Meio ambiente 2014

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CLAUDIO FACHEL/ARQUIVO/JC

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Me o Amb ente Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio Porto Alegre, quinta-feira, 5 de junho de 2014

um bioma a ser preservado


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Porto Alegre, quinta-feira, 5 de junho de 2014

Me o Amb ente

Esta edição faz parte dos festejos comemorativos do Dia Mundial do Meio Ambiente SÉRGIO BAVARESCO/ FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA RS/DIVULGAÇÃO/JC

BIOMA PAMPA

É preciso salvar o que resta do campo típico dos gaúchos

No Pampa, estão situadas as grandes reservas de áreas úmidas do Rio Grande do Sul

dos sistemas de produção agrícola. A silvicultura (plantação de árvores, sobretudo eucaliptos), os cultivos anuais (soja, milho, com o agravante da produção de transgênicos), o arroz e sua irrigação, as chamadas melhorias nas pastagens, como a implantação do capim annoni e, mais recentemente, da branquiária, são as principais atividades que vêm degradando o Bioma Pampa. Queimadas ainda são feitas para ‘limpar o campo’, como se diz pelo Interior. Sistemas de irrigação instalados de forma incorreta, o uso indiscriminado de agrotóxicos e o tráfico internacional de animais silvestres também vêm contribuindo para a degradação do campo dos gaúchos. “A implantação da lavoura de soja impactou de maneira violenta os ambientes naturais, sendo que estes ambientes têm um potencial riquíssimo de biodiversidade, e as pessoas insistem em chamar o Pampa de ‘vazio ecológico’”, avalia a pesquisadora. “A linha de defesa da preservação do Pampa hoje é a pecuária em campo nativo”, destaca Luiza. “Estudos comprovam que a carne produzida no Pampa nativo tem mais Ômega 3 do que carnes advindas de bovinos criados em confinamento.” O incentivo ao pastoreio extensivo em campo nativo seria a salvação do Bioma Pampa. Nesse sentido, alguns SÉRGIO BAVARESCO/ FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA RS/DIVULGAÇÃO/JC

Habitat natural legítimo do gaúcho, o Bioma Pampa inclui o Rio Grande do Sul e áreas do Uruguai, da Argentina e do Paraguai. O Pampa está presente em 63% do território do Estado. Quando se fala em Pampa, logo vem à mente aquela imagem clássica do campo largo, plano, com equinos e bovinos pastando. Sim, há muito de Pampa nesses campos, mas ele vai além. Há formações savânicas e florestas espalhadas pela Campanha, Fronteira Oeste, Serra do Sudeste, Missões e Planalto Médio, na Depressão Central e na Planície e Zona Costeira. “Uma questão importante a destacar é relativa à subvalorização que se dá a esse bioma, não relatando a importância fundamental que essas áreas têm na prestação de serviços ambientais”, afirma Luiza Chomenko, pesquisadora da Fundação Zoobotânica do Estado. Ela lembra a função natural do Pampa: a pecuária, a carne de caça, pele e fibras, os recursos genéticos, a reserva de água para abastecimento e irrigação, a disponibilização de solos ricos em nutrientes, o cultivo de alimentos e os habitats naturais de fauna e flora. No Bioma Pampa, estão situadas as grandes reservas de áreas úmidas do Estado, responsáveis pela manutenção de todas as reservas hídridas do Rio Grande do Sul, básicas para determina-

produtores estão começando a vislumbrar um mercado promissor. Em Lavras do Sul, há poucas semanas, um remate de gado de campo nativo foi um sucesso, vendido com o preço 30% superior ao do mercado comum. “Procuramos mobilizar o governo para que os incentivos para a pecuária apareçam. Hoje, o agronegócio é resumido à agricultura. Mas é preciso lembrar que, amanhã ou depois, a soja cai de preço e todo mundo vai ficar a ver navios”, alerta Luiza. O secretário adjunto do Meio Ambiente do Estado, o biólogo Luís Fernando Perelló, garante que uma das maiores preocupações da secretaria é com o avanço rápido e desproporcional das lavouras sobre os ambientes naturais. “Em 2009, Bagé tinha 6 mil hectares de soja plantados, hoje tem 35 mil. Trata-se de um aumento de 500%. É muita coisa”, afirma. Ele não descarta a possibilidade da implantação de licenciamentos para este tipo de plantação. “Funcionou com a indústria do papel, por exemplo. Trata-se de um dos nossos principais trabalhos em relação à biodiversidade”, garante. “Dentro do programa RS Biodiversidade, trabalhamos com muitos produtores pecuaristas que estão envolvidos em ações de conservação de campos naturais, fazendo manejo do campo e do gado com vistas a obter melhor rendimento.” Perelló é enfático quando fala que o discurso da sustentabilidade está disseminado, mas a prática, longe de ser a mais efetiva. “No meio empresarial, fala-se muito em preocupação ambiental, mas na hora de discutir as ações para conter a degradação, aí só se fala em desenvolvimento. Se não inserirmos a sustentabilidade na nossa prática cotidiana coletiva, não vamos mais muito longe com qualidade. Vamos pagar um preço alto em um futuro não muito distante.”

