Elenn Esmeris. Operação de Luz, Alexandre Lopes Fagundes. Produção execu va, Pingo Alabarce e Cris ano Godinho. Coordenação de produção, Patsy Cecato e Cômica Cultural.
EXPEDIENTE
ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua
Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein (djineklein@gmail.com) Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Site | www.issuu.com/jornaldeartes Site |www.facebook.com/jornaldeartes CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | (51) 3276 - 5278
Colaboradores desta edição
Síndicos Profissionais
Djine Klein | Walney Costa | Bilheri | Clóvis Loureiro | Almandrade | Berenice Sica Lamas | Natália Giacomello | Sérgio Marques Teixeira Beatriz T. Balzan Barbizan | M. Conceição Hyppolito | Gerci Godoy | Dênia Bazanella | Gerson Dias de Oliveira | JSM - João do Livro | Sérgio Marques Teixeira | Jane Peixoto | Kaki Kerber | Francisco Castro | Lúcia Barcelos
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Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 3
Foto| Clóvis Loureiro
FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
A Linguagem da Fotografia Por
Clóvis Loureiro de Salvador/BA A linguagem da fotografia é a linguagem do ver. Do visto. O que, afinal, um fotógrafo expressa é o seu modo de ver o mundo. E podemos ver com mais ou menos inteligência, com mais ou menos sensibilidade, com mais ou menos originalidade, mais ou menos espontaneidade. Ver é um ato intencional e cria vo, exige vontade e mo vação interior. Geralmente os fotógrafos são pessoas que se deleitam com o ver. Ver com profundidade significa compreender. Alguém caminha por uma ampla calçada a beira mar, numa tarde serena. De repente, vê à sua frente um banco vazio, umas pedras emergindo da água e uma pequena árvore seca que, desde o ponto de vista em que se encontra, estão harmoniosamente dispostas no espaço. ( fotografia 1) Ele compreende que aquela imagem é ele mesmo naquele momento, é aquela tarde, é aquela experiência. Isto é a fotografia. A experiência pode adquirir graus cada vez maiores de complexidade, ou pode ser simples como um sorriso. E desta maneira variam as fotografias. Então tudo o que temos a fazer é, basicamente, desenvolver a nossa observação, afirmar a nossa atenção. É graças a curiosidade, à observação minuciosa e uma certa engenhosidade no olhar que se chega à percepção de imagens significa vas. Estar alerta é importante. Estar presente. Se estamos perdidos em pensamentos, a realidade (pelo menos a visível) se nos escapa dos olhos. E da câmera. A fotografia é enfim a testemunha da qualidade do nosso ver. Não vemos, porém, apenas com os nossos olhos. Podemos fazê-lo com a totalidade do nosso ser. Ver é sempre dinâmico. Reconhece e descobre objetos. Cria relações e atribui significados. Projeta nossas fantasias, evoca nossos sen mentos e provoca reações. Reagimos: fotografamos. A cada maneira de ver corresponde uma linguagem fotográfica, e a parte `a limitação da necessidade do mundo se manifestar a nossa frente, suficientemente iluminado, para que o fotografemos, não há limites para a linguagem fotográfica. Sempre inventamos novas maneiras de ver. A fotografia nasce da capacidade de maravilharmo-nos, de encontrar sen do, de deixarmo-nos tocar por aquilo que vemos. Como já afirmaram muitos fotógrafos não há nada a fazer, a não ser estar presente, estar aberto ao mundo sen r-se implicado com aquilo que se vê. Fotografia é imagem. Mas não apenas. Ela é o tempo de do, é a memória. É a evidência da luz que incidiu sobre um objeto específico, num lugar específico, num momento específico. Se por um lado isto soa como uma limitação, por outro é o próprio mistério da fotografia. Aquilo que vemos numa foto aconteceu. Às vezes de uma maneira que não sabemos como ou porque a fotografia não explica. Mas aqueles objetos e pessoas que se gravaram sobre o filme e hoje são imagens, ontem exis ram. É isso que es mula nossa imaginação. Fotografia é a linguagem do inesperado, boas fotografias não acontecem toda hora. A fotografia é um encontro. Eis o seu sabor. Um encontro entre o fotógrafo e o momento. Uma cena e o seu reconhecimento. A fotografia trabalha com o acaso e se vale da intuição. Assim se realiza o encontro. Tudo o que queremos ao rar fotografias é compar lhar nossa visão do mundo e nossa sensibilidade à vida como os outros. É como dizer: olha só aquilo! E aí está todo o significado. Não há mais nada a explicar. Nada a acrescentar. O resto é por conta de quem observa a fotografia. Num mundo tão inflacionado de imagens, a maioria delas arrogantes e fe chistas, quando não simplesmente sensacionalistas, por que não nos abrirmos àquelas fotografias sensíveis e reveladoras, cheias da auten cidade de quem se sente comprome do com a vida?
