Caderno Dia do Médico JC 2014

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FamĂ­lias crescem com a ajuda da Medicina


Longevidade ..........................10 e 12 Diagnóstico................................... 14 Ciência...................................16 e 18 Cremers .......................................... 8 Sindihospa ..................................... 9 Hospital Mãe de Deus ................... 23 Complexo Hospitalar Santa Casa.................................... 25 Hospital Moinhos de Vento............ 30 Hospital São Lucas........................ 30 Simers .......................................... 35 Amrigs .......................................... 38 Fehosul......................................... 39 Hospital Mãe de Deus ............20 e 22 Complexo Hospitalar Santa Casa.............................24 e 26 Hospital Banco de Olhos ............... 27 Hospital Moinhos de Vento.....28 e 29 Hospital São Lucas.................31 e 32 Hospital Divina Providência ........... 33 Hospital de Clínicas....................... 34 Hospital de Pronto Socorro ............ 34 Grupo Hospitalar Conceição........... 36 Hospital Ernesto Dornelles............. 36 Hospital Ana Nery.......................... 37 Hospital de Caridade de Ijuí........... 37 Hospital São Vicente de Paulo........ 37 Hospital Tacchini ........................... 38 Hospital Regina............................. 38 Hospital Bruno Born...................... 38

Editor-Chefe: Pedro Maciel (maciel@jornaldocomercio.com.br) Editora de Cadernos Especiais: Ana Fritsch (anafritsch@jornaldocomercio.com.br) Subeditoras: Cíntia Jardim (cintiajardim@jornaldocomercio.com.br) Sandra Chelmicki (sandra@jornaldocomercio.com.br) Reportagem: Flavia Mu e CS Press Projeto gráfico e diagramação: Ingrid Müller Editor de Fotografia: João Mattos Revisão: André Fuzer, Daniela Florão, Luana Lima e Thiago Nestor

Aline, 32 anos, e Ramon Lisboa, 33, decidiram que queriam ser pais em 2009. “Desde o princípio pensamos, também, em adotar. Então, além da tentativa de ter filhos biológicos, nos habilitamos para adoção”, conta Lisboa. O tempo foi passando, e Aline não conseguia engravidar. O casal tampouco era chamado no fórum. “Foi aí que descobrimos, através de vários exames, que Aline tinha uma séria obstrução nas trompas, devido uma apendicite, que supurou, danificando os canais das trompas”, diz o marido. Aline passou por uma pequena cirurgia para fazer a desobstrução das trompas, o casal seguiu com as tentativas, sem sucesso, e continuava sem respostas do fórum. Em 2012, buscaram uma clínica especializada em reprodução humana e, após alguns procedimentos, tentaram a fertilização. “Para nossa surpresa, uma semana após a transferência, o resultado veio positivo. A alegria foi indescritível. Duas semanas, depois fizemos a primeira ultrassonografia, e nossa surpresa foi ainda maior, pois a gravidez era gemelar”, comemora Aline. “Felicidade tem nome: Clara e Celina”, resume Lisboa. A infertilidade é um problema vivido por 8% a 15% dos casais, segundo

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Gerações.................................... 6 e 7

Sonho realizado

Lisboa e Aline com as gêmeas Clara e Celina, que nasceram com a ajuda da fertilização

a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que mais de 278 mil casais tenham dificuldade para gerar um filho em algum momento de sua idade fértil. Por isso, vem aumentando a procura por clínicas especializadas em reprodução assistida - um conjunto de técnicas que visa a substituir uma etapa deficiente do processo reprodutivo. Dados do 7º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mostram que,

em 2013, foram realizadas mais de 52 mil transferências de embriões em pacientes submetidas a técnicas de fertilização in vitro no País. O documento atesta ainda que, no ano passado, foram congelados mais de 38 mil embriões nas clínicas de reprodução assistida. As duas principais técnicas utilizadas são a inseminação artificial, ou inseminação intrauterina (IIU), de baixa complexidade, e a fertilização in vitro (FIV), popularmente conhecida como bebê de proveta, de alta complexidade.

Tratamentos oferecidos a custo menor Os tratamentos, devido seu custo elevado, ainda são restritos a poucas pessoas. De acordo com Nilo Frantz, fundador do Instituto de Fertilidade (IFE), uma fertilização custa, em média, R$ 20 mil. Foi com o objetivo de ampliar e facilitar o acesso aos tratamentos que Frantz fundou o IFE. “A realidade das pessoas geralmente não é poder gastar tudo isso, ainda mais que o procedimento nem sempre tem sucesso, e podem acontecer várias tentativas”, explica. Assim, ele criou, juntamente com a empresa Merck Serono, um sistema de cadastro para pessoas com renda mais baixa. É feita uma avaliação do patrimônio e dos ganhos reais do candidato e, se aprovado o cadastro, ele pode adquirir as medicações e ter acesso aos serviços a um custo menor — com uma média de R$ 10 mil é possível fazer um ciclo de fertilização. Podem se candidatar todos os casais que estiverem com dificuldades para engravidar. O IFE oferece toda a gama de tratamentos disponível em clínicas, como inseminação artificial, fertilização in vitro, exames masculinos, exames hormonais, coito programado, maturação de óvulos em laboratório, congelamento de óvulos, controle da ovulação e congelamento de sêmen.

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Reprodução Assistida ................. 2 e 3

Passos ressalta o pioneirismo do Hospital de Clínicas no País na área

Na Capital, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) possui um Programa de Reprodução Assistida, próprio do hospital, que existe desde 1991. “Foi um dos primeiros hospitais universitários do País a oferecer esse serviço aos pacientes”, comenta Eduardo Passos, coordenador do programa. Hoje, apenas cinco hospitais realizam a fertilização na rede pública no Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS)

não cobre os procedimentos. O HCPA criou seu centro de fertilização com verbas do próprio hospital e de pesquisas recebidas de agências de fomento, como Capes e CNPQ. “O centro é importante não só para os pacientes como para a educação dos alunos. Não à toa, o Prêmio Nobel de Medicina de 2010 foi para Robert Edwards, criador de método de fertilização in vitro”, complementa Passos. Por não haver uma normatização do SUS, já que o serviço não é oferecido pelo sistema, o hospital tem seu próprio protocolo. Para participar, as mulheres interessadas devem ter até 35 anos de idade na primeira consulta. Outros pré-requisitos exigem que o casal forneça o óvulo da paciente e o sêmen de seu companheiro — o hospital não tem banco de gametas, só faz fertilização homóloga. É importante saber que as medicações não são fornecidas nem vendidas pela instituição e, como não são fornecidas pelo SUS, não estão disponíveis nos postos de saúde. O tipo de procedimento a que o casal deverá se submeter é definido após a avaliação médica inicial, o que pode demorar alguns dias. O programa realiza as técnicas de inseminação artificial, fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática de espermatozoide.


Débora Oliveira Marafiga tem 36 anos e começou a sonhar com o primeiro filho aos 31. Ela tentou o método natural, engravidou aos 33 anos, mas teve um aborto espontâneo com dois meses de gestação. “Comecei a ir em alguns obstetras que me pediram vários exames. Chegou um ponto em que me diziam que já não tinha mais o que fazer. Nessa época, estava com 34 anos e há dois anos tentando engravidar sem sucesso”, conta. As coisas começaram a mudar quando, através de uma amiga, Débora conheceu o Instituto de Fertilidade. “Eu e meu esposo fizemos exames e foi aí que descobri que uma das minhas trompas estava obstruída”, lembra. Depois de fazer o procedimento para desobstruir a trompa, ela tentou mais três meses pela técnica de coito programado, método de fertilização que utiliza medicamentos para estimular a produção de óvulos na mulher. Sem sucesso nas tentativas, Débora, aos 35 anos, já estava angustiada. Então, ela decidiu fazer inseminação artificial. “Fiz a primeira em março de 2011 e não deu certo. Mas em setembro fiz uma nova tentativa. Quinze dias depois, no dia 19 de setembro de 2011 − nunca vou me esquecer −, peguei o resultado. Estava grávida”, comemora. A pequena Maitê Marafiga Bender tem hoje dois anos e quatro meses e é o orgulho da mãe. “Não tem como explicar a sensação. Eu queria tanto um filho que os nove meses de gestação foram os mais lindos. Eu me sentia linda, feliz. Precisei fazer cesariana e não lembro de sentir dor, nem angústia, só felicidade”, conta. Os planos da mamãe não param por aí. “Vou fazer 37 anos em outubro deste ano e quero mais um filho. Farei inseminação novamente e, se não funcionar, tentarei a fertilização”, diz. Na inseminação artificial ou inseminação intrauterina (IIU), o espermatozoide é coletado, tratado em laboratório e colocado dentro do útero da mulher, onde se encontra com o óvulo, formando o embrião. “É preciso preparar o espermatozoide, pois, quando ele é ejaculado, no fundo da vagina, não está pronto para fertilizar. Passam pela secreção, que é própria da ovulação, apenas os espermatozoides normais. Dentro do colo uterino, eles ganham energia e daí vão adiante para encontrar o óvulo na trompa. Esse processo,

de separar os normais e energizá-los, se faz em laboratório”, explica Álvaro Petracco, diretor do centro de medicina reprodutiva Fertilitat. Com relação às chances de gravidez, Petracco afirma que o índice é o de uma relação sexual. “O casal, identificando bem a janela de concepção e tendo relação nesse período, tem uma chance de 20%”. Ele comenta que é uma chance muito baixa, se comparada à de qualquer outra espécie. “A complexidade do processo reprodutivo na espécie humana é muito grande”, explica. João Sabino da Cunha Filho, diretor do centro de reprodução humana Insemine, lembra que a IIU é uma técnica muito antiga, descrita na literatura há mais de 100 anos, em uso animal. Ele afirma que a IIU é indicada para o casal que está tentando engravidar há mais de dois anos, que já fez investigações e não encontra uma causa definida para o problema. A técnica também é procurada quando o homem tem uma contagem de espermatozoides abaixo do normal. Um pré-requisito é que a mulher tenha as duas trompas normais. A outra técnica, a fertilização in vitro (FIV), consiste em coletar o óvulo e o espermatozoide e realizar a fertilização em laboratório. “Para isso, é estimulada a ovulação. Há uma série de mecanismos para amadurecer vários óvulos ao mesmo tempo. Acompanha-se o crescimento por ecografia e por exames hormonais, muitas vezes”, explica Petracco. Quando os óvulos estão prontos, eles são retirados. Enquanto isso, o espermatozoide colhido já recebeu em laboratório tudo o que ele receberia naturalmente no colo do útero. Então, se dá a fertilização, e os embriões são transferidos. A FIV é utilizada em todos os outros casos de infertilidade que não têm solução pela inseminação ou de forma espontânea. A indicação primária é para quem não tem as trompas ou tem um comprometimento das mesmas. Outras indicações são quando há o fator masculino (uma contagem de espermatozoides baixa, que não serve para inseminação) e casos de endometriose mais severa. Sobre as chances de gravidez na FIV, de acordo com Petracco, uma paciente jovem tem uma chance de gravidez de mais ou menos 50% por tentativa, por transferência de embriões. Esse número cai em pacientes mais velhas.

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Técnicas auxiliam casais a engravidar

Cunha Filho diz que a inseminação é indicada para quem tenta uma gestação há mais de dois anos


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Porto Alegre, 17 de outubro de 2014

Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio


Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio

Porto Alegre, 17 de outubro de 2014

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Uma família com 24 médicos em 15 especialidades diferentes. Esta é a conta que resume a história da família à qual pertence Manuel Ruttkay Pereira, médico pediatra neonatologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). “Tudo começou com a vinda de um português ao Brasil, que veio ao País tentar a vida e foi bem sucedido no seu armazém. Com o negócio ele conseguiu pagar para os dois filhos o curso superior. Um dos filhos se chamava Manuel Pereira Filho (meu tio avô), que

hoje dá nome ao pavilhão da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. O outro se chamava Oscar Pereira (meu avô), que hoje dá nome à avenida da Capital”, conta ele. Ambos foram professores de microbiolgia e cuidavam de tuberculosos. “Eles construíram o Sanatório Belém, que hoje é o Hospital Belém.” Essa é a primeira geração de médicos da família. “Aí o meu pai, médico, casa com uma filha de um médico — Ladislau Ruttkay, que veio formado de Budapeste. Então, vem médico atrás de médico”, brinca. Casado com a médica Beatriz Rotta Pereira, Ruttkay Pereira tem ainda primas

que seguiram na profissão, além de todos os médicos da família Pereira. “Isso é uma história bonita. Sempre tem uma ou duas pessoas, de diferentes gerações, que decidem seguir o exemplo dos pais”. A filha, Denise Rotta Ruttkay Pereira, é médica otorrinolaringologista, como a mãe. “Eu e meu irmão, Jorge Ruttkay Pereira, que também é médico, sempre perguntamos aos nossos filhos: ‘vocês querem fazer medicina porque só ouviram medicina no café da manhã, almoço e janta ou porque é uma vocação?’”. Ruttkay Pereira e a esposa também compartilharam da preocupação. “Quando minha

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A medicina está no DNA

Jorge Ruttkay Pereira (E), Denise Rotta Ruttkay Pereira, Beatriz Rotta Pereira e Manuel Ruttkay Pereira são alguns médicos da família

filha disse que era o que queria a gente se convenceu de que tem algo entranhado em algum gene que a gente não identificou ainda”, relata com humor. Outro motivo de orgulho é a contribuição da

Juntos no trabalho há mais de 20 anos

sujeito muito bem sucedido no trabalho, acabamos tendo a impressão de que é uma boa área para se trabalhar”, explica o filho. Além disso, Érico foi professor da faculdade de medicina da Pucrs durante 43 anos e foi chefe do departamento de cirurgia da

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O médico proctologista Érico Fillmann com os filhos Henrique e Lúcio Sarubbi Fillmann

Conhecimento de pai para filhos

faculdade. Em 2000, Lúcio entrou para o corpo da faculdade e hoje é chefe do departamento de cirurgia. Henrique entrou no corpo docente também substituindo o pai. Além disso, Érico foi presidente da SBCP em 1988 e Henrique assumirá a presidência em 2018.

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Érico Fillmann é o primeiro médico da família. Médico proctologista, com 53 anos de formado, diz com orgulho que nunca fez nada diferente do que faz hoje. Há mais de 20 anos, ele trabalha com os dois filhos, Henrique Sarubbi Fillmann e Lúcio Sarubbi Fillmann, que seguiram a mesma especialidade. “Eu lembro de ter conversado com eles quando eram adolescentes e que cada um iria fazer da própria vida o que bem entendesse, mas tinham que fazer alguma coisa”, conta. “A gente conviveu muito com o fato de o pai ser médico. Ele se destacou na profissão desde muito cedo e foi presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP)”, comenta Lúcio. Ele lembra, também, de quantas vezes eles voltaram de um fim de semana na praia porque o pai era chamado para trabalhar. “Esse envolvimento da família foi sempre muito grande com a profissão e como ele foi um

família para a faculdade de medicina da Ufrgs, a terceira faculdade mais antiga do Brasil. “Contando comigo, da primeira à terceira gerações, seis membros da família foram professores”, diz.

Armando Abreu, chefe do Serviço de Radiologia do Hospital Mãe de Deus, acredita que é obrigação de qualquer pessoa transmitir conhecimento para os seus descendentes. “O conhecimento é uma propriedade da humanidade”, enfatiza. Segundo Abreu, sua maior contribuição é dar continuidade ao conhecimento ensinando seus dois filhos, Marcelo e Henrique Rodrigues de

Abreu. Ambos escolheram seguir a carreira de Medicina com a mesma especialidade do pai. Ele reconhece a influência e analisa. “São meus dois filhos homens e sempre vinham comigo ao hospital. Além disso, as tecnologias de medicina por imagem — minha área — se desenvolveram muito, o que também acabou sendo um estímulo para seguirem essa especialização.”

Armando Abreu (na frente) seguido dos filhos Marcelo (E) e Henrique Rodrigues de Abreu (D)


Paulo Marostica, médico pediatra, hoje trabalhando com pneumologia infantil, foi o primeiro médico da família, mas a vontade de seguir a medicina já existia por conta de seu pai. “Ele queria ter sido médico, mas era filho de agricultores, teve dificuldades. Conseguiu entrar na faculdade só depois dos 30 anos e achou, naquela ocasião, que o curso de medicina seria muito longo. Acabou fazendo odontologia. Não sei se foi por influência desse desejo dele, mas eu lembro que queria ser médico desde que tinha três anos”, conta Marostica. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), decidiu ser pediatra perto do final do curso. “As crianças são genuínas, dizem o que pensam e te dão um retorno muito grande, tanto afetivo quanto de resposta a tratamento. Hoje não trabalho mais com pediatria geral, mas faço pneumologia pediátrica, e

atendo só crianças com doenças respiratórias”, explica. A tolerância de Marostica com as famílias em geral foi outro motivo que o levou a seguir a especialidade. Segundo ele, o trabalho não é só com a criança, mas com a família toda. “E essa inserção em uma família é algo que alguns médicos têm dificuldade de lidar — as mães ansiosas, os pais e avós preocupados, os palpites no tratamento. E eu sempre enfrentei isso com naturalidade”, diz. A facilidade do pediatra em lidar com pessoas, somado ao fato de sua mulher ser assistente social, pode ter criado o ambiente que levou a filha, Laura Marostica, a seguir a psiquiatria. A médica, que cursa a especialização, demorou bastante para tomar a decisão. “Lembro que as pessoas me perguntavam, quando eu era pequena, se eu seria médica igual ao pai, porque eu me identificava muito com

ele. Sempre o admirei muito e sempre fomos muito próximos, mas eu dizia ‘não, bem capaz’”, conta ela. Laura fez a escolha profissional ao final do Ensino Médio e, a partir de então, nunca mais mudou de ideia. “Acho que eu já gostava deste lado mais humano da medicina. Pensei em fazer outras coisas durante o curso, mas a psiquiatria me puxava”, enfatiza. Em casa, Laura sempre observou o trabalho do pai e da mãe. Ela sentia a vontade de ajudar pessoas, de aliviar o sofrimento, muito mais do que a questão biológica da medicina, propriamente dita. Segundo Marostica, ele e a filha têm em comum a gratificação pela profissão como algo que os motiva a trabalhar. “Acho que ela pode perceber essa motivação em mim. E ela também tem isso de uma forma bem espontânea. Ninguém tira da gente o prazer de ajudar as pessoas.”

