Outubro | 2014

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JORNAL DE

Artes plás cas | Cênicas | Cinema | Música | Literatura Porto Alegre | Outubro| 2014 | R$ 3,00 Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartes Facebook |www.facebook.com/jornaldeartes Tumblr |www.murucieditor.tumblr.com


Porto Alegre |Outubro | 2014 | ARTES | 2 POESIA EM PROSA

PARA UMA NOVELA

SONÂMBULA Por

I.

Djine Klein de Porto Alegre/ Viamão/RS

Situar personagens e cenários

Da extrema infância a ponto médio, caminha par ndo do bico de minha pena, Leovândalo. E foi por suspicácia que dei princípio em cria-lo sedento de aventuras. Todavia de um roteiro é preciso dizer, a gente nunca tem as rédeas do rumo. Eu até que tento, de querer uma visão antes, da coisa no papel bem posta. Mas o traçado das linhas sempre conflitam naquilo que desenhamos Foto: Mari Lopesesse Fotografia Arteser a do verdadeiro antecipadamente, roteiro. Ae não comandante dessa inú l viagem, e que no impróprio do des no, a dor de exis r é tanto minha como a do personagem. Digo a dor de Leo, aquele que será feroz e impossível, mas nada sabe sobre o monstro que há de vir. Um aparte: para uma novela sonâmbula, o livro em que Leovândalo será o herói, nada de su lezas. Leo é vândalo de herança e gené ca, ponto. E a ambientação há de começar assim com um andarilho (trapeiro velhíssimo), despertando em de um oco escavado com próprias unhas, isso num barranco bem ao sul do principal cenário, e solidão. Da face do homem recém desperto veremos, ele fascinado pelo enfrente abismo, e penso ser eu o autor. Depois termina com um menino sentado num campo de flores, despetalando uma rosa rubra com tédio. E por isso alerto, vejam e fiquem bem atentos, essa história só terá desfecho, o fim no meio quando surge o terceiro personagem. Isso porque de umas espessas realidades, os dois eles são ca vos. Haverá aquela dimensão terceira, a do deus dos absurdos, ou o monstro vigiando? E que será um ser temível, em tudo perverso porque transparente, o detentor de todo o poder sobre os dois. Uma criatura, ou en dade sem corpo nem em seu papel, a espreitá-los como uma águia faminta. Lá do alto, desde arriba com aquela envergadura de asas a calar as bocas dos dois. O velho e o valente Leovândalo ainda menino. Ou talvez a morte por ser ela mesma a dirigir essa trama? E assim tudo bem explicado um roteiro para a Sonâmbula, dirão os crí cos - é de extrema beleza o cenário, os heróis bem delineados em músculos e tormentos. Depois dirão sobre os faustos, que veram existência aqui mesmo e em outro tempo. Deles ainda adianta, um se decifrou e foi muito in: Feliz, o outro acabou por duvidar da própria coragem e o terceiro foi quem tramou de ser o velho o filho do menino, e que eram os dois apenas um rascunho no papel. Rabiscos de Occam.

JORNAL DE

ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua

Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein (djineklein@gmail.com) Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartes Facebook |www.facebook.com/jornaldeartes Tumblr |www.murucieditor.tumblr.com CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249

II.

Cada qual se olhado sobre um muro

No plano geral era um eu, ele e ninguém, isso é: o escritor, Leovândalo e Occam. Então primeiro registrei da flora a flor, da fauna bichos insetos e um lagarto ensolarado caminhava menos que rente ao chão. As formas fragmentos de corpos, restos de raízes carcaças, quase desvidados de um dia terem exis do. Os minerais rochas e tudo o mais se apresentando em ciscos de vidas. Coisas à nunca num cenário muito an go de tempo. Foi justo aí que se deu o encontro. Do primeiro era quase um fantasma dele mesmo, nomeando-se para um espelho descrente da imagem. O outro que des nado para ser o herói, é um atormentado que passa. Afagos recebe só pelos olhos de quem o fita, quando diz palavras de dar nomes a seus feitos. E o monstro por toda a jornada, esse de re na nada vê, também não fala. Mas fascina a todos e a si mesmo pelo silêncio onde trama e retorce o des no de todos. 1 - O velho escritor era de uma estrema feiura, mas com coração de menino, embora assombrado por mulheres belas. Sedento por glória - que fosse seu herói ao menos um Perseu pequeno em feitos, e se contorcia às traições do des no, chorando. 2 - Leovândalo desde menino já nha suas mágoas, precisava ser sinistro de valen a, por causa de um tataravô legí mo vândalo, primeiro herói a gritar - “A baixo o Império!” - ao saquear Roma de alguns luzentes tesouros. E Leo violado em seu desejo de paz, quando na medida de seus olhos só cabia sabiás. E um contorno molhado, um lago onde se esquivar, lento num barquinho. Se esquivar das odisseias que o escritor lhe propunha. - Ai abandono! Se não posso ser apenas de um viver com calma e ócios! Ai, abandonos!... 3 - O monstro é incompreensível. De Occam só podemos dizer que é um mistério. Mas por causa de um cachorrolouco quase que desvendamos seus fados. Foi salvo por um “penso logo existo” e se afundou na selva de uma novela impossível, pra nunca mais sair a confundir personagem com autor louco.

