USJT
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junho 2018
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ano 25
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edição 4
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
O turismo move o mundo
Circular pelos quatro cantos do Brasil e do exterior acelera economias locais, conecta pessoas e culturas e estimula a qualificação profissional ESPECIAL - Págs. 6 a 9
O poder da arte queer: movimento renova cena cultural do País Pág. 13
Projeto revoluciona acessibilidade em smartphones Pág. 3
Lixo espacial: risco de queda de detritos mobiliza estudos Pág. 5
Bike combate o sedentarismo no caminho até o escritório Pág. 11 junho 2018
EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
#INSTANTÂNEO
Michelle Luana
Shutterstock
Das rotas clássicas pelo Velho Mundo às paisagens do Sudeste Asiático, da Amazônia, dos Andes ou do Pacífico, os caminhos do turismo são verdadeiros motores da economia global. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, o setor responde por US$ 6 trilhões em receitas – o que inclui traslados, serviços e despesas com alimentação e hospedagem. No Brasil, o turismo injetou US$ 163 bilhões em 2017, quase 8% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Esses dados demonstram a força de um segmento que vai além das viagens de férias, contribuindo para gerar negócios, conectar pessoas
e promover o desenvolvimento de comunidades. Nesta edição, o Especial lança foco sobre uma série de questões: por que estamos estagnados no cenário mundial? Que destinos permanecem pouco explorados no País? Quem são os brasileiros que rodam o mundo atrás de novas experiências? Como os diferentes turismos se integram à rotina das cidades? Nas demais editorias, reportagens sobre arte, tecnologia, ciência e projetos inovadores reforçam o propósito do Expressão de debater temas emergentes de nosso campo social. Siga sugerindo novas rotas para explorarmos. Estamos juntos! Os Editores
Daniele Gois
A força do paratletismo Localizado na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, o Centro Paralímpico Brasileiro é considerado o principal da América Latina, abrigando 15 modalidades. A estrutura é utilizada para treinamentos, competições e intercâmbios entre seleções; na imagem, destaque para a largada da natação feminina, durante o Circuito Loterias Caixa 2018.
#FICA A DICA
EXPRESSÃO As contradições da (in)Justiça Divulgação
Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo junho 2018 • ano 25 • edição 4 Reitor Ricardo Cançado Pró-reitor de graduação Luís Antonio Baffile Leoni Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Profa. Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Profa. Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Mooca Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao
Justiça Ano: 2004 Gênero: documentário Distribuição: Videofilmes Duração: 1h40 Direção: Maria Augusta Ramos
Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Shutterstock
EXPRESSÃO
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Michelle Luana
O documentário “Justiça” tem a proposta de contar como funciona a rotina no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. No início, são mostradas imagens sem narrativa de cenas do julgamento de um rapaz negro de cadeira de rodas – o que já causa impacto imediato. Ao longo da obra, nota-se a intenção por parte da autora de provocar indignação e fazer uma crítica direta ao Judiciário brasileiro. Muitas falhas sobre o sistema são apresentadas – e uma delas é a falta de bom senso que parte da juíza,
demonstrando a necessidade de uma reforma no sistema. Em determinado momento, aparece o personagem que dali em diante será uma espécie de protagonista, com sua vida e seu julgamento mostrados em detalhes. O curso dos eventos evidencia as brechas nas leis e indica facilmente qual será o desfecho da história; os direitos humanos, de muitas maneiras, foram e seguem sendo burlados. Outras cenas, porém, são criadas, mostrando a superlotação das cadeias de forma caótica e perspicaz. Ao vê-las, somos instigados a reconhecer que não há o cumprimento do que se prevê na Constituição: retirar da sociedade e reeducar.
No âmbito ético, há também um depoimento sobre o envolvimento de policiais no tráfico de armas. Vale lembrar que o Brasil ocupa, hoje, o 26º lugar mundial em pesquisa da World Justice Project (WJP) que mediu a percepção da população sobre o funcionamento da Justiça em diferentes países. O documentário de Maria Augusta Ramos explora algumas possíveis razões para isso; no filme, as questões sociológicas e as relações de poder apresentam muito do que se passa na rotina dessas pessoas, tornando a obra um excelente retrato das contradições que envolvem a Justiça em nosso País.
PONTO DE VISTA
Para romper barreiras da tela de vidro Projeto coordenado por Claudinei Martins possibilita o uso de smartphones por deficientes visuais
Expressão: Qual foi o seu primeiro contato com a tecnologia e o que te influenciou a atuar com inclusão digital? Claudinei: Isso é uma herança de família (risos). Meu irmão mais velho é formado em Ciências da Computação e eu gostava muito de vê-lo trabalhando com isso. Decidi seguir na mesma área e cursar Análise de Sistemas. No ensino fundamental, tive um amigo com deficiência auditiva. Essa experiência mudou a minha visão de mundo e me fez perceber a importância da inclusão social – o mundo pode ser bem melhor com todos compartilhando os mesmos espaços e direitos. Expressão: Qual foi o primeiro projeto voltado para acessibilidade que você estudou e desenvolveu? Como surgiu a ideia?
Equipe responsável pelos projetos CPqD Alcance+ e Facilita: acessibilidade e tecnologia caminham de mãos dadas Gabriela Araújo
Divulgação CPqD
Paixão por tecnologia e relações humanas: isso foi o que levou Claudinei Martins, de 48 anos, nascido em Rio Claro (SP), a pesquisar e desenvolver plataformas voltadas à acessibilidade e inclusão digital e social em dispositivos móveis. Formado em Análise de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP), pós-graduado em Gestão Empresarial e especializado em Gestão e Desenvolvimento de Sistemas, Claudinei ingressou no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) em 2001, como analista, e hoje atua como pesquisador e coordenador de projetos de sistemas nas áreas de acessibilidade e inovações tecnológicas. Recentemente, ele e sua equipe desenvolveram a solução CPqD Alcance+ e o CPqD Facilita, programas que propõem realizar a inclusão digital de pessoas com deficiência visual, baixa visão permanente, idosos e pessoas com baixo letramento. A entrevista abaixo conta como o pesquisador entrou no mundo da tecnologia assistiva, como desenvolveu as plataformas e quais foram os principais desafios enfrentados para concretizar o projeto.
Divulgação CPqD
Fernanda Lourenço e Gabriela Araújo
Usuário da plataforma CPqD Alcance+
Coordenador Claudinei Martins
Claudinei: A ideia total é a soma das ideias de todos os integrantes da equipe. O primeiro grande projeto foi o Voz Móvel, entre 2011 e 2013, que foi o precursor de tudo e era apenas voltado ao deficiente visual. O programa veio como acessibilidade para esse novo tipo de dispositivos móveis, mas a iniciativa acabou paralisada por conta da falta de investimentos. Desde então corremos atrás de novos recursos financeiros para dar continuidade ao desenvolvimento desse tipo de programação. E foi aí que finalmente, em 2017, conseguimos fomento, por meio da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos, e desenvolvemos o AVISA, As-
sistente Virtual para Inclusão Social e Autonomia, que resultou no CPqD Alcance, Alcance+ e o Facilita. Expressão: O que são os projetos CPqD Alcance+ e CPqD Facilita e quais benefícios eles proporcionam aos usuários? Claudinei: O CPqD Alcance+ é uma plataforma composta por um conjunto de aplicações que tornam os smartphones de tela lisa mais acessíveis a deficientes visuais, ou seja, funciona como um sistema operacional que adapta a interface e as ferramentas do aparelho e as torna mais simples de utilizar. A meu ver, essa aplicação proporciona
“O mundo pode ser bem melhor com todos compartilhando os mesmos espaços e direitos” junho 2018
mais autonomia e independência ao indivíduo, pois conta com recursos modernos, comuns em um aparelho normal, como internet, câmera, bloco de notas, clima e muito mais, todos de forma adaptada. Já a plataforma CPqD Facilita, apesar de bem parecida, conta com oito “botões”, funciona com apenas um toque e possibilita desabilitar o recurso de narração de voz, entre outras opções; isso porque ela é indicada a idosos e pessoas com baixa visão. O legal é que os dois aplicativos são gratuitos e podem ser instalados em qualquer smartphone Android a partir da versão 5.0 ou sistema IOS. Expressão: Existe algum tipo de teste ou estudo sobre a eficiência da aplicação com deficientes visuais? Claudinei: Em parceria com o Centro de Prevenção à Cegueira da cidade de Americana (SP), nós buscamos aplicar os testes com essa variedade de pessoas com diferentes necessidades, para identificar do que cada um precisa, de acordo com sua limitação. O trabalho com esse grupo é muito assertivo. Expressão: Qual é o diferencial do CPqD Alcance+ e do CPqD Facilita? Claudinei: A nossa posição com relação a essas soluções é dar uma ferramenta para essas pessoas excluídas digitalmente, ou seja, pessoas que não têm contato com a tecnologia, porque para elas é algo difícil e quase inacessível. O que nós queremos – e que, particularmente, acredito que cumprimos muito bem – é encurtar esse passo dando uma ferramenta mais fácil e simples de usar. Há dois meses, submeti o projeto ao Prêmio Tela Viva Móvel, do Portal Mobile Time de São Paulo. O júri classificou o CPqD Alcance+ em primeiro lugar na categoria Utilidade Pública e Inclusão Social. Esse foi nosso primeiro prêmio. Expressão: O que o CPqD representa para você? Claudinei: É uma realização profissional. Ele que me deu a oportunidade de realizar esse desejo – o de exercer um trabalho mais humano.