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Facilidade em lidar com pessoas

Marostica e a filha Laura se sentem gratificados com a profissão


Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers)

O médico e sua luta por dias melhores na saúde Se metade das promessas feitas em campanhas eleitorais fosse cumprida, a saúde pública no Brasil seria mesmo de excelência, para usar o termo ufanista e irresponsável empregado pelo ex-presidente Lula em 2006. Na eleição que teve seu primeiro turno encerrado há poucos dias, mais uma vez a saúde esteve no foco central da maioria dos candidatos. O fato é que a saúde da campanha eleitoral é muito diferente daquela que o cidadão comum – não aquele que pode recorrer a hospitais particulares de ponta – encontra quando necessita atendimento em situação de emergência, tenha plano de saúde ou seja dependente do SUS. A razão para o caos na saúde brasileira está na política do Governo Federal de subfinanciamento da saúde e do nivelamento por baixo, que busca garantir o mínimo, mas sem resolutividade, o que resulta em emergências

superlotadas. O atual governo comemora o atendimento básico dos 11 mil cubanos que prestam assistência a um custo que já supera os R$ 2 bilhões, mas que está longe de diminuir as filas angustiantes e vergonhosas por atendimento com médicos especialistas e realização de exames. Estamos diante de uma política equivocada, que não atende ao clamor da sociedade. Como pode estar no caminho certo uma política que só tem menosprezado o médico, figura central de qualquer programa sério e realmente bem-intencionado de saúde e que não é devidamente valorizado pelos gestores de todas as instâncias? Quando a população foi às ruas no ano passado, exigindo hospitais padrão Fifa e o fim da corrupção, o que fez o governo para sufocar o grito dos desesperados? A presidente Dilma anunciou a vinda de médicos cuba-

nos, como se todos os problemas do País fossem reduzidos à carência de médicos, quando se sabe que existem hoje no Brasil perto de 400 mil médicos – todos com inscrição regular nos Conselhos de Medicina, diferentemente dos profissionais importados. Vieram os cubanos, que, atropelando a legislação, passaram a trabalhar sem revalidação de diploma. O Ministério da Saúde tomou para si a análise da documentação desses profissionais, atribuição que sempre foi dos Conselhos de Medicina. E não se diga que os Conselhos não resistiram. O Cremers foi o primeiro a recorrer ao Judiciário na defesa do interesse maior da sociedade e do trabalho médico. Hoje, ninguém sabe qual a real capacitação dos tais “médicos cubanos”, nem há certeza de que todos são mesmo diplomados em Medicina. Está em curso uma sórdida

e injusta tentativa de oprimir médicos e a própria Medicina. A Lei do programa Mais Médicos não se restringe à importação de intercambistas e à ajuda financeira ao governo cubano. Ela prevê alterações no currículo dos cursos de Medicina, atingindo também a residência médica, que em nada contribuem para qualificar o ensino. Não fosse a firme atuação dos Conselhos de Medicina e demais entidades médicas, a Lei 12.871 traria ainda mais prejuízos ao exercício da Medicina. Ignorando o fato de que o Brasil tem faculdades de Medicina em número mais do que suficiente – são 242 –, o governo estimula a criação de outros cursos, a maioria deles sem hospital-escola, quando o mais sensato seria qualificar os existentes e, dependendo do caso, aumentar o número de vagas. O mesmo governo que alterou a Lei do Ato Médico,

aprovada democraticamente no Senado depois de longa e árdua tramitação, segue com picuinhas que nada acrescentam em termos de saúde. É o caso dessa insistência absurda de querer mudar a denominação consagrada de Médico para bacharel em Medicina no diploma. Não podemos ficar calados enquanto somos atacados. Temos de reagir. O que é inaceitável é permanecermos omissos diante de ações que não atacam somente o médico brasileiro, mas toda uma sociedade que sempre soube valorizar a nobre atividade daqueles a quem todos recorrem – inclusive seus maiores detratores – e que têm como objetivo de vida curar, salvar e amenizar sofrimento. Neste 18 de outubro, nossos parabéns aos médicos, que, mesmo com dificuldades, trabalham arduamente por dias melhores na saúde.


Vice-presidente do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa)

A saúde de qualidade é um direito de todos A qualidade e competência da equipe médica e assistencial é o maior diferencial de um hospital. Um hospital, para ter o reconhecimento da sociedade, precisa ter um corpo clínico com boa formação e estar em processo constante de atualização. O corpo clínico tem o desafio de se manter atualizado com as publicações nacionais e internacionais que referenciam a medicina de alto nível. O desafio da medicina está na manutenção de um alto padrão de qualidade em um contexto de mercado no qual os atuais modelos de remuneração não contribuem para que isto ocorra. Da mesma forma, os investimentos em qualidade em nossos hospitais não são reconhecidos de forma adequada. É comum que hospitais que investem em processos de qualidade e acreditação, nacional ou internacional, possuam

os mesmos padrões de remuneração de instituições que não realizam estes investimentos. No Brasil e no mundo, temos exemplos de hospitais que são apoiados por suas comunidades e conseguem se transformar em centros de excelência nacionais e internacionais em saúde. No Brasil, convencionou-se que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, sem que tenhamos as fontes orçamentárias para a manutenção de uma saúde de qualidade. Como consequência, temos hospitais e médicos que atendem o Sistema Único de Saúde com padrões inadequados de remuneração. Na saúde suplementar, também se convencionou que o pagamento de um valor mensal do plano de saúde assegura o acesso à saúde de qualidade. Temos na área de saúde suplementar atendimentos em uma emergência hospitalar por valores

inferiores a R$ 60,00, e consultas médicas com valores abaixo de R$ 70,00. A questão é que, cada vez mais, a sociedade tem a expectativa de um atendimento de maior qualidade, enquanto os sistemas de remuneração, tanto público como privado, não asseguram os necessários investimentos em qualidade, formação e pesquisa. Neste contexto, cada comunidade terá influência direta na qualidade da saúde de sua região. Na área pública, a participação da sociedade influenciará na prioridade da destinação de investimentos para a saúde, assegurando os recursos necessários para que hospitais e médicos possam realizar um trabalho de qualidade. Esta participação ocorre em cada cidade onde sociedade e poder público se associam para transformar a saúde em uma prioridade. Na área de saúde suplementar, em-

presas e beneficiários precisam observar quando da contratação de um plano de saúde se este remunera de forma adequada a qualidade dos hospitais e dos médicos. Os desafios da saúde são muitos, precisamos de mais investimentos públicos e privados e qualificação dos processos de gestão. Os investimentos em novas tecnologias e na ampliação das estruturas hospitalares são hoje uma necessidade da sociedade. Ter na sua cidade ou região o acesso a médicos qualificados e hospitais de excelência é mais do que um direito de uma comunidade, é uma conquista política e social. Somente comunidades que priorizam e se articulam em busca da qualidade terão nos próximos anos instituições hospitalares e médicos de alta performance. A qualidade na saúde é, por si só, um desafio. Porém, o que

a sociedade precisa, e merece, é ter em sua região instituições de saúde, hospitais e postos de saúde com estrutura qualificada e médicos valorizados, reconhecidos e em constante aperfeiçoamento. A participação da classe empresarial também é decisiva para que este objetivo seja atendido, atuando na vida das organizações de saúde e no desafio da busca de um padrão de qualidade. A pauta da sociedade não pode mais ser a busca de condições mínimas para um atendimento adequado nos serviços de saúde, mas, sim, de ter próximo de suas comunidades hospitais e médicos de excelente qualidade que permitam atendimento e tratamento nos melhores padrões nacionais e internacionais de saúde. É por isso que a Saúde de qualidade é um direito de todos e uma conquista da sociedade.


Envelhecer bem pode ter inúmeros significados, como caminhar sem auxílio, não ter doenças que comprometam o físico ou o psíquico, encarar com bom humor as transformações do corpo e do rosto, mas, principalmente, manter a autonomia para atividades rotineiras, que fazem com que qualquer pessoa sinta-se útil e viva. Deny Palma Revillion até hoje não sentiu o peso da idade. “Tenho 86 anos, mas me sinto a mesma dos 24. A gente amadurece, o corpo muda, mas o mais interessante é ver o mundo em transformação e mudar com ele”. A idosa, que mora sozinha – só tem faxineira uma vez por semana –, não para quieta um minuto sequer. Mas nem sempre foi assim: nascida em Porto Alegre e criada em Alegrete, Interior do Rio Grande do Sul, a tradição e os bons costumes sempre fizeram parte da vida de Deny. “Quando eu era jovem, não era bem-visto as meninas saírem sozinhas para fazer qualquer coisa que fosse”, exemplifica. Depois do casamento e cinco filhos (quatro com o ex-marido e

uma adotiva), a separação. “Na época, eu tinha 59 anos. Superei e experimentei uma sensação incrível de liberdade. Eu podia fazer o que quisesse sem dar satisfações”, garante. E é assim até hoje. Deny tem aulas de dança e piano, recebe as amigas em casa, cuida de todas as atividades domésticas, faz pão caseiro e curte os netos. Vaidosa, está sempre com o cabelo, as unhas e a suave maquiagem impecáveis. Quando pode, vai ao cinema e ao teatro. Pelo menos uma vez ao ano, viaja sozinha aos Estados Unidos para visitar uma das filhas que mora lá. “E já fiz aula de canto, escultura, pintei quadros, estudei inglês, latim e francês. Adoro conhecer gente nova, fazer amizades, conversar”, afirma, animada. Deny retrata a realidade de um País que tem sua pirâmide etária em transformação. As estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil tem 20,6 milhões de idosos, o que representa 10,8% da população total. E a expectativa é que, em

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Envelhecimento com saúde e bem-estar

Com 86 anos, Deny pratica aula de dança e piano

2060, o País tenha 58,4 milhões de pessoas idosas, o que será 26,7% de todos os habitantes do Brasil. De acordo com o Global

AgeWatch Index 2013, da organização não-governamental Help Age International, que luta pelos direitos dos idosos, o Brasil

ocupa a 31ª posição no ranking dos países que oferecem melhor qualidade de vida e bem-estar a pessoas com mais de 60 anos.

Aumento na expectativa de vida gera mudanças comportamentais expectativa de vida acompanha as mudanças comportamentais e os avanços tecnológicos. “Atualmente, temos mais chances de tratamento de

doenças crônicas, que ocorrem mais frequentemente em idade avançada, e existem melhores condições nutricionais desde as fases mais precoces da vida,

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Sonia Brucki, neurologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, acredita que o jeito de viver é diferente e o aumento da

Os idosos têm melhorado suas atividades, partindo para um estilo mais ativo

o que auxilia num desenvolvimento melhor”, explica. Segundo ela, os idosos têm melhorado suas atividades, deixando o estigma de perder a vida social e partindo para um estilo mais ativo. “Claro que essa situação não é generalizada, mas sabemos que quem privilegia a boa alimentação, o exercício físico, o controle dos fatores de risco vasculares, a manutenção de atividades sociais e cognitivas tem um envelhecimento mais saudável”, garante. O estresse, as preocupações em excesso, a pressa e a ansiedade parecem não ser sintomas exclusivamente urbanos; estão em todo o lugar e podem influenciar num envelhecimento melhor ou na conservação de uma mente mais saudável. “Existe uma tendência a achar que em grandes centros as pessoas estão pré-dispostas a mais preocupações. Porém, num estudo desenvolvido por mim e minha equipe, ao avaliarmos populações ribeirinhas no interior do Amazonas, 70% das

pessoas com idade de 50 anos ou mais tinham queixas de problemas de memória”, comenta. O estudo aponta relatos associados a maiores taxas de ansiedade, sintomas depressivos e preocupações. “Quer dizer que em cada meio, há problemas relacionados à vida naquele local, com as dificuldades inerentes a ele”, diz Sônia. Durante o processo de envelhecimento, segundo a pesquisadora, podem ocorrer alterações vasculares cerebrais, diminuição do número de sinapses e da formação de novas sinapses. “Ao compararmos testes cognitivos entre jovens e idosos, temos uma diminuição em testes de funções executivas, como rapidez de tomada de decisão e de flexibilidade mental, e em tarefas de memória, já que os idosos podem precisar de mais repetições para fixar novas informações. Enquanto isso, algumas funções são perfeitamente preservadas, como conhecimentos do mundo”, explica a neurologista.


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Porto Alegre, 17 de outubro de 2014

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O tempo transforma o corpo, mas também o cérebro. No entanto, aquela máxima que diz “isso é coisa da idade” não é comprovada pela ciência. De acordo com a neurologista Cláudia da Cunha Godinho, problema de memória não faz parte do envelhecimento e, quando aparece, deve ser investigado. “O raciocínio dos idosos pode ser um pouquinho mais lento, mas nada que tenha repercussão no desempenho da pessoa”, garante. Há diversos fatores que podem desencadear em perda de memória, como depressão, ansiedade, falta de vitaminas, problemas hormonais e também a Doença de Alzheimer. A população vive mais e, consequentemente, as doenças que aparecem com a idade tornam-se mais frequentes, especialmente as demências, sendo que em 60% dos casos é diagnosticada Doença de Alzheimer, uma doença neuro-degenerativa que provoca limitações das funções intelectuais, reduz as capacidades e as relações sociais e interfere no comportamento e na personalidade. O que acontece é que a Doença de Alzheimer promove uma perda de neurônios de forma mais acentuada e localizada em

regiões relacionadas aos principais sintomas da doença. Segundo a especialista, entre os idosos com mais de 65 anos, um em cada nove é vítima do Alzheimer. Acima dos 85 anos, a incidência é ainda maior. Um em cada quatro apresentam os sintomas da doença. “Sempre ouvimos dizer que o Brasil é um país jovem. No entanto, isso já não é mais verdade. Cada vez teremos mais pessoas idosas, o que implica em mudanças para atender à população. Precisamos dar condições para que o idoso esteja incluído na sociedade, sinta-se útil e tenha independência. É necessária uma preparação para esse ‘viver mais’”, explica. A manutenção da autonomia pode ser um dos segredos para um envelhecimento saudável. “O avanço da idade está ligado ao abandono das atividades de rotina, lazer e sociais. E isso é péssimo para o cérebro. O melhor para evitar doenças é manter-se ativo”, comenta. Os novos aprendizados, as atividades físicas e a socialização preservam a cognição e promovem um envelhecimento bem-sucedido. “Aquele aposentado que fica mais restrito ao ambiente de casa não

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Estímulos que protegem de doenças

Cláudia afirma que problema de memória não faz parte do envelhecimento

provoca estímulos para o cérebro, mesmo que diga que sempre está fazendo algo. Os afazeres do lar são limitados e repetitivos”, afirma. A escolaridade é um fator de proteção, já que diminui os riscos de demência, mas é essencial buscar constantemente atividades intelectuais. Isso dá reserva

cognitiva, que é a capacidade do cérebro de armazenar habilidades adquiridas e resistir por mais tempo a um possível quadro demencial. “Toda a atividade é importante. Alguns estudos mostram que ler, dançar, tocar instrumentos e praticar jogos de tabuleiro parecem ter efeitos positivos ao afastar doenças que

aparecem com a idade. O importante é que o paciente descubra do que gosta e faça com prazer e motivação”, comenta. Além disso, é importante incentivar a busca por diagnósticos precoces. De acordo com a médica, o Alzheimer manifesta-se quase 10 anos antes do aparecimento dos sintomas mais comuns.

família a ter um computador, já fez curso de informática, pesquisa na internet sempre que precisa, acompanha as notícias pelas redes sociais e compila as lembranças de viagens em apresentações com foto e música. “Estou sempre

com o computador ligado. Minha neta, Gabriela, costuma dizer que sou uma ‘envelhecente’, que seria uma ‘adolescente’ ao contrário”, diverte-se. Para Rosa, a casa é seu parque de diversões. Faz pinturas, muda os móveis de lugar, busca novas soluções em iluminação. “Sou curiosa e inquieta. No momento, tenho me dedicado à decoração. Mas sou impaciente. Logo, já quero outra coisa. Um assunto só me cansa!”, revela. A toda semana, uma nova leitura. É um hábito que faz parte da rotina. “É algo que faço com tanta frequência que parece automático. Não faço esforço”, revela. A saúde é acompanhada de perto por especialistas e os exames periódicos estão sempre em dia. Mas a idade é encarada sem paranoias. Rosa come o que gosta e faz exercício quando tem vontade. Atualmente, tem sessões de fisioterapia duas vezes por semana e, em breve, começará a caminhar na esteira com acompanhamento de preparador

físico para evitar qualquer lesão. “Recentemente, descobri a intolerância à lactose. No início, fiquei abalada e tive que fazer uma mudança drástica na alimentação. Mas, agora, aproveito para ler todos os rótulos da geladeira, mesmo que precise de lupa, já que isso ajuda a mexer com os neurônios”, afirma. Manter a cabeça ativa é uma de suas atuais preocupações. Na busca por um envelhecimento mais saudável, Rosa, que é psicóloga de formação, decidiu fazer o exame de diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer, mesmo sem qualquer sintoma, e trabalhar num programa de memória. “Há comprovações científica de que só usamos 10% dos nossos neurônios. No entanto, hoje, temos acesso a mais informações e uma expectativa de vida maior. Será que esses mesmos 10% são suficientes? Estou ansiosa para começar a exercitar os neurônios, em sessões de terapia, e descobrir o potencial destes 90% que não usamos”, afirma.

