Caderno Perspectivas 2015

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Perspectiva

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Sext x a-feira | 19 de deze

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FREDY VIE EIRA/JC

JOテグ MATT T OS/JC

PEDRO REVILLION/PALテ,IO PIRATINI/JC

JOテグ MATT T OS/JC

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PERSPECTIVAS

Jornal do Comércio - Porto Alegre

economia OPINIÃO

CONJUNTURA

País e Estado precisam retomar caminho do futuro

À espera de um novo modelo de desenvolvimento

Nos últimos tempos, tem sido utilizada no País a expressão “tempestade perfeita”, que acontece quando todos os fatores negativos se juntam para produzir um efeito catastrófico. Se levarmos ao pé da letra todas as previsões que têm sido feitas por entidades empresariais, a tempestade perfeita parece estar batendo à nossa porta. No País, que fecha 2014 com um PIB zero, as perspectivas para 2015 não são melhores. No Estado, que já enfrenta uma crise profunda no setor público, as perspectivas para o setor de produção não parecem melhores – nenhum prognóstico apresentado nos balanços e perspectivas anuais permite um mínimo de otimismo. Será que a situação é tão desesperadora assim? Claro que não dá para negar que o País enfrenta um período em que nada parece funcionar na economia. A inflação teima em ficar no teto ou acima do teto da meta, a produção industrial desaba, o crédito cai, até porque a população esgotou suas possibilidades de endividamento e os juros deram um salto, e até o agronegócio, sempre tão robusto, enfrenta problemas de depressão de preços e de redução de vendas ao exterior. O que fazer, então? Parece óbvio, que a solução tem de ser deflagrada pelo governo, que precisa acertar suas contas, gastar menos com custeio e, principalmente gastar melhor, direcionando os investimentos para a infraestrutura, tão necessária para permitir que o País deixe de ser tão caro e retome o rumo do crescimento. Se forem confirmadas as pistas deixadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é provável que a inflação volte a ser vista como um problema e que os gastos sejam mais bem

direcionados. Se isso realmente ocorrer, a tempestade que está no horizonte pode ser desfeita. No Rio Grande do Sul, que convive com uma dívida consolidada que supera R$ 55 bilhões, sendo R$ 46 bilhões com a União, a quem tem de pagar 13% da receita líquida mensalmente, a situação não é melhor. O Estado fecha 2014 com um déficit que deve ser ampliado no ano que vem se nada for feito – e a dependência da agricultura, que sempre foi capaz de derrubar ou levantar a economia, desta vez também se fragiliza com a redução dos preços das commodities. Em 2014, o lucro do sojicultor caiu 51% por hectare e o milho teve uma queda ainda mais acentuada, rendendo o lucro de apenas R$ 172,00 por hectare. Não é estranho, portanto, que o governador José Ivo Sartori (PMDB), declare que a principal prioridade para o Estado em 2015 é a recuperação da credibilidade. Ele vai reduzir o número de secretarias para em torno de 20 (Tarso Genro tinha 29, além de outras com status semelhante), investir em gestão, abrir os investimentos para PPPs. De qualquer modo, Sartori, como a grande maioria dos gaúchos, sabe que a solução para problemas que foram se avolumando ao longo de décadas não virá em apenas quatro anos. O que o governo tem de fazer é sinalizar para uma mudança de rumos e convencer a sociedade a aderir a esse movimento para que ele se torne um objetivo comum – o de fazer com que o Rio Grande do Sul volte a ser o Estado com os melhores indicadores de educação, saúde, qualidade de vida e que ofereça serviços adequados aos seus cidadãos. Não é a volta ao passado, mas sim o retorno ao caminho do futuro que parece ter se perdido nas últimas décadas.

Perspectiva

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EXPEDIENTE

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Sexta-feira 19 de dezembro de 2014

Editor-chefe

Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, herança positiva do governo Tarso Genro, deve continuar desempenhando importante papel na era José Ivo Sartori

Brum Torres admite que montante de renúncia fiscal é preocupante

PATRÍCIA COMUNELLO patriciacomunello@jornaldocomercio.com.br

O bordão “o gringo que faz” marcou a estratégia para dar a arrancada no primeiro turno da eleição estadual e carimbar a vitória de José Ivo Sartori no segundo. Tal apelo deve inspirar o modelo de desenvolvimento do Estado no novo governo, que, ao que tudo indica, dará continuidade a ações como o impulso às áreas de grãos com irrigação, estratégia bem-vinda para reduzir os impactos de eventuais estiagem. Na mesma linha, a Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), outra herança positiva do governo Tarso Genro, deve continuar desempenhando importante papel nos próximos quatro anos, assim como os bancos estaduais Badesul e Banrisul. A dúvida que paira é quanto a penúria do Tesouro estadual e o quanto será possível cortar em incentivos e custeio para alavancar o desenvolvimento. Na tática de política industrial, uma aposta deverá ser intensificar as potencialidades regionais, mas sem priorizar um ou outro setor, emergente ou tradicional, o que foi marca do repertório de Tarso Genro e de sua política industrial, na busca por ativação e atração de investimentos. Pode passar pelo

MARCELO G. RIBEIRO/JC

PEDRO MACIEL maciel@jornaldocomercio.com.br

filtro da futura equipe, tanto da Fazenda como de áreas ligadas à atividade econômica, a reavaliação de alguns incentivos. “É conveniente fazer uma avaliação por setor e calibrar finamente, pois o montante de renúncia fiscal é muito grande”, atenta o secretário de Planejamento nos governos Antônio Britto (1995-1998) e Germano Rigotto (2003-2006), João Carlos Brum Torres, conselheiro próximo a Sartori. A Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) pediu mais desoneração para levar a atividade a pequenas localidades. O presidente da Fiergs, Heitor José Müller, indicou que a ação do novo governo será de “arrumar a casa”, mas preveniu que espera medidas para recuperar a infraestrutura. A federação já projetou para 2015 um PIB entre queda de 0,2% e alta de 2,5%, e a indústria variando de -1,1% a 3,4%. “Oferecemos ajuda

ao governo para ações em infraestrutura”, disse Müller, cuja entidade já elencou a conta de bilhões de reais para colocar em dia a logística. “A competitividade local depende disso”, concorda Brum Torres. Movimentos como a unificação de pastas, como receita para reduzir gastos, podem também influenciar o tom das ações. A ideia tem apoio até dentro da pasta de Desenvolvimento do atual governo. “Pode ser uma boa solução”, indica um interlocutor. A justificativa é que os dois braços andam mais do que nunca juntos, diante das demandas ascendentes por inovação e ganhos de produtividade. “O mais difícil é conseguir um nome que tenha habilidade para lidar com as várias áreas”, observa Brum Torres, que avisou logo após o primeiro turno que ficaria fora do próximo governo.

Editor-chefe: Pedro Maciel Secretário de Redação: Guilherme Kolling Editores: Cristiano Vieira, Daniel Sanes, João Egydio Gamboa, João Mattos, Juliano Tatsch, Luiz Guimarães, Luciana Radicione, Marcelo Beledeli, Paula Coutinho, Paula Sória Quedi Repórteres: Adriana Lampert, Deivison Ávila, Eduardo Amaral, Fernanda Nascimento, Fernando Soares, Isabella Sander, Jefferson Klein, Jessica Gustafson, João Carlos Dienstmann, Leonel Mittmann, Lívia Araújo, Luiz Eduardo Kochhann, Marcus Meneghetti, Maria Eugênia Boffill, Marina Schmidt, Michele Rolim, Patricia Knebel, Patrícia Comunello, Priscila Mengue, Priscila Pasko, Rafael Vigna, Ricardo Gruner, Suzy Scarton e Wagner Miranda Projeto gráfico: Gustavo Van Ondheusden | Diagramação: Gustavo Van Ondheusden e Taciana Pessetto Revisão: André Fuzer, Luana Lima, Rafaela Milara e Thiago Nestor


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PERSPECTIVAS

economia

Setores essenciais esperam medidas para elevar eficiência Do campo à cidade, setores delineiam os contornos do novo governo para a atividade econômica a partir de suas demandas. O que há em comum é a expectativa de que sejam mantidos, com eventuais correções, os incentivos a programas como irrigação e polo naval, como os já dados ao segmento de óleo e gás - este último abalado pelas crises da Iesa, em Charqueadas, e pela Petrobras e suas prestadoras na chamada Operação Lava Jato. A área de varejo também quer incentivos, com inclusão no Fundopem, e com o fim da alíquota de fronteira. A intenção de elevar a área irrigada - que na temporada de Tarso Genro saiu de 100 mil hectares para 200 mil em culturas de verão, como milho e parte de soja - deve se manter. O ex-secretário de Planejamento João Carlos Brum Torres avalia que não há como voltar atrás e lembra que, no Governo Rigotto, enfrentou dois anos de estiagem. “Isso nos castigou muito. O governo Sartori deve dar continuidade, porque é importantíssimo”, adianta Brum Torres. “O programa de irrigação traz tantos benefícios, que um percentualzinho desembolsado para equalizar juros retorna com facilidade ao Estado, com o aumento da produtividade”, avisa o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas

PEDRO REVILLION/PALÁCIO PIRATINI/JC

Considerado um dos mais inovadores e vitrine gaúcha no País, o agronegócio deve se manter na mira do atual governo, assim como a indústria naval

Irrigação aumenta produtividade e traz retorno financeiro ao Estado

do Estado (Simers), Cláudio Bier. O dirigente diz que tem pronto um dossiê relacionando os efeitos positivos da instalação de pivôs na lavoura de milho, que chega a dobrar a produtividade. “O que tem de agilizar são as licenças para áreas maiores, pois as medidas atuais

aceleram para territórios de até 100 hectares”, contrasta Bier, que levará o pleito aos futuros secretários de Agricultura e Fazenda. No seu ramo (máquinas e implementos), 2014 termina com recuo em vendas, devido ao maior custo da lavoura e de preços em baixa.

“Em 2015, a dúvida será o efeito do ajuste fiscal federal para linhas do Bndes”, associa o presidente do Simers. A atenção ao agronegócio deve se manter no novo governo. Brum Torres lembra que o setor é um dos mais inovadores e vitrine no País.

O outro que não deve ser descuidado é o do polo naval. “A preservação dos investimentos no polo é prioridade número 1, há interesse estratégico evidente e claro para preservá-lo e aumenta-lo, mas esperamos um período de ajuste”, previne o conselheiro próximo a Sartori. Os ajustes viriam mais da Petrobras. O presidente da Fiergs, Heitor José Müller, mostrou “preocupação com a continuidade das encomendas e impacto no município de Rio Grande”. O dirigente prega a cruzada pela reindustrialização, bandeira que deve se manter hasteada em 2015. O setor de transformação perde espaço no PIB gaúcho. O diretor-presidente da Abicalçados, Heitor Klein, não espera que eventual revisão de incentivos retire vantagens concedidas no atual governo que permitem, segundo Klein, competir com outros estados. “Isso retorna em investimentos, empregos e renda, que revertem em mais arrecadação”, associa o representante calçadista. Torres adianta alguns contornos da futura política, como maior regionalização para atender áreas menos desenvolvidas, resposta rápida à maior internacionalização da economia com ações do governo federal e uso de instrumentos financeiros (Badesul e Banrisul).

Fundopem de Tarso teve o dobro de aportes do que períodos anteriores Cobrado pela Fiergs para ser instrumento mais efetivo na ativação da economia em pequenas localidades, o Fundopem pode entrar em alguma revisão, mas tudo indica que para ampliar alcance. O governo atual incluiu

empreendimentos de agroindústrias, o que colocou o setor entre os sete com maior volume de investimentos entre 2011 e 2014, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI).

O balanço do fundo indica que o atual governo somou R$ 3,951 bilhões, o dobro do período Rigotto (R$ 1,983 bilhão), e 161% acima de Yeda (R$ 1,509 bilhão). Setores de atacado e varejo querem ser incluídos nas vantagens

FÔLEGO DE CADA GOVERNO Desempenho do Fundopem na atração de investimentos Resultado Processos abertos Processos incentivados Empregos previstos Investimentos (*)

Rigotto (2003-2006) 224 64 7.592 R$ 1,983 bilhão

(*) Valor foi atualizado pela UIF/RS, de R$ 20,05 (dezembro 2014)

Yeda (2007-2010) 139 48 5.025 R$ 1,509 bilhão

Tarso (2011-2014) 244 155 10.796 R$ 3,951 bilhões FONTE: SEADAP/SDPI

do Fundopem, exclusivo a investimentos para aumentar a produção industrial. A proposta foi feita por Fecomércio e Federasul. O ex-secretário de Planejamento João Carlos Brum Torres considera justo o pleito, pois instalar centros de distribuição, lojas e outros tipos de estruturas também amplia a capacidade de negócios e de arrecadação. Brum Torres lembra ainda que o Estado ficou fora do ciclo recente de novas fábricas de automóveis. “Foi um pacotão de investimentos e nem pareceu que estávamos na agenda”, opina o ex-secretário, que acompanhou de perto as tratativas que garan-

tiram a unidade da General Motors, no Rio Grande do Sul, e por pouco a da Ford. “Isso pode ser ainda estigma da Ford ou menor competitividade”, especula. Secretário de Desenvolvimento até 31 de dezembro, Mauro Knijnik diz que a fábrica da Volkswagen era certa para o Estado e que só não veio porque a matriz da montadora desistiu de expandir no País. A Fiergs pediu mais desoneração para levar projetos a pequenas localidades. “O custo de abrir mão de 100% do ICMS é menor do que a migração”, citou o presidente da Fiergs, Heitor José Müller, preocupado com a mão de obra que busca vagas nos centros maiores.

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PERSPECTIVAS

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economia CONTAS PÚBLICAS

Novo indexador da dívida não soluciona finanças do Estado Diagnóstico indica déficit orçamentário primário e comprometimento elevado das receitas; ganho imediato com a troca dos fatores de correção gera pouco alívio aos cofres públicos do Rio Grande do Sul RAFAEL VIGNA rafael.vigna@jornaldocomercio.com.br

No apagar das luzes da gestão Tarso Genro (PT), a alteração do indexadores da dívida do Estado com a União promete gerar um alento ao futuro das finanças públicas do Rio Grande do Sul. A troca do fator de correção dos débitos, aplicado de 1998 a 2012 pelo IGP-DI, com crescimento de 248% no período, por outro, o IPCA, que aumentou menos o montante (151% no mesmo espaço de tempo), isoladamente já é responsável por uma injeção de oxigênio na saúde financeira gaúcha no longo prazo. Mesmo que os repasses se mantenham no patamar de 13% da Receita Real Líquida (RRL), aproximadamente R$ 3 bilhões em pagamentos, a redução de 6% para 4%, ao ano, dos juros incidentes sobre o saldo devedor também contribui para que o estoque total, atualmente acima de R$ 46 bilhões, seja diminuído em pelo menos R$ 15 bilhões até 2028. A retroatividade da medida até janeiro de 2013 permite que não sobrem os

Evolução do saldo da dívida Saldo em 31/12/2014

(R$)

Saldo em 31/12/2015

(R$)

Com a alteração

45.672.908.306

Com a alteração

47.050.435.857

Sem a alteração

46.391.468.475

Sem a alteração

48.833.332.425

Diferença/espaço fiscal

718.560.169

Projeção da Sefaz

R$ 1 bilhão

Diferença/espaço fiscal Projeção da Sefaz

(*) FONTE: ECONOMISTA DARCI FRANCISCO DOS SANTOS E PROJEÇÕES SEFAZ

resíduos de R$ 1 bilhão, que antes eram acrescidos ao saldo final da dívida por extrapolarem o teto de comprometimento da RRL. Sozinha, no entanto, a renegociação obtida após a aprovação no senado e a sanção presidencial do Projeto de Lei 99/2013 pouco pode fazer para curar uma ferida histórica. Economistas e analistas concordam que o sangramento foi reduzido. O diagnóstico, todavia, é um pouco mais complexo: déficit orçamentário de R$ 2,3 bilhões, resultado primário negativo pela primeira vez em seis anos, situação de insuficiência financeira que chega a R$ 1,4 bilhão, além do comprometimento superior a 204% da Receita Corrente Líquida (RCL).

1.782.896.568 R$ 3 bilhões ARTE LUIS FELIPE CORULLÓN

De fato, ano após ano, os gastos elevados a patamares superiores aos da arrecadação se repetem e geram efeitos perversos acumulados sobre o endividamento público. A Dívida Consolidada (DC) total do Rio Grande do Sul atinge a casa de R$ 56,6 bilhões, ante os R$ 49,8 bilhões estabelecidos dentro do chamado limite de alerta do artigo 59 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A boa notícia é que o débito se tornou pagável, e a gestão que se inicia em janeiro, sob o comando do governador eleito José Ivo Sartori (PMDB), contará com a abertura de alguns espaços fiscais. De acordo com o atual secretário da Fazenda, Odir Tonollier, a disponibilidade imediata para a contrata-

ção de novos empréstimos é de R$ 1 bilhão a partir de próximo ano e pode chegar a R$ 3 bilhões em 31 de dezembro de 2015. Entretanto, há quem conteste os valores. Segundo o economista Darcy Francisco dos Santos, embora a renegociação seja positiva pelo fato de a taxa de juros ter sido reduzida em 2 pontos percentuais (6% para 4%), o que geraria espaços fiscais em torno de R$ 1 bilhão anuais, o IPCA (5,58% no ano) cresceu mais que o IGP-DI (3,39% no ano) no período entre janeiro de 2013 e dezembro de 2014. Nesse contexto, a evolução maior do IPCA sobre o IGP-DI algo que, em 15 anos, só ocorreu em quatro - determina a abertura

real de R$ 718,5 milhões para 2015. O valor corresponde à diferença exata entre o saldo da dívida em 31 de dezembro deste ano – que seria de R$ 46,3 bilhões sem a alteração e de R$ 45,6 bilhões com as novas regras em vigor. No final do próximo exercício, o Estado ainda contaria com mais R$ 1,782 bilhão, a partir da redução dos saldos de R$ 48,8 bilhões (sem a alteração) e R$ 47,1 bilhões (com a alteração). “Não podemos esquecer que novas operações de crédito significam mais encargos, que se acrescerão aos atuais, aumentando igualmente a necessidade de provisões financeiras para o pagamento dos serviços da dívida”, sustenta Santos. O efeito básico de uma série de descompassos nas finanças começa a ser alardeado pela equipe de transição do governador eleito. Integrantes do grupo de trabalho, que atuam, desde novembro, na sede da Procergs, são categóricos ao afirmarem que, em março de 2015, não haverá onde encontrar recursos para o pagamento da folha de pagamento dos servidores.

Feltes afirma que não gostaria de elevar o endividamento, mas admite que não há outra alternativa

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ANTONIO PAZ/JC

Uso do espaço fiscal para manter a máquina funcionando enseja diferentes leituras Sejam quais forem os espaços fiscais, a questão começa a ganhar duas leituras ao longo do período de transição entre os governos. De um lado, o atual secretário, Odir Tonollier, considera como “investimentos” as 11 operações de crédito contraídas ao longo do governo Tarso no valor de R$ 5,1 bilhões. De fato, sem os financiamentos obtidos, dificilmente seria possível girar a engrenagem econômica gaúcha nos últimos quatro anos. Já o novo titular da pasta, a partir de janeiro, o deputado federal eleito Giovani Feltes (PMDB), se diz radicalmente contrário ao que chama “novo endividamento”. O futuro secretário da Fazenda, no entanto, revela não haver alternativas face à dura realidade das finanças públicas gaúchas. “Teremos um espaço em 2015 e tudo indica que teremos de contraí-lo”, afirma.

Na avaliação de Feltes, o fato significa a necessidade de “repetir as velhas fórmulas” até que seja possível equilibrar a ampliação das despesas com a arrecadação. “A meta é conseguir, ainda dentro desta gestão, a substituição de controle pelo regime de caixa vigente atualmente pelo controle via planejamento financeiro e econômico do Estado”, comenta. O peemedebista estima que o déficit orçamentário no exercício de 2014, que acumula R$ 2,3 bilhões até outubro, feche o ano em patamares superiores aos R$ 5 bilhões. Isso deve ocorrer, segundo ele, porque a projeção de orçamento foi superestimada. “Pela projeção de receitas do orçamento deste ano e para o ano que vem, teríamos 12,5% de elevação na arrecadação. Alguém acredita nisso?”, questiona. De fato, a disponibilidade de caixa

atual do estado do Rio Grande do Sul é de 5,2 bilhões, segundo os demonstrativos da dívida consolidada relativa ao período entre janeiro e agosto de 2014. Os chamados “demais haveres financeiros”, entretanto, já somam R$ 10,6 bilhões. Subtraindo os valores de restos a pagar, a disponibilidade negativa chegaria a R$ 5,4 bilhões. O montante negativo, por força de resolução da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) sobre o comprometimento das receitas correntes, não ingressa no cálculo da dívida bruta. No entanto, o déficit existe, é real e, em última análise, representa o tamanho da escassez de recursos no caixa único do Estado. Este também é considerado o único fator pelo qual o governo ainda tem uma pequena margem de endividamento. Do contrário, os espaços não existiriam.


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PERSPECTIVAS

economia Cumprimento das metas de superávit gaúcho evitaria novos déficits

% do PIB

40

30

20

2010

2011

2012

2013

R$ 35,275 bilhões

R$ 39,959 bilhões

11,9% do PIB

11,4% do PIB

R$ 37,745 ilhões

R$ 36,328 bilhões

12,0% do PIB

11,7% do PIB

R$ 33,232 bilhões

R$ 32,587 bilhões

11,4% do PIB

11,2% do PIB

R$ 30,104 bilhões

R$ 29,609 bilhões

11,4% do PIB

11,3% do PIB

R$ 28,780 bilhões

12

R$ 28,626 bilhões

2,3 bilhões no acumulado até outubro deste ano, resultado de uma arrecadação 7% inferior aos gastos. “Para sair deste situação, só há uma saída: retomar o cumprimento das metas de superávit primário. As margens restantes são basicamente no custeio e na redução ainda maior dos níveis de investimento. Para medidas mais severas não acredito que tenhamos atingido maturidade suficiente. Se, ao menos, as metas fossem cumpridas, a situação seria outra no que se refere ao déficit e a insuficiência financeira. Até 2012, a situação era de suficiência financeira e, em 2013, a curva se inverte.” Para o economista da Ufrgs Marcelo Portugal, não existem mágicas. Isso porque, segundo ele, o estado do Rio Grande do Sul não cabe mais no próprio Produto Interno Bruto (PIB). “O tamanho do Estado é muito maior do que o que arrecadamos. É preciso arrumar um jeito de resolver essa questão. Para isso, não seria preciso cortar gastos, até porque isso é impossível, mas é preciso arrumar uma maneira para crescer menos os gastos públicos. Não há como resolver o problema em um período menor do que três anos. O primeiro passo é elevar os níveis de crescimento de arrecadação acima do nível de evolução das despesas, o contrário do que vem ocorrendo.”

