Cooperativismo
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A força de estar junto
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Cooperativismo
TENDÊNCIAS
Novos nichos de atuação Parcerias entre cooperativas e inovações no modelo econômico abrem portas para uma ação direcionada e efetiva
O Brasil conta com cerca de 33 milhões de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, no cooperativismo. Os dados são da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Conforme os números de 2012, existem mais de 6,7 mil cooperativas no País, com 10,4 milhões de cooperados, divididas entre 13 ramos. Juntas, geram cerca de R$ 8 bilhões em salários e benefícios
na economia brasileira. O cenário gaúcho apresenta mais de mil cooperativas cadastradas no Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Sistema Ocergs/Sescoop), sendo que 502 delas estão em atividade. O setor tem 2,3 milhões de associados e 52.737 empregados. O faturamento total no ano que passou foi de R$ 29,4 bilhões.
Para o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius, o cooperativismo gaúcho precisa, para crescer em 2013, da criação de mais parcerias entre cooperativas, de mais políticas públicas adequadas, do aperfeiçoamento do modelo de gestão das cooperativas como um todo e de uma busca maior por parte das pessoas por soluções cooperativadas. “Temos novas coo-
perativas surgindo no Estado e que estão procurando seu nicho de atuação. Então é preciso uma gestão de pessoas qualificada.” E quais são esses nichos e como encontrar esse espaço? Alguns segmentos do cooperativismo gaúcho já conseguiram vislumbrar uma resposta para essa questão e, com isso, abrir caminho dentro de seus mercados.
Com os altos valores nos preços de imóveis em todo o Brasil, uma das alternativas para quem quer ter sua casa própria são as cooperativas habitacionais. Vergilio Perius, do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, afirma que o trabalhador urbano sofre muita influência de mercado de última hora, de ofertas de produtos. “O que estrangula o crescimento de cooperativas habitacionais é a falta de organização do próprio trabalhador que quer ter sua casa”, diz Perius. Hoje, de acordo com o coordenador da Equipe de Cooperativismo do Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre (Demhab), Ademir Antônio Maria, as cooperativas habitacionais podem obter recursos para projetos e infraestrutura por meio do Or-
çamento Participativo. “A lei do cooperativismo estabelece a devolução dos recursos a juros baixos e longo prazo para pagamento para pessoas com renda até três salários mínimos.” Uma das iniciativas locais na área é a Cooperativa Habitacional dos Correios do Rio Grande do Sul (Coohrreiosrs). Criada em 2004, funciona pelo programa Minha Casa, Minha Vida – que visa a atender à população de baixa renda nas áreas urbanas. Existem projetos habitacionais desenvolvidos em Porto Alegre, Viamão, Alvorada, São Leopoldo, Guaíba, Cruz Alta, Caxias do Sul, Panambi, Santa Maria, Soledade e outros municípios. A Coohrreiosrs começou como uma cooperativa habitacional ape-
MARCOS NAGELSTEIN/JC
Espaço para crescer
nas para servidores dos Correios e cresceu, atendendo também aos familiares dos empregados. Um dos projetos é o da cidade de Nova Hartz. Realizado em parceria com a prefeitura do município, o Lote-
amento Ipê Amarelo contempla 213 famílias com renda entre R$ 545,00 e R$ 1.600,00. Cada residência possui 60,75 m2, e a previsão do término é gerenciada pela Caixa Econômica Federal.
Entidades passam a atuar junto ao programa Minha Casa, Minha Vida
COEDUCARS/DIVULGAÇÃO/JC
Educadores se unem para expandir presença no mercado
Coeducars qualifica profissionais em diversos campos do conhecimento
Outro segmento que vem ganhando espaço é o de educação. Existem três linhas de atuação dentro do cooperativismo de educação: cooperativas de pais de alunos que possuem uma escola, cooperativas de mantenedores de escolas e cooperativas de educadores. E este último é a parte que diz respeito à Coeducars. Conforme seu diretor-presidente, Ricardo Lermen, ela surgiu, em 2003, a partir de um grupo que trabalhava com o Senac. “O Senac mudou o regime de contratação para Pessoa Jurídica. E como não fazia sentido cada um de nós termos uma empresa para continuar a trabalhar, resolvemos criar a cooperativa”, explica. Hoje, a Coeducars atende a diversas empresas e órgãos públicos, como a Secretaria de Assistência Social e Cidadania
da Prefeitura de Porto Alegre. Ela também fecha parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), ministrando cursos de aperfeiçoamento para outras cooperativas. São mais de 580 associados que podem atuar em diversas áreas do conhecimento. Entre os trabalhos da Coeducars, está o CataVida, desenvolvido para a Secretaria de Desenvolvimento Social e a Diretoria de Economia Solidária da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo. O projeto prevê a implementação e manutenção do programa de Gestão Social dos Resíduos Sólidos Urbanos. “Nosso trabalho consiste em auxiliar com assessoria e apoio as ações de atenção social aos participantes do programa, ajudando na formação e nas oficinas de gestão cooperativa”, explica Lermen.
