Jornal Dez 12/06/12

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O FUTEBOL PARA LER COM TODA A MAGIA DO DEZ

Nº8

“MERKELIZADOS POR GOMEZ” Paulo Bento ganhou o duelo táctico a Low, o treinador português soube neutralizar a selecção alemã, num jogo onde as equipas se respeitaram demasiado. Ganhou quem tinha o número nove.


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“Nem agora somos o Bayer Leverkusen, nem a última merda que cagou Pilatos” Manolo Preciado


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“A QUESTÃO DO 9!!”

Acabou a primeira jornada do Euro e até agora tivemos excelentes jogos. Partidas abertas e muitos golos que foram mais mérito do adversário do que erros defensivos. Debate-se também a questão do nove, ou do ponta-de-lança. É sabido que Portugal carece de uma referência de nível mundial nessa posição ao contrário de selecções como a França, Itália, Alemanha ou mesmo a Espanha; que tendo dois bons avançados, decide jogar com um falso nove. Será assim tão importante essa referência no ataque ou o sistema português é demasiado rígido e acaba por se perder nesse debate? Neste número repassamos todos os jogos deste Euro 2012, além de homenagearmos Manolo Preciado e debatermos o Calciopolis. Espaço também para relembrar Romário e analisar James Rodriguez. Carlos Maciel

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EURO 2012 - GRUPO B

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“ PORTUGAL E O GRUPO DA MO


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ORTE” Texto: José Lopes Fotos: Getty Images

Depois de uma análise teórica, ficamos a perceber na prática o porquê de se chamar ao grupo B, o “grupo da morte”. Com a surpreendente vitória da Dinamarca frente a uma enferrujada laranja mecânica, o grupo fica ainda mais equilibrado e coloca os escandinavos numa posição confortável na classificação, empurrando a favorita Holanda para o desespero. O segundo e mais esperado jogo do grupo, demonstrou um equilíbrio entre duas das seleções mais fortes deste europeu, ambas com um estilo de jogo bem definido e com excelentes apontamentos para os jogos que se avizinham. Portugal deixou excelentes indicações, mas pecou onde sempre peca, na finalização. Sem surpresa, mas também sem brilho, a Alemanha demonstrou que tem equipa e qualidade para chegar longe nesta competição. Por fim a Holanda, desiludiu, mas não se rendeu, e tem no próximo jogo contra os alemães, uma excelente oportunidade de reentrar na corrida pelos quartos. Analisando Portugal

o

jogo

Alemanha-

Neste jogo, tanto Alemanha como Portugal estiveram bastante bem no aspeto tático, e proporcionaram um jogo bastante equilibrado. A Alemanha acabou por vencer Portugal por 1-0, num lance que mistura a sorte com o instinto matador de Mário Gomez. A nível de substituições pouco a dizer, os dois técnicos arriscaram pouco, fazendo apenas troca por troca com a exceção da entrada de Varela que analisaremos mais à frente. O encontro ficou marcado sobretudo pela falta de eficácia dos lusos, deixando um sabor amargo de frustração na equipa de Paulo Bento e um sabor agridoce na equipa alemã.

Numa primeira parte equilibrada em que as duas seleções demonstraram um comportamento tático exemplar, notou-se um ligeiro ascendente alemão, talvez devido a um excessivo respeito dos lusos pelos principais favoritos a vencer esta prova. A primeira oportunidade de golo foi para Mário Gomez, aparecendo a cabecear solto de marcação na zona de penalti. A partir desse momento, a Alemanha foi atacando esporadicamente a defesa portuguesa criando algumas situações de perigo, mas sempre num ritmo lento e sem ideias. Nos últimos 15 minutos da primeira parte, Portugal sentia-se confortável no jogo e chegou mesmo a criar a melhor ocasião da primeira parte com o remate de Pepe ao travessão da baliza de Neuer. Muitas expectativas para a segunda parte, onde se esperava uma mudança de ritmo e um estilo mais aberto, com mais espaços para as alas criarem jogo e proporcionarem mais oportunidades de golo. Houve realmente uma mudança de ritmo, mas o estilo de jogo de ambas as equipas mantevese. Até ao momento do golo (min 72), o jogo esteve sempre bastante equilibrado, e de certa forma controlado por Portugal que conseguia travar o meio campo e as alas alemãs, e que por momentos criava desequilíbrios, se bem que inconsequentes. O momento do jogo, chega a 18 minutos do final, um cruzamento de Khedira desviado pelo braço de Moutinho que cai direitinho na cabeça do matador Mario Gomez, que com um cabeceamento exemplar bate Rui Patrício. A partir do golo só deu Portugal e as entradas de Varela e Nelson Oliveira deram mais frescura e ideias à seleção, que até ao final de jogo pressionou e criou excelentes oportunidades para empatar o jogo.


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Alemanha com estrela de campeão Os alemães entraram no jogo com pouca velocidade, poucas soluções e ideias pouco claras. Logicamente que não se devem tirar conclusões no primeiro jogo, mas analisando a fundo este encontro, ressaltam-se algumas notas que podem ser chave nos próximos jogos. Joaquin Löw não prescindiu do seu 4-2-3-1 composto pela espinha dorsal do Bayern de Munique. O selecionador alemão acertou na inclusão do central Hummels em vez de Mertesacker, o defesa central do Borussia Dortmund foi dos melhores em campo e mesmo empurrando Boateng para o lado direito e Lahm para a esquerda, conseguiu juntamente com Badstuber criar um autêntico muro defensivo. No meio campo, Schweinsteiger e Khedira foram a dupla responsável tanto pelo apoio defensivo, como no apoio a Ozil na condução do jogo ofensivo. Nas alas, Muller e Podolsky bem abertos no apoio a Mario Gomez. A Alemanha não fez uma exibição de encher o olho, mas foi uma equipa coesa, com um futebol bastante vertical e direto. Esta seleção tem matador, tem muro defensivo e tem um excelente veículo de comunicação entre setores. Neste primeiro jogo, o único aspeto negativo foi a falta de ideias na comunicação entre meio campo e ataque, muito devido à pressão da seleção Portuguesa. Veremos se contra a Holanda esta comunicação é mais eficaz, mais fluida e é capaz de criar mais ocasiões de golo. Portugal com personalidade mas sem eficácia Portugal entrou com o seu onze de gala e o seu habitual 4-1-2-3, bastante apoiado no meio campo, reduzindo os espaços entrelinhas e deixando pouca margem de manobra para os médios alemães desequilibrarem. Em geral a equipa de Paulo Bento esteve bem, Rui Patrício sempre muito seguro, uma defesa bem montada com Pepe e Bruno Alves bem sincronizados e os laterais muito atrevidos, especialmente Coentrão. No meio campo, Veloso um pouco lento mas bem na comunicação com o ultimo setor e na redução de espaços na frente da defesa. Moutinho e Meireles, bastante preocupados em anular os médios alemães, aparecerem pouco na zona de finalização e tiveram algumas dificuldades em conetar o jogo com Helder Postiga. Cristiano Ronaldo e Nani, bem longe da sua melhor forma, mostraram algumas dificuldades em conduzir a bola até à área adversária. Postiga que mesmo perdido no muro alemão conseguia dominar a bola e distribuir para as linhas, faltou golo ao vila-condense. A entrada de Varela, deu mais ritmo ofensivo a Portugal e deixou Nani mais solto, o que ajudou Nelson Oliveira nas manobras ofensivas e obrigou Khedira a recuar bastante no terreno.


