Expressão - edição 2 - jun 2018

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USJT

junho 2018

ano 25

edição 2

EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL

Inclusão profissional a passos lentos Maristella, negra, e Lohanna, transexual, lutam para conquistar espaço em um mercado resistente à diversidade ESPECIAL - Pág. 6 a 9

SP sombria: roteiro apresenta lendas urbanas e fenômenos sobrenaturais

Pág. 13

MMA consolida novos lutadores no Brasil Pág. 11

Streamers brasileiros despontam no cenário de jogos digitais Pág. 5

Especialista debate fronteiras do microempreendedorismo Pág. 15 junho 2018

EXPRESSÃO

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CAR@ LEIT@R

#INSTANTÂNEO

Leonardo José

Guilherme Almeida

No Brasil, ser executivo de uma grande corporação é – na maioria dos casos – ser branco, cisgênero e do sexo masculino: segundo o Instituto Ethos e o Banco Interamericano de Desen­ volvimento, nem 5% dos líderes das maiores empre­ sas brasilei­ ras são negros. Indicado­res semelhantes apontam baixa presença de mulhe­res, pessoas com defici­ência, LGBTQ+ e ou­ tras populações no mercado formal: caso gri­tante é o das pessoas trans, com 90% de­ las vinculadas à prostituição por falta de alternativa. Nosso Especial explora os meandros da inclusão, bus­ cando demonstrar, por meio de histórias de vida, opiniões de especialistas e dados, por que o assunto é

tão complexo e – acima de tudo – urgente no mercado de trabalho. Conectada à ideia de interseccionalida­ de, ou interação entre ca­ tegorias biológicas, sociais e culturais da identidade, a questão nos leva a pensar como as barreiras à diver­ sidade podem reforçar a injustiça e a exclusão no ambiente empresarial. Nas demais páginas, nos­ sa equipe segue mergu­ lhando no campo so­ cial do País: streamers, iniciação científica, micro­ empreendedorismo, poesia urbana e a polêmica do EAD no Ensino Médio são alguns dos temas de destaque. Convida­ mos você a ler, avaliar e de­bater esta edição conosco. Boa leitura! Os Editores

Leonardo José

Um pedaço do Oriente em SP Visitantes passeiam pela Feirinha da Liberdade, na região central paulistana, que reúne artesanato, miudezas, gastronomia e cultura nos fins de semana. Sua primeira edição foi em 1975, partindo da ideia de uma colônia japonesa. Os artigos vendidos, em sua maioria, são temáticos do Japão – tudo em sintonia com o bairro, que é tradicional reduto de imigrantes do Oriente na cidade.

#FICA A DICA

EXPRESSÃO O doping na linha de tiro Divulgação

Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo junho 2018 • ano 25 • edição 2 Reitor Ricardo Cançado Pró-reitor de graduação Luís Antonio Baffile Leoni Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Profa. Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Profa. Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP

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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Mooca Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Guilherme Almeida

EXPRESSÃO

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Ícaro Ano: 2017 Gênero: documentário Distribuição: Netflix Duração: 2h01 Direção: Bryan Fogel

Ivan Freitas

O ciclista amador Bryan Fogel registra, na obra, sua tentativa de expor a incompe­ tência do sistema de antidoping ao repe­ tir o procedimento do campeão Lance Armstrong, que per­ deu os sete títulos do Tour de France após revelar o uso de subs­ tâncias proibidas. Ao participar de um programa hor­ monal que permite a identificação de falhas do sistema, um cientista americano lhe recomen­ da o orientador Grigory Rodchenkov, diretor do Laboratório Olímpico em Moscou.

O documentário segue seu curso, acompanhan­ do as atividades de Bryan enquanto é supervisiona­ do via Skype por Grigory, um russo carismático, responsável por trazer a dose de humor ao filme. A história sofre uma re­ viravolta quando o ciclis­ ta é convidado a ir à Rús­ sia a pedido do cientista – isso no exato momento em que a delegação de atletismo e o laboratório de antidoping do país são acusados de fraude. Rodchenkov está no centro de todo o escân­ dalo, que envolve a mani­ pulação no sistema anti­ dopagem nas Olimpíadas de Pequim, Vancouver, Londres e Sochi, a mando do próprio governo russo.

A partir desse inespe­ rado plot twist, o fil­ me ganha contornos de thriller investigativo, conforme Bryan segue registrando a explosão de acontecimentos, tor­ nando-se o único amigo de um homem persegui­ do pelo presidente de seu país, pela impren­ sa internacional e pela Agência Mundial Anti­ doping (Wada, na sigla em inglês). Embora, em alguns pontos, o filme sofra os­ cilações no ritmo e em sua dinâmica, é recomen­ dável pela inserção do diretor no decorrer dos fatos, conferindo proxi­ midade e a sensação de poder de intervenção di­ reta nos acontecimentos.


#PROTAGONISTA

O apito da partida para uma grande jornada

Carolina Didonet

Dos sonhos de cada menino de virar jogador de futebol, percorridos na qua­ dra, até a tática para chegar à vitória. É nesse trajeto que vive a técnica paulis­ tana Thalita Morais de Vasconcelos, de 33 anos, que comanda e administra o projeto de time de futsal A. E. C. 100 Zala, localizado no bairro do Arican­ duva, zona leste da capital. Desde pequena, Thalita gostava de fu­ tebol e de acompanhar seu time, o São Paulo Futebol Clube, para o qual veio a torcer por influência do seu pai. “Na época, o São Paulo estava em uma fase muito boa e era muito legal de assistir.” Por não ter incentivo ao futebol femini­ no, que era – e é até hoje – pouco tratado pela mídia, a jovem começou a praticá-lo na quadra da escola durante as aulas de educação física, além da rua, onde brinca­ va com os amigos.

Fotos: Carolina Didonet

Thalita Morais carrega a determinação para as quadras em cada disputa iniciação pelo futsal virou sem dúvida a minha paixão”, afirma. Depois do 1° de Maio, passou a trei­ nar sua primeira categoria do sub 11 e 15 no Colégio São José do Mara­ nhão; também coordenou a escoli­ nha do Corinthians por um ano. Mas a vontade de voltar para a competi­ ção era cada vez maior – e daí veio a ideia de construir um projeto pró­ prio, buscando os valores em que acredita. Junto com outro professor, Thalita fundou o time de futsal do A. E. C. 100 Zala, que está no seu sexto ano e tem marcada no nome a proposta de luta e superação. RECONHECIMENTO

FUTURO

Ao concluir o Ensino Médio, veio o di­ lema de decidir o próprio futuro e com­ binar esse planejamento aos estudos – naquele momento, Thalita fazia curso técnico em meio ambiente. Quando é para ser não tem jeito: a jovem teve uma oportunidade de prestar o único vestibu­ lar da sua vida e, por já ter o amor pelo es­ porte marcado em sua história, escolheu como curso Educação Física. Ela passou na Universidade de São Paulo (USP) e, em suas próprias palavras, entrou em um sonho. “Se eu tivesse demorado, talvez não tivesse escolhido algo de que gostasse tanto”, relata Thalita.

A. E. C. 100 Zala traz no nome a proposta de luta e superação por meio do esporte

Thalita Morais, técnica do time de futsal A. E. C. 100 Zala

“A determinação, a vontade de vencer e a importância do treinamento: passo isso para os meninos” Estudando em período integral na fa­ culdade, Thalita acessou o conhecimen­ to e os fundamentos de diversos espor­ tes – como o futsal, o futebol de campo e o atletismo. O contato com o futsal se intensificou quando realizou o estágio obrigatório, em 2004, no clube 1° de Maio, em que participava das competi­ ções da série Ouro. “Tive em minha vida pessoas que ensi­ naram muita coisa e carrego esses apren­

dizados. A questão da determinação, a vontade de vencer e a importância do treinamento: passo tudo isso até hoje para os meninos”, afirma. Thalita terminou o estágio e conti­ nuou ainda por quatro anos no time, dando início à pós-graduação em ini­ ciação esportiva da infância à juventu­ de e em administração e marketing es­ portivo pelas Faculdades Integradas de Santo André (Fefisa). “O treinamento à

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Após muito trabalho e aprendizado, 2016 foi o ano em que Thalita, junto de uma comissão técnica, de atletas empe­ nhados e de pais confiantes, começou a colher bons frutos. “Começamos a mos­ trar um futebol mais forte nas compe­ tições, conquistando vice-campeonato no Sub-12 Metropolitano. Em 2017 conquistamos o primeiro ouro, sendo invictos no campeonato metropolitano da série prata com o Sub-14”, relata. Thalita Morais se tornou uma treina­ dora admirada pelo seu trabalho, dedi­ cando todo o seu tempo a melhorar a própria performance e os resultados do seu time. Já ganhou Troféu Dedicação pela Federação Paulista de Futsal e diz estar nessa área para plantar e colher aquilo em que acredita. “O reconheci­ mento que tenho para mim basta, re­ cebo também grande valor das pessoas que veem minha dedicação.”

