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Implementação das cotas raciais no IFNMG-Campus Salinas: discutindo a (in)visibilidade dos alunos cotistas raciais
Coordenadora: Suzana Alves Escobar Discente voluntária: Lucilene Machado dos Santos
Autora do relato de extensão:
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Suzana Alves Escobar Campus: Salinas Públicos-alvo: Servidores e docentes do IFNMG Período: 1103/2021 a 25/03/2021
Print da tela com a imagem da coordenadora do projeto, na aula síncrona do dia 11/03/2021
“Mas e depois? E depois é um caminho invisível. É um caminho silencioso, é um caminho escondido”. É nesse contexto que surge a proposta de um minicurso de 20 horas, como um espaço de reflexão, discussão, acolhimento e escuta para se pensar sobre o acesso à educação, o povo negro e a cultura de silenciamento.
Apolítica de cotas implementada nos Institutos Federais, após a publicação da Lei 12.711/12, deve ser pensada para além de uma relação matemática entre número de vagas versus preenchimento, já que a educação tecnológica é especialmente vocacionada e impulsionada pela proposta de desenvolvimento integral do ser humano.
Foi nesse contexto que se pensou, durante a execução da pesquisa no Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica, no projeto de extensão denominado “Implementação das cotas raciais no IFNMG-Campus Salinas: discutindo a (in)visibilidade dos alunos cotistas raciais”. O minicurso foi realizado em três encontros virtuais, no período de 11 a 25 de março de 2021, por meio do Google Meet, tendo em vista o contexto da pandemia da COVID-19.
A invisibilidade do cotista foi apontada em diversos relatos de participantes durante o minicurso. Essa invisibilidade social do negro, do indígena e de outros grupos é refletida também no ambiente institucional, que, após o ingresso do aluno pelo sistema de reserva de vagas, não lhe garante mecanismos de escuta e nega sua alteridade. Essa ausência foi nomeada por um dos participantes como “poder de fala”.
Esse poder de fala decorre da experiência e vivência dos sujeitos e deveria ser ocupado por aquele que, efetivamente, vive o que se reproduz. Entretanto, o poder de fala, ou, ainda, o poder da palavra
Print da tela com a introdução da aula síncrona do dia 11/03/2021
continuam sendo exercidos pela mesma classe política e econômica que predominava na colonização. No decorrer do minicurso, diversos relatos trataram da necessidade de ruptura desse status.
Relatos de ausência de escuta, invisibilidade e entristecimento dos cotistas foram frequentes. Há um silenciamento sufocante e esmagador que precisa ser reconhecido e ultrapassado. Como bem ponderou uma dos participantes, “(...) nós precisamos de som, nós precisamos de tambores. De esses alunos emitirem o som que está engasgado”. (Relatório de Campo, 28/03/2021).
Esses alunos suportam, muitas vezes, a solidão do banquinho da praça escolar, a dificuldade de compreensão do livro na biblioteca, do exercício do professor e a impossibilidade e vergonha de pedir ajuda. É um caminho solitário e injusto. Isso porque, conforme foi se comprovando durante o transcorrer do minicurso, a inserção no ambiente educacional pelo sistema de cotas não garante, por si só, que os cotistas tenham voz e vez no espaço institucional. Tanto é assim que, nem mesmo, há um conhecimento sobre a trajetória, experiência e vivência daqueles que ingressam por esse sistema.
Folder com convite para o minicurso
Print da tela com a imagem a mestranda Lucilene na aula síncrona do dia 18/03/2021
Print da tela com a palestra na aula síncrona do dia 18/03/2021
O projeto de extensão demonstrou que as instituições federais de ensino, ao cumprirem a reserva de vagas imposta pela Lei 12.711/12, possuem a responsabilidade de pensar políticas internas para tratar das questões étnico-raciais, contribuindo com a ruptura dessa cultura do silenciamento e invisibilidade dos cotistas. Embora essa não seja essa uma tarefa fácil, estamos convencidas de que é plenamente possível, desde que pautada por um esforço coletivo e sincero para construção de uma instituição mais inclusiva, justa e democrática, onde se garanta voz e vez aos cotistas.