Expressão ed3 jun 2018

Page 1

USJT

junho 2018

ano 25

edição 3

EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL

PRESENÇA DE ATLETAS COMO ANNE VERIATO NO ESPORTE GERA DEBATES SOBRE CONDIÇÕES DE COMPETIÇÃO

Novo round para os

transgêneros Divulgação

Wilian Aguiar

ESPECIAL - Págs. 6 a 9

Testes com animais no Brasil têm data para acabar determinada pela Anvisa

Pág. 4

Ismael Ivo dirige o Balé da Cidade Pág. 3

App vence obstáculos de Pavão: craque da bola comunicação humana Pág. 10 circula pelo Butantã Pág. 15 junho 2018

Cinema: Pantera Negra quebra padrões Pág. 13 EXPRESSÃO

1


CAR@ LEIT@R

#INSTANTÂNEO

Gabriel Vullen

Neide Carlos / Vôlei Bauru

Transformações literalmente à flor da pele ganharam o mundo contemporâneo. A presença e a conquista de espaço gradativo de cidadãos transgêneros na sociedade e, em especial, no universo do esporte, geraram debates acalorados nos tempos recentes. Os atletas trans e as controvérsias que cercam a sua participação em competições em variadas modalidades são o tema investigado em nosso Especial. Especialistas e esportistas (trans e cis, isto é, de designação sexual tradicional) foram ouvidos para o aprofundamento e a análise da questão, que tem abalado as estruturas esportivas (e a cabeça de muita gente). Outros limites também têm sido rompidos no sen-

tido de metamorfoses sociais, acompanhados de perto e noticiados pelos nossos repórteres nesta edição, como a busca (incessante) pelo aumento da longevidade humana, o fim dos testes com animais no Brasil, a comunicação que supera obstáculos e estreita laços afetuais com a ajuda da tecnologia e os primeiros super-herois negros, os da vida real, como Ismael Ivo, diretor do Balé da Cidade e consagrado no exterior, e os do cinema, como o Pantera Negra. Que a leitura das seguintes páginas desperte pela informação o espírito esportivo da integração e do entendimento entre os povos. Os Editores

Lucas Oliveira

Marielle, presente! ​ ereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL) era engajada em ações contra o racismo e V pela igualdade de gêneros e lutou em prol de direitos sociais inclusivos. Aos 38 anos, em 2018, ela foi assassinada. Com uma enorme foto estampada no centro da escadaria de Pinheiros na Rua Cristiano Viana, a cidade de São Paulo acordou cinza, mas tingida de resistência e luta.

#FICA A DICA

Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo junho 2018 • ano 25 • edição 3 Reitor Ricardo Cançado Pró-reitor de graduação Luís Antonio Baffile Leoni Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Profa. Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Profa. Susan Liesenberg MTB 02097 - SC Projeto gráfico e direção de arte Profa. Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP

Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Butantã Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Capa Arte sobre foto de Winnetou Almeida/A Crítica - Manaus Concepção gráfica da capa Matheus Chaves

2

EXPRESSÃO

junho 2018

Gênero: Ficção, Literatura Editora: Companhia das Letras Lançamento: 2018 120 págs Por que ler? Retrata a realidade da periferia sob a visão dos jovens que enfrentam as constantes mudanças na comunidade.

Gabrel Vullen

Estreando com o livro “O sol na cabeça”, o autor Geovani Martins ascende ao acervo literário com a obra que é dividida em 13 contos realísticos, em que narra a realidade da infância e adolescência de garotos das periferias do Rio de Janeiro, no início do século XXI. Trazendo em cada capítulo situações vividas por garotos na fase da puberdade, presentes desde as guerras de facções à ascensão das UPPs, violências e preconceitos, o autor valorizou a linguagem coloquial em primeira pessoa, dando um toque

realístico com os jargões periféricos. Nota-se logo em seu primeiro conto, intitulado “Rolézim”, a sua preocupação em cada detalhe dos personagens e ambientes para que o leitor possa ter a sensação do que é viver e enfrentar essa ficção que tem sido a realidade de muitos jovens que moram nas favelas, mostrando como eram as marcações cerradas da PM fluminense, nas praias, contra os favelados, em combate aos arrastões. Realçando as mudanças nas comunidades, a riqueza dos detalhes é um destaque desta obra, que certamente deixará todos de cabeça quente por mais contos.

Gabi Carrera

Divulgação

EXPRESSÃO Fantasia com lições de vida

Nascido em 1991 e criado em Bangu (RJ), antes de estrear no mundo das letras, Geovani Martins trabalhou em lanchonetes e barracas de praia e foi garçom em buffet infantil. Em 2013 e em 2015, participou das oficinas da Festa Literária das Periferias (FLUP) e da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), no Rio de Janeiro. Publicou contos na revista Setor X.


#PROTAGONISTA

“Entre e ocupe o seu espaço”

Diretor do Balé da Cidade, do Theatro Municipal de São Paulo, Ismael Ivo conta como conquistou o mundo a partir da zona leste Nascido na Vila Ema, zona leste de São Paulo, Ismael Ivo enfrentou a pobreza a passos de dança. Criativo e determinado, tornou-se o primeiro bailarino estrangeiro e negro a dirigir o respeitado Teatro Nacional Alemão, o Deutsches Nationaltheater, em Weimar. Na Áustria, em Viena, criou o ImPulzTanz, hoje um dos maiores festivais de dança contemporânea da Europa. Por oito anos, o coreógrafo de 63 anos foi também diretor da Bienal de Dança de Veneza. Em 2017, assumiu a direção artística do Balé da Cidade, corpo do Theatro Municipal de São Paulo, que celebra este ano 50 anos de formação, homenageando a obra do cantor Caetano Veloso com o espetáculo “Um Jeito de Corpo – Balé da Cidade dança Caetano”. Condecorado em 2010 com a medalha da Ordem do Mérito Cultural, em Brasília, e agraciado em 2017 com o Troféu Raça Negra pela Faculdade Zumbi dos Palmares, um dos grandes nomes da dança contemporânea no Brasil e no mundo conta em entrevista exclusiva mais detalhes de uma carreira brilhante. Expressão – O que o atraiu na dança quando entrou no meio artístico? Ismael Ivo – Quando assumi o cargo do Theatro Municipal de São Paulo, no Gabinete do Prefeito, declarei que fui um adolescente negro, nascido pobre e com condições muito modestas na zona leste de São Paulo. Um dia, abracei a dança como uma forma de sonhar que era possível suceder na vida e construir uma carreira. Depois de 50 anos de existência, hoje estou assumindo a posição de ser o primeiro negro a assumir o cargo de diretor do Balé da Cidade. Minha carreira foi determinada por uma vontade de expressar minhas ideias e visões, criar um espaço para colocar minhas necessidades existenciais através do meu corpo. Expressão – O sr. teve alguma relação com o Theatro Municipal antes de deixar o Brasil? Ismael Ivo – Somente por um ano, integrei como bailarino o Grupo Experimental do Balé da Cidade.

chama “Das Tripas... Coração”. No próximo mês de setembro, baseado numa criação da Itália, realizo uma nova versão da Sagração da Primavera [balé composto por Igor Stravinsky], no Theatro Municipal.

Divulgação

Tairony Mendes

Expressão – Como o Sr. enxerga a representatividade dos negros atualmente? Ismael Ivo – Neste meu retorno ao meu país, minha cidade, reconheço que estão aflorando personalidades negras que se expõem e declaram seus pensamentos e ideias, agora com consciência e de maneira aberta. Mas ainda é apenas um começo. Preciso ter consciência geral e ver este discurso criar visibilidade. O racismo, a injustiça histórica e social, a falta de oportunidades, não são problemas meus como negro, mas de toda uma sociedade. Talvez tenhamos que institucionalizar o Dia da Consciência Branca.

Na Vila Ema, o bailarino abraçou a dança para construir sólida carreira internacional Expressão – O que lhe motivou a deixar o Brasil para seguir carreira no exterior? Ismael Ivo – Saí do Brasil com uma bolsa de estudos para o Alvin Ailey American Dance Center, de Nova York. Me viram num festival de dança contemporânea em Salvador e me convidaram. Foi um milagre na minha vida e carreira.

e motivos artísticos universais. Como uma adaptação de um Shakespeare, Otelo, ou um pintor como Francis Bacon, ou um escritor como Jean Genet. Muita inspiração no escritor francês Antonin Artaud ou no filósofo Jean-Paul Sartre, e o negro filósofo Frantz Fanon. Até Nelson Rodrigues adaptei para dança no Teatro Nacional Alemão, com “O Beijo no Asfalto”.

“Racismo não é problema meu como negro, mas de toda a sociedade”

Expressão – Quais diferenças observou entre os contextos artísticos europeu e brasileiro? Ismael Ivo – Os contextos são diferentes, outras condições de vida e estruturas sociais. Mas, por atrevimento ou natureza, sou um antropofagista. Canibalizo, absorvo, transformo ideias. Não me contive de abordar temas

Expressão – Houve algum trabalho que o Sr. realizou na Europa e que gostaria de fazer no Bra-

sil ou vice-versa? Ismael Ivo – Vários. Ano passado recriei um trabalho que criei em Viena que fala sobre o tráfico internacional de órgãos, inclusive no Brasil. O espetáculo se

junho 2018

Expressão – O negro está ganhando mais espaço na sociedade? Este espaço está adequado? Ismael Ivo – Não existe um espaço adequado. Minha mãe sempre me dizia: “Você não precisa pedir licença. Entre porta adentro e ocupe o seu espaço.” Expressão – Como ocorreu a escolha da obra de Caetano Veloso para celebrar os 50 anos do Balé? Ismael Ivo – Foi dentro das premissas “o que somos nós? De que tipo de material somos feitos? Onde está o corpo brasileiro?”. Acredito que possuímos o “DNA criatividade”. Isto, provavelmente, provocado por vivermos numa sociedade sem garantias, onde diariamente temos que nos reinventar para sobreviver. Transferir para o corpo e arte da dança significa que nossa capacidade de improvisar é maior. A obra de Caetano Veloso nos ajuda a viver isto. Sua capacidade de resignificar velhas palavras e inventar novas expressões são um traço de genialidade. Suas músicas já estão ligadas a nossa memória emocional coletiva. O espetáculo aborda o que somos e vivemos. Expressão – Quando falarem de Ismael Ivo, do que quer que as pessoas se lembrem? Ismael Ivo – Oh, Meu Deus! Deixem escrito que tentei, que tentei...