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 4
ARQUITETURA
Polí ca pública de cultura não se faz com editais Por
Almandrade de Salvador/BA
*O ar sta hoje: entre o 'proponente' e o pedinte*
O ar sta que passa o tempo recluso na solidão do ateliê, trabalhando, desenvolvendo sua experiência esté ca, como um operário da linguagem e do pensamento, está em ex nção. É coisa de museu. Ou melhor, é raridade nos museus de arte, que estão deixando de ser ins tuições de referência da memória para servir de cenários para legi mação do espetáculo. Às vezes, com míseros recursos que ficamos até sem saber direito: quando nos deparamos com baldes e bacias nessas ins tuições, se são para amparar a goteira do telhado ou se se trata de uma instalação, contemplada por um edital para aquisição de obras contemporâneas... O que interessa na poli ca cultural nem sempre é a arte e a cultura, e, sim, o *glamour*. Em nome da arte contemporânea, faz-se qualquer coisa que dê "visibilidade". As polí cas públicas foram relegadas às leis de incen vo à cultura e aos editais públicos. Nunca se fez tantos editais neste País, como atualmente, para, no fim das contas, fazer da arte um "suplemento cultural", o bolo da noiva na festa de casamento. Na fala do filósofo alemão Theodor Adorno: "As obras de arte que se apresentam sem resíduo à reflexão e ao pensamento não são obras de arte". Do ponto de vista da reflexão, do pensamento e do conhecimento, a cultura não é prioridade. Na polí ca dos museus, o objeto já não é mais o museu que se mul plicou, juntamente com os chamados "centros culturais", nos úl mos anos. Com vaidade de supermercado, na maioria das vezes, eles disponibilizam produtos perecíveis, novidades com prazo de validade, para es mular o consumo, vetor de aquecimento da economia. A qualificação ficou no papel, na publicidade do concurso. Esses editais que bancam a cultura são inicia vas que vêm ganhando força. Mostram ser um processo de seleção com regras claras para administrar o repasse de recursos, muito bem vendidos na mídia, como métodos de democra zar o "acesso" e a "distribuição de verbas" para as prá cas culturais.
Serigrafia | Almandrade
O ar sta contemporâneo deixa de ser ar sta para ser proponente, empresário cultural, "captador" de recursos, um especialista na área de elaboração de projetos, com conhecimentos indispensáveis de "processo público" e interpretação de leis. Dedica grande parte de seu tempo a esse negócio burocrá co, que é a elaboração e execução de projetos, prestações de contas etc., todos contaminado pela lógica do *marke ng*... coisas incompa veis com o ar sta em si, que apostou na arte como uma "opção de vida" e com forma de conhecimento, algo que exige dedicação exclusiva... Ou, pior ainda: o ar sta fica à mercê de uma "produtora cultural", para quem essa polí ca de editais e fomento à cultura é, aliás, um excelente negócio... Mais uma coisa é preocupante: e se essa polí ca de editais se estender até a sucateada área da saúde, por exemplo? Imaginem uma "seleção pública" para pacientes do Sistema Único de Saúde, que necessitem de procedimentos médicos... Os que não forem "democra camente contemplados", teriam de apelar para a providência divina, já engarrafada com a demanda de tantos pedidos... Nem é bom imaginar. Que esta praga fique restrita aos limites da esfera cultural... Na pior das hipóteses, é uma "torneira" que sempre se abre para atender parte de uma superpopulação de ar stas, proponentes, pedintes... O ar sta, cada vez mais, é um técnico passivo com direito a diploma de "bem comportado" em "preenchimento de formulário". E seu produto ficou relegado ao controle dos burocratas do Estado, e à "boa vontade" dos execu vos de *marke ng* das grandes empresas... Se o projeto é bem apresentado, com boa "jus fica va" de gastos e retornos, o produto a ser patrocinado ou financiado... se é mediano, se é excepcional, não importa! O que importa é a «formatação", a "obje vidade" do orçamento, a clareza das "etapas" e a "visibilidade", o "produto final"... Como sempre, existem as chamadas exceções, mas...