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Orçamento comprometido causa prejuízos Universidades públicas lidam com dificuldades decorrentes da crise
SEU BOLSO
Educação financeira ajuda a combater dívidas
Daniele Gois
Carla Silva
Larissa Porto
Larissa Porto
A crise financeira nas instituições de ensino superior públicas do Brasil é alvo de grandes preocupações e não está afetando apenas a vida de alunos. Professores e usuários dos serviços comunitários oferecidos também são atingidos pela situação. Universidades estaduais e federais enfrentam dificuldades para manter a infraestrutura necessária e garantir serviços básicos de apoio ao público que frequenta todos os dias seus campi. “Faltam materiais como esmaltes, estecas, pincéis, placas e outros, por conta do repasse de verba. Os professores fazem o que podem com o material que temos, e muitas coisas rateamos o valor entre nós alunos, para termos material e produzirmos em sala”, diz a estudante de Artes Visuais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Camila Bassi. “Além disso, muitos professores estão se aposentando e a direção ainda não providenciou a reposição”, complementa. Com o cenário existente, outros problemas acabam surgindo. Entre eles, a insatisfação dos funcionários: “O corpo docente, os funcionários não estão muito satisfeitos para tra-
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Alunos e funcionários têm dúvidas sobre a sustentação financeira das instituições públicas balhar, fora que fica tudo muito difícil. Há muito corte de verba”, diz o professor de Artes Márcio Donato Périgo, também da Unicamp. SERVIÇOS AFETADOS
Outra falha encontrada por meio da defasagem de insumos é o atendimento em hospitais-escola, como o da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O idoso Donald Magno do Ouro, paciente do Hospital São Paulo, afirma não conseguir fazer exames básicos de sangue por falta de reagentes na instituição. Situações como estas não são isoladas e estão acontecendo com mais frequência, prejudicando a sociedade brasileira e principalmente a comunidade estudantil.
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Em nota pública, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirma que “a situação financeira, com dois repasses ao longo de cada mês, inferiores a 60% da despesa liquidada, traz ônus de grande magnitude às instituições, levando à perda de confiabilidade por parte de nossos credores, ao pagamento de multas e juros, além de obrigar as instituições a selecionar quais despesas pagar no mês.” Diante do quadro, a associação está incentivando a sociedade desde o final de 2017 para levar o caso ao Governo Federal, pensando em ações de emergência para trazer o reequilíbrio orçamentário às instituições, hospitais escola e universidades.
O atual momento da economia do País ainda expõe as pessoas a uma das maiores dores de cabeça da vida moderna. De acordo com estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 60,8% das famílias brasileiras estão endividadas. Com isso, a busca por educação financeira cresceu consideravelmente, o que se nota no sucesso de canais com conteúdo sobre o assunto no YouTube. Os números de inscritos se equiparam aos tradicionalmente populares canais de beleza ou entretenimento. Um exemplo é o Canal Me Poupe!, apresentado pela jornalista especialista em Economia Nathalia Arcuri. Ex-repórter na TV Record, Nathalia fundou o canal e construiu o formato do programa; chegou a apresentar esse
Internauta estudando por meio do Canal Me Poupe! projeto para a emissora, porém sem sucesso, então pediu demissão e embarcou no projeto. Hoje, o canal tem cerca de 1,6 milhão de inscritos. Os conteúdos abordados por Nathalia incluem dicas de como investir o dinheiro, como se sustentar com salário de estagiário e explicações sobre o que é tesouro direto e, taxa SELIC, além de entrevistas com empreendedores e especialistas.
Segundo a DSOP Educação Financeira, as mulheres são as mais interessadas no assunto, somando 58% do total. Isso se dá pelo fato de cada vez mais as mulheres controlarem os gastos financeiros da casa. Independentemente de quem ganha o dinheiro, é a mulher quem geralmente faz as compras e cuida de contas como luz, água e telefone. Com essa estatística, diz a consultoria, é um mito usar a frase “Eu compro e ela gasta”.
CAPACITAÇÃO
Professores estudam na Finlândia Priscila Sales A Finlândia ocupa hoje a primeira posição do ranking de melhor metodologia de ensino do mundo, segundo a Organização e Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a entidade que aplica o Pisa, principal exame internacional de educação. Na pesquisa, que avaliou 36 países, o Brasil ocupou a penúltima posição. O país se destaca pelas
constantes renovações em metodologia e no currículo acadêmico. Pensando nisso, finlandeses recebem, até julho deste ano, 35 professores de instituições federais brasileiras para capacitação e treinamento. Selecionados pelo programa Professores para o Futuro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação,
os educadores passarão cinco meses aprendendo sobre os processos e sistemas para agregar às suas rotinas de ensino nas universidades. “A educação finlandesa mostra que o principal objetivo é garantir que os professores sejam tratados com dignidade, para que assim possam concretizar o objetivo do magistério. Lá, ser professor é mais popular que ser médico”, diz Helena Bohomol, professora especialista em saúde.
RESÍDUOS
ENSINO CONFESSIONAL
Lixo espacial pode representar risco
Escolas e instituições religiosas fomentam convivência Laís Vivan
Estudos buscam soluções para a coleta ou destruição de materiais; especialistas discordam sobre métodos Michelle Luana
Satélites desativados, fragmentos de satélite ou de foguetes e até instrumentos e ferramentas perdidos por astronautas durante missões espaciais. Estes são alguns itens que podem ficar vagando pelo espaço e, no futuro, cair na órbita terrestre ou colidir com satélites e aeronaves. Os detritos próximos da Terra – e, mais especificamente, seu número e suas dimensões – são estudados daqui de baixo por meio de radares e telescópios óticos. Dados são obtidos a todo momento pelos astronautas sobre a superfície exterior das espaçonaves, quando estas retornam ao solo.
As peças pequenas são de difícil detecção; as maiores são, normalmente, monitoradas pelas agências espaciais internacionais — tais como a Agência Espacial Brasileira (AEB), a Agência Espacial Europeia (ESA) e a americana Nasa. Na órbita da terra, o lixo espacial pode não representar uma ameaça por muito tempo. Gradativamente, pode se dissolver ou, com colisões, quebrar em pedaços menores de fragmentos. O lixo espacial mais antigo ainda vagando pelo espaço é o satélite Vanguart 1, lançado pela Nasa em 1958 e desativado seis anos depois. O professor Roberto Costa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP (IAG-USP), falou sobre o tema em entrevista ao Expressão. Questionado sobre os riscos de estilhaços caírem na Terra, ele informou que há possibilidade. “Por mais pequenos que sejam, estão em grande quantidade. De forma estimada, existem 150 milhões de fragmentos com menos de 1 cm de dimensão. Os maiores estão em menor quantidade, é claro, como os satélites em funcionamento, que estão em torno de 17 mil”, conta. CASOS E RISCOS
Segundo o pesquisador, o risco de o lixo espacial cair na terra depende da altitude. “Em órbita baixa, na direção da estação espacial, mais
ou menos 400 km acima do nível do mar, há muitos resíduos atmosféricos e os objetos tendem a cair.” Acidentes raramente acontecem: países com maior tecnologia espacial, estudam métodos como aqueles utilizados para defesa antimísseis. Até agora isso não foi testado para lixos espaciais. Um dos exemplos que se pode utilizar para explicação é a estação espacial Mir, na Rússia. Lá, há projetos para recolher os lixos espaciais. De acordo com a Agência Espacial Brasileira, há preocupações em criar materiais e técnicas de lançamento que minimizem a criação de destroços sem utilidade na atmosfera.
VISITA A MUSEUS
Corte de verba afeta estudantes Larissa Fernandes
A relação entre escolas e museus de ciências é fundamental para a troca de conhecimento científico e cultural. As aulas podem ser mais dinâmicas, com atividades e aprendizados diferentes, despertando assim mais interesse para os jovens estudantes. No entanto, questões estruturais, financeiras e de burocracia podem afetar as parcerias. Nos colégios particulares, as visitações a museus e centros de ciências são
planejadas conforme a demanda do conteúdo aplicado em sala de aula. Segundo a coordenação do Colégio Nova Era, o procedimento é simples. “Procuramos sempre incentivar nossos alunos nesta prática, tendo em vista que muitos não possuem este exercício”, afirma Aparecida da Silva, coordenadora da escola. Em 2014, as escolas da Prefeitura Municipal de São Paulo tinham o projeto Cultura é Currículo. Nele, alunos eram levados para diversos lugares,
como museus e espaços culturais e científicos, a fim de impulsionar o aprendizado fora da sala de aula. O corte de verbas realizado pela prefeitura, porém, fez com que esses passeios educacionais fossem tirados do plano. “Procuramos locais que disponibilizam transporte gratuito para podermos conhecê-los. Só há gratuidade quando conseguimos agendamento na Caixa Cultural. Conhecemos o Mube, o MIS e o Centro Cultural Correios”, afirma Gislene Madrid, vice-
-diretora do colégio estadual Mozart. Ainda segundo Gislene, em 2017 foram realizadas três excursões com os alunos do colégio, mas, durante os meses de 2018, os educadores ainda não conseguiram nenhuma parceria para que as excursões fossem gratuitas. Além dos problemas de corte de verba, escolas da periferia são distantes de museus e centros culturais, fazendo com que o transporte se torne caro e inviável para alunos de baixa renda em qualquer programação cultural.
Fachada da PUC-SP: instituições confessionais são regulamentadas pelo Estado Daniele Gois
Motivo de discussão e polêmica, a temática de ensino religioso em escolas e universidades ganhou visibilidade com acusações de indução de crenças a algumas escolas e universidades. No Brasil, estado por definição laico e, ao mesmo tempo, maior país católico do mundo, com 123 milhões de fiéis, unidades de ensino de base confessional podem ser alvo de críticas. Por outro lado, a convivência de diferentes tipos de fé fomenta a tolerância e a diversidade, na visão de alunos. “Eu não frequento nenhuma religião, mas acho que tudo aquilo que é imposto a cada um de nós não é certo; Se fazemos algo é porque queremos, não porque outras pessoas mandaram fazer”, afirma Yago Santos, estudante da rede pública que vivenciou a polêmica em sua escola. “Se eu não quero assistir aulas de ensino religioso, eu não vou assistir nesse dia.”