R$ bilhões

Na avaliação do economista e pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Liderau dos Santos Marques Junior, o exame dos dados do Rio Grande do Sul relativos ao período entre janeiro de 2010 e 2014 indica que os déficits orçamentários são crescentes e passaram de R$ 154 milhões para R$ 2,3 bilhões em outubro deste ano. Até 2013, ainda havia a geração de superávit primário, mesmo que abaixo das metas nominais e em níveis sempre decrescentes. Em 2014, o setor público também voltou a acumular déficit primário. Aliado a isso, Marques chama a atenção para os níveis de crescimento das despesas frente à evolução mais fraca da arrecadação. No período, a despesa total do setor público saltou de R$ 28,7 bilhões para R$ 35,2 bilhões, em uma variação bruta de 22,64%. Na outra ponta, a receita total foi ampliada de R$ 28,6 bilhões para R$ 32,9 bilhões. Ou seja, o incremento ficou na faixa de 15,06%. Quando comparadas as receitas e despesas, em 2010 representavam uma diferença de apenas R$ 154 milhões, isto é, o nível de despesas estava muito próximo ao da arrecadação. Quatro anos depois, o gap que se reflete na evolução do déficit orçamentário atinge a marca de R$

Resultado orçamentário de 2010 a outubro de 2014

10 8

2014

-154

milhões

-0,1

-495

-645

milhões

-0,2

milhões

-0,2 -1,417 bilhão

-0,4 Receita Total (R$ bilhões)

Receita Total (% do PIB)

Resultado Orçamentário (R$)

Despesa Total (R$ bilhões)

Despesa Total (% do PIB)

Resultado Orçamentário (% do PIB)

-2,316 bilhões

ARTE LUIS FELIPE CORULLÓN

Resultado primário de 2010 a outubro de 2014 40

30

2010

2011

2012

1,958

1,994

1,741

1,585

1,449

2013

0,893

Receita Primária (R$ bilhões)

Meta de Resultado Primário (R$ bilhões)

Despesa Primária (R$ bilhões)

Resultado Primário (R$ bilhões)

(*) FONTE: SEFAZ RELATÓRIOS RESUMIDOS E DEMONSTRATIVOS DE RESULTADO PRIMÁRIO CONSOLIDADO VALORES CORRENTES DE JANEIRO A OUTUBRO

1,653

R$ 32,384 bilhões

R$ 30,951 bilhões

R$ 34,792 bilhões

R$ 35,393 bilhões

R$ 30,502 bilhões

R$ 31,395 bilhões

R$ 27,588 bilhões

R$ 29,037 bilhões

R$ 25,819 bilhões

R$ 27,404 bilhões

R$ bilhões

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2014 1,419

0,601 -1,433 ARTE LUIS FELIPE CORULLÓN

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PERSPECTIVAS

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economia COMÉRCIO EXTERIOR

Balança comercial deve seguir trajetória de instabilidade FERNANDO SOARES fernando.soares@jornaldocomercio.com.br

Após viver outro ano de instabilidade e fechar 2014 no vermelho, a balança comercial brasileira deve ter mais uma temporada de dificuldades em 2015. Ainda que os números totais de dezembro não tenham sido divulgados, o próprio governo federal trabalha com a hipótese na qual as importações devem superar as exportações pela primeira vez desde 2000. Para 2015, a perspectiva até é de volta de superávit, mas nada que anime os exportadores. “Não temos números ainda, mas 2015 vai ser um samba do crioulo doido. Será um ano em que teremos que buscar errar menos”, destaca José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Para 2014, a entidade estima que o déficit da conta comercial chegue a US$ 4,8 bilhões. No ano seguinte, a previsão é de queda das exportações em torno de 8%. Entretanto, o dólar mais valorizado, na faixa dos R$ 2,60, pode frear importações. Nesse sentido, o resultado deve ser ligeiramente positivo. O presidente da AEB indica uma série de fatores que devem contribuir para mais um ano de dificuldades. As commodities terão queda de preços, as importações de petróleo e derivados tendem a seguir em alta e a competitividade dos manufaturados permanecerá em xeque, mesmo que o câmbio seja mais atrativo aos exportadores. “No caso dos manufaturados, não adianta ter só preço, tem que ter mercado. Mesmo com

preço bom, o estrangeiro pode já estar com um contrato em andamento”, explica Castro. Um dos principais responsáveis por desequilibrar a balança nos últimos anos tem sido os combustíveis. Ano após ano, o Brasil tem importado mais petróleo e derivados. Nesse sentido, o economista da Fundação de Economia e Estatística André Scherer constata que, se no curto prazo o desempenho comercial do Brasil tem sido ruim, há perspectivas de melhoras a longo prazo. “A produção brasileira de petróleo vem aumentando, algumas refinarias estão ficando prontas. Ou seja, existem investimentos que devem diminuir a importação e melhorar a balança por volta de 2017”, define. Outro ponto que influenciará o desempenho em 2015 é a situação econômica de alguns dos principais parceiros comerciais do País. “É preciso ver como vai ficar a demanda da China e também tem a Argentina”, lembra Lia Valls, pesquisadora do Ibre da Fundação Getulio Vargas (FGV). A pesquisadora diz que a dinâmica do comércio exterior mundial está mais lenta. Como ponto positivo, a especialista destaca a continuidade da retomada da economia dos Estados Unidos. De acordo com Scherer, o desempenho norte-americano é uma questão-chave para o Brasil na temporada vindoura. “Há uma projeção de aumento dos juros nos Estados Unidos, o que leva mais dinheiro para lá e também afeta negativamente o preço das commodities para nós”, sintetiza.

ANTONIO SCORZA/AFP/JC

Importações podem superar as exportações pela primeira vez desde o ano 2000. O déficit comercial está avaliado em cerca de US$ 4,8 bilhões para 2014, e a queda no ano seguinte já é estimada em 8%, mesmo que a previsão de valorização do dólar frente ao real fique dentro da faixa de R$ 2,60

Combustíveis são considerados responsáveis pelo desequilíbrio dos últimos anos

Situação delicada da Argentina impacta as projeções para o Estado Entre os exportadores do Rio Grande do Sul, a Argentina já se tornou sinônimo de dor de cabeça há algum tempo. Em 2015, a situação não deve mudar. A situação econômica complicada do país vizinho tem freado as importações vindas do Brasil e, nesse cenário, o Estado sai como um dos principais prejudicados, em função de sua proximidade geográfica e também do peso histórico dos argentinos na balança comercial gaúcha. “As vendas para Argentina em 2014 de-

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vem fechar com queda de 20% frente a 2013. Esse problema da Argentina não se resolve para o ano que vem e o cenário que se desenha é muito ruim”, opina o César Muller, coordenador do conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). Diante do quadro, Muller aponta que a saída é diversificar mercados, no intuito de compensar as perdas com a Argentina. Segundo estudo realizado pela equipe econômica da Fiergs, em 2015 as exportações

gaúchas devem variar entre US$ 18,4 bilhões e US$ 19,9 bilhões, com as importações oscilando entre US$ 15,1 bilhões e US$ 15,5 bilhões. Com isso, a tendência é de superávit de US$ 3,2 bilhões a US$ 3,9 bilhões. Para efeito de comparação, em 2014, a previsão é de saldo positivo de US$ 3,9 bilhões. “Os superávits da balança gaúcha são ocos, pois ocorrem mais em decorrência da diminuição das importações”, conclui o presidente da entidade, Heitor José Müller.

Apesar do câmbio em patamar mais elevado, o que na teoria eleva a competitividade dos produtos brasileiros vendidos no exterior, especialmente os manufaturados, as recentes oscilações da moeda norte-americana fazem com que os exportadores sejam mais cautelosos nas suas projeções para o ano seguinte. “Não tem uma taxa de câmbio ideal, são vários os possíveis câmbios ideais. Para alguns setores da indústria, esse dólar cotado a R$ 2,60 já está bom”, diz Müller.


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economia MERCADO DE CAPITAIS

Investidor busca menor exposição Na renda fixa, produtos indexados à Selic e à inflação devem permanecer no centro das atenções dos investidores RAFAEL VIGNA rafael.vigna@jornaldocomercio.com.br

Depois de um ano atípico, em que os resultados do mercado acionário sofreram influências internas pouco comuns, 2015 aponta no mapa dos investimentos com um maior grau de previsibilidade. Sem os efeitos sazonais gerados pelas eleições e pela Copa do Mundo, permanecem no radar dos investidores os ajustes provocados pela deterioração econômica, a cautela com relação ao setor de commodities e, sobretudo, o desenrolar das investigações da Operação Lava Jato, que já derrubaram os papéis da Petrobras a preços semelhantes aos de 2005. Soma-se à derrocada de Petr4, em queda de 45,19% de 2 de janeiro (R$ 16,75) até 15 de dezembro (R$ 9,18), e Petr3, que desabou 46,14%, de R$ 15,82 na abertura do ano para R$ 8,52 na segunda-feira passada, os ativos da Vale, que patinam em profundas readequações do segmento de minérios em todo

o planeta. Vale5 acumula no mesmo período um tombo de 49,8%, saindo de R$ 31,90 no primeiro pregão de 2014 para R$ 16,00. Apesar das precificações estarem em baixa, dificilmente essas ações têm frequentado as indicações de carteiras das principais corretoras do País. Por isso, de acordo com as projeções do analistas da Geral Investimentos, a elaboração de estratégias focada em empresas que andem sozinhas, de forma a serem menos afetadas pelos setores em que atuam, ou por fatores externos, como medidas governamentais com caráter restritivo, está no foco das recomendações. Segundo o analista Carlos Müller, entre as áreas que mais despontam como alternativas para o próximo ano, o destaque está em alimentos, educação, finanças e tecnologia. O panorama indica o acompanhamento de empresas como BRF, Kroton, Itaúsa e Valid. O diretor de Investimentos da Fundamenta, Valter Bianchi Filho, lembra que o desempenho atual já é contaminado por um

movimento de precificação prévia. “Ao longo do ano que vem, o foco será o ano de 2016 que, dependendo do grau de ajustes da política monetária, tendem a gerar expectativas mais positivas. Não podemos esquecer que o Brasil teve muitas intempéries em 2014, como a Copa e as eleições extremamente polarizadas. Acho que 2014 é um ano para ser esquecido, com recessão técnica e PIB próximo de zero. Tudo indica que 2015 será melhor, seja pelas expectativas, ou pela própria retomada da atividade econômica”, sintetiza. Em um cenário de nova escalada da Taxa Selic, que já atinge o patamar de 11,75%, ao ano, André Moraes e Roberto Indech, analistas da plataforma de investimentos Rico, chamam a atenção para as possibilidades abertas no mercado de Renda Fixa. Segundo relatório da Rico, os Títulos Públicos permanecem como a melhor opção. Para prazos menos alongados, até seis meses, as LFT (Letras Financeiras do Tesouro), títulos pós-fixados que por isso seguem a variação

da taxa básica de juros, são indicados pela grande liquidez para vendas. Para pessoas físicas, há ainda a opção das LCI (Letras de Crédito Imobiliário) ou LCA (Letras de Crédito do Agronegócio), favoráveis por também seguirem a variação da Selic e terem isenção de Imposto de Renda. No médio prazo, de seis meses a dois anos, a indicação é investir em LTN (Letras do Tesouro Nacional), título pré-fixado com rentabilidade definida na compra e que constitui boa opção em função da perspectiva de elevada taxa básica de juros em 2015, principalmente por conta das expectativas de inflação. No que diz respeito ao longo prazo – superior a dois anos –, as NTN-B (Notas do Tesouro Nacional-Série B) têm rentabilidade vinculada à variação do principal indicador de inflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acrescida dos juros definidos na compra, e se destacam por oferecer rentabilidade em termos reais, ou seja, ganho descontado da inflação.

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economia CONSUMO

Comércio e serviços buscam fôlego Iniciativas pontuais devem sair do papel para fortalecer atividades que são responsáveis pela maior parte da geração de empregos no Estado; gestão e competitividade surgem como os principais desafios do setor terciário FEDERASUL/DIVULGAÇÃO/JC

ADRIANA LAMPERT

Aplicação da lei do imposto de fronteira é essencial, diz Russowsky

turar de forma realista, olhando para dentro dos negócios, principalmente os pequenos e médios, que não têm acesso a financiamentos a longo prazo”, completa. Para Noer, mais do que nunca, fazer reserva de caixa para investimento em gestão será uma estratégia que pode ajudar no desempenho do setor. “Também há como desfocar do atendimento, que é o aspecto mais importante para o consumidor”. Noer acredita que os segmentos de cosméticos, bijuterias, roupas e calçados devem manter o ritmo de vendas, sendo os mais beneficiados em 2015, ano que se inicia após um período de baixo crescimento no

País. “A classe C continuará comprando”, aposta. Mas, para o dirigente, só haverá espaço para novos investimentos entre as médias e grandes marcas do varejo. “As pequenas empresas ainda estão muito sufocadas por questões tributárias”, diz Noer, referindo-se principalmente ao imposto de fronteira. “Enquanto entidade, iremos batalhar durante a gestão do Ivo Sartori por um espaço maior na área de desenvolvimento do varejo. É fundamental enxergar o comércio como um aliado do governo, uma vez que é grande gerador de empregos e impostos, além de ser o responsável pela venda do que é produzido no

Aumento de juros e tributos afetará no endividamento, alerta Koch

Brasil e no Estado.” A expectativa da AGV é de que em 2015 o setor obtenha um crescimento real de 0,7% a 1,2% em relação a 2014. Já o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL), Vitor Koch, calcula que seja possível ampliar o índice “com boa vontade” política. Na análise de economistas da entidade, na pior das hipóteses as vendas devem crescer entre 2,5% a 3,5%. Mas a taxa pode chegar a 4,5% se ocorrer medidas cíclicas, como sustentação da massa salarial e redução de encargo financeiro incidente sobre a renda das famílias, que, segundo a federação, gira em

O setor terciário aposta no diálogo com o governador eleito José Ivo Sartori para que a proposta de criação de um incentivo fiscal semelhante ao Fundopem (para indústrias) receba a atenção do governo do Estado. “O comércio precisa de um mecanismo, como a postergação do pagamento de ICMS em casos de novos investimentos, para que possa incrementar seu desenvolvimento”, afirmou o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.” De acordo com a expectativa da entidade, 2015 deve ser marcado por crescimento fraco (1% no País e 1,5% no Estado) e inflação persistente. Bohn afirma que o ano que vem exigirá um ajuste fiscal para a recuperação da confiança de empresários e consumidores na economia brasileira.

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Considerando o volume real de vendas do comércio no Rio Grande do Sul, a federação projeta expansão de 0,8% para o próximo ano, sendo que as vendas no varejo deverão ampliar em 0,5% e, no atacado, 1% “Se espera que o novo governo venha tomar medidas para retomada do crescimento do Estado, com atitudes inovadoras, arrojadas e redução de gastos com aumento de produtividade”, aponta o presidente da Federasul, Ricardo Russowsky, que projeta um crescimento de 1% a 1,5% da economia em relação a 2014. “Se olharmos para o cenário do ano que vem, se vê um horizonte embaçado. Está difícil vislumbrar as questões que virão do governo Sartori e de Dilma Rousseff”, avalia o dirigente da AGV, Vilson Noer.

torno de 35% na grande maioria dos casos. “De qualquer forma, é natural esperar que haja uma certa retração”, admite Koch. “Acreditamos que o consumo não ocorrerá na mesma proporção de 2010 a 2013. Ações do governo do Estado não interferem diretamente nas vendas, mais afetadas pelos juros. Se houver aumento da taxa Selic e de impostos, isso, sim, irá afetar o crédito, e o endividamento das famílias, o que nos preocupa bastante”, opina. Por outro lado, pontuou, com manutenção do emprego e da renda, o consumo continuará, embora não da forma esperada.

JONATHAN HECKLER/JC

Entidade pede incentivo fiscal nos moldes do Fundopem

Ano que chega vai exigir ajuste fiscal, afirma Bohn

AGV/DIVULGAÇÃO/JC

Enquanto a indústria enfrentará o desafio de ampliar a produtividade em 2015, o comércio e os serviços devem focar em melhorar a gestão e dar um gás na competitividade frente ao mercado, buscando, entre outras ações, intensificar a luta para que se cumpra a Lei 14.436. Aprovada há quase um ano pela Assembleia Legislativa, a legislação extingue o imposto de fronteira, percentual extra de 5% de ICMS pago pelas pequenas e microempresas na compra de produtos de fora do Estado, colocando fim à cobrança do Diferencial de Alíquota (Difa) e impedindo a reedição da tributação por decreto, o que possibilitará custos mais competitivos, segundo defendem as entidades representantes do varejo. “A economia no comércio precisa girar para manter a atividade viva, os pequenos lojistas são os maiores geradores de empregos no Estado”, destaca o presidente da Federasul, Ricardo Russowsky. Para ele, a aplicação da lei ajudaria pequenos e médios comerciantes, que são “a base de sustentação” do setor. O investimento em gestão será fundamental e decisivo para impulsionar as vendas no primeiro semestre do ano que vem, afirma o presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Vilson Noer. “Imaginamos que é importante o varejo se estru-

JONATHAN HECKLER/JC

adriana@jornaldocomercio.com.br

Noer vê horizonte embaçado


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economia

MISASI COMUNICAÇÃO PERSPECTIVAS/DIVULGAÇÃO/JC

Estado mantém agenda de inaugurações Novos empreendimentos devem ajudar a impulsionar o desejo de consumo da população gaúcha em 2015 e 2016. Uma das obras mais esperadas deve ser entregue em outubro do ano que vem: a ampliação do Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, investimento de R$ 150 milhões que inclui 1,8 mil novas vagas de estacionamentos, 100 novas lojas e 25 mil m² de Área Bruta Locável (ABL). Para Cíntia Marques, gerente de marketing do empreendimento, o shopping entregará aos gaúchos uma nova oportunidade de entretenimento e compras na Capital, além de gerar 2,5 mil novos empregos. A perspectiva é de que, após as obras, o fluxo de clientes passe de 18 milhões para 23 milhões e o fluxo de veículos aumente de 8 milhões para 10 milhões por ano. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Luiz Fernando Veiga, há outras inaugurações previstas para o período no Estado: em

Em 2016, Praça Alvorada abrigará 133 lojas com a geração de 2.500 empregos

2015, o Partage Shopping abre as portas em Rio Grande. Já em 2016, é a vez de Alvorada e Canoas receberem novos empreendimentos (Praça Alvorada Shopping Center e Park Shopping Canoas). Resultado de aporte de R$ 200 milhões, o Partage deve ser entregue ainda no primeiro semestre. O empreendimento terá espaço para 160 lojas e já conta com âncoras confirmadas (Renner, Americanas, Riachuelo, Marisa, Cinemark e Magic Game). “As atenções agora são para a fase da comercialização, já que a obra está avançando

em ritmo intenso. O objetivo é oferecer oportunidade para os investidores com um mix atraente”, diz Renato Machado, superintendente do shopping. Previsto para inaugurar em abril de 2016, o Praça Alvorada terá 27.685 m² de ABL, 133 lojas, praça de alimentação completa e seis salas de cinema 100% digitais. Depois de sua abertura, serão gerados mais de 2,5 mil postos de trabalho para o município. De acordo com a assessoria do grupo 5R Shoppings Centers, desde o início do semestre, a obra acontece

em ritmo acelerado. O valor do investimento será de R$ 200 milhões. No final de 2016, será a vez do MGrupo inaugurar o Design Mall. Atualmente, a obra passa por análise do solo do empreendimento e em breve começará com as fundações. Já a Multiplan iniciou a pré-locação do Park Shopping Canoas, que terá, em sua primeira fase, 48 mil m² de ABL distribuídos em 258 lojas. O empreendimento oferecerá hipermercado, pista de patinação no gelo, academia, parque de diversões indoor, entre outras atividades.

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economia AGRONEGÓCIOS

Soja deve garantir crescimento do agronegócio em 2015 Conab, Farsul e consultores projetam uma safra maior no Rio Grande do Sul, além de preços e mercados estáveis para os produtores LUIZ EDUARDO KOCHHANN

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma safra de 29,1 milhões de toneladas para a safra do Rio Grande do Sul em 2014/15, alta de 1,6% na comparação com o ano passado. Ou seja, a segunda maior da história, atrás apenas de 2012/13, quando foram colhidas 29,7 milhões de toneladas. A área plantada também segue em crescimento, podendo atingir 8,6 milhões de hectares. A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) aposta na mesma área que o órgão federal, mas acredita em uma safra de 31,6 milhões de toneladas, o que representaria um recorde para o Estado. A expectativa de bom desempenho é alavancada por uma cultura em especial: a soja. A oleaginosa apresenta no Rio Grande do Sul um quadro similar ao observado no restante do Brasil, com crescimento, sempre segundo a Conab, em área (4,1%), produtividade (2,8%) e produção (7,1%). Com isso, se o clima não for adverso, a colheita seria de 13,7 milhões de toneladas. O avanço se dá, principalmente, nas regiões da Metade Sul e na Fronteira Oeste, onde, de acordo com o superintendente regional da Conab, Glauto Melo Júnior, ocu-

ANDRÉ NETTO/ARQUIVO/JC

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Se o clima não for adverso, a colheita do grão será de 13,7 milhões de toneladas

pou mais 75 mil hectares no plantio que está sendo finalizado. A rotação em cultura de arroz, na várzea, reforçada nos últimos quatro anos, ajudou a intensificar o cenário em questão. Mas o ganho acontece, inclusive, em locais de campo nativo e sobre outras culturas de verão. Com isso, o milho terá a menor área plantada desde o co-

meço da série histórica de acompanhamento do governo federal, iniciada em 1977, com apenas 980 mil hectares. A produção do grão deve girar, então, na casa das 5 milhões de toneladas, abaixo da demanda do Estado, que, em 2015, passará da linha das 6,5 milhões de toneladas. Restará à indústria gaúcha importar o restante do Paraná, na

maior parte, mas também do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Para o analista Carlos Cogo, da Consultoria Agroneconômica, o processo é irreversível até mesmo em longo prazo e pode ser explicado por apenas um fator: rentabilidade. “Não tem saída. O produtor coloca as planilhas lado a lado, e o resultado da soja é melhor em todos os as-

pectos”, afirma. O sojicultor viu seu lucro cair para R$ 741,00 (-51%) por hectare em 2014. Mesmo assim, os valores são muito superior aos do milho, que rendeu apenas R$ 172,00 por hectare em média. “Com todo o tombo do preço da soja, ela ainda deixa ganhos maiores e terá preferência em 2015. Não fosse a área de agricultura familiar que persiste, principalmente no Norte e Nordeste do Estado, o milho nem chegaria a esses 900 mil hectares no próximo ano”, pondera Cogo. Os preços das principais commodities despencaram no mercado internacional, pelo menos, até agosto de 2014, devido à supersafra norte-americana. O preço do bushel da soja, por exemplo, baixou do patamar de US$ 10,00 em Chicago, centro balizador da comercialização. Apesar disso, em setembro, outubro e novembro, segundo Cogo, a recuperação foi, em média, de 11%. Portanto, a tendência é de que em 2015 haja estabilidade, ainda com a China, provável destino de 70% da produção brasileira, concentrando o aumento da demanda mundial de grãos. A vantagem do produtor brasileiro é que os insumos foram comprados com o dólar a R$ 2,22, em média, enquanto as vendas serão balizadas com a moeda entre R$ 2,55 e R$ 2,60 se as perspectivas de alta se manterem.