EXPEDIENTE Colaboradores desta edição

Almandrade | Eduardo Jablonski Djine Klein | Gilberto Wallace Ba lana | Paulinho Parada | Paulo Bacedônio | Rejane Hirtz Trein

Capa: A Dama de Azul «detalhe» Pintura de Konstan n Andreyevich Somov, pintada entre 1897 e 1900 Retrato realista em óleo sobre tela. Exposta atualmente na Galeria Tretyakov, em Moscow


Porto Alegre |Outubro | 2014 | ARTES | 03

Empresas Exibidoras

Artigo

Palavra Revelação Novo estudo sobre a obra de Luiz de Miranda é publicado Por

Eduardo Jablonski de Santo Antônio da Patrulha/RS

Será no dia 7 de outubro, terça-feira, às 19h, na Livraria Cultura (no Bourbon Country, em Porto Alegre) o lançamento do livro Palavra Revelação em Luiz de Miranda pela Editora Pradense, escrito por Eduardo Jablonski. Esta é a oitava obra do autor que trabalha como docente há 15 anos. O livro é um estudo de análise de texto, abordando as principais temá cas e os recursos literários do poeta. Eduardo Jablonski é mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, concluiu especializações em Inglês, É ca e Gestão Financeira e licenciatura em Letras. Já conquistou nove prêmios literários, entre eles o segundo lugar no Açorianos de Literatura na categoria crônica em 1997. É tradutor de inglês e espanhol, revisor de livros e atua como professor de Inglês, Espanhol, Comunicação Empresarial, É ca e Modelagem de Negócios, além de ser oficineiro de criação literária. Seus úl mos quatro livros são de crí ca sobre literatura. Além disso, foi jornalista e trabalhou por sete anos como editor nos veículos do Grupo Editorial Sinos, como Jornal Exclusivo, NH e ABC Domingo, já tendo publicado em torno de 1.300 ar gos no total, sendo 800 a respeito de literatura, é ca e educação, 500 sobre empresas e 330 em jornais diários. Já o poeta analisado em Palavra Revelação em Luiz de Miranda nasceu em Uruguaiana e está com 47 anos de carreira literária. Possui 41 livros publicados num total de 4.012 páginas impressas apenas por editoras comerciais, como Sulina, L&PM, Mercado Aberto, Civilização Brasileira, FTD, Global, EdiPUCRS e Pradense, afora o IEL. Mereceu 11 prêmios nos Estados Unidos (4), França (2), Itália (1), Panamá (2), Paraguai (2) e dezenas no Brasil. Sua poesia é elogiada por alguns dos maiores intelectuais brasileiros, que o definem como um dos expoentes da literatura não só do Brasil como da América La na e do mundo. Eduardo Jablonski Escreve para jornais desde 1990 (com mais de 800 ar gos publicados). É autor de oito livros, a maioria de crí ca literária e ganhounove prêmios, sendo um segundo lugar no Açorianos de crônica em 1997. Mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, é especialista em Inglês (Unilasalle), É ca (Unilasalle) e Gestão Financeira (Faculdade QI), além de licenciado em Letras (Unilasalle). Faz traduções de inglês e espanhol, revisão de livros e atua como professor há 15 anos.

Cinematográficas Realizam Forum em Belo Horizonte

Ocorrerá em Belo Horizonte o IV Fórum Nacional dos Trabalhadores em Empresas Exibidoras Cinematográficas, nos dias 11,12 e 13 de novembro, em Minas Gerais. A realização do Fórum é das en dades sindicais dos Empregados em Cinema do Brasil, com a presença de Jorge Ivan Rosa Barcelos, do SEECERGS – Sindicato do Rio Grande do Sul. Entre as propostas a serem discu das no Fórum, estão: A unidade dos Trabalhaores e Direção dos Sindicatos, e demais seguimentos envolvidos na categoria, ressaltando as inquietações surgidas com o aparecimento de novas tecnologias ; das questões previdenciárias e dos processos de negociações cole vas .

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Porto Alegre |Outubro | 2014 | ARTES | 4 ARTIGO