Mas nem são tão democrá cos assim. Podem ser um instrumento possível e eficiente em certos casos, mas não são a solução, é possível funcionarem, também, como escudo, para dissimular responsabilidades pela produção, preservação e segurança do patrimônio cultural. Considerando-se, ainda, a contratação de "consultorias", funcionários, despesas de divulgação, inscrição... o trabalho árduo e apressado de seleção... é tudo, enfim, um custo considerável, que, em úl mo caso, gera "serviços" e renda.
* Almandrade é ar sta plás co, poeta e arquiteto
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Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 5
A palavra é... ALterNa vO Por
Djine Klein de Porto Alegre / Viamão/ RS *
Alterna vo. De ter opção, escolher o que mais lhe convenha. Nada de tendência e temenças, sem os interesses que visam moeda. À ins tuição e que um chefe sempre manda. Palavra ALTERNATIVA não cabe a palavra amordaçada. Sem grito de horror, só o absoluto gritar Liberdades. Virar as mesas, ver aranha Cloveci Muruci tecendo o fio para própria ArTE. Tecer a casa. Há pouca coisa no dizer das gramá cas ou dizem tanta palavra para alterna va. Alterna vo mingua a explicação por uns adje vos e depois que desentendo as gramá cas e, por isso me divirto com elas feito uma criança no jardim e algodão-doce. E brinca pião, vou de sublinhar apenas uma, lá dizia a explicação: alterna vo. Alteradizo – uma mujer con su cepillo, el pelo porfiado, mientras el viento quebrantando la naturaleza de rebeldia... La mar los vía. Fiquei de asas. Mas vamos ao que a palavra não disse e eu via – de aLternA vo e que muitos lhe atribuem. Alguns nem sabem fazer poema, mas que sobre as próprias vidas vivem em versos de uma canção. De si ou do ré mi... Gosto desses fazendo um Sol em noites de trovoamentos. E gosto mais ainda de seus gestos obrando por “espaço de conforto” e, que a vida ali não tem disciplina para servidões. Meus muitas vezes injuriados poetas vos juro, suas definidas artes de não ter juízo e ir vivendo assim, ganhar o pão e permanecer ALterNa vo – isso é que é ser de ternuras pelas co dianas coisas e as outras existências das criaturas. Conquanto, vos traço palavras que mesmo nascendo de minhas vastas ignorâncias, tenho-lhes muito daquelas citadas ternuras. Até dissociaria suas existências em viver sendo aLTernatIVo – mas palavra de virar moda em mídias o ouvido bastante se cansa. Entrementes, há Alternavantes os compromissos – Alterna vo, por uma carência que pesa e que sa sfação: gentes necessitando espaço e tempo para pra car artes que o capitalismo não quer ouvir. Às Mul s os Bancos e as Estatais, as Câmaras e Senado! Vejam João do Livro – uma Garage onde acontecem Saraus e Serestas, e que o amigo enseja dias Santos ou de labutar. Um labirinto de livros onde um bardo recebe amigos e viajantes. E lá se cruzam príncipes e profetas, mulheres loucas ou pedagogas, damas recitando can gas de amigos ou violeiros. Às vezes desconsolado um rouxinol... Os Bancos e as Estatais, as Câmaras e Senado. Natalia – menina que empresta vitalidade a “Nomeando”... Aquela casa tem ginga e berimbau, meninos de África, guerreiros celebrem seus cantos que eu anseio ser Griô. As Estatais, as Câmaras?... Eliete - o “Natureza Pura” em cooperação com amigas, lá encontras Sabores e Saraus e nossos corpos e almas retornam contentes pela boa nutrição. É sempre festa para os sen dos, dos sumos na consumação, vasta lembrança de quando éramos felizes colhendo o fruto com a própria mão, num arvoredo que ficou na infância. Câmaras e Senados, não. Mas o Cláudio empresta “Café da Praça” pras tribos sem terreiro próprio, sem teto e com sonho de ter casa. Também tem comidinhas e Saraus, turismo e fes vais ondes poetas quando se despedem dizem – Até logo, amigo! Os senados não dizem nada, a voz da casa é a própria causa. Contudo em toda via há entre tantos, entrementes... E esse ALTERNATIVO, o justo suporte suportando minhas palavras desvario. Todavia e toda vida digo, Jornal de Artes – é Muruci um bruxo e seu pupilo, há quinze anos no laborar para que ilustres desconhecidos possam nas páginas dar o seu ar da graça, revelando suas vozes e artes e, que as mídias outras não lhes reparam. É de graças as labutações do Editor.