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Em setembro de 2017, o Supremo Tribunal Federal autorizou o ensino religioso em matérias não obrigatórias nas escolas públicas. Já no ensino superior, instituições privadas sem finalidade de lucro podem ser comunitárias, filantrópicas ou confessionais; estas últimas atendem a orientações religiosas ou ideológicas diversas. “Ser frei religioso numa instituição é bem diferente. Tenho aula com alguns padres e alguns diáconos, mas também tenho aula com ateus, o que não é um problema para mim”, afirmou Frei Servo do Amor Chagado, franciscano estudante de Teologia e Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Devem ser aceitos todos os tipos de pessoas e crenças. Ninguém é obrigado a ser religioso por estar num ambiente acadêmico religioso. Você é o que o seu coração pede, não o que os outros querem que você seja ou que te influenciam a ser, em suma, na religião.”
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ESPECIAL
Em alta no exterior, turismo enfrenta estagnação no Brasil
NO ROTEIRO
Atrações à parte no cardápio turístico do País ficam de fora Edgar Nascimento
Apesar das belezas naturais, País recebe menos turistas que Miami e fica de fora da lista dos 40 mais visitados Rodrigo Calado
PREPARO E ESTRUTURA
O baixo desempenho do setor reflete a falta de preparo geral do País para receber visitantes, o que vai da sinalização monoglota no transporte púbico
e da falta de infraestrutura adequada aos garçons, taxistas e guias, os quais, em sua maioria, não falam outra língua que não seja o português. “Temos um turismo forte, mas seu potencial econômico não é nem um pouco aproveitado”, afirma Vinícius Souza, formado em Ciência Política pela Universidade Americana de Paris. Contribui para a estagnação do turismo brasileiro também uma imagem manchada perante os outros países, em razão especialmente do noticiário negativo: em vez da natureza, o que mais se encontra lá fora sobre o Brasil está relacionado à crise econômica, à criminalidade e às doenças, com reflexos imediatos na economia (confira na reportagem da pág. 8).
Especialistas da área apontam que a participação em feiras, o financiamento da vinda de jornalistas estrangeiros, a produção de conteúdo escrito e audiovisual e campanhas de marketing e a alocação de escritórios ao redor do mundo são essenciais ao fomento do turismo nacional. É exatamente essa promoção que falta ao Brasil. Para efeito de comparação, o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), em 2015, teve US$ 17 milhões para trabalhar, enquanto o órgão que realiza a mesma função no Peru gastou US$ 50 milhões. “O Brasil não tem nem filminhos promocionais passando nos aviões das companhias aéreas estrangeiras que operam por aqui”, diz Guilherme Paulus, que trabalha na agência de viagens CVC. José Cruz / Agência Brasil
O mundo viaja cada vez mais, é verdade. Quando se fala em Brasil, então, é difícil não encontrar alguém, em qualquer canto do mundo, que não confesse o desejo de visitar o País. Essa aprovação se traduz em números: entre os que conseguem vir aqui, 98% partem assegurando que querem voltar, segundo dados colhidos pelo Ministério do Turismo. Embora o turismo cresça há cinco anos acima da média da economia global, para o relatório World Travel, o Brasil não segue esse bonde: desde 1998, o País está na casa dos 5 milhões de turistas internacionais. Um cenário de estagnação. Em 2017, o turismo cresceu 6% no mundo; no Brasil, 0,6%.
“Desde 2007, o Brasil tem tido um alto grau de exposição, mas por falta de projeto isso está sendo mal aproveitado”, explica Ricardo Uvinha, professor de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de São Paulo (USP). Apenas para se ter uma ideia, o país inteiro perde para Miami, na Flórida, Estados Unidos, que recebe mais de 7 milhões de pessoas por ano. Mesmo o Coliseu de Roma, na Itália, com 4 milhões de visitas anuais, é o destino de quase tanta gente quanto as cidades brasileiras.
Na hora de decidir o destino, turistas levam em conta a reputação do País
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Reggae In Concert, em SP: eventos artístico-culturais não são priorizados por estrangeiros Edgar Nascimento Conhecer as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, ir a um sambódromo ou até mesmo decidir entre Garantido e Caprichoso no Festival Folclórico de Parintins (AM): com certeza você, brasileiro ou brasileira, já foi ou ouviu falar em uma dessas experiências turísticas. E é nesse ponto que constatamos uma problemática. O nosso turismo tem fronteiras – e elas nem sempre são atravessadas por estrangeiros. “O turismo interno é relativamente robusto, mas o seu potencial internacional é um dos menos aproveitados do mundo”, explica Edson Mendes, doutor em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mesmo que o turismo no Brasil esteja em décimo lugar no ranking do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), situação
teoricamente confortável comparada à dos outros países, 94% desse número é atribuído apenas a viagens domésticas. Só em 2015, por exemplo, o setor gerou mais de 2,6 milhões de empregos no País, resultado pequeno se considerado o potencial dessa indústria. “Quando turistas entram na agência, costumo perguntar o que eles conhecem do nosso País e eles, quase sempre, só têm como referência o futebol e o samba, esquecendo que o Brasil tem muito mais a oferecer”, conta Thiago Silva, agente de viagem da empresa de turismo World Travel. “Em vez de praias, cachoeiras ou cidades históricas, o que mais se vê lá fora sobre o Brasil tem relação com violência e crise, além dos temas esportivos e culturais clássicos. Oportunidades como a Copa do Mundo e as Olímpiadas são esforços para reverter o jogo”, afirma Edson Mendes.
MOBILIDADE INTERNACIONAL
Dupla cidadania: o passaporte para ganhar o mundo Micaela Cristina
Circular por diferentes culturas é um dos benefícios de se obter a dupla cidadania; crise brasileira motiva mudança e gera reflexos econômicos em outros países
Família Muniz Guimarães na Itália: primeira vez na neve Gabriela Ferraz
Com a instabilidade econômica e política no Brasil nos últimos anos, o desejo
de viver no exterior cresceu para muitos dos brasileiros, que, mais que turismo, buscam melhoria na qualidade
de vida em outros países. No Brasil, não é necessário que se abdique da cidadania nacional para fazer uso de outra: com isso, é possível aproveitar duas e garantir direitos em outros países. A famosa dupla cidadania se baseia no direito que algumas pessoas têm de registrar mais de uma nacionalidade – a segunda, no caso, é transmitida por meio de um ascendente, como pai, mãe, avós e bisavós, o que é considerado jus sanguini, ou seja, pelo sangue. Para conseguir a dupla cidadania não há limite de gerações; no entanto, é preciso fazer uma boa pesquisa e ter paciência com as burocracias que vêm pela
frente: cada país tem suas próprias exigências. IDENTIDÀ ITALIANA
Em dezembro de 2017, Lígia Muniz, assistente de recursos humanos, 30 anos, embarcou para a Itália em busca da sua dupla cidadania. Lígia é casada com Marcelo Guimarães e mãe de três meninas: Larissa, Marcela e Laura. Possuía descendência em seus avós e viu uma oportunidade para novas conquistas com sua família no exterior. Ainda no Brasil, o primeiro passo foi procurar pelo Consulado Italiano e entrar com um pedido de solicitação do reconhecimento, em São Paulo. Inicialmente foi
necessário verificar o antenato italiano – ancestral – e, então, juntar todas as certidões de nascimento, casamento e óbito de cada um da linha familiar, traduzir toda a documentação e apostilar. Com a pasta feita, Lígia deixou parte de sua família no Brasil e embarcou para a Itália, onde já havia registrado residência, e deu entrada no processo. Apresentada a documentação, o “Vigile” – policial urbano – vai até a casa para confirmar a residência; depois, o Consulado da Itália da cidade em que a pessoa morava no Brasil solicita a Certidão Negativa de Naturalização. Em seguida, o Comune (equivalente italiano de município) trans-
creve as certidões e emite as “Identidàs”. É um processo lento e burocrático, que causa muita ansiedade aos futuros cidadãos. No caso de Lígia, o processo teve vários percalços. “Os desafios são constantes, primeiro de tudo o idioma, que, no meu caso, eu não fui sabendo. Estar longe da família e a ansiedade da espera do processo foram os maiores desafios”, finaliza. Atualmente, Lígia e a família vivem na Inglaterra. Quando o assunto é voltar para o Brasil, ela diz que a vontade ainda existe. “A distância da família e dos amigos é um grande problema, mas acho difícil nos adaptarmos novamente”, diz.
CARREIRA
Jovens buscam qualificação via intercâmbio Soraia Victor
É cada vez mais comum encontrar brasileiros que deixaram o País em busca de mudanças profissionais, incluindo começar uma carreira do zero ou cursar uma nova faculdade. Não à toa, em um período de sete anos, 165% mais pessoas decidiram deixar o Brasil, de acordo com as saídas entregues à Receita Federal. Para os universitários que desejam expandir seus estudos intenacionalmente, esse sonho talvez esteja cada vez mais distante.
Em 2017, o Ministério da Educação encerrou o Ciência Sem Fronteiras para graduação no exterior; com isso, somente pessoas com ensino superior completo poderão participar da iniciativa. O projeto era muito visado por graduandos, que podiam submeter sua nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como requisito de inscrição. Além disso, as disciplinas cursadas no exterior, conforme o plano de ensino da universidade no Brasil, poderiam ser dispensadas na grade curricular do aluno.