POETAS

CELEBRIDADES Por

Gilberto Wallace Battilana

de Porto Alegre/RS*

“Um grande poeta resulta na menos poé ca das pessoas. Em compensação, os poetas medíocres são absolutamente fascinantes. Quanto piores são os seus poemas, mais pitorescos parecem os poetas”. Oscar Wilde Há poetas que, mais que com a poesia, preocupam-se com as relações, as influências não poé cas, mas sociais. Esses podem alcançar destaque na vida literária, nas páginas dos cadernos de cultura e/ou no espaço publicitário da mídia, raramente significando algo nas páginas da História da Literatura. Alguns, menos que poetas, são celebridades. Reconhecidos mais pelas no cias e fotos dos jornais, entrevistas na televisão, do que pelos poemas que escrevem. Sua vida social, suas palestras, os cursos, os eventos de que par cipam se sobrepõe à sua obra poé ca. Muitos os reconhecem pelas fotografias estampadas nos jornais, raros são os que conhecem a sua poesia. Fazem das suas vidas mais que públicas, publicitárias. Vivem para a mídia. Transtornam-se diante de uma câmera ou microfone. São os filhos deslumbrados da publicidade. Alguns me causam a impressão de que não lhes importa mais a sua obra -- se é que obra tem – mas a sua figura, e que má figura tem alguns. Não importa, a mídia edulcora tudo. O feio passa a ser agradável, senão bonito, famoso, e na nossa época o que vale é ser celebridade. Um big-brother da vida. As maiores bobagens, se publicadas em jornais ou revistas, adquirem um status de cultura. Se publicadas, então, em revistas ou jornais de pres gio, leia-se, de grande circulação, não há que discu r o talento de quem consegue a façanha. É por isso que todo o poeta celebridade luta para ficar à sombra de um grande jornal ou de uma grande revista. Nesta salada russa poe camente promovida mais por aparições públicas do que por poemas escritos, ninguém mais pergunta o que ele escreveu, mas qual foi a úl ma no cia que protagonizou. Sua ul ma aparição no espaço não mais público, mas como quer Baudrillard, publicitário. Muitos desses poetas fingem ser o que não são, ao contrário do que aconselhava Pessoa. O poeta que se veste de forma extravagante, se fazendo de excêntrico, ou diferente, para chamar mais a atenção, para marcar a sua presença, que põe paletó e gravata, sem camisa, ou qualquer coisa no gênero, apenas para se diferenciar, para se fazer notado, para chamar a atenção para si, não para a sua poesia, é o an -Pessoa. Alguns me causam pena pelo esforço que fazem para fingir ser o que não são, agindo como se fossem os poetas que pretendem ser. Quantos esquecem-se da poesia, para preocuparem-se apenas com o personagem que compõem, que pretendem representar. O que poderá fazê-los notados por algum tempo. A excentricidade do seu comportamento o falso brilho das suas performances alcançando maior repercussão, maior notoriedade, que os seus poemas, o que até muitas vezes acontece, tal a má qualidade de seus poemas, esforçam-se para alcançarem ser personagens da vida literária. Há, realmente, muitos impostores no meio literário, que se apresentam como poetas sem ser, e, outros, que também não o são os saúdam e, quando estão em posição que lhes possibilita premiar, dão-lhes prêmios, numa irmandade, num reconhecimento que a posteridade, com certeza, lhes negará. A esses chamo de celebridades da vida literária, ou da mídia, jamais da literatura, menos que personalidades, são celebridades, não cerebridades, na dis nção que faz Sérgio Augusto num bem sucedido ar go. Eis algumas das fómulas que os poetas celebridades costumam usar entre eles para se promoverem mutuamente: Fórmula 1, a mais simples: A elogia a obra de B que responde enaltecendo a obra de A. Fórmula 2: A diz bem da fórmula de B que elogia a de C, que enaltece a de A. E escrevem usando “tcquiníquerias”, na expressão de Unamuno, tais como “intersemio cidade subje va”, “adjunções fônicas analí cas supercodificadas”, que não nos dizem nada a não ser tentar exibir a falsa erudição de quem escreve. E isso, a respeito de um anêmico poema de cinco versos. Há outras, mas fiquemos nessas duas. Formam-se verdadeiras quadrilhas de elogios correspondentes. Premiam-se uns aos outros. Quanto mais medíocres, mais se esforçam no enaltecimento mútuo, fortalecendo assim a busca do reconhecimento e a aprovação dos outros. Esses poetas celebridades que tentam se fazer mais interessantes que os seus poemas, como se esquecidos que, para a posteridade, eles é que dependem de seus poemas, jamais os poemas se apoiarão nas suas efêmeras famas dos jornais que vão para o lixo no dia seguinte. Tornam-se famosos pelos acontecimentos que protagonizam e com os quais ilustram as suas vidas, não pelo que escrevem, e o que fará serem lembrados como poetas, não como atores do “grand-guignol” da vida, será precisamente os poemas que escreverem. Parafraseando Auden, penso que um poeta deve estar mais próximo das palavras do que da sociedade. A sociedade deve ser observada, a palavra vivida. Há os que buscam mostrar a sua vida mais atraente do que a sua poesia, o que não é di cil, dada a qualidade dos poemas que escrevem. A poesia deles consiste em seu próprio carreirismo e em sua disposição para conquistar simpa a, numa leviandade aparentemente jovial e de uma estudada e forçada falsa disponibilidade e sinceridade para expor a sua in midade. São personagens, de pouca substância e muita perfumaria, que precisam se inventar como personalidades notórias pela publicização das suas encenações pessoais, já que a sua poesia não lhes permite alcançar a fama pela publicação de seus poemas. Alguns nem escrevem poemas, apenas protagonizam fatos. Quantos desses poetas conhecemos mais pelas fotografias que deles são publicadas do que pela poesia que escrevem? O maior talento de alguns desses poetas/escritores está em saberem se promover na mídia, relacionando-se com os jornalistas responsáveis pelos cadernos de cultura e entretenimento de jornais de grande circulação e dos produtores dos programas de rádio e tv. As pessoas tendem a confundir exposição na mídia com valor literário. Se os jornalistas oferecem espaço a um poeta, imaginam, é porque ele deve ter qualidades literárias, sem supor que a maioria desses jornalistas não leem os livros, mas os “releases” enviados, ou quando muito a orelha do livro. Não se deve confundir exposição na mídia, nomeada, com qualidade literária. Para finalizar, uma frase de Emily Dickson sobre o que significa a celebridade para um verdadeiro poeta: “a punição do mérito e o cas go do talento”.

*Contato: gilbertobwallace@gmail.com | facebook.com/gilberto.ba lana.


Porto Alegre |Outubro | 2014 | ARTES | 05 ARTES PLÁSTICAS

CARLOS VITORIO GHENO Por

Rejane Hirtz Trein

de Porto Alegre/RS

Fui apresentada a Carlos Vitorio Gheno pela primeira vez há uns 30

conseguindo harmonizar natureza com

anos atrás por intermédio de seu pai, por oportunidade de

funcionalidade revelaram-se verdadeiras obras de arte, fazendo da

contratação de trabalho através do meu ateliê para confeccionar

precisão, bom gosto e refinamento, sua assinatura.

vitrais para o Hotel Tropical de Manaus.

volumes, que em sua

Vitorinho, como os mais ín mos o chamam, se posiciona na

Pai e filho compar lhavam arquitetura e arte, já naquela época, pois

arquitetura contemporânea com arrojo e vanguarda, com a mesma

trabalhavam em conjunto nos projetos. Minha primeira impressão

facilidade e dedicação.

aos meus pouco mais de 25 anos, olhar de avaliação insipiente, que

Detalhista e inspirado pelas belas e importantes residências

me levaram a ter uma impensada teoria a respeito daquele jovem de

construídas em meados do séc. XX, o prazer em eternizar com

olhos azuis, parecendo-me insolente, e que de forma alguma, anos depois, se mostrou verdadeiro.