O bioma abrange mais do que os campos planos. Florestas e formações savânicas também fazem parte da paisagem nativa

RADIOGRAFIA DO BIOMA PAMPA TERRITÓRIO 63% do RS

ÁREAS NATURAIS Planalto Médio e Missões — 31% Campanha — 49% Serra do Sudeste — 63% Depressão Central — 27% Planície e Zona Costeira — 56% ESPÉCIES 3 mil plantas diversas 450 gramíneas 150 leguminosas 480 aves 90 mamíferos

BIODIVERSIDADE NO COTIDIANO

• Produção de frutas nativas e derivados, como sucos e doces desenvolvidos em agroindústrias; • Produção de plantas ornamentais; • Produção de carne de gado criado em campo nativo, com ótimas perspectivas de mercados diferenciados, para uma carne mais rica em Ômega 3 e mais saborosa; • Artesanato e roupas derivados da lã; • Implantação de sistemas de produção de mel de abelhas nativas.

Expediente Editor-Chefe: Pedro Maciel  Editora de Cadernos Especiais: Ana Fritsch Subeditoras: Cíntia Jardim e Sandra Chelmicki Reportagem: Andréa Lopes Projeto gráfico: Ingrid Müller Diagramação: Melina Gasperini Editor de Fotografia: João Mattos Revisão: André Fuzer, Daniela Florão, Luana Lima e Thiago Nestor


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Para quem acha que butiá é só aquela frutinha amarela que serve para fazer geleias, compotas e a cachaça típica do período de praia no Estado, há muito mais para descobrir no butiazal, uma das espécies encontradas no Bioma Pampa. Os butiazais tomam conta da faixa que vai de São José do Norte ao final de Palmares, e estão divididos em externos, que ficam em contato com o mar e a Lagoa dos Patos, e os encontrados em Tapes, Barra do Ribeiro e Camaquã. Entre esses ambientes está o butiá odoraca, sua principal espécie. “Não é à toa que muitos nomes de municípios do Estado rendem homenagem ao butiazal: Palmares do Sul, Santa Vitória do Palmar, e mesmo Butiá”, assinala Luiza Chomenko, da Fundação Zoobotânica. A própria história econômica dessas cidades foi forjada em cima da plantação de butiá. “Em 1928, há um registro no Diário Oficial mostrando como o Governo Federal veio comprar toneladas de cri-

FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA/DIVULGAÇÃO/JC

A riqueza do butiazal

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na vegetal, vindas do butiazal, no Rio Grande do Sul”, conta a pesquisadora. Colchões, móveis e estofamentos eram feitos de butiazais. Com o advento da indústria petroquímica, na década de 70, os butiazais foram trocados por produtos de plástico e derivados. Mas agora retomam sua escalada, com a produção de artesanato e até de óleos essenciais e essências florais. No Jardim Botânico de Porto Alegre, a exposição Vida no Butiazal mostra belas imagens da fauna e da flora associadas ao peculiar ecossistema do butiazal, além de objetos, como um colchão original feito de crinas da planta. Organizada pela Fundação Zoobotânica do RS, Embrapa Clima Temperado e Universidade da República do Uruguai, a mostra pode ser vista na Sala de Exposições do Museu de Ciências Naturais do Jardim Botânico (Rua Salvador França, 1427), de terça-feira a domingo, das 10h às 17h, até o dia 3 de agosto.

A exposição Vida no Butiazal mostra belas imagens da fauna e da flora associadas ao ecossistema


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QUALIDADE DO AR

Redes de monitoramento fora de operação

PREFEITURA MUNICIPAL DE SAPIRANGA/DIVULGAÇÃO/JC

Projeto estudará as emissões de material particulado e carbono negro no ambiente urbano

tamento das informações sobre o meio ambiente, sendo que estes resultados se tornam necessariamente públicos, como ocorreu no caso da duplicação da Refinaria Alberto Pasqualini. O presidente da Fepam informa que novas licitações estão sendo promovidas em Rio Grande e em Caxias do Sul, uma Região Metropolitana extensa e que não está sendo monitorada por enquanto. “Nosso trabalho agora vem sendo o de reorganizar a casa, recolocando os dados que temos à disposição do público via site, por exemplo. Em junho, lançamos um documento que resume os dados que temos à disposição para tentarmos ter um perfil do ar no Estado”, conclui Nilvo Silva. “De forma geral, podemos dizer que a tecnologia empregada nos veículos auxiliou a mantermos os níveis de emissão de poluentes estáveis. Mesmo com o aumento da frota, a emissão de poluentes manteve-se estável segundo as normas nacionais do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o Conama.” Já o secretário municipal do Meio Ambiente, Cláudio Dilda, entende que é preciso rever hábitos. “Os carros são os grandes responsáveis pela emissão de gás carbônico na atmosfera que, junto com o metano e outros gases, afetam a qualidade do ar, provocam o aquecimento global e todo o encadeamento de problemas decorrentes, como a elevação do nível do mar. É preciso rever o uso dos automóveis particulares.” A EPTC informa que mantém ativa a Operação Ar Puro, que visa medir a emissão de gases tóxicos submetendo ao teste de

FREDY VIEIRA/JC

A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou, no início de maio, um estudo com 1,6 mil cidades de 91 países no qual constata que apenas 12% da população total urbana respira ar conforme as normas da organização. A qualidade do ar nas grandes cidades do mundo segue se deteriorando, prejudicando a saúde das pessoas, especialmente nos países em desenvolvimento — os mais ricos registram uma melhora na qualidade do ar. O monitoramento e a medição dos índices de poluição são fundamentais para a constatação dos problemas e a indicação de onde o poder público deve atuar com mais celeridade. Porto Alegre, infelizmente, não pode fazer isso. Praticamente todas as estações de monitoramento da cidade estão fora de funcionamento. Nilvo Silva, presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), foi um dos profissionais que trabalharam pela instalação da rede de monitoramento do ar na cidade, em 2001 — uma referência nacional à época. “Dez anos depois retorno a Porto Alegre, para trabalhar na Fepam, e vejo que tudo foi desperdiçado. Praticamente não há medição do ar na cidade”. Nilvo afirma que há estações que já não podem ser recuperadas, por falta de manutenção. “É preciso comprar novas, é preciso recursos e tempo para isso.” Para garantir o monitoramento em situações de risco e as devidas informações para os licenciamentos ambientais, a Fepam estabeleceu normas que jogam para as empresas a responsabilidade do levan-