Recém-formado em Marketing pela Universidade Paulista (Unip), Daniel Rodrigues tinha esse projeto. Desde 2017 estagiando em algumas empresas e recebendo cerca de um salário mínimo, o garoto criou uma poupança para financiar um possível intercâmbio no exterior. No primeiro ano da faculdade, diz que via no Ciência Sem Fronteiras uma oportunidade real, mas as mudanças do programa frustraram, rapidamente, o seu sonho. “Logo quando entrei na faculdade, todos os meus
colegas falavam do CSF e por isso fiquei muito animado em participar. Hoje, busco outros programas, mas é bem burocrático pleitear uma vaga”, comenta o rapaz de 23 anos. AS ALTERNATIVAS
Apesar dos últimos acontecimentos de bolsas de estudos de graduação envolvendo o Ciência Sem Fronteiras, no Brasil ainda há algumas opções para os jovens que estão na primeira faculdade, como o Fundação Estudar – que oferece bolsas que cobrem de 5% a 95% do valor de graduações, pós e
intercâmbios acadêmicos. Outra opção é o Nuffic Neso Brazil, que exige excelência acadêmica e oferece bolsas de estudo para quem está se graduando. Há, também, o Santander Universidade, que exige rendimento acadêmico acima da média 9. Outra opção é a concedida pela Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales (Aiesec), que, embora seja uma plataforma internacional, tem requisitos acessíveis para muitas pessoas – e os inscritos podem ser alunos de graduação.
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Ana Paula Santana, de 27 anos, formada em Design de Interiores, resolveu buscar realizar uma experiência internacional em 2013. Ela atuou como voluntária global, realizando projetos que envolviam ONGs locais no México. Mesmo que a sua função tenha sido como voluntária, a moça alega ter colhido bons frutos. Hoje formada e empregada, Ana atua em uma empresa de design para empreendimentos comerciais e comenta que alternativas para os jovens não faltarão, mas que vale ir além da busca de programas acadêmicos.
EXPRESSÃO
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PARA A CIDADE
De um lado: turismo corporativo movimenta o mercado Abner Gonzaga
Capital paulista reforça economia local ao receber executivos e eventos empresariais
Hotel Renaissance: SP acolhe executivos o ano inteiro Sergio Vitor
Com o propósito de estabelecer contatos, trazer novidades e comercializar bens e serviços, companhias mul-
tinacionais promovem diversos eventos pelo Brasil. São Paulo se destaca nesse campo: é líder em turismo de negócios no País. Essa popularidade contribui para o
crescimento econômico, além de estimular o aumento de infraestrutura da cidade para receber esse público. Pesquisa realizada pelo Observatório de Turis-
mo e Eventos (OTE) aponta que, em 2016, 14,9 milhões de turistas desembarcaram em São Paulo. Já no ano passado, esse número cresceu para 15,5 milhões de pessoas. 46% desse público, de acordo com o estudo, chegou à cidade para participar de reuniões, eventos corporativos e fazer compras. A capital possui o maior parque hoteleiro do País, com 42 mil apartamentos disponíveis. O professor de economia Jonathan Rizek observa que o turismo de negócios traz grandes impactos para o Brasil. Para ele, atrair pessoas que viajam a trabalho pode ser uma boa saída
para movimentar o setor de serviços, por exemplo. “Os eventos corporativos aquecem o mercado. Isso é bom principalmente em tempos de crise financeira.” NA PONTA DO LÁPIS
Dados coletados pela SPTuris em 2015 mostram que, naquele ano, a média de gasto total individual durante a estada de um viajante na cidade – pessoal ou a trabalho – foi de R$ 754,87. As despesas diárias somaram R$ 342,12, divididas em transporte (33,2%); alimentação (32%); hospedagem (16,9%); e compras, lazer e outros (17,9%). Rizek acredita que o turismo de negócios
crescerá ainda mais, pois as empresas investem constantemente em novas ferramentas. “Quando uma multinacional decide inventar algo, ela sente necessidade de disseminar esse novo produto. Por isso, manda profissionais capacitados para participar de palestras”, finaliza. Em 2012, a cidade de São Paulo foi reconhecida internacionalmente pela FDI Intelligence como líder de atração de investimentos no Brasil. No ano seguinte, a cidade foi considerada o melhor lugar para realizar negócios na América Latina, de acordo com o ranking internacional da América Economia.
RETOMADA LENTA
Setor sofre impactos da recessão econômica Mayara Sakumoto
A crise econômica que o Brasil enfrentou nos dois últimos anos deixou seu rastro no mercado do turismo. Do setor financeiro – com investimentos em infraestrutura e negócios no ramo – ao âmbito do trabalho, há prejuízos contabilizados até os dias de hoje, mesmo com as promessas de retomada da economia do País. Desemprego no setor e falta de dinheiro para viajar são os principais problemas. O contingente de pessoas ocupadas formalmente no turismo encerrou 2017
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em 2.921.314. Desse total, 65,3%, ou 1.907.086 de trabalhadores, estavam no segmento de hospedagem e alimentação. Mesmo assim, foram 12.690 vagas de emprego fechadas em comparação a 2016. O aumento da massa de desempregados – cuja taxa chegou a 12,6%, segundo dados de março do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – costuma frear o ritmo de viagens e negócios do turismo. Em 2015, levantamento do Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo (Ipeturis) encomendado
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junho 2018
pelo Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur-SP) apontou que, no olho do furacão da crise, mais de 80% das agências de turismo haviam registrado queda em vendas. RETOMADA
Em 2018, porém, o turismo mostra sinais de recuperação. As pessoas que estão buscando esse serviço normalmente são os brasileiros, de acordo com Marcos de Andrade, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Os segmentos que mais sustenta-
ram empregos formais no turismo foram os de hospedagem e alimentação”, diz. Entretanto, a procura vinda do exterior tem crescido e gerado reflexos positivos, inclusive, com relação ao aquecimento da economia local. Durante 2017, houve abertura de vagas de trabalho no ramo de turismo e da hotelaria em São Paulo (7.481 postos criados), Goiás (1.864 vagas), Paraná (1.301) e Santa Catarina (1.092). No Nordeste, Ceará (773) e Piauí (498) foram os destaques entre os demais estados.
SITUAÇÃO DO RJ
Tradicional polo de turismo no País, o Rio de Janeiro é um dos principais a ainda hoje registrar queda no turismo – medida pelo índice de porcentagem de hospedagens. De acordo com Marcos de Andrade, “os dados negativos foram puxados pela crise
2,9
milhões de pessoas empregadas no turismo
particular do Rio. Em todo o Estado, foram fechados 19.628 postos de trabalho em 2017”. Um dos motivos é a publicidade negativa gerada pela crise de segurança pública. Ao escolher cidades, turistas levam em conta, também, os índices de violência e a facilidade para passear sem correr riscos.
12.690
vagas fechadas em 2017
Fonte: Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)
FORA DO ESCRITÓRIO
De outro: SP além dos negócios PASSEIOS Midia Ninja
movimenta a cidade. São mais de 110 museus, 180 teatros, 280 salas de cinema e quase 100 centros culturais e artísticos em toda a cidade. A maior parte dos museus tem entrada gratuita ou custo próximo de R$ 6. “Hoje temos a divulgação das atrações turísticas realizada pela São Paulo Turismo. A SPTuris tem trabalhado mais essa diversidade presente na capital paulista. Isso tem funcionado. O carnaval de rua, por exemplo, elevou os números de turismo doméstico e internacional e vem crescendo a cada edição anual”, aponta Telma Medeiros.
Que tal conhecer uma aldeia? Localizada no Pico do Jaraguá, a tribo indígena Tekoa Itakupe compartilha seus costumes e conta sua história aos visitantes. Conheça mais em bit.ly/2xSLtk2
Deolindo Somera
Abner Gonzaga
Ecologia, cultura e gastronomia dinamizam a experiência na cidade
FIQUE MAIS
Decorado no clima da Copa do Mundo, Mercado Municipal oferece iguarias regionais
LAZER ECOLÓGICO
Pode-se começar pelos roteiros ecológicos: são mais de 60 reservas naturais. Entre parques e faunas, destaca-se a Serra da Cantareira, uma das maiores florestas urbanas do mundo, cujo parque foi criado para proteger mananciais ameaçados pelo desmatamento de grandes fazendas. Na sequência, entre os espaços mais prestigiados, estão Jardim Botânico e os parques Villa-Lobos e Ibirapuera. Este último, apelidado pelos paulistanos de Ibira, mescla o ambiente verde com monumentos que constituíram a expressão da Revolução Constitucionalista de 1932. E, para quem é fascinado
por biologia, o Instituto Butantan não pode ficar de fora do roteiro. GASTRONOMIA
A respeito da culinária, pode-se dizer que seja a maior influência da histórica série de imigrações e emigrações na cidade. A variedade de comidas regionais do Brasil e estrangeiras impressiona. Além dos milhares de restaurantes, é muito comum, nos finais de semana, haver feiras gastronômicas nas principais ruas e praças do município, trazendo iguarias e pratos orientais, árabes e latinos. Um lugar muito conhecido é o Mercado Municipal. Localizado no centro, no maior empório da cidade, tem, além dos tradicionais sanduíche de mortadela e pastel de
bacalhau, frutas exóticas de diferentes lugares do País e do exterior. CULTURA E ARTE
Além dos eventos gastronômicos, os finais de semana são agitados pelos programas culturais. No que diz respeito ao turismo alternativo, a agenda cultural é a que mais
Represa de Guarapiranga acolhe uma das 18 praias oficiais da cidade, criadas em novembro de 2012 por decreto municipal. Endereço: Av. Atlântica 3.100 - Interlagos/ São Paulo. Horário de funcionamento: das 6h às 19h
Na Avenida Paulista, a Casa das Rosas reúne áreas verdes e arte para famílias
junho 2018
Luiz Coelho
A metrópole paulista é bastante visada por ser uma das maiores do mundo e o maior centro comercial da América do Sul. Quando o assunto é turismo, porém, a terra da garoa costuma ser descartada por se imaginar uma infinidade de prédios e concreto, com roteiros mais voltados para fins comerciais. Não há dúvida que essa realidade é presente, mas uma vasta diversidade passa despercebida. “Ao mesmo tempo em que abrange um grande complexo urbano, a capital paulista também possui inúmeros programas culturais, áreas verdes e festivais gastronômicos espalhados por toda sua extensão”, comenta Telma Medeiros Brito,
especialista e profissional na área de turismo.
