USJT
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novembro 2018
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ano 25
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edição 11
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
ESPECIAL - Págs. 6 a 9
CULTURA GEEK EM ALTA De desajustados sociais a donos de seus mundos, nerds e geeks superam estigmas, divulgam estilos de vida e fazem negócios #PROTAGONISTA Promessa no automobilismo, Leandro Guedes sonha com a F-1 Pág. 3
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS Racionais: álbum emblemático é cobrado em vestibular da Unicamp Pág. 10
ARTES Longo ciclo de obras afasta público do Museu do Ipiranga Pág. 12
ESPORTE E LAZER Sem regulamentação, patinetes elétricos estimulam passeios Pág. 14
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#INSTANTÂNEO
CAR@ LEIT@R
Larissa Almeida
Adobe Stock/grape_vein
Durante algum tempo, ser nerd ou geek foi sinônimo de estar deslocado, fora do eixo, sujeito a todo tipo de perseguição por parte de colegas e familiares. Quando muito, significou ser inteligente – embora socialmente inapto. Não surpreende que, nos últimos anos, essa concepção tenha sido questionada: lugares sociais – e os discursos que os efetivam – se movem ao sabor das mudanças, e uma das melhores que vivemos está ligada ao respeito à diferença. Finalmente, nerds/geeks não precisam ter vergonha de quem são. Pelo contrário. No Especial, mostramos de que modo pop, cultura, artes, moda e tecnologia convergem nesse rico universo, com manifestações
que vão de gameplayers e cosplayers à prática do RPG. Contribuímos, assim, para desconstruir a noção do nerd/geek como alguém inábil e tímido e pensá-lo como sujeito ativo da cultura contemporânea, refletindo um mundo em transformação – e com negócios cada vez mais rentáveis. Nesta edição, também temos reportagens sobre conservação de parques urbanos, técnicas de reprodução assistida, culinária artística e um infográfico sobre adoção e cuidados com animais na cidade de São Paulo. Essa pluralidade reflete nosso projeto editorial e, acima de tudo, o trabalho de nossos repórteres na busca por boas pautas. Aproveite a leitura e siga conosco! Os Editores
Helen Christo
Esse museu é a minha rua Oscar Niemeyer não era paulistano, mas foi homenageado à altura pelo artista plástico Kobra. O mural acima exposto está pronto desde 2013; foi um presente para a cidade de São Paulo. Na perspectiva de Kobra, essa foi uma forma de retribuir as homenagens que o artista modernista fez à capital ao conceber ícones da arquitetura como o edifício Copan, o Parque do Ibirapuera e o Memorial da América Latina. Para conferir o mural com os próprios olhos, basta observar um prédio na altura da Praça Oswaldo Cruz, região da avenida Paulista.
#FICA A DICA
Divulgação
EXPRESSÃO As sequelas da insistência Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo novembro 2018 • ano 25 • edição 11 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof.ª Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Mooca Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Adobe Stock/grape_vein
EXPRESSÃO
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Mais uma chance Ano: 2018 Gênero: drama Distribuição: Netflix Duração: 2h03 Direção: Tamara Jenkins
Sergio Vitor
Seguir os padrões que a sociedade impõe ocasiona, muitas vezes, a desvalorização de si e, por consequência, uma tristeza profunda e uma sensação de fracasso. O filme “Mais uma chance” relata a história de um casal que tenta incansavelmente ter um filho, mas a esposa Rachel, interpretada pela atriz Kathryn Hahn, por problemas de saúde, não consegue engravidar. Richard (Paul Giamatti) observa com desespero e, ao mesmo tempo, cheio de esperança sua esposa se submeter a tratamentos malsucedidos de fertilização.
As tentativas em vão desgastam gradativamente o relacionamento. Discussões ocorrem em decorrência de procedimentos falhos, além de desentendimentos causados pela decepção do casal. Os anos na fila de espera na adoção também irritavam o casal. Os problemas que os dois tinham ficam maiores quando se apela à família. Rachel viu a oportunidade de ganhar uma criança quando sua jovem sobrinha Sadie (Kayli Carter) optou por passar férias na sua casa. Após pouca insistência, Sadie aceitou o desafio, entretanto a jovem não sabia que também tinha problemas para
engravidar, o que a deixou à beira da depressão. No fim da obra, fica clara a intenção da diretora Tamara Jenkins de mostrar a deterioração do casamento de Richard e Rachel. A busca incessante de se ter um filho colocou em risco a saúde física e mental do casal, que sofreu pela rotina e esqueceu do próprio relacionamento. A crítica do filme é se opor ao pensamento de que um casal só se completa quando tem um filho. Quando a idealização não se concretiza, ambos se frustram, mas não necessariamente precisam viver para isso e deixar em segundo plano a cumplicidade.
PROTAGONISTA
Sonho em quatro rodas: o caminho para a Fórmula 1 Em um passeio casual por um shopping da cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2005, o carioca Leandro Guedes descobriu por acaso, no estacionamento, a profissão que queria para sua vida. Havia por lá um kartódromo, para que apaixonados por corrida conhecessem mais a modalidade. Leandro já estava habituado ao meio: desde seus quatro anos de idade, ia a competições com seu pai e avô. Porém, lembra como aquele passeio fez diferença em sua vida – ele tinha somente oito anos de idade. “Fiquei fascinado e acabei sendo convidado a participar da escolinha de kart”. Dois meses depois, ingressou na escola de kart Rains. A modalidade é uma competição que envolve diversos tipos de carros e é considerada um dos esportes mais populares do mundo por conta da comercialização e da influência midiática. No Brasil, a modalidade teve início em 1908, quando, em um Fiat de 40 cavalos, o piloto Conde Sylvio venceu uma prova de 75 quilômetros que ligava o Parque Antártica, na zona oeste de São Paulo, ao município de Itapecerica da Serra, na região metropolitana. RUMO AO PÓDIO
Na sua primeira corrida, ainda aprendendo a lidar com o nervosismo e a pilotar o kart em ambiente de disputa, conseguiu chegar em segundo lugar. “Liderei boa parte da corrida, mas justamente a falta de experiência fez com que eu cometesse um erro”, relembra. O fato de ter começado em segundo lugar, aponta, foi seu primeiro e maior aprendizado inicial. Após a primeira competição no Brasil, Leandro tinha em mente que essa seria a sua profissão; por isso, com a ajuda de seus familiares e de patrocinadores que investiram em sua carreira, conseguiu levar o seu objetivo para fora do País. “Automobilismo é um esporte extremamente caro e é necessário muito investimento financeiro”, ressalta. No dia 14 de junho de 2014, Leandro conquistou o 1° prêmio na Europa: subiu ao pódio em segundo lugar em Thruxton,
Leandro Guedes em campeonato no Autódromo de Interlagos: metas arrojadas para uma carreira definida há anos na Inglaterra. Nesse mesmo ano de 2014, consagrou-se campeão inglês na área. Na Fórmula Academy Sudamericana, até o presente momento, ele é o vice-líder do campeonato por apenas dois pontos de diferença, mas já foi o líder até a prova passada. Porém, restam duas corridas para o fim do campeonato. Com o decorrer de sua trajetória como piloto de automobilismo, Leandro teve a certeza do sonho que desenhou no estacionamento do shopping: ser piloto e chegar à Fórmula 1 – a competição mais importante do mundo. EVANGELHO NAS COMPETIÇÕES
Por ser de formação cristã, desde quando começou a correr de kart, seu carro sempre levou a frase “Cristo Salva”, motivo pelo qual afastou muitos patrocinadores – alguns acharam que a fé arruinaria seu sucesso. Segundo ele, foi justamente o contrário. Abatalha para ser mais competitivo e usar equipamentos bons dificultou a chegada em primeiro lugar em algumas modalidades. “Por eu levar minha fé sempre comigo, tive dois desafios que encaro ao longo de minha carreira, a fé e a competição”, ressalta Leandro.