Segundo Silva, praticamente não há medição do ar em Porto Alegre

emissão de poluentes os veículos que utilizam o diesel como combustível. A equipe de fiscalização verifica também outros itens, como equipamentos obrigatórios, documentação dos veículos e dos condutores. A operação ocorre em locais e horários estratégicos, definidos pela EPTC. Dados da Operação Ar Puro de 2013 dão conta de que 31 operações foram realizadas no ano passado, com 444 veículos vistoriados e 175 reprovados na medição. O Laboratório de Meteorologia e Qualidade do Ar da Ufrgs trabalha com pesquisas na área. “É importante miti-

gar os números do conselho, que classificam as concentrações de poluentes”, explica a meteorologista Ludmila Souza. As concentrações são classificadas como Boa, que significa haver até 0,04 partes por milhão (ppm) de Ozônio na atmosfera; e Ruim, até 0,408 ppm. “Os maiores valores de concentração de poluentes encontrados na Região Metropolitana de Porto Alegre no ano de 2009, em episódios que duraram no máximo 1 ou 2 horas, chegaram ao valor máximo de 0,03 ppm. Ou seja, menos do que o Conama classifica como uma atmosfera boa.”

Sapiranga como exemplo Um projeto de cooperação técnica entre a Fepam e o Instituto Meteorológico e Hidrológico da Suécia pretende compreender melhor as emissões de material particulado e carbono negro no ambiente urbano. Para o projeto piloto de estudo, Sapiranga foi o município escolhido, por questões geográficas, de emissão, de clima e de localização. A cidade se caracteriza por uma elevada queima de madeira em lareiras e fogões residenciais. O projeto de cooperação envolve também o apoio técnico do Ministério do Meio Ambiente do Chile (MMA), o Centro Mario Molina do Chile (CMM), a Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e a prefeitura local de Sapiranga. A proposta é combinar uma campanha de monitoramento com o inventário de emissões locais e de fundo, envolvendo ferramentas de modelagem para que o papel

das diferentes fontes, como tráfego, combustão da madeira nas residências e produção industrial, possa ser quantificado e compreendido. “Com esta informação, será possível identificar algumas ações que podem reduzir as emissões e, além disso, a ferramenta de modelagem pode ser usada para verificar a eficácia de uma ação específica”, afirma o coordenador da Rede Ar do Sul da Fepam e chefe do Proar, Márcio D’Avila Vargas. Durante o desenvolvimento do projeto, diversos dados de emissões de fontes fixas, de indústrias da região, de fatores climatológicos da região, entre outros, serão compilados para a realização da modelagem. Informações sobre os hábitos da população referente ao uso de lenha serão coletados via apoio das escolas locais em questionários dirigidos. A campanha de monitoramento, iniciada em junho, ocorrerá até agosto.


Dia Mundial do Meio Ambiente

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Preservar o meio ambiente também faz parte do nosso negócio Aqui na Celulose Riograndense, nós temos a consciência plena de que o desenvolvimento do nosso negócio está diretamente ligado ao uso renovável dos recursos naturais. E é por saber disso que nossas atividades florestais e industriais são guiadas pelo conceito de sustentabilidade. Mantemos plantios renováveis de eucalipto e operações florestais em 39 municípios do Rio Grande do Sul visando o abastecimento de matéria-prima e, no município de Guaíba, nós implementamos a primeira estação de monitoramento da qualidade do ar e continuamos investindo nas novas estações de tratamento dos efluentes que serão gerados pela ampliação da nossa fábrica. Outra prova concreta da nossa preocupação com o meio ambiente é o projeto que resulta na reciclagem de 99,5% dos resíduos sólidos gerados na produção da celulose. Ou seja, para nós da Celulose Riograndense, muito mais importante do que falar de preservação na Semana do Meio Ambiente, é realizar diariamente ações como estas que só trazem boas perspectivas para todos.

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CONSUMO CONSCIENTE

A sociedade de forma geral já absorveu o termo sustentabilidade. Muito se fala em produtos sustentáveis, em atitude sustentável, em ser ecofriendly (algo como ‘amigo da ecologia’), ao ponto de sugerir que as pessoas apliquem, na prática, o chamado consumo consciente. Mas consumo consciente é mais do que ir à feira ecológica todos os fins de semana. Trata-se de um modo de comportamento, de escolher produtos que utilizem menos recursos naturais em sua produção, que garantam o emprego digno aos que os produziram e que são facilmente reaproveitados ou reciclados. “Na prática, o que vemos nas pesquisas é que as pessoas se preocupam muito, por exemplo, em consumir uma água mineral com pouco sódio, mas abusam do molho shoyo, uma bomba de sódio, na comida”, resume Leandro Tonetto, psicólogo com formação em marketing e design e professor da Unisinos. Ele coordena a Zooma Consumer Experience, empresa que se dedica a projetos e pesquisas em consumo. Tonetto conta que as empresas têm procurado muito fazer pesquisas sobre o tema para entenderem, justamente, como de fato se comporta o consumidor, que, aparentemente, é movido por questões como a sustentabilidade, que ainda não são bem compreendidas. “Por mais que tenha crescido o consumo de produtos sustentáveis, digamos assim, não vemos o conhecimento acompanhando esse crescimento”. “Geralmente, orgânicos e produtos MICHELI KAROLY/DIVULGAÇÃO/JC