Mente inquieta rotina e mantém a vivacidade das ideias. Afinal, para encarar bem a idade, manter a cabeça ativa é tão fundamental quanto exercitar os músculos. Sempre conectada, Rosa adora novidades. A primeira da

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Quando fez 77 anos, em novembro do ano passado, Rosa Maria Fiori Hagemann decidiu: não queria festa, seu presente seria o sonho antigo de pintar uma parede da casa de vermelho. A criatividade faz parte de sua

Rosa, com a neta Gabriela, está sempre conectada e adora novidades


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Muitas doenças, como o câncer, o autismo e a artrite reumatoide, quando descobertas precocemente, têm mais chance de serem curadas ou manejadas com sucesso. Exames de prevenção − antes mesmo da detecção, exames capazes de detectar doenças em fetos a partir de 10 semanas de gestação e testes genéticos para identificação de suscetibilidade hereditária a doenças como o câncer estão entre os recursos disponíveis para antecipar ao máximo o diagnóstico de uma doença grave. Os resultados podem significar a chance de recuperação plena, possibilidade de realizar procedimentos preventivos e, ainda, indicar o melhor tratamento a ser realizado. Um dos testes genéticos mais comentados recentemente − famoso em função da atriz Angelina Jolie, que optou por fazer uma mastectomia profilática − é o que detecta a suscetibilidade genética hereditária aos cânceres de mama e de ovário. Segundo a hematologista Kátia Zanotelli Fassina, do Weinmann Laboratório, que oferece o exame na Capital, o teste permite saber se a paciente tem uma mutação nos genes BRCA 1 ou BRCA2. “Detectando essa mutação, sabe-se que essa mulher tem uma chance aumentada de ter câncer de mama”, afirma Kátia. O exame é feito a partir de uma

simples coleta de sangue, sem preparo ou jejum, e pode ser realizado em qualquer fase da vida. A amostra é enviada para o laboratório Myriad, nos Estados Unidos, e o resultado é entregue em 30 dias. “O grande avanço que temos hoje é poder identificar o risco de doenças futuras. O conhecimento do genoma criou essas facilidades”, reforça Ricardo Xavier, consultor clínico do Laboratório Endocrimeta. Ricardo Kroef, diretor-médico do Hospital Santa Rita, unidade de oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, lembra, no entanto, que antes da detecção existe a prevenção. “Hoje, acredita-se que a vida saudável é uma prevenção muito importante. Isso envolve combate à obesidade, ao sedentarismo e ao tabagismo. Esse é o primeiro passo.” Segundo Kroef, indivíduos que estão em situação de risco precisam de exames periódicos. Fumantes, por exemplo, precisam fazer laringoscopia e um raio-x de tórax anual. Para as mulheres, mamografia e o exame de colo de útero. E homens acima de 50 anos precisam fazer o exame urológico, com o toque retal, e o de dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA). “Passado isso, partimos para o que se chama de diagnóstico precoce. Se o paciente já tem as alterações, não é mais questão de prevenção, e há

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Exames ajudam na prevenção de doenças

Kátia destaca teste que detecta suscetibilidade genética hereditária aos cânceres de mama e de ovário

uma série de exames que se pode usar”, complementa o médico. Deve fazer exames adicionais quem tem sintomas como feridas que não cicatrizam, perda de peso inexplicável, pacientes que tenham febres diurnas, manchas escuras na pele que aumentam e sangram, ou lesões-satélites em volta dessas manchas. Pacientes que notam que estão com ínguas ou linfonodos aumentados também devem fazer os exames. São exames de imagem e endosco-

pia e, se necessário, faz-se uma biópsia de lesões suspeitas. “Em casos de câncer nos estágios 1 e 2, curamos em torno de 70 a 80%. Em estágios 3 ou 4, esse percentual cai para 30%”, diz Kroef. Há, ainda, os exames que são capazes de detectar no feto, a partir da décima semana de gravidez, em gestações simples e gemelares, a síndrome de Down e outras menos conhecidas, como Edwards, Patau, Turner, Klinefelter e Triplo X. Para realizar o

teste, colhe-se uma amostra do sangue da mãe. O sangue passa por um procedimento laboratorial para identificar o número de cromossomos nas células do feto. A grande vantagem da detecção precoce dessas síndromes pelo exame de sangue da mãe é evitar a punção na placenta, que oferece 1% de risco de aborto. “Exames como este servem para auxiliar no planejamento familiar e no planejamento do parto”, explica Kátia.

A enfermeira Monique Eva Vargas Cardoso, 29 anos, descobriu que estava com câncer de mama em setembro de 2011. Ao fazer o autoexame, notou um caroço no seio e procurou um médico ginecologista. Após alguns exames, foi necessário fazer uma biópsia. “Em 21 de setembro, tive a confirmação de que era câncer e de que a doença estava em estágio inicial”, conta. Ela fez oito sessões de quimioterapia, de outubro de 2011 até fevereiro do ano seguinte. Depois disso, passou por cirurgia, sem a necessidade de retirar completamente a mama, devido ao estágio da doença. À cirurgia, seguiram sessões de radioterapia, de maio a julho de 2012. Em meio a uma história tão difícil, Monique tem, no entanto,

recordações especiais e marcantes do período. “Durante o tratamento, eu fiquei noiva. Comecei a quimioterapia em 3 de outubro e no dia 8 noivamos. Me casei em abril do ano passado com o Anderson (Wermuth Cardoso), com quem já namorava há quatro anos. Como estava com pouco cabelo, devido ao tratamento, fiz uma vaquinha na internet para arrecadar dinheiro e fazer um megahair. Casei de cabelos longos”, lembra com carinho. Hoje, ela segue tomando os comprimidos da quimioterapia oral – devendo seguir com o tratamento por um período de 10 anos − e faz consultas regulares com oncologista e mastologista, além de exames anuais. Segundo a enfermeira, o apoio da família e dos amigos foi fundamental para enfrentar o tratamento.

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Uma história difícil, com recordações especiais

Monique noivou com Cardoso durante o tratamento


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A população brasileira está engordando. De acordo com o endocrinologista Fernando Gerchman, os dados mais recentes, provenientes da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, realizada por inquérito telefônico pelo Governo Federal em 2013, apontam que 50,8% da população brasileira adulta está acima do peso. Os dados refletem o estilo de vida atual: uma combinação perigosa de má alimentação e sedentarismo. “O brasileiro trabalha muito e demora até chegar em casa após o expediente. Assim, sobra pouco tempo para atividades de lazer e preparação das refeições. Em consequência, se exercita pouco e come alimentos que engordam - justamente aqueles mais práticos. Um menor gasto energético corporal, aliado ao consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar, predispõe o ganho de peso”, comenta. O sistema digestivo possui alguns sensores que, durante a alimentação, emitem um sinal para o cérebro informando que

o corpo já está satisfeito. É assim que a pessoa sacia a fome e para de comer. No entanto, a pessoa que sofre com a obesidade, por desregulação deste sistema que envolve os hormônios gastrointestinais, sente mais fome. “Além disso, nosso cérebro está mais exposto às diversas armadilhas que acionam mecanismos inconscientes que aumentam a fome e o desejo de comer. Quando estamos na fila de um supermercado, ficamos parados ao lado de chocolates, bombom e pipoca, o que ativa uma série de substâncias no cérebro que estimulam o seu consumo”, revela. Segundo o especialista, o homem das cavernas já selecionava na natureza alimentos coloridos, já pensando na diversidade nutricional que supre necessidades de saúde. “Um estudo recente mostra que quanto maior o número de cores das balas em uma embalagem plástica, maior será o seu consumo. Ainda temos algo do homem das cavernas. As influências do processo de evolução causam armadilhas para o homem moderno”, revela

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Pensar magro e resistir às tentações

Segundo Gerchman, as influências do processo de evolução causam armadilhas para o homem moderno

Gerchman. Conforme o médico, o cérebro pode ser treinado para resistir às tentações diárias. “O tratamento da obesidade é comportamental. É ilusão acreditar

que sairemos do consultório com uma receita de dieta e o problema estará resolvido. Embora a dieta seja muito importante, sua prescrição é o menor dos detalhes no tratamento da

obesidade. Um paciente que compreende a necessidade de mudar o estilo de vida será bem sucedido, perderá peso e manterá o corpo assim, que é o maior desafio de todos”, diz.

Califórnia), Michael Meaney (Universidade Mcgill, Montreal), Helen Neville (Universidade do Oregon), Phillip Shaver (Universidade da Califórnia) e Richard Davidson

(Universidade de Wisconsin), neurocientistas renomados, também dedicaram-se aos estudos de neuroplastia, provando que a forma de pensar produz reações significativas no cérebro e que podem transformar estados de ansiedade, insatisfação, insegurança e apatia em tranquilidade, autoconfiança e alegria. As pesquisas mostram que boa parte da plasticidade do cérebro - que se acreditava possível enquanto em desenvolvimento na infância - mantém-se pela vida com condições, inclusive, de reparar regiões danificadas, criar novos neurônios e rearranjar áreas que antes desempenhavam determinadas funções para assumirem novas tarefas. “Descobrimos que o cérebro é capaz de criar novas conexões sinápticas e de memória a partir da interação do sistema límbico (que cuida das emoções) com o sistema hormonal, que funcionam como mensageiros moleculares que conduzem as informações do cérebro até as células e o DNA”, explica Francisco Di Biase, neurocientista carioca reconhecido internacionalmente

por seus diversos trabalhos em revistas científicas e seus 17 livros publicados. De acordo com o especialista, o processo de neuroplasticidade acontece a cada 90 ou 120 minutos, sempre que o indivíduo entra em contato com situações estimulantes, novidades ou técnicas terapêuticas, que podem ser realizadas em consultório ou não. O pensamento pode moldar o funcionamento do cérebro. Novas descobertas indicam que modificações no cérebro são possíveis de ser geradas por atividade mental. Pensar estar em um lugar tranquilo leva a uma mudança física mensurável no córtex pré-frontal do cérebro, por exemplo. “Os estados meditativos podem atingir regiões do cérebro tanto quanto motivações reais. Para o cérebro, a imaginação é igual à realidade, ativando as mesmas áreas”, diz Rosalia Schwark, psicóloga e criadora Movimento Perfeito, que ensina técnicas comprovadas pela neurociência como eficientes para atingir determinadas áreas cerebrais e produzir bem-estar interno.

Química da superação sobre a formação da memória e a interação das sinapses e do DNA. Por muitos anos, a força do pensamento parecia algo distante. Fred Gage (Instituto Salk, La Jolla,

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A ciência desafiava o paradigma de que o cérebro adulto não muda até o ano 2000 – quando Eric Kandel recebeu o Nobel da Medicina por suas pesquisas

O pensamento pode moldar o funcionamento do cérebro, afirma Di Biase


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A ciência desmistifica. Se bem usada, a tecnologia não é vilã no aprendizado das crianças. O perigo aparece – tornando-se patologia – quando os jogos virtuais, em videogames, tablets e smartphones, ganham mais espaço do que outras atividades na vida das crianças. “Nenhum comportamento em excesso é bom, seja jogar demais ou estudar o tempo todo. É uma hipertrofia de alguma área do cérebro”, adverte Candida Helena Pires de Camargo, especialista em Neuropsicologia e Psicologia Clínica. De acordo com a especialista, as reações do cérebro durante o uso da tecnologia parecem ser as mesmas que ocorrem quando as pessoas treinam algo de forma sistemática. “No entanto, há um particular aumento da área cerebral envolvida nos comportamentos de busca ou recompensa, algo que também aparece nos chamados ‘comportamentos excessivos’. E, de maneira geral, os excessos tendem a comprometer a vida escolar ou social”, considera. Segundo Candida, “há pesquisadores que creem que a prática de jogos de ação traz ganhos em diferentes áreas do funcionamento cognitivo, principalmente no pensamento

de tipo espacial, aumentando a visão periférica, a velocidade da mudança da atenção e a tomada de decisões. Outros questionam se há transferência de tais habilidades para o mundo real e, além disto, discutem aquilo que preocupa os educadores, qual é o potencial aditivo que os jogos de ação têm sobre os sujeitos?”, questiona. Os possíveis efeitos negativos dos jogos virtuais sempre aparecem, em estudos, situados no uso ou prática intensiva de uma habilidade em detrimento do resto. “É lícito supor que ficar 10 horas mexendo no tablet e não escrever mais nada, se afastando da linguagem associada à motricidade, não pode ser benéfico dentro de um sistema que ainda use a escrita como meio de comunicação. O desenvolvimento motor fica também prejudicado se, ao invés de correr, subir, descer, pular, jogar bola, vestir bonecas, montar casinhas, a criança ficar o tempo todo sentada grudada no tablet”, evidencia. Os jogos envolvem, geralmente, os sistemas cerebrais de recompensa e podem ser usados de maneira inteligente. “É importante apenas que obedeça aos princípios que regem a aprendizagem do que quer que seja. Precisa de um propósito, um mé-

JOÃO MATTOS/JC

Aprendizado high-tech

Bom senso é a fórmula certa, recomendam os especialistas

todo para chegar aos objetivos, um direcionamento das buscas, um sistema de corrigir passo a passo, uma premiação gradual, um jeito de manter a motivação. Tudo isto deve ser estabelecido pelo professor ou programa da escola”, afirma.

Para a especialista, os jogos de grupo, que promovem trocas, auxílio mútuo, companheirismo, demonstram-se benéficos para a socialização. “Nem pais e nem professores dominam bem tal tecnologia, o que seria fundamental para orientar os filhos.

A sugestão é procurar conhecer melhor para diferenciar o que é lazer e diversão do que é lição, dever, além de se saber dosar a quantidade de horas despendidas em relação a outras atividades. Bom senso é a fórmula certa”, recomenda.

Os humanos são seres sociais. De todos os mamíferos, possuem o cérebro mais capaz e menos instintivo, porém mais dependentes de interação social, por isso, “ficar sozinho” pode adoecê-los. De acordo com o psiquiatra Pedro Antônio Schmidt do Prado Lima, depressão e transtorno de personalidade borderline podem ser associados à solidão. Há inúmeras teorias que tentam explicar a depressão. Uma delas envolve a competição social. Se no meio animal a “derrota” aparece relacionada ao fracasso na conquista e na reprodução, entre os seres humanos está relacionada à falta de aprovação, respeito e admiração, conceito chamado de social attention holding power (Sahp), em inglês. “Isso é muito perceptível na adolescência, quando há uma necessidade de ser aceito pelo grupo”, comenta.

A pessoa que perde ou não tem Sahp é solitária, reagindo com agressividade, ansiedade e também depressão. E o sentimento da rejeição pode se manifestar através de sintomas somáticos, como dores no corpo e agravar doenças de outros órgãos e sistemas. “O que acontece é que o aumento das citocinas inflamatórias pode causar depressão e inúmeras doenças. É o caso daquele viúvo que morre logo após a perda do par por doença inflamatória, como diabetes ou reumatismo”, comenta. A rejeição ativa regiões do cérebro semelhantes às da dor física. Já o “ser aceito” mexe com áreas do órgão relacionadas à satisfação, o chamado sistema de recompensas, no qual opióides endógenos estão envolvidos. “E a genética explica, quem tem um sistema opióide mais ativado e desenvolvido tende a ser mais flexível e aceita melhor as rejei-

ções”, explica. O abandono e a rejeição aparecem na essência do transtorno de personalidade borderline (TPB). “É uma doença que afeta 1,5% da população. São pessoas mais sensíveis à solidão, que se torna motivo para mutilações e até suicídio. Em geral, os pacientes com TPB sofreram traumas na pequena infância, como maus-tratos, violência sexual ou negligência”, explica. Ter uma boa rede social, de acordo com o especialista, é fator de proteção contra doenças. “É essencial privilegiar o contato com a família e com os amigos. Além disso, ter momento de lazer e realização no trabalho são parte essencial disso. Nossa sociedade vive com foco errado. Deveríamos relacionar felicidade com a capacidade de cooperação – que quer dizer interação social – e não com uma questão monetária”, reflete.

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Doenças da solidão

Lima considera que o aumento das citocinas inflamatórias pode causar depressão e inúmeras doenças


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Inaugurado em 1979, o Hospital Mãe de Deus sempre teve em sua essência a necessidade de ser um hospital que valorizasse o ser humano. “O aspecto do atendimento humanizado é muito forte, assim como o envolvimento com pacientes e carinho dedicado às pessoas necessitadas”, explica o diretor-geral do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Claudio Seferin. Segundo ele, até 1984, o hospital ainda estava muito envolvido com a construção e com a abertura de novos serviços. A partir de então, ao longo de 30 anos, os quais ele acompanhou de perto, o crescimento foi muito rápido. De 140 leitos em 1984, o hospital saltou para 1.500 hoje. Além disso, atende a todos os segmentos da sociedade, com a mesma qualidade - pessoas que procuram o hospital através de convênios, do Sistema Único de Saúde (SUS) ou com recursos próprios. O diretor conta que o projeto para os próximos 10 anos envolve a ampliação do Hospital Mãe de

Deus — já em obras atualmente —, mas, principalmente, mudanças no modelo de atendimento. “Queremos ser ainda mais qualificados e seguros do ponto de vista da assistência médica hospitalar e ser mais acessíveis para a comunidade, reforçando a questão do atendimento humanizado e de espiritualidade. Acreditamos que o papel de um hospital moderno deve ser não apenas ficar numa atitude receptiva aguardando as pessoas, mas interagir com a comunidade, identificar suas necessidades e educá-la, no sentido de aprender a utilizar os recursos que estamos oferecendo, inclusive nos aspectos preventivos”, explica. Todo o prédio hospitalar está sendo adaptado para o novo modelo de atendimento. Na ampliação, já estão sendo adotados espaços físicos diferentes do que tradicionalmente são oferecidos pelos hospitais. Há várias áreas, como, por exemplo, amplo espaço físico para os familiares permanecerem no hospital, com condições

MARCOS NAGELSTEIN/JC

Atendimento humanizado

Seferin acredita que um hospital moderno precisa interagir com a comunidade

de alimentação, de descanso, de segurança e de proximidade com o paciente internado. Isso, principalmente, nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e nas áreas cirúrgicas. Outro aspecto que demonstra a preocupação do Hospital Mãe de Deus com as mudanças no modelo de atendimento é a liberação de visitas. Antes, existiam horários fixos, e as pessoas tinham que se adequar. “Hoje, temos visitas livres, com

sistema de controle e protocolo de segurança. O hospital já está se abrindo para a comunidade, para a família e amigos relacionados com a pessoa doente”, afirma Seferin. Ainda segundo ele, pesquisas comprovam que esses aspectos interferem na recuperação do paciente positivamente. O Grupo Pequenos Valentes é outro projeto muito ligado à família. É um serviço multidisciplinar de apoio aos pais das crianças internadas. O objetivo é oferecer

um espaço para troca de experiências e compartilhamento de sentimentos, dúvidas, angústias e alegrias. O grupo, coordenado pela equipe de saúde do hospital, orienta pais que estão com os filhos internados ou recém-saídos de UTIs Neonatais, seja do Mãe de Deus ou de outros hospitais. A multidisclipinaridade também está presente no tratamento do câncer. “Não é uma luta individual, mas de muitas pessoas”, argumenta o diretor.

que acompanham os pacientes em todas as fases do atendimento e se encarregam de informar familiares e acompanhantes do andamento. Segundo Seferin, o objetivo é atender os pacientes em menos tempo, descongestionando a emergência e dando atenção personalizada a cada paciente e familiar, de acordo com suas necessidades médicas. “A capacidade resolutiva é exercitada ao máximo nesse modelo”, afirma. A instituição instalou uma

sala de Controle de Fluxo que monitora o atendimento de cada paciente, bem como os tempos demandados em cada etapa, como exames, medicação, espera por atendimento e período de internação, entre outras informações em tempo real. Localizada na própria emergência do hospital, a Sala de Controle vai gerar relatórios completos, que servirão de base de informação para os acompanhantes e para a própria gestão.