* Contato (djineklein@gmail.com)
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 6
Mercado & Consumo IMPORTADAS
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 7
CRÔNICA DE VIAGEM
O Museu Dostoievski na Rússia Por
Berenice Sica Lamas de Porto Alegre/RS *
O museu literário Fiodor Mikhailovic Dostoievski em São Petersburgo (ex-Leningrado) na Rússia, situa-se na rua Kuzhnechny, na casa em que o renomado escritor russo viveu os 3 úl mos anos de sua vida, de 1878 a 1881 , com sua segunda mulher e alguns filhos. Inaugurado em 12 de novembro de 1971, no dia dos 150 anos de seu aniversário. Expressa sua literariedade, prisão e exílio. O ambiente do apartamento respira seriedade, transmi ndo uma sensação de respeito e louvor. O silêncio e o recolhimento. Simplicidade e despojamento. Poucos visitantes de cada vez. Divide-se em 2 seções: literário e memorial – as peças se sucedem: banheiro, quarto de dormir, quarto com brinquedos de criança, sala de jantar, gabinete/escritório, cozinha. Através do mobiliário, objetos, artefatos, pertences, papéis, desfila sua história – talento cria vo, prisão (a visão da corrente enferrujada que prendia a perna é tenebrosa), exílio – sua genialidade literária - páginas de seu úl mo romance Os Irmãos Karamazov – que aqui escreveu, bem como O discurso sobre Pushkin. Às vezes dormia no sofá do gabinete. Seus pertences – capote, chapéu no cabide, guarda chuva, porcelanas, móveis, objetos de decoração e de uso co diano – escrivaninhas, cadeira de balanço, quadros, candelabros, relógios, porta-retratos, porta-lápis, jarra de lavar-se – e papéis referentes à sua vida desfilam ante nossos olhos trazendo uma memória an ga e suscitando imaginações. É possível conhecermos um pouco mais do escritor e da pessoa. Observa-se em cima da mesa de trabalho a pena com que escrevia protegida por vidro. Vê-se o quadro “Nossa Senhora das Dores”, verdadeiro ícone para o escritor. Percebe-se que as fotografias de família e amigos eram muito valorizadas. Aparecem referências as suas viagens à Europa e cidades onde esteve: Berlim, Paris, Roma, Florença, Londres, Colônia, Dresden e seus romances traduzidos em diversas línguas no mundo. Também são mostrados trabalhos em artes plás cas: bicos de pena, aquarelas, desenhos, caricaturas. Podem-se intuir seus tormentos. Ali perto, nas proximidades da Praça Sennaya – de grande simbolismo para ele – uma casa de esquina é considerada “a casa de Rasholnikov”, o famoso personagem protagonista de “Crime e cas go”, também um romance lapidar e profundo do grande escritor russo. Há um vídeo muito lindo e expressivo nas imagens, mas infelizmente o áudio somente no idioma russo. A aparelhagem moderna foi doação do governo norueguês. Há material explica vo plas ficado disponível em russo e inglês. Neste museu ainda é possível escolher excursionar a lugares picos referentes a Dostoievski em São Petersburgo. O museu toca a sensibilidade, a visita emociona, aproxima o visitante ao tempo do escritor, deixando o espírito um tanto reflexivo. Um sen mento de nostalgia, admiração e quase reverência. O mesmo que sen mos ao ler suas páginas. i
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* Berenice Sica Lamas é Psicologa e Escritora
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Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 8 ARTE
Muvuca de Artes e Saberes Por
Natália Giacomello de Porto Alegre/RS
Luiz Câmara Cascudo comenta que vê a cultura popular, ou folclore, como aquela parte dos conhecimentos e prá cas culturais que, de tanto usufruto do povo, despreza-se - no bom sen do - ou simplesmente é esquecido ou se ausenta o autor.