Expediente •Editor-Chefe: Pedro Maciel•Editora de Cadernos Especiais: Ana Fritsch•Subeditoras: Denise De Rocchi e Sandra Chelmicki•Reportagem: Daniel Bittencourt•Projeto gráfico e diagramação: Ingrid Müller•Editor de Fotografia: João Mattos•Revisão: Adriana Grumann, Gustavo Rückert, Juliana Mauch e Mauni Lima Oliveira
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Cooperativismo
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PANORAMA
Presente na vida da população brasileira há mais de um século, o modelo cooperativista é responsável por boa parte do sucesso econômico nacional e é expressivo nos três setores da economia, com maior participação nos ramos agropecuário, de crédito e de saúde. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), 50% de toda a produção agropecuária brasileira passa por uma cooperativa. Até dezembro de 2012, 10,4 milhões de brasileiros estavam associados a uma cooperativa, conforme dados da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB). Em comparação, o número corresponde à população de Portugal e segue uma tendência contínua
de crescimento desde 2001. No comparativo com 2011, houve um aumento de 4% no total de cooperados no País, o que significa que 370 mil brasileiros se associaram a uma cooperativa no ano passado. De todos os ramos, o de crédito é o que mais se destaca. Responsável por quase 50% da totalidade dos associados do Brasil (4,9 milhões), ele fica à frente dos segmentos consumo (2,7 milhões) e agropecuário (966 mil). Entre as regiões com maior número de cooperativas, o Sudeste aparece em primeiro lugar (cerca de 4,9 milhões), acompanhado do Sul (4 milhões) e do Centro-Oeste (cerca de 713 mil). Já entre os estados, São Paulo está na liderança (3,4 milhões). Rio Grande do Sul (2,1 milhões) e
Santa Catarina (1,2 milhões) ocupam o segundo e o terceiro lugar. Até 2016, a previsão é chegar aos 12 milhões de cooperativistas. No quesito exportação, as cooperativas brasileiras ganham espaço internacionalmente. Em 2012, foram cerca US$ 6 bilhões em exportações. Destes, 98% são produtos provenientes do ramo agropecuário. Conforme a OCB, os complexos sucroalcooleiro, de soja e de carnes concentraram as vendas do cooperativismo a outros países – com US$ 2,32 bilhões, US$ 1,1 bilhão e US$ 986.3 milhões, respectivamente. Os principais clientes dos produtos de cooperativas brasileiras são Estados Unidos (US$ 900 milhões – 15,1%), China (US$ 791 milhões – 13,2%),
UNICRED/DIVULGAÇÃO/JC
Mais de 10 milhões de brasileiros em cooperativas
Emirados Árabes (US$ 386,2 milhões – 6,5%) e Alemanha (US$ 380,4 milhões – 6,4%). As cooperativas funcionam em 13 ramos distintos que atendem as necessidades das pessoas em diversas áreas. No cooperativismo, não há ligações de capital como aquelas existentes em empresas
convencionais, mas sim uma relação jurídica que se estabelece a partir de contratos de adesão dos sócios com as suas cooperativas. Tal estrutura exige um modelo de negócios que defende e trabalha pela sustentabilidade econômica, social e ambiental de fidelidade entre as parcerias.
Ramo de crédito é o que possui mais associados em todo o País
UNIMED/DIVULGAÇÃO/JC
Saúde está entre os setores mais expressivos
Unimed investe em hospitais para qualificar atendimento
As cooperativas de saúde foram responsáveis por uma movimentação de aproximadamente R$ 3,5 bilhões em 2011, somente no Rio Grande do Sul. O Sistema Unimed, por exemplo, construiu nove hospitais nos últimos anos, com mais de mil leitos que estão servindo aos pacientes. O modelo cooperativista tem apresentado crescimento, ancorado também pelo desenvolvimento da agroindústria, que colaborou para o aumento de 2,5% no PIB do Estado neste primeiro trimestre de 2013. Segundo o presidente do
Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs-Sescoop/RS), Vergilio Perius, estão projetadas 10 novas plantas agroindustriais para os próximos dois anos. “Estamos montando uma indústria de moinho de trigo, talvez de arroz, e também um frigorífico de suínos, alavancando mais importância para o setor de carnes no Estado e também nos derivados de produtos de leite”, diz. O crédito é outro setor de destaque e registrou crescimento vegetativo do número de sócios
de cerca de 500 novos associados por dia útil de trabalho no Rio Grande do Sul. O resultado líquido de crescimento das cooperativas de crédito no Estado em 2012 foi na ordem de 47% em ativos com relação ao ano anterior. “Isto é um fantástico crescimento, na medida em que a gente sabe que o sistema financeiro não tem esses patamares”, diz Perius. Na geração de emprego no cooperativismo, no comparativo com outros estados, o Rio Grande do Sul fica em segundo lugar (cerca de 52 mil), atrás somente do Paraná (61 mil).
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Cooperativismo
QUALIFICAÇÃO
Qualquer negócio ou empreendimento, independentemente do seu tamanho ou mercado de atuação, precisa, para ter sucesso, de uma administração que seja exemplar. É como diz o ditado popular: é o olho do dono que engorda o gado. E esta máxima pode, e deve ser aplicada, nos diversos segmentos do cooperativismo. Para executar uma administração competente, é preciso direção forte e colaboradores com qualificação, que tenham uma mentalidade executiva. Apesar de não visar ao lucro, as cooperativas são uma forma de negócio associativa e, para serem competitivas na atual conjuntura do mercado, precisam de pessoas qualificadas, que as gerenciem de forma profissionalmente qualificada para garantir retorno positivo aos cooperados. Foi pensando neste aperfeiçoamento de pessoal que nasceram iniciativas educacionais focadas diretamente no setor cooperativista. Ambas surgiram no Rio Grande do Sul. A primeira delas é a Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop). Criada pelo Sistema Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado do Rio Grande do Sul (Sescoop/ RS), ela é a primeira faculdade do Brasil que trabalha exclusiva-
mente com o movimento cooperativista. “Ela foi criada para ser exclusiva dos sistemas de cooperativismo aqui do Estado. Todos os alunos são associados a alguma cooperativa. E hoje ela expandiu”, explica o diretor da Escoop, Derli Schmidt. A faculdade já realizou dois vestibulares e ampliou seu leque de atuação. Atualmente a Escoop também oferece cursos de pós-graduação em Gestão de Cooperativas e Gestão Estratégica do Agronegócio, com turmas em Porto Alegre, Fortaleza (CE) e Belém (PA) com um total de pouco mais de 140 alunos. A questão central do cooperativismo hoje é a gestão administrativa e seus desdobramentos. Schmidt diz que é preciso unir o conhecimento do funcionamento e da filosofia de uma cooperativa com o saber gerir o negócio. “As cooperativas deixaram de ser uma experiência associativa para ser uma empresa associativa. Ela precisa estar alicerçada na sua linha de gestão democrática, mas também é preciso aquela eficiência empresarial. Hoje os associados querem uma empresa moderna, contemporânea e que dê retornos.” Outra linha de frente na qualificação executiva de cooperativas
ESCOOP/DIVULGAÇÃO/JC
Cooperativas adotam boas práticas empresariais
é desenvolvida pelo governo do Estado através da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR). O Programa Estadual de Cooperativismo oferece cursos de gestão para cooperativas desde 2011. O engenheiro-agrônomo do Departamento de Cooperativismo da secretaria (DCOOP/SDR) Ari de David explica que a estrutura do programa visa à gestão e à sustentabilidade. “Em uma das frentes trabalhamos basicamente com a formação de pessoas na parte de gestão, estratégia e política coope-
rativista tanto com diretores de cooperativas e colaboradores. E na outra ponta temos o planejamento da produção, que é mais voltado para a parte operacional do agricultor que nunca participou de um curso de capacitação”, diz. Cerca de 450 pessoas já participaram da formação em gestão desde 2011. Hoje, 600 cooperativados estão em processo de formação. Já na parte de capacitação da produção agrícola, a expectativa é de trabalhar com 13 turmas em todo o Estado, atingindo mais de 370 pessoas inicialmente.