Beatriz criou uma linha de roupas ecologicamente correta para crianças

FREDY VIEIRA/JC

A sustentabilidade em pequenos gestos

Procura por alimentos orgânicos impulsiona negócios, como a loja Piperita

ecofriendly batem na questão do custo. As pessoas querem se beneficiar de um produto ecologicamente correto, mas não querem pagar mais por isso. Não entendem que a produção do alface orgânico, por exemplo, é totalmente diferente da de um alface produzido em larga escala para abastecer uma grande rede de supermercados. É uma questão de cultura, de educação.” E de bolso, certo? Mesmo com um mercado difícil de conquistar, apesar do aumento da procura nas últimas décadas, o nicho de mercado para produtos sustentá-

veis em geral cresce no País. Em Porto Alegre já é possível encontrar lugares como a Piperita Sabores Selecionados, que nasceu com o desejo de criar no seu entorno bons hábitos de alimentação e de relações entre as pessoas. “Em função disto, buscamos na maioria dos fornecedores características que viessem de encontro a esse objetivo. Buscamos produtos orgânicos, selecionados e de boa qualidade, juntamente com produtos para quem tem algum tipo de restrição alimentar”, conta Juliana Alovisi, que, com a sócia Sandra Gasparotto, toca a Piperita no

bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Na loja, é possível encontrar arroz, pimentas, farinhas, grãos, geleias, molhos, chás, temperos, refrigerantes, sucos, barras de cereais, salgadinhos, cafés, comidinhas, papinhas e mingau orgânicos para bebês. Juliana garante que a procura por esses produtos é boa. “Temos vários clientes cativos e sempre aparecem os novos, que vêm com a busca especifica por orgânicos. Geralmente são pessoas muito comprometidas com a saúde. Os diferenciais do produto orgânico fazem seu consumo valer a pena”, justifica Juliana.

Bebês ecofriendly Mestre em Comportamento Animal, guia de turismo ecológico no Pantanal e acostumada a fazer trabalhos de campo na Amazônia Colombiana, na Mata Atlântica e aqui no Rio Grande do Sul, a uruguaia Beatriz Kats viu-se sem opções quando, em 2004, preparando o enxoval do filho, não conseguia encontrar roupas e lençóis de algodão orgânico ou algo sequer parecido. Ela resolveu aplicar sua paixão pela natureza no desenvolvimento de uma linha de roupas para crianças ecologicamente correta. Nasceu a Green is Great (verde é ótimo, em inglês), uma marca de moda infantil para meninos e meninas de zero a um ano que oferece coleções produzidas com algodão orgânico ou reciclado, bambu, pet reciclado, juta e tecidos mistos.

“No início, pensei em importar artigos ecofriendly da Holanda, mas após pesquisar o setor, decidi produzi-los regionalmente.” Design, corte e costura, tudo da Green is Great é feito em Porto Alegre, com a produção dividida entre uma cooperativa de mulheres costureiras e outras profissionais independentes. Alguns itens são feitos à mão pela própria Beatriz. Aproveitando as mesmas matérias-primas, ela também produz camas para gatos e cachorros. Assim, até os pets das famílias entram na onda do consumo consciente. Na Horta de Algodão, o cheirinho também é de bebê. Com o propósito de disseminar a cultura do consumo sustentável desde o berço, a marca oferece peças de roupa de fabricação natural, livres de agrotóxicos. O

algodão utilizado é 100% orgânico, assim como a lã, originária de ovinos criados livres de hormônios. As matérias-primas são tingidas com corantes naturais. A linha de papinhas também utiliza componentes orgânicos em sua fabricação, assim como os cosméticos – óleos, cremes e sabonetes sem componentes químicos em suas fórmulas são novidade no mercado de recém-nascidos. “Espero que a Horta de Algodão inspire a todos no engajamento por um mundo mais sustentável”, afirma a idealizadora do projeto, Juliana Corbellini. O quiosque da marca tem estrutura de OSB, material que garante um dos mais elevados rendimentos em aproveitamento das matérias-primas, e lâmpadas de LED, que diminuem o consumo de energia.


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ta conta com 140 cooperados, que participam de programas de formação e capacitação para a comercialização de produtos e boa gestão da cooperativa, tudo oferecido pela Natura em parceria com as ONGs Fase, do Rio de Janeiro, e a italiana Ucodepe. O cultivo de açaí utilizado pela Natura é orgânico, certificado pelo Instituto de Mercado Ecológico (IMO) e feito através do manejo sustentável pela Cofruta. Novas práticas para facilitar o trabalho dos agricultores são estudadas e implementadas. Recentemente foi introduzido o uso de basquetas plásticas, lonas e luvas, que garantem ainda mais qualidade e higiene ao açaí. Um instrumento debulhador também tem sido testado, para poupar as mãos dos trabalhadores que retiram o açaí do cacho. Vendida como edição limitada, o sucesso da linha Ekos Açaí foi tanto que a Natura resolveu colocá-la permanentemente em seu catálogo.