“Para fechar 2018, meu plano é vencer a Fórmula Academy Sudamericana” NOVAS METAS
Até o momento, Leandro tem conquistado reconhecimento e é visto como um atleta de inspiração para outros jovens. “É uma honra e um privilégio muito grande. Isso é fruto de esforço e dedicação ao longo dos anos em minha carreira, e justamente por ser essa promessa e inspiração, mesmo jovem, tento sempre evoluir como atleta e como pessoa.” Seu maior objetivo é a Fórmula 1. No entanto, no caminho até lá, ele tem em vista outras metas – por exemplo, alcançar títulos internacionais, como o da Fórmula 3 e o da Fórmula 2, e correr em pistas lendárias, como Spa-Francorchamps, na Bélgica, e o circuito de Mônaco. Hoje, o plano de Leandro é ganhar campeonatos e arrumar novos patrocinadores – rota fundamental para qualquer competidor de seu ramo. “A cada categoria que se sobe o investimento fica muito maior”, conclui.
Marketing Mackenzie
Helen Christo e Mayara Sakumoto
Marketing Mackenzie
Aos 21 anos, Leandro Guedes está entre as promessas do automobilismo
O piloto em 2008, quando foi campeão de Kart no Rio de Janeiro
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VIDA DIGITAL SEM SEGURANÇA
Casas de apostas online lucram no Brasil
Testes em redes sociais expõem internauta
Natalia Binotto
queroapostar.com
Para driblar a lei, sites são hospedados no exterior; futebol se destaca entre adeptos Clauber Fonseca
Com a fama de apaixonado por futebol do brasileiro, o mercado apostador cresce a cada ano. Segundo um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas e encomendado pela Caixa Econômica Federal, essa atividade movimenta R$ 4 bilhões por ano no Brasil. Em transmissões de eventos esportivos pela televisão é comum identificar propagandas de sites de apostas. No País, as mais acessadas são Sportingbet, 188Bet e Bet365. Aqui, a legislação proíbe a prática de jogos de azar; as plataformas, porém, têm suas páginas hospedadas em países nos quais o modelo é legal. Em março passado, a PLS 186/2014, que visa à legalização dos jogos de azar no Brasil, foi rejeitada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Seu autor, o Senador Ciro Nogueira (PP-PI), destacou a intenção de regulamentar o segmento para a exploração dos jogos. Para apostar é muito simples. Precisa-se fazer o cadastro na plataforma preferida, fazer um depósito de um valor e começar a dar palpites. O jogador pode dar seus pitacos nos mais variados mercados ofertados, como o resultado de uma partida, a quantidade de gols ou, também, quantos escanteios serão marcados em um jogo. As casas ofertam outros esportes. Os mais
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Futebol está entre os preferidos nos jogos de azar populares são o futebol, com a Champions League e o Brasileirão; o basquete, com a NBA e a NBB; e o futebol americano, com os jogos da NFL. Além desses, porém, há campeonatos da Islândia, da Índia e do Azerbaijão, que não são tão populares, mas acabam procurados por conta das baixas chances de zebras – como são chamados os resultados inesperados. “Dá para ganhar bastante dinheiro com apostas. Eu já consegui custear carta de motorista, por exemplo, com o dinheiro que ganhei apostando em futebol e basquete”, diz Pedro Henrique Cavalcanti, estudante e apostador há mais de um ano. Como o jogo não é regulamentado no Brasil, os
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apostadores ficam sem proteção, já que podem sofrer calotes. No Brasileirão de 2017, precisamente na 13ª rodada, houve vitórias de oito dos dez visitantes, e algumas casas não conseguiram honrar com os pagamentos. “Essa rodada específica gerou premiações muito altas, e os apostadores ficaram sem receber”, afirmou Pedro Tengrouse, um dos autores do estudo sobre os jogos de azar esportivos. Segundo Tengrouse, o calote acontece porque, sem a liberação desse tipo de jogo, o apostador fica sem ter a quem recorrer. Além disso, a ausência de fiscalização torna difícil controlar fraudes – como a manipulação de resultados.
Testes são tentadores, curiosos e, muitas vezes, irresistíveis. “Com qual celebridade você se parece?” ou “Como você seria se fosse do gênero oposto?”: essas chamadas atraem internautas interessados para uma cilada. Aparentemente inofensivos, o perigo deles está justamente nos dados que são cedidos pelo usuário quando este aperta o botão “iniciar”. A prática permite que as empresas de marketing estabeleçam relações entre traços de personalidade e gostos por um determinado segmento, desenvolvendo campanhas de marketing para vender produtos, ideias ou até candidatos políticos para um público específico. A análise prévia dos dados cedidos permite a construção de um perfil do usuário. Por meio de informações de usuários, o Facebook tem atraído cada vez mais empresas que patrocinam conteúdos na rede social. Segundo dados divulgados pela plataforma,
já são cinco milhões de anunciantes publicitários. Informações como essas são valiosas para empresas direcionarem melhor seus anúncios e obterem mais resultados. Há algumas, inclusive, que vivem de vender dados para outras. A imprensa norte-americana alertou em 2017 que uma empresa britânica, a Cambridge Analytica, usou dados coletados com esse tipo de quiz para auxiliar a campanha eleitoral de Donald Trump e também a campanha do “Brexit”, que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia. “No Brasil, a Justiça ainda é muito falha nesse quesito. No momento, os três projetos que abordam esse tema e estão em trâmite no Congresso estão parados”, afirma o especialista em inteligência Celso Tonet. “É de extrema importância e interesse nacional a regulamentação do Código de Defesa do Consumidor, que foi criado em 1990, para proteger o consumidor de possíveis abusos cometidos por empresas.”
Cambridge Analytica 120 milhões de usuários tiveram seus dados expostos
O que vaza? nome, foto de perfil, foto de capa, gênero, redes, nome de usuário, lista de amigos e outras informações que você tenha escolhido tornar públicas ou compartilhar com o aplicativo de teste, como curtidas, histórico, status, fotos e publicações, são alguns dos dados usados para manipular a informação que chega a você
Acervo on-line
Um dos testes disponíveis na plataforma social Facebook
SETOR EM MUTAÇÃO
Tecnologias dão mais autonomia a veículos
US$ 7 trilhões podem ser movimentados até 2050 no mercado
Engineers Journal
Brasil ainda não é mercado-foco para lançamentos Lilian Fonseca
(fonte: Strategy Analytics)
sobre alguma informação. Essa solução permite uma nova forma de interagir com o veículo.”
Posição País
MENOS APTIDÃO
Carro autônomo da Volvo acesso à internet. O veículo também é capaz de identificar o ambiente à sua volta e navegar sem qualquer interferência humana. No Brasil a tecnologia em veículos tem avançado rápido – embora com anos de atraso. Algumas montadoras investem em inteligência artificial. “A Volkswagen no Brasil lançou o manual cognitivo para
alguns carros da sua linha. Com o manual cognitivo, poderá responder a dúvidas dos motoristas sobre o veículo, incluindo informações que estão no manual.”, diz Roberto Celestino, lider de vendas de IBM Watson, braço de serviços cognitivos da IBM para negócios. “Também é possível tirar uma foto do painel do carro para obter esclarecimentos
Já para os carros autônomos, o Brasil está atrás na fila do ranking de aptidão para a tecnologia, tendo nos primeiros lugares Holanda, Cingapura e Estados Unidos. O que coloca o Brasil em uma posição bem abaixo é, principalmente, a falta de infraestrutura e uma boa conexão de comunicação sem fio. Brasileiros gostam de tecnologias avançadas, porém ainda não desejam carros que funcionem de forma autônoma. “Minha preocupação com carros que não precisam de motorista é a questão da segurança no trânsito, pois acredito que poderíamos não ter controle suficiente em casos de acidentes”, diz a publicitária Leticia Tomaz, de 24 anos.