“Começamos a mostrar um futebol mais forte nas competições” EXPRESSÃO

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VIDA DIGITAL

Projetos incentivam meninas a atuar na área da tecnologia Luana Nascimento

Quando pensamos nos responsáveis por grandes invenções tecnológicas, como o wi-fi, o compu­ tador, algoritmos ou a própria linguagem da programação, o que vem à cabeça? Um homem? Al­ guém como Steve Jobs ou Mark Zuckerberg? Esse estereótipo do ga­ roto nerd tem tornado in­ visíveis grandes nomes de mulheres ligadas à área de Tecnologia da Informação (TI). Ada Lovelace, mate­ mática e escritora inglesa, é hoje reconhecida como a primeira programadora do mundo. Em sua homena­ gem foi criado o Ada Lo­ velace Day. Comemorado

toda segunda terça-feira do mês de outubro, a data serve como um incentivo para que meninas apaixo­ nadas por tecnologia cor­ ram atrás de seus sonhos. Essa mudança já está acontecendo. Iniciativas que incluam mulheres e pessoas que antes estavam fora da área têm surgido: é o caso do Desprograme, criado por Cristina Luz, desenvolve­ dora de sistemas e consul­ tora em educação. O proje­ to começou quando ainda estava na faculdade. Para ajudar os colegas a apren­ der a programar, ela criou, inicialmente, um blog. O sucesso entre os amigos foi grande e atualmente, Cristina leva o Desprogra­ me para mais de 1.000 pes­

Desprograme / Divulgação

Ações impulsionam inclusão de mulheres nas áreas de design de games e programação

Equipe do Desprograma em evento de tecnologia soas por meio de cursos, aulas gratuitas, palestras e workshops para iniciantes. “Mesmo sendo apaixo­ nada por tecnologia e ga­ mes, eu tive dúvidas. Sem­ pre me empurravam para o Direito, para Medicina. Fiz uns cursos de manutenção de computadores e acabei arriscando”, conta. “Na

faculdade, eu era a única da sala que já sabia progra­ mar, então criei o blog.” MERCADO DE TRABALHO

O mercado da tecnologia é uma área com alta de­ manda por profissionais qualificados. No Brasil, esse gargalo se aprofunda ainda mais. Um estudo re­

CONSUMO

Facebook mantém preferência dos publicitários e anunciantes Elaine Pereira

Ao mesmo tempo em que enfrenta acusações por vazar dados de seus usuários para a empre­ sa de marketing político Cambridge Analytica, o Facebook ainda tem li­ derança em propagandas e anúncios. Segundo o último balanço da em­ presa, somente no quarto trimestre de 2017 o lucro líquido alcançou US$ 4,2 bilhões, e a receita com publicidade chegou a US$ 12,7 bilhões, uma alta de 48%.

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O professor da PUC-SP e publicitário Alexandre Reibaldi aponta algumas razões para a preferência do mercado. “Os formatos de compra de mídia são mais atraentes, os dados e sistema são mais precisos e as redes sociais já são mais maduras. No Orkut, não

Dados explorados são advertidos em contrato

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existia a compra de mídia, e o público do Twitter é imensamente menor.” Uma situação bem co­ mum para quem usa o Facebook é ter produtos pesquisados ou vistos em sites que foram visitados aparecendo no feed de no­ tícias. Tudo isso acontece não porque necessaria­ mente Google e Facebook “conversam” entre si. “O Facebook só tem acesso aos seus cookies, além de suas preferências de navegação na própria plataforma”, complemen­ ta o publicitário.

REGRA DO JOGO

O algoritmo respon­ sável por mandar anún­ cios para um público específico pode gerar a sensação de invasão, pois o que o usuário faz na internet, princi­ palmente em relação a comprar produtos, apa­ rece em seu feed. “O Facebook é uma rede privada e que possui um dono. Todos os dados explorados são adver­ tidos em contrato no momento que o usuário cria o seu perfil”, con­ clui Reibaldi.

alizado em 2016 pela Cisco, líder mundial em TI e re­ des, mostrou que o Brasil é o país da América Latina que mais precisa de profis­ sionais do setor. O relatório indicou ainda que, até 2019, a demanda será maior que a oferta de 449 mil especialis­ tas na área. Mesmo assim, mulheres ainda têm dificul­ dade para iniciar na área. DESAFIOS

Cristina conta que, no início, na sua sala da uni­ versidade havia um bom número de meninas, mas muitas deixaram o sonho pelo caminho. “Você tem que ser sempre melhor para ter credibilidade, tem que pensar na forma como se impõe, como fala, como

propõe as ideias”, diz. “Ou você é tratada como um objeto de porcelana ou você tem que aguentar piadinhas machistas.” Para a estudante de De­ sign de Games Nicole San­ tos, a situação não é muito diferente. Os problemas já começaram em casa. “Quando você diz para a sua família que quer en­ trar na área de games todo mundo se assusta por ser um curso dominado por meninos”, comenta. Para Cristina Luz, o mercado ainda precisa entender que a diversida­ de é positiva. “Já existem estudos que indicam que empresas com maior di­ versidade de gênero geram mais lucro”, afirma.

CONTRA O ASSÉDIO

App oferece transporte só para mulheres Hysabella Conrado Em meio a um cenário de denúncias constantes de assédio dentro de carros que prestam serviços de transporte individual no Brasil, o aplicativo Lady Driver trouxe a proposta de conexão entre passageiras e motoristas mulheres. O app está disponível em todas as plataformas. “Podemos dizer que o mercado ‘abraçou’ a Lady Driver, era um espaço carente e inexplorado”, diz a cofundadora do aplicativo, Bianca Saab.

“Proporcionamos às mulheres uma qualidade de trabalho superior ao que elas encontram em outros apps”, afirma. Bianca também explorou o caráter empoderador do projeto: “A Lady vai oferecer independência financeira e flexibilidade de trabalho para cada mulher que precisar de uma oportunidade.” Sobre os planos para o futuro, a cofundadora diz que o jornal de Londres Financial Times reconheceu o app. “Estamos estruturando nossa expansão internacional”, afirma.


VÍDEO + JOGOS

Streamers modificam experiência de usuários com games Divulgação/INTZ e-Sports

Em crescimento no mundo todo, o streaming atrai audiência e mobiliza mercado

Daniels Marcon com o uniforme da organização INTZ e-Sports: carreira promissora para jogadores Gustavo de Almeida

Produtores de conteúdo para mídias digitais vêm adotando cada vez mais a interação instantânea e a velocidade de comunica­

ção. As famosas lives no Facebook e Instagram são exemplos de aproximação com o público. Uma área que está se beneficiando é a de games, com os famo­ sos streamers. São jogado­

res que transmitem ao vivo suas experiências com jogos eletrônicos, principalmen­ te na plataforma twitch.tv, site voltado especificamen­ te para essas transmissões. Nesses espaços, os streamers

vêm batendo recordes de audiência pelo mundo. Comumente, campeo­ natos de jogos alcançam em torno de 100 mil es­ pectadores simultâneos, e nomes conhecidos do cenário quebram mais re­ cordes com sua criativida­ de. Para os espectadores brasileiros, nomes como Yoda, Jukes, Pimpimenta e Rakin são praticamente celebridades, estreitando relações com o público no cenário de e-sports. Muitos desses streamers vivem apenas de suas transmissões; é o caso de Daniels Marcon, um nome popular entre os strea­ mers brasileiros. “Era um dos Top 50 no League of Legends, queria entrar no

competitivo mas larguei quando entrei na faculda­ de, porém continuei stre­ amando no meu tempo livre”, diz. O curso de ciência da computação durou ape­ nas um semestre. “Fui ge­ rando conteúdo e, quan­ do começou a render, decidi sair da faculdade”. Com o crescimento e a contratação pela consa­ grada organização de e-S­ ports INTZ, a mudança para São Paulo foi natu­ ral; partiu de Porto Ale­ gre para viver dos jogos eletrônicos. Inicialmente contratado como reserva, logo se fixou como strea­ mer para a organização, continuando o conteúdo que o fez relevante.

A interação com o públi­ co é um aspecto essencial na crescente dos streamers. “Você não consegue con­ versar com as pessoas pela TV ou Youtube, na stream é um conteúdo ao vivo, tem muito mais interação com o público”, conta. “Eu con­ verso com quem me assiste, resolvo questões na hora, respondo o que me pergun­ tam e o que gostam.” O crescimento dos strea­ mers pode ser relacionado ao grande número de jogos competitivos de multijoga­ dores e, também, ao cenário eletrônico esportivo – que ganha popularidade e tama­ nho a cada ano. Leia mais sobre e-sports na página 10 desta edição.