Cursos ajudam gestores a aprimorarem a própria atuação
GILMAR LUÍS/JC
Modelo alemão inspira o ensino
Biblioteca da Escoop tem o maior acervo do País sobre gestão do cooperativismo
A primeira faculdade dedicada à formação e qualificação técnica de cooperativas de todo o País nasceu em solo gaúcho. A Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), credenciada pelo Ministério da Educação em 2011, é baseada no sistema de educação cooperativista alemão, muito expressivo naquele país. Seu diretor, Derli Schmidt, explica que a Escoop possui uma vocação acadêmica de qualificar as pessoas para o movimento cooperativo. “Os alunos são oriundos de cooperativas. Ao todo temos 208 alunos, divididos entre graduação (78 alunos) e pós-graduação (130 alunos). Todos recebem uma bolsa de 70%. Para isso basta ser sócio ou funcionário de cooperativa.” O curso superior de Tecnologia em Gestão de Cooperativas tem origem na preocupação do Sistema Ocergs-Sescoop/RS em ter um profis-
sional apto a participar com competência da gestão de empresas cooperativas. Na pós-graduação são oferecidos dois cursos: o de Gestão em Cooperativas e Gestão Estratégica do Agronegócio. No primeiro, o objetivo é qualificar os profissionais, conciliando teoria, prática e técnicas administrativas com história e doutrina cooperativista. No MBA em Gestão Estratégica do Agronegócio, a proposta de qualificação está voltada àqueles que atuam nas cooperativas agropecuárias. Hoje, a Escoop está com quatro cursos de pós-graduação em andamento, na capital gaúcha e nas cidades de Fortaleza, no Ceará, e Belém, no Pará. “Começamos em Porto Alegre, mas a ideia é que se tenha uma rede de faculdades por todo o País. Queremos formar uma massa crítica que pense o cooperativismo”, explica Schmidt.
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Previsões otimistas movimentam o setor de crédito no Rio Grande do Sul O crescimento de quase 11% no primeiro trimestre de 2013 na carteira de empréstimos mostra que o cooperativismo de crédito é uma parte da força motriz que movimenta o setor. O diretor-presidente da Unicred Porto Alegre, Paulo Abreu Barcellos, avalia que esse cenário é surpreendentemente positivo, porém ainda existe muito terreno a ser explorado quando o assunto é enfrentar a concorrência dos bancos e melhorar a eficiência na prestação de serviços. Jornal do Comércio - Como foi 2012 para o cooperativismo gaúcho como um todo? Paulo Barcellos - O Ano Internacional do Cooperativismo, declarado pela ONU em 2012, impactou de modo significativo. Os dados
mostram que em 2012 o cooperativismo de crédito cresceu num ritmo mais forte que o do conjunto do Sistema Financeiro Nacional tanto em ativos totais quanto em saldo de operações de crédito. A velocidade de avanço do patrimônio líquido e dos depósitos captados também superou a média. JC - Qual o balanço do primeiro trimestre de 2013 para a Unicred Porto Alegre? Barcellos - Mesmo com a instabilidade da economia e a redução das taxas de juros e do spread, os resultados são excelentes. Já nos primeiros meses de 2013, crescemos 6% em capital, 5% em aplicações, quase 2% em número de associados e surpreendentes 10,77% em empréstimos. JC - Quais são os obstáculos que o cooperativismo de crédi-
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to vem enfrentando no Estado? Como superá-los? Barcellos - Precisamos aprimorar nossas estruturas para enfrentar melhor a concorrência e sermos ainda mais eficientes na prestação de serviços. Esses são alguns pontos que necessitam ser melhor trabalhados: avançar no processo de aglutinação entre cooperativas, especialmente por meio de incorporações, o que gera mais eficiência, competividade e ganho de escala; incrementar o número de pontos de atendimentos e de associados; unir os diversos sistemas do cooperativismo de crédito na prestação de serviços em rede; retirar a restrição das cooperativas de crédito de atuar com os órgãos públicos e autarquias, incluída na Lei 130/2009 – Lei Cooperativista; obter autorização para depósi-
to em “poupança” e atuar com agente do Sistema Financeiro de Habitação e promover um entendimento na população de que as cooperativas de crédito são entidades seguras e transparentes. JC - Como está a carteira de crédito? Barcellos - Crescemos no 1° trimestre quase 11% em nossa carteira de empréstimos. Esse percentual é considerado surpreendentemente positivo, pois o crédito em bancos convencionais não vem seguindo esse caminho. Acreditamos que esse destaque se deve, principalmente, pela baixa taxa de juros praticada pelas cooperativas. Na Unicred Porto Alegre, por exemplo, nossa taxa média em 2012 foi de 1,41% ao mês, já a média dos bancos no mesmo período foi de 3,33% ao mês.