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Próximos jogos Portugal deixou bons apontamentos para o próximo jogo, personalidade, atitude e excelente posicionamento táctico. Faltou apenas a finalização e para isso a equipa de Paulo Bento terá que ser capaz de criar mais ocasiões de golo. O jogo contra a Dinamarca, será um jogo diferente, onde Portugal ao contrário deste, é favorito, e é obrigado a vencer. Paulo Bento terá que entrar para ganhar assumindo o jogo, abdicando de um dos médios defensivos e colocando em jogo Hugo Viana ou Ruben Micael, jogadores com atributos mais ofensivos capazes de aparecer na zona de finalização e ajudar Postiga no último setor. A Dinamarca jogou e convenceu, uma equipa tranquila que gosta de ter a bola nos pés, mas que pressionada poderá sentir algumas dificuldades. Contra Portugal, o seu grande problema será parar as alas lusas que com a subida dos laterais obrigará à descida de Rommedahl ou à dobra de um dos seus médios defensivos. Veremos se os escandinavos são

capazes de manter a regularidade e ultrapassar a ambição lusa. A Holanda não tem outra saída senão pontuar no jogo contra a grande favorita Alemanha, veremos se o selecionador holandês mexe no seu onze e dá algum dinamismo ao meio campo laranja. É indiscutível o valor desta seleção, apenas falta afinar a troca de bola no meio campo e dar mais profundidade com a subida dos laterais. Contra a Alemanha, terá que jogar mais rápido e mais apoiado, talvez colocando Huntelaar como referencia no ataque passando Van Persie para a direita e Robben para a esquerda, deixando Afellay como um excelente recurso no banco. A Alemanha tem obrigação de mostrar mais a nível ofensivo, de qualquer forma, como aqui já foi dito, esta seleção tem tudo para ganhar esta competição. Contra a Holanda e comparando com o seu último jogo frente a Portugal, prevê-se um jogo mais fácil a nível ofensivo, mas também mais difícil a nível defensivo. Com Sneijder no meio campo, Schweinsteiger e Khedira serão obrigados a recuar mais no campo e a fechar os espaços


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à entrada da área, e mais se complica se a Holanda decidir explorar as alas, obrigando um dos médios defensivos a apoiar os laterais. Será certamente um grande jogo de futebol entre a terceira e a quarta classificada do ranking FIFA. Analisando o jogo Dinamarca-Holanda Um jogo bastante interessante, aberto, com ambas as equipas a pressionar o primeiro setor e com uma Dinamarca bem desenhada tacticamente. Os escandinavos souberam aproveitar um dos pontos fracos desta laranja mecânica, a transição defesa ataque, a Dinamarca pressionou bem a primeira linha holandesa e causou grandes dificuldades no transporte de bola, obrigando os laranjas a jogar em passes longos. Logicamente que a partir do momento que a bola chega ao último terço do campo, é difícil parar jogadores como Robben, Sneijder, Affelay ou até mesmo

Van Persie. Estes quatro craques atacaram praticamente sozinhos durante todo o jogo, com um Van Bommel lento e um De Jong preso às suas raízes de médio defensivo mostrando uma pobre condução de bola. A Dinamarca jogou com o seu habitual, 4-1-41 defensivo, desdobrado num 3-4-3 ofensivo, procurando a posse de bola e abrindo o jogo nas alas, aproveitando o mau momento de Van der Wiel e da estreia do jovem de 18 anos, Willems. O jogo começou com uma Holanda num esquema de 4-2-3-1 lento nas transições e com um estilo de jogo completamente partido. Quatro jogadores de grande nível na frente e seis jogadores com bastantes limitações no setor defensivo. Sem conexão defesa ataque, obrigava os 4 da frente a criarem jogo sem qualquer apoio dos médios defensivos e principalmente sem a subida dos laterais. A Holanda conseguiu criar algumas oportunidades de golo, especialmente a


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ocasião de Robben, ao poste da baliza escandinava, mas sempre originadas pelo desacerto dos defesas ou do guarda-redes dinamarquês. Ao minuto 26 surgiu o único golo do jogo, como previsto, o desequilíbrio surgiu pelo lado esquerdo do ataque dinamarquês, e na primeira subida de Simon Poulsen, surge o golo de Krohn-Dehli. Uma jogada rápida contra uma defesa lenta e incapaz de parar a entrada do holandês, que na cara do guardaredes coloca a bola no fundo das redes. A primeira parte terminou com o Dinamarca em vantagem no marcador, vantagem que castiga o futebol triste da Holanda e premeia o excelente planeamento tático da equipa escandinava. Na segunda parte esperávamos uma mudança no estilo de jogo holandês, o que não se verificou, o treinador Van Marjwik decidiu manter o 11 inicial e as coisas continuaram na mesma. Só ao minuto 26 da segunda parte, o selecionador holandês decide mexer no jogo, introduzindo Huntelaar e Van der Vaart. Tudo bem até se constatar a posição dos jogadores, passagem de Sneijder para a esquerda, Van Persie para segundo avançado e Van der Vaart no meio campo ao lado de Van Bommel. Um erro táctico claro, visto que nesse momento a Holanda necessitava abrir o jogo empurrando os médios dinamarqueses

para as alas, abrindo assim espaço para Van der Vaart e Sneijder desequilibrarem e até tentarem a meia distancia. Com Sneijder na esquerda e Robben na direita, ambos a fazerem diagonais para o meio, a Holanda não ganhou espaços, muito menos abriu o jogo, e o meio campo dinamarquês sentiu-se cómodo, tendo apenas que fechar as linhas de passe e os espaços à entrada da área. Interessantes foram as substituições do selecionador Olsen, que se preocupou mais em ter jogadores com toque de bola e capazes de segurar o jogo, que passar para um estilo de jogo mais defensivo, introduzindo em campo jogadores de carácter mais defensivo. Com a entrada de Schöne e MiKkelsen, a Dinamarca ganhou frescura na troca de bola e na movimentação defesa ataque, mantendo o seu estilo até ao final do jogo. Vitória justa da Dinamarca que mostrou um jogo atrativo e simpático, deixando excelentes indicações para o jogo contra Portugal. Palavra também para o enorme jogo do médio dinamarquês Zimling, perfeito no setor defensivo e solidário no apoio ao ataque, aparecendo várias vezes na zona de finalização. Quanto à Holanda terá que rever o seu estilo de jogo e experimentar um estilo mais apoiado, refrescando o meio campo com jogadores mais rápidos e com maior capacidade para transportar a bola.