CREDIBILIDADE

Por trás das fake news nas redes sociais

Talita Benjamin

A facilidade de se comu­ nicar por meio da tecnolo­ gia e o instantâneo acesso à informação acompanha­ ram o desenvolvimento de um velho hábito social dentro da comunicação: a criação de boatos e ru­ mores. Essa prática mile­ nar ganha novo formato e maior alcance com o ad­ vento da internet: são as famigeradas fake news, ou notícias falsas, que ganha­ ram tanta influência a pon­ to de serem reconhecidas por qualquer usuário de redes sociais. Em ano de eleição presi­ dencial no Brasil e com as tensões políticas em âmbito internacional atingindo ní­ veis preocupantes, as notí­

cias falsas compartilhadas em redes sociais são acusa­ das de influenciar cenários – um dos casos mais con­ troversos foi o resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos, em 2016. Cresce a preocupação de especialistas e profissio­ nais do jornalismo de que informações imprecisas ditem a opinião pública na escolha do próximo líder da República. REPUTAÇÃO DA WEB

O jornalista, professor e mestre em Comunicação Jorge Tarquini cita a Pes­ quisa Brasileira de Mídia de 2016, que mostra que a credibilidade de informa­ ções de redes sociais ainda é bem menor do que a de outros veículos: “a maioria

ainda liga seus ‘desconfiôme­ tros’ ao ler uma notícia falsa, mas ainda precisamos com­ bater o compartilhamento.” Na opinião do professor, apesar de não terem credibi­ lidade, as notícias falsas não deixam de influenciar a opi­ nião do usuário; a maioria provoca polêmicas e atinge os extremos políticos à direi­ ta e à esquerda. “O brasileiro tem uma característica novelesca, uma empatia pelo sensacio­ nalismo. Adoramos uma fofoca, uma teoria da cons­ piração”, lembra o profes­ sor. “Quando isso começa a permear para o mundo de verdade, cria um ambiente complicado, negativo, pois o brasileiro vota em polí­ ticos e partidos, e não em ideias”, conclui.

Divulgação/Wall Street Journal

Americanos acompanham apuração dos votos das eleições dos EUA junho 2018

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ESPECIAL

Barreiras profissionais erguidas pelo preconceito

Gabriel Cavalari

Mercado brasileiro ainda fracassa na hora de incluir adequadamente negros, mulheres e transgêneros

Conseguir emprego é uma dificuldade para trans, negros e outras populações A QUESTÃO TRANS

Gabriel Cavalari

Violência, preconceito, opressão, discriminação, desprezo. Ser transexual, mulher ou negro no Bra­ sil requer jogo de cintura, personalidade e cabeça no lugar para não perder o rumo na vida. Todos os dias, pessoas perdem oportunidades em entre­ vistas de emprego por não se sentirem pertencen­ tes ao gênero que lhe foi atribuído, não terem pele branca ou por serem do sexo feminino. Confira, nas próximas páginas, uma síntese de histórias, reflexões e in­ dicadores que refletem os desafios da inclusão real no mercado de trabalho.

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Por que as pessoas ainda enxergam transexuais como se fosse algo errado? A questão, pouco tratada em disciplinas escolares de educação sexual, pode ser silenciada e com isso atrapalhar o respeito às diferenças. Passando pela infância e adolescência, o jovem cria um preconceito com o diferente, margina­ lizando o gay e o transe­ xual das rodas de amigos à área de recrutamento de uma empresa. Quando um indivíduo carregado de preconcei­ tos chega ao mercado de trabalho, principalmen­ te em cargos nos quais precisa escolher funcio­ nários, sequer olha para

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“A em­presa quer moldar o fun­cionário de acordo com a sua filosofia” quem é trans. “O mercado de trabalho é muito cruel. A empresa quer moldar o funcionário de acordo com a sua filosofia e mui­ tas pessoas não se enqua­ dram nesse padrão, por serem homossexuais, de­ ficientes, negros, ex-pre­ sidiários e transexuais e acabam ficando de fora”, afirma Juliana Pinheiro,

28 anos, professora de Gestão em Negócios. Segundo Juliana, que dá aula para menores apren­ dizes que estão iniciando no mercado de trabalho, as organizações não querem correr riscos. “Isso envol­ ve dinheiro. Por exemplo, um transexual trabalhando como atendente ou recep­ cionista vai lidar direta­

mente com o cliente e o pre­ conceito dessa pessoa pode afastá-lo da empresa. Então, para o patrão, é muito mais fácil esconder essas pessoas e até nem contratar”, diz. DA UTOPIA À PRÁTICA

Esta exclusão do merca­ do de trabalho, por muitas vezes, acaba levando tran­ sexuais para a prostituição, um caminho praticamente sem volta. Segundo o rela­ tório da violência homofó­ bica no Brasil, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidên­ cia da República (SDH), a transfobia, nome dado ao preconceito contra tran­ sexuais, faz com que esse grupo tenha na maioria das vezes como única opção

de sobrevivência a pros­ tituição. Um estudo feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) aponta que 90% das pessoas trans recorrem a essa profissão em algum momento da vida. “Acabar com o precon­ ceito, infelizmente, parece uma utopia na sociedade que vivemos. O que po­ demos fazer para ele di­ minuir é educar, investir na educação, mudar a so­ ciedade que viveremos no futuro”, diz a professora Juliana Pinheiro. “Não adianta só uma empresa contratar transexuais, isso não é uma luta contra o sistema. Temos que mu­ dar a sociedade para in­ cluir essas pessoas.”


POPULAÇÃO NEGRA

Nos dois lados da mesa, cor ainda é marcador profissional Lucas Antonio

Ser negro no Brasil nun­ ca foi e nunca será tarefa fácil. Afirmação difícil de acreditar quando lembra­ mos que o País é o que mantém o segundo maior número de pessoas ne­ gras no mundo, só atrás da Nigéria. Dos mais de 207 milhões de habitantes, cerca de 54% das pessoas se declaram negras ou par­ das, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas por que esse povo que representa pra­ ticamente metade da população economica­ mente ativa no Brasil ainda sofre dificuldades para conseguir vagas no mercado de trabalho? A situação piora quan­ do falamos sobre cargos executivos e de liderança em grandes empresas. Estudo do Banco Intera­ mericano de Desenvolvi­ mento (BID) e do Instituto Ethos apontou que somen­ te 4,7% dos executivos das 500 maiores empresas bra­ sileiras são negros. Dessas companhias, menos de 4% têm alguma ação afirmati­ va para ampliar a presen­ ça de afrodescendentes. O mesmo ocorre em cargos de supervisão, 72,2% dos

quais ocupados por profis­ sionais brancos. São muitos os relatos das dificuldades enfrenta­ das para ingressar no mer­ cado. Liliane Rocha é ne­ gra, lésbica e viveu grande parte de sua juventude na periferia. Atualmente ela é executiva, escritora, palestrante, mestranda em políticas públicas e proprietária e diretora da instituição Gestão Kairós, empresa especializada em tratar assuntos de Susten­ tabilidade e Diversidade. “Mesmo que negros e brancos exerçam a mes­ ma função em uma gran­ de empresa, os negros chegam a ter uma renda 60% menor em relação aos brancos”, diz. “Há uma ampla distância que pre­ cisa ser encurtada entre esses profissionais e os es­ tabelecimentos com vagas a oferecer”, disse Liliane Rocha em palestra sobre lideranças inclusivas, or­ ganizada na Universidade São Judas no mês de abril. 170 ANOS DE ATRASO

Já existem medidas de inclusão para afrodescen­ tes na educação: os núme­ ros de pretos e pardos no ensino superior crescem a cada ano. Em teoria, estudantes saem da uni­

versidade prontos para exercer sua atividade. No entanto, os jovens dizem enfrentar barreiras. “Já passei por centenas de entrevistas e processos seletivos e, quando paro para perceber, em nenhu­ ma situação o entrevista­ dor tinha o mesmo tom de pele que o meu”, aponta Maristella Cardoso, estu­ dante de Serviço Social, negra e que busca entrar no mercado de trabalho. Segundo dados do Insti­ tuto Gestão Kairós, as mu­ lheres têm renda 24% me­ nor do que a dos homens. Com medidas positivas, a situação se normalizará em 2187. Ou seja, somente daqui a aproximadamente 170 anos teremos equida­ de salarial. “Entre os que estão dis­ putando aquela vaga, a cada dez, eu vejo apenas cerca de dois a três afros”, nota Maristella. “Eu gos­ taria muito de ter alguém em quem eu pudesse me espelhar ou tomar como exemplo de uma pessoa bem sucedida, realizada profissionalmente. Isso pode parecer irrelevante, mas é super importante para nós que buscamos um incentivo a mais na hora de procurar empre­ go”, diz a universitária.