1ª
Holanda
2ª 3ª
Cingapura EUA
17ª
Brasil
17ª de 20 é a posição do Brasil em ranking de aptidão para carros autônomos
PESQUISAS NO BRASIL 2 carros de centros de pesquisa em teste: CaRina (Carro Robótico de Navegação Autônoma) – desenvolvido pelo Laboratório de Robótica Móvel da USP
Iara (IIntelligent Autonomous Robotic Automobile) – desenvolvido pelo Laboratório de Computação de Alto Desempenho (Lcad) da Ufes
MONTADORAS QUE JÁ TESTAM E VENDEM MODELOS AUTÔNOMOS Tesla, Volvo, Mercedes-Benz e Audi
Insta Carro
Os famosos carros do futuro que não precisarão de motoristas já estão sendo testados por grandes montadoras em países desenvolvidos. O grupo Volkswagen pretende lançar a sua primeira frota de carros autônomos até 2021. Já os carros semiautomáticos já estão em produção em série. Alguns benefícios dos carros autônomos são a redução dos acidentes de trânsito provocado pelos seres humanos, o aumento da produtividade – já que o condutor poderá realizar outras atividades durante a navegação – e, principalmente, a possibilidade de deficientes físicos conduzirem sem a ajuda de terceiros. Foram mais de 30 anos de experimentos para que os carros ganhassem sistema de navegação, sensores e
global de carros autônomos
Divulgação
Modelo 360c da Volvo: primeiros passos para a condução autônoma
TRANSPORTE DE CARGA
Desafio da tecnologia é superar problemas de segurança e conectividade
Budweiser fez, em 2016, sua primeira entrega de cervejas usando um caminhão autônomo, nos Estados Unidos, em trajeto de 200 km
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ESPECIAL
De patinho feio a estilo de vida: cultura geek encanta jovens Abner Gonzaga
Pegada tecnológica e vínculo com o mercado garantem interesse dos adeptos engloba outros campos, como cinema, música e games, além da tecnologia da informação”, diz Érika Caramello, doutoranda em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Grandes indústrias de entretenimento e comunicação têm crescido economicamente a partir disso.” NOVO NICHO
Após anos de estigmatização, cresce orgulho de participar do mundo geek gabriela araújo
Do que você lembra quando ouve falar sobre cultura geek? Star Wars, Senhor dos Anéis, Marvel… Ela é tudo isso e mais um pouco. Nos anos 1980 e 1990, os geeks eram conhecidos como nerds, que geralmente eram motivo de chacota e bullying por serem considerados
super inteligentes, mas estranhos e desajustados. Entre os traços estereotípicos até hoje tratados na mídia estão a dificuldade de se relacionar com outras pessoas e a aparência nada “descolada” – como mostrado por personagens da série norte-americana The Big Bang Theory. Os termos nerd e geek têm origem inglesa e desig-
naram, por anos, pessoas viciadas em novas tecnologias e ligadas a diversas áreas de entretenimento. Se, no passado, ser nerd era cafona e sinônimo de comportamento antissocial, hoje esse universo assume ares requintados no Brasil e no mundo. “Os nerds estão muito ligados às áreas de exatas, enquanto a cultura geek
Em 2014, uma pesquisa com 12 mil entrevistados realizada pelo grupo Omelete apontou que o público geek lidera o consumo de streaming e vídeo on demand (VOD), com 50,3% do total de usuários. Entre eles, 94% compram pela internet, 26% estão sempre online e 85,8 % possuem smartphone, o que comprova o forte vínculo com a tecnologia. O universo geek não só está reformulando o con-
ceito de cultura nerd; também movimenta o mercado e gera novas profissões. De acordo com Fábio Lubacheski, mestre em Engenharia Elétrica na área de Sistemas Digitais pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e professor coordenador do curso de Jogos Digitais do Senac, a demanda de profissionais na área de games tem crescido no Brasil por conta da população jovem e numerosa interessada por jogos – incluindo os de console, os portáteis, os de computador ou até os de celular. A procura por cursos superiores também tem aumentado,entre homens e mulheres de diferentes idades. Segundo dados da Newzoo, em 2017 o Brasil contava com cerca de 66,3 milhões de jogadores. Os negócios nessa área movimentaram em torno de US$ 1,3 bilhão e, com isso,
o Brasil já está em 13º no ranking global e em 1º lugar entre os latino-americanos. Para este ano, segundo a pesquisa, o número aumentará para 75,7 milhões de gamers – que devem gerar US$ 1,5 bilhão em negócios. EVENTOS
Muito populares no Brasil, as feiras Comic Con e Brasil Game Show (BGS) também atraem a atenção de milhares de jovens e adultos pela diversidade de conteúdos e novidades do mercado. “São eventos indispensáveis para quem ama essa cultura, repletos de coisas que amo e pessoas com que me identifico. Me sinto no meu próprio mundo”, declara o designer gráfico Matheus Gabriel. “A cultura geek é importante porque transformou o que antes era motivo de bullying em algo para se orgulhar.”
PARA A EDUCAÇÃO
Hábitos de consumo e vida favorecem formação intelectual Gabriela Ferraz
Você é ou conhece algum nerd? Se a resposta for sim, mas sem muita clareza do que define o perfil dessa pessoa, melhor explicar. Nerd – termo mais antigo que geek – significa uma pessoa muito dedicada aos estudos, que exerce atividades intelectuais muitas vezes inadequadas para sua idade. Esses interesses fora da curva estimulam habilidades ligadas ao gosto por games,
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livros, filmes, séries, ciência e computação. Ou seja, tudo a ver com educação. Em relação próxima está o geek, variante pop do nerd. Este público consome mais tecnologia e propõe uma cultura saudável, respeitosa e sem competição. Entre as esferas de interess estão tecnologia, inovação, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, histórias em quadrinhos e objetos culturados. Com o avanço da internet, não é raro haver con-
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fusão na hora de divulgar ou mesmo aderir a uma das identidades. No entanto, os geeks podem ser vagamente descritos como entusiastas, obcecados por coisas modernas; já a cultura nerd se associa à intelectualidade e à erudição em áreas definidas; concentram-se em adquirir conhecimento profundo em um tema. “A internet popularizou esses conteúdos por meio dos acessos individualizados”, afirma a professora uni-
versitária e pesquisadora Érika Caramello. Jesse Rodrigues, 27 anos, professor de inglês, diz fazer parte da cultura geek. Atualmente, com a rotina de estudos e trabalho, diz que tem como vícios jogos digitais e filmes. O estímulo veio de seu irmão mais velho, que sempre leu quadrinhos. De acordo com ele, hoje há a contribuição da tecnologia – algo menos presente nos tempos de escola. “Não tinha tanto contato. No colé-
gio, quando havia, era livro. Hoje, por exemplo, temos muitos canais de streaming.” A faixa etária dos geeks se distribui, regra geral, dos 14 até os 34 anos e dialoga bem com o mundo acadêmico. Os filmes de super-heróis e histórias em quadrinhos (HQ), assim como as séries, circulam e são consumidos ao longo da formação de crianças e adolescentes. Com isso, um dos caminhos para as escolas é capacitar profissionais da educação
em questões referentes à criatividade, ao uso de tecnologias e à inovação dentro desse universo. O professor Jesse Rodrigues acredita que estratégias e ferramentas digitais, quando combinadas a referenciais da cultura geek, levam a um resulto positivo. “Muitas histórias nos dão uma percepção de sociedade, uma visão de mundo que falta no dia-a-dia, nos fazem enxergar coisas que nunca imaginamos.”