EXPRESSÃO

3


EDUCAÇÃO E CIÊNCIA

Empresas terão de abolir testes em animais Aprovada pela Anvisa, medida entra em vigor em setembro de 2019 Karsten Paulick

Paula Maia

Camundongos, porquinhos-da-Índia, coelhos, macacos, cães e outros animais usados como cobaias para verificar níveis de corrosão e irritação na pele e o potencial carcinogênico ou alérgico de um produto devem ser substituídos. Aprovada em 2015 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a norma pretende reduzir a necessidade de uso de testes em animais para registros de medicamentos, cosméticos e insumos destinados à utilização humana. Apoiada pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea),

Hoje cobaias, ratos e outros bichos serão substituídos a iniciativa combina os progressos de pesquisas voltadas para os segmentos da cosmetologia, biotecnologia e engenharia genética com políticas recentes de bem-estar animal no Brasil. O prazo para a adoção de 17 novos procedimentos reconhe-

cidos no País termina em setembro de 2019. Segundo Marlene Andrade, farmacêutica bioquímica especializada na área de pesquisa, desenvolvimento e qualidade de cosméticos, o futuro está na biotecnologia. “A biotecnologia, através da

FLORAIS DE BACH

obtenção de produtos por processos metabólicos e enzimáticos, é a prova de que podemos obter materiais sem exaurir, prejudicar ou maltratar a natureza”, confirma a pesquisadora. Marlene destaca ainda que a segurança do produto começa na escolha da matéria-prima, uma vez que a sua aceitação para aplicação humana contribui para a redução dos testes. “Cabe ao formulador escolher insumos que contenham boa margem de segurança toxicológica para humanos e também para o ambiente”, pontua. Mayara Gonçalves, responsável pelos processos regulatórios da Anvisa na em-

presa Bel Col Cosméticos, corrobora a importância de se estar atento à documentação das matérias-primas utilizadas, bem como aos testes dermatológicos e de conservação, estabilidade, segurança, microbiologia, eficácia e informações a respeito de sua ação no organismo. “Para o registro na Anvisa, deve ser montado o dossiê do produto. Os cosméticos são divididos entre Grau de Risco I e II. Sua diferença se dá pela probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados, seja devido ao uso inadequado, formulação, finalidade, conservação ou áreas do corpo a que se destinam”, registra a especialista.

Outras formas de testar Na cosmetologia, mesmo com a indicação de testar os produtos em humanos, também há alternativas, como a condução de experimentos por meio de modelos matemáticos e estatísticos – conhecidos como in silico, ou experimentação por meio de simulações monitoradas –, diferente do in vivo, aplicado em seres vivos. Há também aplicação de modelos biológicos criados em laboratório que reproduzem as características do tecido humano.

SUSTENTABILIDADE

Cura energética em gotas

São Judas reforça reciclagem

Cibele Cardoso

Marcos Moreira

Terapia indicada por profissionais da área da saúde mental e nutricional, os florais de Bach são um recurso que tem ganhado cada vez mais espaço. Os 38 tipos de florais, desenvolvidos por volta da década de 1930 pelo médico patologista e bacteriologista inglês Edward Bach, servem para equilibrar o estado emocional e podem até substituir o uso de remédios químicos. As essências trazem nomes curiosos e atuam de maneiras diversas. O Sweet Chestnut é

4

utilizado para amenizar a angústia mental. Para o terror e medo paralisantes, indica-se o Rock Rose. Já o Gorse foi desenvolvido para combater o desespero excessivo. O sistema original também inclui remédios de emergências e combinações para agirem de forma generalizada no organismo de quem se medica. Segundo a naturalista Camila Larroyd, além da sua adoção em intervenções psicológicas, os florais de Bach podem também ser receitados para a cura energética. “O importante é saber que o medicamento, feito com extração das flores, atua na pessoa energeticamente. Eles vão alterar e mexer na baixa vibração. Com isso, são diferentes das substâncias químicas”, explica a especialista. Nutricionistas também podem indicar a alternativa,

EXPRESSÃO

junho 2018

como ocorreu com Aline Martins, 22 anos. Há 12 anos, a técnica em Química ingere o medicamento e conta ter recorrido à alternativa para melhorar distúrbios que acarretavam em noites mal dormidas, sonambulismo e paralisia do sono. “Em uma semana, passei a me sentir muito mais tranquila e a dormir melhor”, relata. Com relação aos transtornos emocionais, Aline adverte que para tratá-los é preciso uma combinação dos florais com acompanhamento profissional especializado. “A depressão e ansiedade, quando combinadas, podem ser incapacitantes em alguns momentos. Eu não conseguia fazer coisas muito simples, como comer em público. Aos poucos, fui trabalhando isso com o auxílio dos dois processos”, destaca.

A separação do lixo é indispensável no nosso dia a dia e na Universidade São Judas não é diferente. Os alunos, funcionários e visitantes da instituição podem se deparar com a forte presença de coleta seletiva realizada no local. Aparentemente, parece simples, mas faz toda a diferença separar os materiais orgânicos dos inorgânicos na hora de levá-los para a reciclagem. Aline Barbosa, assessora da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, diz que a capital é a que mais gera lixo no Brasil, com média de 19 mil toneladas por dia e, por isso, é fundamental faculdades, hospitais, escolas e restaurantes adotarem iniciativas de organi-

Lixeiras para coleta seletiva são onipresentes nos campi zação, para ajudar o meio ambiente e contribuir para a economia. A São Judas conta com profissionais atuantes em específico no trabalho das coletas seletivas. “Faço toda a separação do lixo aqui na São Judas. Às terças-feiras, vem um caminhão especializado recolher as reciclagens que nós separamos. Embora muita gente erre nas cores das lixeiras, é importante a atenção e a colaboração de todos, porque isso facilita quando entregamos para a

reciclagem”, explica Hugo Henrique, auxiliar de limpeza da instituição. Regina Ribeiro, estudante do 4° ano de Rádio e TV do campus Mooca, acredita que para a preservação do meio ambiente cada um precisa fazer a sua parte. “Desde pequena, fui instruída pelos meus pais: lugar de lixo é no lixo, seja o lixo pequeno ou grande. A separação dos materiais, além de contribuir para economia, proporciona bem-estar”, conclui a aluna.


ENVELHECIMENTO

Ciência avança na busca da vida eterna Pesquisas com seres vivos desvendam mistérios da longevidade humana Bruna Ciolari

Imagine você chegando aos 100 anos ou mais. Para tornar mais possível esta longa caminhada, a ciência está investigando formas de aumentar a expectativa de vida dos humanos por meio de pesquisas aplicadas com seres vivos como morcegos (que vivem em média 40 anos), lagostas (100 anos), a tartaruga-gigante-de-Aldabra (255 anos) e a água-viva Turritopsis dohrnii, considerada imortal. Esticar a longevidade tornou-se mais possível após a descober-

ta do sistema CRISPR-Cas 9, ferramenta para a edição de genomas que permite alterar sequências de DNA e modificar a função genética. Suas aplicações potenciais são corrigir defeitos genéticos e atuar no tratamento e na prevenção da propagação de doenças. Conforme envelhecemos, os cromossomos diminuem devido a sucessivas divisões celulares e, quando alcançam um nível crítico, a célula não se divide mais, o que desprotege o organismo e deixa o corpo humano mais vulnerável a doenças e à própria velhice.

Uma possível fórmula rejuvenescedora, a rapamicina, usada originalmente para controlar a rejeição de transplantes, atua no metabolismo celular, afetando a proteína mTORC1, responsável por capturar os sinais do ambiente e alterar o crescimento e o desenvolvimento das células. O fármaco inibe a proliferação das células, deixando-as em modo de “economia de energia”. Entretanto, o uso do medicamento pode prejudicar o sistema defensivo do corpo, explica Marta Bastos, professora de Ci-

ências do Envelhecimento da Universidade São Judas. “Essa droga atualmente é utilizada como imunossupressor, que auxilia os transplantados a não desenvolver rejeição, uma vez que inibe a atividade das células de defesa. O efeito dela sobre o sistema imunológico pode nos deixar vulneráveis a uma infecção Tartaruga-gigante-de-Aldabra: animal vive 255 anos fatal”, alerta.

INCLUSÃO

ADOTE UM BIXO

Reforço em dose dupla Alunos com deficiência auditiva parcial ou surdez da rede estadual de ensino de São Paulo são acompanhados em sala de aula por professores-intérpretes, que dão suporte ao professor regular ao traduzirem o conteúdo para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante as explicações. Os estudantes recebem também atendimento direcionado no contraturno de seu horário estudantil, em salas equipadas com recursos como internet, dicionário e recursos visuais em Libras. A professora Aline Sampaio, 30 anos, ressalta o papel do professor em fazer com que o discente desenvolva habilidades e competências em sala de aula, o que requer que o docente esteja capacitado para se comunicar em Libras no ambien-

Atléticas fazem acolhimento e integram universitários novatos

Via Flicker

Danilo Lopes

Ingrid Gois

Aulas são ministradas por docentes especializados em Libras te escolar, “melhorando assim a sua didática.” O método do bilinguismo nas escolas estaduais atende ao Decreto Federal 5.626/05, tornando obrigatório o conhecimento de Libras na formação do professor para que esteja preparado para atender um aluno que tenha a ne-

cessidade do ensino ministrado por Libras. VIDEOPROVA

Outras mudanças também atendem aos deficientes auditivos – portadores de diferentes graus de dificuldade para ouvir – e aos surdos. Hoje, um aluno com este perfil pode fazer

Marcel Langthim

uma prova por meio de vídeo, a exemplo do que ocorreu no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2017, quando estudantes puderam realizar a prova em Videoprova Traduzida, na qual as questões e opções de respostas são apresentadas em Libras por meio de imagens.