“Nunca o entrevistador tinha o mesmo tom de pele que eu”

Camila Nobayashi

Maioria na população e minoria em cargos executivos: situação do negro no mundo do trabalho é desafio para empresas

Maristella Cardoso representa a luta dos negros em busca de oportunidades no mercado de trabalho

4,7%

dos executivos das 500 maiores companhias do País são negros

10%

60%

Até menor é a renda dos negros em comparação a brancos que exercem a mesma função profissional

são mulheres

Mulheres têm renda

24%

inferior à dos homens

Fonte: IBGE, Kairós, BID e Ethos

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PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

VAGAS PARA PCD: ONDE ENCONTRAR

Lei abre portas para PCDs no mercado de trabalho Desafio, hoje, é oferecer vagas adequadas ao perfil de cada empregado do computador”, afirma Marcelo Siqueira. “Com a mudança da lei, se tem a oportunidade de trabalhar em casa e ter seus direitos assegurados”, conclui. O comportamento in­ clusivo deve ser priorida­ de em todos os setores do mercado. “A sociedade não está preparada para dar suporte àqueles que precisam. Funcionários do metrô, por exemplo, não sabem abordar um defi­ ciente visual, chegam inti­ mando uma ajuda”, alega Marcelo.

CENTRO DE INCLUSÃO E ASSISTÊNCIA A PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS (CIASPE)

Beatriz Santos

O que faz: ajuda PCDs a se inserir no mercado de trabalho e mantém projetos de inclusão social Endereço: Rua Ibatinga, 291 Jardim Umuarama, Indaiatuba (SP)

LEGISLAÇÃO

Mais informações: Tel.: (19) 3894-5351 ciaspe.org.br

Marcelo Siqueira, que tem deficiência visual: empresas devem adequar estrutura de acordo com o profissional contratado

• INSTITUTO BRASILEIRO DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (IBDD) O que faz: apoia a inclusão no mercado e capacita PCDs. Também trabalha em prol da garantia dos direitos desta população. Endereço: Rua Loefgreen, 2109 Vila Clementino, São Paulo (SP) Mais informações: Tel.: (11) 5080-7000 ibdd.org.br

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Beatriz Santos e Thais Larangeira

A Lei de Cotas, aprovada em 1991, é uma medida de abertura e fomento ao ingresso de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Com o preenchi­ mento de 2% a 5% das va­ gas na empresa, os profis­ sionais atuam com garantia e proteção de seus direitos. A aplicação da medida, no entanto, não tem sido feita da melhor forma no País: segundo a Pesquisa Comparativa Social - Ex­ pectativas e Percepções sobre o Mercado de Tra­ balho para PCD, apresen­ tada pela i.Social, 49% das vagas oferecidas pode­ riam ser mais adequadas

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aos perfis profissionais do ponto de vista de pessoas com deficiência. E, apesar do trabalho feito por mui­ tas ONGs de oferta e ca­ pacitação para os cargos, nenhum dos pesquisados procura por trabalho dire­ tamente nessas organiza­ ções; 30% optam por sites de emprego online. De acordo com a presi­ dente do Centro de In­ clusão e Assistência a Pessoas com Necessida­ des Especiais (Ciaspe), Edvane Lopes, “normal­ mente as vagas que são disponibilizadas aos defi­ cientes são vagas gerais”, mesmo que 21% desse grupo tenha ensino su­ perior completo, como

visto na pesquisa Expec­ tativas e Percepções. “Às vezes, por mais qua­ lificado que você seja, quando percebem que você possui uma deficiência, sempre dizem que ‘vão li­ gar’, porque já na entrevis­ ta eles colocam barreiras na acessibilidade, dependen­ do da deficiência. Rampas, aparelhos auditivos etc. são empecilhos na contrata­ ção”, diz Marcelo Siqueira, portador de deficiência vi­ sual, formado em Tecnolo­ gia da Informação. Edvane corrobora e afir­ ma que “deficiente intelec­ tual é o que menos a gente consegue inserir” no mer­ cado de trabalho. “Isso vai exigir um pouquinho mais

de trabalho para a empre­ sa”, explica. Hoje, muitas ONGs ofe­ recem projetos inclusivos, com oficinas e capacitação que buscam melhorar a qualidade de vida pessoal e profissional, dando um direcionamento melhor à área em que cada profis­ sional irá atuar. No caso do Ciaspe, esse acompa­ nhamento é contínuo, desde o processo seletivo até a contratação. O modelo de home office também tem facilitado a relação entre empresas e funcionários. “Muitos não conseguem sair, como um cadeirante que mora em outro município e é con­ tratado para ficar na frente

As empresas não podem exigir de seus contratados serviços que não possam ser realizados por conta de suas limitações. “Em razão do princípio constitucional da dignidade humana, não é razoável que o empre­ gador exija do empregado a realização de atividades incompatíveis com a defici­ ência”, afirma Isabela Giosa, Procuradora do Instituto de Previdência Social dos Servi­ dores Municipais de Barueri (Ipresb). “Caso haja alguma cobrança neste sentido, são cabíveis as medidas judiciais previstas, para a defesa dos direitos do empregado.” Atualmente, além do Ciaspe, para quem deseja um suporte e oportunida­ des que saiam dos sites, o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a Associa­ ção de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) fa­ zem parte do rol de ONGs brasileiras que trabalham com a inclusão no empre­ go (confira no box).


TRANSGÊNEROS

A batalha do reconhecimento

Guilherme Almeida

O dia a dia de uma transexual que conquistou seu lugar no mercado de trabalho

Lohanna Mesquita trilha seu caminho no mercado Guilherme Almeida

Hoje formalmente em­ pregada como operadora de telemarketing, Lohan­ na Mesquita, 21, nasci­ da Julio, tem uma vida marcada por desafios, conquistas e dificulda­

des enfrentados em um ambiente profissional marcado pela falta de diversidade. A infância, por exemplo, época de conhecimento e desco­ brimento para muitos, acabou não sendo tão clara para Lohanna.

“Eu não sabia o que era, sempre faltou informação sobre o que estava acon­ tecendo comigo. É muito difícil para uma criança descobrir que é homosse­ xual”, desabafa. Crescer em um ambiente onde não há o respeito ade­ quado acabou influencian­ do as primeiras amizades. “Não me sentia bem tendo amizades masculinas, sem­ pre me identifiquei e fui mais próxima das meninas”, conta. Estar inserida em um ciclo social também causou problemas para Lohanna se aceitar. “Sempre tinha aque­ les meninos que me chama­ vam de bichinha, gayzinho, e eu nem sabia o que era aquilo direito. Eu acabei me tornando meio reservado, quietinho. Sempre que me perguntavam se eu era gay, morria de vergonha”, relata. Segundo dados da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (RedeTrans),

82% das mulheres transe­ xuais e travestis deixam o Ensino Médio por conta de discriminação. FAMÍLIA E AMIGOS

Em meio a tanto medo e preconceitos, o apoio de pes­ soas próximas foi de grande valor. “Primeiro falei para a minha mãe com um certo receio, mas ela aceitou, disse que estava tudo bem e que eu seria sempre filho dela. Isso foi um alívio gigante, me senti muito mais seguro desde então.” A história de aceitação de Lohanna em sua família é boa, mas em vários casos não é tão simples. Nos úl­ timos anos, acompanha­ mos dezenas de casos de filhos que morreram nas mãos dos próprios pais por serem gays. TRABALHO E FUTURO

A falta de oportunida­ des faz com que muitos

transexuais acabem se prostituindo em algum momento da vida. “Sem­ pre trabalhei na mesma empresa. No começo era meio tímida, mas depois fui me soltando. Hoje em dia, sou muito respeita­ da. Lá todo mundo sabe quem sou e não tenho problemas”, comenta. Outro fato extremamente feliz foi a participação de Lohanna em uma campanha publicitária nas redes sociais da empresa em que trabalha, a Pluris Mídia. “Uma foto minha foi postada em uma publicação que anunciava novas vagas na empresa. Foi especial para mim. Me senti representada”, relata. Em relação às adversida­ des, Lohanna não pensa ne­ gativo e diz estar disposta a enfrentar o que vier. “Hoje eu busco respeito, que ainda está em falta. Ainda existem muitas questões que devem ser abordadas e resolvidas.”

Estigma começa ainda na infância O Brasil é o primeiro no ranking mundial de países que mais matam travestis e transexuais. Casos de perseguição seguidos de morte são maiores contra esses grupos: a falta de in­ formação, o ódio e a rejei­ ção fazem com que sejam ameaçados e assassinados diariamente. A expectati­ va de vida de uma pessoa transexual não passa dos 35 anos – o normal seria 75, segundo dados de or­ ganizações da sociedade civil mencionadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Mikhail Nicolai, 20

anos, é um homem trans e retrata a dificuldade para conviver em so­ ciedade. Desde criança, Khallil, como gosta de ser chamado, já tinha conhe­ cimento da sua identida­ de, mesmo com os seus familiares tentando con­ vencê-lo do contrário. ‘‘O preconceito é algo que nós passamos todos os dias, olhares de repro­ vação, pessoas dizendo que devemos seguir em frente do jeito que nasce­ mos, que nunca seremos homens ou mulheres por causa de uma genital’’, desabafa Mikhail. De acordo com o Mapa dos Assassinatos de Tra­

vestis e Transexuais do Brasil, no ano anterior, fo­ ram estimados 179 assas­ sinatos - ou seja, a cada 48 horas uma pessoa trans é morta. O número de óbi­ tos é o maior nos últimos dez anos; os perfis mais agredidos são de etnia parda ou negra, solteiras, apresentam baixa escola­ ridade e predominante­ mente são garotas de pro­ grama e cabeleireiras. ‘‘Desde pequeno sem­ pre me senti como um menino. Mesmo com todos me dizendo que não era certo comportar de tal forma, eu não tive e não tenho apoio ne­ nhum’’, relata.