EURO 2012 - GRUPO C

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“ MAIS VALE TARDE QUE NU


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UNCA” Texto: Nuno Pereira Fotos: Getty Images

O dia três do Campeonato da Europa de 2012 abriu as hostilidades do Grupo C onde estão enquadrados os dois últimos campeões mundiais – Itália e Espanha (que ainda defende o título europeu) e dois ‘outsiders’, que no entanto não deixam de constituir equipas com alguma tradição no panorama do futebol mundial: a Croácia e a República da Irlanda. O primeiro jogo, em Gdansk, opunha os candidatos à liderança do grupo. E a verdade é que o embate latino não defraudou as expectativas tendo sido, porventura, o jogo mais vibrante do torneio até ao momento. A jogar em 3-5-2, enganavam-se aqueles que julgavam que a ‘Squadra Azurra’ vinha à Polónia para defender-se da fúria espanhola com o seu ‘catenaccio’. Contudo, foi o ‘tiki-taka’ espanhol que ficou emaranhado na teia que os italianos armaram no meio-campo. De facto, foram os transalpinos a pegar no jogo, tendo inclusive criado as melhores oportunidades junto da ‘porteria’ espanhola que contou com a inspiração de Casillas para manter as suas redes invioláveis na primeira metade. Chegou assim o intervalo com o nulo no marcador para alívio das hostes castelhanas. Veio então o segundo tempo e com ele a inspiração dos campeões europeus e mundiais em título que pareciam soltar as amarras do seu melhor futebol. Foi, no entanto, Pirlo quem libertou o seu génio no relvado e endossou a bola de presente a Di Natale, que acabava de substituir o desinspirado Balotelli, para o primeiro da partida. Exímio na cara do golo, Di Natale contornou a mancha de Casillas na zona morta do corpo do guardião espanhol, colocando a bola na zona viva da baliza. Um a zero e os italianos ao rubro nas bancadas. Todavia, três minutos bastaram para a resposta da armada espanhola.

Numa bela jogada de entendimento entre David Silva e Fábregas, o médio do Barcelona que jogava como falso ponta-de-lança, atirava a contar repondo a igualdade no marcador. Del Bosque lançou depois Torres e Navas na partida colocando toda a carne no assador, e, apesar do ascendente hispânico no último terço do jogo, a verdade é que ambas as equipas poderiam ter resolvido a questão em seu favor, quer os espanhóis por Torres, displicente por duas ocasiões ante Buffon, quer os italianos novamente por Di Natale que, isolado, falhou um pontapé de moinho de difícil execução. Acabou então a contenda com um empate que assenta bem a duas equipas que procuraram vencer com os seus argumentos e se assumem, cada uma a seu jeito, como candidatas à conquista final do troféu europeu. Menos entusiasmante, mas mais pintado de golos, foi o Croácia República da Irlanda. O jogo de Poznan abriu com o golo dos croatas logo aos três minutos. A responder ao tento de Mandzukic estava Ledger para dar sequência a uma bola parada repondo os números do jogo igualdade de circunstâncias. Os irlandeses bem se tentaram fazer valer da água-benta de Giovanni Trapattoni e do seu enorme coração, mas não mostraram ideias para subjugar uma Croácia boa de bola que ameaça intrometer-se nas contas de acesso aos quartos-de-final. Porém, apesar do talento patenteado por Modric e Rakitić, os croatas precisaram também da complacência do árbitro auxiliar que deixou passar um fora-de-jogo em claro no lance em que Jelavic repunha os axadrezados na liderança do marcador. A vantagem tangencial com que a equipa dos Balcãs recolhia aos balneários seria imediatamente ampliada no reatar da partida com um


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golpe de cabeça caprichoso de Mandzukic que, para bisar no encontro, levou ainda a bola ao ferro da baliza que refletiu a bola na cabeça do experiente Shay Given, perdendose depois para lá da linha de golo. Até ao final, Damien Duff, Robbie Kean, O’Shea e companhia não foram capazes de inverter o rumo dos acontecimentos, podendo ainda queixar-se de uma grande penalidade sobre Kean à qual o árbitro holandês Björn Kuipers fez vista grossa. Tempo ainda para os técnicos de ambas as equipas sobressaírem, primeiro Trapattoni que foi alvo de um carrinho

acidental de um jogador croata e depois Bilic, timoneiro dos balcânicos, que não se livrou de um apaixonado beijo nos lábios de um adepto que resolveu invadir o terreno de jogo. Contas para mais tarde, este grupo, que parecia destinado a resolver-se entre as poderosíssimas selecções latinas, vê surgir um intruso que procura repetir os feitos de 98 quando a Croácia de Šuker brilhou no Mundial de França. Quanto à Irlanda ver-se-á se tem capacidade para pontuar ante dois adversários bem mais cotados. No seu banco roga uma velha raposa por um milagre.


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EURO 2012 - GRUPO D

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“ OS 3 LEÕES NÃO ESTÃO MOR


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RTOS” Texto: Tiago Jordão Fotos: Getty Images