PROFISSÃO: GAMER
Indústria de jogos move bilhões, mas e-sports engatinham no País Pixabay
Jogadores fazem carreira como influenciadores ou atletas
Rendimento no Brasil ainda está abaixo da média Rodrigo Calado
Passar a noite inteira acordado em frente a uma tela de computador. Acordar tarde em quase todas as semanas do ano. Dividir-se entre uma rotina desgastante de bajulação do público e de introspecção por trás da tela. Enquanto, para muitos, esse estilo de vida está
longe de parecer o mais saudável, para outros é uma profissão – em alguns casos, bastante lucrativa do ponto de vista financeiro. Embora a carreira de gameplayer ainda engatinhe no Brasil, já existem grupos que são assalariados e, às vezes, chegam a disputar premiações internacionais,
cujos valores – que giram em torno de R$ 936 mil – são de fazer inveja a muita gente com diploma universitário e pós-graduação. Como nos esportes físicos ou concretos, os jogadores são bancados por patrocínio, têm centro de treinamento e integram as equipes que contratam desportistas estrangeiros – no caso, especialmente da Coreia do Sul, considerada a Meca dos esportes eletrônicos. Para os mais experientes, os rendimentos mensais fixos chegam a R$ 10 mil. Mas, em comparação ao que se paga lá fora, esse valor ainda é tímido. Enquanto aqui poucos conseguem viver de videogame, os jogadores com melhor ranking no exterior
movem milhões em premiações e em produtos licenciados. São como atletas comuns, mas focados nos e-sports, os já famosos esportes digitais. Levantamento feito pelo site esportsearnings.com, com base no noticiário especializado, aponta que o sul-coreano Lee Jae Dong lidera a lista dos gameplayers mais reconhecidos, com US$ 523 mil em prêmios de competições, sem contar contratos de patrocínios e transmissões ao vivo. Não por acaso, trata-se de uma carreira cobiçada por muita gente. “Para uma pessoa que nunca trabalhou, o salário é muito bom”, avalia Leonardo Camícia, membro do clube Big Gods, especializado no
jogo de computador League of Legends (LoL). O paulistano Eduardo Benvutini, de 32 anos, é um ponto fora da curva. Não imaginava que poderia ganhar dinheiro fazendo vídeos de si mesmo jogando videogame no YouTube. Era analista financeiro de uma empresa em São Paulo e estava esperando uma transferência de trabalho para Dallas, nos Estados Unidos. À época, jogava muito Call of Duty. Procurou na web alguns sites com vídeos do jogo. Acabou encontrando um bom material em páginas estrangeiras. Gostou da experiência e, então, teve a ideia de fazer o mesmo trabalho, porém em português. Criou o canal BRKSEDU, que conta
hoje com 7 milhões de inscritos. “Quando comecei, queria ver se alguém assistiria. Nem pensava muito em público. Não tinha a menor ideia de que era possível ganhar dinheiro e publicidade com isso”, conta Benvutini. Hoje, o youtuber tem uma carreira de sucesso. Quando está em algum evento de games, uma legião de fãs costuma cerca-lo. É agenciado por uma equipe que o ajuda a fechar publicidade e conta com um funcionário para auxiliá-lo nas gravações e edições. Atualmente, a indústria de games movimenta R$ 4 milhões no Brasil. Trata-se do 13º maior mercado do mundo, que se tornou ponto de atração para as multinacionais no País.
O peso dos acordos corresponde a 40% dos US$ 906 milhões, devido à entrada contínua de empresas, clubes e esportistas no setor Segundo estudo da consultoria Newzoo, o setor de gameplayers deverá gerar US$ 906 milhões em 2018. Esse número representa uma valorização de 38,2% em relação ao ano passado
Os e-sports serão uma modalidade oficial nos Jogos Asiáticos de 2022, na China. O Alibaba Sports Group, da gigante Alibaba, anunciou uma parceria de US$ 150 milhões com a Federação Internacional de e-sports (IESF)
O patrocínio ainda segue como a principal fonte de renda dos jogadores, com uma expectativa de faturamento de US$ 360 milhões, aumento de 53,2% em comparação a 2017
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RPG
Curiosidades do RPG
Versão de tabuleiro do jogo de ação está de volta Após viver seu auge nos anos 1970, modelo sobrevive com novos adeptos
Desde seu lançamento em 1974, o primeiro sistema de RPG já tem cinco edições diferentes. Dungeons & Dragons também chegou à web, ganhando versão online
Na série “Stranger Things”, da Netflix, os personagens principais jogam D&D
Dados de lados variados são comumente utilizados nos jogos de RPG: na imagem ao cima, as populares versões de 20 lados Fernanda Lourenço
O famoso desenho “A Caverna do Dragão”, de 1986, na verdade se chamava Dungeons & Dragons
No Brasil, a principal editora com foco em jogos de RPG, além de literatura de fantasia e história em quadrinhos, é a Jambô
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Criatividade, imaginação, dados, jogadores e um mestre. Esses são alguns dos elementos principais para começar um jogo de RPG de tabuleiro, também conhecido como “de mesa”. O Role Playing Game (RPG) – ou, em português, Jogo de Interpretação de Papéis – surgiu em 1974 com o famoso jogo Dungeons & Dragons, o primeiro sistema de RPG de mesa a ser criado. No RPG, é necessário ter jogadores que interpretem personagens imaginários em diferentes cenários fictícios, como paisagens futuristas, medievais e espaciais e histórias de vampiros. Não há um roteiro a ser seguido; cada personagem é livre para seguir
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suas escolhas – porém, há regras. Quem conduz o jogo é o mestre, responsável por narrar a aventura, desafiar e dar recompensas aos jogadores. Alguns elementos são essenciais para se jogar RPG, como o livro de regras, que irá ditar o sistema de normas a serem seguidas; a ficha de cada personagem, com as características e habilidades do jogador; e os dados de lados variados – sendo o mais comum o de 20 lados –, para testar o êxito das ações dos jogadores. BENEFÍCIOS
“Uma curiosidade sobre RPG é que o jogo em si ajuda a desenvolver muito da própria pessoa que o joga”, conta Luis Gustavo Moreno, designer gráfico, geek e
especialista em RPG de mesa. “Ele exige raciocínio lógico quando rolam os dados, e a interpretação dos personagens estimula imaginação, criatividade e auxilia no controle do nervosismo em relações interpessoais, ao ponto de ser recomendado até para crianças. Isso tudo torna o jogo muito fascinante para mim.” Moreno joga RPG há quatro anos. Hoje com um vasto conhecimento no jogo, atua como mestre em algumas sessões em sua casa. Para o jovem, o entretenimento tem um grau de complexidade moderadamente elevado, sendo até difícil explicar o básico de maneira objetiva. “Dungeons & Dragons, por exemplo, é muito com-
plexo, mesmo nas edições mais recentes”, afirma. SOBREVIVÊNCIA
O RPG teve seu auge entre as décadas de 1980 e 1990, mas ainda hoje, principalmente no universo geek, faz muito sucesso. Na cidade de São Paulo, por exemplo, jogadores se reúnem em pubs nerds, lojas de jogos e também em livrarias, como a Devir, além do Centro Cultural São Paulo. O bar Ludus Luderia, especializado em jogos de tabuleiro, é exemplo disso. O espaço foi criado em 2007 e propõe unir comida, bebida e jogos. Matheus Rossi é um dos clientes da casa e afirma que, normalmente, os jogos de RPG de tabuleiro costumam ter um custo alto e a Ludus, além de trazer mais acessibilidade
para as pessoas que gostam de jogar, mas que não estão a fim de investir em seu próprio kit, também contribui para as relações sociais. “Muitas vezes você chega e não conhece ninguém, aí entra em uma mesa e acaba fazendo amigos. O RPG envolve muito as pessoas nas histórias e isso faz com que haja mais proximidade entre os jogadores”. Grupos no Facebook e canais do Youtube também auxiliam aqueles que gostam de RPG, mas ainda não sabem exatamente como funciona. Essas redes acabam tornando-se locais onde os jogadores podem encontrar outras pessoas e, assim, formar grupos, além de ser um meio de compartilhamento e esclarecimento de dúvidas.
NA PELE DO PERSONAGEM
Cosplayers movem imaginários e negócios Edgar Nascimento
Usar o mesmo traje que o seu personagem pop favorito, imitar as posições e a maneira de falar, tirar fotos com fãs ou até mesmo ir em grupo para o bairro da Liberdade para destilar estilo e personalidade; para quem pertence a esse mundo, todos esses acontecimentos nada mais são do que parte da vida de um cosplayer – a essência da arte de se montar e encarnar um ídolo. “Apesar de ser um assunto tão atual, faz mais de 79 anos que essa cultura existe. Tudo começou mesmo no final dos anos 1930 em um evento que aconteceu nos Estados Unidos, conhecido como Worldcon. Naquela época ainda era tudo mui-
to tímido e reservado, mas foi nos anos 1980, no Japão que esse universo começou a ganhar voz”, conta Suzana Pires, professora de Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM-SP. Hoje, os fãs contam anualmente com eventos como Brasil Game Show, Comic Con Experience e Anime, que proporcionam encontros entre os amantes dessa cultura. O ingresso para quem entra fantasiado, justamente com o intuito de proporcionar entretenimento aos frequentadores, é de graça. “Para mim o cosplay é acima de tudo um hobby. Há pessoas que têm isso como trabalho também”, conta Camila Alves, cosplayer, de 20 anos. “Acre-
dito que quando nos transformamos naquilo que admiramos temos a oportunidade de viver outra vida.” O valor de um cosplay, em média, segundo levantamento da revista Superinteressante, é R$ 950. Mesmo com os altos custos, o número de admiradores cresce a cada ano. “A busca por esse universo pode também ser considerada um refúgio, de abrigo diante de uma realidade social complexa. Na falta de paz, esta arte pode incrementar o campo imagético destes jovens e facilitar não o encontro com a solução de todos os problemas, mas sim uma maneira de tentar lidar com eles e trazer alivio”, aponta a psicóloga Cícera Vilela.