Algodão utilizado em calçados não contém agrotóxicos ou adubos químicos

químicos ou transgênicos. A borracha da sola vem da cooperativa Chico Mendes, responsável por 90 famílias de seringueiros que trabalham no coração da Floresta Amazônica. O couro utilizado é curtido à base de extrato de acácia, um tanino natural e não poluente. Dessa forma, se evita o efeito acumulativo e prejudicial para a saúde de pessoas e animais causado pelo cromo. A cada par de tênis vendido, uma média de R$ 1,10 é pago aos produtores de algodão do Semiárido Nordestino, e R$ 0,70 aos seringueiros do Acre. “Não acreditamos numa visão romântica da ecologia. O nosso caminho é a valorização econômica. Na Vert, isso passa por um trabalho social: os seringueiros e os produtores de algodão recebem um valor diferenciado por preservar as florestas e as terras”, explica François-Ghislain Morillion.

Açaí proveniente de cooperativas é utilizado em cosméticos

Mercado em ascenção O crescimento da marca gaúcha Natureba é mais uma prova das dimensões que o mercado do consumo consciente vem tomando. A empresa é focada em produtos naturais e sustentáveis e já conta com quatro lojas no Estado. Segundo o proprietário e fundador, Rodrigo Rossato, a ideia surgiu da necessidade que ele tinha em encontrar os produtos quando mudou para Gravataí. “Abri a primeira loja em 2001 e percebi que a mudança de comportamento do consumidor iria proporcionar um crescimento rápido”, explica Rossato, que prevê expandir a marca para Santa Catarina e Paraná por meio de franquias. Além do envolvimento de nutricionistas contratadas para participar da seleção dos produtos, são exigidos

GILMAR LUÍS/JC

GHISLAIN MORILLION /DIVULGAÇÃO/JC

Ecologia da cabeça aos pés

Criada pelos franceses François-Ghislain Morillion e Sébastien Kopp depois de uma viagem de um ano acompanhando projetos sustentáveis pelo mundo, a Vert é uma marca de calçados com design clean e urbano, que busca um impacto positivo, social e ambiental. Com uma produção anual de 120 mil pares e presença em 36 países, a Vert conta com uma equipe multicultural espalhada entre Paris, Londres, Berlin, Milão e Brasil. A produção dos tênis é feita em uma fábrica no Vale dos Sinos, utilizando matérias-primas 100% brasileiras. A lona dos tênis é feita com algodão cultivado sem insumos químicos nem agrotóxicos por associações de agricultores familiares do Semiárido brasileiro. O algodão é cultivado em consórcio com outras lavouras, como o milho, o feijão e o gergelim, sem agrotóxicos, adubos

NATURA/DIVULGAÇÃO/JC

Beleza, saúde e prosperidade para a comunidade paraense A Natura conquistou o mercado de cosméticos colocando espécies típicas da flora brasileira dentro de seus frascos de perfumes, cremes e maquiagens. Uma delas merece destaque especial: o açaí. Consumido com farinha, guaraná, morango ou sorvete, o açaí caiu no gosto do brasileiro também como óleo essencial que, extraído da semente da fruta, possui propriedades emolientes e hidratantes. É rico em ferro, glicídios, vitaminas A, B1, B2, C e E, minerais como manganês, cálcio, potássio e em antocianina, uma substância que combate os radicais livres. Conhecedora das propriedades do fruto, a Natura ainda precisava descobrir de quem e onde comprar o açaí. “Conhecemos o trabalho da Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba (Cofruta), que fica a 56 Km de Belém, no Pará, durante uma feira de agricultura familiar, em 2006”, recorda Penélope Uiehara, gerente da linha Ekos, que inclui os produtos feitos de açaí. Hoje, a Cofru-

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laudos de procedência e selos de qualidade dos fornecedores. O mix total da marca também conta com 300 produtos orgânicos. A tendência é que esse número continue aumentando. Paulo Bertone, consultor de marketing da Natureba, ressalta também a relação mantida com pequenos produtores. São exemplos de cooperativas que produzem para a marca a Pé na Terra, de Novo Hamburgo que produz iogurte desnatados e manteiga; Novos Citrus de Pareci Novo, produtora de sucos e geléia e a Wolkmann de Sentinela do Sul com arroz biodinâmico integral. “Esse tipo de relação comercial promove o desenvolvimento de comunidades e o crescimento econômico, parte do conceito mais amplo de sustentabilidade”, diz Bertone.

Segundo Rossato, qualidade dos fornecedores é essencial


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Esta edição faz parte dos festejos comemorativos do Dia Mundial do Meio Ambiente JONATHAN HECKLER/JC

MOBILIDADE

Transporte coletivo de excelência: o centro da questão Uma das questões que mais impactam na qualidade de vida de quem vive nos grandes centros é a mobilidade urbana — ou a falta dela. Tempo desperdiçado nos deslocamentos, a angústia de ficar horas dentro de um carro ou ônibus e os poluentes lançados pelos veículos no meio ambiente são os principais problemas da falta de mobilidade. Autor do projeto que cria o Fundo Municipal de Gestão do Plano Diretor Cicloviário Integrado, o vereador porto-alegrense Marcelo Sgarbossa é enfático ao apontar a causa do aumento da imobilidade urbana na capital dos gaúchos: a falta de transporte público coletivo de qualidade. “Uma cidade justa não é aquela em que os pobres andam de carro, é aquela em que os ricos deixam o carro em casa e usam o transporte coletivo. O problema não é ter carro. As pessoas usam o carro porque querem conforto.” Sgar-

bossa lamenta o que se vê nas ruas da cidade. “Porto Alegre está andando na contramão da história. A prefeitura ainda defende uma ideia rodoviarista, duplicando avenidas e aumentando o espaço para mais e mais carros continuarem a tomar as ruas.” Sobre as ciclovias, Porto Alegre segue em compasso de espera. Na sessão da Câmara de Vereadores do dia 19 de maio, foi dado início à votação do projeto de lei complementar do Executivo, que cria o Fundo Municipal de Apoio à Implantação do Sistema Cicloviário. O projeto altera a lei que instituiu o Plano Diretor Cicloviário Integrado, acabando com a exigência da utilização de 20% da arrecadação com multas de trânsito na construção de ciclovias. Contudo, a aprovação de emenda e subemenda instituiu que a Prefeitura será obrigada a realizar o aporte anual ao novo fundo do equivalente a 20% do montante financeiro arrecadado