Cloveci Muruci
A oralidade, tão em voga hoje em dia num momento onde se tenta a valorização do negro e indígena, é marca da cultura popular que sobrevive e sempre sobreviveu aos registros escritos. Se este úl mo tem um caráter descri vo, factual e imortal – pois faz seu objeto sobreviver à própria existência material - , a oralidade nos joga para o lado daquilo que só sobrevive porque alguém aderiu também àquela iden dade, que canta, dança, pensa e come daquela forma. A educação pela oralidade é diferente do que acontece na grande parte das escolas formais. Não se aprende a dizer "muito obrigado" porque o professor mandou, mas porque alguém importante e confiável te falou que dizer "muito obrigado" é uma maneira íntegra e sábia de apreciar ou até mesmo de discordar do outro. Vale salientar o quanto pelejamos para nos entregar à confiança de alguém. Ah, a confiança e tantos outros bens são que nem a alma, não se pega, não se agarra, mas se sente e tem o poder da ascensão. Num momento histórico onde o poder de consumo alterou nossa maneira de nos relacionarmos com as coisas, natureza e o outro, a cultura popular existente e resistente nas iden dades fortes de religiões, festejos, povoados rurais e urbanos ao meu ver mantêm acessa a chama do que gostaria, aqui, de chamar de sensação de comunidade. Pois só em grupo, em comunidade, ou seja, com uma iden dade comum é possível haver cultura popular. A cultura popular é feita junto. Mais válido e interessante do que a existência de um autor é a execução de uma obra em coro num somatório onde cada voz transpõe um fazer, uma música, uma canção para um lugar comum de alegria onde figura-se o paraíso da união. Acho que isso explica porque as danças circulares são muito bem sucedidas. Cada qual com seu lugar na roda do mundo e com o tempo e momento de brilhar num centro que a nge a todos, e isso não é exibição, é responsabilidade. É uma arte isso de escolher o po e alcance do brilho que se deseja ter. A cultura popular é da rua. Não se compra ingresso, mas recebe-se convite, colabora-se, contribui-se. O coro canta, as pessoas dançam numa festa em que existem dois grandes espetáculos: o do ar sta e o do público. É uma su l diferença se compararmos as festas populares – seja do bumba-meu-boi, seja a da bergamota! – com os shows da Madonna. A Madonna não se importa se você está dopado num show dela, por que ela nem consegue enxergar você! São diversas as formas desenvolvidas nos úl mos anos que visam resgatar os sorrisos sinceros e saudáveis de homens e mulheres de toda e qualquer idade. A economia solidária, as tecnologias sociais, o vegetarianismo, os cole vos, a permacultura, e tantas outras. Sei que parece propaganda de creme dental, mas ainda não encontrei medida tão certeira para dis nguir o bom e o mau quanto a apreciação de um sorriso sincero e saudável, pois é isto que me faz diagnos car, no silêncio das palavras, uma fala forte que soa algo como "minha vida está dando certo!".
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Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 9
Presto - Espaço Livre de Música abre inscrições para oficinas A PRESTO Produções e Promoções Ar s cas inicia as a vidades de 2013 com a abertura das inscrições para as oficinas oferecidas pelo Espaço Livre de Música. Os interessados podem optar por Técnica Vocal, Canto, Violão (clássico ou popular), Piano, Teoria e Percepção musical, e também pelas novas oficinas de Acordeon, Flauta transversa, Saxofone e Violoncelo (iniciantes).