A paixão pelo esporte nem sempre é o principal motivo para os estudantes decidirem fazer parte das Atléticas, associações formadas por universitários para a promoção de eventos, torneios esportivos e ações sociais. O projeto, que integra diversos cursos de uma instituição de ensino superior, também tem como objetivo auxiliar a vida acadêmica e social dos alunos. Uma das iniciativas das atléticas existentes nos cursos da Universidade São Judas se chama Adote um Bixo, que consiste em um veterano “adotar” um calouro, também conhecido como “bixo”. O estudante mais velho auxilia em todo o processo de ingresso do

junho 2018

novato na universidade, inclusive dando suporte para questões relativas às disciplinas cursadas, caso o estreante na universidade encontre dificuldades. “Fui adotada em abril do ano passado por um atleticano, então comecei a entender como funcionavam os projetos da Atlética. Tinha medo de me tornar um membro. Acreditava que iria interferir na minha vida acadêmica”, relata Inara Beatriz, estudante de Engenharia Civil do campus da Mooca, agora entusiasmada com a decisão de participar da associação. “Mesmo com receio, aceitei o convite de cuidar do site da Atlética. Com o tempo, percebi que foi a melhor escolha que eu fiz depois de ingressar no ensino superior”, atesta.

EXPRESSÃO

5


ESPECIAL

Transformação de forças e conceitos no esporte Regras para atletas transgêneros mobilizam debate Nascida em Goiás como Rodrigo Pereira de Abreu, Tifanny tem 33 anos, 1,92, 88 kg e se destacou na Superliga feminina como oposta do Vôlei Bauru. A posição exige um condicionamento físico elevado para o ataque em quadra, especialidade de Tifanny, uma das maiores pontuadoras do campeonato. Em sua estreia, em 2017, foi alvo de críticas pelo vigor físico, considerado acima do normal pelas adversárias. Procurada pelo Expressão, Tifanny reservou-se, diferentemente do invejável potencial em quadra. Neide Carlos/Vôlei Bauru

Ana Paula Bello

Integração, respeito e uma competição justa são as bases dos Jogos Olímpicos, valores evocados em 2003 pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), em Estocolmo, na Suécia, com a criação de uma comissão para estabelecer regras para atletas transgêneros disputarem na divisão correspondente à sua troca de sexo. Em 2015, antes dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o COI realizou uma Reunião de Consenso sobre Mudança de Sexo e Hiperandrogismo, junto à Comissão Médica e Científica, definindo que os atletas transgêneros não precisassem passar pela cirurgia de troca de sexo para competirem, dando, assim, autonomia a aqueles que consideram ser do sexo oposto ao de nascimento. Embora a batalha de competir sem ter que fazer cirurgia esteja ganha, há ainda resistência dentro dos campos, quadras e demais âmbitos esportivos. Alegações de que seria injusta a participação de transgêneros, principalmente de homens que fizeram a transição e jogam pelas delegações femininas. As regras mostram claramente a facilidade que esportistas que se tornaram homens têm de competir, em comparação a mulheres trans. Por exemplo, os homens têm Adversárias temem e admiram a performance da oposta Tifanny

6

EXPRESSÃO

junho 2018

apenas de fazer um acompanhamento do nível de testosterona anualmente para confirmar se não há doping, como conta Chris Mosier, primeiro atleta transgênero a fazer parte do time masculino nacional dos Estados Unidos. “Por eu ter nascido mulher, ninguém nunca achou que eu fosse capaz de competir com homens e me sair bem, mas tem sido uma experiência muito positiva para mim”, diz. Já as mulheres precisam ter um balanceamento de hormônios, não sendo permitido ter um nível de testosterona acima de 10 nmol/l por até 12 meses antes das competições, considerado tempo suficiente para diminuir qualquer chance de vantagem contra outras competidoras (mulheres cis, isto é, nascidas com o sexo feminino). Caso seja feita a checagem e o nível de testosterona não esteja correto, a atleta perde a chance de competir pela categoria feminina por pelo menos um ano. Ainda com todas essas regras regidas pelo COI e seus comitês médicos e esportivos, há ainda o debate de que os tratamentos hormonais não diminuem a vantagem física que atletas transgêneros têm sobre os outros esportistas. Está prevista para este ano a revisão das regras, junto à comissão médica, pelas Federações Internacionais para decidir a elegibilidade tanto de transgêneros como de hiperandrógenos, atletas com alterações hormonais.

Outros casos Luiz Guilherme do Nascimento e André Luis de Souza Renée Richards, tenista americana, nasceu em 1934 e foi a primeira transexual do esporte. Marcou sua careira na década de 70, no feminino. Em 1975, passou pela mudança de gênero para, em 1977, participar do US Open. Entrou com uma ação na Suprema Corte de Nova York para garantir o direito de disputar. Ocupou o Top 20 durante a carreira. • Heidi Krieger defendeu a República Democrática Alemã como levantadora de peso e ganhou o ouro no campeonato europeu de atletismo, em 1986. • Érika Coimbra, mineira, iniciou no vôlei em 1996, aos 16 anos. Um ano depois, venceu o Mundial Infanto-Juvenil, levando o título de maior pontuadora e melhor desempenho e porte físico. Por isso, passou por testes e tratamentos hormonais. Liberada para jogar, foi ouro no Pan de Winnipeg, em 1999, e bronze nas Olimpíadas de Sydney, em 2000. • Caster Semenya, campeã dos 800 metros rasos no Mundial de Atletismo de 2007, foi obrigada a passar por testes de gênero, que apontaram hiperandrogenismo (o corpo produz mais testosterona). Por ser algo genético, permaneceu com a medalha.

fiou as regras do COI e gerou mudança nas leis para a participação de transgêneros. • Laurel Hubbard, levantadora de peso da Nova Zelândia, quebrou recordes e conquistou a medalha de prata no Mundial, em 2017. Atletas acusaram-na de ter vantagens por ser trans. Após a polêmica, o COI declarou respeitar a identidade de gênero e fez exigências para mulheres biológicas e trans competirem em pé de igualdade. • Dutee Chand, velocista indiana de 22 anos. Em 2014, foi proibida de disputar os Jogos da Comunidade Britânica e os Jogos Asiáticos, por ter altas taxas de testosterona. Foi autorizada a competir, pois não houve consenso sobre a presença do hormônio e a melhora da performance. Foi eliminada na qualificatória das Olimpíadas Rio-2016. • Schuyler Bailar, 21 anos, primeiro nadador transgênero dos EUA. Recrutado pela Universidade de Harvard como mulher, teve para a transição o apoio de Kevin Tyrrell, que foi seu treinador no feminino. • Jaiyah Saelua, da ilha de Samoa Americana, 29 anos, ganhou notoriedade em novembro de 2011 ao atuar pela

• Fallon Fox, primeira lutadora americana transgênero de MMA. Iniciou a carreira em 2012, com cinco vitórias e uma derrota, todas contra mulheres. Após suas duas primeiras vitórias, confessou ser trans e, criticada, afastou-se do esporte temporariamente. • Chris Mosier, triatleta americano, começou a carreira como mulher, em 2010, tornando-se o primeiro transexual na equipe masculina de atletismo. Em 2015, como advogado, desa-

seleção masculina de futebol nas eliminatórias para a Copa do Mundo. A história está no documentário “Next Goal Wins”, de 2014, e resultou em um convite da FIFA para integrar um júri de prêmio em prol da diversidade. Advogada, especializou-se em casos de discriminação. • Tia Thompson, 31 anos, foi liberada pela Federação Norte-Americana de Vôlei para jogar no feminino de praia, em 2017. Sonha em disputar as Olimpíadas de 2020, em Tóquio.


REPERCUSSÃO

Estudiosos debatem: quem tem a força? “Não é homofobia, é fisiologia”, declarou a jogadora de vôlei Tandara, ao criticar o desempenho da adversária Tifanny, recordista de pontos na Superliga feminina de vôlei. Foram 39 numa única partida. O Expressão ouviu estudiosos e especialistas da ciência do esporte e a discussão traz controvérsias, além de não dispor de estudos aplicados sobre a questão (do ganho ou da perda) da força na transgeneridade, ou mesmo da potência de homens e mulheres cis. “Tifanny leva vantagem porque é uma jogadora alta que possui força no mesmo grau de força de outras atacantes. Ela ataca forte como Tandara, Natália, mas a diferença é que ela é uma jogadora alta, ela passa de 1,90. Se fosse por esse tipo de situação, deveria-se proibir outras jogadoras altas de jogar e atacam forte, caso de Ting Zhu, da China, e de Ekaterina Gamova, da Rússia”, analisa Erico Santos, presidente do Comitê Desportivo LGBT do Brasil. MULHERES MAIS FORTES

Guilherme Giannini Artioli, professor de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP), pesquisa fisiologia aplicada e nutrição esportiva e menciona que, em casos específicos, uma mulher pode, com carga de treino e suplementação, ganhar força a ponto de competir com

Jogadora viveu experiência pioneira no vôlei brasileiro

um homem. “Uma atleta de alto nível certamente vai ser mais forte do que muito homem que não treina. Vamos supor que eu faça uma corridinha de final de semana e a minha esposa resolva virar halterofilista, levantar peso, fazer crossfit. Ela pode ficar mais forte do que eu”, exemplifica Artioli. Já na comparação de mulheres e homens atletas de alto nível, a mulher pode não chegar à capacidade de força física do homem”, pontua, embora reconheça a carência de estudos científicos sobre a questão. Há também casos de atletas trans que fizeram a redesignação para o sexo masculino, caso do nadador de Harvard Shuyler Bailar.

Isabelle Neris, primeira jogadora de vôlei trans autorizada a competir no Brasil

Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Da redação

“Meti a cara para realizar este sonho”

DIREITO DE COMPETIR

Sobre a força feminina, Edilamar Menezes de Oliveira, coordenadora do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular Aplicada ao Exercício da USP, comenta que suplementos como aminoácidos auxiliam na produção de massa muscular, mas destaca que “a carga de treino aumenta a força, a potência, sem tratamento ou suplementos. Ganha-se mais potência, mais velocidade na hora de bater numa bola”, exemplifica. “É preciso um direcionamento muito sério das discussões e das decisões neste sentido para evitar cometer uma injustiça ao tirar o direito dos trans de competir”, adverte Artioli.