como alguns desejavam, também não tão breve e fugaz, deixadas na

Vitorio, de natureza discreta, conforme reportagem na Zero Hora, do Davi Coimbra, “Os Homens Que Pouco Falam”, são pessoas silenciosas e enigmá cas. Muitos anos se passaram e o des no fez com que

presteza os detalhes marcantes de uma época, se não tão duradouros

vesse um

reencontro feliz, conhecendo melhor este ícone urbano da história de Porto Alegre. Como que fluindo aos acontecimentos e discussões em pauta na mídia, sobre a preservação do patrimônio histórico das residências an gas, em especial, as casas an gas do bairro Moinhos de Vento, surge em um sábado de manhã, ao avistar o Vitorio, a idéia de fazer um evento com suas exuberantes aquarelas. Nada me deixou tão feliz que ser sua curadora em exposição inaugural

historio de Porto Alegre, tônica de suas aquarelas e prestando um enorme serviço à memória de nossas origens. Homem sensível e de fala baixa, está em conformidade com seu esporte favorito que propicia a contemplação e percepção aos belos campos de golf, que em alguns ajudou a planejar e outros, a construir. Como despor sta, conheceu muitos em suas viagens. Suas variações, fonte de inspiração sem limites aos que se iluminam pelos holofotes da natureza, recriando como que em um sonho mágico, foi se soltando nas formas suaves, fazendo uso destes recursos ao retratar a casta exuberância dos mais su s tons complementares de verdes, aos

do mais novo hotel no Moinhos de Vento, o Laghe o Viverone, que

degrades de azuis, que se afinam com árvores rosa fuxia e lilases,

em sua arquitetura, soube adequar de forma tão elegante e

demonstrando destreza, in midade e desprendimento, transmi ndo

respeitosa, mantendo a casa, patrimônio histórico de nossa cidade,

a perfeição plácida e tranqüila da esté ca planejada. Cada hora,

fazendo deste, um acontecimento especial. Que sorte a nossa, de ter

estação e ângulo, com suas peculiaridades, ao olhar atento de Vitorio,

entre as obras que iriam a exposição, uma maravilhosa aquarela,

uma nova tela, também aquarelada, em óleo bifásico.

justamente desta mansão, que resultou em capa do convite.

Enfim, hoje, homem maduro e de personalidade jovial, parecendo

Arquiteto, ar sta plás co, campeão gaúcho de golf e campeão

esquecer-se dos anos que passaram, dispõem de vitalidade e frescor

brasileiro de tênis,Carlos Vitorio Cavalcante Gheno nasceu sob o signo

surpreendentemente vigoroso dos que fazem parte da nova leva de

das artes. Em 1970, ingressou na arquitetura. Em 1997 trabalhando

pessoas “maduras”, requalificando os velhos conceitos tão fora de

em projetos de alto nível, classe A, personalizou seus projetos,

moda.

Carlos Vitório em seu atelier. Foto Rejane Hirtz Trein

«Casa Dr. Vale» Autoria: Carlos Vitório. Foto Rejane Hirtz Trein


Porto Alegre |Outubro| 2014 | ARTES | 6

«Arte Poesia Postal» | Poema Visual de Tulio Restrepo - Colômbia

POESIA

PÁGINA IBERO-AMERICANA Por

Paulo Bacedônio

de Porto Alegre/RS

VIII FESTIVAL INTERNACIONAL DE POESIA PALAVRA NO MUNDO O Fes val Internacional de Poesia Palavra no Mundo é um fes val ar s co que, desde 2007, vem crescendo ao redor do planeta à luz da fraternidade e alimenta a beleza poé ca infinita, sempre com seu caráter plural, livre e gratuito. Fes val integrante da Red Nuestra América de Fes vales Internacionales de Poesía e co-fundador do Movimiento Poé co Mundial, o FIP Palavra no Mundo nasceu a par r do Proyecto Cultural S U R, e é coordenado por Tito Alvarado (Chile/Canadá), juntamente com Alex Pausides (Cuba), Gabriel Impaglione (Argen na/Itália) e Carolina Orozco (Colômbia). A oitava edição aconteceu, simultaneamente, em mais de 40 países e em cerca de 200 cidades, de 12 a 25 de maio de 2014. Em território nacional foram realizadas a vidades em Minas Gerais, São Paulo e no Rio Grande do Sul, com poetas e ar stas de outras áreas. E com o intuito de promover e divulgar pelo terceiro ano consecu vo este Fes val na capital gaúcha, o poeta porto-alegrense Paulo Bacedônio, que é o coordenador no Rio Grande do Sul, apresentou a seguinte programação: - 14 de maio: 12ª Mostra Internacional de Poesia Visual – Biblioteca Erico Verissimo – 3º andar – Casa de Cultura Mario Quintana. Com visitação até 8 de junho. - 22 de maio – 19h: Vozes Poé cas Luso-brasileiras + Sarau Poé co-musical – Ins tuto Cultural Português. Convidados: Floreny Ribeiro, Luis Ramos (Portugal), Eloisa Porazza - 24 de maio – 16h: Vozes Poé cas Ibero-americanas + Sarau Poé co-musical – Auditório Luís Cosme – 4º andar – Casa de Cultura Mario Quintana. Convidados: Floreny Ribeiro, César Pereira, Bando Hoburaco, Antonio Frizon, M. Conceição Hipólito - 25 de maio – 17h: Futebol nossa paixão: pra falar sobre polí ca, futebol e religião! – Cambada de Teatro em Ação Direta – Centro Cultural Usina do Gasômetro.

ULISSES NA ILHA DE CIRCE

sendo a escolha uma ordem: o prazer. Lançarei os braços em toda a certeza do espaço e voltarei ao mar corrido este torpor que sinto. Eu demoro, prudente, e mais me separo de quem me espera. Algo em mim será sem retorno.

II. Circe Um sopro aclara a falange redita pelo sol. Um canto obscuro vem trazer a raiva de me saber traída. Como podes escolher a outra casa como posso ser nada se me des no a .

José Maria de Aguiar Carreiro (Açores, Portugal)

CERCA DEL AGUA TE QUIERO LLEVAR... Cerca del agua te quiero llevar porque tu arrullo trascienda del mar. Cerca del agua te quiero tener porque te aliente su vívido ser. Cerca del agua te quiero sen r porque la espuma te enseñe a reír. Cerca del agua te quiero, mujer, ver, abarcar, fecundar, conocer. Cerca del agua perdida del mar que no se puede perder ni encontrar.

Miguel Hernández (Espanha)

FIM DE VIAGEM Que vos importa ouvir a voz de um peregrino? Pouco vale saber se cantei ou chorei; se fiz mal, se fiz bem; se aceitei o des no; se gozei ou sofri; se amei ou se odiei. Sou uma sombra a mais no caminho divino... E como apareci, desaparecerei.