Estabilidade do arroz é exemplo para outras cadeias produtivas A umidade durante a primavera encurtou o período de plantio do arroz. O início da janela foi considerado o pior dos últimos cinco anos e assustou os produtores que não conseguiam entrar com as máquinas no campo. Mas o clima melhorou e, na segunda semana de dezembro, o cultivo estava 2% acima do observado no mesmo período do ano passado. O Instituto Riograndense do Arroz (Irga) estima, então, uma área final de 1,1 milhão de hectares, praticamente a mesma de 2013/14. A produção, uma vez confirmadas as boas projeções climáticas, será de até 8,4 milhões de toneladas. A produtividade média deve

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ser de 7,5 mil toneladas por hectare. Um dos catalisadores do bom momento é a rotação de cultura com a soja, que cada vez mais ocupa espaços de várzea. A expectativa é de 320 mil hectares da oleaginosa cultivados em terras orizícolas. De acordo com o diretor técnico do Irga, Rui Ragagnin, a prática é incentivada por melhorar as condições do solo e, consequentemente, a produtividade, além de combater pragas e reduzir os gastos com agrotóxicos. “É uma visão estratégica que também tem trazido benefícios econômicos”, acrescenta. Afinal, estando capitalizado pela presença integrada com a soja, é possível

escolher o melhor momento para comercializar arroz. Outra bandeira da cadeia tem sido a internacionalização. No total, entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de toneladas da próxima safra serão exportadas para 55 países em cinco continentes. Com o dólar em alta, a tendência é manter a balança comercial positiva pelo quarto ano consecutivo, com saldo de 250 mil toneladas em 2015. “Além dos tradicionais Cuba, Venezuela e África, o projeto Brazilian Rice ainda deve abrir novos mercados na América Central e Oriente Médio”, explica o chefe de gabinete do Irga e coordenador da Câmara Seto-

rial do Arroz, César Marques Pereira. O setor do arroz deve, inclusive, servir de exemplo para a reestruturação do trigo. O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, garantiu que essa será uma das prioridades para 2015. A principal cultura gaúcha de inverno teve quebra de 56,5% na produtividade e, consequentemente, 52,2%, na colheita, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo assim, a entidade projeta manutenção da área de cerca de 1,1 milhão de hectares para o trigo tendo em vista a demanda interna pelo grão.


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economia

Demanda mundial impulsiona mercado de proteínas animais A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) espera crescimento de 3% a 4% no volume exportado de aves no próximo ano. De uma maneira geral, os gaúchos devem enviar aproximadamente 740 mil toneladas de carne de frango para outros países. Além da Rússia, os principais destinos serão o Oriente Médio, a Ásia e a África. Especificamente, a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) ainda espera um incremento das compras da China e a abertura do mercado indiano. Segundo o presidente da ABPA, Francisco Turra, o governo brasileiro acordou com os chineses a habilitação de mais sete frigoríficos de aves. No mercado interno, a expectativa é de que o consumidor troque a proteína bovina – mais cara - pela de frango, com possibilidade de aumento de dois quilo no consumo per capita. Para o diretor executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos, a retomada das exportações a partir do “efeito Rússia” – no acumulado do ano, o volume exportado para esse país aumentou quase 160% em nível na-

cional - deixou o setor mais otimista. Nesse cenário, o Rio Grande do Sul, que enviava 3% do total das suas vendas internacionais para os russos, pode aumentar essa fatia para 10% em 2015. Entretanto, a entidade ainda prega cautela. “A continuidade deste crescimento é uma incógnita, pois a política internacional e as negociações entre Rússia e Ucrânia podem mudar esse quadro de uma hora para outra”, pondera. Em relação aos insumos e aos custos, a preocupação do setor é a baixa oferta de milho, utilizado como ração. Atualmente, é necessário buscar quase 2 milhões de toneladas fora do Estado. A situação poderá piorar com a tendência de próxima safra ter a menor área plantada para o grão desde o início do cálculo da série histórica em 1977. “Esse fator impacta drasticamente. Boa parte que é produzido no Norte do Estado é adquirido por agroindústrias catarinenses, outra fatia é exportada, ficando um volume irrisório para o consumo interno. Falta sintonia dos setores envolvidos direta e indiretamente na cadeia do milho”, reclama Santos.

A proteína suína, mesmo com a possibilidade de fechar 2014 com retração de 2,4% nas exportações, se valeu do mercado russo para aumentar a rentabilidade, uma vez que as receitas devem evoluir 25% neste ano. Os criadores, que recebiam R$ 3,50 e R$ 3,80 por quilo em 2013, chegaram ao patamar de R$ 4,85 em determinados momentos de 2014. Para 2015, o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (Acsurs), Valdecir Folador, acredita que a manutenção do valor acima dos R$ 4,00 será positiva. A indústria, por sua vez, se beneficia da baixa oferta no mercado internacional devido a problemas sanitários na Europa e nos Estados Unidos. Além do Japão e da China, Turra informa que há negociações avançadas para ter acesso ao México e a Coréia do Sul. A carne bovina brasileira entrará no mercado mais disputado do mundo em 2015. A China voltará a comprar do Brasil depois de um embargo iniciado em 2012, quando foi registrado um caso de encefalopatia espongiforme – doença conhecida

como mal da vaca louca – no Paraná. O ministro da agricultura, Neri Geller, projetou, em julho, a possibilidade deste mercado injetar mais de US$ 1 bilhão. O Rio Grande do Sul possui um frigorífico autorizado e deve habilitar mais um. Além disso, a Rússia, a Venezuela e o Irã seguem como mercados importantes. A demanda mundial, inclusive, tem pressionado os preços para cima. A arroba do boi, por exemplo, partiu de R$ 100,00 no início de 2014 para R$ 147,00 em dezembro. Embora a projeção seja de mais pressão internacional pela proteína, o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, não aposta em uma grande elevação nos valores. “Acho que estamos chegando em um patamar de preço em que não há muitas margens para crescimento salvo que outras condicionantes intervenham no mercado”, ressalta. Para Pereira, com o ganho de área da soja, a tendência, no Estado, é de aumento da tecnologia no campo para aumentar a quantidade de animais por área exposta e reduzir as idades de acasalamento e abate para manter a oferta atual.

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economia INDÚSTRIA

Repetir 2014 já será uma vitória para indústrias metalmecânicas Empresas do segmento industrial em Caxias do Sul estimam que o primeiro trimestre do próximo ano será de baixos volumes de produção e de vendas, mas o setor acredita que o mercado apresentará uma leve recuperação no período seguinte

ROBERTO HUNOFF, DE CAXIAS DO SUL

organizado pelo Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários, em São Paulo, que serviu para balizar as estratégias das empresas. O entendimento é que a área de ônibus terá números melhores em razão da mudança da política de concessões para linhas rodoviárias, situação que dá mais segurança aos transportadores e também ao governo. “Não vol-

Responsável por mais de 48 mil postos de trabalho, número que vem decrescendo, a indústria metalúrgica de Caxias do Sul estima redução próxima a 20% no faturamento de 2014 na comparação com 2013, que foi de R$ 19,5 bilhões. Para o próximo ano a expectativa preliminar das lideranças do setor é repetir o desempenho de 2014, com possibilidades reduzidas de retornar aos volumes de 2013, desde que as medidas do governo federal surtam efeito imediato. De acordo com Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), o primeiro trimestre de 2015 será de baixos volumes de produção e vendas, com leve recuperação no período seguinte. “O primeiro semestre será marcado pelas medidas de ajustes fiscais para organizar as contas do governo. Só depois disto é que poderemos projetar a retomada da economia”, observou. Adianta, porém, que recuperação efetiva somente em 2016. Segundo o dirigente, esta visão é quase que unânime na indústria metalúrgica, especialmente a que tem foco no segmento automotivo, atividade principal do setor em Caxias do Sul. Fonseca participou, recentemente, de seminário

MARCOPOLO/DIVULGAÇÃO/JC

economia@jornaldocomercio.com.br

ta ao normal, mas melhora.” Já a expectativa para máquinas agrícolas é de redução em função das dificuldades do setor agrícola exportar por causa da queda dos preços nas commodities e das restrições de compras na Argentina. No segmento de implementos rodoviários a tendência é de manutenção dos volumes de 2014, que estão 11% abaixo do que foi consolidado em 2013. É possível, no entanto, que fevereiro sinalize

alguma recuperação em função provável safra recorde de grãos, que influencia diretamente os setores de implementos e máquinas agrícolas. Luis Antônio Oselame, diretor da câmara automotiva do Simecs, explica que as montadoras costumam transmitir planos de volumes maiores do que aqueles que a base de fornecedores reconhece que vá acontecer. O executivo reforça a ideia de um primeiro tri-

Área de ônibus terá números melhores em razão da política de concessões para linhas rodoviárias

mestre muito fraco e de lenta recuperação na sequência, fechando o ano com bases iguais ao fechamento de 2014. Mas alerta: “Será um ano marcado por muitas dificuldades. Soa até otimista a visão de que conseguiremos números semelhantes.” Por conta desta visão, Oselame assegura que as empresas terão comportamento ainda mais cauteloso. Elas não devem suspender investimentos, mas os consolidarão de forma mais lenta e, inclusive, com revisões. “O primeiro trimestre será de muitos estudos.” Oselame observa que a indústria de veículos comerciais depende muito das políticas de financiamento do Bndes. “Como inexiste uma visão de longo prazo o setor trabalha sempre com incertezas.” Para o presidente do Simecs, as medidas de ajustes impactarão diretamente esta situação. “Não acredito que sejam mantidos os juros subsidiados como ocorre atualmente com o PSI. Além disso, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil perderão recursos do Tesouro e terão mais dificuldades para emprestar. A liberação de créditos tende a ficar mais complicada.” Fonseca acrescenta que a demora na definição das políticas do Bndes custaram caro ao setor em 2014. “De 250 dias úteis de vendas fecharemos com apenas 180. Esperamos voltar à normalidade em 2015. Mas quem determina isto é o Bndes.”

Atividade sofre com custos inflados e menor número de empregos As medidas de ajustes que a nova equipe econômica do governo federal deve anunciar e aplicar a partir de janeiro elevarão de forma significativa os custos industriais. De acordo com Getulio Fonseca, os derivados de petróleo serão reajustados em até 30%, a energia terá novo tarifaço e a Cide voltará a ser cobrada. Como alternativa para enfrentar esta elevação nos custos, o presidente do Simecs entende que a indústria metalúrgica terá de ser ainda mais inovadora e produtiva em seus processos e produtos. Isto, segundo ele, passa necessariamente por mais investimentos em automação e na capacitação do

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quadro de funcionários. “O número de empregos continuará em queda e o trabalhador terá de entender que só continuará na função se estiver qualificado”, afirma Fonseca. No final de 2012, a atividade empregava em torno de 51 mil pessoas em Caxias do Sul. O número cresceu para 51,5 mil no ano passado, mas fechará este exercício abaixo de 48 mil. Ainda assim representa 53% do contingente empregado na indústria e 26% no total do estoque de postos formais da cidade. Como alternativa para evitar as demissões, Luis Antonio Oselame indica como possibilidade a retomada da adoção da fle-

xibilização de jornada no primeiro semestre, usada por muitas empresas ao longo deste ano. “É um remédio amargo, mas é alternativa para preservar os empregos. Empresas e trabalhadores precisarão pensar em soluções mais inteligentes e rever antigos métodos.” E lembra que o período da crise coincide com o início das negociações do dissídio coletivo. Além dos custos oficiais, também pesarão os reajustes nos insumos do setor, aços em especial. A projeção é que na virada do ano as siderúrgicas apliquem índices de 10% a 12% sobre as tabelas atuais. Oselame afirma que esta combinação impacta as margens

das empresas, que encontram muitas dificuldades de repassar os aumentos para os clientes. “A inflação é uma situação complicada, embora a maioria prefira não falar sobre o tema”, destaca. Mesmo com projeção de R$ 2,85 para o dólar no ano, a taxa cambial não deve facilitar as exportações para as indústrias metalúrgicas da Serra. De acordo com Fonseca, a valorização do dólar se estenderá aos países emergentes, principais concorrentes do Brasil no exterior. A saída para ganhar novos mercados é, segundo ele, investir na competitividade e inovação.


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economia CONSTRUÇÃO CIVIL

Mercado imobiliário projeta resultados modestos Ano fecha com números muito abaixo em relação aos registrados em anos anteriores; 2015 deve ser um período difícil, influenciado especialmente pela conjuntura econômica do País MARINA SCHMIDT marina@jornaldocomercio.com.br

Copa do Mundo, eleições, baixo crescimento econômico, retração dos investimentos e uma incerteza generalizada, notada tanto entre investidores quanto entre compradores, criaram o contexto negativo deste ano e projetam um cenário semelhante para o próximo. O boom do mercado imobiliário estagnou, ao menos temporariamente. Prova disso são os preços dos imóveis, que neste ano chegaram, em média, a altas muito próximas dos índices de inflação. O economista da Fipe Bruno Oliva explica que os preços, avaliados pelo índice FipeZap de imóveis anunciados, ainda registram alta real de maneira geral, porém em patamares cada vez mais baixos. “Ao longo dos últimos anos, o preço dos imóveis vem subindo acima da inflação, mas, mais recentemente, convergindo cada vez mais para ela”, justifica. “O desaquecimento da demanda pode levar a queda real de preço dos imóveis”, projeta para o próximo ano. A principal razão para a previsão está na conjuntura econômica, que já está influenciando os resul-

tados do setor, mas que pode se acentuar ainda mais. “Pode haver uma alta de inadimplências e dos distratos, que já estão relativamente altos em comparação com os períodos anteriores”, detalha Oliva. Na divulgação de resultados mais recente, a construtora Gafisa informou o aumento de 25,68% no número de distratos entre o segundo e o terceiro trimestres de 2014 – cujo impacto financeiro subiu dos R$ 119,9 milhões para R$ 150,7 milhões. O economista do Ipea Adolfo Sachsida e coautor do estudo Existe Bolha Imobiliária no Brasil?, confirma a tendência. “Hoje, o brasileiro médio já deve metade da renda anual. O que vai estourar a bolha é o aumento da taxa de juros, porque dispara outros fenômenos”, pontua. O conceito de bolha imobiliária não é uma unanimidade, mas no imaginário popular figura como um cenário de queda acentuada de preços. Como no Brasil a concessão de crédito é, historicamente, conservadora, a perspectiva é de reflexos não tão dramáticos. “Vai ter uma população muito endividada com menos emprego e pode gerar a parada do mercado imobiliário”, analisa o economista, que prevê es-

MARCOS NAGELSTEIN/JC

Boom do setor estagnou e os preços apresentaram altas muito próximas dos índices de inflação

tabilização dos preços dos imóveis ou reduções pontuais – destacando que a situação varia dependendo da cidade e, não raro, entre os bairros de um mesmo município. “Nacionalmente, o mercado de imóveis vai ter um ano ruim, muitas pessoas não vão conseguir pagar seus financiamentos.”

Oliva refuta a ideia de bolha imobiliária e vê a situação atual como um movimento normal do mercado. “Basicamente três pilares que sustentaram o aumento da demanda: mercado de trabalho, crédito com prazos se alargando e taxa de juros caindo, e a questão demográfica. No Brasil ainda

é grande o número de novas famílias formadas todos os anos, porém, antes eram três elementos puxando a demanda para cima e agora dois deles – mercado de trabalho e crédito – já não estão tão aquecidos como nos últimos anos. É natural que os preços se acomodem”, sustenta.

MARCOS NAGELSTEIN/JC

Nova onda de euforia é aguardada para os próximos anos

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Estado apresenta desaquecimento em todos os indicadores, afirma Sessegolo

Sexta-feira 19 de dezembro de 2014

O Rio Grande do Sul deve encerrar 2014 com estagnação, podendo registrar até retração, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Ricardo Sessegolo. O desaquecimento é nítido na avaliação de todos os indicadores: o número de lançamentos, até outubro, reduziu 31,65% quando observado o mesmo período do ano passado, e as vendas recuaram 20,08%. Nessa equação, o estoque de unidades se mantém, também, em queda, passando de 4.267 em dezembro de 2013 para 3.861 unidades em novembro deste ano. Porém, o contexto não é apenas negativo. Mesmo com efeitos econô-

micos impactando no mercado, há resultados positivos, sustentados, sobretudo, pela baixa dos estoques. “A Rossi teve um ano muito bom quando observamos só o Rio Grande do Sul. Porto Alegre teve represamento de lançamentos por entraves do setor público e a demanda continuou muito forte, no mesmo nível dos anos anteriores”, afirma Gustavo Kosnitzer, diretor regional da incorporadora Rossi, que começou o ano com muito estoque e garantiu a manutenção das vendas em 2014. Sem arriscar previsões, o vice-presidente de comercialização do Secovi-RS, Gilberto Cabeda, admite que houve uma queda na movimentação do mercado imobiliário local neste ano, em torno de 20% a

30% em relação a 2013. Cabeda reforça, no entanto, que o movimento do mercado imobiliário é naturalmente de altas e baixas e destaca que haverá nova maré positiva para o setor nos próximos anos. “Vai haver outro período de euforia. Vários fatores cooperam para isso”, diz. O principal motivo para projeção é o déficit habitacional, ainda elevado no País. As boas notícias para 2015 ficam por conta dos compradores. Com maior dificuldade para vender, construtoras e incorporadoras estarão mais dispostas a negociar preços, avaliam os especialistas. “Agora é época de comprar imóvel. Os preços estão dentro da média de mercado”, defende Cabeda.


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economia TECNOLOGIA

Gestão, qualificação e interiorização estão na mira da TI gaúcha Criação de uma cadeia produtiva para as empresas de tecnologia, fortalecimento dos players locais e apoio ao crescimento das startups são algumas das estratégias que devem ser incentivadas no próximo ano SUCESU/DIVULGAÇÃO/JC

PATRICIA KNEBEL patricia.knebel@jornaldocomecio.com.br

DESAFIOS PARA O SETOR

É um ponto de preocupação para as empresas de TI o encolhimento da nossa indústria, da economia do Rio Grande do Sul e a transferência das decisões de várias empresas gaúchas para outros estados, em especial do Sudeste.

Aumentar a representatividade política, permitindo assim avanços rápidos e concretos, aliados a uma união das entidades em projetos comuns em prol de um setor de TI forte.

Edgar Serrano

Letícia Batistela

Que desenvolva políticas que permitam o crescimento e fortalecimento das empresas locais, por meio de incentivos para qualificação, bem como no processo de compra, a fim de dar condições maiores para que as empresas locais vendam seus serviços e produtos para o governo estadual.

INTERIORIZAÇÃO DOS PARQUES TECNOLÓGICOS

DESVANTAGENS SUPERADAS PELO TALENTO Ainda que haja um abismo entre o ambiente brasileiro para startups se comparado com o Vale do Silício (EUA), as oportunidades começam a aparecer no Brasil. O mercado privado está mais atento, pois temos empresas e profissionais experientes que estão à procura de boas ideias para investir recursos financeiros, dar coaching, enfim, fazer uma startup acontecer. Já o governo, mesmo que disponibilize recursos, não consegue mudar a regra do jogo (legislação trabalhista, fiscal e tributária) para incentivar grandes investimentos privados em startups. Portanto, as startups brasileiras tem desvantagens se comparadas com outros países, mas dentro do cenário nacional haverá investidores procurando talentos com boas ideias para investir, pensando no retorno maior do que as aplicações financeiras. Edgar Serrano

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O QUE ESPERAR DO NOVO GOVERNO ESTADUAL

Eduardo Hahn

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Há quase uma década todos os recursos de parques tecnológicos são colocados somente na Grande Porto Alegre. Falta uma política efetiva de interiorização dos parques tecnológicos, das empresas e dos empreendimentos imobiliários de TI no Interior. Sem isso, não incentivamos a formação de mão de obra em outras cidades, tornando cada vez mais difícil encontrar profissionais na Capital e na Região Metropolitana. Se isso for feito, todos ganharão, pois os jovens não precisarão sair das suas cidades e os governos municipais terão mais renda per capita, gerando o desenvolvimento regional sustentável.

FREDY VIEIRA/JC

FREDY VIEIRA/JC

Os desafios para a Tecnologia da Informação (TI) gaúcha passam pelo cenário conjuntural do Estado e do País e por gargalos que, há algum tempo, já acompanham o setor. A criação de uma cadeia produtiva para as empresas de tecnologia, a necessidade do fortalecimento dos players locais e o apoio ao crescimento das startups são algumas das estratégias que devem ser incentivadas no próximo ano pelo poder público e pela iniciativa privada, na opinião dos gestores de algumas das principais entidades de TI que atuam no Rio Grande do Sul. Os presidentes do Sindicato das Empresas de Tecnologia do RS, Edgar Serrano, da Associação de Usuários de Informática e Telecomunicações (Sucesu-RS), Eduardo Hahn, e da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-RS), Letícia Batistela, traçam abaixo o cenário para 2015 e os obstáculos que devem ser enfrentados pelas empresas e CIOs.

ENCOLHIMENTO DA ECONOMIA

Edgar Serrano

RECUPERANDO O TERRENO DAS STARTUPS O setor privado gaúcho acordou tarde para o mundo das startups, mas está tentando recuperar o terreno. Em termos de governo estadual, não existe nenhuma iniciativa concreta de apoio, ainda que muito esteja sendo falado. Existem muitas ações de fomento isoladas e falta articulação entre elas, bem como um ponto de concentração física que favoreça o florescimento de uma comunidade. O projeto de recuperação do 4° Distrito, promovido pela prefeitura de Porto Alegre e outras entidades, pode vir a ser um catalizador para a formação de um polo deste tipo. As universidades estão bastante engajadas, promovendo eventos de fomento ao empreendedorismo, contam com incubadoras e parques tecnológicos, sendo o da Tecnopuc uma referência nacional. Ainda assim, a Ufrgs, nossa principal universidade pública e com enorme potencial humano, ainda está engatinhando nesta área.