Aquarela| Cloveci Muruci
CONTO
Escarlate Por
Sérgio Marques Teixeira de Porto Alegre/RS
Três dias sem vento. As baterias estão no fim. Se não ventar, esta noite eu fico no escuro. O João-debarro pousa imponente no alto de uma haste do gerador. Ele que não se atreva em fazer casa ali. Ao primeiro sinal do minuano voa pássaro, casa e ninho para todo o lado. A tarde é mormacenta de ar parado, sem rádio, sem televisão, sem telefone, e o mais grave de tudo sem computador. Tinha duas opções: Ou assisto ao melhor espetáculo da terra ou vou para o bilhar. No bilhar eu não vou tão cedo. Da úl ma vez que es ve lá foi só para me aborrecer. Assim, vou tomando as providências para assis r ao grande espetáculo. Está quase na hora do show. Apresso-me com a água do chimarrão, e levo também a palha para enrolar o baio. Aposto que nunca viste como é enrolar um baio. Um dia mostro a você como se faz isso. Tudo arrumado no cepo. Tive pena da árvore quando foi cortada. Meu vizinho derrubou uma “Orelha de Macaco” com mais de oitenta anos. Precisava de dinheiro e cometeu este crime ecológico. Deu-me de lembrança este cepo, foi só o que restou daquela árvore maravilhosa: Um cepo com oitentas raias. Mas tem sido bastante ú l. Com meio metro de altura e com um diâmetro de quarenta cen metros é uma perfeita mesa de centro. Mas para mim não fica no centro da sala e sim na ala oeste da área. Ao lado da cadeira de balanço. É ali que coloco a garrafa térmica, as palhas, o canivete, o amarelinho, e tudo o mais que vou precisar para assis r ao espetáculo. Não adianta pressa. O show tem hora marcada. E o ritual tem que ser cumprido passo a passo. Começo por colocar erva na cuia. Tudo tem que ser feito lentamente. Com muita calma. Mas esta erva é uma coisa por demais deliciosa. Pena não ter com quem dividir. O mate cevado a dois é muito mais gostoso. Então descanso a cuia no suporte e me entretenho com o baio. Vou picando e esfarfalhando o fumo na palma da mão. Corto tudo bem fininho. De vez em quando dou uma espiada no céu. Não posso me descuidar, se me distraio, perco o show. Lá no alto um rabo de galo nge suas penas de amarelo. É o sinal. É assim que a coisa começa. Retorno ao mate, e sorvo o néctar da tranquilidade na hora do ocaso. Animais de todas as espécies conhecidas ou jamais vista desfilam na abóboda azulada. Tem camelos, tem elefantes, tem cavalos, galos, pombos, tem até gente passeando. Todo é muito branco no início, tudo é muito fofo, tudo é gigantesco. O milagre começa a acontecer pelos pés destes bichos e pessoas. Primeiro acontece com os que estão no painel mais acima. Ficam amarelos. Depois a cor toma conta do corpo inteiro. Na sequência tudo fica âmbar. Parece que ficam alvoroçados com a nova cor e começam a se transformar em outras figuras. Gente vira bicho. Cavalos viram Centauros e depois perdem a parte animal e viram gente de novo. Fizeram isso quando eram brancos e estão repe ndo tudo agora na cor Âmbar. Mas o âmbar não dura muito. E já começam a ficar dourados. Uma delícia estas cores. Dourados. A água do mate chega ao fim. Ouço o roncar da bomba puxando as úl mas gotas. Coloco mais água na cuia sem me despender das cores no céu. Mas o dourado também se vai. Num instante ficam avermelhadas e con nuam se transformando. Um casal de namorados passeia de mãos dadas. Parecem figuras da an ga Atenas. Seriam Deuses? Já ficam escarlate, a cor do amor; A cor mais vibrante. A cor do pecado. Vai ver é por isso que eles se perdem no horizonte. Acho que foram se amar, pois se esconderam por trás do monte. Há! Que inveja me dá. Os demais protagonistas do show estão ficando escuros, estão perdendo o brilho e a cor. O céu está se snando de negro. Ainda espero que uma estrela apareça. Vã esperança. Nada de estrelas. Uma que fosse, só para dividir o chimarrão. Nada de estrelas. Só a escuridão plena e um vazio profundo. E o mate que era o mais doce do mundo se torna amargo num instante, num segundo. Pudera! Um fio de lágrima rolou para dentro dele e eu nem notei.
Fernando Ávila, professor da oficina de Acordeon, é integrante do Quinteto Persch e, segundo ele, não é necessário que o aluno tenha qualquer conhecimento prévio. “O interessado em aprender a tocar este instrumento só precisa ter vontade e fazer isto porque gosta da sonoridade do acordeon”, esclarece. “O aluno aprenderá a executar um repertório variado escrito originalmente para este instrumento, assim como adaptações, desde a música regional do Rio Grande do Sul, passando pela música popular brasileira e gêneros de outras nacionalidades, explorando a versa lidade do instrumento”. Para mais informações, o contato pode ser feito com a PRESTO Produções e Promoções Ar s cas, pelos telefones (51) 3037-7784 e 9278-5967, pelo email presto.arte@gmail.com.br, pelo site www.prestosl.com.br.