Eduardo Guimaraens (Rio Grande do Sul, Brasil)

I. Ulisses

TRIUNFAL

Que força é esta ou que prazer iden fico no lótus que me ofereces? O que eu posso comer faz-me diverso de meus companheiros. O chão reparte a flor de lótus

Passas!... E essa beleza entonteadora Perturba, atrai, deslumbra, enleia, prende!... E a minha alma, aos teus pés, um culto rende ao teu encanto triunfal, senhora!

E sonha e goza e, ébria de amor, ascende enlevada e feliz, na embriagadora essência morna, ondeante, enervadora, que do seu corpo jáspeo, se desprende! E como sou feliz nesses momentos! Esquecido das mágoas, dos tormentos, de mim próprio esquecido, – a contemplar-te! E se acaso te afastas, eu te sigo! Vives em mim; eu trago-te comigo nas vigílias, no sono, em toda parte. Eufrásio de Almeida (Ceará, Brasil)

INSTINTO Uma perdiz passa em minha porta! Alegre, viva, sal tante. Que adianta? Vai ser morta. No mato vi a Capivara! Também a viu o caçador. Eu com alegria, Ele com ins nto matador. Uma marreca cruzou o céu! Uma espingarda a enquadrou em sua mira, Que linda! Que bela ! A ra! Era o pai falando ao filho, que men ra! Voa o pássaro buscando liberdade! O menino es ca seu bodoque, que maldade! A pedra corta o ar, corta uma vida, Vira troféu, mais uma peça exibida! João Alberto (Rio Grande do Sul, Brasil)


C i n e m a | Fo t o g ra fi a | V í d e o

As fotos de Fernanda Chemale invadem Porto Alegre Desordem – Espaço de Conflito - Gato Mia Cachorro Late Ego Mata – Vinte (ver) Quintana A fotógrafa Fernada Chemale apresenta ( setembro, outubreo e novembro) parte de sua atual produção, em tres espaços des ntos.Espáço de Conflito,individual na Galeria dos Arcos, na Usina do Gasômetro(até 9 de novembro)Esse trabalho traz fotograria de espetáculo, “Revelando universo dramá co e a simplicidade da ação”. A mostra que esteve presente no Teatro Solis, Montevideo – através de Seleção de Edital Inernacional do Centro de Fotografia de Montevidéo. A fotógrafa par cipa da Exposição Gato Mia Cachorro Late Ego Mata, na Galeria Tina Zappoli, com mais quize ar stas que exploram o mesmo,tema. Chemale é convidada da Exposição Vinte (Ver) Quintana em homenagem aos 20 anos de Saudades do Poeta Mario Quintana.Vinte painéis fotográficos serão expostos, acompanhados de fone de ouvido, localizados na Ala Sul,do 3º piso do Shopping Praia de Belas.A ideia é a degustação visual e audi va da obra de Quintana.

Foto: Fernanda Chemale | Divulgação


Fotografia

Autoral Foto: Mari Lopes Modelo: Clarissa Senisse Maquiagem e cabelo: Johnny Le “Para que preciso de pés quando tenho assas para voar?” Frida Kahlo

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Porto Alegre |Outubro| 2014 | ARTES | 10

Esteban Lamothe em cena de El estudiante`(2011) de San ago Mitre

Cinema

O Estudante

A Fábula Polí ca sobre o Poder e as Alianças

Por

Clauveci Muruci de Porto Alegre/RS

Chega a Porto Alegre (Cine Bancários) filme argen no, O Estudante, do roteirista e estreante em direção, San ago Mitre. Projeto independente e total liberdade de criação, rendeu ao estreante diretor, apoio da crí ca e logo virou fenômeno Cult, lotando com semanas de antecedências as duas salas que estava em cartaz, em Buenos Aires, por ocasião de seu lançamento. O filme de esté ca convencional na narra va e contundente no discurso ideológico. Os bas dores da polí ca universitária são abordados como um anteposto da polí ca oficial vivida na Argen na. Esteban Lamothe (Roque Espinosa) vive o personagem de um jovem que transita na universidade, como todos que ali chegam, - principalmente nos cursos humanitários, ao misturar romances e polí ca. Mas, o estudante que chega do interior, se interessa mais pela militância polí ca, e passa a fazer aprendizado de como barganhar para assumir cargos na escala do poder e apreende como funciona as diferentes tendências ideológicas e doutrinarias na polí ca estudan l. A cinematografia argen na é robusta em apresentar temas não alienantes. O mesmo não se consegue dizer da produção brasileira, (principalmente os filmes produzidos e distribuídos pela Globo Filmes) onde permeia o besteirol, salvo as produções independentes, que conseguem corajosamente recursos para realizar projetos que traduzam com clareza o cinema nacional. Mitre é o roteirista do ó mo, "Elefante Branco", (Pablo trapero) onde denuncia as ações de ocupação do complexo des nado a sediar o Ministério de Saúde na Argen na. O prédio não concluído, acabou no "esqueleto" e foi ocupado pelos sem tetos, abrigando várias facções polí cas, criminosas e religiosas. Nessa disputa ideológica, o Par do Comunista argen no, recebeu a ajuda de dois padres jesuítas, que nham importantes papeis na socialização no Elefante Branco, nome como ficou conhecido o complexo. Mitre – como roteirista - não poupa a atuação do atual Papa Francisco I, na época, Cardeal Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, quando ele entregou os dois jesuítas aos militares da ditadura, expulsando-os posteriormente da Igreja. Não é importante considerar os jogos sexuais do protagonista ao transitar no meio universitário em busca de uma possível definição e caminho a seguir. A narra va de Mitre é mais consequente, remete a discussão ideológica presente em todos os trabalhos que assina, postura que o iden fica o cinema argen no como um cinema engajado e por consequência reconhecido pelos que cinéfilos mais exigentes. Esteban Lamothe vai descobrir - ao longo do filme - que polí ca é a arte de alianças espúrias, dos acordos nem sempre desejáveis. O aprendizado amadurece o protagonista, que carrega consigo a vertente de um líder que pode, e é usado pelo sistema. Se considerar a moral da historia, será preciso ressaltar o personagem do professor e herói de Estebam, líder da ala radical, mas se engaja no sistema, para concorrer - traindo seus liderados - a cargos irrecusáveis na Reitoria. O final surpreende, pela tomada de posição do protagonista, e indica que é possível dizer não, apesar dos convites para con nuar vencendo no sistema vigente. Mitre não inventa. Narra va linear, câmera na mão, planos bem conduzidos, não nos desviam do mais importante, a polí ca analisada com a ó ca de uma lente madura.