GESTÃO PROFISSIONAL PARA GANHAR MERCADO As empresas de TI do RS dominam o contexto de tecnologia e da inovação, porém falta capacitação de gestão e marketing. Isso leva a uma grande dificuldade de se firmar no mercado nacional e internacional, não porque seus produtos não são bons o suficiente, mas porque têm uma gestão amadora e não sabem vender o que desenvolvem. Problemas legais, contábeis e a ausência de um planejamento estratégico são os sintomas desta gestão amadora. Falta as nossas empresas saber se apresentar ao mercado e reinventar o seu marketing. Senão seremos atropelados por empresas de fora que investem em gestão e profissionalismo. Letícia Batistela

Letícia Batistela

REDUÇÃO DOS ORÇAMENTOS DE TI

DE OLHO NA COMPETITIVIDADE Segue o princípio da qualificação técnica e empresarial para as empresas serem competitivas no mercado, seja cenário nacional ou internacional. Isso deve incluir, por exemplo, a busca por certificações como CMM, ITIL e MPS-BR.

Um dos principais desafios dos CIOs em 2015 será o controle e a possível redução do orçamento de TI devido à expectativa de recuo do mercado. Além disso, segue a necessidade de formação de mão de obra, algo que não se resolveu nos últimos anos e será pauta ainda nos próximos.

Eduardo Hahn

Eduardo Hahn


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economia ENERGIA

Aumentos das contas de luz seguirão elevados em 2015 Uso intenso das termelétricas devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas impactou o custo para o consumidor; sistema de bandeiras tarifárias começará a vigorar a partir de janeiro do ano que vem

Ciclo irregular de chuvas no Sudeste obrigou governo a acionar geração mais cara

JEFFERSON KLEIN jefferson.klein@jornaldocomercio.com.br

A

s tarifas de energia, que em 2014 tiveram reajustes médios acima de 20% nas três maiores distribuidoras gaúchas (AES Sul, RGE e CEEE-D), continuarão a ter incrementos dessa grandeza em 2015. O principal motivo é o mesmo que impactou as contas de luz neste ano: o uso intenso das termelétricas (uma geração mais cara) devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. O diretor da Siclo Consultoria em Energia Plinio Milano é um dos especialistas na área energética que aposta em tarifas elevadas no próximo ano. O consultor explica que o período de chuvas estende-se de dezembro a abril, ou seja, vai começar a chover, o que é esperado e que aumentará o nível dos reservatórios. “Só que a região Sudeste, que é a principal do País (quanto aos reservatórios), fechou o mês de novembro abaixo do que estava durante o tempo do racionamento”, adverte. Milano

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ressalta que há muito volume de água para ser recuperado e as termelétricas continuarão despachando à plena potência. O consultor enfatiza que as térmicas têm um custo muito alto em relação às hidrelétricas e, com a operação maciça dessas usinas, alguém terá que pagar esse preço. “E esse alguém somos nós (consumidores)”, alerta. Porém, Milano salienta que, em 2015, o que deverá ocorrer de diferente é uma divisão das elevações da conta de luz. Isso acontecerá por causa do sistema de bandeiras tarifárias que começará a vigorar a partir de 1 de janeiro. O reflexo dessa situação hidrológica insuficiente será transferido ao consumidor final através desse novo modelo. Em resumo, os valores a mais, devido às condições mais custosas de geração, que hoje são repassadas anualmente nas tarifas através dos reajustes das distribuidoras, serão parcelados mensalmente. As bandeiras verde, amarela e vermelha (mesmas cores dos semáforos) indicarão se a energia custará mais ou menos. Na bandeira verde, que significa condições favoráveis de

geração de energia, a tarifa não sofre acréscimo. Contudo, na amarela, terá incremento de R$ 1,50 para cada 100 kWh consumidos, e na vermelha, de R$ 3,00. As cores das bandeiras aplicadas a cada mês podem ser acompanhadas através do site da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e também deverão ser informadas nas contas de luz. Milano adverte que, com o nível atual dos reservatórios, todos os subsistemas de energia do Brasil (que está dividido em Sul, Norte, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste) deverão operar com bandeira vermelha na maior parte do tempo. O diretor da Siclo explica que com esse novo sistema, quando ocorrerem os reajustes anuais de cada distribuidora, o impacto na conta de luz será menor, pois parte dele já terá sido absorvido com o mecanismo das bandeiras. Milano detalha que uma parcela do reajuste anual engloba hoje o custo mais elevado da compra da geração térmica. No caso da AES Sul, RGE e CEEE-D, os reajustes anuais são praticados em 19 de abril, 19 de junho e 25 de outubro.

O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Edilson Deitos, concorda que a perspectiva para o ano que vem, a não ser que a expectativa de volume de chuvas mude significativamente, é a do Brasil operar na maioria dos meses com bandeira vermelha. O empresário afirma que o elevado despacho térmico deverá onerar as contas de luz tanto em 2015 como no ano seguinte. O dirigente adianta que não existem fortes indicativos que apontem que os aumentos das tarifas de energia sejam muito inferiores a 30%. “Infelizmente só tem notícia ruim, São Pedro não ajuda”, lamenta. O presidente do Conselho de Consumidores da CEEE-D e da AES Sul e vice-presidente da Federasul, Paulo Menzel, reforça que o País continua sendo dependente da hidreletricidade. O dirigente adverte que as termelétricas, que operaram intensamente em 2014, deverão continuar com essa função para o próximo ano. “E nós teremos um encarecimento substancial da energia elétrica”, antecipa o dirigente.


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PERSPECTIVAS

economia

Renovação da concessão da CEEE-D será decidida neste ano Em 2015, várias distribuidoras de energia enfrentarão o processo de renovação das suas concessões. Entre essas empresas está a Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D), cujo contrato expira em 7 de julho. A aposta de quem acompanha o assunto é de que não será um tema simples de ser resolvido. O presidente do conselho de consumidores da concessionária, Paulo Menzel, prevê que a renovação da concessão da distribuidora

envolverá uma imensa discussão, que não deverá ser fácil. “Mas, eu pergunto, quem nós colocaríamos no lugar da CEEE-D. Não passa por não renovar, passa por uma negociação intensa para achar o bom caminho”, projeta. Já o coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Edilson Deitos, recorda que, em abril, o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF/RS) promoveu uma audiência pública para discutir a renovação da concessão

da CEEE-D. Na ocasião, o procurador da República Alexandre Amaral Gavronski defendeu que a renovação da concessão teria que ser vinculada à melhora da qualidade do fornecimento de energia. Gavronski ressaltou que os indicadores da Aneel apontam que a qualidade do trabalho prestado pela CEEE-D está caindo. O procurador citou que um ranking da agência sobre a continuidade do serviço em 2013, que avaliou 35 distribuidoras brasilei-

ras, colocou a CEEE-D em 30º lugar. Outro ponto negativo foi quanto ao índice de Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC), cujo limite estabelecido pela Aneel para a concessionária no ano passado foi de 14,53 horas e a empresa alcançou somente um DEC de 23,15 horas. Já quanto à Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC), o teto seria de 13,86 interrupções, e a estatal atingiu 15,75. “De lá para cá (desde a audiên-

cia), a situação só piorou”, afirma Deitos. O integrante da Fiergs acredita que a distribuidora chegará ao momento de discutir a concessão, se forem cumpridas as regras da Aneel, sem condições de ter uma renovação automática. O empresário reitera que indicadores de qualidade de fornecimento de energia não foram atendidos. Deitos projeta que a companhia terá que melhorar seus indicadores ou não está descartada a possibilidade que a concessão do serviço seja relicitada.

Geração eólica mantém expectativa de crescimento Metade Sul A fonte eólica, no Brasil, contabilizou compartilhada pelo gás natural e a biomassa mais 31 usinas, que somam aproximada- espera neste ano 2,25 mil MW (um pouco mais (matéria orgânica), ambos com cerca de 9% mente 742 MW. O coordenador do grupo temático de da metade da demanda média de energia de participação, e a eólica tem 4%. do Rio Grande do Sul) contratados nos leiQuanto ao Rio Grande do Sul, o diretor energia da Fiergs, Edilson Deitos, também por licenças

lões que disputou. O volume está alinhado com os cerca de 2 mil MW ao ano previstos pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) para manter a sustentabilidade do setor. Conforme a presidente executiva da entidade, Elbia Melo, 2015 também deve ter uma expansão próxima a esse patamar. A dirigente informa ainda que a expectativa é chegar em 2020 com 20 mil MW de capacidade instalada de fonte eólica, o que corresponderá a 12% da matriz nacional de energia elétrica. Por volta dessa época, a fonte só será superada, em participação, pela hidreletricidade. Atualmente, de acordo com Elbia, a segunda colocação é praticamente

JOHN MACDOUGALL/AFP/JC

Expectativa é chegar em 2020 com 20 mil MW de capacidade instalada, o equivalente a 12% da matriz nacional

de Infraestrutura e Energia da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Marco Franceschi, espera que a energia eólica cresça fortemente em 2015. O dirigente recorda que a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fepam) reestruturou o processo de licenciamento para essa área, tornando-o menos burocrático. Além disso, uma ferramenta que ajudará os empreendedores desse segmento é o mapa eólico gaúcho, que aponta as áreas com maior potencial de geração. Hoje, segundo dados da Aneel, são 26 parques eólicos gaúchos operando, que totalizam uma potência instalada de cerca de 634 MW. Ainda estão sendo construídas

aposta na continuidade do aumento dessa geração. “Ela é competitiva, tem um potencial enorme, e para a nossa Metade Sul (onde há vários projetos que estão sendo elaborados), significa a redenção dos municípios”, enfatiza o empresário. O presidente do Conselho de Consumidores da CEEE-D e da AES Sul e vice-presidente da Federasul, Paulo Menzel, é outro que acredita que a energia eólica manterá o bom desempenho, entretanto ressalta que se trata de um complemento de um sistema maior. “Não podemos focar apenas nessa energia”, diz. Menzel reforça que não se trata de uma fonte firme, ou seja, depende da incidência dos ventos.

As empresas Tractebel e Bolognesi aguardam as licenças ambientais de instalação para iniciar as obras de seus complexos termelétricos em 2015. A primeira desenvolverá uma usina de 340 MW, a carvão, no município de Candiota. Já a segunda implementará um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) e uma térmica de 1238 MW, em Rio Grande. Somados, os empreendimentos absorverão um investimento de aproximadamente R$ 5 bilhões. O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Edilson Deitos, destaca que as fontes fósseis constituem energia firme (que não varia dependendo das condições climáticas, como vento e chuva) e que com o avanço da tecnologia o impacto ambiental dessa geração diminuiu. Sobre o setor carbonífero, o diretor de Infraestrutura e Energia da AGDI, Marco Franceschi, argumenta que o mineral é uma reserva energética gigantesca que tem que ser utilizada. “O Brasil está se preparando para isso, a última seca demonstrou que temos necessidade de manter uma energia térmica a espera, para casos como esse, então temos que investir no carvão, de maneira sustentável”, defende Franceschi. O prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador, vê espaço para novos complexos a carvão na região, além do já existente da CGTEE e do que será construído pela Tractebel. O dirigente salienta que o País precisa diversificar as fontes de energia e o carvão ainda ocupa um percentual baixo. Sobre o terminal de GNL e a térmica do Grupo Bolognesi, a iniciativa deverá render futuramente uma outra vantagem para o Estado. Como a usina consumirá apenas 6 milhões de metros cúbicos ao dia de gás natural e o terminal terá capacidade para regaseificar 14 milhões de metros cúbicos, restarão 8 milhões de metros cúbicos para serem distribuídos no mercado gaúcho. Para isso acontecer, o sonho dos empreendedores é que o Ministério de Minas e Energia abra uma licitação para a instalação de um gasoduto entre Rio Grande e a Região Metropolitana de Porto Alegre.

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política ENTREVISTA ESPECIAL

Sartori diz que prioridade do Estado é readquirir a credibilidade O governador eleito José Ivo Sartori (PMDB) assume o Palácio Piratini em 1 de janeiro com “a prioridade de readquirir a credibilidade” do Estado. Para isso, o peemedebista entende que é necessário atingir o equilíbrio econômico-financeiro das contas públicas. O futuro chefe do Executivo não descarta contrair novos empréstimos para investir se o Estado tiver condições de bancar as contrapartidas dessas operações de crédito. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Sartori defende Parcerias Público-Privadas (PPPs) para fazer melhorias em estradas e construir presídios. E cogita ampliar incentivos fiscais em algumas áreas – mas ressalta que tão importantes quanto novos investimentos são as ampliações dos empreendimentos já existentes. Informa, ainda, que não pretende aumentar impostos em sua gestão. GUILHERME KOLLING, LUIZ GUIMARÃES E LÍVIA ARAÚJO

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ANTONIO PAZ/JC

Jornal do Comércio – Como o senhor irá enfrentar a dívida do Estado e buscar uma solução para o problema estrutural das finanças públicas? José Ivo Sartori – Esse processo (pagamento da dívida do Estado) se conclui só em 2028, e o projeto aprovado no Senado mantém no patamar atual o percentual do comprometimento (a parcela que o governo gaúcho paga é de 13% da receita líquida). A realidade econômica nacional, a partir das modificações do ministro da Fazenda (Joaquim Levy) e da nova equipe econômica, indica que haverá alterações profundas para controlar o processo inflacionário e atender às necessidades da conjuntura e do superávit. Isso vai gerar novos comprometimentos por parte de estados e municípios, que terão outros encargos e dificuldades. Além das dificuldades políticas, teremos um cenário econômico difícil, de ajuste que o governo federal vai ter que fazer. JC – Então a proposta de reduzir a parcela da dívida de 13% para 9% da receita fica prejudicada? Sartori – Acredito que sim, mas aí depende de conversar e negociar. JC – O senhor já pensa alternativas para negociar com a União? Sartori – Tem que oferecer alternativas. Se o governo federal negociasse com os estados (a redução da parcela), poderia indicar onde deve ser investido aquilo que sobrar, se é na infraestrutura, na educação, na segurança ou na saúde. A gente não sabe de que forma vai se estabelecer essa negociação, se vai ou não vai ser feita. Além da dívida, tem mais a busca pela compensação das exportações oriundas da Lei Kandir. Então, o Estado, como é

José Ivo Sartori prevê um 2015 difícil também pela conjuntura nacional, mas quer mais recursos da União

exportador, é penalizado pela dívida e também pela Lei Kandir. JC – Mas essa devolução da Lei Kandir não é feita... Seria mais um trunfo para a mesa de negociação? Sartori – Exato, tem que buscar caminhos para ter ressarcimento. Outra questão na negociação é a luta política, conversar com outros governadores para tratar do processo federativo brasileiro, para que os recursos centralizados no governo federal sejam melhor distribuídos entre estados e municípios. JC – Revisar o pacto federativo. Sartori – Essa é uma luta que deve ser feita. Embora tenhamos perdido uma grande oportunidade quando se discutiu os royalties (do petróleo), podia ser o emblema de uma luta pela melhor repartição dos recursos federais... JC – Ficou só na emenda Ibsen. Sartori – Mas criou um ambiente, entidades estavam lutan-

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do por isso, mas não houve um movimento político adequado na oportunidade para estabelecer regras diferenciadas. JC – O senhor cogita buscar novos empréstimos para investir a partir do espaço fiscal que se abriu com a renegociação da dívida? Sartori – Olha, a primeira questão a se fazer no Estado, também para atrair investimentos, é readquirir a credibilidade. O Estado tem que demonstrar que está fazendo gestão, que está procurando fazer o equilíbrio financeiro, porque há dificuldades. E para poder, internamente, recuperar a capacidade de investimento. Mas se pode também criar outras alternativas, contrair financiamentos nacionais e de agências internacionais. Para isso, é preciso ter capacidade de endividamento e oferecer contrapartida. Se não tem recursos em caixa, há dificuldades de oferecer

a contrapartida para contrair novos empréstimos. JC – O senhor vai receber um orçamento pronto para 2015. Pretende estabelecer alguma meta para o próximo ano? No plano nacional, a nova equipe econômica estipulou 1,2% do PIB como meta fiscal para 2015. O senhor pretende trabalhar com superávit ou se as receitas empatarem com as despesas já vai ser um bom resultado? Sartori – Só a realidade econômica do Rio Grande do Sul e nacional podem dizer a que ponto vamos chegar. Agora, tem que fazer força, ter trabalho, dedicação e integração para chegar a um certo equilíbrio. A dívida, nas condições e no nível que está hoje, é muito elevada e é praticamente impagável. JC – E os cortes no custeio e nas secretarias? Sartori – Não é bem o custeio. Estamos estudando, vai precisar

ajustes internos, medidas de contenção, gerenciamento das despesas, controle administrativo. Existem secretarias que estão sendo separadas e outras fundidas para dar mais agilidade ao governo. Serão em torno de 20 secretarias. Gostaria de juntar muito mais, mas não dá para demolir com o processo organizado do Estado. Vamos ter cuidado, calma, jeito de fazer. Não significa que, mais adiante, pela própria necessidade, algumas secretarias voltem a ter outro tipo de papel e outras não possam ser mais consolidadas conjuntamente. JC – E a EGR (Empresa Gaúcha de Rodovias), o senhor manterá? Sartori – Vai ser mantida. Estamos avaliando se deve ficar apenas com a manutenção das rodovias e o Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem), remodelado, construir (estradas). Mas a EGR também pode construir. JC – O governo Tarso Genro (PT) também criou a AGDI (Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento). Seu governo vai mantê-la? Sartori – Sim, mesmo reformatada, esse é um diálogo que deve ser permanente, de uma organização estabelecida para isso. JC – Em termos de incentivos fiscais, o Fundopem (Fundo Operação Empresa) está adequado ou é possível mexer? Sartori – É importante tanto para investimentos novos quanto para a ampliação daqueles investimentos que já existem. É um mecanismo que conheço desde o governo Pedro Simon (PMDB, 1987-1990). Adaptações são necessárias, a vida econômica muda, as tecnologias passam a ser outras e a ferramenta de atração tem que se modificar para a necessidade ser atendida. JC – A Fiergs defende a criação de um Fundopem para que pequenas indústrias se instalem


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PERSPECTIVAS

política E com apoio da sociedade fazer as modificações e ter um entendimento para o bem da educação. Não podemos ficar permanentemente construindo uma alternância de disputas, temos que fazer um caminho para melhorar. JC - Vai ter reajuste para os professores no seu governo, então. Sartori - Olha, tudo depende das condições financeiras que o Estado tiver, da responsabilidade fiscal, saber quanto que pode gastar. JC - Os percentuais constitucionais de 12% para saúde e 35% para educação serão cumpridos na sua gestão? Sartori - Todo mundo tem que fazer um esforço de garantir a Constituição, caso contrário, o governante vai ser penalizado, não é? O que é da Constituição tem que ser cumprido, agora, tendo ou não condições, aí é outra realidade. JC - O atual governador afirma que fez uso de depósitos judiciais para chegar aos 12% em saúde... Sartori - O saque dos depósitos judiciais... JC – Já foram usados.