@samanthagarrote
Encarnar um personagem e reproduzir suas atitudes vira compromisso de vida para fãs
Técnicas incluem vestimenta e estudo dos comportamentos e trejeitos
MODA NERD
Reprodução
Influenciadores e marcas ditam padrões estéticos Soraia Victor
Os eventos geeks e nerds pelo mundo são muitos. Só no Brasil, ocorrem cerca de dez por ano – e as atrações são diversas, incluindo torneio de games, debates e palestras sobre tecnologia. Outro destaque são as roupas e fantasias das pessoas que amam dar uma passada nesses eventos. As que mais se destacam são as dos personagens de animes, conhecidos como cosplayers (confira na reportagem acima). Afinal, eles realmente interpretam o papel daquela figura fictícia, combinando o aspecto
Canal digital Omelete TV influencia comportamento e escolhas dos fãs até na hora de se vestir estético às formas de comunicação dos personagens. Mas nem só de cosplay vive o mundo nerd/geek: outras áreas, como as de fantasias
de super-heróis e adereços customizados, se destacam. Muitos padrões estéticos se vincularam a tribos ao longo da história. O emo,
por exemplo, gênero musical conhecido por conta da musicalidade melódica, contém padrões de maquiagem e vestimenta bem definidos. É fácil identificar quem faz parte desse grupo: pessoas que se vestem de preto e usam franjas alongadas e maquiagem intensa no rosto. Da mesma forma, fãs de heavy metal, góticos ou sertanejos têm um estilo próprio de se vestir. Mas e os nerds e geeks? Há, afinal, padrão para eles? Felipe Souza, de 23 anos, é designer e conta que muitas pessoas o chamavam de nerd – não só por conta de sua área de atuação,
que envolvia criação, mas também pela forma como se veste. “Em alguns lugares que trabalhei, as situações eram engraçadas, pois qualquer acontecimento que tinha na mídia, que envolvia a Marvel, as pessoas me contavam e era por conta de eu aparecer às vezes com camisetas de personagens como o Hulk e Capitão América.” O acesso a conteúdos de marcas e segmentos diversos – vestuário, moda casa, acessórios etc. – não só em lojas, mas em canais midiáticos, reforça a construção de uma tribo, mesmo que de modo instintivo. “As minhas inspi-
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rações, que acompanho diariamente, são os meninos do Jovem Nerd. É interessante ver que por conta da roupa, eles influenciam muitas pessoas”, ressalta Felipe. Outro canal digital influente entre jovens é a Omelete TV, derivada do site de mesmo nome. “As pessoas, cada vez mais, buscam se espelhar em alguma pessoa na hora de se vestir. O mais interessante é que elas se reconhecem naquele grupo e a graça da moda é justamente isso: idenficar-se”, aponta Raquel Almeida, estudante de Design de Moda no Centro Universitário Belas Artes.
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Tem rap na Unicamp
PARA O MERCADO
PROA cria projeto que une educação escolar e profissional
Fernanda Castellar
Site oficial
Álbum do Racionais MC´s, de 1997, deverá ser estudado para vagas no ensino superior
“Sobrevivendo no inferno”: agora, obra obrigatória de vestibular concorrido Gabriela Gonçalves
“Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros”. Foi com essa introdução que Primo Preto, produtor musical conhecido na cena do rap nacional, imortalizou uma das introduções mais famosas das músicas dos Racionais MC´s, “Capítulo 4, versículo 3”. Coincidência ou não, em maio deste ano a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgou a lista das obras obrigatórias para o seu vestibular 2019 e, entre elas, quase 21 anos depois de seu lançamento, está “Sobrevivendo no Inferno”, álbum lançado pelo grupo em 1997. Quinto disco da carreira dos Racionais, a obra traz em suas doze faixas denúncias e críticas sociais que se relacionam ao cotidiano vivido pelos jovens pobres e negros que habitam periferias do Brasil. O racismo, a miséria, a violência policial e o encarceramento es-
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tão entre os assuntos – que entristecem e revoltam por permanecer até hoje tão atuais. Embora tenha sido lançado por meio de um selo independente, “Sobrevivendo no Inferno” vendeu mais de 1 milhão e meio de cópias e é considerado pelo ranking da revista Rolling Stone como um dos 100 melhores discos da música brasileira. Entre os sucessos estão “Diário de um Detento”, baseado no diário de um ex-detento do Presídio do Carandiru, “Fórmula Mágica da Paz” e “Mágico de Oz”. Segundo Pê Oliveira, jornalista e pesquisador de música, a obra é um divisor de águas da carreira dos Racionais e da história do rap nacional. “Conseguiu unir todas as quebradas de São Paulo, do norte ao sul da cidade”, relata. RUMO À MUDANÇA
De acordo com Claudio Rosa, professor de Língua Portuguesa em um cursi-
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nho pré-vestibular, a presença na lista de leituras de um vestibular como o da Unicamp mostra que a universidade, local ainda tão distante para muitos que viram a expressão musical do seu cotidiano nos Racionais, tem se modificado, ainda que lentamente. “Isso retrata que fatos históricos, como a escravidão negra no Brasil, passam a ser abordados como um dos critérios básicos para que o aluno reflita antes mesmo de ingressar na universidade”, analisa. O álbum dos Racionais está elencado na categoria poesia. “É quase impossível mensurar o grau da importância desse álbum para o jovem que cresceu entre os anos de 1980 e 1990 na periferia de São Paulo”, reflete Pê. “Essa foi a primeira representação nossa que conversava diretamente com a gente, porque era gente que vinha do mesmo lugar que nós, falando sobre nós.”
O Instituto Proa, organização sem fins lucrativos fundada em 2007, inicia um projeto-piloto de interesse público voltado à formação de jovens para o mercado profissional. O Da Escola ProTrabalho tem como objetivo aumentar a empregabilidade de adolescentes da rede pública por meio de treinamentos e práticas desenvolvidas na própria escola onde o aluno estuda. O programa atua durante o contraturno escolar e oferece aulas sobre habilidades técnicas como comunicação, matemática e administração, além de auxiliar na construção e no desenvolvimento do plano de carreira, do projeto de vida e na formação socioemocional. Segundo
a coordenadora de projetos educacionais Naiara Martins, as aulas ampliam a visão dos alunos. “Os jovens ganham maturidade com os estudos e passam a se ver como indivíduos e protagonistas de seus próprios destinos.” MAIS INTERESSE
A coordenadora conta que, após ingressar no programa, os alunos passam a se interessar mais pelo ensino escolar. “Quando eles participam das aulas do projeto demonstram um comportamento diferente, dão valor ao curso e às chances de empregabilidade”, alega. “Notamos que, com isso, os jovens ficam mais preocupados com sua educação. O número de faltas cai e muitos acabam vendo a escola como uma
oportunidade de entrar na universidade.” Marcelo Martins é formado pelo ProProfissão, principal programa desenvolvido pelo instituto. Atualmente, ele trabalha na Stone Company e conta que o Proa o ajudou tecnicamente e, também, no desenvolvimento pessoal. “A experiência ajuda a gente a se descobrir, encontrar pontos fortes para utilizá-los e reconhecer pontos fracos para desenvolvê-los”, alega. A coordenadoria do Proa pretende alcançar cerca de 200 alunos em 2019 com o Da Escola ProTrabalho. Atualmente, o projeto-piloto atende 82 alunos em duas escolas na região oeste de São Paulo, a E. E. Andronico de Mello e a E.E. Pedro Fonseca.