Porto Alegre |Outubro | 2014 | ARTES | 11 Artigo

ÉLVIO VARGAS E SUA ENSAÍSTA Por

Eduardo Jablonski de Santo Antônio da Patrulha/RS*

Como faço revisão de livros frequentemente (é uma das minhas a vidades profissionais), acabei revisando uma novela de Clauveci Muruci (diretor do Jornal de Artes), e duas coisas me espantaram: primeiro, não conhecia o talento do meu velho amigo, com as mesmas ntas de um João Gilberto Noll e um Henry Miller. Se a literatura não andasse desamparada como vai, perdendo espaço a tudo, entre os quais o maldito Facebook, ele a ngiria um sucesso. Mas não é sobre isso que pretendo escrever nesta mistura de crônica e resenha que agora vos apresento. O segundo detalhe que me chamou a atenção foi Clauveci Muruci ter dito que EV seria o maior poeta da história do RS. Isso me impressionou muito, até porque o referido jornalista e escritor sabe do apreço que tenho pela obra de Luiz de Miranda e o considero não só o maior do RS, como do Brasil e um dos maiores do mundo, devido ao seu poderoso manejo com a figura de linguagem. Além disso, apesar de eu escrever crí ca literária para jornais desde 1990, nunca nha ouvido falar num poeta com essas iniciais. Quem seria? Num trabalho que venho preparando sobre o poeta José Eduardo Degrazia, deparei-me com um poema em homenagem a Élvio Vargas. Só podia ser ele. Tempos depois, num dos vários e-mails que recebo de Luiz de Miranda todos os dias, ali estava o endereço eletrônico de Élvio Vargas. Entrei em contato com ele, e já marcamos um almoço para dentro de alguns dias, num restaurante vegetariano chinês na Coronel Vicente, centro de Porto Alegre (como pra co halterofilismo e artes marciais desde os 16 anos, gosto dessas coisas naturebas, o que em geral assusta aos amigos e amigas; espero que não tenha sido o caso). Eu disse que pretendia conhecer o maior poeta do RS, na opinião de Clauveci, e levei de presente os meus dois úl mos livros de crí ca literária: Natureza da Palavra em Borges Ne o, um estudo sobre a obra desse escritor gravataiense – desconhecido, mas muito qualificado, que providenciou a publicação pela sua editora – o Clube Literário de Gravataí. Ainda o presenteei com o estudo crí co chamado Degrazia pinta palavras, que analisa toda a obra do poeta, minicon sta e novelista José Eduardo Degrazia, também publicado pelo Clube Literário de Gravataí. Élvio Vargas me deu O som da folha quando cai, livro baseado na dissertação de mestrado de Daniela Damaris Neu, parece que ainda não lançado, e Estações de Vigília e Sonho, a poesia reunida de Élvio Vargas, englobando os livros Almanaque das Estações, publicado em 1993 pelo IEL, Água de Sonho, publicado pelo autor em 2006 e Penhascos de Vigília, até então inédito. As duas obras contam com a assinatura da Editora Gazeta, de Santa Cruz do Sul. Ambos os livros trazem muita qualidade. Daniela Damaris Neu assusta com sua foto na úl ma orelha. O sempre equivocado senso comum nos faz acreditar que uma mulher absurdamente bonita não teria condições de escrever um ensaio de crí ca literária tão leve e ao mesmo tempo delicado e profundo (se é que pode haver essa relação) a respeito do fazer poé co e com tantas citações de crí cos e poetas relevantes. O livro é genial, forte candidato ao Açorianos na categoria ensaio. Espero que ela se inscreva. Já o poeta Élvio Vargas, pelo menos em Almanaque das Estações, é tudo o que Clauveci Muruci escreveu. Se não é o maior da história do RS, estaria entre os três maiores, na minha opinião: Luiz de Miranda, Mario Quintana e Élvio Vargas. Está certo que também gosto muito de Carlos Nejar, Jaime Vaz Brasil e Luiz Coronel. Quando afirmo isso, estou me referindo ao poder de ampliar o significado por intermédio da imagem. Os outros dois livros de Élvio Vargas - Água de Sonho e Penhascos de Vigília – também são excelentes, mas alguns poemas não apresentam o poder imagé co da sua obra-prima. Enfim, descobri por acaso uma grande ensaísta e um gênio poé co. Edgar Morin sempre disse que o acaso pode mudar o des no da gente.

Eduardo Jablonski Escreve para jornais desde 1990 (com mais de 800 ar gos publicados). É autor de oito livros, a maioria de crí ca literária e ganhou nove prêmios, sendo um segundo lugar no Açorianos de crônica em 1997. Mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, é especialista em Inglês (Unilasalle), É ca (Unilasalle) e Gestão Financeira (Faculdade QI), além de licenciado em Letras (Unilasalle). Faz traduções de inglês e espanhol, revisão de livros e atua como professor há 15 anos.