Nos últimos 8 anos

morreram 868 transexuais no Brasil. Somos o país que mais mata transexuais em todo o mundo.

Somente 11 cidades do país possuem

ambulatórios especializados voltados para transexuais. O Brasil possui 5.570 municípios. Fonte: Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra)

• VOCÊ SABIA?

Lainy Cherry

Ana Luisa Pinheiro

35 anos

é a média de vida de uma transexual. A média da população é de 75,5 anos.

Mikhail Nicolai busca espaço na sociedade por meio da luta contra a transfobia

junho 2018

O(a) transexual nasce biologicamente pertencente a um determinado sexo, mas sente-se, percebe-se e tem a vivência psíquica de outro(s). A pessoa trans não se identifica com o gênero atribuído em consonância ao órgão genital, adotando roupas do sexo oposto e eventualmente recorrendo a tratamentos hormonais e processos de redesignação de gênero.

EXPRESSÃO

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ESPORTE E LAZER

E-sports: mania nacional segue em construção

Como funciona?

Campeonatos brasileiros atraem cada vez mais espectadores no Brasil Victor Vasques

Os esportes eletrônicos, ou simplesmente e-sports, são uma prática cada vez mais comum no Brasil. Es­ pecula-se que essa catego­ ria, responsável por tornar videogame um esporte, começou na Coreia do Sul e alguns pontos da Europa antes de chegar ao País. De um dos jogos mais populares da atualidade, o RPG League of Legends, surgiu a competição mais expressiva do País, o Cam­ peonato Brasileiro de Lea­ gue of Legends (CBLoL). Oito times se enfrentam regularmente ao longo de cada semestre. Já são 12 edições realizadas e uma das equipes líderes, paIN Gaming, foi a primeira de e-sports no mundo a criar planos de sócios-torcedo­ res da equipe. O crescimento nos últi­ mos anos se expressa em

números: as etapas são todas transmitidas pelo Youtube, e, no ano passa­ do, foram registrados 20 milhões de espectadores na final do campeonato. Alguns clubes brasileiros de futebol já estão entran­ do neste universo. O Co­ rinthians, por exemplo, fez parceria com uma equipe já existente no fim do ano passado. Já o Flamengo deu início às atividades nos e-sports em 2018. O estudante de Ciência da Computação Elias Blicker elogia o profissio­ nalismo do campeonato. “As equipes brasileiras são muito bem organizadas e preparadas. Com os clubes de futebol entrando, acho que tende a entrar mais dinheiro e mais populari­ dade”, disse. Fã de League of Legends, o universitário diz acom­ panhar todas as etapas da disputa brasileira. “Dá

Victor Vasques

Titulares: 5 Reservas: 3 Treinador: 1 Posições: • Topo • Caçador • Meio

Playstation 4, uma das plataformas mais adotadas para o game FIFA para ver que mais pessoas se interessam e começam a entender do assunto. O jogo é bem complexo e detalhado no começo, bas­ tante estratégico”, relata. PERSPECTIVA

O youtuber Osiel, que tem o Canal dos Bolei­ ros, pratica diversos ti­ pos de jogos no seu ca­ nal e lança diariamente

vídeos novos: “Sou um youtuber que ainda não tem tanta fama, nem nada. Estudo adminis­ tração, trabalho e ainda jogo e edito meus víde­ os”, relata, afirmando ser adepto de todos os mo­ dos possíveis de FIFA e Pro Evolution Soccer. “O crescimento dos e-sports vai me ajudar a crescer”. Fã de games, o estu­

dante de Direito Ma­ riano Ortega é adepto tanto de League of Le­ gends quanto de Mine­ Craft (também do gêne­ ro RPG) e Call of Duty (jogo de tiros). Segundo ele, falta visibilidade à prática. “Vejo este cres­ cimento dos e-sports como algo bom e que ainda é pouco divulgado e comentado.”

• Atirador • Suporte

Times por

campeonato: 8

Edições: 12 (2012 a 2018)

Por ano: 2 edições Views: 20 milhões na final (YouTube)

Último Campeão: KaBuM

COPA DO MUNDO

No álbum, mas fora do Mundial Leonardo José

Às vésperas de mais uma Copa do Mundo, o álbum oficial da competição entra na rotina dos colecionado­ res. O livro de figurinhas é febre entre os boleiros desde a década de 1970; em 2018 não é diferente. Porém, por ser comercia­ lizado antes das convoca­ ções finais, acaba deixando de fora das seleções alguns jogadores que estampam seus retratos.

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Nas bancas desde março, o álbum da editora Panini conta com figurinhas de jogadores pré-convocados por suas seleções. Contu­ do, atletas como Roque Jú­ nior, Júlio Baptista, Ronal­ dinho Gaúcho e Robinho estiveram no álbum, mas não foram à Copa do Mun­ do neste século. Em 2002, o zagueiro Juan e o volante Emerson esta­ vam nos cromos da Panini, mas só puderam assistir ao Mundial pela televisão.

EXPRESSÃO

junho 2018

“É uma sensação muito chata. Eu via a minha figuri­ nha e não via meu nome na escalação”, contou Emer­ son, que ficou ausente por ter se lesionado semanas antes da competição. Roque Júnior, Júlio Bap­ tista e Renato passaram pela mesma situação na Copa de 2006, na Alema­ nha. Já em 2010, o “Im­ perador” Adriano, Ronal­ dinho Gaúcho e André Santos marcaram presen­ ça no álbum, mas não fo­

ram convocados. Em 2014, no Mundial do Brasil, so­ mente Robinho foi o “sor­ teado” da vez. Esse grupo aumentou ainda mais. Para a Copa da Rússia, Daniel Alves sofreu lesão no tornozelo um mês e meio antes de disputar o Mundial – sua figurinha, porém, já está no álbum. Outro que ficará de fora, mas já tem seu espacinho entre os colecionadores, é Giuliano, que não foi con­ vocado pelo técnico Tite.

Leonardo José

Páginas da Seleção Brasileira no álbum da Panini


LUTAS

MMA cresce no Brasil e movimenta esporte

SINUCA E BILHAR

Federação Paulista anuncia mudanças

Luis Filipe Santos

Volta do UFC ao País expande visibilidade da categoria e dá oportunidades para o surgimento de novos lutadores Diego Alves

Lutadores após treino na academia 011, em São Paulo: à busca de um lugar na cena Diego Alves

Um dos esportes que mais vêm crescendo no Brasil, as Artes Marciais Mistas (MMA) mostram números surpreendentes em solo verde e amarelo a cada ano que passa. Para os especialistas, essa cres­ cente teve início após o Ultimate Fighting Cham­ pionship (UFC) – maior companhia de MMA do mundo – ter desembar­ cado no Brasil, em agosto

de 2011, 13 anos após uma primeira investida. A organização retornou ao País no momento em que os lutadores “canari­ nhos” passavam por uma grande fase. Nomes como Anderson Silva, José Aldo e Júnior Cigano ajudaram essa expansão. Anderson Silva, então campeão peso médio da organização, mediu forças com o japo­ nês Yushin Okami na luta principal do evento, deno­ minada UFC 134.

Após ter números expres­ sivos, a organização desem­ barcou mais 29 vezes no país. Nisso, a companhia decidiu criar o The Ultima­ te Fighter (TUF) Brasil – programa de TV com dois lutadores à frente de duas equipes rivais disputando lutas eliminatórias –, com a intenção de encontrar no­ vos talentos. O programa foi transmitido pela TV Globo por quatro anos, deixando mais fácil o acesso por parte dos telespectadores.

Em entrevista, Marcos Rogério de Lima, lutador peso-meio-pesado que foi contratado após disputar o TUF, opinou sobre o cres­ cimento do MMA. “Para mim, três fatores determinaram. Em pri­ meiro, o UFC 126, que colocou Anderson Silva x Vitor Belfort frente a frente no que foi consi­ derado ‘a luta do século’; em segundo lugar, o UFC 134, que marcou a volta do UFC ao país após 13 anos; e, em terceiro, a criação do TUF Brasil, que fez os bra­ sileiros acreditarem muito mais no sonho de ser luta­ dor”, completou Pezão. PÚBLICO RECORDE

Em março de 2016, du­ rante o UFC 198, ocorrido na Arena da Baixada, no Paraná, o sucesso foi ainda maior. Após muito tem­ po sonhando, as disputas ocorreram em um estádio de futebol, trazendo um público total de 45.207 pessoas presentes.