Analisando o jogo França-Inglaterra ao vértice mais recuado da defesa (vaga disponível devido à ausência Nesta solarenga tarde de Primavera, M´Villa) e a criatividade e fácil toque no palco mais a leste deste Europeu aveludado de bola de Cabaye, médio 2012, no Doubass Arena, Shaktar, que explodiu definitivamente este ano jogou-se o grande encontro do grupo no Newcastle. D, que opôs dois candidatos ao troféu, Relativamente ao encontro, a França e Inglaterra. Inglaterra começou a criar perigo com Num jogo que acabou por ter o rápidas incursões dos seus atacantes empate a uma bola como o resultado no espaço vazio, e inaugurou mesmo final, Roy Hogdson apresentou uma o placard por intermedio de Lescott, Inglaterra de contra-ataque, num aos 30’’, que após uma deliciosa 4-4-2 que, em virtude de ausências cobrança de bola parada por Gerrard nucleares (Rooney, Ferdinand, na meia direita: o central dos citizens Lampard), priorizou uma postura efectuou um poderoso cabeceamento defensiva responsável, alicerçada nas na pequena área, livre de marcação, duas linhas de 4 homens que tentam com Loris a não ter reflexos para parar fechar os espaços atrás da linha da a bola. Mas o jogo abriu, para bem do bola quando esta está na posse do bom futebol e como seria de prever, adversário. Quando recuperada, a apenas 9’’ depois, Samir Nasri deu a redonda de couro foi insistentemente igualdade aos franceses, numa jogada lançada a distância por Gerrard, de bom entendimento do ataque bleu aproveitando a velocidade de Ashley com Ribery e Benzema, rematando Young (que hoje teve um papel mais fora de área, rasteiro e colocado ao de criação de caudal ofensivo que 1º poste. A partir desse momento o de desequilíbrios advindos da sua jogo pendeu para o lado fancês, com explosividade), J. Milner na direita e a Inglaterra a fazer pouco mais que Ox. Chamberlain na esquerda (que defender bem e a França a trocar a acabou por ser surpresa no 11, em bola, num jogo em que Lloris não foi detrimento de Jermaine Defoe, talvez solicitado uma única vez além do lance pela potência e capacidade de, a do golo. Ainda assim sinal positivo partir da linha, cobrir rapidamente para a seleção de sua majestade, de largos espaços deixados pela defesa quem não esperava o empate devido a tantas lesões que a assolam. gaulesa). Já a França de Laurent Blanc, renovada, apresentou-se igual a si mesma, num 4-5-1 a priorizar claramente o seu bom futebol de posse. Com um tridente atacante fortíssimo, os bleus demonstraram que o seu perigo ofensivo não vem exclusivamente das suas alas, com Ribery sobre a esquerda e Nasri sobre a direita a virem ao miolo para tabelar ou abrir espaços aproveitados por Benzema no ventre da defesa inglesa. De destacar a segurança de Alou Diarra conferiu

Analisando o jogo Ucrânia-Suécia Aquele que seria hipoteticamente o jogo mais fraco do Grupo D, acabou por se revelar uma boa partida de futebol, entre suecos e os anfitriões ucranianos. Disputado em Kiev, no Olympic Stadium, o encontro começou com uma previsível superioridade dos vikings e acabou com uma vitória dos arianos que acabaram por garantir o seu 12º jogador para a competição. A Ucrânia apresentou-se num 4-4-2


EURO 2012

que veio a revelar-se bastante coeso, muito devido à experiencia técnica e posicional do médio veterano Nazarenko, a sobriedade tenaz de A. Tymoshchuk e a capacidade trabalhadora dos alas Konoplyanka e Yarmolenko, que apoiaram bem Shevchenko e Voronin na frente ofensiva. Já a Suécia, com o seu 4-2-3-1 que se desdobra ofensivamente num 4-3-3 em que Zlatan, ponta trabalhador, aguenta a linha defensiva com toda a sua força motriz, permitindo a Rosenberg ganhar as segundas bolas, tal como a Ola Toivonen, potente e oportunista avançado que assim fecha da esquerda para o meio. Kallstrom assume o papel de construtor de jogo sem qualquer problema, não fosse ele dono de um rápido e inteligente raciocínio e dotado de letal pé esquerdo. Zlatan começou por ameaçar a defesa ucraniana com incursões ofensivas bem ao seu estilo, regadas de muita força, técnica e soberbo

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1º-toque. Mas do outro lado, Shevchenko e Voronin mostraram que também podem criar perigo. Ainda assim foi Ibrahimovic que, após cabecear colocado ao poste numa grande oportunidade, acabou mesmo por faturar, aos 52’’, após uma bola perdida, fruto de um cruzamento para o lado esquerdo que Kallstrom aproveitou passando para o coração da área onde a estrela sueca do AC Milan só teve que encostar. Porém velhos hábitos nunca morrem e aos 36 anos, Shevchenko, lenda rossonera e do Dynamo Kiev bisou no encontro. 1º após um cruzamento do lado direito, a finalizar pleno de oportunidade, aos 55’’. E o derradeiro golo surgiu aos 62’’, apos um canto batido na esquerda, com Sheva a desviar ao 1º poste para o fundo das redes suecas. O jogo acabou com uma posse de bola elevada para a equipa da casa (66% 34%), que acabou por tomar conta do jogo assegurando esta moralizadora vitória.


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“ O CONGELADOR RU


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USSO” Texto: Carlos Maciel Fotos: Getty Images

Analisando o jogo Rússia-República foi incapaz de superar os centrais Checa russos. Quando procuravam as alas, Rezek e Selassie não definiam bem; Apesar de algum sofrimento Pilar na esquerda algo melhor mas nalgumas fases do jogo, dançou-se insuficiente para criar superioridade. ao ritmo que a Rússia quis. Depois Ainda assim em algumas bolas altas de algumas dúvidas nos minutos conseguiam gerar algum perigo. iniciais do jogo, quando a equipa de Cada ataque inconsistente dos Advocaat tomou conta da bola, tudo checos, acabava numa ocasião de ficou mais claro. Os russos tem uma golo russa em contra-ataque. O equipa de ideias claras e sempre golo seria uma questão de tempo, tiveram como alvo Petr Cech. não fosse a República Checa estar O 4-1 foi um resultado justo, ante por cima do jogo antes do 2-0. a equipa mais inconsistente deste Tudo acabou por se alterar quando Euro 2012. O destaque vai para entrou Pavlyuchenko por Kerzhakov. Andrei Arshavin, que toma estas 3 O jogador de Lokomotiv acertou semanas de forma muito séria. É mais e mal entrou, ganha um ressalto certo que tem mais talento á sua e isola Dzagoev. Minutos depois volta do que há quatro anos atrás. baralha o guarda redes Hubnik e Dzagoev e Shirokov fazem 3 onde envia a bola para matar o jogo com antes só havia um czar. o 4-1. Bilek apostou numa espécie de 4-2- Bom jogo russo, mas precisa de 3-1 com o objectivo de roubar a bola jogar contra uma equipa mais forte aos russos. Conseguiu-o durante para ver quais são as possibilidades os primeiros minutos do jogo. Quis que tem neste Euro. ocupar os espaços com Plasil e Jiraceck e com Rosicky na frente. Analisando o jogo Grécia-Polónia O seleccionador russo respondeu baixando a Zyryanov, para atascar A Polónia estava em festa e entrou os movimentos checos. Baros de forma magnifica no jogo, tirando viu-se preso e os centrais russos todo o proveito do factor casa. O devoraram-no facilmente. jogo inaugural de um torneio destas O caos checo na transição dimensões é o cartão de visita para defensiva acabou por dar-se com o mundo e muito se duvidou se estes movimentos e aí apareceram Grécia e Polónia fossem capazes Arshavin e Dzagoev. Havia um de oferecer um bom espectáculo de buraco no meio campo e as abertura. Não decepcionaram. recepções interiores eram grátis. A Smuda, treinador polaco, tirou determinação e a magia de Arshavin todo o partido do esquema 4-2-3-1 apareceram e para coroar fizeram explorando o flanco direito e pondo uma bonita jogada que acabou no a Holebas em apuros diversas primeiro golo russo. vezes. Nos primeiros minutos todo Marcar primeiro numa competição o perigo da Polónia gerou-se por destas é fulcral e Advocaat mandou esse lado. Foram rápidos, verticais a equipa recuar e sair no contra- e agressivos. Piszczek e Kuba, ataque. Tarefa que fizeram de forma rasgavam a defesa grega com a assombrosamente fácil. ajuda de Obraniak. Na 3ª jogada Ao ataque checo faltava criatividade, pela direita, Obrianak assiste todos procuravam Milan Baros que Piszczek que cruza perfeitamente