Porto Alegre |Outubro| 2014 | ARTES | 12

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NA MÚSICA REGIONAL DO RIO GRANDE DO SUL Por

Paulinho Parada / Paulo F. Parada de Porto Alegre/RS Tema complicado que escolhi para o ar go. O que é a música gaúcha? Onde ela ganhou seu sotaque regional? Longe de encerrar a discussão, pretendo apenas estabelecer um diálogo com o leitor. O obje vo é mapear os tópicos que considero relevantes na configuração da Música Regional do Rio Grande do Sul. Creio que parte considerável dos ouvintes, alguns assíduos e outros de churrasco em finais de semana, não possuem a consciência do percurso que a música dita na va do Rio Grande do Sul tomou para chegar ao formato que ouvimos hoje. Por certo alguns músicos têm a preocupação de difundir a cultura gaúcha, não somente a música. Mas o que é a cultura gaúcha, de onde ela surgiu? Começamos a compreender a ponta do iceberg quando lemos José Hernandez e analisamos os detalhes do gaúcho Mar n Fierro, poema expoente da literatura argen na. Na análise de Jorge Luis Borges e Margarita Guerrero, entendemos que a poesia gauchesca é, apesar da origem culta, genuinamente popular. Borges e Guerrero apontam dois fatos primordiais para a formação da poesia gauchesca: “o es lo de vida dos gaúchos; outro, a existência de homens da cidade que se iden ficaram com ele e cuja linguagem habitual não era demasiado diferente.” (BORGES E GUERRERO, 2005, p.12). Enfim, Mar n Fierro é um homem que teve de abandonar sua família para servir como soldado e, já desertor, não reencontra seus queridos. Agora com seu cavalo, Fierro bebe nas tabernas, convive com índios, toca seu violão, entoa seus versos de improviso e se vê obrigado a u lizar da força peleando por sua sobrevivência. Mais complexo que isso, esse é o gaúcho máximo, o gaúcho de José Hernandez. Vale lembrar que a configuração original do gaúcho, se é que se pode dizer assim, é de origem pampeana e, sobretudo, Uruguaia e Argen na, encontrando extensão no Rio Grande do Sul. E a música? Quem quando criança já brincou de telefone sem fio? A palavra começa em um ponto e deve ser transmi da baixinho em segredo para o colega, que passa para o outro e depois para o outro, sucessivamente e, quando a informação chega ao seu des no final, está transfigurada. O chamamé que se toca no Rio Grande do Sul é diferente do que se originou em Corrientes na Argen na, também é outro em relação ao pra cado no Paraguai. A chimarrita se sabe que chegou de Portugal pelos açorianos, passou pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e, vejam só: Corrientes e Entre Rios na Argen na, conhecida por lá também como chamarrita. Claro que a valsa e a polca gaúcha também são diferentes das matrizes europeias, porque passou pelo telefone sem fio geográfico. Precisaríamos de outro ar go para falar sobre a milonga que teve suas prováveis origens na habanera e hoje possui suas variações. Os folcloristas devem ter dores de cabeça para explicar a origem de Prenda Minha, assumida como domínio público e, sabe-se lá como, gravada e assinada imprudentemente por Miles Davis: Prenda Minha é brasileira e adotada pelo folclore gaúcho. Atahualpa Yupanqui respirou e transpirou as dores da terra, configurando o mais importante folclorista argen no. Mercedes Sosa interpretou as vozes do povo da América La na. É ines mável a relevância desses dois nomes para a Música Regional do Rio Grande do Sul – não é raro ouvir grupos na vistas interpretarem sucessos cantados por Mercedes Sosa. Todo o violonista que toca composições pampeanas tem alguma influência de Atahualpa Yupanqui, quer ele saiba ou não. O trio Luiz Cardoso, Aurélio Leal e Carlos Mendez gravou o disco “Irmanando Pátrias” que jus fica esse liame entre a Música Regional do Rio Grande do Sul e a música da América La na, indispensável para quem almeja compreender um pouco essa ligação. Os “troncos missioneiros” Cenair Maicá, Jaime Caetano Braun, Pedro Ortaça e Noel Guarany expressam a provável influência uruguaia, argen na e paraguaia em nossa música, buscando a integração la no-americana. Encerro o ar go certo de que apenas trago ao leitor algumas possibilidades de conhecimento, precisaríamos de uma série de livros para descrever nossa música. É tema para uma tese de doutorado. O melhor que podemos fazer no exato momento, penso eu, é saborear com paixão a música proposta neste ar go. E foi assim que assis a apresentação de Lucio Yanel no Foyer Nobre do Theatro São Pedro em setembro de 2014. Uma aula de musicalidade e carinho para meus sen dos. Quando o guitarrista pampeano tocou sua composição Lucy, estremeci. Ocorreu pela segunda vez em minha vida ao assis r um violonista tocar, sendo a primeira quando ouvi Yamandú Costa no Salão de Atos da UFRGS. Acaso? Os dois conviveram boa parte da vida em harmonia, um maestro do outro. Yamandú Costa tem orgulho de dizer que foi aluno de Lucio Yanel. Creio que a música dos dois apresenta algo da terra, algo que vem antes mesmo das coisas humanas. Todavia, observo que o ar sta é também um ser polí co e por isso social. Eduardo Galeano em As veias abertas da América La na e Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro argumentam: nós, pueblo la no, fomos colonizados e explorados, separados por fronteiras que visavam também nossa desintegração cultural. Vejo na Música Regional do Rio Grande do Sul a tenta va tão humana de integração com a América La na.


Porto Alegre |Outubro | 2014 | ARTES | 14

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REVERSOS

No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo.

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A EXPOSIÇÃO

A ARTISTA

O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. Manoel de Barros – Uma didá ca da invenção

Carmem Salazar, Porto Alegre, RS, 1962. Bacharela em Artes Visuais pela Universidade Feevale, Novo Hamburgo/RS. Desenvolve além de pesquisas em fotografia como reconstrução do real, experimentos com a palavra, envolvendo poesia visual, poemas objeto e intervenções no espaço.

Reversos exibe duas vias de interesse simultâneo: a palavra e a imagem apresentadas na forma de fotografias reformuladas em seus originais e experimentos com a palavra, através de poemas visuais e o emprego do texto em expressão verbo visual. Tendo como foco a própria subje vidade conectada à realidade, verso sobre elementos da linguagem convencional e do co diano, u lizando-os como suporte para a recriação de significados e a invenção de inusitadas paisagens.