REPRODUÇÃO
Inseminação artificial oferece novas rotas à maternidade Lais Marson
A reprodução independente tem ganhado maior visibilidade nos últimos meses. A opção de atrizes e cantoras pelo procedimento gerou discussão moral e religiosa na internet, principalmente nos casos em que não havia um parceiro. O assunto ainda levanta polêmica – mesmo que não deva ser propriamente um tabu no Brasil do século XXI. Com a ajuda da ciência, tanto mulheres que não possuem um cônjuge quanto casais homoafetivos podem ter um filho a partir da reprodução assistida. Para mulheres com problemas
para engravidar ou acima de 40 anos, a fertilização in vitro é a melhor opção. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres solteiras que buscam a reprodução independente tem crescido, assim como o de famílias formadas por mulheres sem parceiros e com filhos (56,7%). “Tive problemas para engravidar e busquei ajuda”, diz Mariana Serra Franco, 26 anos, empreendedora e hoje casada. “Se o tratamento não tivesse dado certo nossa opção seria a fertilização assistida.”
A mulher que deseja esse tipo de reprodução deve realizar exames para uma checagem de como está a parte reprodutiva de seu corpo e adquirir sêmen em bancos americanos ou europeus com escritório no Brasil. Informações disponibilizadas pela clínica, fotos e fenótipos são usados na escolha do doador. “Muitas solteiras estão buscando o procedimento, pois querem ser mães, mas não possuem um parceiro. Casais de mulheres também procuram bastante as clínicas”, afirma José Geraldo Aguiar, médico e especialista em reprodução humana.
EDUCAÇÃO+SAÚDE
Programa busca reforçar conhecimento sobre o diabetes
EAD
Método pode afetar crianças com deficiência Lais Evelyn De acordo com o IBGE, cerca de 24% da população brasileira é deficiente e quase 2 milhões de pessoas têm autismo. Para dar impulso à formação adequada dessas pessoas, a tecnologia é uma forte aliada; no entanto, também pode ser uma barreira para a inclusão. Nas últimas semanas, professores e políticos levantaram a questão do ensino a distância nas escolas; o assunto está, por exemplo, tratado na plataforma do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que propõe a expansão do EAD para crianças a partir de seis anos. Para o psicólogo Anderson Clemente, porém, esse sistema pode ser pouco eficaz para pessoas com autismo. “A tecnologia contribui para o fortalecimento do aprendizado nos colégios. Entretanto, o espaço criado entre professores e
Luana Amorim
Mudança de hábito é eficaz para o tratamento da doença Luana Amorim
Conscientizar os portadores de diabetes da importância da doença, defendendo o autocontrole e a prevenção de complicações crônicas, é o foco do processo de educação em diabetes. A prática merece atenção no Brasil: atualmente, segundo a Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (Anad), mais de 425 milhões de pessoas vivem com a doença. A mudança de hábitos e o desenvolvimento de cuidados especiais são requisitos para portadores de diabetes. Para assegurar um resultado efetivo, é preciso conduzir o paciente por meio de uma metodologia de mudança de comportamento em cinco estágios. “Para cada estágio existem ferramentas específicas, que podem ser usadas durante o atendimento
Nutricionista Silvia Ramos, integrante da Sociedade Brasileira de Diabetes para levar o indivíduo de um grau para o outro. São apresentados os riscos e benefícios dos hábitos que a pessoa com diabetes possui e, a partir disso, o profissional retrata um balanço dessas decisões”, comenta a nutricionista Silvia Ramos, membro da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e colaboradora do Grupo de
Educação e Controle do Diabetes (GECD). “É necessário que o próprio paciente visualize essas questões para que consiga dar passos em direção ao próximo estágio de mudança.” EM ALTA
A doença teve uma taxa de crescimento de 61,8% nos últimos 10 anos, se-
gundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e a tendência é que aumente. Educação para a prevenção é um caminho para mitigar riscos e custos em saúde pública na área. De acordo com a Lei Federal 11.347/2006, as unidades básicas de saúde (UBS) devem oferecer insumos necessários para o tratamento e para o programa educacional. No entanto, muitos pacientes somente retiram a medicação sem receber orientações para uma melhora do quadro. “Sempre pego minha medicação no posto de saúde, mas não faço nenhum acompanhamento além das consultas médicas. Agora que sei que é Lei, vou procurar melhor sobre isso e ir atrás dessas orientações, quem sabe assim eu conviva melhor com a doença”, conta a usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) Maria Domingas dos Anjos.
alunos nesse tipo de ensino dissemina a inclusão social”, afirma Anderson. “É importante que a criança viva em sociedade, tanto para sua formação como pessoa quanto para a formação das outras pessoas como cidadãos.” Segundo Eliane Queiroz, mãe de Carlos, 4 anos, autista, ter um filho nessa condição requer mais cuidado e atenção. As mudanças ocorrem rapidamente. Por esse motivo, é importante ter a participação de outras pessoas para o que o ensino a distância dê certo. “Ele é um menino muito inteligente, porém, seu desenvolvimento é totalmente diferente se compará-lo com o das outras crianças”, comenta Eliane. “A minha preocupação não é que ele não se desenvolva nas tecnologias, mas sim que não se aproxime das pessoas”, ressalta, destacando a importância da convivência física com outras crianças.
COM A MENTE Nathalia Fanti
A organização sem fins lucrativos Centro Educacional Assistencial Profissionalizante (Ceap), que oferece cursos técnicos gratuitos para mais de 800 jovens entre 10 e 18 anos, desenvolve desde o início deste ano o projeto “Movimente com a Mente”. Com base na tecnologia e na robótica, a ideia é que pessoas com deficiência sejam capacitadas para manusear objetos por meio de impulsos magnéticos. A iniciativa nasceu para
implementar um estudo científico da área de Engenharia Biomédica, denominado BCI (do inglês Brain Computer Interface) – uma espécie de canal de comunicação estabelecido entre o indivíduo e a máquina. O mecanismo possibilita a transmissão de intenções de um usuário ao meio externo, sem o uso de meios convencionais como teclados, mouses e telas sensíveis. “Em nossa pesquisa, utilizamos apenas sensores não invasivos para a detecção de sinais cerebrais. A partir da
concentração do indivíduo, podemos controlar a velocidade de um carrinho de controle remoto sem meios externos. Ou seja, o controle será a própria mente do indivíduo”, comenta Marcos Fernando, engenheiro e orientador do projeto. Fabricantes de componentes eletrônicos desenvolvem, hoje, tecnologias para captar os sinais que o cérebro transmite; no entanto, em sua maioria, as ferramentas são extremamente caras. Com o objetivo de ajudar pessoas com trans-
torno de déficit de atenção e cadeirantes que não têm locomoção adequada, alunos de apenas 15 anos do Ceap desenvolveram o seu próprio circuito com a importação do chip neurosky, que também é eficiente e tem custo mais adequado. “Para pessoas com dificuldade de locomoção, queremos facilitar nas dificuldades existentes no dia a dia, como acender uma luz ou abrir uma janela. Já para as pessoas que possuem transtorno de déficit de atenção, nosso projeto
Marcos Fernando
Tecnologia promete dar mais mobilidade a pessoas com deficiência
Alunos integram projeto do Ceap seria como uma espécie de treino, algo que exigisse mais foco e concentração para movimentar o carrinho”, declara o aluno Rafael Dana Gil, um dos quatro envolvidos na criação da tecnologia.
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O projeto segue em fase de testes; ainda não houve a possibilidade de testá-lo em pessoas com deficiência. A ferramenta deve ter aplicações para pessoas tetraplégicas ou com restrições de movimentação.