MARCELO AMARAL/DIVULGAÇÃO/JC
ENTREVISTA
Incorporações podem tornar instituições mais eficientes, diz Barcellos
JC - A Unicred desenvolve ações de qualificação? Barcellos - Possuímos áreas física e pessoal qualificadas para preparar nossos colaboradores. Oportunizamos a eles e aos nossos associados, cursos regulares de educação cooperativa, gestão financeira e capacitação de dirigentes, entre outros. Atualmente, mantemos parceria com a Central Unicred-RS, Sescoop e ESPM com resultados excelentes.
perativismo Estamos tão presentes na vida dos gaúchos que todo dia é dia do cooperativismo no Rio Grande. O cooperativismo, cada vez mais, faz parte do dia a dia dos gaúchos. Valorizar essa força é gerar desenvolvimento e inclusão social, contribuindo para um crescimento forte e sustentável do Rio Grande.
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Dados referentes ao ano de 2012.
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SETORES
AGROPECUÁRIO
Planejamento para superar a crise Instabilidade econômica e mudança no clima tornaram 2012 um ano difícil para as cooperativas agropecuárias. A escassez hídrica das lavouras de verão causou perdas enormes nas culturas de milho e soja, e o excesso de chuvas no inverno, acompanhado de quedas de granizo e geadas, castigou o trigo e derrubou a produtividade das safras. Porém, a reação do mercado foi positiva graças ao preço recorde das commodities agrícolas e às estratégias de planejamento aplicadas pelas cooperativas deste ramo no Estado, que movimentam por ano R$ 27 bilhões, representando 11,3% do PIB gaúcho
Cooperados como Adair Cecconi são beneficiados pelo bom momento da vinícola Garibaldi
JOÃO MATTOS/JC
Vinícolas buscam competitividade Para a cooperativa Vinícola Garibaldi, localizada na Serra Gaúcha, os principais obstáculos de 2012 foram a instabilidade econômica do País no primeiro semestre e a falta de um inverno mais rígido, que estimularia a venda de vinhos. Outro ponto apontado pelo presidente da vinícola, Oscar Ló, é a alta carga tributária enfrentada pelo vinho nacional e a concorrência, em determinados tipos de vinhos, com os importados, principalmente do Mercosul. Mesmo com estes entraves, a cooperativa fechou o ano com um faturamento de R$ 57,3 milhões e um crescimento de 75% na venda do suco de uva integral e 12,5% nos espumantes. O destaque foi o multipremiado Garibaldi Moscatel, do qual foram vendidas 310 mil garrafas. Para 2013 a meta é faturar R$ 70 milhões, 22% a mais do que em 2012. “Foi um ano positivo e surpreendente”, celebra Ló.
Alta nas commodities supera expectativas Mesmo em um ambiente de extrema agitação, a Cotripal teve um faturamento 10,36% maior em 2012, atingindo a cifra de R$ 586 milhões. Nos últimos cinco anos, o crescimento real foi de 28,86%. “As commodities agrícolas experimentaram altas que superaram quaisquer expectativas. Neste cenário, o destaque ficou por conta da soja, que, de janeiro até setembro, saltou 84% no mercado interno”, afirma o presidente da Cotripal, Germano Döwich. A cooperativa possui 3.430 produtores associados e 1.823 colaboradores. Os investimentos de 2012 se aproximaram de R$ 10 milhões, fora os investimentos em ações socioambientais, que somaram 1,1 milhão. Para 2013, a Cotripal afirma que a manutenção de
seu ritmo de crescimento, mesmo em cenários difíceis como este que se apresentou no último ano, reforçam a certeza de que a equação entre avanço constante e prudência, garante o desenvolvimento sustentável e a solidez. Outra cooperativa agrícola, a Cotrisal, registrou queda de 10% no faturamento ano passado por causa da seca e das geadas fora de época. Porém, as intempéries foram compensadas pela valorização das commodities agrícolas. “Muitos agricultores conseguiram vender a soja de anos anteriores por um bom preço. O resultado foi bom pelo volume faturado e pelas despesas de recebimento da soja terem sido realizadas em anos anteriores”, diz o diretor-presidente da Cotrisal, Walter Vontobel.
No ramo leiteiro, a cooperativa Piá é um dos destaques. Em 2013 ela foi escolhida “A marca Preferida” na categoria lácteos na pesquisa “Marcas de Quem Decide”, promovida pelo Jornal do Comércio em parceria com a Qualidata. Em 2012, a cooperativa faturou R$ 495,7 milhões, batendo seu recorde. A Piá processou mais de 166 milhões de litros de leite e 6 milhões de quilos de frutas para produzir iogurtes e doces. A cooperativa pretende crescer 10% este ano. Sua aposta está em produtos de maior valor agregado, como os iogurtes premium. “2012 foi um ano de inovações e de lançamentos que agregaram competitividade à marca. E 2013 já está acima das expectativas. Os produtos estão com um bom posicionamento de mercado, tan-
to o leite UHT quanto os fermentados. Além disso, houve uma procura maior das classes A, B e C pelos produtos da marca, o que também contribuiu para o resultado positivo”, diz o presidente da cooperativa Piá, Gilberto Kny. Outro exemplo é a cooperativa Santa Clara, com seus mais de 4,6 mil cooperados e 1.566 funcionários. Ela capta leite em 97 municípios gaúchos, apenas de produtores e cooperativas associados, e realiza 6.000 análises diárias para garantir a qualidade do produto. Segundo o diretor administrativo e financeiro da cooperativa, Alexandre Guerra, o desafio em 2012 foi rentabilizar o produtor para fazer frente ao maior custo dos insumos de produção de leite. A Santa Clara atua também com frigorífico, fábrica de rações, cozinha industrial e rede de varejo.