ENTREVISTA

para o matador Lewandowski, que finaliza fantásticamente de cabeça. Jogada “Made in Borussia Dortmund”. A Grécia preocupava pela incapacidade de sair com a bola controlada e pelo seu sistema defensivo. Nem Papadopoulos nem Papastathopoulos foram capazes de defender bem nem de sair com a bola. A isto junte-se as lesões de Avraam, expulsão de Sokratis, a baixa performance de Holebas, a fraca exibição de Maniatis… acabaram a primeira parte a precisar do intervalo. A Grécia estava desorientada. Contudo o futebol grego tem a capacidade de nunca baixar os braços, nem de dar nada por perdido. Fernando Santos tira ao apagado Ninis e põe a Salpingidis e a partir daí começa a acção. Quando poucos esperavam, marcou e com isso consegue desestabilizar a uma Polónia que se sentia

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superior e acabou por perder o meio campo para a Grécia, que fez um excelente trabalho sem bola aliado á vontade e á coragem. Karagounis a jogar pelo meio sente-se mais comodo. Fortounis e Salpingidis pelas alas. Estiveram perto de ganhar. Encontraram o ponto fraco de Szczesny, que foi expulso por cometer penalty e involuntariamente elevaram Tyton ao Olimpo, que fica para a história por ser o primeiro guarda redes suplente a entrar e a defender um penalty. O jogo estava enlouquecido com a anarquia do 10 contra 10 e a vitória poderia ter caído para os dois lado. A Polónia soube resistir, embora lhe falte experiência neste tipo de competições. Talvez a Grécia se encontre em melhor posição para discutir a passagem com a Rússia. Contudo, excelente jogo inaugural.


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REPORTAGEM

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“ MANOLIN, O TREINA


ADOR DA VIDA”

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Manolo foi um defesa central típico dos anos 70: feio, forte e discreto. Disputou mil e uma batalhas, naquele tempo em que o futebol ainda não tinha vendido a alma ao circo mediático. Lutou em Santander, Linares, Mallorca, Vitoria, Orense e Torrelavega, a ultima estação antes de ter pendurado as botas sem fama e sem uma fortuna na conta bancária. Ganhou bastantes amigos no mundo do futebol, da mesma forma que os ganhou enquanto estudante de medicina, de vendedor de conservas ou de planos de reformas. Purificación, a sua esposa, morreu em 2002 vitima de um cancro. Dois anos mais tarde, perdeu o seu filho Raúl, de apenas 15 anos, num acidente de mota. “Quando perdi a minha mulher e o meu filho tinha duas opções: atirar-me de uma ponte ou tentar seguir em frente. Decidi a segunda opção.” Consciente de que a vida é madrasta e que nos parte o coração, Manolo decidiu avançar enquanto ia aguentando os fortes golpes do destino, sem sentir nenhuma pena dele mesmo. Assim foi quando o morreu o seu pai de forma ainda mais trágica, quando escorregou ao empurrar um carro sendo atropelado depois. O futebol foi o seu refugio. Encontrou uma nova família nos balneários. O cheiro a suor das camisolas, os bancos incómodos e o som dos golos ajudaramno a superar a dor da perda dos seus ente queridos. Foi amigo e professor a tempo inteiro quando se tratava de dar carinho aos seus jogadores. Tanto os titulares, quanto os que se sentavam no banco. Cultivou uma amizade profunda com todos eles, foram o substituto perfeito para o ajudar a superar tantos golpes sem misericórdia que a vida lhe deu. O futebol concedeu-lhe dureza para superar tanto sofrimento. O homem que subiu de divisão a cinco equipas, a pessoa afável que treinava como vivia, sempre foi duro com os problemas e doce com as pessoas. Nunca se rendeu á adversidade dum desporto convertido num negocio impessoal. Sempre antepôs a entrega e o sacrifício ao dinheiro, menos banalidade e mais humildade, menos milhões e mais união. Na aldeia global dos golos e na selva do dinheiro, Preciado nunca se ajoelhou, mesmo que isso lhe custasse o exílio, como aconteceu no Racing de Santander ás ordens e caprichos de um milionário ucraniano. Beijou o escudo do seu clube do coração e seguiu


REPORTAGEM

em frente. Um capitulo semelhante aconteceu no Sporting de Gijon, uma equipa recém subida de divisão, que jogava um bom futebol e onde os donos sem escrúpulos o decidiram despedir sem motivos aparentes. Adeptos de Champions e dirigentes de distrital. Preferiu não guardar rancor a quem o tentou derrubar, para Manolin a honra sempre esteve por cima do dinheiro. A sua filosofia de vida foi a sua alegria, a amizade o motor que o fazia seguir em frente e a honra a sua identidade. Era assim, um homem acessível, conversador entusiasmaste e um marido que tinha reencontrado a felicidade. Manolo sempre ganhou os jogos contra a vida, mesmo que o marcador fosse desfavorável e o “jogo” trágico e sem esperança. Sempre foi assim até que o Villareal o decidiu contratar para tentar emergir o “submarino amarelo” das águas profundas da segunda divisão. Um dia depois, chegou esse jogo que não podia ganhar, partiu num inesperado e fulminante

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enfarte. Espanha e Astúrias estão de luto, partiu um cidadão admirado e amado pela sua terra. A família do futebol também chora a sua morte. Dizem que os passos da morte são silenciosos, porque se aproximam sem nos dar-mos conta e nos roubam aqueles de quem mais gostamos. Neste caso é o contrário, a sua morte faz-nos recordar para sempre um homem bom, a sua lenda continuará viva. Que o digam os jogadores que nunca esquecerão os seus abraços ou o Molinon que cantará o seu nome como de um grito de guerra do seu legado se tratasse. A sua morte não o mitifica, porque ele já era um mito. Tampouco lhe trará mais elogios, porque quem o conhecia sabia que para o definir era preciso mais de “meia palavra”. Os adeptos do Gijon e do Villareal sofrem uma dura perda e de certeza que a cada 7 de Junho lhe dedicarão uma lágrima: só uma, Preciado não permitiria mais.