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 10
vida ao verso
O Jornal de Artes abre espaço em duas páginas onde estarão as produções do Grupo diVersos e outros amigos, e os autores de Viamão, para nossos leitores terem contato com um universo maior da nossa produção literária. “É preciso expor a mercadoria”, enfatizou outro dia Bertolt Brecht, explicitamente. É nosso dever mostrar na prateleira nossos objetos de arte. A editora de literatura, Djine Klein estará encarregada de trabalhar junto a esses autores, e descobrir o melhor achado, um pequeno diamante junto a peneira de algum descuidado poeta , e trazer do fundo do rio a tímida criação. Boa leitura.
POESIA
Bodas de esmeralda Por
Beatriz T. Balzan Barbizan de Porto Alegre/RS
Na tapeçaria da vida O des no nos escolheu Dois fios entrelaçados Na trama que Ele teceu Teceu flores e frutos Tempestades e bonança Ponto a ponto nos tornando Ora dor, ora esperança Dobrou nossas vontades Alinhavando provações Teceu rugas, desteceu vaidades Pespontando as ilusões Teceu amor e colorido Tornou-nos um só querer Após 40 anos vividos Já não dá pra destecer
Mo vação Por
M.Conceição Hyppolito de Porto Alegre/RS
Tu és o inefável O ENORME, o sen mento Que nasce no coração da gente Como brotando do ser Mesmo por um não ser, De uma vivência INCERTA E da pressão que nos cerca E que nos faz te desconhecer... TU PODES ESTAR PRESENTE No meio da romaria que grita por ANISTIA E que segue, sem saber Se pode ter ou não ter Um prato farto na mesa?... Tu podes estar presente No meio dos flagelados Dos ricos, dos condenados Dos homens que tem poder?
POEMA EM PROSA
Lágrima. Por
Dênia Bazanella de Porto Alegre/RS
Célula sódica não colorida. Ardida. Fragmento líquido em forma de gota. Gota que não se esgota. Que escorre na face. Prova de dor. Atestado patente de emoção latente. Fluindo lenta, costuma emulsionar profundamente os lenços dos amantes. Dos sofredores. Da mãe da noiva. Na língua, sabe ácida e salgada. Duvidosa prova de amor. De men ra, quando jaz na pele humana dos crocodilos. Costuma desaparecer silenciosa na porosa super cie da pele. Água mágica que brota dos olhos, onde parece viver. Ainda fala, quando tudo já silencia. Não é prova de coisa alguma.
E do VÍCIO que nos consome? Das feridas e das dores Do parto de um novo homem Que nasce pra se perder?... Tu podes estar presente No grito de uma MASSA? Que no sufoco se arrasta, Sem saber como agir, Sem saber como fugir, Sem esperança de GLÓRIA Pois quem a tem, na desforra Guarda a mesma pra si... TU PODES ESTAR PRESENTE???
Apoio Cultural :
JOÃO DOSLIVROS
Baú Perfumado Por
Gerci Godoy de Porto Alegre/RS
Na caixa pequena, desbotada um tesouro guardado, sem chave repousa no meu armário sem aniversário nem vela melhor que ninguém lembre não tem anos, só tempo algumas pétalas quebradas retratos esquisitos e um cheiro branco de saudade das coisas que pensei e não escrevi. CONTO
Men ras Por
Gerson Dias de Oliveira de Porto Alegre/RS
Na repar ção era considerado alegre e lhe creditavam noitadas e festas intermináveis, porém sua vida pessoal era um mistério, conhecida apenas por histórias contadas ao grupo. Visitas ao seu apartamento nunca permi u, pois dizia ser um espaço digno apenas de suas prezas. Porém foram tantas as perguntas e dúvidas levantadas, que descuidadamente esqueceu, sobre a cadeira, um pacote embalado como presente, contendo roupas femininas. Assim os anos passaram. O tempo ngiu seus cabelos de branco e as histórias tornaram-se menos freqüentes, porém mais detalhadas. Em sua ficha funcional, não exis am notas sobre atraso ou faltas, mas um dia faltou durante uma semana e quando o encontraram era apenas um fantasma sentado, frente a uma boneca, em seu apartamento, segurando um maço de cartas, por ele escritas e a si mesmo endereçadas. Quando os médicos chegaram para o levarem, um silêncio doloroso a ngiu a todos, ao verem-no despedir-se da boneca jogandolhe as cartas, enquanto ela, rígida e fria olhava o nada, frente à parede branca.