Emergência e pronto-atendimento ampliados vestiu na criação de um ambiente específico para os casos de baixa complexidade, que representam cerca de 70% dos atendimentos. Os pacientes passam por triagem com classificação de risco. Aqueles que têm condições clínicas

estáveis, sem riscos à vida ou à função, são transferidos para esta área, onde ocorre a consulta expressa e, posteriormente, o encaminhamento. O novo modelo inclui a presença de agentes assistenciais

Com ampliação, pacientes devem ser atendidos em menos tempo

MARCELO DONADUSSI/DIVULGAÇÃO/JC

MARCELO DONADUSSI/DIVULGAÇÃO/JC

A ampliação da área de Emergência e Pronto-Atendimento do Hospital Mãe de Deus foi pautada, principalmente, pela necessidade de aumentar o número de leitos e consultórios. Pensando nisso, a instituição in-


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Nas palavras do diretor-geral do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Claudio Seferin, estar em dia com a tecnologia é uma obrigação. “Não podemos ter nada abaixo do que têm os melhores centros do mundo”, complementa. O hospital é inovador em várias tecnologias, como o PET CT, adquirido há quatro anos, fundamental para o diagnóstico do câncer e para auxiliar no tratamento. Outra experiência inovadora é a sala híbrida, que existe há 3 anos na instituição. “Nela é possível fazer, simultaneamente, procedimentos de baixa invasão e cirurgias mais complexas. Ela permite ao médico conjugar tipos de soluções de baixa invasão com catéter e, se não resolver, na mesma sala ele tem condições de operar”, explica. Três anos após inaugurar a primeira sala híbrida de um hospital privado no Rio Grande do Sul, o Instituto de Medicina Cardiovascular do Hospital Mãe de Deus registra em 2014 uma nova marca ao adquirir um angiógrafo de última geração, para facilitar os procedimentos realizados no local. O equipamento marca um novo salto tecnológico no tratamento das doenças cardiovasculares e reforça a condição do HMD como centro de excelência na especialidade. O Artis Zee, fabricado pela Siemens, é equipado com um software capaz de realizar um mapeamento completo de todo o território vascular, considerando cérebro, coração e vasos periféricos. São dois os grandes diferenciais do novo angiógrafo. Um deles é o seu monitor, de 80 polegadas, que permite

a visualização de oito telas ao mesmo tempo, trazendo ganhos de agilidade e precisão. O aparelho é equipado com um tomógrafo para fazer fusão da imagem do paciente com imagem pré-carregada, reduzindo o uso de contraste e dando mais precisão no tratamento das doenças da aorta e de válvula aórtica. O Instituto de Medicina Cardiovascular foi pioneiro no Rio Grande do Sul no tratamento endovascular de doenças complexas da aorta, como aneurismas tóraco-abdominais e especializado no tratamento de arritmias complexas a partir da eletrofisiologia. Sua equipe é formada por um qualificado corpo médico de cardiologistas, com equipe atuando 24 horas de plantão no hospital. A Instituto também destaca-se pela sua associação a uma rede global de pesquisadores que vem colaborando para evolução do conhecimento para o tratamento das doenças cardiovasculares. Outra aquisição recente do hospital foi a da tomossíntese (DBT – Digital Breast Tomosynthesis), também chamada de mamografia 3D. É uma modalidade de mamografia digital que permite a obtenção de várias imagens tomográficas das mamas, com espessura de 1,0mm, com baixíssima dose de radiação. Esta propriedade minimiza o problema de sobreposição do tecido mamário, que acontece na mamografia convencional, aumentando assim a capacidade de detecção do câncer, além de revelar com mais detalhes a arquitetura interna da mama.

HOSPITAL MÃE DE DEUS/DIVULGAÇÃO/JC

Tecnologia para diagnóstico e tratamento

Sala híbrida possibilita a realização de procedimentos de baixa invasão

ANA PAULA APRATO/ARQUIVO/JC

Medicina da Família apresenta novo conceito

A proposta é estabelecer vínculo de longo prazo com o paciente

A Clínica de Medicina de Família do Mãe de Deus Center vai ao encontro do projeto do Hospital Mãe de Deus, em termos de atendimento, para os próximos anos. Ela apresenta um novo conceito de cuidado à saúde que abrange desde aqueles problemas mais frequentes, que levam as pessoas a procurar ajuda de forma mais imediata, como problemas mais complexos, que necessitam acompanhamento e investigação. A maioria dos problemas frequentes, mesmo os agudos, podem ser resolvidos através de consulta, sem a necessidade de procurar uma emergência hospitalar, pois em geral trata-se de algo que necessita ser avaliado no mesmo dia, até com horário agendado. Se a consulta for com um médico que já conhece o paciente, melhor ainda. Na Clínica de Medicina de Família do Mãe de Deus Center o médico não se preocupa somente com o problema de saúde agudo que leva uma pessoa a procurá-lo, embora o objetivo seja atendê-lo no mesmo dia em que busca uma consulta. A proposta é ir além, buscando um estabelecimento de vínculo e um plano de cuidado a longo

prazo, independentemente do problema inicial. E não só da saúde da pessoa individualmente, mas da pessoa por inteiro, o que inclui sua família. O médico utiliza o método clínico centrado na pessoa passando a ser um coordenador dos cuidados com a saúde da pessoa e da família, e atende a todos os problemas trazidos desde agudos (gripe, pneumonia, diarreias, dores, problemas urinários e ginecológicos) aos crônicos (hipertensão, diabetes, saúde mental). Também trata os denominados problemas medicamente inexplicáveis, ligados a questões emocionais ou somáticas, que muitas vezes não se encaixam num diagnóstico. Ao atender não restringe por tipo de problemas, nem pelo gênero, nem pela idade. A medicina de família é uma especialidade médica bastante conhecida e utilizada em países desenvolvidos. Na Inglaterra, por exemplo, 85% a 92% dos problemas de saúde das pessoas que buscam a especialidade são resolvidos. A especialidade é reconhecida no Brasil desde 1981, sendo que atualmente muitos serviços e convênios utilizam médicos de família.


Diretor técnico e Superintendente Médico Assistencial do Hospital Mãe de Deus

A nova velha medicina A medicina desde os tempos de Hipócrates não mudou em sua essência. Caracteriza-se pela busca da manutenção da saúde, alívio e cura das doenças e mitigação do sofrimento humano. Para tanto, é necessário considerar as expectativas e subjetividades do indivíduo na perspectiva de uma relação médico-paciente construída a partir do vínculo da empatia. O médico necessita ter uma concepção harmônica do paciente orientando a sua ação de forma individualizada, na busca do cuidado integral. Assim, deve desenvolver o seu ofício com precisão técnica sem perder a sensibilidade e as qualidades humanas, além de ser imbuído de firmeza de caráter, ter senso humanístico, consciência coletiva, humildade e amor à vida. Atualmente, a boa prática médica não depende apenas da relação médico-paciente.

Mesmo esta relação é permeada por outros agentes. O paciente chega ao médico encaminhado por operadoras de planos de saúde, gestores do SUS e locais onde são providos os cuidados médicos (clínicas, postos de saúde, emergências, unidades de pronto atendimento, hospitais, etc.). Por isto, a sua relação não é exclusivamente com o médico, inclusive no que se refere ao pagamento dos honorários médicos. Mesmo levando em consideração primordialmente as necessidades de seu paciente, o médico está submetido a uma série de fatores regulamentares, epidemiológicos, ambientais, sociais e tecnológicos que acrescentam novas dimensões e dificuldades ao exercício de sua profissão. Um bom médico deve estar atualizado em seus conhecimentos teóricos, apto a utilizar as mais modernas ferramentas tecnológicas (instrumen-

tos, tecnologia de informação, medicações) e seguir as melhores práticas preconizadas por diretrizes clínicas e protocolos assistenciais. Depende ainda, para a adequada execução de sua prescrição e atingir os resultados desejados, do trabalho de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais como enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos, entre outros, reconhecendo a importância de suas funções de forma harmônica e integrada. Mais ainda, em função das enormes pressões e características de mercado de trabalho, vê-se o médico muitas vezes na necessidade de envolver-se em extensas jornadas de trabalho, com cargas diárias de 12 a 14h e grande número de plantões, que incluem noites e fins de semana culminando com uma carga horária mensal absurda e com ciclos de descanso não sema-

nais, mas quinzenais ou até piores. Temos frequentemente sido imputados como os responsáveis pelas atuais carências de nosso sistema de saúde. Apesar de toda a complexidade que envolve o cuidado das pessoas, o médico ainda é identificado pela sociedade como o grande responsável pela precariedade da assistência a saúde, sendo visto como o principal culpado pelos inúmeros problemas de nosso sistema de saúde, passando de herói a vilão do cenário. O que estamos comemorando então neste dia do médico? O objetivo não foi detratar a atividade médica, mas apenas contextualizar. Mesmo assim, após 37 anos de minha formatura, agradeço todos os dias por minha escolha profissional e digo isto com entusiasmo a meus colegas e alunos. Não vejo nada no mundo tão compensador e gratificante como aqueles

singelos momentos, no final de uma consulta, após uma visita a um paciente hospitalizado, ao darmos notícias do estado de saúde de nossos pacientes para eles ou seus familiares depois de um bem sucedido tratamento ou cirurgia e percebemos a transformação das faces com angústia e sofrimento em expressões de alívio e felicidade. Este sentimento único e gratificante de termos salvo uma vida, de termos amenizado a dor de uma pessoa, de termos visto a alegria de um pai e de uma mãe no momento do nascimento de seu filho, embora intangível, é o que dá à nossa profissão uma dimensão que compensa todas as dificuldades que venhamos a enfrentar. Por isto, quero transmitir aos nossos médicos de hoje os parabéns pelo seu dia e exortá-los a persistir no desenvolvimento de nossa nova velha medicina.


A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre traz a excelência no atendimento de suas diversas especialidades para todos os pacientes, sem qualquer distinção entre os particulares ou os do Sistema Único de Saúde (SUS). A entidade proporciona ações de saúde a todas as pessoas, com excelência, sustentabilidade, pioneirismo e inovação. Prova disso é a recente unificação do atendimento pediátrico de emergência do Hospital da Criança Santo Antônio, que, desde agosto de 2014, atende aos pequenos pacientes do SUS e dos convênios em uma mesma estrutura, com o mesmo corpo clínico. A partir dessa mudança, a emergência do hospital esteve sempre em funcionamento, nas 24 horas, todos os dias da semana. “A Santa Casa é dos poucos hospitais que ainda mantém o serviço de emergência pediátrica. Estamos comprometidos

com o atendimento para todos. Afinal, 60% dos nossos pacientes vêm encaminhados pelo SUS”, afirma a diretora-médica do Hospital da Criança Santo Antônio, Themis Silveira. Com isso, a resolução de um problema sério está sendo alcançada, pois, até então, a emergência ficava sem atendimento pelo menos por algumas horas, em sete ou oito dias por mês. “A unificação da emergência é uma resposta para a população”, avalia. Em 2013, o Hospital da Criança Santo Antônio realizou 5 mil atendimentos na emergência e 6,5 mil atendimentos em ambulatório, por mês. Além disso, foram feitas 600 cirurgias e hospitalizadas 35 crianças com câncer no ano. Entre as especialidades, destaque para o transplante renal, com a realização de mais de 40 por ano, neurocirurgia, gastroenterologia e hepatologia. “Em 2013, começamos a realizar transplante de fígado intervivos.

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Saúde para todos

Themis afirma que 60% dos pacientes são encaminhados pelo SUS

Já fizemos cinco cirurgias até o momento”, diz. A equipe de cardiologia pediátrica realiza 25 cirurgias por mês, solucionando casos de

cardiopatia congênita. “A doença manifesta-se no primeiro mês de vida. Por isso, temos bebês operados recuperando-se em nossa Unidade de Tratamento

Intensivo (UTI). A Santa Casa é referência e recebe famílias de todo o Brasil, o que evidencia a necessidade de ampliação da UTI”, comenta a diretora.

Tecnologia proporciona diagnósticos mais precisos cientes, sem distinção. A unidade atua na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer e constitui um dos maiores parques de radioterapia da América Latina. “Está entre os três maiores prestadores

de serviços radioterápicos do Brasil para o SUS”, comenta Ricardo Kroef, diretor-médico do Hospital Santa Rita. Desde março de 2014, o Hospital Santa Rita dispõe, entre

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No Hospital Santa Rita, que também integra o Complexo Hospitalar Santa Casa, o conhecimento e as mais avançadas tecnologias em oncologia são compartilhadas com todos os pa-

Kroef afirma que a eficiência no tratamento aumenta com novos equipamentos

seus equipamentos, do PET-CT, aparelho que une Medicina Nuclear e Radiologia, possibilitando a identificação e a localização de lesões malignas, ainda em fase inicial, com mais precisão. “Além de mostrar os pontos, a tecnologia aponta o estágio da doença. A partir disso, é possível selecionar o melhor e mais eficiente tratamento”, comenta. De acordo com o especialista, além do diagnóstico, o PET-CT pode ser usado também para dimensionar as respostas das células cancerígenas ao tratamento. O PET-CT, segundo Kroef, é usado nos Estados Unidos e na Europa desde a década de 1990. “E o que se percebe lá é que a tecnologia pode reduzir, em alguns tipos de câncer, a indicação para a cirurgia em até 30% dos casos”, comenta. O Hospital Santa Rita acompanha os principais avanços no tratamento de câncer, que são as cirurgias menos radicais e com mesmo índice de cura com técnicas atuais que preservam o paciente. “Reinauguramos, em maio, o bloco cirúrgico do Hospital Santa Rita, com sete

salas de cirurgia e 20 leitos de recuperação. Nossa capacidade passou de oito mil para 10 mil cirurgias por ano”, afirma. Além disso, há aprimoramento constate das técnicas de radioterapia — que permitem irradiar com grande intensidade e com foco bem definido, não prejudicando células e órgãos saudáveis —, e quimioterapia — com drogas inteligentes que reconhecem e atacam mais o câncer do que células saudáveis. Como a doença é dividida em quatro fases — até o estágio I, 90% dos casos têm cura; já no estágio IV, que se caracteriza por tumores maiores ou disseminação do câncer, as chances não chegam a 30% — o diagnóstico precoce é fundamental. Kroef também comemora o aumento da busca por consultas de prevenção, que consiste no aconselhamento, especialmente de pessoas com pré-disposição genético-familiar, e do esclarecimento de dúvidas. “De 2007 para cá, tivemos um aumento significativo nos atendimentos, passando de 100 para mil consultas de prevenção por mês”, revela.


Diretor-Médico da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

Medicina humanística é qualidade assistencial A velocidade com que são produzidos no mundo novos conhecimentos e tecnologias médicas é fantástica. Os benefícios dessa acelerada geração de conhecimentos na área da saúde são incontestáveis. Diagnósticos mais precisos em menos tempo e terapêuticas mais eficazes, menos traumáticas e menos invasivas. Entretanto, frieza no atendimento e distanciamento são queixas frequentes dos pacientes ao comentarem algumas consultas médicas. Interpretam essas intercorrências como consequências do rápido desenvolvimento tecnológico da medicina. Mesmo que isso, eventualmente, ocorra, devemos considerar a possibilidade da perda dos valores humanísticos e de misericórdia por alguns médicos, o que acaba atingindo toda a classe médica. Essa postura é completamente oposta aos valores intrínsecos ao exercício da medicina, mes-

mo considerando vários momentos da sua evolução histórica. A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, obra iniciada pelo Irmão Joaquim Francisco do Livramento em 1803 com os objetivos de proteger os enfermos recolhidos às precárias enfermarias então existentes e socorrer doentes, desvalidos e escravos com misericórdia e ética, permanece nesses 211 anos tendo entre seus valores o exercício de uma medicina essencialmente humanística e com solidariedade. São valores tão arraigados à Santa Casa que no seu planejamento estratégico atual considera seus valores: ética, misericórdia, equidade, excelência organizacional, humanismo, história e cultura, pioneirismo e inovação, credibilidade e sustentabilidade. Sir William Osler afirmava que “os estudos humanísticos são os hormônios que catalisam o pensamento e humanizam

a prática médica”. Cerca de um século após, repete-se esse aforisma, com outras palavras, mas com o mesmo significado. O tema insere-se no debate sobre a necessidade de recuperar a dimensão humana do médico. Em tempos mais recentes, as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Medicina (2001) define o perfil do formando egresso/profissional como: “Médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano”. A relação médico-paciente

com proximidade é ressaltada em uma das exigências de “Conhecimento, Competências e Habilidades Específicas”: realizar com proficiência a anamnese e a consequente construção da história clínica, bem como dominar a arte e a técnica do exame físico. Recentemente (2014), a reformulação e publicação de atuais Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, no seu artigo 3º, amplia a abrangência da atuação do médico acrescentando o compromisso com a defesa da cidadania, da dignidade humana, da saúde integral do ser humano e tendo como transversalidade em sua prática, sempre, a determinação social do processo de saúde e doença. No artigo 5º, afirma a necessidade da “integralidade e humanização do cuidado por meio da prática médica contínua e integrada com as demais ações e instâncias da saúde”.

O exercício da medicina intimamente relacionado com o cuidado e o humanismo vai além. O capítulo de “Acesso a cuidados e continuidade dos cuidados”, publicado na 5ª edição (2014) dos Padrões de Acreditação da Joint Comission International para Hospitais reforça a importância do acolhimento, dos cuidados e da humanização do atendimento. Características estas que transcendem o período de hospitalização. Diante dessas observações, impõe-se a necessidade de reflexão sobre a inclusão formal de conteúdos relacionados à formação humanística no curso de graduação em Medicina, e a todos nós médicos, a manutenção e/ou o resgate dos objetivos do Irmão Joaquim Francisco do Livramento - proteger os enfermos, socorrer doentes e desvalidos com misericórdia, ética e conhecimento. Isto é qualidade assistencial.