ANTONIO PAZ/JC

biente, tem que defendê-lo. Todos os projetos devem ter sustentabilidade ecológica. Mas não se pode permi“Não tem tir que uma pessoa, para receber outra um não ao seu projeto, espere dois ou três anos. Alguém tem que demaneira. finir o caminho: “aqui é a porta de As PPPs entrada, sai daqui, vai lá, dá o paresão um cer, encaminha e vamos em frente”. Não pode é, depois de três anos, recaminho ceber um não. Isso tem que ser dealternativo finido rapidamente, dizer as alternativas, até para que a pessoa possa na realidade substituir seu projeto e adequá-lo econômicoàs necessidades ambientais. Essa é financeira uma questão. Outra é a inovação, a tecnologia. Já temos uma boa refeque estamos rência, com parques tecnológicos, vivendo” organizações universitárias... JC - Tecnosinos, Tecnopuc... Sartori - Quase todas as universidades já se apropriaram de um nos municípios menores. A Fe- plicação e o asfaltamento de outras revisto. O que estiver em andamentrabalho que veio lá de trás. Por isso comércio pede um Fundopem do existentes. to será avaliado. Mas, em princípio, que não gosto de desprezar nincomércio. É possível ampliar inJC – Além de estradas, há outro essas questões não estão na linha guém. O que veio sendo feito até centivos fiscais nesse momento de setor para aplicar PPPs? de quem quer retirar isso. Medidas aqui temos que dar continuidade dificuldades? Sartori – Presídios, a área de vão ser tomadas como um todo, e melhorar. O desenvolvimento Sartori – Em algumas áreas sim, energia, carvão, hidrovias, preci- porque a gente sabe que o caixa não econômico, num futuro não muito mas têm que ser bem analisadas samos de um projeto multimodal fecha nenhum dia. distante, vai passar por tecnologia, para não comprometer o conjunto. de transporte. Tem que trabalhar JC – Por falar em caixa, a preinovação e ciência. E queremos um Todo mundo gostaria de ter incen- imediatamente com rios, lagoas, vidência vai dar um déprocesso de desenvol“Haverá alterações profundas para tivo. Fui prefeito de Caxias do Sul pequenos portos. Mas a grande ficit de R$ 7 bilhões em vimento regional mais e nunca coloquei incentivos, a não preocupação é com o polo naval 2014... integrado, fortalecer ecocontrolar o processo inflacionário e ser mudar o Plano Diretor, ajudar de Rio Grande, com o porto de Rio Sartori – Os servidonomias locais. Isso é esatender às necessidades do superávit. tratégico para o desenvolno licenciamento ou abrir as portas Grande. E com os pequenos portos res não têm culpa da reano Estado para fazer a negociação. que temos em Porto Alegre, Pelo- lidade que está aí. Agora, Isso vai gerar novos comprometimentos vimento do Rio Grande Essa questão dos incentivos teria tas, Estrela, Cachoeira. é preciso modernizar, Sul. Existem regiões por parte de estados e municípios, que do que ser melhor equacionada naJC – O governo Tarso calcula buscar gestão na previque têm mais dificuldaterão outros encargos e dificuldades” cionalmente, para ninguém sofrer que pelo menos R$ 4,4 bilhões dência. Embora o Estado des do que outras. E é prejuízo. restarão para o senhor investir de também tenha um fundo preciso criar condições JC – O senhor está se referindo empréstimos contraídos e recur- que possibilita algumas coisas. Sartori - Esse é o grande de- para que se tenha um desenvolvià guerra fiscal? sos contratados no Programa de JC - O diálogo com os profes- safio, buscar formas de garantir mento regional mais equilibrado. Sartori – Isso, porque está vi- Aceleração do Crescimento (PAC): sores sempre foi difícil para o o mínimo constitucional. Não dá JC – Qual será o papel dos Conciando também os municípios a fa- R$ 3 bilhões para saneamento governo. O senhor já teve alguma para deslocar recursos de uma área selhos Regionais de Desenvolvizer guerra fiscal um contra o outro. e R$ 1,4 bilhão em outras áreas. conversa com o Cpers? para outra. E tem a situação econô- mento (Coredes)? Então, é preciso ter muito cuidado, Como o senhor pretende usar esSartori - Na época da campa- mica nacional, pode vir a diminuir Sartori – Terão papel preponaté porque além do incremento do ses recursos? nha. Fui lá e disse que não iria as- recursos para saúde, educação, os derante, porque (os Coredes) já novo, a ampliação do que já tem Sartori – Se tiver (R$ 4,4 bilhões), sinar um documento com várias fundos. Agora, tem que avaliar têm capital político, planejamento, também é importante, porque é um vai ir para aquilo que está carimba- solicitações, porque, os professores bem como foi esse processo no ano organização, visão regional... Isso tributo que não tinha. do. Tudo o que for bom no governo sabem, a gente tem que ser verda- de 2014, para ter clareza do que foi não pode ficar arquivado, tem que JC – O senhor defende PPPs... atual vou dar continuidade. Quero deiro. Como vou prometer uma colocado como elementos que com- ser posto para fora. E ajuda no PlaSartori – Sim. olhar para frente, trabalhar duro, coisa que não se pode realizar? punham o investimento dos 12%. no Plurianual, Lei de Diretrizes JC – Os maiores investimentos enfrentar essa situação que está di- Sou professor desde 1970, minha JC - O senhor tem cerca de 20 Orçamentárias e nos orçamentos em estradas seriam via PPPs? fícil, e precisa do apoio da socieda- esposa é professora aposentada do partidos aliados. Isso pode causar anuais. É que nem pegar a saúde: Sartori – Não tem outra ma- de para fazer essa caminhada. Estado, (a deputada) Maria Helena alguma dificuldade de gestão? tem grandes investimentos, mas, neira. Defendi as PPPs (Sartori, PMDB), foi do Como equacionar isso? Será na às vezes, não é suficientemente reno período eleitoral, são “A primeira questão a se fazer, também Cpers também. Então, Secretaria-Geral de Governo? gionalizado. O governo também, um caminho alternativo Sartori - Todo mundo tem que às vezes, está muito centralizado, para atrair investimentos, é readquirir temos nossa história. Não (para investir) na realidase melhora a qualidade trabalhar integrado. São priorida- tem que ser mais aberto às comua credibilidade. O Estado tem que de econômico-financeira da educação sem profes- des do governo e não dos partidos. nidades. O mais importante é fazer que estamos vivendo. sor capacitado, preparado Os partidos têm que fazer a sua po- um governo que melhore a vida demonstrar que está fazendo gestão, Não tenho preconceito que está procurando fazer o equilíbrio e estimulado, tanto no lítica com a sociedade. No governo, das pessoas. político nem ideológico conhecimento quanto na todos têm que estar integrados nas JC – O senhor teme que a crise financeiro, porque há dificuldades” de criar as condições perspectiva do salário. prioridades do governo. Já gover- na Petrobras respingue no polo (para PPPs), desde que E há um bom senso, co- nei Caxias do Sul com 17 partidos, naval de Rio Grande, que é quase sob o controle do Estado. E a PPP JC – Aumento de impostos está nheço essa realidade desde 1979, no 18. Tem que ser um compromisso 100% dependente da Petrobras? é um investimento garantido que no seu horizonte? primeiro grande movimento. Na com o Rio Grande do Sul. Podemos Sartori – Evidentemente que pode ser feito. Se fosse falar sobre Sartori – Não está no nosso ide- negociação, alguém tem que abrir ter diferenças, mas o Rio Grande pode respingar, criar embaraços, estradas, olho como bom exemplo ário. Se um dia a sociedade vier me mão de alguma coisa. é sempre maior. Com a realidade mas acredito na superação dessas a PPP feita pelo governo federal dizer como um todo que deseja, JC - Do piso salarial dos profes- que está aí, cada cidadão tem que dificuldades. Tenho receio de que nas BRs, em termos de concessão vou pensar. sores o Cpers não abre mão... entender que estamos juntos. estejam se encaminhando para e de pedagiamento, com preço JC – O governo Tarso fez desoSartori - E não abre mão tamJC - Há muita queixa de empre- outros setores da vida nacional, baixo e tempo para o investidor nerações de impostos em algumas bém do plano de carreira. Mas sários em relação aos licenciamen- isso sim seria muito temoroso para se ressarcir do investimento. Mas áreas, como o trigo, mas por tem- negociação é a gente se entender: tos ambientais... todos nós. Mas as questões que a grande preocupação do governo po limitado. O senhor vai renovar “olha, é por tanto tempo, são conSartori - Vai mudar, vamos criar envolvem seriedade e honestidade do Estado é, pelo menos, a manu- esses incentivos? dições lá na frente...”, estabelecer um modelo menos burocrático. E não podem ser comprometidas. E tenção das rodovias e, depois, a duSartori – Cada ponto desses será um diálogo que seja permanente. não precisa penalizar o meio am- quem errou tem que pagar.

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política ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

Com mais bancadas, desafio da governabilidade é ampliado Composição pulverizada, com 15 partidos representados no Parlamento gaúcho, exigirá capacidade de diálogo do governador eleito José Ivo Sartori LÍVIA ARAÚJO livia@jornaldocomercio.com.br

O ingresso de cinco novas siglas no cenário partidário da Assembleia Legislativa, que começa nova legis-

latura em 2015 com 40% de renovação de nomes em relação à anterior, poderá tornar mais complexo o debate de propostas e, indiretamente, atrapalhar a governabilidade de José Ivo Sartori (PMDB), que toma posse

como governador do Rio Grande do Sul em 1 de janeiro. O governador eleito terá de fazer a interlocução com 15 legendas no Parlamento – os deputados estaduais tomam posse no dia 31 de janeiro.

ANTONIO PAZ/JC

P-Sol, PSD, PV, PR e PPL estreiam na legislatura que se inicia em 31 de janeiro

Juntos, o ex-jogador de futebol Jardel (PSD), Pedro Ruas (P-Sol), Miguel Bianchini (PPL), João Reinelli (PV) e Missionário Volnei (PR), representando as siglas novatas na Casa, conquistaram 134.135 votos que garantiram a presença no Parlamento. Em conjunto com PRB e PPS, outros dois partidos que contam apenas com um parlamentar na bancada, a soma de votos chega a 223.690, superando em pouco o montante que elegeu Manuela d’Ávila (PCdoB), candidata que obteve o maior número de sufrágios. A marca não chega perto dos 1.655.010 votos recebidos pelos deputados eleitos das quatro maiores bancadas (PT, PMDB, PDT e PP). “O multipartidarismo brasileiro, em comparação a outros países, sempre foi exacerbado e há uma fragmentação ainda maior atualmente”, observa o cientista político Rafael Madeira, que coordena o Centro Brasileiro de Pesquisa da Democracia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Na avaliação do professor, apesar de a maior parte dos pequenos partidos compor com as banca-

das maiores, a pulverização pode criar mais dificuldades para o governo aprovar suas matérias. “Por outro lado, essa entrada significa uma diversificação maior, que garante que mais setores da sociedade civil sejam representados”, pondera. Um desses casos é o médico João Reinelli (PV), de Nova Prata, que elegeu-se para a Assembleia com 9.098 votos, a menor quantidade dentre os 55 candidatos eleitos. Para ele, a presença do PV na casa contribuirá para uma maior divulgação das ideias do partido. “Isso dará uma ‘arejada’ na Assembleia e a possibilidade da ‘nova política’ tanto debatida durante as eleições”, opina. Para Reinelli, haverá a oportunidade de discutir temas que colocaram o PV em evidência durante a disputa presidencial, como o questionamento ao atual sistema de combate às drogas ou a adoção de uma política de baixo carbono, com foco na sustentabilidade ambiental. O PV é um dos partidos que integrarão a base aliada de Sartori na Assembleia, tendo apoiado o pedetista Vieira da Cunha no primeiro turno.

Siglas menores articulam para evitar hegemonia de partidos tradicionais Ainda que tenham alinhamentos partidários voltados à situação ou à oposição, as bancadas com representação minoritária não devem passar despercebidas a partir de 2015. Ainda em novembro deste ano, elas se reuniram, juntamente com o PCdoB, que elegeu Manuela d’Ávila e Juliano Roso, para tentar articular um questionamento à política de rodízio entre as quatro maiores bancadas, que anualmente alterna PT, PMDB, PDT e PP na presidência da Mesa Diretora. “Temos essa sensação de que os grandes partidos têm dificuldade de aceitar que a pluralidade da política brasileira não se dá pelos partidos, mas pela vontade do povo. Assim como o deputado que faz mais e o que faz menos votos são iguais do ponto de vista legal, os partidos também são iguais”, defende Manuela, que acredita que a Assembleia deveria seguir o exemplo do Congresso Nacional, cujas comissões temáticas realizam um rodízio anual e que contempla siglas com representação minoritária. O embate pode se acirrar, porque também as bancadas menores estão se vendo às voltas com medidas como a redução dos cargos em comissão (CCs) de nove para seis no caso de partidos que contam com um só parlamentar na bancada,

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objeto de uma proposta aprovada em dezembro. Na opinião do cientista político Rafael Madeira, no entanto, a articulação entre bancadas ideologicamente díspares não tem muita possibilidade de prosperar. “O trabalho legislativo é organizado tendo como base as principais bancadas. Na prática, os partidos que têm cerca de 80% das cadeiras é que definem como a Casa será organizada”, explica. Acredita que esse movimento tende a potencializar a expressão de Manuela, que “demonstra investir nessa articulação para tentar um papel mais protagonista, não para disputar a mesa, mas alguma comissão. Se o protagonismo dentro da Assembleia for bem-sucedido, isso pode abrir espaço para futuras negociações para as eleições municipais”, avalia. A principal mudança de cenário que a Assembleia viverá em 2015, no entanto, é a inversão de papel entre PT e PMDB, as duas maiores bancadas, que viram a conjuntura mudar com a derrota de Tarso Genro (PT) pelo peemedebista José Ivo Sartori. Voltando à oposição exercida nos mandatos de Germano Rigotto (PMDB) e Yeda Crusius (PSDB), o desafio do PT, segundo Rafael Madeira, reside em manter as conquistas

partidárias obtidas durante a gestão de Tarso. A opinião também é corroborada pelo deputado reeleito Edegar Pretto (PT), o mais votado da sigla. “Temos de lutar pela manutenção do que conseguimos de positivo para o Estado, como a garantia de 12% de investimentos na saúde, determinado pela Constituição, ou a valorização do salário-mínimo regional, que caiu abaixo do nacional nos dois últimos mandatos.” Edson Brum, presidente do PMDB gaúcho e o segundo mais votado da sigla, acredita que deve haver uma união de todos os partidos para permitir que Sartori faça um bom governo. “As dificuldades que Sartori encontrará foram enfrentadas por todos os outros governadores, mas eles usaram de recursos ainda disponíveis, como o dos depósitos judiciais, o que o novo governador não poderá fazer. Por isso, acho que o PT não pode fazer uma oposição raivosa”, opina. Brum adianta que o PMDB deve ter foco na política previdenciária e na infraestrutura, como a conclusão de acessos asfálticos nas rodovias, transporte hidroviário e ferroviário. “Temos gargalos importantes, para os quais precisamos buscar uma solução coletiva”, sustenta o deputado peemedebista.

JONATHAN HECKLER/JC

Madeira observa que é difícil romper com predomínio das grandes siglas


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política

Políticos experientes poderão tornar esquerda mais combativa MARCO QUINTANA/JC

Pelo PCdoB, Manuela traz vivência do Congresso

A atuação do PT no Legislativo estadual, que sai da situação de governista com a vitória de José Ivo Sartori (PMDB) para voltar à oposição, pode ser reforçada por nomes expressivos da esquerda gaúcha que irão atuar na próxima legislatura. Pedro Ruas (P-Sol) e Manuela d’Ávila (PCdoB) levam à Assembleia atuações combativas nos mandatos exercidos na Câmara Municipal de Porto Alegre e na Câmara dos Deputados, respectivamente. “Uma das novidades da Assembleia no próximo ano é que o PT não será o único ator relevante a capitanear a oposição. O caminho feito pelo PT, em âmbito nacional, abriu espaço para que outros partidos disputassem eleitores com um ideário alinhado à esquerda”, diz Ruas, avaliando a estreia do P-Sol na Casa. “A entrada do P-Sol na Assembleia é uma conquista extraordinária, porque somos um partido de enfrentamento, que questiona essas alianças do ‘poder pelo poder’. Não é simples obter uma vitória do ponto de vista eleitoral”, opina Ruas. O deputado eleito promete ampliar questões trabalhadas na Câmara de Porto Alegre pelo partido, como a gestão pública do transporte coletivo. “A maior parte dos municípios não tem licitação. O transporte é gerido por monopólios e oligopólios empresariais”, afirma. Outra frente citada pelo parlamentar é a dos direitos humanos. “Temos de reexaminar todas as homenagens à ditadura militar. Esse trabalho tem de ser em nível estadual”, adianta. Apesar de defender o apoio a propostas governistas que sejam em benefício do Estado, Manuela reforça a posição que adotará. “Qualquer medida que restrinja o acesso da população a políticas sociais terão opinião contrária do PCdoB”, anuncia.

MARCELO G. RIBEIRO/JC

Ruas conquistou primeira vaga do P-Sol no Parlamento

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política MUNICIPALISMO

Aumento do FPM amenizará as dificuldades das prefeituras EDUARDO AMARAL politica@jornaldocomercio.com.br

Aprovado no final de 2014, o aumento de um ponto percentual no Fundo de Participação dos Municcípios (FPM) começará a injetar, a partir do próximo ano, mais dinheiro nas administrações municipais. O repasse será efetivado em duas etapas, sendo a primeira paga em julho de 2015, quando o índice chega a 23,5%, e a segunda no mesmo mês em 2016, quando os valores, definitivamente acrescidos ao orçamento das prefeituras, sobem para 24,5%. A reivindicação era uma das principais bandeiras das edições da Marcha dos Prefeitos a Brasília - mobilização que anualmete reúne gestores municipais na capital federal para apresentar reivindicações à União. A expectativa da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) é de que R$ 431 milhões comecem a ser disponibilizados para os municípios

do Estado. O FPM é composto por parte do Imposto de Renda (IR) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). O FPM tinha 23,5% da receita arrecadada por esses dois impostos até a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 84, que determinou o aumento do repasse em um ponto percentual. A partir do ano que vem, esses valores serão pagos em duas parcelas, a primeira já prevista em uma PEC anterior, de 1997, na qual fica determinado o pagamento de um ponto percentual do FPM em dezembro. Já o aumento determinado pela PEC 84 será pago nos meses de julho. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, o objetivo é oportunizar que as prefeituras possam ter uma “poupança” e reter assim os recursos. Para redistribuir esses valores, é levado em conta o quanto cada cidade contribuiu para a formação do FPM. Sendo assim, o aumento

Efeito do FPM na receita Porto Alegre

São Pedro das Missões

E: M FA

URS E TCE

RECEITA PROVENIENTE DO FPM EM 2013

NT

49%

FO

OUTRAS RECEITAS OUTRAS RECEITAS

84,3% RECEITA PROVENIENTE DO FPM EM 2013

MAURÍCIO TOMEDI FAMURS/DIVULGAÇÃO/JC

Mesmo apontado como insuficiente, acréscimo no Fundo de Participação dos Municípios de um ponto percentual deve trazer alívio aos cofres das administrações gaúchas. A partir de julho de 2015, será paga a primeira parcela do índice, que chegará a 24,5% em 2016, com o repasse total

Prefeitos reivindicaram aumento do fundo na Marcha a Brasília realizada neste ano

terá diferentes impactos nas administrações municipais, já que algumas gestões são mais dependentes dessa verba do que outras. Apesar disso, os representantes das entidades de prefeitos são categóricos ao avaliar a importância que esse aumento de repasse terá daqui para frente. A relevância do FPM para cada município é bastante variável, não sendo proporcional ao valor bruto depositado, mas sim em relação à dependência que cada administração tem em relação aos recursos provenientes da União. No Estado, por exemplo, a cidade que mais receberá recursos é a Capital. A previsão da Famurs é de que, na parcela de 2015, sejam desti-

nados R$ 5,3 milhões. A partir de 2016, a estimativa é de que os valores a serem recebidos pela administração de Porto Alegre passem para R$ 17,02 milhões. Apesar dos valores expressivos a serem destinados à Capital, a importância para a administração será bem menor do que os R$ 506 mil que devem se tornar efetivos nas contas da prefeitura de São Pedro das Missões, no Norte do Estado. Enquanto em Porto Alegre os recursos advindos do FPM representam cerca de 49% das receitas totais da prefeitura, em São Pedro das Missões, os repasses correspondem a 84,3% da arrecadação do município, que tem menos de 2 mil habitantes. É a prefei-

tura, entre as 497 administrações gaúchas, que mais depende desse recurso para manter a máquina pública funcionando. Mesmo reconhecendo a ajuda que o aumento na receita trará para a gestão nos próximos anos, o prefeito de São Pedro das Missões, Aldoir Godois Vezaro, ressalta que o municípo continurá enfrentando dificuldades. “Vai nos ajudar um pouco para estabilizar a nossa situação, mas não resolve”, garante Vezaro. O prefeito afirma estar com 70% de sua receita comprometida com o pagamento de funcionários, e faz coro por uma mudança mais radical na distribuição dos recursos arrecadados pelo governo federal.

Entidades cobram mudanças na distribuição dos recursos pela União A busca por uma melhor distribuição da arrecadação vem sendo a tônica das entidades que representam os prefeitos do País. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) têm cobrado a redução da concentração de recursos pelo governo federal. Nos últimos anos, algumas medidas chegaram a ser tomadas nesse sentido, porém o resultado ainda é discreto diante

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da necessidade das prefeituras do País. Entre as conquistas está o aumento em um ponto percentual do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Mesmo comemorando o aumento no repasse, tanto Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, quanto Seger Menegaz, à frente da Famurs, ressaltam que essa medida funciona apenas como um paliativo. “É como um paciente com pneumonia que toma um remé-

dio para baixar a febre, o paciente vai morrer igual”, avalia Ziulkoski. Menegaz segue o mesmo tom do colega. “É como você estar atravessando um deserto e receber um copo d’água”, compara. Entretanto, reconhece que a injeção de recursos será bastante positiva para as prefeituras. “Não resolve o problema, mas ajuda. É um dinheiro que vem a mais e fica no orçamento das prefeituras, mas não é uma solução”, ressalta Menegaz.

Ambos são categóricos ao afirmar que é necessária uma profunda reforma no sistema tributário brasileiro e, principalmente, um novo pacto federativo. Mas o clima é de pessimismo. “Não há nenhum indicativo disso, pelo contrário, há uma centralização cada vez maior”, aponta Ziulkoski. Para Menegaz, o problema tem se agravado com o aumento das responsabilidades dos municípios. “São muitas obrigações e poucos recursos.”


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política DITADURA MILITAR

Comissão da Verdade pode levar à revisão da Lei da Anistia Visibilidade das violações de direitos humanos pode pressionar Supremo Tribunal Federal a rever posição tomada pelos ministros da Corte em 2009 e permitir a responsabilização criminal de militares que praticaram sequestros, torturas, mortes e desaparecimentos forçados MARCUS MENEGHETTI

Nos últimos dois anos, muitos episódios foram resgatados das masmorras do esquecimento da ditadura militar brasileira (1964-1985) através do esforço das comissões da Verdade. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a Comissão Estadual da Verdade (CEV) recuperou aos anais da História o sofrimento de presos políticos submetidos a sevícias nos porões do centro de tortura conhecido como Dopinha, na rua Santo Antônio, em Porto Alegre. Também reconstituiu os passos clandestinos dos militares legalistas perseguidos em todo o Estado pelo Exército nos primeiros anos após o golpe. E apontou ainda os responsáveis pelos casos de violações, cujos nomes emergiram junto com os depoimentos emocionados das vítimas. Baseado na reconstituição histórica, a CEV produziu 16 recomendações ao Executivo gaúcho, das quais pelos menos duas coincidem com as da Comissão Nacional da Verdade (CNV): a revisão da Lei da Anistia, de 1979, e a punição dos responsáveis por graves violações de direitos humanos. O relatório da CEV é bastante claro nessas indicações entregue ao governador Tarso Genro (PT) em dezembro. “Apoiar as iniciativas no sentido de revisar a interpretação dada, no ano de 2009, pelo Supremo Tribunal Federal (à Lei da Anistia),

MUSEU DE PORTO ALEGRE JOAQUIM JOSÉ FELIZARDO/DIVULGAÇÃO/JC

marcus@jornaldocomercio.com.br

Episódios da ditadura militar no Estado foram resgatados em depoimentos à comissão gaúcha, que encaminhou 16 recomendações ao Piratini

de forma a excluir do conceito de ‘crimes conexos’ os delitos lesa humanidade praticados pelos agentes do aparelho montado pelos governos ditatoriais para reprimir seus opositores, permitindo assim sua responsabilização criminal pelos sequestros, torturas, mortes e desaparecimentos forçados de milhares de

brasileiros”, menciona o texto. Sobre o tema, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, declarou, em entrevista ao Jornal do Comércio, que a revisão só vai sair se houver pressão social. Seguindo o mesmo raciocínio, o presidente da CEV, Carlos Guazzelli,

acredita que os relatórios das comissões da Verdade podem sensibilizar a sociedade, gerando mobilizações para que o STF reveja sua decisão. Guazzelli lembra o caso da Argentina, onde o primeiro presidente eleito depois da ditadura, Raúl Alfonsín (1983-1989), proporcionou avanços na punição dos militares.

MPF pode processar torturadores O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV), Carlos Guazzelli, encaminhou ao Ministério Público Federal (MPF) os depoimentos concedidos por ex-presos políticos da época da ditadura, nos quais apontam os responsáveis e os métodos de tortura a que foram submetidos. O nome do ex-delegado Pedro Selig foi o mais citado, como um dos dez torturadores que ainda estão vivos. O delegado Marco Aurélio da Silva Reis e os coronéis João Osvaldo Leivas Job e Átila Rohrsetzer também foram mencionados.