Abner Gonzaga
Abner Gonzaga
Entre as ações da SPTuris, se destaca o projeto Fique Mais um Dia (saiba mais em bit.ly/2Jkrhc4), que oferece um informativo com a missão de prolongar a estadia dos visitantes na cidade. O catálogo apresenta variados roteiros para serem aproveitados não apenas em um dia, mas em roteiros que incluem estadias prolongadas ou finais de semana.
Aprecie belezas e paísagens naturais sob os trilhos do trem Expresso Jundiaí Local de partida: Estação da Luz, todo sábado. Consulte vagas em bit.ly/2sUyOqW Duração do passeio: das 8h30 às 16h30
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ESPORTE E LAZER
SPFC questiona machismo
FUTEBOL AMERICANO
Alta popularidade e pouco investimento
Ações de apoio ao público feminino reforçam a garantia de direitos
Divulgação/Morumbi Tour
Clauber Fonseca
Arquibancada do Estádio Cícero Pompeu de Toledo – Morumbi: clube busca defender torcedoras de assédio Gabriel Alvares
De olho no envolvimento em ações de responsabilidade institucional, o São Paulo FC lançou, no último Dia Internacional da Mulher, o manifesto Dia da Mulher - O SPFC se Importa. De uma declaração de intenções, o comunicado acabou mobilizando o clube a tomar medidas de combate ao machismo. Pautado em pesquisas feitas pelo Departamento de Comunicação, o clube entrevistou mulheres que vivenciam o mundo futebolístico, independentemente do time, e promoveu reunião para conhecer o perfil das torcedoras no Brasil. Os temas destacados refletem o dia a dia desse público, incluindo segurança dentro e fora do estádio em dias de jogos e o assédio. Além disso, a instituição estabeleceu compromissos de manter encontros periódicos com torcedoras, conduzidos exlusivamente por funcionárias
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mulheres. Outra meta é abrir conversas com grupos de apoio voluntário a vítimas de violência, para acompanhamento de casos relacionados. AMEAÇAS
De acordo com a assessoria de imprensa do SPFC, 74% das entrevistadas não se sentem seguras para irem sozinhas ao estádio. 54% delas dizem já ter deixado de ir a alguma partida por estarem sozinhas e temerem pela própria segurança. O medo de sofrer assédio é um dos principais: 59% declaram já ter passado por essa situação em jogos. Os relatos são de “encoxadas” e “passadas de mão” em momentos nos quais a torcida fica aglomerada. A legislação brasileira classifica esses atos de violência e constrangimento como crimes de menor potencial ofensivo. DA TORCIDA AO CAMPO
Denúncias relatadas pelas torcedoras vão além do assédio físico: obter respaldo
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e reconhecimento envolve, muitas vezes, provar para os homens que se tem um time de coração. Segundo a pesquisa do SPFC, “mais da metade descreve situações em que foram interrogadas sobre conhecimentos específicos de regras, para que, de alguma forma lhes dessem respaldo.” A educadora física Ingrid Castro Martins, ex-árbitra auxiliar de futebol de várzea, diz ter passado por experiências machistas no mundo futebolístico, inclusive como professora. “Quando fui bandeirinha, torcedores gritavam no meu ouvido frases como: ‘sai daí, maria sapatão, vai lavar louça! Lugar de mulher é na cozinha!’”, lembra. “Desde o ínicio da minha formação ouvi que a bola de futebol era para os meninos e a dôlei para as meninas e até mesmo professoras têm esse pensamento. Tive muitas alunas que deixaram de jogar futebol por conta disso”, ressalta Ingrid.
O futebol americano no Brasil está em rápido crescimento, mas apenas na popularidade. O pouco investimento ainda deixa a profissionalização dos times que aqui existem mais lenta. Os atletas não recebem salários e pagam pelos equipamentos e viagens, o que faz muitos desistirem de seguir no esporte por causa da dificuldade financeira. A National Football League (NFL) e o Super Bowl são os maiores responsáveis pelo alto crescimento da prática no Brasil. Segundo o Global Web Index, o Brasil é o terceiro maior país com número de fãs do esporte, perdendo apenas para o México, com 23,3 milhões, e para os Estados Unidos, com 117 milhões. Mesmo com as dificuldades, clubes ainda tentam se profissionalizar para disputar campeonatos maiores pelo País e, se possível, despontar nas competições
internacionais. O ABC Corsários é um deles. O principal entrave é a falta de recursos. “A realidade do esporte hoje na maior parte do País não permite que se pague jogadores, ou não permite que se vá além de uma ajuda de custo, que, mesmo assim, quando ocorre, é limitada a alguns jogadores específicos e com desempenho técnico e comportamental fora da curva”, afirma Vinicius Remorino, diretor do time. O fator tempo também prejudica os atletas. Como não ganham salários, eles precisam dividir a rotina de trabalhos e estudos com os treinos e jogos, o que faz com que deixem a carreira no esporte de lado. “Acabei dando uma desanimada um tempo atrás. Faltei em treinos em época de campeonato e não me sinto pronto para voltar no meio da temporada, mas pretendo retornar no segundo semestre”, conta Murilo Caires, ex-atleta do ABC Corsários.
Primeira transmissão no Brasil Em 1969 pela TV Tupi. Não eram transmissões ao vivo, e a TV Tupi recebia as gravações da NFL
Seleção brasileira Em 17 de novembro de 2007 ocorreu o primeiro jogo do Brasil Onças, em Montevidéu, contra o Uruguai. Acabou em 20 a 14 para os anfitriões
Pixabay
Primeiro campeonato de clubes
Entrada de um time de futebol americano em uma partida oficial
O Touchdown foi o primeiro campeonato de clubes com equipamentos completos realizado no País. Aconteceu em 2009 e contou com oito times participantes
QUALIDADE DE VIDA
Ciclofaixas estimulam atividade física Ir de bike ao trabalho combate o sedentarismo Com simples mudanças de hábitos, parte da população tem optado por diferentes formas de transporte para se locomover nas grandes cidades. Além de preservar o meio ambiente por conta das emissões de poluentes dos carros que são evitadas e diminuir o tempo nos engarrafamentos, saúde e aumento da disposição são fatores que fortalecem essa prática. Diversas modalidades de esportes de rua são adotadas, incluindo corrida, caminhada, bicicletas e até skates. Mesmo nos deslocamentos para o escritório as pessoas vêm adaptando sua rotina. Melina De Victo, 33 anos, vendedora, utiliza a ciclofaixa em seu trajeto diário ao trabalho. “Quando a faixa ficou pronta, testei por alguns dias para ver o tempo que demoraria e se teria algum
se exercitar por no mínimo 30 minutos. “No entanto, mesmo que tenha apenas 10 minutos o importante é se mexer”, complementa. Com tantos benefícios, esse novo estilo de vida está ganhando cada vez mais adeptos e vem mudando a realidade de muita gente. Não se pode esquecer, porém, que para a prática de qualquer modalidade física é preciso usar uma roupa apropriada, além de ser necessário manter alimentação e hidratação adequadas. A Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) disponibiliza em seu site um mapa das ciclofaixas existentes na cidade e o atualiza sempre que é implantado um novo percurso, além de um espaço voltado especialmente aos ciclistas urbanos com dicas e novidades para os praticantes da modalidade.
Pixabay
Vanessa Nunes
Ciclistas pedalam na ciclovia da Marginal Pinheiros tipo de perigo”, conta. “Hoje vou de bike para o trabalho, consegui diminuir meu percurso na metade, além de não ter mais o estresse do trânsito caótico.” Outro grande benefício que envolve esse hábito é a economia financeira com transporte público ou veículo particular; a prática, no geral, requer um investimento baixo. A otimização de tempo é um fator importante a ser destacado, já que
a utilização de esporte de rua no trajeto ao trabalho leva ao usuário a possibilidade de se programar em relação a horários. Roberto Rangel Pestana, educador físico, complementa que “essa modalidade tem ajudado muito as pessoas no controle de obesidade e melhora a ansiedade, estresse, além da parte coordenativa e da prevenção de complicações cardiovasculares”. Segundo ele, o ideal é
SEM ESFORÇO
Bike motorizada permite fuga do trânsito Também com pegada de mobilidade, a bicicleta motorizada foi criada há mais de um século. São muitas as opções de modelos a partir da necessidade de cada um – e os custos com gasolina e manutenção saem bem mais baixos do que em carros e motos. Uma questão que gera polêmica, porém, é o ambiente adequado para a circulação. O agente de trânsito Ludeval Costa, 42 anos, conta que
não existe obrigatoriedade de se possuir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), porém há regras a para se fazer o uso das bikes motorizadas. “Você tem que usar sempre o capacete e não ultrapassar 25 km/h, além de redobrar o cuidado com acidentes de trânsito e atropelamentos”, diz. O lugar adequado para o tráfego de bicicletas com motor também é nas ciclovias. Entre os ciclistas convencionais, a ideia pode causar algum incô-
modo –, muitas vezes, os usuários não obedecem às regras de uso. “Eu não vejo muitas bicicletas motorizadas em circulação, mas sempre que tem alguém é em velocidade muito exagerada para a ciclovia, o que pode deixar o ambiente perigoso e inadequado para crianças”, conta Mayara Ribeiro, 31 anos, que passeia de bike com seus dois filhos no fim de semana. Outras medidas de segurança são o uso de buzina,
Denúncias expõem abusos no esporte Natalia Binotto
Ao longo dos últimos meses, uma onda de denúncias de assédio, exploração e abuso sexual no mundo do esporte tomou conta dos holofotes. Casos de repercussão internacional, como o da equipe americana feminina de ginástica e o dos jogadores ingleses, deram destaque a um assunto que ainda é tabu em diversos lugares – como o Brasil. Andy Woodward, o primeiro a denunciar os abusos desse tipo na Grã-Bretanha, acusou um técnico e teve o exemplo seguido por outros atletas. A polícia britânica afirmou que outros 11 jogadores entraram em contato para falar sobre casos de abusos – e acredita-se que o número de esportistas afetados seja muito maior. Em março, a Argentina também foi sacudida por caso semelhante: jogadores do Independiente e do River Plate, dois grandes clubes nacionais, eram aliciados para fazer programas e foram abusados sexualmente. REAÇÃO DA CBF
Lilian Fonseca
Lilian Fonseca
ASSÉDIO
Bicicletas com motor têm regulamentação própria luzes noturnas, retrovisor e velocímetro. Lembrando, sempre, que se deve ser prudente e nunca transitar junto com carros.