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REPORTAGEM

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“Uma equipa adversária que prescinde atacar? Isso é como fazer amor com uma árvore.” Jorge Valdano


INTERNACIONAL

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FENÓMENO SAZONAL OU MÁFIA? Textos: Tiago Soares Fotos: Getty Images

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ela segunda vez num espaço curto de seis anos, o futebol italiano está a ser abalado por um escândalo de corrupção e falsificação de resultados. Mais um terramoto numa competição já de si fragilizada pelos problemas dos últimos anos em manter credibilidade. Mas o facto é que, num país sobejamente conhecido pelas ligações da(s) máfia(s) a tudo o que dê lucro, o futebol tem sido dos principais visados pelas autoridades e a investigação sobre tudo o que rodeia o jogo já se arrasta desde 1980.

ram relegados para a Serie B (segunda divisão italiana) e o avançado foi castigado com três anos de suspensão efectiva (mais tarde reduzidos para dois anos, mesmo a tempo de o integrar na “Squadra Azzurra” do Mundial de 1982...). Como curiosidade, refira-se que foi a primeira vez que o colosso AC Milan desceu à Serie B e que a Juventus foi, na altura, investigada e ilibada devido a um jogo com o Bologna (já em 2012, jogadores da altura confirmaram que o resultado desse jogo foi efectivamente combinado também).

Com efeito, nesse ano surge o “Totonero”. Vários jogadores e clubes colaboravam numa rede de apostas clandestina de resultados falseados, tendo sido apanhados pela “Guardia di Finanza” italiana. Vários clubes da Série A e B foram implicados, bem como vários jogadores – destacam-se do lote Milan, Lazio e o jogador Paolo Rossi. Ambos os clubes fo-

Em 1986, Udinese, Cagliari e Lazio (só para citar as mais conhecidas) são indiciadas devido a mais um escândalo de apostas em resultados viciados. Esta nova diligência das autoridades italianas, chamado “Totonero Bis”, não teve tantas repercussões mediáticas fora de Itália por não envolver nenhum dos três gigantes. A Lazio foi, tal como o Ca-


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“Vamos jogar ao ataque, fechadinhos cá atrás” Jaime Pacheco, treinador


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gliari, relegada para a Serie B (na punição original iria para a Serie C1 – actual Lega Pro Prima Divisione), tendo a Udinese ficado na Serie A após recurso, limitando-se a começar o campeonato com nove pontos negativos. Novamente houve jogadores envolvidos também e punições elevadas para cada um deles. Depois destes seis anos conturbados, Itália organizou o Mundial de selecções em 1990, o campeonato italiano impôs-se como um dos mais competitivos do Mundo e teve vários campeões europeus (Milan e Juventus venceram, até 2000, vários troféus internacionais) e granjeou admiradores em todo o Mundo. Afinal, parecia que teriam sido casos isolados, que não haveria problemas de fundo no futebol em Itália. Infelizmente, em 2006 o caos emergiu novamente na esfera do futebol italiano (o “Calciopoli”, o “Moggiopoli” ou, como ficou mais conhecido cá em Portugal, o “Calciocaos”): Juventus, Milan, Fiorentina, Lazio (surpreendido, caro leitor?) e Reggina foram as equipas de nomeada apanhadas em escutas que provam mais uma combinação de resultados na Serie A com participação directa da arbitragem italiana. O director geral da Juventus, Luciano Moggi, por exemplo, foi gravado a combinar com altos responsáveis pela arbitragem quem deveria apitar os jogos da sua equipa (Massimo de Santis, mais reputado árbitro italiano,foi até afastado do Mundial de 2006). A Juventus (campeã italiana nessa época) foi relegada para a Serie B e perdeu os títulos dessa época e da anterior, enquanto Milan, Fiorentina e Lazio começaram a época seguinte com uma dedução nos pontos. Desta vez não houve qualquer jogador castigado, visto que a situação apenas envolveu as altas cúpulas do dirigismo do Calcio – e o Inter, o outro grande italiano, foi o grande beneficiado, ao ficar com o título da Juventus dessa época e começando aí um reinado

apenas interrompido pelo Milan em 2011. Todo este escândalo foi amplamente noticiado em todo o Mundo e deu início ao declínio da importância do campeonato italiano no panorama europeu. Agora, 2012. O “Calcio scommesse” (“aposta futebolística”, em tradução livre) lança novamente a mancha sobre resultados viciados no futebol italiano e começa, na realidade, em 2011, com uma investigação sobre apostas fraudulentas em jogos da Serie B, Lega Pro Prima Divisione e Lega Pro Seconda Divisione após denúncia da Cremonese após suspeita sobre um dos seus jogadores -.o guarda-redes Marco Paoloni. O atleta foi acusado de ser o grande gestor de todo este processo de viciação de resultados, incluindo drogar os seus companheiros de equipa para controlar um jogo, bem como ser o bookie de várias apostas ilegais. Vários outros jogadores no activo (incluindo Doni, capitão da Atalanta e Vittorio Micolucci e Vicenzo Sommese, ambos do Ascoli) foram implicados e estão agora ou sob prisão domiciliária ou efectiva. De entre os implicados, de realçar Giuseppe Signori (antigo avançado e figura da Lazio), que é dos mais conhecidos e é suspeito de colocar apostas ilegais nestes jogos. Já no final de 2011, novas investigações coordenadas em Cremona levantaram o véu de uma complexa rede de apostas que envolve redes criminosas em Singapura, no Leste da Europa e, naturalmente, na própria Itália. Toda esta situação teve desenvolvimentos notáveis em Maio de 2012, com a prisão de Stefano Mauri (capitão da Lazio), Omar Milanetto (antigo capitão do Genova) e mais alguns jogadores no activo. Mais figuras foram implicadas, como o actual treinador da Juventus Antonio Conte (por suspeitas durante a sua estadia em Siena), Sculli (avançado do Genova), Kaladze (antigo jogador do Milan) e Domenico Criscito, um dos in-


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discutíveis da Selecção italiana (e entretanto meio campo e no ataque, é hoje em dia um afastado dos 23 seleccionados para o Euro campeonato para o qual grande parte dos jo2012). gadores olha com alguma desconfiança. A situação financeira dos clubes tem vindo a deO próprio primeiro-ministro italiano, Mario gradar-se, o que leva a que os clubes tenham Monti, já reagiu sobre o assunto, revelando cada vez menos capacidade de contratar os que seria a favor de congelar a competição melhores jogadores do Mundo. 2012 pode ser durante dois anos, e o seleccionador italia- um ano fatídico para o futebol italiano, e De no Prandelli revelou também, antes do início Rossi, jogador da Squadra Azzurra, referiu do Euro 2012, que se desejassem que a Itália ainda antes do Europeu e durante o estágio fosse afastada da competição ele não teria da selecção italiana, temer pela imagem do problemas com isso. futebol italiano, referindo que “este (escândalo) é pior que o de 2006”. Quem sofre com tudo isto é, no aspecto futebolístico, o Calcio. Cada vez menos patroci- Curiosamente (e excluindo 1986), a “Squadra nadores, cada vez menos dinheiro, cada vez Azzurra” tem conseguido excelentes resultamenos jogadores de qualidade, cada vez mais dos nos anos destes escândalos: Campeã do publicidade negativa para o campeonato que Mundo em 1982 (com Rossi em primeiríssimo (ainda) figura nos três maiores da Europa – plano e a ser a grande figura do Mundial e mas talvez apenas por estatuto. A Liga que Campeã do Mundo em 2006, na ressaca do era, até há bem pouco tempo, a referência em “Calciocaos”. Estamos em 2012 e há Campetermos de futebol táctico, de equipas defen- onato da Europa... sivamente fortíssimas com foras-de-série no