“Se o MP se convencer, pode mover ação criminal contra os responsáveis que ainda estão vivos. Queremos que eles respondam criminalmente, sujeitos inclusive a uma sanção penal como prisão. Não queremos torturá-los, sequestrá-los, como eles fizeram durante a ditadura. Queremos que respondam pelos seus atos, garantido o direito de ampla defesa e o contraditório”, aponta Guazzelli. Entretanto, com base na decisão de 2009 do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a Lei da Anistia estende a isenção de responsabili-

dade também para os militares, os processos criminais podem ser interrompidos. “Mas por que o MPF tem entrado com processos criminais? Porque a decisão do STF não dizia que valia para todas as ações criminais, mas para uma específica que foi julgada naquele ano. Portanto, os juízes podem mandar o processo parar ou podem optar pela interpretação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que sustenta que os crimes como tortura não prescrevem. Ou, ainda, o STF pode revisar sua posição.”

No primeiro ano de governo, Alfonsín criou a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas, órgão equivalente à Comissão da Verdade. Entretanto, o sucessor, presidente Carlos Menem (1989-1999), retrocedeu nesse processo, aprovando a Ley del Punto Final e a Ley de la Obediencia Debida, inviabilizando a punição dos militares. “A justiça de transição só foi retomado em 1994, com a comoção causada pela publicação do livro Vuelos de la Muerte, que narra a desova dos cadáveres que eram jogados dos aviões da Força Aérea no mar ou no Rio da Prata. O relatório da CNV pode cumprir esse papel. O trabalho da comissão tem dado visibilidade ao tema das violações dos direitos humanos durante a ditadura. Isso tem saído na televisão, nos jornais”, comparou o presidente da CEV. Guazzelli espera que os casos de tortura, assassinato, ocultação de cadáver e outras violações causem indignação da sociedade, levando a Suprema Corte a rever sua decisão. “E é importante mencionar que a composição do STF é bem diferente hoje. Daqueles que julgaram em 2009, só três continuam. Portanto, haveria nove votos novos”, observou otimista – lembrando ainda que, há anos, a Justiça vem responsabilizando civilmente alguns responsáveis por crimes durante a ditadura. Se a Lei da Anistia revisar sua postura, a responsabilização criminal também vai ser viável. MARCOS NAGELSTEIN/JC

‘Queremos que respondam pelos seus atos, garantido o direito de ampla defesa’, afirma Guazzelli

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política DIREITOS HUMANOS

Minorias preveem período difícil com futura gestão estadual Movimentos sociais formados por segmentos da população historicamente reprimidos estão apreensivos com as políticas do governador eleito José Ivo Sartori, alvo de críticas pela extinção de secretarias FERNANDA NASCIMENTO fernanda.nascimento@jornaldocomercio.com.br

dependentemente do governo que vencesse, temos uma pauta de luta que foi construída historicamente e será apresentada.” Em um cenário em que a projeção é de dificuldades, os militantes falam na necessidade de, pelo menos, manter as estruturas e conquistas, mesmo avaliando que já aconteceram derrotas, como a extinção da SPM. “É um retrocesso gigantesco e absurdo. Significa tratar uma política pública como menor e sem importância”, disse Lívia. Amorim teme pelo esvaziamento dos conselhos. “É premente manter os conselhos, que são espaços em que a sociedade civil pode fazer o diálogo com todas as pastas de governo.” Outro temor dos setores é a base aliada de Sartori. Mesmo no governo Tarso Genro (PT), considerado mais identificado ideologicamente com os movimentos sociais, projetos vistos como polêmicos foram retirados de pauta e políticas públicas tiveram que ser instituídas através de decretos. “A criação do Conselho Estadual LGBT foi uma

das maiores violações do Estado. A votação na Assembleia Legislativa aconteceria no dia 10 de dezembro (de 2013), Dia Internacional dos Direitos Humanos, mas para que outras pautas que interessavam o governo fossem aprovadas, se fez um acordo com a base aliada para retirar o projeto. Fomos usados como joguetes, e meu medo é de que no próximo governo não sejamos nem citados”, diz Amorim. Sobre a agenda de lutas para o próximo período, Lívia elenca como prioridade o avanço nas discussões sobre especificidades dos contingentes de mulheres e a conscientização sobre as violações de direitos. “Teríamos ainda que avançar no trabalho sobre a diversidade das mulheres. Mulheres negras, transexuais e lésbicas não foram contempladas, houve uma normatividade. Outra questão é a de educação e o trabalho de gênero nas escolas, pois não se consegue acabar com a violência enquanto não se combater na origem”, avalia a advogada.

Maria Conceição afirma que o movimento seguirá “pedindo melhorias na saúde, educação, acesso ao trabalho digno e coibição da violência contra quem está na base da pirâmide social”. Amorim pontua como necessidade a manutenção de direitos e a garantia de igualdade, além do diálogo de uma pauta que pouco avançou no atual governo petista: a laicidade do Estado.

ATUAIS ESTRUTURAS RELACIONADAS AOS DIREITOS HUMANOS Secretarias Políticas para as Mulheres

FREDY VIEIRA/JC

Advogada Lívia de Souza critica política de enxugamento de gastos

Para Bernardo Amorim, partidos conservadores são assistencialistas

Será integrada à Justiça e Direitos Humanos

Justiça e Direitos Humanos

Coordenadorias*

MARCELO G. RIBEIRO/JC

Os movimentos sociais de minorias representativas – formadas por segmentos da população não necessariamente numericamente inferiores, mas historicamente reprimidos – estão apreensivos com a futura gestão do governador eleito José Ivo Sartori (PMDB). Antes de iniciar o mandato, Sartori é alvo de duras críticas pela extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), que terá as funções assumidas pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. A decisão é considerada um retrocesso e um prenúncio da redução de infraestrutura e recursos para políticas públicas. A política de enxugamento de gastos é vista com temor pelos militantes, que acusam a anunciada redução da máquina de retirar espaços de minorias, conforme aponta a advogada da Organização Não-Governamental (ONG) Themis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, Lívia de Sou-

za. “Essa ideia de Estado mínimo é assustadora, porque quem sofre são as minorias, as mulheres, é aí que se enxuga. Ao reduzir os espaços, ele trata os assuntos como irrelevantes.” Para o coordenador da ONG Somos – Comunicação, Saúde e Sexualidade, Bernardo Amorim, a política exclui diversidade. “Quando começa a se falar em enxugamento de gastos, as primeiras pastas que são cortadas são as que trabalham com minorias. E quando se fala em direitos humanos, para os partidos mais conservadores, a pauta deles é de assistencialismo. A ideia de garantia e defesa das minorias, trazendo para um patamar de igualdade, fica completamente fora de cogitação”, afirma. No movimento negro, especialmente de mulheres, o compasso também é de espera. Maria da Conceição, uma das coordenadoras da ONG Maria Mulher, afirma que aguarda o governo assumir para ter mais clareza das ações. “Ele primeiro tem que tomar as medidas para avaliarmos. Mas in-

Juventude Igualdade Étnica e Racial Política do Idoso Diversidade Sexual Criança e do Adolescente Promoção e Educação em Direitos Humanos

Conselhos de Direitos* Pessoa Idosa Criança e do Adolescente (Cedica) Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra Pessoa com Deficiência (Coepede) Juventude Povos Indígenas (Cepi) LGBT *Vinculados à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos

Sartori afirma que os preconceitos e tabus precisam ser enfrentados O governador eleito José Ivo Sartori (PMDB) afirmou que sua gestão buscará “acabar com os preconceitos existentes” e “respeitar e superar os preconceitos, os tabus e as perseguições”. Nas diretrizes do plano de governo do peemedebista, apresentadas ao longo das eleições, não há referências so-

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bre as políticas para mulheres, indígenas, negros e população LGBT, por exemplo. Mas ele afirma que criará “instrumentos que ajudem a superar a discriminação e o preconceito”. “Já temos um trabalho sendo realizado e tem que entrar ai na questão da Justiça, de direitos humanos, da cidadania e do compro-

misso social com as minorias. Não sei se são minorias, essa coisa está tão ‘surrada’ que não dá mais para falar uma coisa dessas” e cita como exemplo a primeira festa da Uva que presidiu. “(O evento) colocou como tema a alegria na diversidade. E lá é uma comunidade de origem branca ou italiana, tem represen-

tantes de todas as etnias, os grupos, das deficiências e também das organizações das opções que as pessoas têm na sua vida pessoal. Então, foi uma boa motivação, de ver que isso criou um ambiente diferente. Tudo se faz com algumas práticas também, não é apenas a concepção ideológica ou política”, disse.


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PERSPECTIVAS

geral SAÚDE

Estado deve abrir 1,6 mil novos leitos JESSICA GUSTAFSON jessica@jornaldocomercio.com.br

Quando se fala de saúde pública no Brasil, a falta de leitos é sempre um dos principais problemas apontados. Emergências superlotadas, pacientes nos corredores dos hospitais e longos trajetos até encontrar atendimento são alguns dos cenários observados no cotidiano da população. No Estado, a situação não é diferente. Os grandes hospitais de Porto Alegre que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) começam e terminam o ano trabalhando acima da sua capacidade. Segundo o portal Datasus, o Estado possui 24 mil leitos. Para os próximos anos, a promessa é de melhora, com aumento do investimento na saúde, definido por lei – 12% do orçamento estadual e 15% do municipal para a área. Mesmo com a troca de governo, pactos já foram firmados para ações futuras. De acordo com a atual secretária estadual de Saúde, Sandra Fagundes, está prevista a abertura de 1.649 leitos a partir de 2015, sendo 1.399 nos próximos dois anos. A região com maior aporte será a do Vale do Gravataí, com mil novos leitos. “Em termos de balanço, foi muito bem-vindo o fato de termos conseguido chegar ao investimento de 12% para a saúde. Após quatro anos, nos tornamos o estado com o maior número de leitos, com 2,8 leitos por mil habitantes. O parâmetro que se utiliza é de três a quatro leitos por mil pessoas. Então, estamos muito perto de atingir a meta”, afirma. O aumento de recursos é claro. De

janeiro de 2011 a setembro de 2014, foram repassados R$ 2,1 bilhões aos hospitais. Deste montante, R$ 1,3 bilhão foi para os filantrópicos. Entre 2007 e 2010, o repasse foi de apenas R$ 529 milhões, sendo R$ 175 milhões para os beneficentes. Nos últimos quatro anos, foram abertos 1.254 leitos pelo SUS, sendo 460 deles na Capital. A abertura de 1,6 mil leitos nos próximos anos terá grande impacto em algumas regiões. Em Santa Maria, o Hospital Regional começa a funcionar no início de 2015. Com 93% das obras concluídas, a primeira fase de funcionamento terá aporte de R$ 3,5 milhões pelo governo estadual para a compra de equipamentos. Em Palmeira das Missões, deverá ser construído um hospital 100% SUS, com capacidade de 224 leitos. A ampliação do Hospital de Osório deve ser concluída no primeiro semestre. O prédio com os novos serviços contará com 20 leitos de UTI adulta e 16 de internação pediátrica. O Vale do Gravataí receberá o maior investimento previsto, com ampliações de hospitais e a criação do Hospital Regional do Vale do Gravataí. As cidades de Alvorada, Viamão e Cachoeirinha terão seus hospitais regionais ampliados, com 750 leitos abertos. O convênio, de R$ 120 milhões, já foi assinado com a Fundação de Cardiologia, que administra as instituições. O novo hospital, em Gravataí, terá 250 leitos. “Trabalhamos com a perspectiva de que as ampliações sejam feitas em um ano. Já a construção do hospital deve levar quatro anos”, sugere Sandra.

Para Simers, problema é relacionado à má gestão O investimento de apenas 4% do orçamento da União para a saúde e a má administração dos gestores são os principais problemas apontados pelo presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes. Para ele, os dados indicativos de leitos não revelam a realidade, pois muitos estão desativados e constam como abertos. “Se tomarmos os últimos 20 anos, o Estado perdeu 40% dos leitos, e Porto Alegre, 30%. Isso não se recupera com a abertura de meia dúzia de leitos”, critica. Para Argollo, a situação é motivada pela falta de atenção à área, prin-

cipalmente por parte do governo federal. “Se dobrassem o investimento, poderiam ser construídos outro Hospital Conceição e outro Hospital de Clínicas. Contudo, a União investe 40% do orçamento para pagar os juros da dívida”, afirma. O Executivo da Capital também é criticado pelo presidente do Simers. “Como temos o mesmo governo, o mesmo secretário e nenhuma proposta de mudança, não há nenhuma esperança no âmbito municipal. Se eles estão investindo o percentual definido por lei e a situação não está melhorando, é por má gestão”, diz.

MENAHEM KAHANA/AFP/JC

Segundo levantamento do Datasus, o Rio Grande do Sul dispõe de 24 mil vagas – que, mesmo assim, não dão conta da demanda. Para os próximos anos, a promessa é de melhora, com aumento dos investimentos. Região prioritária, o Vale do Gravataí será contemplado com a maior fatia da verba

Parâmetro utilizado é de três a quatro vagas para cada mil pessoas

Município vai mandar a ‘conta’ ao governo estadual pelo excesso de pacientes do Interior A Capital possui cerca de 5,5 mil leitos para pacientes do SUS. Para o secretário municipal de Saúde, Carlos Casartelli, esse número é mais que suficiente. Segundo ele, a Capital precisaria de 4,2 mil leitos, aproximadamente, para toda a população, contando SUS e particular. Atualmente, são oito mil totais. Assim, as superlotações são motivadas pela grande procura de pacientes do Interior. “Ou o Estado investe na criação de leitos no Interior, com resolutividade, ou aumenta o número de leitos na Capital, repassando mais verba. Nos últimos anos, o gestor estadual preferiu investir no Interior. Há quatro anos, ele dizia que três anos após o início desta política os leitos da Capital ficariam vazios. Hoje, os leitos de Porto Alegre estão com maior lotação”, explica. Um convênio firmado entre as duas esferas prevê que 55% dos serviços do município sejam utilizados por pacientes de Porto Alegre, e 45% pelos do Interior. “Hoje, o atendimento de pacientes vindos do Interior está em mais de 60%, quando deveria ser 45%. Além disso, esses pacientes que vêm de outras cidades têm, muitas vezes, um diagnóstico tardio e apresentam uma situação mais grave. Então, o custo de tratamento é maior. Passaremos a mandar mensalmente uma conta ao Estado com os valores que ele deve para Porto Alegre em relação ao excesso dos serviços oferecidos”, garante. Já a secretária Sandra Fagundes não confirma a ocupação de mais de 60% por pacientes de fora da Capital. Para ela, depende da especialidade. “Algumas áreas da saúde, realmente, só são oferecidas em Porto Alegre.” Nos últimos anos, o município apresentou um au-

mento de 800 leitos. Segundo Casartelli, o aumento no Rio Grande do Sul aconteceu às custas da Capital, com a reabertura de dois hospitais, o Independência e o Luterano, e a construção do Hospital Restinga e Extremo-Sul. Em 2015, este último deve ampliar a capacidade de atendimento, com o aumento de pelo menos 60 leitos. “Continuaremos discutindo com os hospitais a ampliação de leitos, principalmente nas áreas mais necessárias, como de dependência química e psiquiatria. ”, relata. O problema, segundo o secretário, não é apenas mexer nas estruturas hospitalares, pois o Hospital Vila Nova, por exemplo, tem um projeto de 200 novos leitos, mas ainda depende do financiamento do Ministério da Saúde. “Sabemos que a situação será difícil em termos financeiros. O orçamento de 2015 da União será, na melhor das hipóteses, igual ao de 2014. No Estado, é uma incógnita, devido à mudança de governo. A prefeitura está no limite. Deveríamos repassar 25% do total do gasto em saúde, e o Estado, outros 25%. O nosso repasse gira em torno de R$ 500 milhões ao ano, mesmo valor investido pela União. Já o Estado investe apenas R$ 80 milhões.” Em resposta sobre os investimentos, o Ministério da Saúde afirmou que repassou à Capital, em 2013, R$ 878,1 milhões. Neste ano, já foram transferidos R$ 900,9 milhões, um aumento de R$ 22,9 milhões. “Os repasses se referem ao conjunto de serviços existentes no município feitos diretamente ao Fundo Municipal de Saúde. Não estão incluídos os repasses efetuados diretamente para prestadores de serviços no município e para o governo estadual com destino a Porto Alegre”, afirmou em nota.

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geral INFRAESTRUTURA

BR-116 é a única rodovia no Estado que pode ser concluída durante 2015 Quando se trata de aventar possibilidades, o superintendente regional do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), Pedro Luzardo Gomes, sonha alto. Se pudesse mandar no dinheiro, como afirmou em entrevista ao Jornal do Comércio, Luzardo teria um plano de execução de novas rodovias e conserto, reparação e duplicação de antigas que, entre oito e dez anos, poderia modificar as estradas gaúchas como são conhecidas. Entretanto, a burocracia é inevitável e tudo o que é aprovado para o Rio Grande do Sul precisa passar pelo aval federal. Com relação às obras já encaminhadas no Estado, o superintendente se mostra otimista, porém cauteloso. “Acredito que, em 2015, enfrentaremos uma recessão que deve influenciar na liberação de recursos. Isso pode dificultar o avanço de novos projetos. Mas o que já está encaminhado deve continuar. Pelo menos por enquanto, não recebemos acenos de possíveis pausas”, comentou. SUZY SCARTON

SEGUNDA PONTE DO GUAÍBA

suzy@jornaldocomercio.com.br

DUPLICAÇÃO DA BR-290

As obras da segund da ponte do lago Guaíba foram iniciadas oficialmente no dia 15 de outubro de 2014. De acordo com o superintendeente do Dnit, o projeto básico está concluído e pronto para ser executado. Para que as obras possam iniciar, falta a liberação, por parte da Fepam (Fundação Estadual de Proteeção Ambiental), do canteiro industrial da empresa Queirroz Galvão, vencedora da licitação. “Com o canteiro, a logísstica de leva e traz de materiais fica mais simples. Enquan nto aguardamos, trabalhamos com as comunidades que vão ser atingidas”, explica Luzardo. De acordo com a Fepam m, os terrenos para os canteiros precisam ser extensos e devem ficar lado a lado. Portanto, a área utilizada na consttrução da BR-448 precisa ser transferida para a obra da ponte. Segundo a fundação, não há prazos para que a liberração do canteiro ocorra. Moradores das vilaas Tio Zeca e Areia e da Ilha dos Marinheiros, que serãoo afetados pelas obras, serão transferidos para o outro laado da rodovia. O valor investido será de R$ 649,6 milhões. Luzardo estima que as obras estejam em andamento durante todo o ano de 2015, mas a ponte não deve ser entregue antes de 2017.

PROLONGAMENTO DA BR-448

A BR-448, também conhecida como Rodovia do Parque, foi uma das princcipais conquistas do primeiro mandato do governo de Diilma Rousseff. Inaugurada no final de 2013, o sucesso da estrada foi tanto que o planejamento para um prolongam mento (de Esteio a Portão) começou a tomar forma em 20144. A previsão do Dnit era de que o edital para a licitação fosse publicado no dia 9 de dezembro. Entretanto, a licitaação foi suspensa no dia 5 devido a um erro no documentoo. Por enquanto, não há previsão de uma nova data para o lançamento. O Dnit também não tem estimativa de valoores que serão investidos na obra, uma vez que o edital ainda não foi concluído. “A questão de valores só poderá ser divulgada após a abertura das propostas, uma vez que o Regime Diferenciado de Contratações exige sigilo”, escclareceu o superintendente. Entretanto, Luzardo o adianta que a intenção da obra é desafogar a BR-116, uma vez que motoristas que sigam para a região da Serraa gaúcha terão uma alternativa de rodovia a não ser a 116. “Quando as construções começarem, devem levar unss três anos para serem concluídas. Pressupondo-se que consigamos licitar até a metade de 2015, a previsão de entrega é para a metade de 2018.” Na questão de empregos, a estimativa do departamento é que 800 pessoas sejam necessárias para a realização dos trabalhos. Apesar dos impasses, Luzardo crê que as obras já terão começado no final de 2015.

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Quanto à duplicação da BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, questões burocráticas atrasam o início daa obra. “Precisamos ainda da aprovação de alguns projetoss executivos”, esclarece Luzardo. O Dnit estima que R$ 700 mi-lhões sejam empregados na construção, gerando cerca de 700 0 empregos diretos. A quantia estimada já inclui o valor utiliza-do no reassentamento dos moradores da área. O superinten-dente ainda afirma que há um projeto, longe de começar a serr realizado, de estender a BR-290 até Uruguaiana.

PORTÃO

PAN ANT NTANO NT AN N GRA RAN AND NDE

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EST STE TEIO

GUAÍ AÍB ÍBA

DUPLICAÇÃO DA BR-116

A duplicação da BR-116, entre Guaíba e Pelotas, já apresenta 50% das obras concluídas. O contorno de Pelotas, por sua vez, também tem 65% dos trabalhos completos. “A ideia é que as cargas possam ser transportadas de Porto Alegre e possam chegar rapidamente a Pelotas, para logo alcançar o porto do Rio Grande”, explica Luzardo. Ainda serão realizadas melhorias operacionais na rodovia, nos arredores de Porto Alegre e Novo Hamburgo, atualmente dividida em lotes. As melhorias operacionais abrangem a implementação de viadutos, passagens inferiores, alargamentos e passarelas. No lote 1, mais de 20 intervenções na pista serão efetuadas. O investimento será de R$ 392,2 milhões. O lote 2 contabilizará a construção de 20 passarelas e a reforma de outras duas, o que causará o gasto de R$ 72,9 milhões. A estimativa é de que 500 empreggos sejjam gerados. “Para iniciarmos as obras no lote 1, ainda há que resolver a questão dos indígenas que ali estão instalados. Atenderemos às reivindicações deles e construiremos residências para que possam se mudar”, garante Luzardo. Aproximadamente 20 pessoas moram na região. No total, a duplicação deverá movimentar cerca de R$ 1 bilhão. As obras devem começar em cerca de três meses.

PELOTAS

RII GRA RIO RAN AND AN NDE

CONCLUSÃO DA BR-392

A BR-392, que une Pelotas a Rio Grande, está praticamente pronta. Peelo menos, é assim que enxerga o superintendente. O único detalhe faltante é a restauração da ponte sobre o canal São Gonçalo, que possui um entrave adm ministrativo que se arrasta há mais de um nda ano. “Os engenheiros envolvidos ain não chegaram a um consenso sobree a forma de licitar esse trecho”, explicca. Entretanto, acredita que até o final de janeiro eles já tenham chegado a um ma decisão. A BR-392 começou a ser feita em 2010. A ponte sobre o São Gonçalo, localizada em Pelotas, é muito antiga. “Os enggenheiros diverggem. Algguns achaam melhor desmanchá-la e fazer uma nova, mas, para que isso ocorra, tem que implodi-la, o que traz à baila questões ambientais e alto custo. Sairia muito mais caro do que restaurar a existente”, explica. Sendo assim, o Dnit julga prematuro divulgar valores e projeção de empregos, uma vez que não se sabe exatamente o que será feito, tampouco a modalidade de licitação.