Gabriele Molina e Théo Guidotti A curitibana Isabelle Neris foi a primeira transexual a jogar uma partida oficial entre equipes femininas no Brasil, pelo time Voleiras, em 2017, deixando a sua marca na história do esporte. Seus tratamentos hormonais duraram oito anos, até que ela pôde deixar de apenas treinar e estar apta para atuar em competições no Paraná. Hoje, atua como cabeleireira e não pretende jogar profissionalmente, embora ostente a experiência de uma vencedora. Expressão – Quando começou no vôlei?

Isabelle Neris – Aos 10 anos, num projeto social de contraturno escolar da Rexona. Na época, era em Curitiba. Conheci o esporte, gostei e continuei jogando.

Expressão – Qual foi o momento mais difícil como atleta? Isabelle – Nunca tive em quem me espelhar. Tive que meter a cara para conseguir realizar este sonho.

Expressão – Após receber a autorização para competir, foi bem recebida pelas adversárias? Isabelle – Sim, já treinava com o grupo há anos e sempre fui muito bem recebida.

Expressão – Como lida com o preconceito no esporte? Isabelle – Já me incomodou mais. Hoje, lido com mais serenidade.

Expressão – Como foi a sua transição de gênero? Isabelle – Foi um período longo, complicado. Passei por transformações físicas e comportamentais. Sempre tive o apoio da família e amigos.

Expressão – Qual a sua opinião sobre a discussão da inclusão de transgêneros no esporte? Isabelle – É algo novo que precisa de muito cuidado para ser discutido.

junho 2018

Há muitos tabus relacionados à transexualidade. Com certeza, apoio a inserção de trans em esportes. Expressão – Você acha que pode inspirar outros(as) atletas? Isabelle – Creio que ajudei outras transexuais a terem mais coragem e buscarem seus objetivos no mundo esportivo, o que me deixa muito feliz. Expressão – O que lhe motiva a lutar por seus direitos? Isabelle – O amor ao esporte é a minha grande motivação.

EXPRESSÃO

7


ESPECIAL

Reprodução

Gabi Garcia, a potência “fora da curva” da mulher cis Alison de Moraes

Multicampeã de jiu-jitsu e queda-de-braço (inclusive contra homens), a gaúcha Gabi Garcia faz parte do grupo de atletas que possuem uma história de superação. Mulher cisgênero, nascida no biológico feminino, desde o início, aos oito anos, aderiu à prática de esportes devido ao bullying sofrido por seu tamanho avantajado em relação às outras crianças. E o que era um hobby, tornou-se profissão. Precisou abandonar o curso de Publicidade e Propaganda para focar nas competições. Sofria preconceito nos tatames, menosprezada e vaiada pelos espectadores pelo fato de estar acima do peso e ser maior do que as outras lutadoras. A sua força era notoriamente superior em relação a suas adversárias. Sofreu

Lutadora é conhecida e temida por homens e mulheres críticas e ofensas. Decidiu focar em treinos. Foi recompensada, em 2011, com o título do Abu Dhabi Combat Club, um dos mais importantes da modalidade e o único que ainda não havia conquistado.

“Sou faixa preta de judô e luto jiu-jitsu e falo com tranquilidade: se lutasse com a Gabi, não sei se sobreviveria”, reconhece Guilherme Giannini Artioli, professor de Educação Física da Universidade de São Paulo

(USP), pesquisador de fisiologia aplicada e nutrição esportiva. “Gabi Garcia é um ponto muito fora da curva, uma exceção. Ela tem uma constituição física impressionante para uma mulher. E estamos falando de um esporte que envolve questões técnicas, não somente físicas”, explica Artioli. Única mulher tricampeã mundial da modalidade, teve o nome marcado no Hall da Fama da International Brazilian Jiu-Jitsu Federation. Optou por seguir no MMA e fez a sua estreia no esporte pelo Rizin F.C., no final de 2015. Também roubou a cena em um evento do UFC ao ganhar uma queda de braço contra Ray Wallace, namorado da lutadora Cris Cyborg. Sobre as críticas aos atletas trans, sintetiza: “Minha opinião é diferente da maioria”, despreocupa-se. Pela imagem ao lado, percebe-se o porquê.

Aceitação social é o maior adversário Bianca Hortins

Cristiane Mariano atua há 20 anos como psicóloga em organizações sociais. Especialista em Gênero e Diversidade na Fundação Gol de Letra, ela é responsável pela gestão de projetos com a temática Sexualidade e Gênero. Criada em 1998, pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo, a Gol de Letra é uma Organização da Sociedade Civil reconhecida pela UNESCO, que desenvolve práticas e saberes socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens nas cidades do Rio de Janeiro e em São Paulo, na Vila

8

Albertina. A instituição é baseada em três pilares: aprender (ampliação do repertório cultural, esportivo e educacional), conviver (desenvolvimento de valores e regras de convivência) e multiplicar (formação de multiplicadores de conhecimentos e atitudes). Cristiane esclarece que “a identidade de gênero esteve relacionada exclusivamente ao sexo biológico das pessoas”. Agora, complementa, é preciso avançar na discussão de gênero para “entendermos sobre as diferentes formas de sermos mulheres e homens a partir de um conceito que foi

EXPRESSÃO

junho 2018

construído socialmente”, alega. Acreditando que o maior desafio para um trans seja a crise de aceitação social, a psicóloga cita um triste título brasileiro: o de campeão em mortes de pessoas trans no mundo. “O desafio é diário no sentido de desconstruir esses estereótipos de gênero, pois vivemos numa sociedade machista e patriarcal”, lamenta. A psicóloga destaca ainda ser preciso discutir sobre gênero e diversidade em todos os espaços educativos, abrindo espaço para representatividade para políticas públicas que

garantam o direitos às pessoas trans”, destaca. “É importante ter pessoas trans ocupando todos os espaços, seja de lazer, trabalho, acadêmico. Existe uma discussão sobre questões fisiológicas, mas o que tenho lido é que, no caso da Tifanny, seu rendimento é igual a de uma mulher com a mesma condição de altura e peso. O próprio Comitê Olímpico aprovou sua inserção no time feminino após testes e exames. Precisamos entender que essa construção social de gênero já não é o suficiente para se definir o que é ser homem e mulher”, finaliza Cristiane.

Transgeneridade divide opiniões Matheus Chaves e Eduardo Costa O Expressão reuniu declarações e ouviu esportistas sobre o tema. Confira: “Estudei, conversei com especialistas, como fisiologista, preparador físico, fisioterapeuta. Hoje posso dizer que não concordo com a participação da Tifanny na Superliga Feminina.” Tandara, oposta do Vôlei Nestlé • “Acho que ela deve seguir na profissão como lutadora. Senti que ela tem o dobro da força de uma mulher. Seus golpes são contundentes e machucam. Uma mulher não iria aguentar os golpes dela, nem o nível de luta no chão.” Raílson Paixão, lutador que enfrentou Anne Veriato • “Acredito que, por mais que tome hormônio feminino, ela é homem, então é um pouco mais forte que as mulheres.” Camila Brait, líbero do Vôlei Nestlé • “Não é força, é treinamento. Se a Tiffany tivesse uma força desproporcional, tudo bem, mas não é isso. Eu aceito numa boa ela jogar contra mim.” Natália, do Vôlei Nestlé • “Se ela é elegível pelo COI, pela Federação Internacional de Vôlei, pela Confederação Brasileira, é elegível para jogar em qualquer lugar.” Zé Roberto Guimarães, técnico da Seleção Feminina • “Se tiver o dom, vou ajudar. Se for lutador de boxe, vai ter o Popó como treinador. Tenho um filho homossexual e apoio os atletas trans.” Popó, tetracampeão mundial de boxe

COI revê regras e facilita inserção Thalita Rodrigues

Há três anos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) atualizou o regulamento para os atletas transexuais competirem as Olimpíadas do Rio-2016. A nova regra deixou de exigir a cirurgia de mudança de sexo; passou a cobrar apenas um ano de tratamento hormonal antes das competições e o nível de testosterona abaixo de 10nmol/l para as mulheres transexuais. Para os homens transexuais é necessário fazer uma reposição hormonal com testosterona, sem outras restrições.

“O tratamento para as mulheres transexuais é mais prolongado, pois a terapia de reposição hormonal ocorre em duas etapas. A primeira consiste na prescrição de antiandrógeno, hormônio que bloqueia a produção natural de testosterona, e a segunda no uso de estrogênio sintético”, explica a endocrinologista Fernanda Torres. Segundo ela, os hormônios produzem diferentes efeitos colaterais em cada corpo. “Após um período no uso de estrogênio, algumas mulheres transexuais podem sofrer com a perda de velocidade, força e resistência.”