A vida do curitibano Henrique Santos Busnardo, em 1999, estava por um fio. A bronquiolite, uma inflamação severa, o impedia de respirar. A família saiu do Paraná para buscar ajuda na Santa Casa de Porto Alegre, que, na época, já era uma referência na saúde do pulmão. E encontraram José Jesus Camargo, cirurgião que realizou, em Henrique, o primeiro transplante intervivos realizado fora dos Estados Unidos. Henrique recebeu parte de um pulmão da mãe e parte de um pulmão do pai. Hoje, aos 27 anos, pode respirar tranquilo. É formado em Direito, joga futebol e toma medicação apenas para evitar eventual rejeição do órgão. “Nestes 15 anos após o transplante, visito a Santa Casa anualmente para acompanhamento médico. Percebo uma evolução importante de tecnologias, novos exames, qualificação do atendi-

mento”, afirma o paciente. O Pavilhão Pereira Filho, que integra o Complexo Hospitalar Santa Casa, é referência nacional e internacional em pneumologia clínica e cirurgia torácica. “Temos 30 pneumologistas especializados na prevenção e tratamento de doenças respiratórias. Além da excelência em pneumologia e cirurgia torácica, temos uma importante produção científica que é realizada pela unidade em parceria com as universidades”, assegura Adalberto Sperb Rubin, chefe do Serviço de Pneumologia. Entre os destaques, a prevenção e o tratamento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPCO), situação que diminui a capacidade de respiração do paciente em função dos danos nas vias respiratórias, incluindo os pulmões. De acordo com o especialista, a Santa Casa recebe até três mil pacientes

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Referência em tratamentos

Rubin com Busnardo, que recebeu o primeiro transplante intervivos realizado fora dos Estados Unidos

por mês com doenças respiratória e, destes, 15% apresentam DPOC. O Pavilhão Pereira Filho oferece equipamentos modernos para diagnóstico e também novos tratamentos inalatórios, que evitam a progressão da doença. O pletismógrafo, por exemplo, é um dos aparelhos de última geração disponíveis, usado para

medir a capacidade respiratória do paciente e, a partir disso, indicar o tratamento ideal. Os levantamentos apontam que 90% das pessoas que sofrem com a DPCO são fumantes. Por isso, a Santa Casa investe também em tratamentos antitabagismo e campanhas de conscientização. “Ainda assim, há pessoas que

fumaram por muitos anos e, hoje, sentem os malefícios do vício no cigarro.” De acordo com o médico, as doenças relacionadas ao tabaco matam seis milhões de pessoas anualmente no mundo. Um em cada cinco fumantes tem enfisema pulmonar, e quem fuma pode perder até 10 anos de vida, além de prejuízo na qualidade de vida.

diretor médico do São Francisco. O implante de válvula aórtica por cateter e a cirurgia endovascular de aneurismas de aorta ganham mais segurança na execução. A intervenção convencional para correção de valvulopatia, por abertura do tórax, apresenta 18% de risco estimado de mortalidade, calculada com escores cirúrgicos. “No entanto, a mortalidade observada neste grupo de pacientes submetidos ao procedimento por cateter foi de 9%”, diz Lucchese. O hospital tem um completo e especializado “heart team” − ou “time do coração”, em português −, formado por médicos clínicos, cirurgiões, intervencionistas por cateter, ecocardiografistas, radiologistas e anestesistas. Nos últimos 12 meses, a equipe fez 25 implantes de válvula aórtica por cateter. “A recuperação é rápida, e o paciente que ficaria quase um mês no hospital precisa de três dias para ter condições de ir para casa, o que é importante em uma instituição que tem 64% de seu público encaminhado pelo SUS”, diz o diretor.

As mortes por doença do coração ainda preocupam. De acordo com Lucchese, no Rio Grande do Sul, 35% dos óbitos são ocasionados por cardiopatias. A Santa Casa recebe, com frequência, vítimas de infarto que, graças ao Programa de Linhas de Cuidado da Dor Toráxica e do AVC, têm mais chances de recuperação. Durante o atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), da Secretaria Municipal da Saúde, é feito o processo de tele-eletrocardiografia, técnica que permite a realização do exame de eletrocardiograma dentro da ambulância, com análise dos dados feita em tempo real por especialistas do Hospital do Coração (HCor), de São Paulo. A leitura das imagens e a devolução dos dados são feitas em poucos minutos. E, a partir daí, o paciente é levado ao Hospital São Francisco ou para outros hospitais credenciados para solução ágil da complicação. “Em dois anos, o número de mortes por infarto caiu de 14 para 5,5%”, comemora Lucchese.

Sala híbrida é exclusividade híbrida, espaço com tecnologia avançada e equipado com o Artis Zeego, sistema de última geração para captação de imagens. Os procedimentos permitem a precisão necessária de informa-

ções e imagens para procedimentos complexos. “Nossa população está envelhecendo e a expectativa aumenta. Teremos, cada vez mais, pacientes com 80 ou 90 anos”, diz Fernando Lucchese,

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O Hospital São Francisco é referência em cirurgias de alta complexidade, tecnologia de ponta e pesquisas na área da saúde do coração. É um dos três hospitais no Brasil com sala

Procedimentos são realizados por equipe multidisciplinar de médicos


O Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre (HBO) iniciou o processo de implantação de práticas de governança clínica, que estabelece qualidade total e melhoria contínua em todas as áreas assistenciais da instituição. “A governança clínica é uma importação da governança corporativa para o sistema de saúde, que foi adotada, pela primeira vez, no Reino Unido na década de 1990”, explica o diretor executivo do hospital, Luís César Souto de Moura. O Comitê de Governança Clínica, criado em julho, é presidido por Moura e constituído pelo diretor clínico, Roberto Freda, pelo diretor técnico, Abdo Abed e pelo coordenador de ensino, Ricardo Morschbacher. Segundo Moura, a prática de governança se expandiu pela Europa a ponto de, em Portugal, os serviços públicos terem indicadores de qualidade à disposição na internet. “O usuário do sistema público português pode pesquisar e ver onde ele quer ser atendido por conta dos indicadores — quem faz mais cirurgias do tipo que ele precisa, quem tem mais exper-

tise em determinada área, por exemplo”, diz. A Espanha tem uma experiência muito interessante também, sem contar os países nórdicos, onde essa é uma pratica extremamente difundida. “O que queremos é evoluir para que tenhamos uma avaliação objetiva da qualidade da assistência médica que prestamos, fazer a gestão disso e oferecer garantias mínimas de segurança e qualidade para quem procura os serviços do HBO”, complementa. O comitê é apoiado por comissões, algumas delas consideradas obrigatórias pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers), como a de Ética, a de Prontuários e a de Obituários. A novidade está em comissões criadas pelo HBO, como a de Inovação e Incorporação Tecnológica, dado o fato de que a oftalmologia é intensiva em tecnologia. A comissão é composta por várias pessoas do corpo clínico do hospital e tem por objetivo estudar as novidades e a possibilidade de compra. “Novas tecnologias surgem todo dia e necessitamos saber o que seria interessante e viável o hospital

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Foco nas práticas de governança clínica

Morschbacher, Freda, Paula, Abed, Aline e Moura fazem parte do Comitê

adquirir”, explica Morschbacher. Segundo Abed, as atualizações tecnológicas são constantes no HBO. “É constante tanto em termos de equipamento como

de medicamentos e de técnicas cirurgicas. Esse comitê aproxima muito gestão administrativa da preocupação médica com o paciente”, afirma. As oftalmolo-

gistas Paula Gross e Aline Lütz de Araújo fazem parte da comissão de Inovação e Incorporação Tecnológica, que assessora o Comitê de Governança Clínica.

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Excelência médica, ensino e subespecialidades

Corpo clínico ultra especializado atua de acordo com subsetores, como plástica ocular e cirurgia refrativa

O Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre (HBO) é uma referência em oftalmologia há 50 anos, sendo o único hospital especificamente para olhos em todo o estado do Rio Grande do Sul. O diretor técnico Abdo Abed destaca que o corpo clínico é ultra especializado. “Trabalhamos em subsetores: córnea e transplante de córnea, retina e vítreo, estrabismo, plástica ocular, órbita, uveítes, glaucoma, visão subnormal, neuroftalmologia, cirurgia refrativa e oftalmopediatria”, explica. Para o diretor executivo do hospital, Luís César Souto de Moura, este resultado está ancorado no setor de ensino. O Programa de Residência Médica tem 25 anos de história. É reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e a cada ano recebe três novos residentes. “Temos também um programa de fellowship, que é uma super especialização.

A cada ano temos um fellow novo, com duração de dois anos. Oferecemos um em retina e segmento posterior e teremos, em 2015, um de segmento anterior — córnea, catarata e cirurgia refrativa”, complementa o coordenador de ensino do HBO, Ricardo Morschbacher. O setor de urgência do Hospital é preparado para casos que vão dos mais dramáticos aos mais complexos. O atendimento para o Sistema Único de Saúde (SUS) funciona durante 12 horas e para convênios, durante 24 horas. “Estamos gestionando, junto ao governo do Estado, para ampliar a cobertura do SUS para 24 horas também”, diz Moura. O Centro de Reabilitação Visual (CRV) também é um dos diferenciais do Hospital Banco de Olhos. O CRV é dedicado a pessoas que já perderam parte ou totalmente a visão, no sentido de reinseri-las na sociedade. São pequenas dicas, mas importantes para o dia a dia dessas pessoas, que elas precisam

reaprender. Como caminhar de bengala, como disponibilizar o mobiliário dentro de casa para evitar acidentes e como fazer diferenciação para quem enxerga vultos (diferenciar um colírio de um remédio para o ouvido) são alguns dos exemplos. O HBO conta ainda com um Centro de Diagnósticos e Terapia (CDT). O objetido do CDT é fazer diagnósticos e tratamentos como lasers, exames de angiografia e exames de tomografia de coerência ótica (OCT). O centro de consultas funciona das 8h às 20h, durante a semana, e aos sábados no turno da manhã. A partir das consultas se faz a triagem do problema para encaminhar às subespecialidades. O hospital está trabalhando, também, para a possibilidade de implantar serviços de telemedicina, que deem suporte especializado, com o nível de excelência que o hospital desenvolveu e acumulou ao longo dos anos, para oferecer à comunidade médica do Rio Grande do Sul e do Brasil.


O Serviço Médico de On­ cologia do Hospital Moinhos de Vento está em funcionamento há 10 anos. Localizado no Bloco B, ocupa três andares − um para unidade de Radioterapia, outro para o de Terapia Anti­ neoplásica (quimioterapia), e o último com consultórios médi­ cos. Para 2015, há uma série de projetos em desenvolvimento, tanto em radioterapia quanto em quimioterapia. “Em todos esses anos do serviço, fizemos uma avaliação de que ele deveria ser baseado em tecnologia pioneira. Toda a concepção do parque da radioterapia foi para trazer novos procedimentos para Porto Alegre e para o Estado”, explica Sergio Roithmann, médico oncologista e chefe do serviço. O hospital introduziu no Esta­ do a radioterapia com intensidade modulada de radiação. Recente­ mente, também disponibilizou a Image Guided Radiation Therapy (IGRT), um super desenvolvimen­ to desse método. “Significa maior precisão e maior segurança para os pacientes. Também trouxemos a radiocirurgia, que era usada exclusivamente para tumores cerebrais, mas que pode começar a ser aplicada para alguns outros, fora do sistema nervoso central”, diz Roithmann.

Com relação aos planos para os próximos anos, existe um es­ tudo para a ampliação do parque de radioterapia. Hoje, o setor tem duas máquinas que permitem ao hospital tratar em torno de 100 pacientes por dia. “O projeto para 2015 é ampliar esse número, com a aquisição de uma máquina nova, obtendo ainda mais quali­ ficação, especialmente em termos de radioterapia de precisão e velocidade. O projeto de investi­ mento é na ordem de 4 milhões de dólares”, afirma Roithmann. Do ponto de vista da onco­ logia e da terapia antineoplási­ ca, segundo o médico, está se vivendo uma fase de explosão de novos tratamentos e medica­ ções. “São drogas cada vez mais dirigidas especificamente aos tumores e que podem trazer uma vantagem muito grande, melhor resultado e menor toxicidade para os pacientes”, explica. O resultado disso é que a oncologia está cada vez mais complexa. “Decidimos levar nossos médi­ cos, que até então eram onco­ logistas gerais, para uma super especialização. Nossa visão do futuro é de que vamos ter onco­ logistas especializados por cada tipo de órgão”, complementa Roithmann. O hospital já conta com on­

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Precisão e centros especializados para a Oncologia

Roithmann afirma que projetos são criados com base em tecnologias pioneiras

cologistas que tratam exclusiva­ mente, por exemplo, de câncer de mama. A próxima prioridade que foi identificada pelo serviço é o câncer de próstata. “Estamos formando um centro que vai ter a coparticipação de urologistas, radioterapeutas e oncologistas clínicos no mesmo local. Hoje, os pacientes ficam muito divididos entre a escolha de qual o melhor tratamento”, diz Roithmann. O

centro deve estar em funciona­ mento no início de 2015. Outro centro que está nos planos de 2015 é o de tumores gastroin­ testinais, uma área de altíssima prevalência no Estado. “Outra área em que também estamos enxergando um progresso rápido é a dos melanomas”, diz Roith­ mann. Outra novidade no serviço de oncologia é que o hospital

está desenvolvendo um centro de transplante de medula óssea, que pode entrar em funcionamento ainda no final de 2014. Isso vai implicar em uma unidade de internação nova, especialmente dedicada à hemato­oncologia e a pessoas com imunodeficiências severas pós­quimioterapia. Além disso, há o projeto de criar um ambulatório de prevenção e de genética do câncer.

Radiologia e Medicina Nuclear integradas para mais acurácia no diagnóstico dos resultados e a segurança do paciente”, explica Leonardo Vedolin, chefe do serviço. Outros investimentos importantes já foram feitos, como a ampliação da recepção da unidade de diagnóstico localizada no Bloco A; a criação de um portal para que

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O Serviço Médico de Radiologia está em fase de expansão com investimentos em equipamentos de alta tecnologia e ampliação da estrutura física. “A estratégia do hospital é aumentar a acessibilidade, ga­ rantindo a qualidade dos exames, precisão

Grossman e Vedolin chefiam os serviços que trazem inovações

médicos e pacientes acessem exames e laudos a distância e também uma nova unidade de radiologia focada no Serviço Médico de Emergência do Hospital Moinhos de Vento. “Todos os métodos de imagem es­ tão disponíveis na Emergência, garantindo rapidez na execução dos exames e liberação dos resultados”, explica Vedolin. Para 2015, será instalado um novo equipamento de ressonância magnética de 3 Tesla, dedicado as áreas de neurolo­ gia, ortopedia, traumatologia e medicina interna e, no segundo semestre do ano, será inaugurada uma nova área de diagnóstico por imagem destinada ao atendimento dos pacientes ambulatoriais. Assim como a radiologia, o Serviço Médico de Medicina Nuclear busca ter, sempre, tecnologia de ponta. Hoje, dispõe de três gama câmaras convencionais − uma dedicada especificamente para cardiologia e outras duas que fazem medicina nuclear geral. A novidade é o recém­adquirido PET/ CT, um equipamento híbrido, que une duas tecnologias: a tomografia por emissão de pósitrons (que é o PET), com o CT (tomogra­ fia computadorizada). “Ele mostra as áreas em que há maior atividade metabólica, no

caso do tumor, por exemplo, e sua relação com as outras estruturas anatômicas atra­ vés da informação do CT. Isso melhorou a apuração do diagnóstico”, explica Gabriel Grossman, chefe do Serviço Médico de Medicina Nuclear. Além do diagnóstico, da definição do estadiamento da doença, e de ajudar a esco­ lher o melhor tratamento, é possível ainda acompanhar o tratamento e saber o quanto ele está sendo eficiente. “O PET/CT tem 95% das indicações clínicas em oncologia, mas para determinados tipos de câncer que têm um metabolismo maior e que permitem a localização da doença. Como plano para o futuro, a nossa ideia é de inovação em diag­ nóstico, desenvolvendo as áreas de neurolo­ gia e de cardiologia”, projeta Grossman. Do ponto de vista de tecnologias e de investimentos para o futuro, existe o plano de trocar uma das gama câmaras convencionais por uma câmara associada a um tomógrafo, um equipamento híbrido, o SPECT/CT. “Ele une a imagem funcional, que é uma imagem de medicina nuclear, com a imagem do CT, que dá a localiza­ ção anatômica do que estamos avaliando funcionalmente”, explica Grossman.


O Hospital Moinhos de Vento está preparado para o atendimento de urgência a casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), com neurologista disponível 24 horas, sete dias por semana, na emergência. Além de atender seus pacientes, presta assistência a outros hospitais via telemedicina. “Dentro da emergência está instalado um sistema de videoconferência, através do qual o médico do hospital recebe a ligação de um médico do Hospital de Viamão, por exemplo, que nesse momento é o primeiro que está filiado a nós. O profissional examina o paciente com uma câmera de alta resolução, olha a tomografia que foi feita no outro hospital e discute com o outro médico se o paciente pode receber o tratamento para o AVC ou não”, explica Sheila Martins, médica neurologista e chefe do Serviço Médico de Neurologia e Neurocirurgia. O tratamento consiste em uma medicação na veia, que desentope a circulação e faz com que a chance do paciente de ficar sem sequela alguma au-

mente muito. “É necessário um especialista para o atendimento. Ele precisa ter experiência em ver a tomografia e em usar a medicação, para que o paciente tenha benefício e não tenha complicações. A telemedicina vem crescendo muito no Brasil e faltam neurologistas para prestar esse atendimento”, complementa Sheila. A intenção é aumentar progressivamente o número de hospitais filiados, pois um mesmo neurologista pode atender a vários. “Nossa expectativa é aumentar rapidamente, nos próximos meses, para pelo menos cinco hospitais filiados, e para o próximo ano pelo menos mais cinco ou 10”, projeta a médica. O hospital é um dos grandes apoiadores de uma campanha internacional que acontece em outubro a Campanha Mundial do AVC. “Infelizmente, muitas pessoas ainda não sabem o que é o AVC, não sabem reconhecer os sinais, nem o que fazer quando ele acontece. É importante que saibam que a doença tem tratamento se o paciente

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Assistência a distância com a telemedicina

Sheila afirma que a área vem crescendo e faltam neurologistas

chegar rápido a um hospital que está preparado para atendimento”, explica Sheila. No Brasil, a médica é responsável pela organização da campanha que

acontece em todos os estados. O tema da campanha deste ano é focado na mulher: a proporção de incidência do AVC para as mulheres é de 1 em 5. “Elas têm

fatores de risco especiais, como o uso de anticoncepcional, o parto, o período logo após o parto e a terapia de reposição hormonal”, afirma.

criada no início de 2014. A ideia é ampliar essa unidade para ter mais leitos e, eventualmente, concentrar em uma unidade de internação hospitalar os leitos da cardiologia. “É importante salientar que o hospital tem atendimento de urgência para infarto do miocárdio disponível 24 horas por dia”, complementa Carlos Delmar Ferreira, médico cardiologista e coordenador da Emergência Cardiológica. Outro aspecto importante em relação ao qual o hospital está avançando são os procedimentos de intervenção. “O hospital dispõe de quase tudo que é feito de melhor em cardiologia. Existe uma proposta de se construir uma sala híbrida”, complementa Carisi. O médico cardiologista e coordenador do Laboratório de Angiografia Cardiovascular do hospital, Marco Wainstein, destaca uma novidade em procedimentos, que deve começar a ser realizada até dezembro deste ano. “A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acabou de liberar no Brasil o stent (prótese coronária) absor-

vível − ao cabo de 12 meses ele desaparece completamente. É indicado para cerca de 20% dos pacientes que colocam stent”, afirma Wainstein. A superintendente destaca a parceria do hospital com a Johns Hopkins Medicine International. “Nos aproximamos do Serviço de Cardiologia da Johns Hopkins Hospital, considerado um dos melhores dos Estados Unidos. Até o presente, visitamos a Unidade em Baltimore e realizamos videoconferências para debater novidades na área. Esta integração deve ser ampliada ao longo de 2015, com troca de experiências, discussão de casos e treinamento de pessoal.” Em termos de investimento, o laboratório está adquirindo mais um aparelho para fazer ecocardiografia diferenciada, tridimensional, com melhor resolução de imagem, que deve chegar até o final de 2014. Na área acadêmica, foi submetido para aprovação do Ministério da Educação (MEC) um projeto para começar o programa de residência em cardiologia, no ano que vem.