MAURO STOFFEL/DIVULGAÇÃO/JC
Foco na qualidade dos laticínios
Produtos de maior valor agregado devem aumentar vendas da Cooperativa Piá
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INFRAESTRUTURA
COPREL/DIVULGAÇÃO/JC
Recursos em instalações e outras melhorias somam R$ 200 milhões
O objetivo das cooperativas gaúchas de energia é levar luz a pontos distantes, promovendo o desenvolvimento sustentável das comunidades. Hoje, o setor possui 23 usinas de energia no Estado, que geram cerca de 50 mil kW de potência, representando 25% da demanda total do sistema. Dados da Fecoergs mostram que em 2012 foram investidos R$ 200 milhões em melhorias e instalação e ampliação de novas subestações. De acordo com o engenheiro eletricista e superintendente da Fecoergs, José Zordan, a federação estuda a construção de mais 15 usinas de geração de energia elétrica, que devem produzir cerca de 130 mil kW, atendendo a 40% da demanda das cooperativas. O investimento para essa ampliação é de R$ 900 milhões. Para 2013, estão previstos
R$ 100 milhões em recursos para a melhoria dos sistemas elétricos direcionados à energia forte. “Energia forte é a que circula por redes trifásicas e que é redistribuída pelos ramais (bifásicos ou monofásicos). É como se fosse uma ‘free-way’, que recebe alto fluxo de veículos e os distribui para rodovias vicinais preparadas e asfaltadas”, compara Zordan. A primeira cooperativa de eletrificação rural do Brasil, a Força e Luz, já construiu mais de 64 mil quilômetros de redes, beneficiando 1,3 milhão de pequenos produtores. “As cooperativas estão plenamente integradas no desenvolvimento rural e regional”, afirma o presidente da Fecoergs e da Cooperativa de Energia, Geração e Desenvolvimento e Telecom (Coprel), Jânio Vital Stefanello.
Investimentos ampliados para a zona urbana Uma das empresas que mais se destaca no segmento de energia elétrica é a Coprel, de Ibirubá. Com 45 anos de existência e mais de 47 mil associados, abrange 72 municípios de diversas regiões do Estado. Para 2013, a Coprel projetou mais de R$ 21 milhões em investimentos que serão direcionados para extensão, expansão, reforma e melhoria de redes, e administração central. As sobras dos exercícios são levadas para assembleia, na qual se define sua destinação. Os cooperantes elencam como prioridade os fundos para investimentos e os programas sociais da cooperativa. Além das zonas rurais, outra linha de frente da cooperativa são os centros urbanos. Com a expansão das cidades, a Coprel hoje atende não só ao Interior, mas também em cidades, loteamentos
COPREL/DIVULGAÇÃO/JC
Energia que vem do campo
Expansão do mercado beneficia todos os cooperados, afirma Stefanello
urbanos e distritos industriais. São 13 municípios atendidos em áreas urbanas, com destaque para Passo Fundo, Marau, Tapejara, Ibirubá, Não-Me-Toque, Tapera e Fortaleza dos Valos. “Hoje, o foco de negócio aumenta e o volume de resultado também, podendo ser revertido em melhorias no sistema elétrico para todos os cooperantes”, destaca o presidente Jânio Stefanello.
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Cooperativismo
SETORES
CRÉDITO
O cooperativismo de crédito gaúcho, pioneiro na América Latina, movimentou R$ 6,2 bilhões em operações em 2012, conforme dados do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs). Elas contam com mais de 1,3 milhão de associados. Com 24 anos de existência, o sistema Unicred fechou o ano com 53 unidades de negócios e 13 cooperativas espalhadas pelo Estado. Cresceu 24% nos ativos totais em 2012, em comparação com 2011, e 26% na carteira de crédito. Para o diretor-presidente da Unicred Federação RS, Leo Trombka, o próximo passo é
qualificar a gestão. “Precisamos profissionalizar a governança, separando o conselho administrativo da diretoria executiva. O conselho é estratégico, é ele que faz o contato com os cooperados e vê o que eles desejam. E a diretoria executiva é quem vai dirigir a cooperativa”, aponta ele. A Sicredi Pioneira, integrante do Sistema Sicredi, está entre as 10 maiores cooperativas de crédito do País. Atuante em 21 municípios da Serra Gaúcha, Vale dos Sinos e Vale do Caí, a cooperativa conta com mais de 87 mil associados e é responsável por uma movimentação de mais R$ 1,2 bilhão em ativos so-
mente no primeiro trimestre de 2013. Nesse mesmo patamar está também a cooperativa Sicredi União RS, que inclui a região de Cerro Largo, Santo Ângelo e Santa Rosa. Irmã mais nova da rede, ela conta com mais de 115 mil associados e ativos que extrapolam R$ 1,1 bilhão. “2012 foi um ano de franco crescimento e desenvolvimento. Crescemos em torno de 25% a 30% em relação ao ano anterior”, explica o presidente da Central Sicredi Sul, Orlando Müller, que coordena a atuação das cooperativas nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Para Trombka, mais dinheiro na mão dos associados significa mais desenvolvimento
EDUCAÇÃO
TRANSPORTE
Unir para ensinar
Profissionalização e mais negócios com o Mercosul
COOPERCONCÓRDIA/DIVULGAÇÃO/JC
O cooperativismo de transporte é um segmento novo, criado em 2002, mas já é o segundo com maior número de cooperativas no Brasil, atrás apenas do ramo agropecuário. No Rio Grande do Sul, são 36 cooperativas com quase sete mil associados. O presidente da Central de Cooperativas de Transporte do Rio Grande do Sul (Cootransul), Abel Paré, diz que as cooperativas de transporte estão passando por um período de adaptação. “Estamos migrando para um modelo de unimilitância, que significa que a prioridade dos negócios do cooperado é a cooperativa. E isso está dando um retorno positivo.” Nesse modelo, o foco da cooperativa é viabilizar contratos para o cooperado dentro do mercado. A cooperativa faz a gestão fiscal, cuida da
As cooperativas educacionais são gestoras e mantenedoras de uma escola, tendo como objetivo principal a formação educacional das pessoas, e não o lucro. Esse segmento existe há mais de 10 anos no Rio Grande do Sul e está distribuído em mais de 21 cooperativas, com cerca de 2.200 associados. O dia 9 de maio de 2000 foi um marco para o Colégio Concórdia, de Porto Alegre. A escola, mantida por uma comunidade luterana durante um século, estava prestes a fechar, e o cooperativismo foi a saída. Professores e técnicos formaram a Cooperativa Educacional de Ensino Básico (Coopeeb). “Eu era o diretor na época e fiz a proposta. Nossa primeira medida foi de equilibrar as finanças. Tivemos que reduzir os custos”, relembra o presidente da Coopeeb, Valdir Bernardo Feller.