NAS TELAS

ENTREVISTA: ANNE VERIATO

Anne Veriato, 21 anos, é a primeira atleta transexual de MMA do Brasil. Em entrevista exclusiva ao Expressão, direto de Manaus (AM), onde vive e treina, disse preferir lutar contra homens. Natural de Manaus, ela estreou no Mr. Cage, evento brasileiro de artes marciais, em março de 2018, e venceu o oponente, Raílson Paixão. Expressão – Quando surgiu a sua paixão pelo MMA? Anne – Quando eu tinha sete anos, já frequentava academia. Lá tinha ringue e lutadores. Um amigo especial, Renato, me apresentou o MMA. Busco seguir carreira neste esporte porque gosto e vejo que posso conseguir estabilidade financeira, pois venho de um bairro muito pobre de Manaus. Expressão – Como você vê a inserção dos atletas trans no esporte? Anne – Vejo um aumento considerável de atletas trans, mas com ressalvas, pois muitos ainda têm medo de seguir carreira no esporte por haver muito preconceito, diferente de outras áreas. Expressão – E como você vê essa inserção daqui a cinco, 10 anos? Anne – Acho que vai aumentar, mas por existir muito preconceito e o

medo de se revelar, não vejo a inserção do trans no esporte como algo que vai ser natural. Expressão – Como foi a sua transição de gênero? Anne – Comecei a tomar remédios de 15 em 15 dias ainda na adolescência. Com isso, mudei meu tom de pele, meus pelos no corpo, meu rosto começou a afinar e a minha voz mudou. Hoje, continuo o tratamento. Expressão – Por que optou por lutar contra homens? Anne – Desde criança, luto contra homens e sempre venci (risos). Não vejo sentido em lutar contra mulheres. Me sinto um pouco mais forte. Não que elas sejam fracas, mas não me sinto à vontade em desafiá-las. Expressão - Você pretende lutar contra mulheres? Anne - Não. Pretendo continuar lutando contra homens. Expressão – Recentemente, o lutador de UFC Borrachinha, disse que “daria uma surra” na Fallon Fox, atleta trans do UFC nos EUA. Você aceitaria um desafio contra ele? Anne – Não. Acho que ele tem maldade no coração. Isso é só um esporte e o princípio do esporte é respeito. Não me sentiria bem lutando contra uma pessoa preconceituosa e

Anne prefere lutar contra homens no MMA que é contra os princípios de civilidade. Expressão – Em quem você se inspira para se tornar um dos maiores nomes do MMA? Anne – Gosto muito do estilo de luta da Cris Cyborg e do José Aldo. Me inspiro muito nos dois e os admiro pela história de vida também. E o José Aldo, principalmente, por ser um ídolo local. Criado aqui em Manaus, destacou-se no esporte. Expressão – Por quais dificuldades você passa na modalidade? Anne – Passei por muito preconceito, mas não ligo para o que os preconceituosos falam. Prefiro dar atenção aos meus amigos, que me apoiam e ao treino puxado. Expressão – Há soberba dos oponentes quando vão lutar contra você?

Anne – No começo, sim. Muitos zombavam e não acreditavam no meu potencial. Conforme fui vencendo dos meus oponentes, fui ganhando respeito no MMA Hoje, todos me vêem como uma forte adversária. Expressão – Qual é o seu maior sonho no MMA? Anne – Quero ter uma carreia longa e poder atuar pelo UFC. Expressão – O que você acha da jogadora trans do vôlei Tifanny? Anne – Se a documentação está certa e a federação permite, não vejo problema. Expressão – Você se vê como inspiração para que outras trans entrem para o MMA? Anne – Sim. Muitos trans frequentam a academia onde treino por minha influência. Isso me deixa muito feliz.

Fernanda Noronha

Afastada em 2000 pelo Alto Comando das Forças Armadas Brasileira pela sua transexualidade, “incapaz, definitivamente, para o serviço militar”, como alegaram, Maria Luiza da Silva, 56 anos, decidiu lutar pelo direito de exercer a função de militar. Na época, ainda com o nome masculino de Luiz Carlos, servia na Aeronáutica, na Base Aérea de Brasília, onde era mecânico de aeronaves. Ao ler sobre a história de Maria Luiza no jornal, o cineasta Marcelo Diaz decidiu transformar a história em filme. “Fico muito instigado quando ouço alguma experiência forte de alguém, que passou por uma mudança profunda. Acho isso muito humano e inspirador”, conta o produtor da película, que estreia em setembro deste ano. Numa época em que pouco se falava sobre empoderamento trans, o que Maria Luiza tinha passado como mulher transexual e militar impressionou o cineasta. “Pensei que, em 2017, poderíamos filmar Maria Luiza de farda, na Aeronáutica, recebendo alguma homenagem. Infelizmente, não é isso que vamos ver. É a vida real. É Maria Luiza impedida de exercer seu cargo durante todos esses anos”, descreve Diaz. Tirar a ideia do papel não foi um processo fácil. Fazer com que Maria Luiza tocasse em pontos difíceis e dolorosos não aconteceu de um dia para o outro. Os dois passaram um bom tempo desenvolvendo o projeto, a pesquisa e o roteiro – a ex-cabo, tímida e reservada, tinha

junho 2018

receio de se expor. “Inicialmente, ela pensou que seria algo ficcional e me perguntou quem seria a atriz que faria o seu papel. Ficou surpresa quando eu disse que queria fazer um documentário, com ela mesma como protagonista”, relata Diaz. Reservada para conceder entrevistas, Maria Luiza queria apenas trabalhar como mecânica de aviação, no local onde atuou por mais de 22 anos, mas não poder exercer a profissão de militar ainda é um grande sofrimento. “Foi um processo longo, mas incrivelmente especial. Aprendi e aprendo muito com ela. Desenvolvemos carinho e respeito recíprocos, o que ajudou muito com o filme. Maria é uma guerreira e foi muito forte ao relembrar de fatos e narrar experiências muito dolorosas. E o filme, de certa forma, faz parte de seu processo de redenção”, completa Diaz. Diego Bresani/Diazul de Cinema

Matheus Chaves e Eduardo Costa

Militar, transexual, banida: história de vida vira filme Winnetou Almeida/A Crítica - Manaus

“Ganhei respeito vencendo meus oponentes”

Maria Luiza da Silva é tema de filme

EXPRESSÃO

9


VIDA DIGITAL

Comunicação via tecnologia e afeto Plataforma melhora qualidade da interação de pessoas com delicadezas comunicativas Reprodução Prefeitura do Município de Recife (PE)

Com o aplicativo, Jhonatan Lins expressa à família quando tem fome, dor ou quer estudar Nadia Belo

Para se comunicarem melhor com a filha Clara, com paralisia cerebral, Carlos e Aline Pereira ultrapassaram as barreiras humanas. O casal encontrou na tecnologia a chance de contato, aprimorada pelo aplicativo Livox. Desenvolvida por eles, a plataforma de comunicação alternativa auxilia adultos e crianças com dificuldades comunicativas e melhora a qualidade de vida e de convívio de famílias, amigos e instituições educacionais, que podem utilizá-lo. Para desfrutar do serviço, é necessário comprar a licença de uso, mas estão em curso negociações para oferecê-lo na rede pública. Fonoaudiólogos, terapeutas, psicólogos e professores podem usar a plataforma, na qual há recursos como treinamento para capacitação de manuseio.

10

Magda Spalding, presidente da Associação Amor Cuidado e Vida (AAVC), passou a utilizar o software depois de o criador da tecnologia, Carlos Pereira, ter ido à entidade, em Porto Alegre (RS), palestrar sobre o aplicativo. “Percebi o quanto aquela ferramenta seria fantástica para adultos com dificuldade de comunicação e, por isso, comprei uma versão profissional”, relata Marta. MAIS INDEPENDÊNCIA

“A tecnologia na vida das pessoas com deficiência ou limitação comunicacional oferece muitos benefícios em termos de aprendizagem. Hoje em dia, existem dispositivos que têm como objetivo possibilitar a essas pessoas que se expressem melhor e tenham mais independência”, reconhece a fonoaudióloga Ana Carolina Alecrim.

EXPRESSÃO

junho 2018

Jhonatan Lins, de 20 anos, possui paralisia cerebral e utiliza o Livox há mais de quatro anos para conversar com a mãe Ginny Lins, gerente de autoescola em Recife (PE). “Nossa comunicação sempre foi maternal, pois ele criou uma forma de dialogar comigo por gestos. Isso me preocupava, porque além de mim, outras pessoas precisavam entendê-lo. Ele consegue dizer quando está com fome, dor e quer estudar. A vinda do Livox trouxe essa liberdade para ele”, comemora Ginny. André Fialho, diretor comercial e estratégico da Livox, agora se empenha em buscar parcerias para oferecer o serviço para a população em geral. “Estamos tentando colocar o Livox nos municípios e no Governo Federal, para que seja disponibilizado para as pessoas da rede pública”, planeja o executivo.

CONEXÃO ANIMAL

Serviços online ajudam pets e donos Jessica Yumi Ter um cachorrinho, um gatinho, é maravilhoso. Eles são nossos companheiros e estão sempre ao nosso lado. Mas a responsabilidade de manter um bichinho de estimação é grande. Eles precisam comer, passear, ir ao veterinário. Aplicativos facilitam a vida do dono do

A cada clique, um serviço diferenciado Dog Hero é um “Airbnb” para cachorros, com pessoas credenciadas para hospedagem (assim como você pode ser anfitrião), com o perfil de quem hospeda e valores. Estão inclusos veterinário, suporte 24 horas e envio de fotos e vídeos do pet. Tirar fotos de animais não é fácil, ainda mais quando queremos que eles olhem para a câmera. O Cat Snaps mostra um ponto colorido na tela para chamar a atenção do bichinho. Quando ele encosta na tela, a

pet com serviços e funções diversas, como apenas divertir quem é apaixonado por animais. Todos podem ser baixados de graça pela Apple Store e no Google Play. “Essa plataforma é fantástica, altamente confiável e prática”, atesta Claudia Regina, sobre o serviço de hospedagem do DogHero. A comodidade para realizar compras pelo celular também atrai, conta Isabelle Lima. “Compro todos os produtos do meu Zeca na Petlove há uns três anos. Sempre chegam dias antes do estipulado”, elogia.

foto é tirada automaticamente. Sem tempo para comprar ração, remédios, brinquedos e coisas para o seu pet? A Petlove é uma loja online criada para esta finalidade, onde há de tudo ao acesso de um clique. Depois, é só esperar a entrega chegar em casa. My Pets é uma espécie de agenda com versão para o português. O app traz lembretes sobre medicamentos, vacinas, consultas, banho, controla o peso do pet e verifica a equivalência da idade humana com base nas características específicas da raça. Instapet. Já deu para notar a semelhança com o Instagram, né? A rede social permite criar perfis, editar, publicar fotos e vídeos (com vários tipos de filtros) com fotos dos bichinhos. Depois, é resistir a muita fofura passando na sua timeline.