No Brasil, atletas de grandes clubes de futebol encabeçaram uma campanha para tratar do assunto. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assinou um pacto com o Congresso Nacional em 2014, comprometendo-se a adotar 10 medidas para combater o abuso sexual nas categorias de base. No entanto, há acusações de omissão diante de denúncias feitas à entidade. Há, ainda, ca-
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sos extremos, como o do menino D., de 13 anos, que foi assassinado pelo seu treinador em São Lourenço da Mata, em Pernambuco, após vários abusos sexuais. Para Caíque França, goleiro do Corinthians, “é de responsabilidade do torcedor, dos jogadores, dos diretores e da sociedade como um todo proteger essas crianças de quaisquer males”. Para ele, o clube tem responsabilidade sobre o assunto. “O bem-estar e a integridade física e mental devem fazer parte das prioridades.” COMPROMISSO
Em 15 de maio, a Câmara dos Deputados realizou audiência pública para debater o projeto de lei que pretende regularizar o patrocínio de bancos públicos aos clubes de futebol a contrapartidas sociais para a proteção de crianças e adolescentes nas categorias de base. Caso o projeto seja aprovado, as equipes teriam de cumprir medidas de combate ao abuso sexual de jogadores, dando o primeiro passo para a proteção dos jovens. “Acredito que seja uma forma de começar a combater mais seriamente os abusos que acontecem dentro dos clubes. A aprovação do projeto abre portas para que medidas efetivas possam ser tomadas, inviabilizando tais atos”, declara Rafael Cardim, jornalista esportivo formado pela Universidade Metodista de São Paulo. A CBF foi procurada pela reportagem para esclarecer suas ações, mas não se manifestou até o fechamento da edição.
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ARTES
Reprodução: Instagram Kaya Conky
NA MÚSICA
Bianca Senhoreli
LGBTQ+
Cena queer renova ares e mobiliza autores da música ao entretenimento
KAYA “Quanto mais artistas LGBTQ+ estiverem no mercado, mais força e voz terá o movimento e mais pessoas poderão se identificar e se sentir representadas”,diz Kaya Conky, cantora e drag queen
Pabllo Vittar, referência queer no Brasil, se apresentou na Parada LGBT em São Paulo Bianca Senhoreli e Paula Prata
Um termo ainda pouco conhecido pelos brasileiros vem ganhando espaço na internet e entre os artistas da música. Arte Queer é um movimento que surgiu no cinema dos Estados Unidos, com o propósito de abordar questões de gênero e sexualidade. Em setembro de 2017, artistas e curadores promoveram a exposição Queer Museu no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS), para que esta arte fosse mais conhecida entre os brasileiros. O resultado foi polêmico: apenas um mês
após a estreia, religiosos e segmentos da população protestaram contra imagens que supostamente mostravam Cristo e crianças em atos eróticos – fato negado pelo Ministério Público, que entendeu não haver apologia à pedofilia ou à zoofilia na exposição, tampouco ofensa a símbolos religiosos. Mesmo assim, a mostra acabou fechada precocemente. MAIS VISIBILIDADE
Referência em arte queer no País, a cantora Pabllo Vittar é uma drag queen com ampla visibilidade no meio musi-
cal. Suas performances já começaram a conquistar países na Europa, com elogios da crítica. “Hoje em dia a Pabllo é escutada globalmente. Nós somos mais compreendidas”, diz a drag queen Zahra Benson. “Mesmo com desafios, agora não somos invisíveis.” Segundo Zahra, o tratamento ainda dado pela sociedade associa as drag queens, exclusivamente, a vestir-se de mulher. “Que é se vestir de mulher? Para mim é mostrar que existe todo um movimento artístico atrás disso, drag é brincar com gênero.”
DIREITOS SOBRE IMAGEM
Barbie de Frida Kahlo gera debates
Gloria Groove
Com quase 2 mihões de visualizações no YouTube, com o clipe “Império”, Gloria Groove é uma drag negra e periférica. Nasceu na zona leste de São Paulo e, hoje, é uma das maiores representações do rap no meio drag
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Micaela Santos
Um juiz mexicano proibiu a venda de um modelo da boneca Barbie inspirada na artista Frida Kahlo no México. A decisão ocorreu após a fabricante americana de brinquedos Mattel apresentar uma versão da pintora na coleção de bonecas “Mulheres que Inspiram”. O juiz reconheceu a família da artista como a única dona dos direitos de
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imagem e ordenou que a Mattel não comercialize a marca, a imagem ou a obra de Frida Kahlo. A questão gerou um debate: afinal, a quem pertence a imagem de uma pessoa pública que já faleceu? “O caso em questão é o direito sobre a imagem da Frida Kahlo. Por mais que seu legado seja de grande influência e repercussão mundial até hoje, mesmo após sua morte, se faz ne-
cessária a autorização de quem detenha os direitos sobre a sua imagem”, afirma Camila Incelli, advogada da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Em nota, a Mattel afirma que “a boneca Barbie visa honrar o legado e a história de Frida Kahlo” e que a empresa teve a permissão da Frida Kahlo Corporation, fundada pela família da pintora com a Casablanca Distributors.
ABC PAULISTA
Museu resgata história das ferrovias de SP Suéllen Brandão
Em um cenário bucólico, no meio do distrito de Paranapiacaba, em Santo André, um museu apresenta aos aficionados pelo transporte sobre trilhos uma viagem pela história. O Museu Tecnológico Ferroviário traz como plano de fundo a história da vila e da ferrovia que a atravessa. Criada em 1865, Paranapiacaba surgiu para abrigar operários ingleses que trabalhavam na construção da primeira rota ferroviária do estado de São Paulo. Composto do antigo pátio de manobras e de máquinas fixas que tracionavam os trens nos trechos inclinados, oficinas, vagões e locomotivas, o museu também tinha como atrativo um passeio de maria-fumaça, um veículo que data de 1837; esse ponto alto da visita não acontece desde 2015. Geison Ric, auxiliar de manutenção e voluntário no museu há sete anos, destacou sua importância para a história local. “A maioria dos que trabalham aqui são voluntários. Eu mesmo faço porque gosto de ferrovia, sou ferroviário. Venho para cá no
fim de semana para não deixar acabar”, conta. ACERVO
A última viagem da maria-fumaça foi em 2015 do Festival de Inverno de Paranapiacaba. “Ela teve um problema na caldeira e por isso teve que ir para restauro. Por ser um trabalho artesanal, demora-se mais e ainda não temos previsão de volta”, lamenta Geison. O local possui objetos de exposição permanente e, em um anexo lateral, alguns itens para serem restaurados, além de uma loja de souvenires para os visitantes. Durante a visita da reportagem ao museu, a estudante Pâmella Lima via pela primeira vez os itens expostos. “Moro em Santo André e nunca tinha vindo a Paranapiacaba. O museu deveria ser mais valorizado por essa riqueza de história que existe aqui”, conta. Museu Ferroviário Pátio Ferroviário, s/n Distrito de Paranapiacaba, Santo André. De quarta a domingo. Sáb., dom. e feriados (9h a 16h), em horário pré-agendado (R$ 5)
Suéllen Brandão
Novas vozes na cultura
Locomotiva em Paranapiacaba, no ABC Paulista
DANÇA
UNIVERSO HQ
Quadrinhos abrem espaço à diversidade
Projeto leva ballet a jovens de Paraisópolis Idealizado por Monica Tarragó em maio de 2012, o Ballet Paraisópolis surgiu para dar oportunidade a jovens e adolescentes da comunidade mais conhecida da zona sul de São Paulo. Atualmente, 200 crianças fazem parte do projeto e outras 2 mil aguardam na fila de espera. O desejo de começar o projeto surgiu da vontade de mudar a vida das famílias, levando arte, cultura e educação para Paraisópolis. A partir da experiência adquirida como bailarina e professora de ballet, Monica iniciou um projeto de formação que, por meio do ensino das danças clássica e contemporânea, incentiva crianças e adolescentes na busca de melhores oportunidades de vida. “Fui até a Secretaria da Cultura e me ensinaram o passo a passo de como inscrever o projeto. Apesar de burocrático, todo o processo inicial foi muito bom. A comunidade já tinha outras ações, então todos já possuíam certa
estrutura para receber o ballet”, declara a diretora. Além de habituar as crianças à dança, o BP que atende jovens a partir de oito anos de idade - acaba fortalecendo aspectos como disciplina, organização, postura, comprometimento, responsabilidade, hábitos saudáveis e oportunidades de emprego. No total, são oito anos de formação.