Trânsito congestionado é problema nas grandes cidades

com multas de trânsito pela EPTC, na forma de execução de obras cicloviárias, programas educativos ou aporte monetário. Caso não sejam executadas obras ou programas educativos, ou estes não forem suficientes, o aporte ao

CICLOVIAS EXISTENTES EM PORTO ALEGRE CICLOVIA DA RESTINGA 4,6km de extensão. São 3 km na Avenida João Antônio da Silveira, entre as avenidas Edgar Pires de Castro e Ignês Fagundes. Outros 500 metros conduzem até as proximidades do Parque Industrial, e 1,1km na Nilo Wulff, entre a Avenida João Antônio da Silveira e o terminal de ônibus.

Cofal e avenida Guaíba, encerrando na Osvaldo Cruz.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS 2,1km de extensão. Ao longo da av. Diário de Notícias, entre Wenceslau Escobar e Chuí.

SETE DE SETEMBRO – CENTRO 585 metros. É dividida em dois trechos, o primeiro, de 185m, da Borges de Medeiros até a General Câmara; o segundo, de 400m, da Caldas Jr até Padre Tomé.

CICLOVIA DE IPANEMA 1,25km de extensão. Inicia na Cel. Marcos com Dea Cofal, segue pela Dea FREDY VIEIRA/JC

ICARAÍ 1,7km, entre as avenidas Chuí e Wenceslau Escobar, no sentido bairroCentro. Localizada ao lado direito da pista, junto ao meio-fio e segregada por tachões.

ADDA MASCARENHAS DE MORAES –

JARDIM ITU SABARÁ, ZONA NORTE 1,2km, nos dois sentidos da avenida, entre as ruas Karl Iwers e Vitório Francisco Giordani JOSÉ DO PATROCÍNIO – BAIRRO CIDADE BAIXA 880 metros de extensão, ligando as avenidas Loureiro da Silva e Venâncio Aires. ESTRADA DAS TRÊS MENINAS – ZONA SUL 1,650km de extensão, ao longo da via, nas proximidades do condomínio Alphaville. AVENIDA CHUÍ – CRISTAL 650m, entre as avenidas Icaraí e Diário de Notícias (acrescentando mais um espaço para ciclistas à rede já existente). JUSCELINO KUBITSCHEK – RUBEM BERTA, ZONA NORTE 1,1 quilômetro. Entre a Manoel Elias e a Dr. Vargas Neto;

Porto Alegre conta hoje com 20 quilômetros de ciclovias, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC)

VASCO DA GAMA/IRMÃO JOSÉ OTÃO – BAIRRO BOM FIM 1,1km de extensão. Entre as ruas Miguel Tostes e Barros Cassal.

fundo terá como fonte as multas da EPTC. “É preciso educar o cidadão. O ideal de cidade é aquela em que não há compartilhamentos e sim todos dividindo o mesmo espaço com civilidade”, complementa o vereador.

CICLOVIAS A SEREM IMPLANTADAS IPIRANGA - Previsão de 9,4km, entre a Edvaldo Pereira Paiva e a Antônio de Carvalho (contrapartida Zaffari e Praia de Belas). Já concluído 2,8 km, entre as avenidas Silva Só e Edvaldo Pereira Paiva, restante em fase de construção. AEROPORTO-SERTÓRIO (INTEGRADA NA DONA ALZIRA) - Previsão de 12km (investimento público), ciclovia circundando a área do Aeroporto pela Av. dos Estados, Severo Dullius, Dona Alzira e Sertório (iniciando na estação Farrapos do Trensurb, segue pela Sertório, Assis Brasil e encerra na Franciso Silveira Bittencourt). EDVALDO PEREIRA PAIVA/PADRE CACIQUE - com a conclusão da duplicação da Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), obra preparatória para a Copa do Mundo que inclui uma ciclovia de 6,35km de extensão, haverá a integração dos espaços exclusivos para os ciclistas das avenidas Ipiranga, Edvaldo Pereira Paiva, Padre Cacique (1 Km a ser implantado) e Diário de Notícias (2,1 quilômetros já existentes), resultando em 17,4 quilômetros de ciclovias integradas.

JOÃO TELLES – BAIRRO BOM FIM 300m. Entre a Vasco da Gama e Osvaldo Aranha

VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA – obra de duplicação da via, com recursos do PAC da Copa, contará com ciclovia de 3,5km, entre a Rua da Conceição e Av. Sertório.

BARROS CASSAL – BAIRRO BOM FIM 300m. Entre a Vasco da Gama e Osvaldo Aranha

LOUREIRO DA SILVA – terá 1,8 km de extensão, entre a Rua Luiz Englert e a Câmara de Vereadores.

A expectativa é chegar aos 50 Km até o fim deste ano (veja ao lado).

AVENIDA TRONCO – 6 km, ao longo de toda a avenida.