CONVERSA VIA CELULAR

Novo hábito dos idosos Luara Theodoro

O uso da tecnologia tem gerado um impacto positivo na rotina de relacionamento e comunicação do público mais velho. Ao aprender a usar o computador e navegar na internet via mobile, grande parte dos homens e mulheres com mais de 60 anos se comunica mais com os filhos e netos, faz novos amigos, procura novos parceiros e melhora a sua interação social. “Eles procuram melhorar a convivência e a relação que existe com a família, tentam se comunicar

mais com seus parentes, desde os que vivem próximos àqueles que moram em outros estados ou países”, relata Tatiana Correia, 38 anos, professora de Informática do Espaço de Convivência do Idoso, projeto do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo. “Assim como os jovens e adolescentes, eles querem se comunicar e relacionar usufruindo das ferramentas que são oferecidas”, complementa. Para a aposentada Maria Nadir Santos, 57 anos, o ponto positivo de ter entrado em contato com o mun-

do digital pelo celular é a convivência com os familiares. “Aprendi a fazer vídeos, enviar fotos, gravar áudios e o maior benefício é a proximidade com minha família. Antes, só nos víamos e nos falávamos à noite. Agora, sempre que quero falar com eles, mando uma mensagem”, conta. A tecnologia também os auxilia profissionalmente. “Não tenho mais que fazer pesquisas de rua e essas coisas. Já posso fazer tudo isso pelo computador, com a facilidade de ter as respostas imediatas”, destaca a pesquisadora Edna Saldanha, 58 anos.


ESTILO DE VIDA

Endereço profissional: mundo Leticia Damasceno

Conhecer o mundo e atuar profissionalmente ou em ações de voluntariado tornou-se viável graças à internet, alternativa adotada pelos nômades digitais, profissionais que dependem apenas de uma conexão à web para trabalhar enquanto rodam o mundo. O lifestyle atrai pessoas de todos os lugares possíveis, com perfis diversificados e, em comum, a paixão por viajar. A perspectiva atraiu o casal André Lucas Guimarães, 29 anos, e Amanda Mattar, de 27. Em 2015, eles traba-

lhavam online e decidiram passar um mês fora para ver se conseguiriam trabalhar de forma remota e se adaptar ao fuso. Escolheram Chicago, nos Estados Unidos. “Foi um sucesso e, em agosto de 2016, após casarmos, iniciamos a nossa vida juntos viajando”, relembra André. Manter este estilo de vida depende de vontade e organização. “Tornar-se um nômade digital deve partir de muita reflexão, algo maior do que só viajar ou ir pela moda, e o entendimento da viabilidade, o que é necessário para ter uma fonte confiável de renda remota ou online”, ensinam.

Pexels / Divulgação

Nômades digitais ensinam como morar fora (e em diversos lugares) e trabalhar ao mesmo tempo

Viajar pelo Exterior trabalhando e pagando as contas tornou-se um lifestyle que a tecnologia permite levar

TECNOLOGIA

Danniel Oliveira, 31 anos, era gerente comercial de uma escola de inglês e de uma faculdade em Dublin, na Irlanda. Após saber do terremoto no Nepal, em 2015, se demitiu e, com suas economias, foi para a capital Kathmandu auxiliar os sobreviventes. Desde então, trabalha online, visitou 56 países, construiu casas após o terremoto, foi voluntário em um asilo e, na Índia, ensinou inglês e auxiliou na inserção tecnológica de mulheres e crianças. “Amo viajar, conhecer pessoas, lugares. Ter a

possibilidade de manter este estilo de vida e trabalhando online de onde estiver é a maior vantagem”, comenta Danniel. Poder definir os horários de trabalho e o tempo de estadia em cada país é libertador, mas com muito controle financeiro. “Quando se tem um salário fixo, você acaba tendo mais controle sobre gastos e se planeja melhor. Trabalhando online, a vida financeira se torna uma montanha russa semanal. Então, aprenda a controlar mais o dinheiro”, aconselha.

AUTOMAÇÃO

Mariana Baldi

Bruna Damas

Sensores percebem objetos acima da cintura do usuário

O 3 Di são os olhos de deficientes visuais e cegos e rendeu aos jovens Igor Schneider e Mateus Jubett Birck, ambos de 19 anos, o prêmio Inovadores Tecnológicos, na categoria Ciências da Computação, em parceria com a Associação de Deficientes Visuais de Novo Hamburgo (ADEVIS-NH), no Rio Grande do Sul, pela 32ª Mostra Brasileira de Ciência e Tecnologia (Mostratec), na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, em outubro de 2017.

Ao se aproximar de objetos localizados acima da cintura do usuário, um sensor aciona um motor vibracall para avisar sobre o obstáculo. “A ideia era desenvolver um dispositivo que se acopla-se ao pulso ou à mão do indivíduo, mas não era a melhor solução, pois os deficientes visuais são completamente dependentes das mãos na hora da locomoção. Passamos por outros protótipos, como tiara e touca. A melhor opção foi o óculos”, explica Birck. “Não espero que esse produto me traga lucro. Quero realmente ajudar o próximo”, complementa Schneider, indicado a concorrer à premiação internacional com a criação.

Thais Santos

Aos 17 anos, o estudante Francisco Camêlo de Oliveira Neto, do 3º ano do Centro Estadual de Tempo Integral (CETI) Didácio Silva, do Piauí, venceu a votação popular na 16ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace/2018), realizada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), na subcategoria Eletrotécnica com a Wearable Luva Inteligente, concorrendo com jovens de todo o Brasil. Criada a partir de técnicas da robótica, engenharia e eletrotécnica, a luva aciona dispositivos para iluminação e, como se fosse um controle remoto, liga e desliga eletrodomésticos como

rádio, televisão e ventilador. Composto por uma placa microcontroladora Arduino e um transmissor de radiofrequência, o sistema de automação residencial tem baixo custo e consumo de energia, mas Francisco não pretende explorar o potencial financeiro do invento. “Os projetos são beneficiar quem precisa”, responde. A professora Sidiane Alves Cardoso implantou um projeto de pesquisa para orientar jovens ao desenvolvimento científico e identificou em Francisco um talento a ser lapidado. “Vi nele uma oportunidade única. Ele se sobressaia na tecnologia. Ele se destacou e atendeu a todas as expectativas”, celebra a incentivadora.

junho 2018

Fotos: Sidiane Cardoso

Óculos com alerta vibratório advertem Jovem cientista cria luva para sobre obstáculos no meio do caminho driblar mobilidade reduzida

Aos 17 anos, Francisco celebra criação premiada

Dispositivo liga e desliga variados eletrodomésticos

EXPRESSÃO

11


ARTES

Acolhimento nos braços de Frida Frida Kahlo (1907-1954) tornou-se mundialmente famosa por dizer não pintar sonhos, mas sua própria realidade, convertendo suas dores em pinturas com motivos fortes e cores vivas e instigantes. A artista mexicana, famosa pelos autorretratos, atravessou uma sequela num dos pés, causada pela poliomielite, um acidente grave de ônibus que a manteve em mesas de cirurgia e tratamentos durante anos, a perna amputada, três abor-

tos e a depressão. Inspirada em sua história de lutas – e lutos –, a Casa Frida reúne em São Paulo terapeutas dedicados a tratar das perdas, sejam elas de pessoas, sonhos, planos, animais. “Escolhemos o tema perda pela nossa experiência clínica nos atendimentos. A gente percebe que a perda, o luto, é um tema tabu que as pessoas não tratam, não querem falar. Às vezes, não têm espaço para falar”, explica Isadora Louza, uma das fundadoras do espaço, em parceria com as psica-

Reuniões e rodas de conversa estão entre as ações

FESTIVAL LGBTQ+

Juliana Marotta/Divulgação

Um grito de liberdade

Artistas como Jenny Jinx animam o Resistência Transviada Rafael Costa

De pesado, somente o som, com muito heavy metal, trash, death, punk e hardcore. O clima do primeiro Festival Resistência Transviada, realizado em 2017 e dirigido para o público LGBTQ+, foi de festa, descontração, música, dança, comidinhas veganas e liberdade para curtir sem discriminação e violência. Diante do sucesso, os or-

12

ganizadores planejam mais três edições ainda para 2018. “A primeira edição conseguiu o meu carinho. Nunca antes eu tinha me sentido tão à vontade em um lugar. Todos ali só queriam se divertir”, testemunha Valéria Paixão. Criado em 2017 na boate Underground Club, na zona norte de São Paulo, o evento é uma iniciativa do coletivo Out and Proud. “Nós somos LGBTs e he-

EXPRESSÃO

junho 2018

adbangers. Neste festival, podemos ser aquilo que somos, sem preconceito, sem violência”, destaca a drag queen Vee Wayward, uma das organizadoras da festa. O Resistência Transviada trouxe bandas com temática LGBT, com abertura das apresentações feita pela Bioma, seguida pelo som tocado por Kultist, HellArise e Rastilho. A cantora Föxx Salema soltou a voz marcante com covers de hard rock e heavy metal. Julia Gimenes trouxe projeções da história LGBTQ+, entremeadas por apresentações de dança e performance de drags. Além da vibe descontraída, a entrada de R$ 10, valor destinado ao pagamento e às passagens para trazer as bandas – todas com integrantes LGBTQ+ –, atraiu o público, que já conta os dias para as próximas datas do festival, a serem divulgadas pela página facebook.com/ ResistenciaTransviada.

nalistas Renata Cattacini e Carla Belintani. Fundado em 2016, o local promove reuniões mensais, nas quais o tema é explorado por meio de arte, filme, música, poesia, livros, atendimentos e muito diálogo, atividades baseadas nos pilares da prática clínica, das supervisões e dos estudos continuados. “Existem também as rodas de conversa. A contribuição vai de acordo com que a pessoa puder, por se tratar de uma ação voluntária”, explica Renata.