Sinuca é, além de esporte, um passatempo que marca presença em bares por todo o Brasil Luis Filipe Santos

A Federação Paulista de Sinuca e Bilhar (FPSB) tro­ cou a direção recentemen­ te, e os novos responsáveis pela entidade já começa­ ram a deixar sua marca. A principal mudança é que, com o fechamento da sede própria da organização, ocorrida em abril de 2017 por problemas financei­ ros, os torneios serão dis­ putados em clubes parcei­ ros da entidade. Espaços como o Club Homs, na Avenida Pau­ lista, passarão a receber os campeonatos em seus locais. Outra mudança é a criação de um aplicati­ vo para a divulgação de rankings, tabelas e calen­ dário aos competidores. “Ao invés de buscar a no­ tícia, ela irá chegar até eles, diminuindo o contingente

de ausências em jogos, além de possibilitar a atualização das informações em tempo real”, esclarece Alexandre Debone, diretor da FPSB. Há mais uma razão para o novo aplicativo: transpa­ rência. “Com isso, conse­ guimos algo eficaz, já que não existirá mais a possibili­ dade de manipular tabelas”, avalia Debone. O vice-presidente tam­ bém conta planos para ex­ pandir a FPSB. “Além dos principais e tradicionais campeonatos, dobraremos a quantidade de eventos, que sempre acontecerão na sede dos clubes parceiros. Assim, pretendemos conquistar mais filiados e aumentar o contingente de chamados ‘federados’”, revela. “Tam­ bém pretendemos difundir a modalidade para o interior do estado e a Baixada Santis­ ta”, conclui Debone.

NOVAS CULTURAS

Jogadores no exterior vivem adaptações Gustavo Mignanelli

O futebol é conhecido por transações faraônicas entre jogadores e clubes, com negociações que che­ gam perto da casa dos bi­ lhões todos os anos. No lado não tão glamouroso desse esporte, porém, pode ocorrer de forma diferente.

É o caso de Rodrigo Vergí­ lio, que joga em um time pequeno da Tailândia. ROTINA

Muitas vezes, a adapta­ ção à cultura é o maior desafio, embora o joga­ dor diga não ter sofrido tanto nessa parte. “Para mim, não foi muito di­

fícil, porque já havia jo­ gado em outros países da Ásia e o povo é um pouco parecido”, afirma. FAMÍLIA E FINANÇAS

Em relação à família, Rodrigo diz que já mora com sua esposa e seus fi­ lhos, o que ajuda a fazê-lo aguentar a ausência e a

saudade dos parentes que ficaram no Brasil. Na questão financeira, o jogador não foi espe­ cífico quanto a valores, mas diz que a tranquili­ dade que tem de receber o salário em dia hoje não existia quando jogava no Náutico, um dos grandes times de Pernambuco.

Ele relata, porém, que nem tudo foram flores. “O time em que jogo é con­ siderado pequeno e tive que me virar como pude”, conta. “No Brasil, há joga­ dores com um bom nível técnico e não fica sobre­ carregado, porque todos têm sua responsabilidade em campo.”

junho 2018

Na Ásia, Rodrigo diz que, além de cumprir o papel de atacante no time, precisa atuar na defesa e em outras funções. É pre­ ciso ser multiuso. “Mas se estiver em um time gran­ de não se sofre tanto, por­ que o nível dos jogadores é um pouco maior”, con­ clui o brasileiro.

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ARTES

Um passeio pela São Paulo sombria

NAS RUAS

Sampa entre aspas

Joyce Santos

Histórias ocultas e lendas urbanas povoam cenários tradicionais do centro histórico da cidade Ronney Abilio

“Eu vi! Acredite você ou não, eu vi. Uma pessoa de terno e gravata me pedia ajuda, ela aparentava estar com as roupas queimadas e sentir muita dor”, relata. “Fiquei triste com aquela situação, pois percebi que era apenas uma alma atrás de alguma ajuda.” CASTELINHO DA APA

Theatro Municipal: construção abriga relatos de fenômenos sobrenaturais Ronney Abilio

A cidade de São Paulo é ponto de concentração das mais variadas culturas e de diversas lendas que se con­ fundem com sua história. Mas o que dizer do que é invisível aos nossos olhos? Começa aqui uma viagem por dentro dos locais mais sombrios do centro da ca­ pital paulista. A equipe de reportagem do Expressão visitou al­ guns prédios históricos. São lugares que contêm histórias surpreendentes, que fazem parte do imagi­ nário popular. THEATRO MUNICIPAL

Relatos sombrios são frequentes em um dos prédios mais famosos da capital. Funcionários e

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frequentadores do período noturno falam sobre movi­ mentos nos camarins, teclas de pianos sendo acionadas sozinhas e até mesmo apari­ ções. Tudo isso com o pré­ dio completamente vazio. Na mesma região fica o Vale do Anhangabaú, que em tradução significaria “Rio do Diabo”. O nome foi dado pelos índios ao rio que ali passava, por conta de mortes de pessoas que ali se banhavam. O Viaduto do Chá, ao ser construído, logo ganhou o macabro apelido de “suicidório” – isso por conta do número de pesso­ as que ali tentam tirar suas próprias vidas, atirando-se do viaduto. EDIFÍCIO JOELMA

No dia 1° de fevereiro de 1974, um curto-cir­

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cuito no sistema de refrigeração do edifí­ cio Joelma deu início a um incêndio. Quase duzentas pessoas mor­ reram nesta tragédia, trazendo uma espécie de maldição à tona: na década de 1940, um chocante crime havia sido cometido no local, quando Paulo Camargo matou suas irmãs e a própria mãe e as enter­ rou em um poço. Reza a lenda que o Joelma foi construído acima des­ te local, que se tornou uma espécie de prisão de almas. Osvaldo Barbosa da Silva, 68, antigo funcio­ nário do Joelma pós­ -tragédia, diz que sua experiência com o so­ brenatural foi concreta:

Situado na esquina da Avenida São João e pare­ cendo ter sua história es­ condida pelo Minhocão, foi cenário de crime. Em 1937, os corpos dos ir­ mãos Álvaro e Armando Guimarães Reis e da mãe Maria Cândida Guima­ rães foram encontrados baleados, supostamente em função de uma briga de família. Gritos e apa­ rições no Castelinho são relatados até hoje. EDIFÍCIO MARTINELLI

O último ponto do ro­ teiro é o segundo arranha­ -céu do Brasil e da Améri­ ca Latina, inaugurado em 1929. Em 1947, um garoto foi assassinado e jogado no poço do elevador por um criminoso. Desde en­ tão, relatos de aparições são frequentes. A ex-moradora do Mar­ tinelli Maria Gonçalves, 79, diz acreditar na exis­ tência de espíritos: “Era nítido que tinha algo ali. Eu e meus vizinhos mais próximos tínhamos medo de circular pelos corredo­ res à noite”, conta. “Tinha a sensação de que era se­ guida e observada a cada passo que dava. Isso era extremamente horrível.”

Arte escrita em poste na Avenida Paulista Joyce Santos A capital do estado de São Paulo é o principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul. Na correria, fica cada vez mais difícil de parar a rotina e buscar a arte como alternativa de lazer e distração. No entanto, há quem busque colorir as ruas com arte e poesia usando muros, postes e outros componentes de sua paisagem. A estudante de Literatura Carolina Scaldelai, 27, formada em Artes Cênicas, acredita que a poesia traz mais leveza à vida urbana. Por isso, criou em 2014 o projeto Poesia de Saturno, que espalha pela cidade poesias e frases de sua própria autoria. Com canetas laváveis, a estudante escreve por São Paulo, com o objetivo de tocar as pessoas com a arte na rua. “Já recebi mensagens de pessoas que disseram que a minha poesia mudou o dia delas, isso é mega gratificante. Além disso,

as redes sociais trazem essa interação e nos fazem querer continuar”, conta. Com a hashtag #poesiadesaturno, Carol recebe o retorno das pessoas, o que a impulsiona a continuar escrevendo e espalhando sua arte. Com a crítica da atual gestão de João Dória e a política da Prefeitura de São Paulo quanto às artes de rua, o projeto recebeu algumas alfinetadas negativas, mas a estudante explicou que as canetas que ela utiliza não são permanentes. O professor de Literatura formado em Letras pela USP Fabio Campos destaca o valor dessa e de outras formas de expressão na poesia contemporânea. “É a continuação da expressão da alma. A poesia não pode morrer”, argumenta. “É importante para que, de alguma forma, as pessoas tenham contato com a rima, é mais fácil de sentir-se tocado, às vezes é tudo que precisamos ler.”