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“Demolir o Estádio da Luz seria como destruir as Pirâmides, a Acrópole ou o Coliseu” João Santos, presidente do Benfica sobre a construção do novo estádio


OPINIÃO

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LIDERANÇA DE BALNEÁRIO Texto: Carlos Maciel / Fotos: Getty Images

“Se tens uma cesta com cem maçãs perfeitas e uma podre, em pouco tempo, todas estarão podres” José Mourinho é o autor desta frase e demonstra a filosofia do treinador português, totalmente oposta á de Florentino Perez há 10 anos atrás. O Madrid galáctico de Beckham, Raúl, Figo, Zidane, Ronaldo, Owen, Roberto Carlos e Casillas não ganhou um único título. Por outro lado o Barcelona de Eto’o, Ronaldinho, Deco, Xavi, Iniesta e Valdés teve os mesmos resultados. Os últimos três foram bastante criticados na altura e hoje são a espinha dorsal do Barcelona de Guardiola. Todos eram “maçãs”, mas acabaram por apodrecer.  Tanto Guardiola como Mourinho tem filosofias parecidas, o grupo é o mais importante. Se perguntar-

mos aos jogadores de equipas como o Porto de Mourinho ou o de Villas Boas etc. todos destacam “o bom ambiente” e o “espirito de equipa”. Estas equipas eram inferiores a alguns adversários que se enfrentaram nas suas epopeias, piores na comparação homem a homem, mas superiores como equipa. A união entre jogadores e a fé “cega” no seu líder faz com que o rendimento se torne superior. O FC Porto de Villas Boas era praticamente o mesmo que herdou de Jesualdo. Jogadores como Hulk, Belluschi ou Guarín (deixando de lado conceitos tácticos) com Jesualdo tinham um rendimentos muito baixos e na época seguinte fazem uma temporada fantástica vencendo tudo o que havia para vencer. Numa equipa em que todos defendiam e atacavam por igual, com uma grande agressividade e excelentes gestos técnicos.


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Villas Boas e Di Matteo Villas Boas acreditou que a filosofia que usou no Porto podia ser aplicada em Stanford Bridge. Logo na conferência de imprensa de apresentação, usou mais que uma vez o chavão “grupo”, chegando a dizer que ele era o “The Group One” para evitar comparações com José Mourinho. Cometeu o erro de tentar mudar a filosofia do clube antes de mudar os jogadores. AVB não se atreveu a vender as “vacas sagradas” do plantel, talvez por pressão de Abramovich(?). Terry, Drogba, Lampard ou Cech eram líderes de um balneário, independentes ao ex-analista de jogos de Mourinho e são eles quem ditam as regras. Nos balneários há hierarquias e se estas não respeitam o treinador ou os jogadores liderantes, “a corda acaba por rebentar do lado mais fraco”. Se jogadores como Lampard ou Drogba são suplentes e os jovens e recém-contratados, como Oriol Romeu, são titulares, a equipa nunca poderá evoluir de forma sustentada. Os “chefes” do balneário acabarão por intimidar os mais jovens e estes irão perder o atrevimento dentro e fora do campo. Esse foi o grande erro de André Villas Boas. Deveria ter vendido Terry, Drogba ou Lampard logo no início da época. Os três não são, nem eram no Verão de 2011, jogadores de classe mundial. Com três jogadores inferiores para a mesma posição a substituí-los, os resultados seriam outros. Di Matteo percebeu isso logo de início, foi inteligente e deu o comando aos “pesos pesados”, eles seriam os jogadores chave na nova estrutura. Se eles estão comprometidos, a equipa estará comprometida. Ser treinador de uma grande equipa, requer a gestão de egos. Os jogadores chave não admitem ser suplentes. As coisas tem que ser definidas logo no início da época. Ou são transferidos ou são titulares, caso contrário irão “contaminar o resto das maçãs”. Treinador fraco ou treinador forte O Real Madrid sempre teve uma idiossincrasia diferente da do Barcelona. Enquanto recordamos o Barça de Cruyff, de Van Gaal ou de Guardiola, o Real Madrid sempre foi recordado pelos jogadores, como os da “Quinta del Buitre”, “Os Galácticos”. Até mesmo as equipas mais fracas dos merengues

é recordada pelos jogadores como a “Quinta dos Garcia” ou o “Madrid dos Ferraris”. Casillas contava há uns tempos que na altura de Vicente del Bosque, foi o capitão Hierro quem o pôs no banco em detrimento de César. Alguns jogadores contaram que eles é que decidiam os titulares, como a equipa que ganhou a 7ª Champions. Com a chegada de Mourinho, tudo isso mudou. Ele sabia desde o principio que havia um conflito permanente entre o balneário e o treinador naquele clube. Usou uma estratégia que deu frutos. Desde que chegou contratou muitos jogadores e muitos deles com um papel secundário (Altintop, Sahin, Coentrao, Varane). Mourinho precisava de moldar o balneário á sua figura, precisava de jogadores da sua confiança e eliminar os potenciais desestabilizadores como Raúl, Guti ou Valdano. Para que um líder funcione é preciso que o liderados acreditem no seu líder e vice-versa. Todos precisam de estar comprometidos. E se há um jogador que não cumpre esta regra, precisa de ser transferido. Veja-se o caso de Ibrahimovic no Barcelona, onde foi substituído por um jogador inferior como Pedrito. Se um jogador não aceita as regras do treinador e acredita ter mais poder que ele, é um potencial problema e procurará disputas como duvidar das estratégias do treinador e fazer pressão para que o resto de jogadores o acompanhem. Até agora Mourinho tem conseguido vencer os seus balneários. No Inter, os seus jogadores estavam comprometidos ao máximo, embora a equipa tenha sido feita com alguns dispensados de grandes equipas como Sneijder ou Eto’o. O terceiro ano de Mou, será o mais ambicioso. Apenas no Chelsea treinou por mais de 2 anos. Diz-se que o seu modelo de liderança se esgota depois de dois anos pelo desgaste emocional. No seu 3º ano de Chelsea houve uma disputa com a direcção que lhe impôs reforços que não tinham o seu aval, como Ballack e Shevchenko. Teve que alterar o seu esquema de 4-3-3 para 4-4-2 e o director desportivo ganhou mais poder. Num balneário, os jogadores apenas distinguem treinador forte de treinador débil, o treinador quando perde a sua fortaleza e liderança está condenado. E basta que um jogador não acredite, para que o resto deixe de acreditar com o passar do tempo.