Há sessões com acompanhamento específico para grupos fechados, ao custo de R$ 60 por pessoa, e projetos voltados para o bem social. “Estamos em formação, mas pretendemos reservar 30% das vagas para pessoas de baixa renda, porque as trocas de diferentes tipos de vivência são muito ricas, mostram o quanto as pessoas são parecidas”, enfatiza Carla. A CASA FRIDA Contato: (11) 95061-6984 Site: www.acasafrida.com.br E-mail: contato@acasafrida.com

DIVERSIDADE

Sexualidade a olho nu André de Angelo O Museu da Diversidade Sexual é uma vitrine para que todos possam ver as diferentes orientações sexuais externadas, com mostras de figurinos, fotografias e histórias de vida e de movimentos sociais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. As exposições ficam na parte interna da Estação Metrô República (Linha 3 – Vermelha), com entrada gratuita. As atividades culturais e educativas do espaço têm foco principalmente nas identidades, orientações sexuais, gêneros e suas expressões, num espaço de coexistência, recordação e exposição da população LGBT. A diversidade sexual predomina na temática das exposições, com cunho voltado ao empoderamento. “Remédio para sentimentos” é uma das mostras em cartaz, tratan-

Sidney França/Divulgação

Denilson Lira

Reprodução

Iniciativa oferece atendimento, orientação e terapia a pessoas que sofreram perdas

Ensaios e fotos estão expostos no Metrô República do da homossexualidade, com destaque para a crítica reflexiva sobre a violência do preconceito. Em reconhecimento à temática social e cultural que o museu promove, os visitantes destacam a importância do espaço, que traz informações como dados históricos, obras e fotos com nus do(s) sexo(s) em suas variabilidades. “Nunca tinha visto uma exposição em um local tão acessível. É excelente”, considera a estudante Brenda Gomes, 23 anos, sobre a localização, dentro

de uma estação de metrô e aberta de forma gratuita. Jéssica Borges, também estudante, 21 anos, concorda com a amiga Brenda e complementa: “Tenho orgulho da minha opção sexual. Vê-la assim me faz sentir bem”, comemora. MUSEU DA DIVERSIDADE Estação República do Metrô, atrás da bilheteria. Piso Mezanino, loja 518. Funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h. Entrada gratuita. www.mds.org.br


CRÍTICA

A potência da negritude “Pantera Negra” rompe padrões no cinema e para além dele

Beatriz de Paula

T’challa (Chadwick Boseman), o Pantera Negra, declarado Rei de Wakanda T’Chaka (John Kani) e ganha poderes oriundos de uma flor nativa de Wakanda. O governo de T’Challa atravessa conflitos e rivalidades entre as tribos locais enquanto se desdobra para empreender a caçada a Ulysses Klaue (Andy Serkis), acusado pelo roubo do minério vibranium, principal riqueza de Wakanda. A produção traz excelentes efeitos, muita ação, crítica política e um toque de humor e romance (a atriz queniano-mexicana Lupita Nyong’o interpreta uma explêndida Nakia, paixão de T’Challa). Imprimindo o vigor narrativo de um Pantera Negra de carne e osso ao ser escolhido para dirigir o filme (anunciado para a missão pela própria Marvel), assim como ocorre com o personagem, o jovem afro-americano Ryan Coo-

gler exerceu a sua força criativa na condução de uma história ao contrário de qualquer previsão, embora inspirada nas evidências trazidas na representação (sobretudo midiática) dos negros. A crítica à realidade social sobre a cultura negra justifica o protagonismo do longa também pela ruptura na escalação do elenco negro, a quem são invariavelmente destinados os personagens (invariavelmente negros) contextualizados na pobreza e na criminalidade. Nos últimos anos, a indústria de filmes de Hollywood foi criticada pela falta de referências negras em produções de todos os gêneros e, em especial, no universo dos (super-)heróis, uma injustiça que “Pantera Negra” corrige ao destacar quem são os verdadeiros super-heróis no cotidiano, todos os dias.

Uma performance sensual de strippers contorcendo-se em um pilar no meio de uma boate. A imagem realçada em filmes como “Striptease”, produção americana de 1996 estrelada pela atriz Demi Moore, reflete o pensamento comum quando se trata do pole dance, arte que vai muito além do clichê erótico. Cada vez mais popularizada no Brasil, a técnica ganha espaço entre o público feminino e o masculino. A atividade traz inúmeros benefícios. É uma ginástica que colabora para a melhoria da resistência física, além de emagrecer e fortalecer os músculos. Motiva também um empoderamento em mulheres que têm baixa autoestima. “O pole dance fez com

que eu começasse a aceitar meu corpo. Me deu um banho de empoderamento”, confirma Mariana Moraes. Nathallia Rodrigues dá aulas há oito anos e destaca estes benefícios. “O mais gostoso é ver o desenvolvimento dos alunos. Além de uma atividade física gostosa, ocasiona um empoderamento psicológico”, atesta. “A sensação que tenho é a de que eu estou voando, de estar em outro plano. É uma válvula de escape”, relata Rodrigo Vieira. “A gente se sente mais confiante, Você vai se superando a cada dia”, confirma Raiza Gorbachev. NATHALLIA RODRIGUES STUDIO Rua Barão de Itapetininga, 273, Cj. 3E, República, SP Contato: (11) 98340-1995 Márcia Kuahara/Divulgação

Marvel / Divulgação

Super-herói, rico e negro. “Pantera Negra” (Black Panther, EUA, 2018) tornou-se um divisor de forças e concepções ao frustrar a expectativa de se considerar – e retratar – a cultura negra de forma subjugada, pejorativa e limitada. Os espetaculares US$ 218 milhões arrecadados em bilheteria nos primeiros dias em cartaz, em fevereiro, foram apenas uma mostra da potência do longa, aclamado no mundo todo por desvirtuar uma leitura estereotipada da negritude, do povo e do continente africanos, pela sua associação à miséria e ao caos social e sua frequente exibição pelo viés do exotismo. Em pouco mais de duas horas – com cenas dignas das mais eletrizantes histórias em quadrinhos, honrando assim a origem da película – o longa se desenrola no país fictício de Wakanda, claramente inspirado numa África vigorosa, repleta de riquezas naturais e terras férteis. A prosperidade desperta a cobiça dos gananciosos que, assim como ocorre na vida fora das telas naquele continente, subestimam o poder de Wakanda ao roubarem os seus minérios, conhecidos somente pelos nativos e capazes de gerar avanços tecnológicos e econômicos. É aí que o Pantera Negra sai dos quadrinhos e ganha vida na elogiada atuação de Chadwick Boseman na pele do super-herói. O ator encarna o príncipe T’Challa, que ocupa o posto de rei após o assassinato do pai

Pole dance sem clichê

Dança derruba mito erotizado

Marvel/Divulgação

Gabriel de Castro

ARTE ALTERNATIVA

“Pantera Negra” foi indicado a 14 prêmios. • Foi o primeiro filme oficial a ser transmitido na Arábia Saudita em 35 anos. • Pela primeira vez no universo Marvel, o super-herói é negro.

Fontes: Rolling Stone, Movie Web e Wikipedia

Professora Nathallia performa movimentos de força

junho 2018

EXPRESSÃO

13


ESPORTE E LAZER

Estresse pelos ares Diomar Lacerda

Paraquedismo desponta como atividade para quem quer deixar os problemas em terra firme

PARA EXTRAVASAR

Radicais livres na pista

Gustavo Barreto

paraquedismo como alternativa terapêutica e de lazer. A paixão pelo esporte cresceu tanto que o policial contabiliza mais de 200 saltos, além de ter trazido três amigos para participarem da atividade. SEGURANÇA E ESTRUTURA

Salto são feitos na cidade de Boituva, pólo do esporte Bárbara Nascimento

Sair da rotina e desestressar é uma necessidade quase unânime entre as pessoas nos dias atuais. E sentir o corpo voando a 200 km/h numa queda livre de 12 mil pés deixa os problemas e tensões lááá

embaixo. Esta descarga emocional e sensação de liberdade faz do paraquedismo uma das atividades esportivas preferidas para extravasar. Diomar Lacerda, agente da Polícia Militar, faz parte deste grupo de pessoas que buscam novos ares e procuram o

A experiência de saltar pela primeira vez foi igualmente marcante para Daniel Garcia. Foi questão de tempo para que ele transformasse o que era apenas uma aventura em trabalho. Um mês depois do seu salto inaugural, começou um curso de especialização na arte de mergulhar nos ares e hoje atua como cinegrafista de saltos duplos. “Após ter experimentado a sensação de estar em queda livre, eu já queria fazer novamente. Nunca mais parei”, conta. O rigor nas questões de segurança, a estrutura para o salto e orientações sobre o esporte contribuem para o encorajamento de praticantes. A possibilidade de ter em mãos as fotos e os vídeos do salto em emocionantes imagens também convence as pessoas a se jogar em queda livre durante 50 segundos de desestresse. Tudo para expurgar as preocupações e os problemas que ficam em terra firme.

QUEM PODE SALTAR

cial (é cobrada taxa adicional).

ortopédicos ou desmaios podem

• É preciso ter idade mínima de

• 120 kg é o limite de peso para

ter restrições para a prática.

14 anos.

saltar com equipamento especial.

ONDE SALTAR

• Menores de idade devem ter

NÃO VACILE

Centro Nacional de Paraquedis-

autorização dos responsáveis.

• Consulte um médico antes de

mo (CNP). Informações: www.

• Passageiros com mais de 95 kg

saltar. Pessoas com problemas

paraquedismoboituva.com.br

saltam com equipamento espe-

cardiovasculares, respiratórios,

ou (15) 3263-1645

14

EXPRESSÃO

junho 2018

Parkour é o diferencial do parque, onde há circuitos de skate, patins, patinete e BMX Gustavo Barreto

Apesar de ser considerada uma cidade cinza e caótica São Paulo esconde opções de lazer e refúgio da correria, como os famosos parques Villa-Lobos e Ibirapuera. O Centro de Esportes Radicais veio juntar-se a eles como alternativa de descanso, com o diferencial de ser voltado à pratica de esportes radicais e abrigar o primeiro e único circuito de parkour de São Paulo, na Marginal Tietê, na altura do Bom Retiro.