CENTRO

Escondida na Sé, cripta reúne personagens históricos

Espaço foi o primeiro a ser inaugurado na nova igreja

GASTRONOMIA

Restaurante oferece imersão cultural na Idade Média

Samuel Lima

Bianca Aparecida

Altar-mor é cercado por 30 câmaras Bianca Aparecida

A Cripta da Catedral da Sé transmite espiritualidade e história. Localizado abaixo

do altar-mor, o local é um museu fúnebre onde são guardados não somente os restos mortais de membros importantes para a igreja

católica, mas também a me­ mória dessas pessoas e seus feitos. O espaço é aberto à visitação e recebe fiéis e tu­ ristas da capital e do interior. Em 1745 foi iniciada a construção da primeira Catedral de São Paulo, em estilo barroco. Concluída em 1764, acabou demoli­ da em 1912. Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo da cidade, reuniu em 1913 representantes das principais famílias me­ tropolitanas e criou uma comissão para levantar fundos e erguer uma nova Catedral. A cripta foi o pri­ meiro local a ser inaugura­ do, ainda com Dom Duar­ te em vida, em um estilo de construção neogótico. “Embora pequena, não dei­ xa de ter certa ostentação”, disse o professor de Histó­ ria da Arte Augusto Cesar. “O lugar tem grande valor histórico para a igreja.”

Ao redor de suas colunas estão localizadas 30 câmaras mortuárias, que abrigam os restos mortais de bispos e arcebispos falecidos a partir de 1748. Estão sepultados também três importantes personagens: o Cacique Ti­ biriçá, um dos primeiros ín­ dios a serem catequizados, considerado o primeiro ci­ dadão paulista; Regente Fei­ jó, primeiro chefe do Poder Executivo eleito na história do Brasil; e o padre Bartolo­ meu Lourenço de Gusmão, que construiu o primeiro balão do mundo. “A cripta é uma forma de preservar a memória e os atos das pessoas. Você pode descer, lembrar e falar sobre a missão dos indivíduos em vida, para que isso sirva de lição para nós; estes repre­ sentantes levam o nome da igreja, além de preservar a fé católica”, disse o visitante Rodrigo Machado.

ESPAÇO CULTURAL

Casa aproxima Brasil e Argentina Renan Dantas

Quando se trata de Brasil e Argentina, logo vem ao pensamento futebol. En­ tretanto, essa relação ultra­ passa o limite das quatro linhas e a rivalidade fica apenas dentro de campo. Isso porque, fora dele, as relações são amistosas. Em 2014, o governo argentino inaugurou em São Paulo a primeira Casa Argentina, espaço de atividades cultu­ rais ligadas ao país vizinho. Com 1.500 m², a instala­ ção é o primeiro órgão cultural oficial do governo argentino no exterior. O espaço conta com um audi­

tório com capacidade para 400 pessoas, salão de even­ tos em que são praticadas aulas de tango e apresenta­ ções de malambo e cúmbia e áreas para reuniões. O principal entreteni­ mento fica por conta do restaurante típico, que ofe­ rece desde “La Picada”, um prato de entrada com frios, azeitona, picles, torrada e salame, até a tradicional “Parrillada”, um churras­ co equipado com carne de vaca e cordeiro, partes de miúdos e diferentes tipos de linguiça, como a mor­ cilla, com sangue bovino. “Quando venho aqui me lembro muito dos

finais de semana na Ar­ gentina, quando eu e meus familiares nos reu­ níamos para almoçar e passávamos a tarde toda conversando”, comenta Marina Gonzalez, ar­ gentina, frequentadora do local. Segundo os res­ ponsáveis, a casa recebe em média 150 visitantes por mês e a expectativa é de aumento durante a Copa do Mundo. INTERAÇÃO

Outro fator que atrai os argentinos à Casa é o con­ tato com o idioma espa­ nhol e a interação com bra­ sileiros. “É um local onde

fazemos novas amizades, colocamos em prática nos­ so idioma e trazemos os amigos brasileiros para co­ nhecer um pouco mais de nossa cultura”, relata Agus­ tin Rodriguez, que não dei­ xa a boa e velha rivalidade futebolística de lado. “Com certeza o Messi é melhor que os Ronaldos (fenôme­ no e gaúcho) e Neymar juntos, e nós argentinos damos aula de como torcer na arquibancada para aos brasileiros”, brinca. Casa Argentina Rua Sampaio Vidal, 1026 Jd. Paulistano - São Paulo

Pratos típicos remetem à vida medieval Samuel Lima

“Boa noite, milorde! Como posso ajudá-lo?”. É com essa forma de tra­ tamento que os clientes da Taverna Medieval são recebidos por homens e mulheres vestidos de camponeses e membros da realeza na primeira hamburgueria temática de São Paulo. Cenários da misteriosa e instigante Idade Média – período da história da Europa entre os séculos V e XV – estão espalhados por todo o lo­ cal, desde uma mesa em formato de barco viking para os plebeus consumi­ dores até os pratos carac­ terísticos da época. A inspiração para montar o estabelecimen­ to vem do casal Nelson e Ellen Ferreira, segundo o gerente da hamburgue­ ria, Douglas Alves, de 34 anos. “Ele sempre se interessou por RPG e ela começou a gostar do as­ sunto após uma viagem que fizeram à Europa. Na Escócia viram várias tavernas, várias cidades com cenários medievais e, na volta a São Paulo, tiveram a ideia de criar um restaurante.”

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Os clientes passam por uma experiência diferente. A moda é o hambúrguer de Javali. Entre os adeptos da gastronomia medieval estão Vitor, gerente de contas de 27 anos e que alega que só sabia do co­ mércio da carne do animal no Mercado Municipal de São Paulo. “Eu, particular­ mente, gosto do prato. A oferta é escassa por aqui, não conheço nenhum ou­ tro açougue que ofereça esse produto”, disse. Outras atrações fazem parte do estabelecimento, como o arco e flecha. Com direito a nove tentativas, os aspirantes a arqueiros podem testar suas habili­ dades. Marina Baldovino, artesã de 34 anos, destaca a imersão na Idade Média: “pode colocar o elmo [ca­ pacete usado no ambiente bélico destinado a defen­ der a cabeça do soldado], tirar foto com manto, com espadas.” Taverna Medieval Rua Gandavo, 456 V. Clementino - São Paulo Ter. a qui. (18h-23h), sex. a sáb. (18h-1h) e domingo (18h-23h) www.tavernamedieval.com.br

EXPRESSÃO

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIA

Programa melhora qualidade de vida de jovens na zona norte

Patricia Santos

O SUSDance é um pro­ jeto social que foi introdu­ zido em Perus, zona norte de São Paulo, no final de 2014, com a finalidade de conscientizar jovens sobre sua perspectiva para o fu­ turo. O programa é desen­ volvido de forma interse­ torial, unindo educação e saúde, e promove pales­ tras nas escolas munici­ pais e estaduais da região, nos ensinos Fundamental II e Médio. A ideia de buscar no­ vos estilos de vida está

CRS Norte / Divulgação

Com palestras e ações educativas e culturais, SUSDance incentiva adolescentes

Grupo no evento “A Juventude e as Violências”, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP ligada a dados sociais negativos da zona norte – entre eles, uma eleva­ da incidência do uso de substâncias psicoativas e

de transtornos mentais (depressão, ansiedade e suicídio), além de alto ín­ dice de gravidez na ado­ lescência e o maior coe­

montadas diante de uma pesquisa feita com os alu­ nos, conhecendo seus so­ nhos e ídolos”, diz. “Com base nas respostas, mos­ tramos a eles que é pos­ sível realizar as próprias metas e ter uma vida sem dependência”, disse. ORIGEM

O que desencadeou o SUSDance foi a intenção de aproximação da equipe de saúde com os jovens, da qual surgiu um concurso de dança de rua. É por meio do hip hop que os profissionais conseguem conscientizar o

público, trazendo, além da diversão da dança, um novo estilo de vida. Nara Palatini Luccas é gerente da UBS Vila Caiuba, uma das unida­ des idealizadoras do pro­ grama, e destaca os re­ sultados até o momento. “Na participação dos jo­ vens na cultura do bairro houve algumas mudanças de comportamento, per­ cebidas por pais e pro­ fessores”, conta. “Algu­ mas escolas procuraram se envolver mais com os alunos e mudaram seus métodos de aulas.”

POLÍTICAS PÚBLICAS

PESQUISA

Iniciação Científica: um primeiro mergulho na rotina acadêmica Kimberly Alves Ao chegar à faculdade, todo calouro pode se deparar com o desafio de realizar Iniciação Científica. O fomento à pesquisa faz parte das bases da política de educação do governo federal. De acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), até junho de 2017 haviam sido gastos no Brasil R$ 51,6 milhões em iniciação científica – patamar próximo aos R$ 68,8 milhões em bolsas de mestrado. A reportagem buscou entender o funcionamento de um programa de pesquisa científica, para que serve, como um tema é lapidado e de que manei-

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ficiente de mortalidade infantil do município. Nas palestras levadas às escolas, procura-se abor­ dar com os jovens as men­ sagens de promoção à saúde, além da discussão e reflexão sobre aspectos pertinentes à cultura de paz e cidadania. A lingua­ gem é lúdica, simples e rotineira, e os temas refor­ çam e afirmam as virtudes e o positivismo. Paulo Henrique Alves de Oliveira é um dos pa­ lestrantes e destaca o ca­ ráter participativo das ati­ vidades. “As palestras são

ra, a partir dele, o trabalho é desenvolvido. A principal dúvida do aluno é em qual curso uma iniciação científica pode ser feita e como é o processo. O professor Midierson Maia, graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba e mestre em Ciências da Comunicação pela USP, esclarece: “A IC pode ser feita em qualquer curso, desde que a universidade ofereça esse modelo de programa e tenha um acordo com as agências de fomento”, conta. “Ela se constrói por meio da metodologia científica, partindo de um princípio de resolução de problema.” São requisitos ter curiosidade, interesse

EXPRESSÃO

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e algum conhecimento prévio sobre o assunto. Ayana Martins, estudante de Publicidade e Propaganda, tratou sobre a percepção do deficiente físico na publicidade. “Não há grandes problemas caso o estudante não tenha ideias o suficiente. O professor também pode ajudar a oferecer um alinhamento certo em função do tema de interesse”, aponta. Por meio da iniciação científica, o aluno pode aprender além do que é ensinado na sala de aula, com benefícios profissionais e pessoais. “Isso facilita caso o estudante queira fazer uma pós-graduação”, conta Ayana.