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ARTES
Experiência na alma e nas telas Daniele Gois
Após ser deportada dos Estados Unidos, artista potiguar avançou na conexão entre pintura e literatura Daniele Gois
Yohanna de Oliveira é uma jovem artista que vive em São Paulo - como muitos por aqui, correndo atrás de seus sonhos. Trata a cidade cinza como um de seus lugares favoritos - depois de Nova York, cidade que alimentou seu imaginário e em nome da qual chegou até a ser deportada. Nascida em Mossoró (RN) e hoje com 24 anos, a artista é independente e cria suas telas com uma inspiração única: o mapa-múndi, paisagens e o céu azul. Não afirma ter cores favoritas, pois sua motivação emana dos momentos que vive e das situações que enfrenta, apesar de sempre se voltar para o azul. A formação de Yohanna é em Arquitetura. Após
Yohanna em seu estúdio concluir o curso, conseguiu bolsa para estudar em Madri, na Espanha, e trabalhou como estagiária em um escritório localizado em Barcelona. Na Europa, onde residiu, a artista viajou por diveros países e cidade, o que foi favorá-
vel para a sua inspiração como pintora. Nesse período de estudos, também se ofereceu como voluntária em um projeto no Havaí. Suas obras são de diversos tamanhos, mas cada uma possui uma finalidade e uma intensidade. “Existem telas que demoram meses para ser feitas, outras demoram horas, outras dias. Às vezes, a intensidade do processo cria algo lindo, às vezes estraga”, relata. “Cabe ao artista determinar que a tela faz parte da sua rotina.” DE VOLTA PARA CASA
Recentemente, Yohanna passou por uma experiência extrema: foi deportada dos Estados Unidos de volta ao Brasil quando decidiu fazer uma viagem para Nova York. A imi-
gração entendeu que a artista buscava asilo no país estrangeiro e não permitiu que ela residisse na cidade de seus sonhos. “Estou digerindo tudo o que aconteceu com calma, grata por ter acabado. Sigo com alegria e expectativa pelo futuro incrível que tenho pela frente”, afirma Yohanna, que está de volta a São Paulo dando continuidade aos seus trabalhos. Durante o período em que ficou presa, a artista utilizou seu tempo para escrever sobre tudo o que estava vivendo e sobre as histórias das mulheres ao seu redor. “Uma das melhores sensações foi a de ter tido a capacidade de compilar vários meses de trabalho em um livro que vai me acompanhar até o ano que vem”, informa.
IPIRANGA
Museu Paulista: obras seguem até 2022 Larissa Porto
Com o passar dos anos, o homem vem escrevendo suas próprias histórias no tempo. Um bom exemplo está nos museus e exposições. O Museu do Ipiranga, que conta um pouco da história do Brasil, é um deles: leva dentro de sua estrutura mais de 450 mil objetos para contá-la. O local está fechado desde 2013 para passar por reforma depois de serem constatados problemas de manutenção. Inaugurado em 1892, o edifício com visual de palácio foi planejado e arquitetado como um símbolo comemorativo pela independência do País, em 1822. De acordo com Solange Ferraz de Lima, diretora do museu, o laudo do úl-
timo diagnóstico realizado não apresentou sérios problemas na estrutura do prédio. As obras devem custar entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões e serão custeadas por empresas que tenham interesse em investir em arte. Para o professor de Antropologia Marco Aurélio Braga, o Museu do Ipiranga é uma referência importante não só para a cidade de São Paulo, mas para o País. “Ele está ligado à nossa história; lá encontramos evidências como fotos e objetos importantes. Tudo isso faz parte da formação de estudantes e é muito importante para todas as pesquisas.” A previsão é que o museu seja reaberto em 2022, coincidentemente, ano do bicentenário da Independência do Brasil.
PARA ADMIRAR
Débora Gabrich
Culinária artística: ramo entra na mira dos fotógrafos Michelle Luana
O ato de cozinhar é considerado arte por ser mais que uma equação em que determinada quantidade de ingredientes é transformada em um prato apreciável. Para ser um chef, não é necessária formação em gastronomia; no entanto, o curso contribui para se aprender técnicas e sabores dos alimentos. Cozinheiros que aderem às técnicas artísticas têm em seu arsenal uma biblioteca mental de sabores. Eles guardam na lembrança o gosto de muitos ingredientes que degustaram durante anos e projetam um sabor que teria
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produção – da temperatura da comida à história dos temperos – para que possa ser executado da melhor maneira possível. EXPERIMENTAÇÃO
Prato da Cozinha de Sofia: arte + gastronomia uma possível interação entre os selecionados para suas criações. Isso acontece para que fique mais evidente a ligação entre culinária e o conceito da obra. Cabe ao cozinheiro preparar as ideias para elaborar um prato que
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logo não existirá mais; a comida sofrerá mudanças físico-químicas, e a lembrança e o ideal da experiência culinária são o remanescente. A gastronomia no meio artístico é pura estética. Tudo é estudado antes da
Os projetos elaborados pelo artista Victor Nunes são feitos com alimentos, espumas de café, tecidos, torrone e chocolate, transformando-os em outras formas inusitadas de escultura e desenho. Ele realiza trabalhos profissionais com esse segmento artístico para publicações em vários países além do Brasil, como Holanda, França, Eslováquia e Rússia. Atualmente, aguarda a finalização de um livro com
as peças que será lançado em Londres. “Sempre brinquei com imagens usando alimentos, objetos do dia-a-dia e outros itens inusitados. Foi por meio da internet que comecei a ter uma atividade muito mais dinâmica. Criava, fotografava e postava no Facebook... coisa rápida. E aí vinham os comentários que me animavam a continuar. Para mim, isso virou e ainda é uma brincadeira, uma diversão e uma grande terapia”, relata Victor. IMAGENS
Para melhor fixação da experiência, a fotografia gastronômica entra em
cena para “eternizar” os pratos e obras. Segundo a fotógrafa Débora Gabrich, a preparação para as fotos é um processo que inclui o estudo de redes sociais e cardápios do cliente e a busca de referências. “A minha entrada no mercado de fotografia gastronômica também foi muito orgânica e bem natural. Comecei a fotografar os pratos, a compor o cenário e a testar a luz; acabei me apaixonando”. De acordo com ela, esse tipo de trabalho exige planejamento e criatividade para alcançar resultados atraentes, de acordo com o objetivo do projeto.
DANÇA
Ballet de Cegos atende mais de 300 alunos Larissa Fernandes
Projeto para deficientes visuais tem mais de 20 anos de história e acumula apresentações internacionais
Larissa Fernandes
Hoje responsável por projetar globalmente a dança brasileira, o Ballet de Cegos foi fundado em 1995 por Fernanda Bianchini, que começou a ensinar alguns passos no Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo. A ideia surgiu após convite de uma das religiosas, que lhe propôs ministrar aulas de ballet clássico para alunas com o intuito de motivá-las por meio da cultura. Exercícios de pilates e fisioterapia fazem parte da grade de atividades da associação; a ideia é reforçar a saúde e o bem-estar dos bailarinos. Fernanda começou a desenvolver seu próprio método de ensino: o aprendizado da dança clássica por meio do toque e da repetição de movimentos, caracterizado pela sensibilidade artística. A artista é
Bailarinas ensaiando em estúdio do projeto pioneira nesse método de ensino e aprendizagem. Resultado dessa trajetória, a Associação Fernanda Bianchini – Cia Ballet de Cegos é a única associação de ballet para cegos do mundo; tornou-se conhecida mundialmente por incentivar a integração entre deficientes visuais, com grupos que realizaram apresentações na Argentina, na Inglaterra,
na Alemanha e nos Estados Unidos. Hoje, eles se preparam para mais uma apresentação no exterior. O projeto que conduziu a vida de Fernanda vai além de ensinar passos de ballet. Segundo ela, a missão é disseminar recursos que atinjam e favoreçam a participação social, com base em valores como empatia, compromisso, perseverança e respeito.
“Quero que elas sejam aplaudidas por sua disciplina, por seu talento e por dançar com qualidade, como artistas, e não porque não enxergam da mesma forma do que nós”, afirma. “Aqui, não temos indefesas deficientes visuais recebendo caridade, aqui tem bailarinas profissionais que aprendem e também ensinam”, conta Fernanda Bianchini. A Cia Ballet de Cegos é mantida por doações de pessoas físicas, empresas e apresentações motivacionais. Atende 336 alunos gratuitamente, de três anos à terceira idade, e as vagas se distribuem entre deficientes visuais (60%); deficientes de outros tipos, como motor, mental e síndromes (30%); e alunos sem deficiência, para exercitar a inclusão mútua (10%).