Pluralidade cultural, étnica e de gênero ganha lugar nas histórias ilustradas Larissa Brandão
A história dos quadrinhos começou em 1895 nos Estados Unidos e se fortaleceu a partir da década de 1930. As narrativas sempre lidam o seu tempo e a sua própria época. Quando falamos em HQs, não necessariamente estamos nos referindo a super-heróis, embora muitos desses personagens retratem fielmente a sociedade vivida por seus leitores. Hoje, cada vez mais, as histórias ganham traços de diversidade. Segundo a professora e pesquisadora Vanessa Bortolucce, a ideia de herói também muda a partir da década de 1960, quando Stan Lee cria o personagem Homem-Aranha: um menino de periferia, que não tem os pais e tem que fazer bicos para poder pagar o aluguel, um cenário bem mais próxi-
RUMO AO MERCADO
Segundo Monica, o ideal é que as crianças entrem cedo para que se formem aos 16 como amadores. Durante dois anos, os dançarinos se aprimoram e, ao atingir a maioridade, estão aptos a buscar posições como profissionais do ballet, capazes de exercer a profissão no Brasil e no exterior. Monica ressalta que duas condições são primordiais para quem deseja entrar no Ballet Paraisópolis: é preciso estar matriculado na escola e frequentar 100% das aulas. Alguns, segundo a diretora, podem inclusive se tornar professores e dar continuidade ao projeto.
Banco de imagem Pixabay
Fernanda Alves
Mulher-Maravilha é um símbolo da força feminina mo do que se conhece na vida real. A capacidade de realizar grandes atos, porém, continua. As editoras têm a responsabilidade de promover suas histórias com diversidade. Foi o caso da Marvel, que criou a fase “Marvel Now’’, lançando três títulos focados em mulheres: Red She-Hulk, Journey Into Mystery e Fearless Defenders. Infelizmente, todos fracassaram.
Recentemente, a editora sofreu críticas quando se pronunciou dizendo que não era viável criar e investir em quadrinhos com diversidade em geral. OUTRAS MÍDIAS
Quadrinhos trabalham junto com outras mídias, como cinema, séries e TV. As pessoas que entram no mundo dos quadrinhos não lendo necessariamente o título em si; muitos
espectadores conhecem os personagens por meio de filmes – caso do Pantera Negra, lançado em 2018 e que trouxe bastante repercussão e admiração por parte do público. “Antes do filme, só conhecia o Pantera Negra de nome, por conta dos quadrinhos, mas nunca tinha visto nenhum material dele. Vi a obra e gostei muito. A história é boa e inspiradora”, diz André Lima, 25 anos, que acabou descobrindo o herói por meio do filme, que arrecadou US$ 1 bilhão na bilheteria mundial. “Quando se assiste a um filme, você entra no universo do personagem e da história dele. Sei que um filme não é capaz de mostrar toda a profundidade do pantera negra, seus conflitos e relações, por isso fui atrás dos quadrinhos e de toda saga dele como herói”, conta André.
RESTAURAÇÃO
Jefferson Pancieri
Museu da Língua Portuguesa se prepara para reabertura
Espaço se tornou ponto turístico obrigatório em SP
Cintia Santos
Passados mais de dois anos desde o incêndio que causou sua destruição, o Museu da Língua Portuguesa, na região da Luz, centro de São Paulo, já concluiu a reconstrução de suas fachadas e esquadrias. A reabertura para o público está prevista para o segundo semestre de 2019, trazendo de volta à rotina da cidade um dos centros culturais mais vi-
sitados da América Latina. Responsável por representar a diversidade cultural do País e abrigar uma rica coleção de exposições em homenagem a grandes artistas, como Jorge Amado e Guimarães Rosa, o prédio foi inaugurado em março de 2006. Chegou a alcançar, logo nos seus três primeiros anos de funcionamento, mais de 1,6 milhão de visitantes. Em dezembro de 2015, o local foi atingido por um
incêndio; segundo a coordenadora de Comunicação e Desenvolvimento Institucional do museu, Carolina Bianchi, o custo total da reconstrução está estimado em R$ 65 milhões, “advindos de patrocínios de empresas privadas, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, e do prêmio do seguro contra incêndio.” A tragédia se tornou, rapidamente, o assunto principal no noticiário. “Quan-
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do conheci o museu, todas as minhas expectativas foram superadas. Fiquei encantada com a forma lúcida de se apresentar o nosso idioma. O museu tinha vida”, diz a bancária Cristiane Madeiro. “Quando me deparei com o noticiário do incêndio senti um aperto no coração, só de imaginar a riqueza de cultura que estava em chamas, não pude conter as lágrimas. Era como se todos chorassem.”
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VIDA DIGITAL
Algoritmo é a nova aposta para combater o cyberbullying Fernanda Castellar e Lais Alves
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Online QualiBest, cerca de 50% da população brasileira já compartilhou fotos de nudez, o chamado “mandar nudes”. Diante deste cenário, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Facebook e a empresa de comportamento Sherpas, desenvolveu uma ferramenta de inteligência artificial, chamada Caretas, com a finalidade de alertar os jovens sobre os riscos de expor vídeos e imagens íntimas na internet. O projeto possibilita que os internautas interajam com uma usuária fictícia do Messenger, de-
Fernanda Castellar
Bot é usado para conscientizar sobre riscos de divulgação de dados íntimos nominada Fabi, por meio de um algoritmo que responde quase instantaneamente, fornecendo uma experiência mais próxima do factual. A ferramenta contém áudios, vídeos, imagens e prints, além de dados concretos sobre a violência na rede e as formas efetivas de buscar ajuda em situações nesse contexto. MAIS EMPATIA
Na história, Fabi teve um vídeo íntimo exposto na web por seu ex-namorado. Durante 48 horas, o usuário se torna o melhor amigo dela, aconselhando-a sobre quais atitudes tomar diante dessa situação e evitando, assim, um possível suicídio.
Colagem feita a partir da interação com o bot Segundo o representante da Unicef Brasil Florence Bauer, o Caretas é uma ferramenta digital que faz com que o jovem crie empatia com os casos de exposição na internet,
além de informá-lo sobre os riscos da rede. “BRINCADEIRA BOBA”
A aluna de Publicidade e Propaganda Larissa Zaniboni teve o seu pri-
meiro contato com o projeto no início do ano, ao ver os inúmeros compartilhamentos em sua página do Facebook. “No começo achei que era mais uma brincadeira boba sendo compartilhada nas redes sociais. Mas, quando comecei a conversar com a Fabi, pude viver o horror e o desespero de ter uma foto `minha´ sendo divulgada na internet”, comenta a estudante. De acordo com a gerente de segurança do Facebook, Daniele Kleiner, a união da tecnologia e da educação é essencial para que as pessoas entendam como criar um ambiente online mais receptivo.
APRENDI COM A FABI Dados que a equipe do Expressão descobriu ao interagir com o bot
39,7% dos jovens que participaram do projeto sabiam como se proteger do cyberbullying. Esse percentual aumentou 90% após a experiência com o Caretas
Helpline – SaferNet é uma empresa que oferece ajuda aos internautas para lidar com situações de violência online, por meio de atendimento por e-mail
42% dos jovens brasileiros se filmam durante o ato sexual Sexting: o número de vítimas duplicou nos últimos anos
SEUS DADOS
Fraude na publicidade digital causa prejuízos Luana Amorim
A comunicação digital é intrínseca ao cotidiano das pessoas: são 9 horas diárias dedicadas à internet no Brasil, segundo estudo da agência We Are Social. A publicidade, que vem acompanhando a comunicação e o jornalismo desde as origens, não deixou de se adaptar a essas tecnologias. Os algoritmos são uma das principais ferramentas dentro do universo digital: por meio de critérios como o histórico de acessos do usuário, possuem a finalidade de reproduzir comportamen-
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tos, o que é de extrema relevância para a publicidade. Há, no entanto, uma ameaça: fraudes cada vez mais comuns, que interferem em resultados e prejudicam estratégias de promoção. A publicidade conta com diversos algoritmos, tanto bons quanto maus. Como o ser humano é facilmente condicionado a consumir com base no valor – não necessariamente o monetário, mas em caráter social –, passa a dar importância a conteúdos específicos. As pessoas são analisadas durante suas interações digitais por esses algoritmos, para que o con-
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teúdo que acessam, o que inclui a publicidade, possa sempre estar em sintonia com seus hábitos. Segundo o Indicador Serasa Experian de Tentativas de Fraude, a cada 16 segundos é registrada uma tentativa de fraude no Brasil, seja ela física, seja online. De janeiro a setembro de 2017, houve cerca de 1,478 milhão de tentativas, 10,7% acima do mesmo período em 2016. “A fraude é extremamente nociva para o segmento, porque a prática desse falseamento de métricas compromete todo um mercado que já é consolidado. Milhões de usuários são envolvidos
nessas mentiras e acreditam que tais números correspondem a pessoas, quando na verdade são apenas robôs”, comenta o professor Midierson Maia, doutor em Ciências da Comunicação pela USP. As tecnologias de inteligência artificiais podem prejudicar a publicidade digital. Esses algoritmos podem fraudar resultados como número de cliques, seguidores e visualizações, redirecionamento de conteúdos e um amplo leque de ações que são imprescindíveis para a publicidade. “Outro problema são os vírus. Existem diversos ti-
pos de programas que invadem o computador para ficar dando reload (recarregando) nas páginas. A vida útil do equipamento fica comprometida, se perde em memória e desempenho, pois mesmo quando não está em uso o vírus continua trabalhando”, complementa Midierson. O roubo de dados é uma das principais consequências da fraude, o que torna todos, até quem gera a publicidade, suscetíveis a invasões. Outra questão são os prejuízos envolvendo a economia: de acordo com relatório divulgado
pela Jw Research, é estimado que neste ano as perdas por conta desse fator cheguem a R$ 19 bilhões. Isso gera impactos nas estratégias de publicidade digital. “Para o fim do falseamento de métricas é preciso uma transformação. Acredito que o blockchain pode ajudar nesse processo, é uma tecnologia que propicia uma nova forma de estabelecer relações na internet, funciona com base em protocolos que garantem a veracidade das informações, evitando o falseamento de dados”, pondera o pesquisador.