Ao longo de 10 anos, os professores receberam reajustes que chegam a 120%. “Começamos com 22 sócios-fundadores. Já no mês seguinte, entraram mais 30. Todos os novos sócios passam por uma educação cooperativista. Hoje, temos 120 sócios, sendo 95 deles ativos”, diz Feller. O cooperativismo também foi o caminho adotado pelo Colégio Concórdia de Santa Rosa. O presidente da Cooperconcórdia, atual mantenedora da instituição, Elton Zielke, afirma que a cooperativa conseguiu implantar uma posição mais austera e profissional. “Essa atitude trouxe resultados quase que imediatos e fez com que a comunidade confiasse em nossa gestão. Como associados, somos donos do nosso próprio negócio. Hoje, nós, professores, é que determinamos como as coisas vão andar na nossa escola”, diz.
responsabilidade civil e da geração de negócios. Hoje, a Cootransul trabalha basicamente com transporte para países como Brasil, Argentina e Chile, com uma movimentação de mais de R$ 11 milhões ao ano. Outra saída vista pelo segmento de transporte é se profissionalizar. Com a nota eletrônica e o pagamento eletrônico de frete, a necessidade de se orientar para o mercado é grande. “As cooperativas de transporte que estão acordando e se adaptando para esse novo modelo terão um futuro muito promissor. Aqui no Estado, o segmento de cargas é muito forte, graças à produção”, afirma Paré. Entre as próximas ações previstas, está a busca de crédito para os associados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes).
COOTRANSUL/DIVULGAÇÃO/JC
Associados decidem em assembleias os rumos do Colégio Concórdia, de Santa Rosa
UNICRED/DIVULGAÇÃO/JC
Tradição e expertise para aumentar atuação
Cootransul conta com mais de 200 veículos na sua frota
Caderno Especial do Jornal do Comércio
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TRABALHO
As cooperativas de trabalho são organizações construídas entre operários de uma determinada profissão ou ofício, ou de ofícios variados de uma mesma classe. Elas têm como finalidade principal melhorar o salário e as condições de trabalho pessoal de seus associados, dispensando a intervenção de um patrão ou empresário. Um dos exemplos deste tipo de associação para o trabalho é a Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul (Cooparigs). Fundada há 33 anos, ela começou a atuar junto à comunidade Amigos das Ilhas do Guaíba. “As ações foram se fortalecendo e novos artesãos, mestres em diferentes técnicas artesanais de diferentes regiões do Estado, foram se agregando, aumentando assim o número de associados”, explica o presidente da Cooparigs, Sérgio de Freitas Silva. Nestas três décadas, a cooperativa cresceu, firmou parcerias importantes com o Sebrae-RS em capacitação em gestão, design e venda de produtos artesanais. Através de parcerias co-
merciais com prefeituras e empresas varejistas, criou a grife Mão Gaúcha, que facilita a divulgação e a comercialização dos produtos. A Cooparigs conta com 94 artesãos associados em todo o Estado, sendo alguns em grupos de produção familiar, atingindo em torno de 280 pessoas. A cooperativa tem a responsabilidade pela revisão dos produtos finais, formação de ficha técnica e preço, embalagem, colocação de etiquetas, emissão de nota fiscal e comercialização dos produtos em atendimento a clientes lojistas. A receita bruta da cooperativa em 2012 foi pouco mais de R$ 104 mil, com uma devolução de R$ 71 mil aos associados. No ano passado, a Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul iniciou um novo ciclo, investindo em projetos de formação e qualificação da atividade artesanal, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Canoas. O projeto teve a duração de um ano e atendeu a cerca de 100 pes-
COOPARIGS/DIVULGAÇÃO/JC
Qualificar para crescer
soas da comunidade com recursos da prefeitura municipal. Existem ainda outros projetos sendo desenvolvidos para qualificar e formar artesãos nas ilhas do Delta do Jacuí, com apoio do Banco do Brasil, Emater e prefeitura de Porto Alegre. Silva diz que a Cooparigs vem se preocupando com a socialização dos conhecimentos, através de projetos sociais, e também como o aprimoramen-
to dos artesãos. Existem parcerias com técnicos e designers para assessorar no desenvolvimento e na condução da atividade. Os produtos são desenhados e elaborados conforme as técnicas tradicionais conhecidas e até mesmo inovando com novas práticas. Os produtos da marca Mão Gaúcha têm sido comercializados nas lojas da Tok Stok de todo o Brasil e também em feiras e eventos.
Artesãos do Mão Gaúcha aprimoram seus produtos e abrem mercados
Cooperar é saber em quem confiar, é saber aprender e ensinar. Acreditamos na colaboração entre as pessoas para a construção do bem comum e para a solidificação das relações humanas. O cooperativismo é a base sobre a qual se constroem todas as nossas atividades.
Uma homenagem das cooperativas Certel e Certel Energia a este 6 de julho, Dia Mundial do Cooperativismo.