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geral MEIO AMBIENTE

Lixões estão com os dias contados Há 33 anos, os lixões são proibidos no Brasil. Entretanto, três municípios gaúchos ainda depositam os resíduos nestes espaços. As três cidades que possuem áreas irregulares no Rio Grande do Sul – Viamão, São Gabriel e Uruguaiana – garantem que elas serão desativadas ou remodeladas em 2015

WAGNER MIRANDA, ESPECIAL geral@jornaldocomercio.com.br

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Com recursos disponíveis, Viamão espera dar fim ao problema até março

Logo, se passaram 25 anos. Além do mais, os lixões são proibidos há mais de três décadas. Portanto, uma prefeitura dizer que não teve tempo para planejar o fim dos depósitos irregulares não é coisa séria”, diz. Outro ponto que está em discussão é o recurso re financeiro rere passado a cada prefeitura para que as determinações da PNRS sejam cumpridas. Segundo os municípios de São Gabriel e Uruguaiana, este é um dos problemas enfrentados. “O custo para o fim do lixão é um problema. O que sentimos falta é de políticas de apoio do governo federal para que possamos resolver logo isso. Precisamos de recursos para construir uma cul-

ANTONIO PAZ/JC

Das perspectivas para 2015 dos municípios gaúchos, os lixões não fazem parte. No entanto, faltando poucos dias para o próximo ano, as promessas não condizem com a realidade. Os locais são proibidos no Brasil desde 1981, com a sanção da Lei 6.938, que dispõe sobre a política nacional do meio ambiente. Os espaços, portanto, irregulares há 33 anos, ainda existem em três cidades – Viamão, São Gabriel e Uruguaiana. Como todos os prazos estão vencidos, as prefeituras buscam a melhor medida a ser adotada. O Jornal do Comércio apurou como as cidades pretendem transformar os lixões em aterros sanitários neste próximo ano. As promessas, apesar de tardias, são promissoras: até o fim de 2015, não haverá mais lixões no Rio Grande do Sul. Se os compromissos forem honrados, os três municípios estarão cumprindo parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em agosto de 2010. O fim dos lixões, entretanto, não depende da boa vontade dos prefeitos. As administrações municipais precisam criar planos de gestão ambiental. E isso, segundo os representantes das três cidades, requer recursos financeiros. Verba esta que alguns municípios carecem e, por isso, procuram alternativas. Uma das opções das prefeituras atualmente é procurar a Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). De acordo com o presidente da Famurs e prefeito de Tapejara, Seger Menegaz, a principal reclamação diz respeito à falta de recursos financeiros quando procuram atender aos requisitos estabelecidos na PNRS. “É É necessáec sá rio que os órgãos de controle desta lei saibam que, para se construir um processo de gestão ambiental, precisa-se de recursos e tempo. Coisas que hoje os municípios não têm”, aponta Menegaz. O coordenador de gestão ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Darci Campani, contesta a afirmação do presidente da Famurs. “A Política Nacional de Resíduos Sólidos tem quatro anos de vida. Ela foi discutida durante 21 anos no Congresso.

tura diferente sobre o lixo”, destaca o prefeito de Uruguaiana, Luiz Augusto Fuhrmann Schneider. Do município de São Gabriel, o procurador de Justiça Guilherme Abib – indicado pela assessoria da prefeitura por estar a par do assunto – relata as ações que vêm sendo desenvolvidas na cidade: “Estamos ampliando o processo de coleta seletiva, justamente para diminuir o volume de material que é levado ao lixão. Mas é um processo caro para o município”, completa. Viamão, por sua vez, não apresentou nenhum indício de falta de recursos. O prefeito da cidade, Valdir Bonatto, destaca o projeto de transformação do lixão da cidade

AS PROMESSAS DE CADA MUNICÍPIO São Gabriel “O lixão será desativado até os primeiros dias de janeiro. O transbordo será destinado ao aterro sanitário de Santa Maria.”

Uruguaiana “Já fizemos o processo licitatório para iniciarmos em janeiro o transbordo para o aterro sanitário de Candiota. Mas não ão temos data. Sabemos que qu o llixão da cidade será fechado em 2015.”

Viamão “Até março do ano que vem, devemos ter concluído todo nosso plano de trabalho, transformando o lixão em aterro sanitário.”

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em aterro sanitário como a principal ação de sua gestão. “Criamos, em junho deste ano, uma cooperativa. No mesmo dia, entregamos a coleta seletiva à associação dos catadores. A nossa expectativa para 2015 é que, até março, tenhamos concluído todo o nosso plano de trabalho. Recursos para investir em conscientização, temos. Isso não é problema. Estamos trabalhando na ampliação do recolhimento de materiais possíveis de serem reciclados”, frisa o prefeito. O processo de coleta seletiva, citado pelos municípios, é de interesse dos catadores. Quem explica a importância do serviço à classe é Alex Cardoso, representante do

ENTENDA O QUE É CADA ESPAÇO DE DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS Lixão – irregular Um lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma preparação anterior do solo.

Aterro controlado – irregular É uma fase intermediária entre o lixão e o aterro sanitário.

Aterro sanitário – regular A disposição adequada dos resíduos sólidos urbanos é o aterro sanitário, que, antes de iniciar a disposição do lixo, teve o terreno preparado previamente com o nivelamento de terra e com o selamento da base com argila e mantas de PVC, esta extremamente resistente.

movimento nacional da categoria. “O fato de implantar o processo faz com que 60% da quantidade de resíduos que vão atualmente para o lixão sejam diminuídas. Então, antes de fechar os lixões, tem que implantar usinas de coleta. Essas usinas precisam ter a participação dos catadores, contratados e pagos legalmente”, defende. O Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul também está atuando na inclusão dos catadores no processo de coleta seletiva. “O papel do promotor nos municípios gaúchos é pegar o plano de resíduos sólidos e dialogar com os prefeitos, a fim de saber a forma com que a gestão será feita. Com essas informações, o promotor passará a acompanhar se os municípios irão incluir realmente os catadores no processo”, explica o promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Carlos Roberto Lima Paganella. Além dos lixões, os aterros controlados são outro problema. Dados do MP revelam que 62 cidades do Estado utilizam os locais para o descarte final dos resíduos. Número que representa 12,47% dos 497 municípios existentes no Rio Grande do Sul. A situação é preocupante para o meio ambiente, já que aterro controlado é considerado uma solução intermediária entre lixão e aterro sanitário. Além disso, se não houver controle do espaço, ele poderá voltar a ser lixão. O coordenador do plano estadual de resíduos sólidos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Luiz Henrique Machado Nascimento, prevê que os aterros controlados deixarão de existir em 2015. “Os municípios têm trabalhado fortemente na evolução dos projetos de separação adequada dos materiais. É por isso que acreditamos que a partir do próximo ano nenhuma cidade irá depositar os resíduos finais em áreas inadequadas.” Embora o tema gestão ambiental possua diversas vertentes, as três cidades que possuem lixão demonstraram-se engajadas no intuito de dar fim a este mal ambiental. “Não existe a possibilidade de atrasos. Estamos seguindo nosso cronograma. É um compromisso”, salienta o prefeito de Viamão.


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esportes GRÊMIO

Mesmo com redução de custos, Bolzan almeja título nacional O ano de 2015 será de reformulação para o Grêmio. Com um novo presidente para as próximas duas temporadas, o clube prepara uma das maiores reestruturações dos últimos anos. Com orçamento reduzido, venda de jogadores e aposta na base, Romildo Bolzan Júnior prevê contratações que deem retorno rápido e que componham um elenco “com a cara do Grêmio”. O objetivo é retomar o caminho das vitórias, se possível conquistando um título de expressão. JOÃO CARLOS DIENSTMANN joaoc@jornaldocomercio.com.br

Foco da gestão

A Arena A compra da gestão da Arena é algo que ficará a cargo do presidente Fábio Koff (que assumirá como vice de futebol). Entregamos um documento autorizando-o a prosseguir com as negociações com a OAS, ainda que isso possa demorar um pouco mais do que gostaríamos em razão dos problemas que a empreiteira sofre (a OAS está envolvida em investigações da Polícia Federal sobre o caso de fraude na Petrobras). Hoje, conseguimos pagar os débitos referentes ao estádio, mas a finalização do negócio irá possibilitar que o Grêmio alavanque todos os planos de sócio que tem em mente. Teremos mais capacidade de lotar a Arena se contarmos com a gestão integral do estádio. Assim que for possível, queremos vender 100% dos assentos para os associados. Naturalmente, a partir do momento em que conseguirmos isso, teremos uma maior renda, que ficará com o Grêmio. Se considerarmos 49 mil lugares, descontadas as áreas para visitantes e camarotes, podemos estabelecer o sistema de check-in e check-out, fazer promoções e criar espaço para que o torcedor compareça aos jogos na Arena. O aumento do número de sócios, além da importância dos jogos, também é fundamental para que tenhamos grandes públicos durante o ano.

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Bolzan almeja time competitivo e maior aproveitamento da base

GILMAR LUÍS/JC

Iremos fazer uma equalização do clube, ou seja, trabalhar fortemente em todas as áreas para buscar a autossustentação. Isso demandará cortes no futebol e em áreas administrativas. Teremos que tomar medidas até mesmo antipáticas em alguns setores, mas sempre com o objetivo de readequar o Grêmio na questão financeira. Estou assumindo o controle de autorização de todas as despesas, justamente para conseguirmos fechar as contas. Além disso, dentro da gestão, precisaremos ter uma enorme capacidade de diagnóstico. Não podemos ter muita margem de erro para contratar um jogador. Precisaremos que ele chegue e dê a resposta rapidamente, encaixando-se no perfil que queremos para o clube e dentro das questões que iremos trabalhar em 2015, tanto no aspecto técnico quanto no financeiro. Compraremos poucos atletas e precisaremos acertar em praticamente todas as negociações, mas com certeza seremos muito mais exigentes com aqueles que estiverem conosco no primeiro ano de gestão.

Saúde financeira do clube

Montagem do elenco Quanto melhor estiverem as engrenagens, melhor será o time. Não podemos, todavia, excluir as individualidades, que são importantes em um time de futebol. No Grêmio, temos a cultura de contar com jogadores que se entregam, que jogam com alma, com comprometimento. E esse tipo de jogador cria uma simpatia muito grande com a torcida. O jogador que é indiferente ao clube e a suas tradições terá uma dificuldade enorme de conviver dentro da nossa cultura, que é marcada por atletas com esse estilo. Às vezes, o torcedor não entende porque times médios conseguem ter sucesso, e é justamente por esse aspecto emocional. O Grêmio tem a capacidade de montar uma equipe, em 2015, sem grandes custos, levando em conta o aproveitamento da base e com reposições dentro desse perfil aguerrido, de entrega e de paixão pelo clube. Esses jogadores, somados a um, dois ou três grandes reforços, darão uma boa resposta. Aposto em uma equipe que consiga entrosamento em curto ou médio prazo, e que evolua a cada jogo. O Felipão costuma dizer que não precisamos de muitas contratações, pois temos muitos jogadores na base que podem entrar. Se ele fizer algumas correções de rumo, teremos um time bastante competitivo.

A ausência na Libertadores nos tira receita, mas evita que façamos gastos exagerados. Claro que gostaríamos de jogar a competição, porém, sem ela, há a possibilidade de agilizarmos todas as readequações que o clube precisa fazer. Temos uma projeção de folha salarial em torno de R$ 4 milhões para o início da temporada. Isso corresponde a 50% do que são atualmente os vencimentos do clube com os seus jogadores. No entanto, acima de qualquer projeção, é importante que todas as contratações que forem feitas sejam dentro de um patamar em que possamos pagar sem dificuldade. Agora, nada impede que aumentemos esse valor durante a temporada. Para isso, teremos que criar mais receitas. Se tivermos um maior volume de dinheiro entrando no caixa e a temporada exigir que haja um maior investimento, faremos sem problemas. O que não podemos é cometer exageros. Todavia, garanto que abaixo desse valor (de R$ 4 milhões) não iremos chegar, pois não teríamos um time minimamente competitivo.

Objetivos na temporada Só revelar jogadores é insuficiente. Ainda que em 2014 o clube tenha vendido dois laterais-esquerdos (Alex Telles e Wendell), revelado o Walace, o Everton, que é uma grande promessa para 2015, além dos goleiros que estão na seleção de base, o que irá simbolizar todos esses atletas que já surgiram e que irão surgir é conquistar um título de grande expressão. Isso irá resgatar o orgulho de ganhar algo depois de tanto tempo. A conquista em âmbito nacional passou a ser obrigação para o Grêmio. Teremos ainda a possibilidade de disputar a Copa Sul-Americana e projetar uma conquista internacional. Porém, eu não ignoro o estadual. O Campeonato Gaúcho também é uma prioridade do clube, pois não conquistamos essa taça desde 2010. Será um ano de muito trabalho, com reduções financeiras, mas com obrigações ainda maiores, já que o torcedor quer voltar a ver uma equipe competitiva, brigando pelo título em todas as competições que disputar. Teremos ainda o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil para conseguirmos reerguer as taças que queremos.


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PERSPECTIVAS

esportes INTER

Piffero projeta Beira-Rio lotado e aumento dos sócios O novo presidente colorado recebe um time aparentemente bem resolvido no que diz respeito a finanças e com a possibilidade de um bom investimento em folha salarial para o futebol em 2015. Os desafios de Vitorio Piffero passam agora por levar mais público ao Beira-Rio, que, de acordo com suas ideias, deve conquistar um número maior de sócios, que terão mais benefícios com a fidelização. Com isso, um dos principais objetivos da nova gestão é fazer com que o Inter volte a conviver entre os grandes do futebol mundial. DEIVISON ÁVILA deivison@jornaldocomercio.com.br

Foco da sua gestão

Beira-Rio

Montagem do elenco

Futebol. Meu foco é o futebol. Claro que eu acredito que o clube não cresce só dentro de campo, e sim como um todo. Não adianta ter um time só de “Pelés” se tu não tens uma estrutura. É preciso ter tamanho, folha, faturamento e, no nosso caso, sócios. Nós precisamos ainda de um bom centro de treinamentos, que levará uns dois anos ou mais para ser feito. No entanto, isso faz parte do crescimento do clube como um todo. Patrimonialmente, ele cresceu muito com o estádio que está pronto. Porém, o clube tem que continuar crescendo. Temos que buscar outras fontes de receita para que isso ajude o futebol, que é o nosso princípio.

Estamos aqui não é à toa (o escritório do presidente Isso está sendo construído. Voltam em torno de 13 a 15 jogadores. Iremos aproveitar alguns, outros fica em um prédio comercial que tem como plano não. Historicamente, o Inter promove cinco ou seis jogadores das categorias de base. Já subiram alde fundo o Beira-Rio). Atrás de mim, está o nosso guns, irão subir mais. No entanto, isso tudo tem que ser pensado com a comissão técnica. Não é uma estádio. Ele está pronto. Quando discutimos sobre pessoa sentada aqui que irá definir. Eu acredito em hierarquia. Jogadores, funcionários, comissão a forma como ele deveria ser reformado, tínhamos técnica, enfim, todos são funcionários do clube, eles têm carteira assinada e, como tal, devem res100% do Conselho Deliberativo apoiando para que peitar a hierarquia existente. Outra figura que está sendo pensada é o diretor executivo. O chefe do fizéssemos as obras com recursos próprios. Houve vestiário é o treinador. É ele que escala. Nenhum dirigente escala jogador. Mas, cabe aos dirigentes uma eleição no final daquele ano e, então, mudou políticos - diretor, vice-presidente de futebol e presidente do clube -, conduzirem a forma como irão o Conselho e eles optaram por uma parceria estraacontecer as coisas. Por exemplo, o Inter tem que ter formado um grupo de jogadores competentes tégica com a Andrade Gutierrez. Bom, discutimos que propicie que o clube participe de todos os campeonatos com possibilidades reais de decisão de até ali e pronto. Nunca mais falei sobre o assunto. título. Essa é atribuição da direção. O Inter não pode abrir mão de nada. Quem vai firmar esse rumo Até 2011, enquanto houve a discussão, eu defendia no vestiário é a direção política, são os diretores, os vices e o presidente. o que a unanimidade do Conselho defendia em 2010. No momento que, em 2011, mudou a composição dos conselheiros e o entendimento da gestão, eu tirei o meu cavalo. Finanças Moral da história: está pronto o estádio e eu acho que ele precisa estar sempre cheio. O que estamos vendo é que, com valores mais altos, o A folha do futebol do Inter tem que representar cerca de 60% a 70% do que público fica em torno de 20 mil pessoas. Com valores mais baixos, estao clube fatura. Se o faturamento do Inter é de R$ 300 milhões no ano, o mos perto de 40 mil. Existe um número para a melhor ocupação e nós futebol deve ter acesso a R$ 180 milhões. Claro que o fato de estarmos na iremos achá-lo. Temos que incentivar o torcedor a ir sempre ao estádio Copa Libertadores exige grandes investimento para a formação de um grupo e dar condições para que ele vá. competitivo, para podermos vencer a competição pela terceira vez. A visibilidade da marca do clube ganha muito a partir da entrada em uma competição continental. Ainda não sei sobre a real situação financeira do Inter, mas acredito que precisamos aumentar o quadro associativo para termos mais receita. Afinal, o nosso torcedor é fundamental para que possamos alçar voos mais altos. Queremos retomar o convívio entre os grandes do futebol mundial. A experiência que tivemos ao disputar a Dubai Cup nos mostrou isso. Enfrentamos Inter de Milão e Stuttgart. É este convívio que queremos retomar a partir de 2015.

Presidente quer o Colorado de volta ao convívio com os grandes clubes do futebol mundial

RAFAEL CABELEIRA/RC ASSESSORIA/DIVULGAÇÃO/JC

Objetivos para 2015 É óbvio que os mais diversos nomes são sugeridos por amigos. Já eu tenho comigo outros nomes. Evidentemente que existe uma construção dentro da minha cabeça, exatamente por opiniões próprias, conversas aqui, conversas ali, mas que só sairão do mundo imaginário depois de termos todos os departamentos definidos. Acho que o profissionalismo no futebol passa por uma parceria entre o diretor executivo pensando em conjunto com a comissão técnica. Nós fomos um dos primeiros a colocar o cargo remunerado, em 2002, com o Newton Drummond (Chumbinho) como executivo de futebol. Cada clube tem, na figura do seu executivo, diferentes formas de pensar e agir. Alguns comandam o vestiário, outros apenas são assessores para as negociações. O Inter tem um modelo de profissional que participa do vestiário, junto com os vices e seus diretores dos mais diferentes setores, e dá análises dos jogadores. Porém, quem normalmente contrata são os diretores. Talvez a gente até possa mudar isso, mas tem sido assim até aqui.

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PERSPECTIVAS

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cultura ESPAÇOS CULTURAIS

Mais um ano e meio

Ainda falta um pouco para um dos maiores complexos culturais de Porto Alegre, o Multipalco São Pedro, ficar pronto. Já a tão sonhada Sala Sinfônica da Ospa, que tem terreno e dinheiro liberados, anda a passos lentos e ainda deve demorar a ficar pronta. Também abordamos, aqui, a situação da Casa de Cultura Mario Quintana e da Cinemateca Capitólio RICARDO GRUNER

MARCO QUINTANA/JC

ricardo.gruner@jornaldocomercio.com.br

José Roberto Diniz de Moraes projeta conclusão do Multipalco para 2016

Para a Ospa, pouca novidade Será necessário ao menos mais um ano de trabalho na construção da Sala Sinfônica da Ospa. A previsão de entrega, agora, passou para março de 2016, conforme Ivo Nesralla, presidente da Fundação Cultural Pablo Komlós - criada justamente para viabilização as obras, ainda em 2004. Localizado no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o terreno foi cedido pela prefeitura de Porto Alegre em 2008. As atividades iniciaram em 2012 e atualmente se encontram na terceira etapa – antes, foram realizadas as fundações e a elaboração dos blocos de concreto que darão sustentação aos pilares do prédio. Neste ano, a evolução da terceira fase (a supraestrutura) teve como contratempo a necessidade de conferência da posição das estacas

implantadas. “Estamos em via de corrigir esse problema”, afirma Nesralla, sem dar detalhes. No entanto, de acordo com o presidente, as complicações por trás de atrasos anteriores têm ordem burocrática. “Como é dinheiro público, tem que passar por licitação. E licitação é aquela confusão: quem perde entra com ação contra quem ganha”, exemplifica. Mesmo com os prazos estimados adiados, Nesralla crê que a Secretaria da Cultura fez um bom trabalho e acredita que, sendo resolvido este problema técnico, as obras possam ser tocadas com mais velocidade. “Já tenho Lei Rouanet para captar dinheiro para as cadeiras, e o teatro não está nem erguido”, antecipa. Após a concretização da terceira etapa, ainda faltarão os acabamentos.

Outras reformas a caminho MARIA EUGENIA BOFILL cultura@jornaldocomercio.com.br

Após a entrega das obras externas de restauro da Casa de Cultura Mario Quintana, em 2015 o foco serão as reformas internas. No final de outubro deste ano, o projeto da revitalização e ambientação interior foi encaminhado para análise via Lei Rouanet ao Ministério da Cultura de Brasília Constam no planejamento a acessibilidade, revitalização das

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áreas de acesso da Casa, como as rampas para deficientes físicos, a manutenção da parte técnica, como iluminação e climatização, principalmente nos teatros. As placas de informações e indicações de sinalização interna também serão reformadas. “Não são obras com grandes percepções como a restauração da parte externa, por não ser algo com tanto impacto”, explica o presidente da Associação dos Amigos da CCMQ, Eduardo Vital. A pre-

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visão de entrega é para o final de 2015. Como as obras acontecem na parte interna e não depende de condições climáticas, por exemplo, tendem a ser finalizadas em um período menor que a restauração externa. O investimento total - incluindo o restauro da fachada - é de R$ 8 milhões, valor assegurado pelo Banrisul. As obras iniciam assim que o projeto for aprovado no ministério. Segundo Vital, é uma questão de dois a três meses.