FORA DE CONTROLE
Aplicativo popular entre crianças sofre denúncias Getty Images
SimSimi foi removido das lojas de apps no Brasil
O uso de app expõe crianças e adultos a riscos Gabriela Gonçalves
O aplicativo SimSimi, desenvolvido pela empresa Sul Coreana ISMaker, utilizado principalmente por crianças, foi alvo de denúncias no final de abril por disseminar palavrões e ameaças e acabou tendo seu acesso suspenso no Brasil. A ferramenta, que responde a interações dos usuários e se alimenta do repertório utilizado nas
conversas, passou a responder com linguagem pejorativa e de conotação sexual após ser popularizado. O desenvolvedor, após ser notificado pela ONG SaferNet – que monitora denúncias de abusos e violações cometidos por meio das redes sociais –, decidiu remover o aplicativo das appstores brasileiras para verificação e reparos O presidente da SaferNet, Thiago Tavares, demonstra
apreensão sobre os riscos à exposição de aplicativos; não só o SimSimi, mas outros que armazenam dados dos usuários. “Aplicativos que o público pode acessar por meio de seus cadastros em redes sociais como o Facebook e o Twitter podem ser uma isca para capturar informações como endereços, local de trabalho e outros dados de usuários”, diz. PAPO VIRTUAL
Os chamados bots, robôs usados em interações virtuais, já se tornaram comuns na internet. Empresas do varejo, como Magazine Luiza e Ponto Frio já utilizam essa ferramenta para criar interação e personalizar seu atendimento junto ao público nas redes sociais. O que ainda pouco se discute a respeito de segurança da informação é como estes dispositivos podem se
alimentar de informações e dados dos usuários e para quais finalidades. O programador e desenvolvedor de aplicativos Henrique Prada afirma que, embora recentes, os bots e aplicativos podem ser a porta de entrada para malwares. “O desenvolvimento desses apps é bem simples na linguagem da programação. Existem inclusive aplicativos para criar aplicativos e, por isso mesmo, podem não inspirar o cuidado necessário por parte de quem os desenvolve.” Nas appstores brasileiras há todo tipo de dispositivo; a única forma de garantir se um app é seguro ou não é por meio das avaliações dos usuários. “É preciso ficar atento a que tipo de informação você autoriza o acesso e até mesmo as que não autoriza”, indica o programador Henrique.
PAIS & FILHOS
Uso da Internet pode apresentar riscos à saúde infantil Lais Marson Vivendo em um mundo com mais tecnologia, é difícil encontrar uma criança que não saiba usar um smartphone ou um computador. Parece que os pequenos já nascem com os dedinhos programados para utilizar as telas touch. Os que tiveram a infância rodeados de joelhos ralados têm o desafio de aprender a conviver com essa nova tendência. A analista Cleide Mastromano, 32 anos, é uma das mães que fica impressionada com a facilidade do filho Pedro, 9 anos, de navegar na internet. “Tem muitas coisas que é ele quem ensina. Ele não tem acesso às redes sociais. Colocamos um aplicativo no celular para que a gente possa ficar de olho com quem ele conversa.” Especialistas defendem a ideia de que o uso de tecnologia por menores de 12 anos é prejudicial
à saúde e ao desenvolvimento da criança. Uma pesquisa realizada no começo de 2017 pela AVG Technologies apontou que 66% das crianças entre 3 e 5 anos conseguiam jogar em aplicativos e 47% sabiam utilizar um aparelho celular sem dificuldades, mas apenas 14% eram capazes de amarrar os cadarços sozinhas. RISCOS E DANOS “O lado bom é que a tecnologia ajuda a estimular o raciocínio e a processar informações. Em contrapartida, as crianças ficam menos focadas e mais dispersas”, diz o neuropsicólogo Fabio Pereira. “Isso prejudica a comunicação entre pais e filhos, porque tudo que esteja fora da internet tende a se tornar ‘chato’. É preciso estabelecer um limite, principalmente para as crianças que estão em desenvolvimento.”
PARA O CONSUMIDOR
Nathalia Fanti
Atualmente, as companhias brasileiras adotam uma nova alternativa para conhecer as necessidades de seus clientes e, de quebra, reduzir custos para impulsionar os negócios: a criação de canais de vozes ao consumidor e aplicativos digitais, que permitem que o público mande ideias e também sugestões de melhorias de produtos e serviços. A chamada inovação aberta também pode ser
feita por meio de iniciativas internas ou com parceiros menores, que compartilham os mesmos interesses da empresa, unindo, assim, forças para desenvolver soluções juntos. Levantamento realizado em 2017 pela consultoria de negócios Altivia Ventures apontou que 87 grandes empresas do Brasil têm programas de inovação aberta. São corporações de diferentes setores, abrangendo serviço, indústria e comércio.
Segundo o analista de inovação da empresa de bricolagem Leroy Merlin Matheus Magnusson, a inovação aberta é uma cultura positiva. “Ao invés de limitar aos colaboradores, expandimos a zona de criatividade para todos que de alguma forma se relacionam conosco”, conta. “É uma via de mão dupla, pois ajudamos pessoas inovadoras e ainda podemos desenvolver ideias totalmente fora da caixa pela pluralidade de pensamentos e experiências.”
Mídias Leroy Merlin
Empresas investem em inovação aberta
Analista de inovação da Leroy Merlin fala sobre o app que permite o compartilhamento de ideias
A disponibilidade da tecnologia atual abre uma série de alternativas para acessar novos conhecimentos fora da empresa. “Um exemplo de uma das nossas iniciativas é a plataforma Inova Leroy Merlin, que é um canal de voz em que as pessoas podem compartilhar ideias, além de comentar e votar nas iniciativas que mais gostaram”, conta o analista. Do ponto de vista da economia brasileira, o impacto que essas iniciativas têm para as estratégias de mer-
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cado é considerado importante. “Sem dúvidas, o progresso tecnológico é positivo para a economia tanto em termos macroeconômicos como em micro. Para as grandes, é ótimo para os investimentos em novas tecnologias do consumo de novos bens e serviços; para as menores, impacta no processo de concorrência, custos, produção e distribuição”, comenta o professor de economia Waldemir Quadros, da Universidade PUC de São Paulo.
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INFOGRÁFICO
Expansão sobre trilhos Helen Christo
Helen Christo Santos e Larissa Almeida Neres
Todos os dias, as linhas de metrô e trem de São Paulo movimentam cerca de 4,5 milhões de usuários. De olho no crescimento da demanda, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos tem planos de expansão que prometem amenizar os desafios de mobilidade da capital; em 2018, diversas estações serão entregues à população. Confira as principais linhas beneficiadas nos próximos anos
LINHA 4 – AMARELA
LINHA 5 – LILÁS
Início da operação: 2010 Previsão do projeto: 12,8 km de extensão, com 11 estações da Luz à Vila Sônia Custo total da fase 2: R$ 1.929 milhão Passageiros/dia: 900 mil
LINHA 15 – PRATA
Início da operação: 2002 Quando concluída: 19,9 km de extensão, com 17 estações do Capão Redondo à Chácara Klabin Custo total da fase 2: R$ 10.450 milhões Passageiros/dia: 855 mil
Vila Sônia
Previsão: 2020
São Paulo - Morumbi
Previsão: 2018/2
Chácara Klabin Santa Cruz Hospital São Paulo
Vila Prudente Previsão: jul./2018
AACD - Servidor
Butantã
Moema
Pinheiros
Eucaliptos Campo Belo
Faria Lima Fradique Coutinho
Início da operação: abr./2018
Brooklin
Início da operação: mar./2018
Camilo Haddad
Previsão: dez./2018
Vila Tolstói
Jardim Planalto Sapopemba
Largo Treze
Higienopólis Mackenzie
Início da operação: jan./2018
República Luz
Santo Amaro
Fazenda da Juta
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos também ampliou serviços com a Linha 13 – Jade, inaugurada em março de 2018
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Previsão: jul. a set./ 2018
Giovanni Gronchi Vila das Belezas
São Mateus
Campo Limpo
Jardim Colonial
Capão Redondo
EXPANSÃO NA CPTM
Início da operação: abr./2018
Vila União
Borba Gato Adolfo Pinheiro
Paulista
Oratório São Lucas
Alto da Boa Vista
Oscar Freire
Início da operação: 2014 Previsão do projeto: 7,8 km de extensão, com 11 estações da Vila Prudente à Cidade Tiradentes Custo total da fase 2: R$ 5.200 milhões Passageiros/dia: 450 mil
Previsão: 2021
12,2 novos km
Engenheiro Goulart
Guarulhos-Cecap
Aeroporto-Guarulhos
Conexão com a Linha 12 – Safira Área: 15 mil m² Passageiros/dia: 50 mil Dois bicicletários com 226 vagas
Área: 11 mil m² Passageiros/dia: 50 mil Um bicicletário com 188 vagas
Área: 20 mil m² Passageiros/dia: 20 mil Dois bicicletários com 100 vagas
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Reforma e construção: R$ 2, 3 bilhões
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