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começam e as pessoas se conhecem, a coisa vai mais no boca a boca, um amigo indicando para o outro.” Luciana reconhece que, na prática, Porto Alegre ainda não tem a cultura da carona. Mas está feliz com os retornos de sua página na internet, que inclusive rendem situações inesquecíveis. “Um senhor do Uruguai estava em Porto Alegre e colocou uma mensagem na página sobre o seu cachorro, que estava lá no seu país, sentindo muita saudade, mas que ele não tinha condições de trazer o animal para cá. Pois não é que apareceu uma senhora que foi fazer uma viagem ao Uruguai e ‘deu carona’ para o cão de lá até Porto Alegre?” Criado em outubro de 2012, o site Carona Fácil tem mais de 20 mil pessoas cadastradas, e 19 mil já postaram pedidos ou ofertas de caronas. Desenvolvido por Netto e Julio Farah, Pedro Nascimento e Leo Tartari, o endereço usa como forma de contato o Facebook. “Tem gente que ainda tem receio de andar de carona, mas eu já viajo há mais de sete anos e posso dizer que é uma experiência que vale a pena. Além das amizades que se faz, a economia do compartilhamento é

JOÃO MATTOS/JC

Vai uma carona? Uma das alternativas para amenizar os problemas é encontrar pessoas que fazem o mesmo trajeto e pedir ou oferecer carona para ir ao trabalho ou à escola. Em Porto Alegre, o processo ainda é tímido. As comunidades criadas nas redes sociais, sobretudo no Facebook, acabam servindo mais para o pessoal conseguir carona para deslocamento entre cidades do que para o uso cotidiano desse artifício para fugir da confusão do trânsito. Luciana de Mello, geógrafa e antropóloga, resolveu criar uma comunidade no Facebook para promover os encontros entre quem precisa de transporte para se locomover e quem tem vaga sobrando no carro. “Tive a ideia de criar a página depois de ter observado que a maioria das pessoas que estavam no ponto de ônibus lotado em que eu ficava todos os dias iam sempre para o mesmo lugar”, conta. Ela não obteve sucesso entre os seus companheiros de espera pelo coletivo diário, mas a comunidade na internet tem recebido mais e mais participantes. “Nunca tive problemas com spams ou com situações desagradáveis. Claro que a gente fica um pouco receosa, mas depois que as caronas

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Luciana criou uma comunidade no Facebook para promover os encontros entre quem precisa de transporte

muito interessante”, garante Netto Farah. As viagens rendem histórias emocionantes, outras divertidas. “Uma vez, levei um pessoal de carona por uns 300 km. Furou um pneu, e já era noite. Paramos para trocar, mas estava muito escuro, e uma roda

do carro caiu numa vala. Eu e um caroneiro trocamos o pneu. Enquanto isso, uma menina ficou no carro ouvindo o rádio. Acabamos ficando com o carro preso, sem bateria, até que um caminhoneiro nos socorreu, no meio da madrugada”.


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ENERGIA

Rio Grande do Sul desponta no crescimento da energia eólica tamos contribuindo com o desenvolvimento econômico das regiões com a geração de empregos, aquecimento do comércio local e reforço na renda dos proprietários das terras onde os aerogeradores são instalados”, afirma o diretor de Engenharia e Operação da Eletrosul, Ronaldo dos Santos Custódio. Quase metade da potência de geração eólica instalada no Estado, contratada nos leilões desde 2009, vem de empreendimentos da Eletrosul e de parceiros, que somam aproximadamente 800 MW – o suficiente para abastecer mais de 4 milhões de habitantes. O investimento supera os R$ 3,7 bilhões. O Complexo Eólico Campos Neutrais reúne três grandes parques: Geribatu, Chuí e Hermenegildo. Juntos, somam 583 megawatts (MW) de capacidade instalada. O Parque Eólico Geribatu, com 258 MW divididos em dez usinas, já está em implantação. No Parque Eólico Chuí, que terá 144 MW de potência instalada em seis usinas, as obras estão sendo iniciadas. Para a mobilização do canteiro de obras do Parque Eólico Hermene-

gildo, que terá 13 usinas com 181 MW de capacidade, a expectativa é que a licença de instalação seja emitida ainda neste semestre. O outro grande complexo da Eletrosul, o de Cerro Chato (216 MW), está localizado em Santana do Livra-

mento, também em região de fronteira com o Uruguai. Cerca de 120 MW – o equivalente à capacidade instalada de 60 aerogeradores – estão em operação. O investimento em todo o complexo é de aproximadamente R$ 1 bilhão. ACS ELETROSUL/DIVULGAÇÃO/JC

Com a ocorrência cada vez mais frequente dos apagões, e a escassez de energia elétrica batendo à porta do consumidor, o País vê-se obrigado a estudar alternativas energéticas. O Rio Grande do Sul tem despontado no cenário nacional como um dos estados que mais contribuem com o crescimento da energia eólica na matriz elétrica brasileira. Vale lembrar que a energia eólica é a que vem dos ventos e é utilizada, há anos, para realizar trabalhos como bombear água e moer grãos. Em uma usina eólica, a conversão da energia é feita por meio de um aerogerador, um gerador de eletricidade acoplado a um eixo que gira com a força do vento as pás da turbina. Para isso, os ventos precisam ter velocidade média anual superior a 3,6 metros por segundo. O Estado também será, em breve, o detentor do maior empreendimento da América Latina no segmento. Trata-se do Complexo Eólico Campos Neutrais, a ser implantado nos municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí, e que está recebendo investimentos de aproximadamente R$ 2,7 bilhões. “Junto com os investimentos na expansão da energia eólica, uma fonte importante para a complementação da matriz elétrica brasileira, es-