A conclusão das obras do Multipalco do Theatro São Pedro só será possível no ano que vem, isso com uma expectativa “mais do que otimista”, conforme o coordenador do projeto, José Roberto Diniz de Moraes. De acordo com ele, a inauguração do centro cultural está prevista para 2016. “No início de 2015, nosso desafio é o último nó de infraestrutura que nos falta, que é a estação térmica”, explica Moraes. O investimento está orçado em R$ 9 milhões, e o plano consiste em buscar recursos junto ao Bndes. Superado este entrave, o coordenador aponta que não há motivos para dedicação de esforços apenas voltados a espaços paralelos: a ideia é partir para a finalização do teatro italiano, o palco principal do Multipalco. A sala envolve um valor entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. “Cada poltrona custa em torno de R$ 1.600,00, e são 650 no total. E falta piso, caixa cênica, som, luz”, exemplifica ele, contan-

do que o orçamento está em fase de finalização. Se o prognóstico para o teatro italiano inclui mais um ano e meio de trabalho, há algumas perspectivas mais otimistas. A Sala de Música Gerdau, inaugurada neste ano, deve receber programação em 2015. “Estamos elaborando uma pauta mais completa. Nossa orquestra está se preparando para fazer apresentações regulares na sala”, ressalta Moraes. O local foi concebido para receber também discussões literárias e eventos que promovam diálogos entre filosofia, psicologia e arte, por exemplo. O coordenador das obras ainda destaca outras duas etapas cumpridas em 2013: a subestação de energia elétrica (o Multipalco estava pendurado na subestação do Theatro São Pedro, insuficiente), e a liquidação de todos os sistemas da casa, como o hidráulico e o lógico. A exceção é o ar-condicionado, que depende de montagens de estrutura. “Daqui para frente é acabamento, decoração e equipamento específicos para as salas”, conta ele, referindo-se aos espaços menores.

Expectativa na sala escura PRISCILA PASKO priscila@jornaldocomercio.com.br

O prédio da Cinemateca Capitólio ainda aguarda a liberação do Corpo de Bombeiros para abrir as portas e ser ocupado, definitivamente, pela equipe da Coordenação do Núcleo de Cinema da Secretaria Municipal da Cultura. Após enfrentar cerca de 10 anos de entraves burocráticos, a Cinemateca agora espera outra fase de exigências: a aprovação do Plano de Prevenção contra Incêndios (PPCI). O coordenador do Núcleo de Cinema, Marcus Mello, conta que os ajustes estão sendo feitos pela empresa ABS. Entre eles, está a instalação da escada de incêndio, sinalização e implantação das bombas d’água, que deverão ser concluídos até o final de dezembro. Assim que tais exigências forem atendidas, a equipe de bombeiros será chamada em janeiro para fazer vistoria.

O prédio também aguarda a chegada de dois projetores de 35mm, doações do grupo GNC. No entanto, os equipamentos só poderão ser repassados à Cinemateca quando os projetores digitais forem liberados da alfândega, onde estão retidos, e instalados em suas respectivas salas. Quando isso ocorrer, serão necessários mais 20 dias para o ajuste e teste de projeção. O Capitólio, portanto, irá inaugurar sem projeção digital. O valor de cerca de R$ 350 mil a ser investido terá o aporte da prefeitura de Porto Alegre. Outros trâmites, como a assinatura do contrato com as empresas de manutenção dos elevadores e do sistema de ar-condicionado já foram assinados. Mesmo que os prazos sejam cumpridos, Mello prefere não estipular nova data de inauguração. “Só vamos comunicar uma nova data quando tivermos o PPCI assinado e os projetores funcionando.”


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PERSPECTIVAS

cultura ARTES VISUAIS

Redescoberta da América A Bienal do Mercosul chega à sua 10ª edição com a intenção de se voltar para a exibição da produção artística dos países latino-americanos, retomando uma vocação inicial apontada em sua primeira edição cuja estratégia curatorial era “reescrever” a história da arte da América Latina

MICHELE ROLIM

Com o título Mensagens de uma nova América, a Bienal do Mercosul, que acontecerá de setembro a novembro de 2015, em Porto Alegre, terá o historiador de arte Gaudêncio Fidelis, atual diretor do Margs, como curador-chefe e ocupará nove espaços da cidade: Santander Cultural, Margs, Museu dos Direitos Humanos, Casa de Cultura Mario Quintana, Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, Usina do Gasômetro, Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Paço Municipal e um galpão, este ainda em fase de definição. Segundo Fidelis, a Bienal pretende dar conta de um considerável número de “pontos cegos” deixados pela crítica e pela historiografia, trazendo à superfície obras cuja contribuição artística ainda não recebeu a merecida

MARCO QUINTANA/JC

michele@jornaldocomercio.com.br

Gaudêncio Fidelis é o curadorchefe da 10ª Bienal do Mercosul

Incerteza no Margs LEONEL MITTMANN cultura@jornaldocomercio.com.br

Devido à transição de governo, o compromisso da atual gestão do Margs não se estende no próximo ano de 2015. A instituição possui um planejamento, expresso no Plano Museológico, para os próximos 30 anos, exigência do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que prevê um projeto de longo prazo. Segundo o diretor Gaudêncio Fidelis: “Fizemos um planejamento que foi possível cumprir com base nesses quatro anos”. Este plano implica o fortalecimento

MAC-RS ainda sem sede

e crescimento do acervo, a continuidade de um programa de exposições realizado pelo museu e seu núcleo de curadoria e o crescimento ordenado e progressivo de todas as áreas de atividade do museu. O calendário de exposições do ano seguinte, as escolhas curatoriais e a definição da programação ficão a critério do próximo diretor, nome ainda desconhecido. O prédio anexo (antiga Receita Federal), localizado atrás do Museu e que teve sua ocupação pelo Margs confirmada para 2015 por Gaudêncio e também por Angelo Oswaldo, presidente do Instituto Brasileiro dos Mu-

seus (Ibram), agora é uma incógnita. “A questão do anexo parou num ponto do encaminhamento, a negociação progrediu bastante, mas tivemos as eleições e com mudança de governo isso ficou meio suspenso”, explica o diretor. A ocupação do prédio dependia, antes, de o Estado realocar as pessoas e os objetos da Receita Federal em um novo edifício. Segundo Fidelis, isso não havia evoluído depois das últimas reuniões acerca do assunto. “Para nós, não era algo incerto, mas agora depende do novo diretor se interessar pelo anexo”, diz Fidelis.

Iberê mundo afora Em 2015, a Fundação Iberê Camargo (Fic) dará destaque especial para a programação internacional, que inclui três exposições de Iberê Camargo na Itália, nos dias 20 e 21 de maio de 2015. O Museo Marino Marini, em Florença, vai receber gravura do mestre gaúcho, com vernissage marcada para 20 de maio. Também nesta data é a abertura que acontece no Museu de Arte Moderna de Florença, mostrando recortes dedicados à produção do artista nos anos 1960. No dia seguinte, o Museo Morandi, em Bolonha, destacará as relações entre as obras de Iberê e do seu mestre Giorgio Morandi, com a apresentação de naturezas-mortas dos dois artistas. A curadoria de todas as mostras é de Alberto Salvadori, diretor artístico do Museo Marino Marini.

consideração crítica. Quatro grandes campos conceituais compõem a 10ª Bienal do Mercosul: A jornada da adversidade, A insurgência dos sentidos, O desapagamento dos trópicos e A jornada continua. Cada um deles será composto por uma ou mais mostras, além de atividades voltadas para a formação profissional no campo curatorial e o desenvolvimento de um programa educativo relacionado. Estará exposto um vasto número de obras canônicas e não canônicas, perfazendo um amplo arco histórico até a produção atual. A equipe curatorial também é formada pelo curador adjunto Márcio Tavares (Brasil) e pelos curadores assistentes Carmen Cebreros Urzaiz (México), Fernando Davis (Argentina), Raphael Fonseca (Brasil) e Ramón Castillo Inostroza (Chile). O orçamento estimado é de R$ 12,5 milhões.

As obras do artista gaúcho se deslocam dentro do Brasil também no ano seguinte. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro receberá, em setembro, exposição com curadoria de Luiz Camillo Osório. Ainda entre setembro e outubro, a instituição pretende finalizar o projeto de digitalização das obras do acervo. No final de abril, acontece o lançamento da Bolsa Iberê Camargo, projeto destinado a jovens artistas. Ainda sem datas definidas, a fundação receberá mostras individuais de artistas como Marino Marini (curadoria de Alberto Salvadori) e Abraham Palatnik, com curadoria a quatro mãos de Pieter Tjabbes e Felipe Scovino. Vale lembrar também que a exposição comemorativa ao centenário de Iberê se mantém em cartaz até março de 2015.

A tão sonhada sede do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS), prometida para 2014, não ocorreu e, agora, não há perspectivas nem para 2015. A ideia é que a instituição ocupe parte do prédio do Instituto Federal do Rio Grande do Sul - IFRS (onde funcionava a loja Mesbla, no Centro). O processo começou em 2011 e tinha previsão para conclusão para novembro de 2013, porém as obras de restauração do espaço atrasaram e foram reprogramadas para abril deste ano. Entretanto, só em novembro último, um ano depois do acertado, o lugar foi reparado, mas ainda não está ocupado pelo museu. Segundo o diretor do MAC-RS, André Venzon, o projeto é uma parceria com o IFRS. Foi elaborado um plano de trabalho, reserva de orçamento e afins. A obra foi concluída e a diretoria tentou uma agenda com o Instituto Federal, porém, conforme Venzon, o IFRS relatou que não seria possível neste ano. “O que existe é um espaço cultural sem ocupação. Mas nada garante que será do MAC-RS. Essa garantia vem através de um contrato, um instrumento legal jurídico que as duas instituições precisam efetivar, coisa que não ocorreu”, informou Venzon. O diretor-geral do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Roberto Sangoi, explicou que o espaço revitalizado foi concebido para uso da comunidade acadêmica e sociedade em geral. A entidade projeta um espaço cultural com uma biblioteca, um cineclube, um telecentro, locais de leitura, de convivência e espaço para realizações de eventos, tais como formaturas, mostras técnicas, apresentações culturais e exposições. “A utilização deste ambiente será organizada de acordo com a proposição de projetos das nossas áreas acadêmicas, visando a atividade fim da nossa instituição, bem como projetos a serem apresentados pela sociedade”, escreveu Sangoi em entrevista por e-mail.

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cultura ARTES CÊNICAS

Nos palcos e ruas do Estado MICHELE ROLIM michele@jornaldocomercio.com.br

Apesar de a programação dos festivais de artes cênicas não estarem totalmente fechadas, algumas atrações já estão confirmadas. O Porto Alegre em Cena, tradicionalmente ocorrendo em setembro, deve contar, em 2015, com o ator uruguaio Cesar Troncoso (do filme O banheiro do Papa) no solo Marx in Soho, do autor norte-americano Howard Zinn. Também devem chegar por aqui Agosto, espetáculo dirigido por Christiane Jatahy com Vera Holtz e Camila Morgado no elenco. Na área musical, o Em Cena deve contar com show conjunto de Arrigo Barnabé, Luiz Tatit e Livia Nestrovski, Zélia Duncan cantando Itamar Assunção no show Tudo esclarecido e Tulipa Ruiz lançando seu novo CD. O coordenador-geral, Luciano Alabarse, ressalta que ainda negocia as atrações internacionais, principalmente da França e da Alemanha. No próximo ano, um dos destaques do Festival Palco Giratório Sesc, que completará 10 anos em maio, será o caráter formativo. Conforme a coordenadora de cultura do Sesc-RS e curadora do Palco Giratório, Jane Schoninger, o formato de residên-

cias artísticas, já realizado em 2014, permanece. Para ela, um dos pontos chaves de discussão do festival será a curadoria, a recepção e a crítica. A programação do Palco ainda está em elaboração, mas deve incluir espetáculos de várias partes do País, com o objetivo de descentralizar a produção cultural, investindo no Norte e Nordeste, por exemplo. Entre os grupos confirmados, estão a Cia. Gira Dança e o Balé Popular do Recife. Já o Festival Internacional de Teatro de Rua de Porto Alegre chega à sétima edição em abril de 2015, marcando o início de criação de uma coprodução franco-brasileira. Está prevista a participação de 30 companhias de teatro no evento, totalizando 90 apresentações em 30 bairros da Capital. Além de um Seminário sobre Festivais Internacionais de Teatro e a um Programa de Formação de Público. Alexandre Vargas, diretor artístico, coordenador-geral e curador, acredita que os destaques das apresentações devem ficar a cargo da Cia. Kumulus, da França, com o espetáculo O silêncio embaraçoso; e Pedinte de voto, de Roger Bernat, da Espanha. A cena mineira deve marcar presença forte no festival, assim como a produção local.

FITRUPA/DIVULGAÇÃO/JC

Principal atração cultural da Capital no mês de setembro, o Porto Alegre em Cena do próximo ano deve contar, entre as atrações nacionais, com Agosto, espetáculo com Vera Holtz e Camila Morgado no elenco. Na Usina do Gasômetro, a tão sonhada revitalização do espaço ainda não tem data para começar

Cia Kumulus, da França, é um dos destaques do Festival de Teatro de Rua, evento que irá promover 90 apresentações pela Capital

Aporte para reforma PRISCILA PASKO priscila@jornaldocomercio.com.br

À espera de um teatro

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Atualmente, o projeto está na Smov para que seja feito um levantamento sobre as etapas concluídas e as que ainda precisam ser feitas. A previsão é de que em junho de 2015 já se tenha um relatório completo. Enquanto isso, desde abril deste ano, os músicos da Ospa ocupam a sala Elis Regina para os seus ensaios. Parte da reforma do Teatro Elis Regina, no entanto, depende do levantamento técnico que está sendo feito na Usina, comenta o diretor do prédio, Renato Wieniewski. Isso porque o terraço apresenta problemas de infiltração, o que prejudica a estrutura da sala. Com a reforma do prédio em andamento, tal problema poderá ser sanado e as reformas terem andamento. O valor estimado para os reparos necessários está estimado entre R$ 1,5 milhões e R$ � milhões.

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MARCELO G. RIBEIRO/JC

O futuro Teatro Elis Regina é outro espaço que aguarda por definição. Localizado no segundo andar da Usina do Gasômetro, a sala, que ocupa uma área de 745 metros quadrados, deve incrementar o número de espaços para espetáculos cênicos em Porto Alegre. O teatro recebeu as primeiras reformas no início dos anos 2000, período em que foram concluídas a primeira e segunda fase. O responsável pela Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria Municipal da Cultura, Breno Saul Ketzer, conta que cerca de 7�% dos reparos estão prontos. Resta, contudo, o fechamento da obra, que inclui, por exemplo, a finalização do acabamento, ladrilhos e a aquisição de móveis. Ketzer lembra que o projeto também sofreu modificações no sistema de ar-condicionado e elétrico no decorrer dos anos.

Espaço cultural com uma vista privilegiada, a Usina do Gasômetro demonstra, há algum tempo, que precisa de reparos. E de verba para poder executá-los. Problemas hidráulicos e elétricos são os mais urgentes.

Usina do Gasômetro espera licitação para receber reformas

O diretor do espaço, Renato Wieniewski, conta que, durante o ano de 2014, engenheiros da prefeitura - tanto da Secretaria da Cultura quanto da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov) - fizeram o projeto de requalificação do prédio. No momento, o processo está na fase de licitação da empresa que irá

executar o projeto. Entre as principais demandas do edifício - que tem 86 anos - está a reforma estrutural, lógica (de rede), hidráulica, elétrica e melhorias na acessibilidade. Apenas a partir desta avaliação será possível buscar recursos para a obra. Por enquanto, não há previsão do montante que será aplicado nem a data de início do projeto. “A prefeitura não tem recursos para executar o volume dessa obra”, informa Wieniewski. O resultado do levantamento técnico indicará os reparos prioritários, mas o diretor da Usina adianta que a equalização da rede elétrica é fundamental. “Trabalhamos com fases - três ou quatro. Às vezes temos sobrecarga em uma, enquanto a outra está bem be abaiaixo do que ela tem capacidade”, lamenta.


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cultura CINEMA E MÚSICA

Ano começa com muito rock Apesar dos escassos nomes internacionais confirmados para se apresentarem em Porto Alegre, janeiro começa com um show de peso. Os norte-americanos do Foo Fighters levarão seu rock para o estacionamento da Fiergs dia 21. No cinema, a temporada de prêmios também se inicia logo, com destaque para o Globo de Ouro carreira. Os músicos receberam o Grammy de melhor álbum de rock com There is nothing left to lose (1999) - encabeçado pelas faixas Learn to fly e Breakout. O mesmo prêmio foi alcançado com os registros One by One (2002), Echoes, silence, patience and grace (2007) e Wasting light (2011). A banda iniciou em dezembro uma turnê mundial, começando na África do Sul. No Brasil, os artistas também tocarão em São Paulo (23 de janeiro), Rio de Janeiro (25) e Belo Horizonte (28). O estacionamento da Fiergs tem capacidade para um público de 30 mil pessoas. A bilheteria oficial é a Multisom da Andradas, 1.001. Os ingressos estão entre R$ 110,00 e R$ 450,00. Até o fechamento desta edição, surgiu a notícia - não confirmada - de que os Rolling Stones se apresentariam em Porto Alegre em 10 de novembro de 2015. É aguardar para ver.

Sucessos nas telonas

Comédia Birdman é o principal destaque da temporada de premiações

Brasil na tela

protagonizar, pela quarta vez, um filme de super-herói. Por outro lado, os estúdios apostam em possíveis “arrasa-quarteirões”, como Cinquenta tons de cinza, baseado no livro homônimo, Spectre, da franquia 007, o último filme da série Jogos Vorazes e Jurassic World. A eles, juntam-se obras da Disney, que lançará o novo Star Wars, Vingadores 2, as animações Operação big hero e Divertida mente, bem como Homem-Formiga. O próximo ano deve trazer, ainda, produções de cineastas reconhecidos, como Vício inerente (de Paul Thomas Anderson), Sniper americano (de Clint Eastwood), O destino de Júpiter (dos irmãos Wachowski), Big eyes (de Tim Burton) e Adeus à linguagem (de Jean-Luc Godard).

O próximo ano promete ser movimentado também no cinema nacional. Dentre os lançamentos, está a estreia de Real beleza, de Jorge Furtado, que acompanha o envolvimento de um fotógrafo (Vladimir Brichta) com a mãe de uma possível modelo (Adriana Esteves). Outro cineasta gaúcho com novo filme é Gustavo Spolidoro, um dos diretores de Cinco vezes Chico - O velho a sua gente, sobre o Rio São Francisco. Também deve chegar aos cinemas o vencedor do último Festival de Cinema de Gramado, Estrada 47, e o documentário Cássia, sobre a cantora cario-

ca. Das produções que devem atrair grande público, estão Carrossel – O filme e as comédias Minha mãe é uma peça 2, Até que a sorte nos separe 3, Divã a 2, Vai que cola – O filme e Loucas pra casar. O País também é destaque na corrida por indicações ao Oscar. As maiores chances estão nas categorias filme estrangeiro (Hoje eu quero voltar sozinho), roteiro (com Maurício Zacharias, de O amor é estranho), documentário (com Sal da terra, codirigido por Juliano Salgado) e curta-metragem (O caminhão do meu pai, de Mauricio Osaki).

AGENDA

Para todos os gostos

FOX SEARCHLIGHT/DIVULGAÇÃO/JC

Às margens de Hollywood, nascem os filmes de maior destaque da temporada pré-Oscar. Crias do “circuito independente”, produções de médio orçamento, como Boyhood (já lançado no Brasil), O jogo da imitação e, principalmente, Birdman disputam espaço com os grandes estúdios, ainda os responsáveis por boa parte dos recordistas de bilheteria. Birdman é, justamente, uma obra que dialoga sobre esse sincretismo. Afinal, em um momento em que filmes de super-herói são responsáveis por grande parte dos últimos sucessos, Alejandro González Iñárritu (de Babel) dirige uma comédia sobre produções do gênero. O longa-metragem acompanha um ator (Michael Keaton) que entrou em decadência após recursar-se a

Foo Fighters se apresenta em janeiro no estacionamento da Fiergs

RINGO/DIVULGAÇÃO/JC

Formado em 1995 por Dave Grohl, ex-baterista do Nirvana, o Foo Fighters se apresentará pela primeira vez em Porto Alegre. O espetáculo está marcada para o estacionamento da Fiergs, no dia 21 de janeiro. O grupo trará à capital gaúcha um show de divulgação do disco Sonic highways, lançado em 2014. O álbum inclui oito músicas, cada uma gravada em uma cidade diferente dos Estados Unidos: Austin, Chicago, Los Angeles, Nashville, New Orleans, Nova Iorque, Seattle e Washington. A ideia do quinteto era se estabelecer em estúdios que foram importantes para o desenvolvimento da música norte-americana. Além do disco, o projeto também deu origem a uma série de televisão, com exibição no Brasil pelo canal Bis. Novidades à parte, o Foo Fighters também dedica parte do repertório a clássicos da

Em 2015, o Santander Cultural conta com uma variada programação em seus espaços. Nas artes visuais, destaque para a continuidade do RS Contemporâneo, com nomes como Léo Remor e Felipe Caldas, com curadoria de Bernardo Mosqueiro e Raphael Fonseca, respectivamente; Ío - pseudônipseud mo assinado por Laura Cattani e Munir Klamt - com curadoria de Julia Rebouças; Michel Zózimo, com Márcio Harún. A instituição também deve participar da 10ª Bienal do Mercosul. Paralelamente ao projeto, José Damasceno expõe com curadoria de Ligia Canongia. Na área musical, o verão do Santander Cultural terá o blues-

man americano Lil Jimmy Reed, o show Sonhos de uma noite de verão com Panta e Veco Marques do grupo Nenhum de Nós interpretando clássicos da música internacional. Os irmãos Taufic lançam o disco Todas as cores, com composições próprias e clássicos da MPB e o show do grupo Catimba Manouche. Encerrando a programação, o músico Arthur de Faria irá dirigir o espetáculo 100 anos de música no RS, reunindo as origens da música gaúcha, o rock e o regionalismo. Nas telas do cinema de verão serão exibidos Castanha, Quando eu era vivo, Olho nu e Hoje eu quero voltar sozinho.

Cursos no Instituto Ling O Instituto Ling, cujo centro cultural inaugurou há poucos meses, prepara uma programação diversificada em 2015. Na área de cursos livres, haverá opções nas áreas de humanidades (artes, literatura, história, filosofia e gastronomia). Na agenda, continua a mostra Canto verso, de Nelson Felix, e está confirmada uma exposição de Karin Lambrecht, de 24 de fevereiro a 10 de maio. No âmbito musical, estão previstos shows de Livia (voz) e Arthur Nestrovski (violino), em 29 de janeiro, e recital de Helena Jank (cravo) para 8 de fevereiro.

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Jornal do ComĂŠrcio


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