Prioridade ao atendimento na Cardiologia seja facilmente identificado e prontamente tratado. Procuramos o máximo de rapidez e efetividade. Esse é, atualmente, o principal ponto de atenção do serviço”, explica Carisi Polan-

czyk, superintendente médica adjunta e chefe do Serviço Médico de Cardiologia da instituição. A estrutura da emergência já possui uma unidade cardiológica de atendimento, que foi

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O Serviço Médico de Cardiologia do hospital tem como meta organizar e ampliar a área de emergência e internação cardiológica. “Queremos que o paciente tenha acesso rápido,

Ferreira, Carisi e Wainstein fazem parte da equipe que coordena o Serviço


Superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento

Diferencial baseado na excelência médica e assistencial O crescimento econômico no Brasil nos últimos anos contribuiu para que Porto Alegre, capital com quase 1,5 milhão de habitantes, já registre mais cidadãos que contam com planos de saúde privados do que pessoas dependentes exclusivamente do Sistema Único de Saúde. Essa nova realidade apresenta grandes desafios para o segmento de saúde. Hospitais públicos e privados estão atingindo altos índices de ocupação em seus leitos, gerando uma necessidade crescente de expansão. É com esse cenário em vista e com a missão de cuidar de vidas com qualidade médico-assistencial e segurança para o paciente que o Hospital Moinhos de Vento tem se estruturado e vem trabalhando. Hoje somos

reconhecidos pela excelência de nosso modelo médico-assistencial e estamos em permanente qualificação, para ser a melhor opção hospitalar para os pacientes mais complexos. Em 2002, recebemos a certificação da Acreditação Internacional, da Joint Commission International (JCI), organização que atua na área em mais de 40 países, há 60 anos. O Hospital Moinhos de Vento foi o primeiro hospital gaúcho acreditado pela JCI, que oferece a certificação a organizações comprometidas com uma cultura de qualidade, segurança e processos que bem atendam aos pacientes. Desde então, temos conquistado a reacreditação, que é feita a cada três anos. Reconhecimentos como esse

nada mais são que resultados diretos de intensos esforços em favor da capacitação da equipe, da excelência da assistência prestada e dos investimentos em infraestrutura e equipamentos. Com esses cuidados, conquistamos um ambiente qualificado de trabalho, a disposição de nosso corpo médico e a satisfação de nossos pacientes. Para reforçar esses compromissos, em 2013, firmamos uma parceria pioneira com o Johns Hopkins Medicine International (de Baltimore, Estados Unidos). O objetivo foi instituir intercâmbios científicos, de pesquisas e de técnicas, oferecendo respaldo e apoio a nossos profissionais. Estamos no segundo ano de uma década de acordo, que promete ser extremamente profícua. A

qualidade médico-assistencial é sempre um foco; por isso, novas formas de bem atender a nossos pacientes são exploradas. Um exemplo é a possibilidade de se fazer um exame no Moinhos de Vento e solicitar uma segunda opinião junto a essa renomada instituição internacional. Essa parceria revela como nosso hospital tem trabalhado, como temos colocado em prática os princípios que nos guiam. Além do intercâmbio científico entre colaboradores e corpo clínico locais e de fora do País, o acordo desenvolve melhores protocolos médicos e assistenciais. Outro exemplo prático de nossos métodos de gestão e atenção é o Hospital Restinga e Extremo-Sul. Resultado de uma

parceria entre o governo federal, o governo do Rio Grande do Sul e a prefeitura de Porto Alegre, a unidade é administrada pelo Moinhos de Vento e atende a uma demanda de quase meio século de uma das regiões mais populosas da Capital gaúcha. Com objetivos bem definidos e muita disposição, o Hospital Moinhos de Vento se constitui como um dos principais centros de referência para tratamentos de alta complexidade. Mas sempre, e acima de tudo, buscando dar atenção especial ao bem-estar e à satisfação de pacientes, familiares, corpo clínico e demais envolvidos com a área da saúde. Um olhar humano, enfim, para quem tem como missão cuidar de pessoas e valorizar a vida.

Universidade do Novo México desenvolveram, nas equipes de saúde básica, as habilidades necessárias para o atendimento da população de áreas rurais remotas em doenças crônicas de difícil manejo, como o HIV, a hepatite C e o Diabetes Mellitus. Ao replicar o Projeto Echo em nosso Estado, esperamos colaborar com a capacitação dos profissionais da rede básica pública, resultando em melhoria direta na qualidade da assistência oferecida pelo sistema de saúde. Dentro do escopo da pesquisa, o Centro de Pesquisa Clínica do HSL-Pucrs também desenvolve iniciativa de colaboração com a Universidade do Novo México, em uma web plataforma para pesquisadores conhecida como Plataforma Vivo. Nela são compartilhadas as linhas de

estudo desenvolvidas em ambas as universidades, permitindo uma rápida e efetiva troca de experiências, que acelera mutuamente o desenvolvimento de novos projetos e a geração de conhecimentos. O cenário da saúde atual apresenta-se cada vez mais complexo e desafiador. Para o enfrentamento dessas demandas, são necessárias novas ideias e soluções capazes de atender às necessidades de uma sociedade globalizada. Encontrar tais ideias e desenvolver soluções faz parte da missão de um hospital universitário, como o HSL, e de outros tantos mundo afora. Trabalhar de forma colaborativa com outras instituições certamente acelera esse processo e promove mais rapidamente o desenvolvimento de nossa sociedade.

Assessor da Direção Técnica e Clínica do Hospital São Lucas da Pucrs

Instituição amplia horizontes A realidade de um mundo mais próximo e conectado faz-se presente em nosso dia a dia, permitindo interfaces entre pessoas e organizações nunca antes imagináveis. As mídias modernas, disponíveis em larga escala, são as responsáveis por esse encurtamento das distâncias entre os povos, possibilitando grande troca de informações, experiências e unindo instituições, outrora distantes, na busca por soluções comuns para desafios semelhantes. Nesse sentido, o Hospital São Lucas da Pucrs (HSL) vem buscando e encontrando parceiros pelo mundo com interesse em discutir projetos capazes de transformar o cenário da saúde em todos os âmbitos: assistência, ensino e pesquisa. Uma das iniciativas assistenciais das quais o HSL faz

parte é o Porto Alegre Health Care (PAHC). Juntamente com outros hospitais de excelência de Porto Alegre e apoiado pela Secretaria Municipal de Turismo e pela Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), o PAHC tem como objetivo posicionar Porto Alegre como referência internacional na assistência em saúde de alta complexidade. Algumas formas de tratamento médico disponíveis em nossa cidade não são encontradas no restante do Brasil, bem como em outros países da America Latina. Assim sendo, passamos a disponibilizar, para as comunidades nacional e internacional, acesso a tratamentos sofisticados aos que não dispõem desses recursos. Entre os primeiros resultados diretos do projeto,

destaca-se o fortalecimento da rede de assistência a pacientes do Uruguai, em especial, na área da cirurgia da epilepsia, na qual o HSL possui reconhecimento internacional e atende anualmente a um grande número de pacientes de outros estados e países vizinhos. No que se refere às ações em ensino, o HSL recentemente aderiu a um projeto de telessaúde, que visa a capacitar profissionais localizados em regiões remotas, onde o atendimento médico especializado é mais escasso. Essa iniciativa, conhecida como Projeto Echo, foi idealizada na Universidade do Novo México (Estados Unidos), instituição parceira da Pucrs, e deve ser implantada em nosso Estado nos próximos meses. Através da ferramenta, profissionais da saúde da

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A doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo. E deve seguir no topo do ranking pelos próximos anos. Essa é a avaliação de Paulo Caramori, chefe do Centro de Diagnóstico e Terapia Intervencionista do Hospital São Lucas da Pucrs (HSL), com base em dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “O que acontece é que a faixa etária de mortalidade é maior. Se antes o paciente morria aos 50 anos por problemas do coração, hoje isso acontece aos 80 anos. Tivemos avanços importantes, tecnológicos e científicos, que aprimoraram os tratamentos”, comenta. Mais experiência e tecnologia possibilitam salvar mais pessoas, especialmente em idade já avançada. Os cateteres permitem o acesso ao órgão e a correção do problema – que em muitos casos poderia tirar a vida do paciente – de maneira menos agressiva. “Quanto mais o tempo passa, as chances de estreitamento da válvula aórtica aumentam. A cirurgia é arriscada em pessoas de idade avançada. Os cateteres proporcionam um salto: podem ser aplicados

em pacientes que não suportariam uma cirurgia com resultados efetivos”, afirma Caramori. Para dar ainda mais segurança aos procedimentos, o São Lucas dispõe da mais moderna tecnologia para análise de placas de gordura dentro das artérias do coração. A Tomografia de Coerência Ótica, ou OCT (Optical Coherence Tomography), avalia mais de mil pontos simultaneamente dentro das artérias coronárias, permitindo a aquisição ultrarrápida de informações sobre a doença cardíaca de pacientes com angina e infarto agudo do miocárdio. O equipamento, disponível desde maio, permite a visualização precisa de obstruções que, em alguns casos, poderiam até não ser percebidas com as tecnologias anteriores. “Através de um cateter muito fino, podemos examinar o coração e as artérias. Comparada com outras tecnologias, o OCT tem uma precisão muito maior. É possível visualizar alterações com apenas 0,01 a 0,02 milímetros. Essa tecnologia permite uma imagem 100 vezes maior que o cateterismo cardíaco”, comenta. De acordo com Caramori,

MARCOS NAGELSTEIN/JC

Tecnologia a serviço da saúde

Caramori ressalta avanços científicos no aprimoramento dos tratamentos

a tecnologia está a serviço da saúde. O HLS investe em inovação e equipamentos de última geração, além de uma equipe

altamente qualificada. Tudo para poupar vidas e promover qualidade e bem-estar para as pessoas. Há quem ainda tenha

receio em relação à tecnologia, mas, sem dúvida, é uma grande aliada da medicina. O importante é o acesso”, observa.

GILSON OLIVEIRA/ASCOM/PUCRS/DIVULGAÇÃO/JC

Foco na cirurgia bariátrica

Segundo Mottin, Centro é formado por equipe multidisciplinar

Obesidade virou preocupação e a doença cresce e desafia a medicina. Os dados do Ministério da Saúde apontam que 50% da população brasileira está acima do peso. Diabetes, colesterol alto, câncer e doenças cardiovasculares, como hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca podem ser consequências disso. Uma das alternativas para o problema, quando grave, é a cirurgia bariátrica. O Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica (COM) do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) é referência na área pelo completo atendimento e qualidade dos serviços. O trabalho compreende avaliação, tratamento clínico, intervenção cirúrgica e acompanhamento multidisciplinar no pós-cirúrgico e colocação de balão intragástrico. A cirurgia bariátrica é uma intervenção que exige alta com-

plexidade. De acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o procedimento cresce no Brasil. O País é o segundo com mais cirurgias realizadas, com cerca de 80 mil procedimentos por ano, atrás apenas dos Estados Unidos, que realizam cerca de 140 mil cirurgias anualmente. O número de procedimentos cresceu 90% nos últimos cinco anos e 300% em dez anos. Os bons resultados são reflexo da excelência. O espaço é certificado como Centro de Excelência Internacional em Tratamento da Obesidade Grave pela Surgical Rewiew Corporation (SRC), dos Estados Unidos, que verifica protocolos operacionais, recursos físicos, estrutura de alta complexidade, número de cirurgias, baixo índice de complicações e mortalidade e o banco de dados dos pacientes operados. “Essa certificação reforça as exigências de suporte, estrutura, atendimento e equipe

qualificada para um centro especializado. E, a partir dela, temos auditorias constantes, ou seja, uma verificação periódica da qualidade”, comenta Claudio Mottin, diretor técnico e coordenador do COM. De acordo com o especialista, o pós-operatório da cirurgia bariátrica busca atingir um percentual de gordura bom para o organismo. “E mantê-lo baixo é um enorme desafio, já que envolve mudanças celulares”, reconhece. O Centro é formado por profissionais de diversas áreas, promovendo assistência completa ao paciente. “A cirurgia bariátrica representa 20% do resultado num tratamento da obesidade grave. Há inúmeras outras questões envolvidas e, por isso, a importância de uma equipe multidisciplinar bem preparada. Uma intervenção cirúrgica sem cuidado pós-operatório não existe. E, no caso dos nossos pacientes, esse acompanhamento médico é para sempre”, explica Mottin.


O Serviço de Radioterapia do Hospital São Lucas da Pucrs, acompanhando constante evolução tecnológica, incorpora novos equipamentos para qualificar o tratamento do câncer. Ainda em 2014, terá um acelerador linear de última geração voltado ao tratamento de tumores. O equipamento Trilogy, da empresa Varian, permite tratar e obter imagens em tempo real, com precisão milimétrica das áreas afetadas. Com esse aparelho, será possível utilizar a tecnologia conhecida como Rapid Arc, que diminui o tempo de cada tratamento, proporcionando mais conforto e menor possibilidade de alterar a posição do paciente no momento da aplicação. Durante as sessões de radioterapia, são realizados movimentos rotatórios em arcos dinâmicos, tendo o tumor como alvo do tratamento. “O foco e a precisão permitem o uso de doses mais elevadas de radiação nos tumores com menor efeito e complicação aos órgãos e tecidos saudáveis”, comenta o radioterapeuta Aroldo Braga Filho, chefe do Serviço de Radioterapia.

A aquisição do Trilogy, realizada com verba do Ministério da Saúde, é resultado do projeto de Braga Filho. Afinal, um dos focos importantes do serviço de radioterapia é o tratamento do câncer de pulmão usando a técnica da radiocirurgia estereotáxica extracraniana (SBRT), indicada para pacientes que não podem ser submetidos à cirurgia. “Podemos, com auxílio da tecnologia de ponta, tratar tumores brônquios em três ou quatro dias com doses não convencionais, permitindo altas taxas de controle local, equiparável às obtidas pela cirurgia. Essa técnica só é possível de ser executada graças à Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT) e ao Respiratory Gating, que é a sincronização da radiação com os movimentos respiratórios. É um ‘rastreamento’ do tumor. Só há liberação da radiação quando o tumor está numa posição determinada”, detalha. Utilizando alta tecnologia, o Trilogy também pode ser utilizado para tratar outras doenças. Entre as mais frequentes estão o câncer de mama, os linfomas e tumores

MARCOS NAGELSTEIN/JC

Novos equipamentos para tratamento de tumores

Foco e precisão permitem o uso de doses mais elevadas de radiação, explica Braga Filho

ginecológicos, urológicos, de cabeça e pescoço. “Queremos estender essa possibilidade terapêutica para pessoas que não teriam alternativas de tratamento a não ser a radiocirurgia”, destaca Braga Filho.

O HLS já conta, desde 2012, com outro acelerador linear, o Clinac iX, que possibilita a utilização da técnica de Radioterapia com Intensidade Modulada (IMRT) e Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT). “Ali já

tínhamos dado um passo importante do ponto de vista tecnológico. Hoje, com o Clinac iX e o Trilogy, o Serviço de Radioterapia do HSL fica em condições de igual com os grandes centros do Brasil e do exterior”, afirma.

700 mil convivem com crises incontroláveis, em que nem a medicação resolve. “É possível que 350 mil pessoas tenham grande chance de ter sucesso com a cirurgia, que corresponde à metade destes pacientes que têm a qualidade de vida bem comprometida pelas reações. Em 70% dos casos, a cirurgia é capaz de curar o paciente”, explica Eliseu Paglioli Neto, neurocirurgião que coordena o programa ao lado do neurologista André Palmini. Já foram atendidas pela equipe do HSL pessoas de todo o Brasil e de países como Portugal, Chile, Paraguai, Uruguai, Honduras e Estados Unidos. É o centro pioneiro dedicado a esse tipo de operação na região Sul, referência no País e na América Latina, sendo reconhecido pelo Ministério da Saúde como Centro de Excelência. Cerca de cinco mil investigações foram realizadas, inclusive em pacientes encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os resultados positivos do programa fazem com que o HSL seja referência entre os pacientes. “Os relatos de sucesso motivam que pessoas de

longe busquem a ajuda de nossa equipe, especialmente em comunidades menores”, comenta. Para pensar em cirurgia, de acordo com Palmini, a epilepsia deve ser difícil de controlar com medicação, e a manifestação clínica deve sugerir início em uma área localizada do cérebro. Essas características ficam evidenciadas por eletroencefalograma localizado que registra a crise, e pela ressonâcia magnética que mostra as alterações no cérebro e o fluxo sanguíneo cerebral. A evolução dos exames nos últimos dois anos, realizados em parceria com o Instituto do Cérebro, tem ajudado nas investigações. O destaque é o exame de fluxo sanguíneo cerebral, o Siscom, que localiza a área de início da crise. “Quando o paciente está em crise, é injetada substância que se distribui no sangue durante os primeiros segundos das reações. Isso ajuda a localizar onde começa a crise. Com o exame, somado à imagem da ressonância magnética, temos informações mais completas”, explica Paglioli Neto.