HISTÓRICO

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“ROMÁ

Texto:


ÁRIO”

: Ricardo Sacramento Fotos: Maisfutebol

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Romário da Souza Faria, nasceu a 29 de Janeira de 1966, em Jacarézinho, uma favela da cidade do Rio de Janeiro. Desde tenra idade que o «Baixinho» foi um dotado futebolista, destancando-se nos jogos entre amigos e no clube de bairro, começou a levar o jogo mais a sério, quando se mudou para o Olaria, onde rapidamente captou a atenção do Vasco da Gama. Assinou o primeiro contracto profissional em 1985 e pouco depois já era presença regular na equipa principal do Vasco, brilhando ao lado de Roberto Dinamite, formando uma dupla que fez história no ataque vascaíno. Em 1988 deu o salto para Europa, para a fria e distante Eindhoven, cidade dos Países Baixos. O PSV era o campeão europeu em título, o treinador Guus Hiddink estava de tal forma encantado com as qualidades do «baixinho» que foi pessoalmente ao Rio de Janeiro, garantir o sucesso das negociações entre o Vasco e o clube holandês. Em Eindhoven, Romário tornou-se o goleador do campeonato da Holanda, despertando rapidamente o interesse de outros clubes europeus, entre eles o FC Porto e o Barcelona. Depois de Hiddink, foi treinado por outro grande senhor do futebol europeu, o inglês Bobby Robson, com quem continuou a conquistar títulos na Holanda, na era dourada do PSV no futebol local, em que ultrapassou o Feyenoord, como segundo clube mais títulado do futebol do país das tulipas. Em 1993, um outro holandês, Johann Cruijff, convence o brasileiro a mudar-se para Barcelona, onde o «baixinho» inicia o melhor momento de toda a carreira. Juntando-se a Stoichkov, Ronald Koeman e Michael Laudrup, Romário marcou uma era do futebol blaugrana, que fora campeão europeu em 1992. A equipa de Cruijff onde pontificavam também os espanhóis Guardiola e Zubizarreta, passou à História como dream team. Foi uma equipa que

dominou o futebol espanhol e esmagou o rival de Madrid com um histórico 5x0. Na Europa chegou à final da Liga dos Campeões em Atenas, onde contra todo o favoritismo que lhe era apontado, o dream team catalão caiu inapelavelmente aos pés do AC Milan por 4 tentos a zero. Um ano depois, nos Estados Unidos, foi fundamental para a conquista do tetracampeonato mundial pelo Brasil, um título que escapava ao escrete há 24 anos. O mundial de 94 foi um mano-a-mano entre a velocidade vertiginosa de Romário e o futebol cerebral de Roberto Baggio. Duas seleções e dois modos de jogar distintos, mas duas equipas que só chegaram ao grande jogo graças aos seus “pequenos artistas”. Em Pasadena, no dia da grande final, nem um, nem outro, conseguiram marcar a diferença. Se é verdade que Romário levou a melhor e muitos concordam que merecia, já Baggio falhou o penalty decisivo, e todos, inclusive os seus adversários, reconhecem que foi um castigo demasiado para o homem que levou a Itália quase literalmente às costas até à grande decisão. Durante a primeira década do novo século, jogou com diversas camisolas dos principais clubes do Rio como o Fluminense, o Vasco e o América, intercalando com experiências fora do Brasil, no Qatar, nos E.U.A. e na Austrália. Jogou até aos 43 anos, apontando segundo os registos (reconhecidos pela FIFA), mais de 1000 golos. O golo 1000 foi uma obsessão do «baixinho», que incluiu na sua contagem, todos os golos apontados nos escalões de formação, em jogos de amigáveis e inclusive jogos particulares, que muitos acusam de não passaram de jogos “mascarados”.


MIÚDO MARAVILHA

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JAMES RODRIGUEZ Texto: Pedro Martins Fotos: google.com

O futebol é sentimentos, entretimento, James David “entertainer”.

um mundo de contrastes, de de ideais, mas sobretudo de e nesse enquadramento surge, Rodríguez Rubio um verdadeiro

Este jovem Colombiano de 20 anos, começou a dar os seus primeiros toques no Envigado, transferindo-se em 2008 para o Bainfield da Argentina onde se tornou campeão do Apertura em 2009, contribuindo com 10 golos e grandes exibições, chegando a ser apelidado de “James Bond de Banfield”. Foi contratado pelo FC Porto por 5.1 milhões de euros em 2010, conquistando desde então 2 supertaças Portuguesas, uma Taça de Portugal, 2 campeonatos Nacionais e uma Liga Europa contribuindo nestas duas épocas com 19 golos e várias assistências, com exibições de qualidade técnica e talento puro. Capitão da selecção da Colômbia no último Mundial sub- 20 onde marcou 3 golos, e presentemente titular da selecção principal. É extremo de raiz, podendo jogar ora na esquerda ora na direita, mas podendo actuar também como médio centro ofensivo e mesmo como organizador de jogo, pois possui um elegante toque de bola, técnica apurada com brilho e espectacularidade, com muito critério no momento de tocar a bola, muito forte no um contra um, gostando de ir para cima do adversário tirando partido da sua rapidez e do seu pé esquerdo fabuloso, rematando também muito bem seja em jeito e colocado seja em corrida e em força. É um jogador extremamente habilidoso, aposta constante no seu clube e na sua selecção onde tem assinado exibições de nível superior e muitas vezes fazendo a diferença a nível individual nos jogos mais complicados e equilibrados. É um autêntico quebra-cabeças, dotado de um requintado pé esquerdo, uma das maiores promessas do futebol Sul- Americano, James Rodriguez um miúdo maravilha de hoje para o amanhã!


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“Vou correr como um preto, para no futuro viver como um branco ” Samuel Eto’o


EDITORIAL

INTERNET

Coordenação: Carlos Maciel e Ricardo Sacramento Editor Chefe: João Sacramento Direcção de arte e maquetização: Carlos Maciel

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Redação: Tiago Soares, João Sacramento, Pedro Martins, Bruno Gonçalves, Ricardo Sacramento, Nelson Souso, Carlos Maciel, Nuno Pereira, Francisco Baião, José Lopes

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Publicidade: Ricardo Sacramento

O Jornal Dez não se faz responsável da opinião dos seus colaboradores.

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