Investimentos da Eletrosul superam os R$ 3,7 bilhões

Solar e biomassa estão entre as novas possibilidades mento pode ter um papel muito importante, principalmente na substituição de chuveiros elétricos, que estão entre os aparelhos que mais consomem energia. A instalação de painéis fotovoltaicos é uma solução para levar eletricidade para residências, escolas e postos de saúde em regiões que ainda não possuem serviço regular de distriACS ELETROSUL/DIVULGAÇÃO/JC

Em um país solar como o Brasil, é quase uma heresia não se aproveitar mais a energia que vem do sol. A energia solar pode produzir eletricidade e calor. Os coletores solares para aquecimento de água são um dos exemplos mais bem-sucedidos da aplicação de energia solar em todo o mundo. No caso do Brasil, esse tipo de aproveita-

Painéis fotovoltaicos com tecnologia nacional já chegam a índices de eficiência comparáveis ao padrões mundiais

buição de energia elétrica. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e a Eletrosul vêm acumulando, desde 2004, know-how em geração solar fotovoltaica, com o desenvolvimento de pesquisas para produção de painéis fotovoltaicos com tecnologia nacional. Os resultados chegaram a índices de eficiência comparáveis aos padrões mundiais, entre 13,5% e 16%. Esse resultado foi certificado pelo laboratório holandês Kema, principal autoridade global em testes e certificação de processos e produtos do setor elétrico. Paralelamente, a empresa começou a avaliar os níveis de radiação solar e seu potencial para geração de energia elétrica no Rio Grande do Sul, instalando estações solarimétricas junto da Conversora em Uruguaiana e área da Hidrelétrica Passo São João, em Roque Gonzales. Já a biomassa provém de materiais de origem orgânica que geralmente são desperdiçados em processos industriais e também podem ser aproveitados para produzir calor e eletricidade.

Há projetos de geração termelétrica que utilizam como combustível o bagaço da cana, a casca do arroz e os resíduos da indústria do papel. O biogás obtido na decomposição do lixo orgânico é outro exemplo de biomassa que pode ser utilizada na produção de energia. Em Seberi, município ao Norte do Rio Grande do Sul, a Eletrosul instalará uma usina piloto para biomassa. A região, considerada exemplo nacional em reciclagem, reúne 52 cidades consorciadas para a gestão dos resíduos sólidos urbanos. Os rejeitos provenientes do processamento realizado pelos consórcios abastecerão a Pequena Central Termelétrica. “Esse é um projeto bastante audacioso e aderente a uma sociedade desenvolvida. Visa não só a instalar uma usina de geração de energia, mas a desenvolver tecnologia industrial para que o Brasil, no futuro, possa ter o aproveitamento total de seus resíduos e produzir energia com o menor impacto ambiental possível”, afirma o diretor de Engenharia e Operação da Eletrosul, Ronaldo dos Santos Custódio.


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FREDY VIEIRA/JC

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O fantasma das mudanças climáticas No relatório Mudança do Clima 2014: mitigação das mudanças climáticas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que as emissões globais de gases de efeito estufa cresceram, e muito, mesmo com as políticas para reduzi-las. As emissões aumentaram mais rapidamente entre 2000 e 2010 do que em cada uma das três décadas anteriores. Na avaliação do IPCC, seria possível limitar o aumento da temperatura média global a dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais com o uso da tecnologia e com a mudança de comportamento. Mas só uma grande ação institucional e tecnológica diminuirá os impactos do aquecimento global, que já são visíveis. Estudioso da hidrologia e das mudanças e variações climáticas, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Walter Collischonn é cauteloso ao falar sobre

mudanças climáticas. “O que posso antecipar é que existe um alto grau de incerteza quanto ao que pode ocorrer no futuro, mas estudiosos concordam que a tendência no Leste da Amazônia, por exemplo, é de diminuir a precipitação. Já no Rio Grande do Sul, a tendência é aumentar o volume de chuvas.” Como tudo, haveria o impacto negativo e o positivo. “Podemos pensar que as enchentes prejudicariam ainda mais o cultivo de trigo, por exemplo, mas do ponto de vista de geração de energia, seria interessante.” A maior preocupação dos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs, do qual o professor Collischonn faz parte, não reside na mudança, mas na variação climática. “Isso, sim, sempre existiu e não vai deixar de existir”, diz o pesquisador. “Boa parte da concordância dos modelos climáticos globais diz que a temperatura vai aumentar e o clima vai ficar mais dinâmico. Os extremos têm

Para Collischonn, o grau de incerteza quanto ao que pode ocorrer no futuro é alto

a tendência de aumentar, para cima e para baixo.” Na prática, a variabilidade climática se verifica quando há um ou dois invernos rigorosos, por exemplo. “Isso não significa que o mundo está acabando, isso sempre existiu.” O secretário municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre, Cláudio Dilda, garante que Porto Alegre tem avançado muito nessa área. “No momento, estamos elaborando o inventário de emissões de gases do efeito estufa do evento Copa do Mundo, em parceria com o governo federal.” Após, a previsão é avançar para a Política Climática e para o inventário geral da cidade. “Estamos qualificando os sistemas de

gestão integrada de resíduos sólidos e de transporte público. Vamos ter os BRTs, estamos ampliando a nossa rede cicloviária e começamos a utilizar o Lago Guaíba como meio de transporte fluvial”, afirma. Entre outras ações, Dilda faz referência ao aeromóvel e ao projeto do metrô. Recentemente, participou de encontros de secretários municipais de meio ambiente de todo o País. “Esses encontros são muito produtivos. Recife fez uma força-tarefa e, em oito meses, conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores a Política Climática para elaborar o seu Inventário de Emissão de Gases.”


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Dia Mundial do Meio Ambiente


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