Viamão ma
iljart e
co m
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 11
Cultural
Espaço Interior Por
il. s@gma
Feranda Blaya de Viamão/RS Eu sou essa casca
Com a qual as pessoas estão acostumadas POESIA
Mas também sou essa densa massa interior
Soneto Absurdo Por
JSM - João do Livro de Porto Alegre/RS
Que quase ninguém conhece
Gesta Heroica (poema épico)
Nem quem me conhece há muito Nem meus leitores mais an gos
Por
Baltasar Molina - ALVI de Viamão/RS
Tem dias que flutuo e em outros me sinto soterrada E as duas sensações são verdadeiras
Eis um poema com sabor de vinho. Embriagado. Só de amores feito. Pois, sem autor, ele se fez sozinho, Com as entranhas do seu próprio peito. Eis um poema construído ao jeito De oportunas aves de arribação Em voo cego, num caminho estreito, Sabendo incerto o lugar que vão
Transcorria o século dezoito Quando o sul sacode A mansidão do pampa imenso E o gaúcho em libre arbítrio E rebeldia pega em armas.
A vida é uma experiência solitária E é assim com todo mundo As outras pessoas da vida da gente São importantes e necessárias Mas são outras pessoas
São centauros, intrépidos. Valentes, homens, poncho e lança. Num galope libertário Rumo a Viamão Apequenam a distancia.
Acho que é assim para todo mundo
Eis um poema, que sem rumo certo Vai se espichando pelo céu aberto Buscando o curso para um poemeto Eis um poema que sem mais espaço Tropeça e para, por não ter compasso Da derradeira linha de um soneto.
Ser social Por
Francisco Castro de Porto Alegre/RS
Estou rebelde! Dizem que o ser humano é um ser social. Quando ele se encaramuja, dizem que ele está out, Quando ele busca relacionar-se, dizem que é louco, Quando ele não faz nada é preguiçoso. E quando faz alguém feliz, descobre que se enganou. Estou rebelde!
Dúvida ou Divida? Por
O sol reflete na aresta dos metais O minuano assobia na ponta das lanças Ecoando no coração oco das taquaras.
Malabarismo
Para trás sobre a relva Ficam os már res Heróis sem nome La na frente se ascende A chama crioula da esperança
Por
Jane Peixoto de Viamão/RS Meço as palavras
E o pampa que foi verde Veste-se com a cor de sangue amanhecido Qual flor de cor ceira e frutas de pitanga. Não nham lugar onde morrer, Por rio grande, tanto dava Cair no cume de algum cerro Na grota ferido em emboscada. Ou também! Pisando o sangue amigo Peleando nas trincheiras. De Viamão em cruz das almas.
Dobro a língua Conto os passos Engulo sapos Tomo medidas Viro a esquina E o mundo con nua De pernas para o ar.
Por isto e que hoje os poetas Empunham a caneta como lanças. E acendem os candeeiros da historia Com o clarão desta gesta na lembrança.
A palavra
Kaki Kerber de Porto Alegre/RS Por
Lúcia Barcelos de Viamão/RS
Dizer sim talvez não Não ter certeza do não Talvez sim Correr busca encontra procura Talvez sim Encontrar para o amor Talvez não Simplesmente encontrar? Talvez sim
Apoio Cultural :
Café da Praça
O ponto de encontro da Cultura
Curvo-me sobre a tarde, recolho ecos do rio que passa em teus olhos para compor os poemas. Os girassóis inclinam-se com seus dilemas de ver morrer a luz solar, e as borboletas, pairando no ar, saboreiam as noites. Há um traço leve nas horas! A palavra é tão pesada: não consegue expressar!
Porto Alegre |Fevereiro | 2013 | ARTES | 12
Vetorização do retrato de Fiódor Dostoiévski Por
Clauveci Muruci de Porto Alegre/RS