Exposição "Reversos" Até 11 de outubro de 2014 Espaço Cultural ESPM-Sul - Mezanino Rua Guilherme Schell, 268 horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, e sábado, das 9h às 15h. Informações: (51) 32181300

Realiza a exposição individual Reversos, Espaço cultural ESPM / Sul – Mezanino em 2014 e dentre as cole vas mais recentes que par cipa, estão: Premiados no 2º Prêmio Ibema Gravura, Curi ba, PR, 2012. Únicos e Múl plos – Um mapeamento dos ar stas do livro no RS, Paço Municipal, Porto Alegre, RS, 2013, Futurama: Inovações da Juventude, Museu de Direitos Humanos do Mercosul - curadoria de Ana Zavadil - e o 20º Salão de Artes Plás cas Câmara Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, RS em 2014. Obteve Menção Honrosa no 1º Prêmio Ibema Gravura, 2011. 3º lugar no 2º Prêmio Ibema Gravura, 2012.

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Sem tulo (Livro de ar sta) - Foto: Laura Aldana/ESPM Sul


Porto Alegre |Outubro| 2014 | ARTES | 15

Foto: Oi cica, Almandrade e Paulo Bruscky. Fonte: Acervo pessoal P. Bruscky

LIBERDADE MARGINAL Por

Almandrade de Salvador/BA* Para Hélio Oi cica a arte era uma opção de vida contra toda e qualquer forma de opressão: social, intelectual, esté ca, polí ca... Inventor, teórico, refle u e interrogou a brasilidade e a universalidade da arte, sempre inconformista e indiferente à moda. - Arte concreta, Neoconcre smo, Parangolé, Tropicália, vanguarda brasileira dos agitados anos 60, White Chapel Galery (Londres), seis ou sete anos de Nova Iorque; uma vida de tensão em fazer arte e habitar o mundo. Ao romper com o objeto/arte como coisa des nada à visualidade (relação “contempla va”), busca o tato e o movimento, repõe a sensibilidade recalcada pelo tecnicismo do movimento concreto. Cor, estruturas, palavras, fotos, dança, corpo, definem a obra. A par cipação sica é o centro e o interlocutor do acontecimento/arte, o conceito de visão envolve todo corpo, di cil não pensar na fenomenologia de Merleau-Ponty. Nas palavras de Mário Pedrosa, em 1965: “A beleza, o pecado, a revolta, o amor dão à arte deste rapaz um acento novo na arte brasileira”. O trabalho de Hélio Oi cica teve uma inserção no ambiente cultural de vanguarda deste país, no momento de sua maior produ vidade. Dos Metaesquemas (desenhos em 58/59, quando o ar sta era integrante do grupo Frente) aos ambientes de 69, um percurso que incorporou a improvisação e a expressividade corporal para construir um trabalho. Rompeu com a noção de quadro e libertou a cor da relação figura va. A cor deixou de ser um aspecto visual, nos ambientes e nos objetos, o espectador era convidado para o contato sico. Penetráveis (maquetes). Bólides (objetos de vidro com pigmentos para serem manipulados), Parangolés (capas para ves r o corpo). Passista da Mangueira. Tropicália. “Tropicália é a primeiríssima tenta va consciente, obje va, de impor uma imagem obviamente brasileira” ao contexto atual da vanguarda e das manifestações em geral da arte nacional. Tudo começou com a formulação do Parangolé, em 1964, com toda a minha experiência com o samba, com a descoberta dos morros, da arquitetura orgânica das favelas cariocas (e conseqüentemente outras, como as palafitas do Amazonas) e principalmente das construções espontâneas, anônimas nos grandes centros urbanos – a arte das ruas, das coisas inacabadas, dos terrenos baldios, etc.” H.O. “Propositadamente quis eu, desde a designação criada por mim de “tropicália” (devo informar que a designação foi criada por mim, muito antes de outras que sobrevieram, até se tornar a moda atual), até os seus mínimos elementos, acentuar esta nova linguagem com elementos brasileiros, na tenta va ambiciosíssima de criar uma linguagem nossa, caracterís ca, que fizesse frente à imagé ca Pop e Op internacionais, na qual mergulhava boa parte de nossos ar stas”. H.O. Uma manifestação ambiental em que, ao penetrá-la, o espectador era bombardeado por imagens sensoriais, devendo reagir com todos os sen dos, a Tropicália foi instalada pela primeira vez em 1966, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Irreverente, rigoroso e anarquista ao mesmo tempo, coerente com suas propostas, nha um perfeito domínio intelectual sobre seu próprio trabalho. Mais do que uma instalação de arte, a Tropicália era um pensamento avançado sobre a arte brasileira. “Como se vê, o mito da tropicália é muito mais do que araras e bananeiras: é a consciência de um não condicionamento às estruturas estabelecidas, portanto altamente revolucionário na sua totalidade. Qualquer conformismo, seja intelectual, social, existencial, escapa à sua idéia principal”. H.O. – 1968. A experiência de Hélio Oi cica parte do concreto para a periferia do projeto constru vista, adotando procedimentos estranhos como: a marginalidade, a crí ca à produção industrial, a par cipação do corpo na leitura da obra. No princípio era Mondrian e Malevitch; depois, o outro lado da modernidade: Marcel Duchamp. Uma trajetória exemplar, na forma como transformou o seu trabalho, fazendo da existência a condição da arte. A vida de um ar sta não explica a obra; mas, se comunicam, principalmente no caso de Oi cica. Seu trabalho é resultado de sua relação tensa com o co diano, que via na marginalidade uma idéia de liberdade; aliás, o ar sta não é um marginal que empresta seu corpo ao mundo, para transformá-lo em pintura?! (Marleau-Ponty). Com a Tropicália, Oi cica submeteu a brasilidade a uma inteligência rigorosa, sem perder o referencial poé co. Uma proposta cultural que buscava algo à margem, ou melhor, entre “o visível e o invisível”; construir, com a experiência sensorial, um pensamento.

*Almandrade é ar sta plás co, poeta e arquiteto.


Sons que ouço na

Cidade Baixa Durty Old Man | Lima e Silva, 956

Foto: Mari Lopes Fotografia e Arte Apoio Cultural :

Barão do Gravataí, 577

Porto Carioca: Rua da República, 188. Cidade Baixa. Porto Alegre. E-mail: portocarioca@hotmail.com

Rua João Alfredo, 512


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