Programa melhora qualidade de vida de epiléticos imprevisíveis. A epilepsia não é uma doença, mas uma manifestação de disfunção no cérebro. O epiléptico apresenta um grupo de neurônios hiperexcitados que transmite impulsos elétri-

cos, podendo propagar-se para diferentes áreas do cérebro. As manifestações são diversas, mas a mais conhecida é a convulsão. No Brasil, dois milhões de pessoas têm epilepsia, das quais

MARCOS NAGELSTEIN/JC

O Programa de Cirurgia de Epilepsia do Hospital São Lucas da Pucrs (HSL) é responsável por melhorar a qualidade de vida de pacientes que sofrem com crises convulsivas e quedas

Paglioli Neto e Palmini comemoram sucesso do programa


Mais do que evolução da tecnologia e conhecimentos científicos, lidar com vidas exige um dom especial, o carisma. No Hospital Divina Providência, em Porto Alegre, isso se traduz num atendimento diferenciado e conduz o trabalho realizado pela instituição hospitalar guiada pela Congregação das Irmãs da Divina Providência, presentes no mundo. A congregação, fundada pelo Padre Eduardo Michelis, em 1842, na cidade de Münster, na Alemanha, leva adiante soluções que possam melhorar a vida das pessoas. Hoje, está presente em quatro continentes, Ásia, África, América e Europa. “Estamos atentas às necessidades do nosso tempo e em busca de respostas concretas. Sempre que existe uma necessidade ou um sofrimento, estaremos lá para apoiar”, afirma Maria Eloní Coczenski, que desde maio está à frente da instituição como diretora-geral. As irmãs missionárias levam o bem através de inúmeras ações solidárias em diversos países. Em Moçambique, na África Central, onde a população enfrenta a miséria, as Irmãs da Divina Providência estão presentes em projetos voltados para a educação. Promovem que crianças e adolescentes tenham acesso a aprendizados importantes e básicos para a vida, como cuidar da casa e da família, incentivo para o estudo,

orientações sobre saúde. Em Porto Alegre, o trabalho no hospital é uma resposta das irmãs ao chamado de Dom Vicente Scherer, então Arcebispo de Porto Alegre, na década de 1960, para contribuir com a realidade precária da saúde da população dos bairros Cascata e Glória. Um hospital até hoje humanitário, que traz em seu dia a dia os princípios cristãos, e incentiva em sua comunidade a espiritualidade. Atualmente, o Divina Providência dispõe de 165 leitos de internação, 12 leitos na emergência, 16 leitos na CTI e 14 leitos na CTI neonatal, além de atender com excelência diversas especialidades, como oncologia, cirurgia da obesidade, nefrologia, psiquiatria, reumatologia, pneumologia, traumatologia, acupuntura, cardiologia, clínica médica, ginecologia e obstetrícia e neurologia. Os 1,2 mil funcionários do hospital colocam em prática, inspirados pela essência da congregação e pelo carisma das irmãs, os valores e os princípios da instituição de saúde: humanização, ética, fé cristã, organização, responsabilidade social, responsabilidade ecológica, socialização do conhecimento e solidariedade. “Formamos uma corrente do bem. Todos são essenciais neste processo. Cuidar bem é um compromisso que assumimos diariamente”, garante a irmã Maria Eloní.

HOSPITAL DIVINA PROVIDÊNCIA/DIVULGAÇÃO/JC

Cuidar de pessoas é uma vocação

Desde maio, a irmã Maria Eloní Coczenski está à frente da instituição como diretora-geral

A solidão parece ser um dos problemas do mundo contemporâneo. Por isso, um atendimento humanizado, que demonstra envolvimento e preocupação, é um diferencial no universo da saúde. “A cura passa pelo coração, pela conversa, pelo olhar sincero dos médicos e dos técnicos para o paciente. Nosso trabalho é formar pessoas que levem o carisma adiante. Os médicos são importantes parceiros em nossas causas. Eles colocam o carisma próprio, que acredito seja um dom, a serviço da instituição de saúde. E isso faz do nosso atendimento tão especial”, reconhece. Para Maria Eloní, é preciso acompanhar a rápida evolução da medicina, cada vez mais tecnoló-

gica e avançada, mas sem perder a essência da relação médico e paciente. “Um dos nossos grandes desafios é manter os valores – que é estar perto das pessoas – num mundo em evolução, dinâmico, que muda o tempo todo. As pessoas precisam atualizar-se, acompanhar a tecnologia. No entanto, as máquinas não podem distanciar o médico das pessoas. Somos reféns do tempo. Parece que falta tempo para se envolver e também para se deixar cuidar, e isso faz toda a diferença”, comenta. Em um hospital gerido por valores cristãos, a espiritualidade faz parte da rotina. Na capela, localizada dentro do complexo, são realizadas missas semanais para pacientes, visitantes e comunidade.

Além disso, a equipe da Pastoral da Saúde, um grupo multidisciplinar que circula pelo hospital, acolhe as famílias e faz o acompanhamento durante o período de internação ou tratamento, mas especialmente em momentos de aflição e perda. “Temos o cuidado espiritual para quem quer e precisa. É importante levar palavras de conforto e, talvez ainda mais importante, colocar-se disponível para ouvir”, explica. “Aproveito esse momento de partilha para agradecer a todas as irmãs e funcionários que se dedicam à Área da Saúde, e ao Deus Providente, que está sempre conosco. Conforme o nosso fundador, Pe. Eduardo Michelis, ‘O trabalho conjunto gera uma força indestrutível’”, diz.

ações de promoção, proteção e recuperação da saúde de toda a família de forma integral, do recém-nascido ao idoso.

Além disso, a instituição promove outras ações comunitárias, em parceria com ONGs e prefeituras, que incentivam

a busca por terapias alternativas e orientam sobre inúmeros assuntos, como prevenção do câncer, higiene, saúde bucal, aids e doenças sexualmente transmissíveis. Há projetos sociais em Canoas, Alvorada, Viamão e na Vila Tronco, em Porto Alegre. Mais de 11,5 mil famílias foram atendidas, entre fevereiro e maio de 2014, nas comunidades via Central Única das Favelas (Cufa) em todo o Brasil, iniciativa que também tem apoio das irmãs. “É um trabalho importante para tirar as pessoas do mundo das drogas e orientá-las para uma vida saudável. Uma combinação de educação e saúde que também leva adiante nosso carisma e nossa preocupação com a valorização da vida”, explica.

Além das portas do hospital politana. Através do Programa Saúde da Família, da Prefeitura Municipal da Capital, fortalece a atenção básica à saúde. São feitas

HOSPITAL DIVINA PROVIDÊNCIA/DIVULGAÇÃO/JC

A Congregação das Irmãs da Divina Providência realiza inúmeras ações com a comunidade de Porto Alegre e Região Metro-

Congregação realiza ações com comunidades da Capital e Região Metropolitana


O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) será, em breve, um moderno complexo hospitalar. As obras de expansão, que devem terminar em 2017, trarão melhorias importantes para o atendimento integral à saúde das pessoas. “A ampliação é indispensável, pois, há muito tempo, o hospital opera além do limite de sua capacidade física. Vamos somar esforços para qualificar os serviços de saúde no Rio Grande do Sul”, afirma Amarilio Vieira de Macedo Neto, presidente do Hospital de Clínicas. O novo complexo hospitalar permitirá a reorganização de diversas áreas e do fluxo de pacientes, auxiliando na diminuição das filas de espera do Serviço Único de Saúde (SUS). A emergência, que atualmente tem cerca de 1,7 mil m2, ficará com mais de 5 mil m2, podendo oferecer melhores condições de acolhimento aos pacientes. A área passará por um redesenho conceitual, com os pacientes sendo alocados em espaços específicos

de acordo com o grau de risco. Já o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) passará de 54 para 110 leitos. Com os novos prédios, haverá liberação de áreas no edifício principal, proporcionando a instalação de mais 155 leitos de internação. A Hemodinâmica terá mais uma sala, totalizando quatro espaços; a recuperação pós-anestésica, que hoje conta com 22 leitos, terá 90 leitos e 60 poltronas de recuperação; a diálise passará das 19 poltronas para 34 leitos para adultos e 2 pediátricos; o hospital-dia, que hoje tem 6 poltronas, terá 16 leitos adultos e 4 pediátricos; e a endoscopia dobrará a capacidade de 5 para 10 leitos. O HCPA terá novos espaços para estacionamento, totalizando, nos dois anexos, 722 novas vagas para automóveis. Serão planejados, ainda, novos bicicletários. Por ser um hospital universitário vinculado academicamente à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), terá ampliação dos espaços dedicados ao

COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO HCPA/DIVULGAÇÃO/JC

Obras de expansão devem ser finalizadas em 2017

Emergência, Centro de Tratamento Intensivo e Hemodinâmica receberão investimentos

ensino e à pesquisa. O HCPA é o primeiro do Brasil e o terceiro na América do Sul a possuir o selo de acreditação pela Joint Comission International (JCI), concedido a hospitais que são também centros médicos acadêmicos. As demais instituições brasileiras são

certificadas apenas como hospitais gerais. Na prática, isso significa que os usuários poderão contar com um hospital que segue padrões internacionais de qualidade e segurança, além de ser reconhecido pela excelência na pesquisa e educação médica.

Durante as obras, o atendimento segue normal ao longo de todo o período. “É uma nova etapa de um processo que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos anos e que culminará com a ampliação do HCPA em mais de 70%”, comemora Neto.

Mais importante reforma em 70 anos “O HPS não está sendo apenas reformado. Está se transformando num hospital cada vez mais moderno e eficiente, como exigem os padrões atuais de medicina de urgência e a demanda que não para de crescer”, salienta Carlos

Henrique Casartelli, secretário Municipal de Saúde. O desafio é cumprir o cronograma com o hospital em funcionamento. De acordo com Elizabeth Collares, diretora do HPS, a instituição realiza mais de

MARCO QUINTANA/JC

O Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, referência em atendimentos de trauma em toda região sul do País, prepara-se para um novo momento. Com 70 anos de história, vive a maior reforma desde sua inauguração.

Berwanger e Elizabeth ressaltam novidades para novo momento da instituição

800 atendimentos por dia, quando somadas todas as especialidades. A modernização do setor de emergência, que está entre os principais atendimentos do HPS, já tem 90% das obras concluídas e deve ser finalizada na primeira quinzena de dezembro. A área foi totalmente redimensionada, com equipamentos de última geração e ambientes que permitem mais agilidade e qualidade nos procedimentos. A emergência, que ocupa o primeiro pavimento e parte do segundo, manteve as operações mesmo com as obras em andamento. “Esse foi um enorme desafio. Não seria possível simplesmente fechar a emergência da principal unidade para pacientes de trauma grave da cidade. Além do atendimento aos pacientes de Porto Alegre, o HPS recebe também pessoas do interior do Estado todos os dias”, comenta Elizabeth. No novo bloco cirúrgico, as obras já estão 70% prontas e deverão ser encerradas em novembro, podendo ocorrer atrasos caso aumente a demanda de cirurgias,

que também continuam sendo agendadas. “Agora o que falta são apenas detalhes. Estas unidades, que não pararam nenhum dia durante as obras, já operam com mais capacidade e qualidade”, aponta Elizabeth. Além disso, já estão prontas e em operação a nova sala de recuperação e a sala para coleta e transfusão de sangue. O novo tomógrafo, que exigiu um ambiente especialmente projetado, passou por uma etapa de testes e já está em pleno funcionamento. Para Carlos Berwanger, diretor técnico do HPS, o hospital está numa mudança importante do fluxo de atendimento. Afinal, não é possível uma expansão significativa da área. “Qualificando nossos serviços, poderemos atender de maneira mais eficiente e rápida e, consequentemente, receber mais gente”, constata. No total, a modernização do HPS, que inclui reformas em todos os pavimentos, terá recebido um investimento de R$ 57 milhões, o maior de sua história e tem previsão de término no início de 2018.


Médico e presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers)

Voto na saúde A cada eleição o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) leva aos candidatos a postos no Executivo propostas para melhorar a saúde. Soluções que não incluem trazer médico do Exterior, tirar coelho da cartola ou inventar moda. O Sistema Único da Saúde (SUS) necessita de mais investimento e urgentemente. Fizemos um grande movimento - Simers, Abrasus, OAB, Ajuris e outras organizações, pelo Saúde +10, para que a União direcione, em vez de 4% da receita corrente bruta, 10% à saúde. Enquanto isso, destina-se 42% da receita para pagar juros a bancos e amortizar a dívida pública, o que é um ultraje. Temos um dos menores valores para a saúde do planeta! O Congresso Nacional aprecia o projeto do Saúde +10, que tramita na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania. Infelizmente, enquanto se espera a decisão do Legislativo, nada ocorre para

colher o clamor da população por mais verbas. O orçamento não sofre ampliação, deixando clara a mensagem: “não vamos botar mais dinheiro na saúde”. Essa é a política, o resto é conversa, como trazer médico de fora. Adianta médico que ao solicitar hemograma ou raio-x de um paciente não tem como fazer o exame? Outro tema é a luta contra a atual epidemia de crack, tragédia nacional que não reconhece classe social e virou ruína de milhares de famílias. Mesmo diante desse caos, os governos continuam a fechar hospitais psiquiátricos. Em nosso Estado se reza a mesma cartilha ao adotar a política antimanicomial, deixando doentes na rua, sob marquises, em vez de abrigá-los em unidades especializadas para desintoxicação. Temos um hospital que foi referência na América Latina. Governos recentes tentaram vender o imóvel onde fica o São

Pedro, situado em uma área de grande valor imobiliário. O São Pedro é um hospital escola, com excelente ensino e atendimento, mas os governos são incapazes de dar uma mão de tinta no prédio, preferindo passar a imagem de masmorra e de que deve ser desativado. Defendemos que se recupere o hospital, impedindo que leitos sejam fechados, o que ocorre desde 1993. Os gestores públicos em todos os níveis o mesmo com o Hospital Espírita, hoje com menos da metade das suas vagas abertas a pacientes. O Espírita só não foi desativado porque a comunidade se mobilizou. Chega desse preconceito com o doente mental, praticado por gestores que costumam condenar outros atos de discriminação. Temos alertado que o Mais Médicos não é solução para ter médicos no Interior, pois o que precisa é vontade política e decisão de investir. A solução é a

criação da carreira para médico. Prefeituras insistem em oferecer emprego aos profissionais, mas são contratos emergenciais de até dois anos. O médico que aceita só tem uma certeza: estará desempregado após esse prazo. A comunidade reclama, mas quem pode mudar a ordem dessas coisas são os governantes. Todos! A carreira médica seguirá os moldes da de juiz, promotor e defensor público, onde entra-se por concurso público. O juiz quando assume seu posto não escolhe lugar, encara estradas ruins, dificuldades de toda sorte, faz seu trabalho, tem remuneração digna e plano de carreira. Pode ser transferido a centros maiores, mas muitos, a exemplo de milhares de médicos, preferem se estabelecer em pequenas e médias localidades. A carreira médica específica resolve o problema. A farsa do Mais Médicos, não. Temos um suposto médico dispensado de

revalidar o diploma no Brasil, mas que serve para atender a população pobre, pois aí pode ser qualquer um. O intercambista, como são chamados os que vêm do estrangeiro, só não pode atender rico, convênio ou hospital. Discriminação? Com quem? Do exército de Mais Médicos que veio ao Estado, 10% ficaram em Porto Alegre. Não era para resolver principalmente falta de médico no Interior? Multiplicam-se relatos onde estão os intercambistas de que a demanda nas emergências cresceu. Não era para reduzir? Nas localidades os intercambistas pegam na mão, olham no olho do paciente, mas se ele estiver doente enviam à emergência do hospital. A população pode ajudar e muito para acabar com a irresponsabilidade no cuidado a usuário de drogas e doentes mentais e a desordem em que se transformou a assistência no Estado e no País. Vote a favor da saúde!


O desafio do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) é tornar-se, nos próximos 10 anos, a mais qualificada instituição pública de saúde do Brasil. Para alcançar esse objetivo, segundo o diretor-superintendente, Carlos Eduardo Nery Paes, é necessário planejar o futuro e estar atento a novas tecnologias, no campo científico e administrativo, e integrá-las permanentemente ao Sistema Único de Saúde (SUS). Algumas iniciativas importantes já estão em curso. Além do projeto para construir um centro de oncologia com serviços de radioterapia, garantindo a ampliação em cerca de 30% do atendimento de casos de câncer, a instituição concluiu as obras do novo prédio administrativo. Adquiriu, ainda, a sede do Banrisul em frente ao Hospital Conceição, onde funcionará a central de logística, com oficinas, setores de manutenção e um almoxarifado central para todas as suas 20 unidades. “Também as áreas assistenciais passam por revisão de

seus processos, com a finalidade de reduzir tempos de atendimento, como de espera para exames, internações e cirurgias. É essencial a ampliação da estrutura regional de saúde, e o GHC contribui com os gestores para isso”, avalia Paes. O GHC iniciará a construção de um prédio para apoio diagnóstico, com objetivo de ampliar a área cirúrgica e de UTI, além de instalar um novo hospital materno-infantil e para adolescentes, substituindo o atual, que terá suas áreas reformadas. A construção das três unidades de saúde também são investimentos importantes. De acordo com o superintendente, o GHC busca qualificar sua estrutura de ensino, ampliando cursos e instalando novas estruturas de apoio a programas prioritários do Ministério da Saúde, como a formação médica na graduação e a formação de especialistas com presença em todo o País. “Monitorar o planejamento estratégico é tão importante quanto projetar o futuro. Mais uma vez, o GHC inovou ao adotar e aprimo-

BANCO DE IMAGEM GHC/DIVULGAÇÃO/JC

O desafio é crescer

Instituição planeja se tornar a mais qualificada entre as de saúde pública do Brasil

rar um instrumento de controle, acompanhamento e avaliação criado pelo Ministério da Saúde, que permite apoiar a execução das ações e a tomada de decisões. Utiliza recursos que ampliam a transparência e reduzem custos”, explica o diretor.

Paes ressalta ainda que, para prestar um atendimento em saúde de maneira eficiente, é necessário estar em consonância com as mudanças sociais e demográficas do País e sincronizado com a rede municipal e estadual de saúde. “São questões presentes na relação

do GHC com o Ministério da Saúde e os gestores, visando a garantir que os recursos financeiros, a organização das áreas e a logística de elaboração de projetos ocorram a partir das necessidades e das especificidades dos serviços que são oferecidos à população.”