Aberto todos os dias, o espaço de 38,5 mil m² abriga pistas de skate, BMX, patinete e patins em níveis para atletas iniciantes, intermediários e avançados. Ao parkour, diferencial do local, há uma área exclusiva de 650 m². “Considero o parkour um abridor de mentes. Ele mexe com o psicológico, ajuda a criar uma ponte entre corpo e mente”, destaca a praticante Ingrid Pasqualino, 23 anos. No parque, não são vendidos alimentos. “Sempre trago um lanche ou frutas.

É um local ideal para fazer piquenique com os amigos e a família”, sugere a frequentadora Barbara Lopes. Adaptado para a mobilidade, tem área infantil com brinquedos para crianças de até 12 anos. “Aqui todo mundo se respeita”, resume Edimar Moura, funcionário do parque, sobre a vibe do lugar. CENTRO DE ESPORTES RADICAIS Marginal Tietê, Av. Presid. Castelo Branco, 5.700, Bom Retiro. Aberto todos os dias, das 8h às 22h. Entrada e estacionamento gratuitos.

PENEIRA

Centro Olímpico recruta talentos Bruno Santos O sonho de se tornar um grande atleta e, sonhando mais alto ainda, de participar das Olimpíadas representando o País, pode estar a alguns passos e uma inscrição de se realizar. O Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) promove durante todo o primeiro semestre de 2018 peneiras para garimpar talentos esportivos. A participação é gratuita e dirigida para jovens entre sete e 17 anos, em dias es-

pecíficos reservados para cada uma das 10 modalidades oferecidas. Thainá Barbosa, 14 anos, participou em fevereiro das seletivas do futebol. “Passei, porém não consegui ir à segunda fase pelo fato de ser à tarde, período que coincidiu com o meu horário de aula. Em breve, farei novamente a peneira para ver se consigo continuidade lá”, avisa. Questionado sobre se os aprovados farão parte das seletivas para as Olimpíadas de 2020, em

Tóquio, no Japão, o secretário de atendimento do COTP, Marcelo Martins, é categórico: “Para as Olimpíadas e para os Mundiais de cada modalidade”, ressalta. COMO PARTICIPAR Informações em www. adcentroolimpico.com.br, peneiras@adcentroolimpico. com.br ou pelo fone (11) 3396-6452 SERVIÇO Entradas pela Av. Ibirapuera, 1315, ou Rua Pedro de Toledo, 1651, Vila Clementino, SP


PROJETO SOCIAL

Aulas de artes marciais na faixa Murilo Nogueira

Na cidade de Cotia, na zona oeste da região metropolitana de São Paulo, o incentivo ao esporte concentra-se em clubes privados, exceto pela ação de pessoas como Marcos Sofiatti, lutador faixa-preta de jiu-jitsu. Com o apoio da população do bairro do Jardim Japão, o professor idealizou o projeto Lutar

para Viver, que em parceria com o Instituto de Marcos Baiano, o MB Solidário, ensina artes marciais para crianças e adolescentes. Fundado há um ano, o projeto está ativo também no Jardim Petrópolis. A participação das aulas e até os quimonos usados pelos lutadores mirins são gratuitos. Mestres senseis ensinam jiu-jitsu e karatê em treinos regulares, dan-

do a oportunidade para que os jovens disputem competições regionais. “A arte marcial traz fundamentos de defesa pessoal e princípios de conduta com foco na disciplina do aluno”, destaca Silvia Mariano, colaboradora do MB. Fátima de Souza reconhece o papel do instituto na educação de Felipe, 10 anos. “Prefiro que o meu

Facebook MB Solidário

filho se desenvolva aqui do que na rua. Ele aprende muito com os mestres e está adorando a experiência”, elogia. QUEM PODE PARTICIPAR Crianças de seis a jovens de 17 anos, residentes na região do Jardim Petrópolis e do Jardim Japão, mediante apresentação de atestado médico de aptidão à prática esportiva

Quimonos usados pelos lutadores mirins são doados

ÍDOLO DA BOLA

Um craque no Butantã

Matheus Henrique

Marcelo Pereira Moreira. O nome é quase desconhecido. Foi o apelido, este sim, que imortalizou o ex-jogador profissional de futebol, craque revelado pelo São Paulo Futebol Clube nos anos 90. Na carreira esportiva, apadrinhada pelo ex-técnico e incentivador Telê Santana, Pavão, hoje com 44 anos, teve ascensão e estrelato meteóricos. Em 1994, o lateral-direito ganhou o prêmio Bola de Prata, concedido pela revista Placar, honraria concedida somente a nomes ilustres como Neymar e Ronaldinho Gaúcho. Mesmo tendo jogado na Europa, não teve a mesma badalação e valorização de que os jogadores brasileiros desfrutam nos dias atuais. Após desilusões com a profissão, aposentou-se dos gramados precocemente no início dos anos 2000. Do lado de fora dos estádios, alternou o pé na bola com o pé no acelerador, atuando como vendedor de carros no Bu-

tantã, na Avenida Eliseu de Almeida, região onde é muito querido pelos moradores e pelos fãs que o reconhecem pelas ruas. A dedicação ao futebol continua em jogos beneficentes e na atuação pela Seleção Brasileira de Master, jogando, claro, pelo tricolor do coração.

Eduardo Costa

Ex-jogador do São Paulo, Pavão relembra marcos da carreira e curte nova fase da vida pela região além...”, lamenta ele, sobre a aposentadoria precoce, forçada pela falta de apoio e de comprometimento no meio empresarial do mundo da bola naquele tempo. AMIZADE E RECOMEÇO

ÍDOLO INTERNACIONAL

Para Pavão, o sonho de garoto de atuar profissionalmente no esporte realizou-se antes do que imaginava. Aos 17 anos, em 1991, abraçou a oportunidade de jogar ao lado dos seus ídolos. “Tinha o Müller do meu lado, Raí, Zetti, Cafu, Juninho Paulista, vários grandes jogadores”, relembra. No dia de sua estreia, deu tudo de si para mostrar a que veio. Na ocasião, não apenas fez o seu primeiro gol pelo time, como tornou-se o mais jovem jogador a fazer balançar as redes com a camisa do São Paulo. Depois de uma excelente temporada, o promissor começo de carreira no Brasil atraves-

Ex-lateral-direito exibe o Troféu Bola de Prata sou as fronteiras e o oceano, levando-o aos campos europeus. No Austria Lustenau, em 1997, foi contratado com a distinção de ser o jogador mais caro do futebol austríaco, recebido de braços abertos pela torcida. “Quando cheguei lá, tinham duas mil bandeiras do Brasil na minha estreia e várias fotos minhas para dar autógrafo na hora da saída”, recorda. Após os três anos de glória no futebol austríaco e

uma temporada na Espanha, em Tenerife, voltou ao Brasil, em 2001. Depois da experiência europeia, Pavão tentou mais uma vez a sorte no futebol brasileiro, mas sem chances em times de expressão. Tempo depois, desilusões nos bastidores do futebol o afastariam oficialmente dos campos. Jogou pela última vez no Treze de Campina Grande, na Paraíba. “Acredito até que teria futebol para ir

O começo da nova vida foi um momento complicado, amenizado pela ajuda do amigo de infância, o também ex-jogador tricolor André Luiz. O colega de time nos tempos do São Paulo o contratou como vendedor de automóveis de sua revendedora no Butantã, a loja multimarcas PSG, nome em homenagem ao Paris Saint-Germain, clube no qual jogou, na França. “Trabalhei por um ano na loja do André Luiz, mas na época tivemos que fechar porque o ele ia sair do Brasil. Mas foi bacana”, reconhece. Após a experiência no comércio de veículos no Butantã, o ex-craque passou a treinar meninos em escolinhas de futebol no bairro Campo Limpo, na zona sul da capital. Foi também convidado a jogar novamente

junho 2018

pelo tricolor e por duas seleções nas partidas beneficentes de Master, categoria de jogadores aposentados. “Agora estou só nos jogos de Master do São Paulo, na Seleção Paulista e Brasileira, para onde sou convocado às vezes. Fazemos excelentes partidas e competições beneficentes por todo o Brasil”, entusiasma-se. O retorno ao futebol se dá também pelos filhos com a esposa Jady. Empresariados por ele, Caio e Ryan, de 10 e oito anos, são jogadores da base do São Paulo. Veio de pai para filho, aliás, o apelido curioso pelo qual se tornou conhecido. “Pavão era o nome de um amigo do meu pai que era muito parecido comigo. Uma vez, por eu correr parecido com ele, meu pai começou a gritar na lateral: ‘Vai, Pavão! Vai, Pavão!’ (risos). Os meninos que jogavam comigo no Clube Pequeninos do Jockey (time formador de jovens atletas e celeiro de craques), Zé Roberto e André Luiz, acharam engraçado. Acabou pegando”, diverte-se.

EXPRESSÃO

15


INFOGRÁFICO

Mercado bombadão

Qual a verdade por trás dos suplementos? Você conhece tudo aquilo que consome? Descubra um pouco mais sobre a indústria desses compostos e como eles agem no seu organismo Jacqueline Rodrigues Oliveira e Vitória Ribeiro da Silva

Compostos mais ingeridos

54%

dos brasileiros tomam algum tipo de SUPLEMENTO Melhora o rendimento e auxilia na recuperação pós-treino

Carboidrato essencial para fornecer energia durante o exercício físico

Ajuda na recuperação muscular após a atividade corporal

É antioxidante e responsável por transportar vitaminas para os músculos

Indústria de suplementos cresce a passos largos

2012

2013

2014

2015

2016

2017

R$ 600 milhões

R$ 1 bilhão

R$ 1,2 bilhão

R$ 1,35 bilhão

R$ 1,49 bilhão

R$ 1,9 bilhão

55%

praticam ATIVIDADE FÍSICA

53%

mantêm uma ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Efeitos no organismo

Multivitamínicos em demasia contribuem para arritmia cardíaca

16

EXPRESSÃO

Excesso de vitaminas C e D pode resultar em cálculo renal

junho 2018

Consumo exacerbado de vitamina A leva à cirrose hepática

Açúcar no sangue aumenta com ingestão de multivitamínicos

MULHERES são as principais consumidoras


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.