EAD no Ensino Médio preocupa educadores Rodrigo Machado

A educação brasileira tem sido alvo de mudan­ ças ao longo do mandato do presidente Michel Te­ mer (MDB). Em maio de 2017, a reformulação da base curricular do Ensino Médio permitiu que os alunos pudessem esco­ lher matérias específicas para estudar, de acordo com seu interesse, iden­ tificação e facilidade de compreensão. Estudos sociais, como História, Geografia, Sociologia e Filosofia, já não são mais matérias obrigatórias. Outra brecha que a re­ formulação abriu, alvo de polêmica no primei­ ro semestre do ano, foi a

possibilidade de matérias obrigatórias do Ensino Fundamental II e Ensino Médio serem cursadas 40% em sistema EAD, ou seja, ensino a distância. A definição da carga horária já está em pauta no Conselho Nacional de Educação (CNE). Sendo aprovada, o aluno poderá ir apenas três vezes por semana presencialmente à escola. RISCOS

O Brasil tem 6,9 mi­ lhões de matriculas anual­ mente, porém 1,5 milhões de alunos entre 15 e 17 anos abandonam as salas de aula. O sistema EAD já é adotado em grande par­ te das universidades bra­

sileiras; o aluno de ensino superior pode inclusive alcançar o diploma com cursos administrados a distância, com o material didático todo disponibili­ zado via internet. A professora de histó­ ria de ensino Funda­ mental e Médio da rede estadual de São Paulo Juliana Ribeiro alega que essa medida causará pre­ carização do sistema de ensino e desmotivará os alunos a estudar. Segun­ do ela, o dano às matérias que abordam questões sociais e filosóficas deixa os alunos mais vulnerá­ veis. “O papel da escola é de estimular o aluno a raciocinar e ser um for­ mador de opiniões.”


PONTO DE VISTA

Microempreendedorismo avança sobre novos mercados Carolina Didonet, Raquel Alves e Vivian Andrade

Com o cenário de retração da econo­ mia dos últimos anos, o brasileiro tem encontrado formas criativas de se rein­ ventar e garantir o pão de cada dia. Uma destas formas é a formalização como mi­ croempreendedor. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os números de microempreen­ dedores individuais, conhecidos como MEI, superaram 7 milhões em 2017. Até 2019, é esperado que o número chegue à casa dos 12 milhões, auxiliando muitos brasileiros a escapar da crise e ter uma nova fonte de renda. O alto número re­ flete o volume de trabalhadores infor­ mais no País. Para discutir o tema, a reportagem do Expressão entrevistou Carlos Tit­ ton, especialista em Marketing, Nego­ ciação e Finanças. Expressão: O que é ser um microem­ preendedor? Carlos: Ele é considerado qualquer pessoa que vai empreender em um ne­ gócio próprio, independentemente do tamanho que seja. Por exemplo, aquele que resolveu montar uma loja de doce ou o pipoqueiro é um microempreen­ dedor, ou seja, toda e qualquer pessoa física que tenha intenção de começar um pequeno negócio. Existe uma lei no País que categoriza o microempreende­ dor individual (MEI), que tem alguns benefícios de impostos e pode ter um faturamento máximo de R$ 60 mil por ano. Para que se enquadre nessa catego­ ria, o indivíduo não pode ser sócio nem titular de nenhuma outra empresa. Ca­ dastrando-se no MEI, ele é enquadrado num regime isento de tributos federais, como impostos de renda, PIS, COFINS e CSLL. É necessário que seja paga uma tarifa de R$ 40 por mês, dependendo do comércio ou indústria, sendo esse valor

Carolina Didonet

Professor pós-graduado em Marketing Carlos Titton aborda características, regras e desafios do segmento Estamos falando do microempreende­ dor que fatura até R$ 60 mil/ano, ou seja, R$ 5 mil por mês. Enquanto um mi­ croempreendedor tem essa faixa de fa­ turamento, uma empresa pagaria com a carga trabalhista valor equivalente a R$ 2.300. Expressão: Na sua visão, qual espa­ ço o mercado empreendedor apre­ senta hoje? Carlos: A partir do momento em que a pessoa física não tem espaço no mercado de trabalho ou deseja se tor­ nar pessoa jurídica, o mercado empre­ endedor terá um espaço para ela. Vejo uma tendência para mudar as funções já estabelecidas; sempre haverá espaço para boas ideias. Um espaço simbó­ lico, em que se positiva uma questão negativa para os trabalhadores. Carlos Titton fala sobre o impacto do microempreendedorismo no mercado nacional destinado à previdência social. Esta tam­ bém possui auxílio doença, maternidade e aposentadoria. Expressão: Com a crise no Brasil, quais áreas estão em crescimento e po­ dem ser boas opções? Carlos: Em termos de serviço, o Brasil se apresenta carente, então esta pode ser uma boa opção para um microempreen­ dedor. Uma que exige investimento me­ nor, por exemplo. Um pipoqueiro, um pedreiro, uma manicure. Expressão: Esse modelo pode ajudar no restabelecimento da economia? Carlos: Ele é uma consequência desse problema do desemprego e das relações de trabalho que temos hoje. Devemos lembrar que nossa legislação trabalhista é de 1940, na época de Getúlio Vargas. Tivemos mudanças importantes para o empregador, mas ainda insuficientes para resolver essa questão e isso dificulta

também o emprego, somado ao proble­ ma da crise no Brasil. O microempreen­ dedor pode ser um alicerce como opção no futuro, o tempo vai dizer. Eu acredito que sim, que ele vai trazer uma economia forte e balanceada. Expressão: A categoria modificou as relações de trabalho? Carlos: Eu avalio que a mudança de trabalho não veio apenas com a vinda do microempreendedor, eu diria que os problemas das relações de trabalho geraram isso. E essas relações já estão mudando. A pejotização, ou seja, as pessoas podendo ser jurídicas de acor­ do com a nova legislação, já é uma mu­ dança importante. Expressão: Neste contexto, como ficam os postos formais de trabalho? Carlos: Pode sim haver uma calibrali­ zação ganhando espaço sobre os postos formais em trabalhos menos qualificados.

junho 2018

7 milhões

são os microempreendedores cadastrados no Brasil

81%

foi o aumento da base entre os anos de 2013 e 2016

7,6%

são na área de Serviços de Alimentação

7,3%

são do ramo de Comércio de Confecções em Geral

EXPRESSÃO

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INFOGRÁFICO

Relembre os principais fatos e curiosidades desta época que marcou história e deixou saudade Bianca Braga e Elaine Santos

GRANDES SUCESSOS

MELHORES BRINQUEDOS

FILMES INESQUECÍVEIS

TAZOS Discos colecionáveis com estampas de personagens.

PULP FICTION (1994) Marcado pela narrativa não linear, o clássico de Quentin Tarantino exibe três histórias diferentes e entrelaçadas.

TAMAGOTCHI Brinquedo em que se cria um bichinho de estimação virtual.

GÍRIAS QUE ESTAVAM NA BOCA DO POVO

VIRA-VIRA

Mamonas Assassinas

PELADOS EM SANTOS Mamonas Assassinas

TOY STORY (1995) Acompanha Woody e seus amigos, que lutam para não serem esquecidos pelo dono após a chegada de um novo brinquedo.

(Conhecedor)

GAROTA NACIONAL

(Descolado)

Skank

EDWARD MÃOS DE TESOURA (1990) Conta a história de um jovem criado por um inventor que morreu antes de dar mãos à criatura.

INESQUECÍVEL Sandy & Júnior

*

(Paquerar)

ANNA JÚLIA

Los Hermanos * Embora o termo “chavecar” seja de uso corrente, a versão com “x” é a única registrada no vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras.

FATOS MARCANTES Fim da URSS 1990

Início do Governo FHC 1992

1991

Reunificação da Alemanha

16

1994 1993

Impeachment de Fernando Collor

EXPRESSÃO

junho 2018

1996 1995

Implantação do Plano Real

1998 1997

1999

Início da operação do Google


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