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Porto Alegre, sexta-feira, 5 de julho de 2013
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
SETORES
SAÚDE
O cooperativismo de saúde se transformou em um ramo extremamente bem-sucedido no Brasil e foi responsável por uma movimentação, somente no Rio Grande do Sul, em torno de R$ 3,5 bilhões em 2011. Exemplo de excelência em atendimento suplementar no Brasil, a Federação Unimed RS atende a quase dois milhões de pessoas, com uma cobertura que abrange todos os municípios do Estado, contando com 27 cooperativas singulares e um corpo clínico de mais de 14 mil médicos das mais variadas áreas, o que a torna uma das maiores cooperativas de seu segmento no Brasil e no mundo. Para a unidade de Porto Alegre, o ano de 2012 fechou com saldo positivo. Com mais de seis mil profissionais da saúde cooperados e 652 mil beneficiários, ela teve um faturamento de mais de R$ 1,4 bilhão a receita bruta apresentou um crescimento de 13,6% no comparado com 2011. De acordo com o presidente do conselho de administração da entidade, Márcio Pizzato, este número é reflexo de um trabalho contínuo. “De 2007 a 2012 dobramos o faturamento e aumentamos em 60% o número de clientes. Atingimos este patamar graças ao atendimento que damos aos nossos beneficiários”, diz. Ele ressalta ainda a qualificação dos gestores, que participam de cursos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Para o presidente da Unimed Nordeste-RS, Carlos Castellano Silveira, uma cooperativa é uma união entre indivíduos. Essa filosofia, portanto, se presta muito ao cuidado das pessoas e, por isso, esse tipo de empresa é tão forte na área da saúde. Porém, é preciso superar alguns obstáculos dentro do Estado e no País, como o custo de tecnologias de ponta e a regulamentação cada vez maior dos planos de saúde, o que restringe a liberdade das empresas do ramo. “Estamos buscando estratégias que otimizem a utilização da tecnologia e abrimos o diálogo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para explicar nossas visões dos processos”. Outro case de sucesso no cooperativismo de saúde é a Uniodonto, maior rede de atendimento no mundo neste segmento. São cerca de 25 mil cirurgiões dentistas cooperados que atendem a cerca de 3 milhões de usuários em todo o País. Em Porto Alegre, a cooperativa, que funciona desde 1976, conta com 500 associados e atua também em Guaíba e Pelotas. “Nossa meta é sempre fazer uma distribuição em sobra para os associados que fique em torno de 10% do faturamento. E nós estamos conseguindo fazer isso nos últimos 15 anos, o que comprova nosso sucesso”, afirma o diretor-presidente da Uniodonto, Gilberto Marques Nunes.
UNIMED/DIVULGAÇÃO/JC
Qualidade para cooperados e beneficiários
Unimed aposta na filosofia cooperativista, que combina com o cuidado às pessoas
CONSUMO
Cesma facilita a aquisição de livros e mantém espaço cultural em Santa Maria
CESMA/DIVULGAÇÃO/JC
A cultura como interesse mútuo As cooperativas de consumo facilitam a aquisição de produtos pelos cooperados, trabalhando para que os bens sejam ofertados a preços mais baixos. Dependendo do seu estatuto e área de atuação, elas podem ser fechadas (às quais só podem se associar aqueles que atendem a um determinado requisito, como ser funcionário de uma empresa, por exemplo) ou abertas (de livre associação). Este é o caso da Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma). Ela surgiu em 1978, através da união de um grupo de estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para a compra de livros para os mais variados cursos de graduação com valor mais acessível do que o oferecido no mercado convencional. Hoje, a cooperativa também trabalha na compra de material
escolar, papelaria, filmes e diversos produtos culturais. A Cesma abriu seu leque de atuação, e seus associados trabalham nas mais diferentes áreas profissionais. Qualquer pessoa, aluno ou não da UFSM, pode se associar, sem restrição alguma. A compra de livros através da Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria diminuiu, situação que o gerente da cooperativa, Délcio de Oliveira, atribui ao surgimento de e-books. A estratégia para se adaptar ao mercado foi ampliar a atuação. “Não é mais a mesma coisa que há 15, 20 anos. Por isso adicionamos outros serviços, como a locação de filmes, com um acervo que não se encontra no circuito comercial. Também existe a parte de material específico por área, como design, arquitetura, engenharia e artes plásticas”, diz.
Como a procura pela internet tem aumentado cada vez mais, a ideia é transformar o site da Cesma em uma espécie de portal de compras. “Nos inspiramos muito no site da Livraria Cultura. E é isso que queremos fazer neste ano”, afirma o gerente. Localizada no centro de Santa Maria, a cooperativa possui uma área de 2.600m2 e conta com lugar para exposições de arte, um café e auditório com 200 lugares. Ela tem 41.200 associados no Rio Grande do Sul, oferece cerca de 30 mil títulos e permite o acesso aos livros mais baratos do Brasil, com repasse de, pelo menos, 20% de desconto sobre o preço de catálogo. A Cesma trabalha hoje com quase 2 mil editoras em todo o País e tem um faturamento anual na faixa dos R$ 3 milhões.
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
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ENTREVISTA
O ano de 2012 foi proveitoso para o cooperativismo no Brasil e no Estado. E 2013, ao que tudo indica, será ainda melhor. O presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), Vergilio Perius, fala sobre o diferencial competitivo do setor, explica porque as cooperativas gaúchas estão procurando qualificar a gestão e aponta os desafios para 2013. Jornal do Comércio – Como foi o primeiro quadrimestre de 2013 para as cooperativas do Estado? Vergilio Perius - Crescemos muito em número vegetativo de sócios, mas tivemos uma dificuldade muito grande em algumas cooperativas da área agrícola, que tiveram a comercialização dificultada por causa da crise na safra passada. Com a nova safra, em especial a de soja, que superou as expectativas, as co-
operativas agropecuárias estão na vanguarda do crescimento, na medida em que organizam, em todo o Brasil, uma excelente assistência técnica aos produtores. Já nos outros setores, principalmente no de crédito, tivemos no primeiro quadrimestre um grande crescimento em número de associados em cooperativas. Alguns desses segmentos estão bem fortes, como é o caso das cooperativas que ofertam energia, as agropecuárias e as de crédito, sendo que esta última cresceu 11% em relação ao ano passado. JC – Qual a importância deste modelo de negócios para a economia? Quais os setores mais expressivos? Perius – Primeiro lugar: metade da produção agropecuária gaúcha passa hoje pela mão do cooperativismo. Quem elevou o PIB do Estado? Foi a indústria? Foi o comércio? Não. Estamos crescendo, ultimamente, cerca
de 12% ao ano, enquanto outros setores crescem em torno de 6%. Isso já é uma vantagem competitiva muito grande. Por outro lado, também geramos muitos tributos ao Estado, o que ajuda no crescimento do Rio Grande do Sul. E é preciso contar com a questão da inclusão social; isso é muito importante, é o nosso grande papel. Em uma economia de competição, normalmente o fraco fica mais fraco. No cooperativismo, o fraco fica mais forte. Essa é nossa missão. JC – É neste ponto que entram as iniciativas de qualificar a gestão das cooperativas? Perius – As cooperativas não são constituídas em interesse de capitais, mas sim no interesse das pessoas. E é por isso que se faz necessário uma qualificação, pois é mais difícil ser gerente ou executivo de uma cooperativa do que de uma empresa que visa ao lucro. Então, é fundamental uma
gestão qualificada de recursos humanos. Tanto para tocar a cooperativa, como para enxergar no seu associado o dono e não apenas um cliente. JC - E na área urbana, como o senhor vê o cooperativismo? Perius - O trabalhador urbano precisa se mobilizar mais para buscar soluções cooperativadas. Ele sofre muita influência de mercado de última hora, de ofertas de produtos. Por exemplo: a área de habitação. Poderia haver uma grande expansão, mas não há. E o que estrangula o crescimento de cooperativas habitacionais? É a falta de organização do próprio trabalhador que quer ter sua casa. JC - Qual a projeção para o restante de 2013? Perius – Tudo vai depender de três fatores. Primeiro, é preciso um projeto mais integrativo do próprio modelo cooperativo. Para as cooperativas avançarem mais, é necessário fazer mais par-
OCERGS/DIVULGAÇÃO/JC
Onde os fracos ficam mais fortes
Cooperativas cresceram duas vezes mais que outros setores nos últimos anos, afirma Perius
cerias com outras cooperativas. Isso nos fortalece. Em segundo lugar, é preciso políticas públicas mais adequadas também. E em terceiro, precisamos cada vez mais aperfeiçoar nosso modelo de gestão. É preciso separar a gestão estratégica política da gestão executiva dentro das cooperativas, coisa que o Banco Central exigiu das cooperativas de crédito e que deve ser feito em todos os outros segmentos.