Inovação e reforço na tradição em ensino fundação, ele avança nas áreas de ensino e pesquisa. O HED foi o primeiro hospital privado do Rio Grande do Sul a contar com Residência Médica, em 1962 e, desde então, formou 580 médicos. “Temos 10 programas de

residência, nas especialidades de anestesiologia, cancerologia clínica, cirurgia geral, cirurgia plástica, clínica médica, coloproctologia, ginecologia e obstetrícia, medicina intensiva, neurocirurgia, e radiologia e

MARCOS NAGELSTEIN/JC

Nas palavras do superintendente-médico do Hospital Ernesto Dornelles (HED), Ricardo Oronoz Guterres, “os fundadores do hospital devem estar contentes de onde estiverem.” Vocacionado para o ensino desde a sua

Os médicos Airton Bagatini, Oscar Leite e o superintendente-médico, Ricardo Guterres

diagnóstico por imagem”, explica Oscar Leite, gestor da residência médica. “A procura tem sido muito boa, temos em torno de 800 candidatos para cerca de 30 vagas por ano. E temos projetos de expansão para outras áreas, como traumatologia, ortopedia e gastroenterologia”, complementa. Outro projeto pioneiro do HED é a utilização da tecnologia de simulação no treinamento em videolaparoscopia, especialidade de técnica cirúrgica. O projeto está sendo realizado em parceria com o Instituto de Educação e Simulação em Saúde (Simutec), capacitando residentes em cirurgia geral e coloproctologia. Na prática, o software especial treina o cirurgião como um simulador de voo serve para treinar pilotos, simulando os procedimentos cirúrgicos em três dimensões. A tecnologia de treinamento em realidade virtual propicia, também, diversos graus de dificuldades e situações que possam ocorrer nas cirurgias. “Começamos em agosto o nosso projeto piloto, contemplando

12 residentes. No ano que vem, pretendemos contemplar todos os residentes de áreas cirúrgicas com esse treinamento de videolaproscopia”, explica Leite. Uma parceria promovida pela Comissão de Ensino do HED, vinculada ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Assistencial (CPDA), oferece, ainda, uma oportunidade de pós-graduação aos seus colaboradores. Recentemente, o hospital firmou parceria com o Centro Educacional São Camilo para oferecer o MBA In Company em Gestão Hospitalar. São 30 alunos, tanto da parte administrativa quanto da assistencial. De acordo com o coordenador do Centro Cirúrgico e do CPDA, Airton Bagatini, o hospital está trabalhando, também, para ter escolas técnicas, e a primeira deve ser a de enfermagem. “Vemos que temos o laboratório e o corpo capacitado para ensinar, então podemos criar nossa propria escola, ter os profissionais formados aqui dentro, com a nossa cultura, e depois absorver esses profissionais”, argumenta.


O Hospital Ana Nery, de Santa Cruz do Sul, referência em oncologia, recentemente também passou a ser destaque pela qualidade do centro cirúrgico. A cada ano, os procedimentos aumentam, atraindo pacientes de outras localidades, inclusive de fora do Rio Grande do Sul. São realizadas 600 cirurgias por mês, atendendo diversas especialidades médicas, especialmente nas áreas oncológica e de cirurgia plástica. O centro cirúrgico tem sete salas e uma ampla central de material e esterilização. Ali, os procedimentos seguem protocolos para garantir eficácia e eficiência na esterilização. Outro destaque é o espaço de recuperação individual, projetado para puérperas

(pós-cesariana), o que proporciona a permanência do bebê e do acompanhante junto à mãe. O Ana Ney oferece, ainda, estrutura diferenciada de hotelaria, com Wi-fi disponível, quartos semi-privativos e privativos equipados com televisão a cabo e ar-condicionando. As acomodações privativas têm frigobar, telefone e, em breve, forno de micro-ondas. De acordo com o diretor executivo, Lídio Rauber, a instituição possui um centro cirúrgico preparado, com materiais e instrumentais adequados, equipe de enfermagem qualificada, quartos confortáveis e médicos especializados. São mais de 150 profissionais, entre cirurgiões e anestesis-

tas, de diferentes especialidades médicas, muitos com experiências no exterior ou em grandes centros do Brasil. “Seguimos as orientações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde, como pulseira de identificação com dados impressos dos pacientes, check-list na admissão do centro cirúrgico e na entrada da sala cirúrgica”, detalha. Os esforços e investimentos resultam em satisfação dos pacientes e do corpo clínico. O atendimento é um dos itens de maior destaque, sempre cordial e atencioso. Afinal, esse é um dos objetivos estratégicos do hospital, ser reconhecido pela excelência na prestação de serviços de saúde no Interior do Estado.

JUNIO NUNES/DIVULGAÇÃO/JC

Ana Nery privilegia a qualidade do centro cirúrgico

Por mês são realizadas em torno de 600 cirurgias no local

HOSPITAL DE CARIDADE IJUI/DIVULGAÇÃO/JC

Hospital de Caridade de Ijuí será hospital escola

Médicos residentes já estão incorporados à rotina do hospital

O Hospital de Caridade de Ijuí (HCI) entra numa nova fase. A recente decisão do Ministério da Educação (MEC), que liberou a criação de quatro novos cursos de Medicina no Interior do Rio Grande do Sul - sendo um deles na cidade de Ijuí -, abre ao HCI a oportunidade de credenciar-se como um hospital escola. Um importante passo para o hospital e para a cidade. Para que um município esteja apto a receber uma graduação em Medicina, o MEC exige um hospital escola ou unidade hospitalar com potencial para o ensino da profissão. Os técnicos do ministério estiveram no HCI, em maio, para

analisar a estrutura hospitalar, com especial atenção aos equipamentos de saúde, ao número de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) e aos possíveis programas de residência médica. A partir da entrega da documentação ao Ministério, está prevista para dezembro a solicitação de credenciamento do HCI como hospital escola. O primeiro vestibular para o curso de Medicina deve acontecer no final de 2015, e as aulas da faculdade, no ano seguinte. Há três anos, a instituição tem a experiência de residência médica, com três especializações, clínica médica, cirurgia geral e, mais recentemente, radiologia e

diagnóstico por imagem. Atualmente, o corpo clínico conta com 183 médicos, todos especialistas. “Estamos nos preparando para o futuro, com tecnologia avançada, sem esquecer da importância do médico, para que tenhamos cada vez mais um hospital moderno e resolutivo”, avalia Claudio Matte Martins, presidente do HCI. Em 2014, o HCI completa 79 anos, consolidado como referência macrorregional nos serviços de alta complexidade, para mais de 120 municípios. Somente no ano de 2013, o complexo hospitalar fez pelo SUS mais de 236 mil atendimentos e cerca de 83 mil de outros convênios.

O Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, é referência em Medicina e saúde de alta complexidade. Atualmente, possui 631 leitos para atender uma população superior a dois milhões de pessoas, provenientes da região Norte e missioneira do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina. No ano passado, contabilizou 32,3 mil pacientes internados de 400 municípios e destaca-se nas áreas cardiovascular, neurocirurgia, oncologia com radioterapia, traumato-ortopedia, nefrologia, terapia nutricional e transplantes (córnea, fígado, rim e tecido ósseo). A estrutura conta com três mil funcionários e mais de 700

médicos, e mantém o único Banco de Tecidos Musculoesquelético da região Sul do País, inaugurado há dois anos. O Banco, desde então, dá mais agilidade ao processo de captação e transplante de córneas. A instituição é referência também no atendimento de gestantes de alto risco. No ano passado, nasceram 2.991 bebês no HSVP, o que evidencia a competência da equipe, a qualidade da infraestrutura do Centro Obstétrico, da maternidade, do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) pediátrico neonatal e do ambulatório dos primeiros passos do prematuro. A mais avançada tecnologia para tomossíntese está disponível para o diagnóstico preciso do câncer de

mama. Modernos equipamentos, como o tomógrafo e a ressonância magnética, qualificam ainda mais a instituição em diagnóstico por imagem. Além do Centro de Imagem da Mama, o Centro de Diagnóstico oferece inúmeros exames e serviços, como Medicina Nuclear e Ultrassonografia. O HSVP é parceiro da Universidade de Passo Fundo (UPF) e conveniado com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), recebendo alunos da Medicina, desenvolvendo programas de residência médica, e, através do Programa Nacional de Bolsas para Residência Multiprofissional, atua nos programas de Atenção ao Câncer e Saúde do Idoso.

HSVP/DIVULGAÇÃO/JC

Hospital São Vicente de Paulo apresenta soluções de saúde

No ano passado, foram internados pacientes de 400 municípios


Os 90 anos de fundação do Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, lembrados no dia 20 de setembro, foram comemorados com a execução de obras de ampliação, que já estão à disposição da comunidade. Uma das etapas concluídas é a ampliação do prédio B, que passou a contar com oito novos quartos. Os espaços são destinados aos usuários do Plano de Saúde Tacchimed e outros convênios atendidos pelo hospital. Na obra, foram investidos R$ 750 mil. O Tacchini entregou, ainda em julho, as novas instalações das UTIs pediátrica e neonatal, que receberam investimentos de R$ 200 mil. Assim, foi possível ampliar o número de leitos, passando de 10 para 19, sendo 10

na UTI Neonatal e nove na ala Pediátrica. O superintendente-geral do hospital, Armando Piletti, lembra que a instituição é a única no Interior a dispor de uma estrutura diferenciada no atendimento às crianças com até 28 dias de vida e, também, àquelas com até 12 anos. Foram investidos, ainda, R$ 790 mil na aquisição de novos equipamentos para a UTI Pediátrica. Deste total, R$ 263 mil foram recursos próprios do Hospital Tacchini e R$ 527 mil partiram do governo do Estado. Embora a prioridade de utilização fique voltada para a região de abrangência do Tacchini, formada por 22 municípios e cerca de 300 mil habitantes, a central de vagas da Secretaria Estadual da

Saúde será o órgão responsável por indicar futuras internações, a maioria pelo SUS. Além destas etapas, seguem as obras de ampliação da UTI Adulta e do Pronto Socorro, que serão entregues em novembro. A quantidade de leitos da UTI passará de 19 para 29, e o investimento chega a R$ 1,4 milhão. A nova área do Pronto Socorro já atende ao público desde 28 de abril, porém sem a total capacidade, devido às obras que estão sendo feitas no local. As mudanças vão beneficiar os pacientes que buscam consultas com médico plantonista ou serviços eletivos. A nova área vai dispor de 13 boxes de atendimento, salas para usos diversos, como aplicação de curativos e cinco consultórios.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO HOSPITALTACCHINI/DIVULGAÇÃO/JC

Concluída ampliação do Hospital Tacchini

Já estão disponíveis as novas UTIs pediátrica e neonatal

Hospital Regina

Hospital Bruno Born

Com o propósito de levar mais qualidade de vida para o Vale do Sinos, o Hospital Regina, de Novo Hamburgo, amplia sua estrutura. Um novo complexo hospitalar será inaugurado em 2017. “Com esta evolução, será possível um incremento em qualidade, duplicando a capacidade de atendimentos. Investir no projeto de ampliação é um marco na história da instituição”, afirma a diretora executiva, Joseane Kremer. O complexo terá três blocos, com até cinco subsolos e oito andares. No local, os pacientes encontrarão clínicas especializadas, Serviço de Diagnóstico por Imagem, Centro Obstétrico, UTI Neonatal, um moderno Hospital Dia, setor de altas, mater-

A prevenção de lesões relacionadas ao esporte é um dos objetivos do Centro de Medicina do Esporte, lançado em julho pelo Hospital Bruno Born (HBB), em Lajeado. O espaço, coordenado por Jamil Saleh Barghouti, médico ortopedista especialista em cirurgia de joelho, conta com sete ortopedistas com especialidades diferentes em cirurgia, além de um cardiologista, especialista em cardiologia do esporte, e uma nutricionista clínica e esportiva. “Queremos prevenir lesões antes de tratá-las, atendendo esportistas de diferentes modalidades”, diz Barghouti. O coordenador explica que o centro também atende quem quer começar alguma atividade física.

nidade, radioterapia, radiologia, clínicas e leitos de internação. “O projeto foi orientado pela sustentabilidade ambiental, trazendo soluções como reaproveitamento da água da chuva e telhado verde”, detalha Luciano Furlanetto, diretor técnico. Serão disponibilizados vários serviços, como um centro de radioterapia, que tornará o Hospital Regina referência no tratamento contra o câncer. “A procura pelos serviços, atendimentos e por profissionais médicos, inclusive de outros estados, motivou a construção deste novo prédio, que proporcionará tecnologia de ponta e diversidade nas especialidades, além de conforto, segurança e bem-estar”, afirma Joseane.

Para o presidente do HBB, Claudinei Fracaro, a conquista se soma aos serviços de qualidade da instituição. Ele destaca as obras em andamento no prédio do Centro de Tecnologia Avançada, onde estão sendo construídos os andares para o novo centro cirúrgico e unidades de internação, que deverão estar concluídos até o fim do ano. A centralização destas especialidades trará mais segurança, conforto e agilidade aos pacientes. Na consulta, o paciente terá acesso rápido a exames e diagnósticos. O Centro de Medicina do Esporte do Hospital Bruno Born quer ser referência regional no atendimento a atletas profissionais e amadores.

Especialista em Medicina Fetal e diretor da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs)

O milagre da vida Via de regra, tudo se origina de um ato de amor. A união do gameta masculino com o feminino na trompa da futura mamãe proporciona a nidação no útero materno. Em cerca de 9 meses, um número inacreditável de transformações acontecerão na mãe e no bebê que está sendo gerado. O resultado deste processo será um novo ser humano, com 46 pares de cromossomos, sendo um par de cromossomos sexuais, que determinarão seu gênero. Simples, não? Nem tanto assim. A extrema maioria, em nosso País, não terá diagnóstico antes do nascimento, surpreendendo a

equipe de saúde que assistirá o bebê quando ele vier ao mundo. Um número bastante significativo dos bebês que nascem com defeitos cardíacos, por exemplo, só terão diagnóstico após algumas horas, dias e até semanas do nascimento. Só então a equipe médica focará a investigação nesta patologia e traçará um plano de acompanhamento. Muitos bebês teriam mais chance de sobreviver se tivessem seu diagnóstico realizado durante a gestação. Por isso, a importância vital do pré-natal, também disponível pelo SUS. Muitas futuras mamães não sabem, mas 15 de 100

gestações são classificadas como de alto risco, sendo que de 7 a 10 delas terminam antes das 37 semanas, com os riscos inerentes ao parto prematuro. Especialmente aqueles que nascem antes das 34 semanas: possuem um risco muito maior de apresentarem sequelas ou mesmo falecerem devido ao nascimento precoce. Sem falar nos números de nascidos vivos que irão falecer no primeiro mês ou primeiro ano de vida. Este é o cenário que motiva o novo programa, o projeto Geração Bebê da Amrigs que, a partir de outubro, irá percorrer todo o Estado do Rio Grande

do Sul. A iniciativa, de toda a classe médica, prevê cursos de capacitação e palestras gratuitas para a comunidade e para os profissionais da área. Trata-se da mais nova bandeira da nossa entidade voltada para à comunidade e para a educação médica. Também será um dos diversos desafios que serão assumidos pela nova gestão da Amrigs que assume oficialmente o triênio neste sábado, Dia do Médico, sob o comando do novo presidente e médico pediatra, Dr. Alfredo Cantalice Neto. Os pilares dessa gestão serão justamente o do conhecimento e

da proximidade, fazendo a real diferença na sociedade, no associativismo, nos benefícios para a classe médica, na união das entidades coirmãs e na sustentabilidade de todas essas ações. No que se refere ainda à promoção da saúde materna e infantil, estaremos unidos juntamente com outras sociedades de especialidades médicas, hospitais e poder públicos para desenvolver ações contínuas e concretas do Geração Bebê. Nos sentimos, desde já, comprometidos para a promoção da saúde materna e infantil. Como entidade médica, como médicos e como cidadãos.


Médico, presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul)

Programa Mais Acreditação A Organização Nacional de Acreditação (ONA) - instituição da sociedade - reúne governo, entidades das operadoras de planos de saúde e dos prestadores de serviços, trabalhando intensamente para que os estabelecimentos de saúde ofereçam serviços diferenciados, com maior qualidade e segurança assistencial para os seus usuários. A entidade é responsável, desde 1999, pelo processo de certificação das instituições de saúde no País, avaliando hospitais, clínicas e laboratórios e certificando as que priorizam a qualidade e a segurança dos serviços prestados. Uma certificação ONA – ou as internacionais Joint Commission e Canadian Council on Health Services Accreditation melhora a reputação das insti-

tuições no mercado e promove a redução de despesas inúteis, decorrentes de práticas equivocadas ou ultrapassadas. Merece destaque especial como agente de relevante importância em qualquer processo de acreditação, a participação do corpo clínico. Os médicos, juntamente com os enfermeiros e outros profissionais do setor, desempenham um papel chave em toda a metodologia de avaliação da ONA. A redução de erros e falhas e a minimização dos problemas decorrentes dos mesmos são dois dos principais resultados da iniciativa de um hospital (ou clínica, ou laboratório) em engajar-se nos processos de acreditação. Esta decisão estimula o aprimoramento constante dos processos, com o objetivo de garantir a qualidade

na assistência. Dessa forma, o processo de acreditação promove um controle maior dos riscos clínicos e não clínicos, e uma maior qualidade dos serviços prestados. Os médicos, muitas vezes, principalmente nos serviços públicos, convivem com situações de carga horária inadequada, quadro de funcionários insuficiente para atender a demanda, processos não focados na segurança do paciente e desorganização gerencial. O paciente, por sua vez, sofre com a demora em ser atendido, na realização de exames e na remarcação de consultas. São situações que, lamentavelmente, não concorrem para a obtenção de serviços seguros e de qualidade, como seria desejável. Quando um governo insti-

tui uma política de saúde pública que busca vender a ideia de que a falta de médicos é a principal causa dos problemas da saúde, não está ajudando a remover as ineficiências e a superar o caos. Mas quando o governo estabelece como meta, uma grande mudança de cultura através de um plano de ação que institui preceitos da acreditação, promovendo melhorias para a construção de ambientes de trabalho mais saudáveis, estimulando a adequada segurança assistencial aos usuários e recompensando aqueles prestadores de serviços de saúde que atingem níveis avançados de qualidade, então, estaremos realmente iniciando a construção de um sistema de saúde equânime, seguro e de qualidade, como almejado pela

população. O que se espera, especialmente nestes dias de definição de nossos futuros governantes, é que o marketing e a propaganda eleitoral não sejam mais importantes do que a saúde da população. E que os programas escolhidos e adotados priorizem a qualidade dos cuidados e a segurança do paciente, valorizando os médicos e os demais profissionais das equipes de saúde, oferecendo a todos as condições dignas para que possam minorar sofrimentos e salvar vidas. Neste contexto, emerge com prioridade a implantação de um desejado programa Mais Acreditação, indispensável para a conquista da Saúde que todos nós, cidadãos brasileiros, merecemos.


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Porto Alegre, 17 de outubro de 2014

Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio


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