Porto Alegre, sexta-feira, 5 de julho de 2013
Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio
UMA MĂ QUINA DE ESCREVER, UM MIMEĂ“GRAFO E DUAS PESSOAS.
ACREDITE, O JORNAL QUE VOCÊ ESTà LENDO AGORA COMEÇOU ASSIM.
Era 25 de maio de 1933 quando os comerciantes de Porto Alegre receberam pela primeira vez uma edição do Jornal do ComÊrcio, um boletim informativo sobre as mercadorias que chegavam e partiam da estação ferroviåria e do porto da capital. Produzido com apenas uma måquina de escrever e um mimeógrafo usados, o informativo logo se tornou uma referência pelas informaçþes precisas que trazia, fruto dos ideais e do trabalho cuidadoso de seus dois fundadores: Jenor Cardoso Jarros e Zaida Jayme Jarros. Assim conquistou leitores e contribuiu muito com o comÊrcio, principal atividade econômica da cidade na Êpoca. O JC que você tem nas mãos hoje Ê bastante diferente daquele informativo escrito com uma måquina de escrever, impresso no mimeógrafo, fruto da obstinação dessas duas pessoas. É um jornal de alta qualidade, produzido com recursos mais modernos, que tem o orgulho de contar com uma equipe de profissionais reconhecidos atravÊs de prêmios no Rio Grande do Sul e Brasil. Mas temos certeza de que só chegamos atÊ aqui porque, nestes 80 anos, mantivemos sempre a mesma preocupação daquelas duas pessoas: oferecer informação de qualidade e credibilidade para quem movimenta a economia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, quinta-feira, 2 de maio de 2013 - Nº 234 - Ano 80 - Venda avulsa R$ 2,50
HOLDING PĂĄgina 15
Volume: R$ 9,824 bi
+1,86%
No mĂŞs
A ação dos investidores externos nas compras garantiu um pregão de ganhos disseminados, com destaque para a Embraer. O resultado da terça-feira aliviou as perdas de abril que, desta forma, foi o melhor mês do ano, embora negativo.
No ano
-8,27
Soares denuncia negligĂŞncia no Pacs da zona Sul da Capital
PĂĄgina 27
IndĂşstria desacelera no segundo trimestre
30/4/2013
Bovespa
-0,78
2ª Edição
SAĂšDE
Enck diz que marca Évora mostra evolução e valor da Petropar
INDICADORES
Para Fundação Getulio Vargas, situação reete a crise do mercado externo
Em 12 meses
-9,56
TRABALHO
DĂłlar
PĂĄgina 15
PĂĄginas 5 e 24
Comercial Mercado.......................... 2,0000/2,0020 Banco Central.................. 2,0011/2,0017
Paralelo SĂŁo Paulo........................ 2,0400/2,1200 Porto Alegre.....................2,0100/2,1300
Turismo Mercado.......................... 1,9700/2,1000 Porto Alegre .................... 2,0200/2,1300
Euro
Comercial..................................... 2,6364 Turismo........................... 2,6200/2,7700 Euro/DĂłlar ................................... 1,3171
Ouro
BM&F............................. grama R$ 95,00
PetrĂłleo Brent
Londres/Jun ............... barril US$ 102,37
Juros Taxa Selic Meta .................................. 7,50% ao ano Efetiva ............................... 7,40% ao ano
DI over Taxa efetiva ........................ 7,23% ao ano
DI futuro Maio ................................. 7,23% ao ano AtĂŠ 31/06 .......................... 5,00% ao ano
TR 29/4 a 29/5 ................................. 0,0000
TBF 29/4 a 29/5 ................................. 0,5604
Custo do dinheiro
Hot-money (mês)........................... 0,99% Capital de giro (anual) .................. .9,38% Over (anual) .................................. 7,41% CDI (anual) .................................... 7,24% CDB (30 dias) ................................ 7,25% IPCA/IBGE (março)......................... 0,47% acumulado/ano............................. 1,46% INCC-M (abril) ................................ 0,84% acumulado 12 meses .................... 7,25%
NESTA EDIĂ‡ĂƒO
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Dia de protestos em todo o PaĂs TRIBUTOS
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Imposto de Renda teve declaração de 26 mi de brasileiros
AGRONEGĂ“CIOS
MENSALĂƒO
PĂĄgina 17
Estado começa a vacinar 13,3 mi de cabeças de gado contra a febre aftosa
JONATHAN HECKLER/JC
TJLP
MARCELO CAMARGO/ABR/JC
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Dirceu pede redução da pena e substituição de Barbosa