BELEZA
Maquiagem artística vive fase de expansão Carla Silva
O mercado da maquiagem e de beleza cresce de maneira disparada nos últimos anos. Responsável por movimentar mais de R$38 bilhões por ano no País, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), tem aumento no número de registros de microempreendedores individuais (MEIs), com
crescimento de 567%, passando de 72.309 para 482.455 em janeiro de 2016, segundo dados do Sebrae. Com o aumento de blogueiras de beleza, uma tendência se torna mais visível: maquiadores artísticos protagonizam redes sociais e aquecem ainda mais o setor. Eles não são lembrados só em épocas de festas a fantasia; pelo contrário, têm ocupações durante o ano todo. A maquiagem artística
começou mesmo nas passarelas, em que os profissionais faziam seus trabalhos em modelos com propostas inusitadas, que dialogam com temas de desfile. VISIBILIDADE
Hoje, redes como o Instagram permitem a maquiadores conquistar espaço no segmento. É o caso da artista francesa Audrey Logeais, que transforma a si mesma e a seus amigos em vilões
da Disney e Mimi Choi. A maquiadora tem pouco mais de 276 mil seguidores no Instagram. Segundo o site Piso Salarial, um maquiador de cinema ganha em média R$ 3.049,03 por mês – isso para um maquiador contratado. No entanto, se o profissional for um autônomo ou pessoa que faz maquiagens em salão, eventos ou estúdio de fotos, os ganhos podem até dobrar.
TRADIÇÃO
Cinemas sobrevivem nas ruas da cidade Priscila Sales Cheias de boas histórias pra contar, as famosas salas de cinema de São Paulo foram inauguradas há cerca de 120 anos – e, a duras penas e contrariando o senso comum, sobrevivem. Exemplo é o tradicional Cine Marabá, que abriu suas portas pela primeira vez em maio de 1944 e hoje é o mais antigo em funcionamento na capital. Para quem prefere filmes mais alternativos, o Caixa Belas Artes, também localizado na região central, possui seis salas, cada uma com o nome de um artista brasileiro. Foi inaugurado em 1967 e exibe documentários e longas nacionais e internacionais. Recentemente, recebeu o
título de patrimônio histórico e cultural da cidade. Com um estilo mais intimista, o CineSala, aberto em 1962, ainda mantém o ar vintage do século XX, disponibilizando até camas para quem realmente quiser se sentir em casa. “As opções de filmes geralmente fogem do circuito tradicional, trazendo aquela nostalgia dos pioneiros no cinema de anos atrás”, diz Karin Ono, crítica de cinema e estudante do mesmo curso na Universidade São Judas. Para quem quer fugir um pouco do circuito de filmes hollywoodianos, a Reserva Cultural tem tradição alternativa. A sala na região da avenida Paulista exige somente filmes estrangeiros e produções independentes.
ARTESANATO
Feiras de artes dinamizam bairros Vanessa Nunes Conhecida por sua diversidade cultural, São Paulo vem utilizando cada vez mais frequentemente espaços públicos para exposições artísticas, comércio de produtos e gastronomia. Muito comuns nos bairros da cidade, as feiras de arte oferecem comércio de variadas formas artísticas, quadros, artesanatos e antiguidades junto com apresentações de músicas e teatro. Entre as feiras mais frequentadas hoje estão as da Vila Madalena, do Trianon-Masp, da Praça
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Benedito Calixto e da Liberdade; no entanto, nos bairros mais afastados do centro estão sendo formadas novas oportunidades de exposições para artistas e entretenimentos para as famílias. Para os moradores, as feiras representam a prosperidade dos bairros; para os artistas, novas oportunidades de negócios. “Para o bairro é importante, as pessoas podem se reunir para passear. Não é uma feirinha que pretende trazer as pessoas de longe, ela atende mais os moradores”, afirma Claudia Andrade, vendedora de automóveis na cidade.
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ESPORTE E LAZER
Suéllen Brandão
Visitantes aproveitam para fugir da correria da cidade
Grupo praticando tai chi chuan: atividades propõem conexão com o ambiente Fernanda Alves e Suéllen Brandão
Na região de Cotia, grande São Paulo, o maior templo budista da América Latina, conhecido como Templo Zu Lai, é uma opção para quem quer sair do estresse da capital e dedicar um tempo para a prática do tai chi chuan, arte marcial chinesa reconhecida como forma de meditação em movimento. Com uma arquitetura voltada ao Oriente, o lu-
gar é um retiro espiritual e ponto turístico para quem quer conhecer mais a filosofia budista e admirar a arte oriental espalhada pelos jardins do santuário. “No budismo, a natureza faz parte do processo meditativo e sua concentração é repleta de significado, além de trazer uma energia de paz para quem visita o templo”, diz Aristides dos Santos, administrador e ex-aluno.
Além das paisagens, o local conta com uma loja de produtos budistas, uma cafeteria e um restaurante que é aberto somente aos sábados, domingos e feriados. A gastronomia é 100% vegetariana. “Temos que ter cuidado com o que ingerimos. Budistas devem evitar comer carne e beber álcool, por isso os restaurantes são vegetarianos. É uma boa opção para quem deseja conhecer
essa arte culinária”, afirma Aristides. “Tento vir ao templo pelo menos duas vezes ao ano. Mesmo não sendo budista, o lugar me traz uma sensação de paz e conforto. Tiro esses dias para relaxar longe da loucura de São Paulo”, conta Celia Dias, professora. Junto com o marido, ela participa da aula de tai chi chuan e frequenta cerimônias no local.
Chegue lá O templo fica a 30 quilomêtros da capital, pela rodovia Raposo Tavares. Se optar pelo transporte público, todos os domingos um ônibus fretado sai da estação Liberdade do metrô e leva direto ao templo, no valor de R$15 (ida e volta).
INFRAESTRUTURA
Conservação precária afeta Parque do Carmo Cintia Santos e Paula Prata
Com extensa área verde no eixo leste da cidade, o parque do Carmo é um dos locais mais frequentados na região por possuir programação gratuita e ser aberto ao público. No entanto, questões relacionadas à segurança e à falta de iluminação têm deixado frequentadores insatisfeitos. “É um parque bem limpo, mas na minha visão o que falta é a ilumina-
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ção para quem corre à noite e muito cedo pela manhã. Além disso, a administração não contrata segurança”, diz a boleira Sueli Pereira, de 53 anos. “A área de corrida é um pouco mais isolada. Falta manutenção nos brinquedos, também: quando passo por lá, tem sempre alguns quebrados.” Apesar dos problemas, quem visita consegue enxergar vantagens. “O espaço é bem amplo e tem lugar para levar as
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crianças para brincar, tem área para quem quer descansar, para quem quer correr e fazer piquenique, além do planetário – que é de graça”, afirma a dona de casa Roseli Gomes, de 44 anos. “É a melhor opção de diversão aqui na região.” CUIDADOS
Após repercussão de denúncias quanto à manutenção do parque, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Am-
biente, responsável pelo Parque do Carmo, comentou que a segurança é feita por 60 agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Com relação à falta de iluminação, o parque recebeu recentemente 464 lâmpadas novas de luz branca. Sobre a falta de manutenção nos brinquedos, uma licitação está em andamento para ampliar o número de equipamentos e fazer vistorias no local.
Sem regulamentação, patinetes elétricos operam em SP Bianca Senhoreli e Micaela Santos
As startups que investem em soluções para o transporte vêm ganhando cada vez mais espaço nas grandes cidades. Na onda das bicicletas compartilhadas, patinetes elétricos lançados pela empresa Yellow já podem ser encontrados na região do Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo. Febre em países como França e Estados Unidos, os patinetes motorizados estão em testes de serviços de compartilhamento na cidade, mas ainda terão desafios para virar um meio de transporte tão popular quanto as bicicletas. As normas para que essas startups de mobilidade operem em São Paulo ainda são pouco esclarecedoras. Usuários começam a testar o patinete para alcançar locais mais distantes. Para fazer a retirada do item e dos equipamentos de segurança, é necessário assinar algumas fichas, além de cadastrar-se pelo aplicativo. Também se deve devolver tudo até as 19h30 no mesmo local da retirada. “Tem virado um hábito do meu departamento de, pelo menos uma vez a cada 15 dias, alugarmos o patinete para ir almoçar em um lugar
mais distante”, conta Diego Paixão, que trabalha no Itaim Bibi ao lado do prédio que acolhe o serviço. REGULAMENTAÇÃO
Com essa agilidade e a possibilidade de ir conhecer novos lugares no horário de almoço, o patinete passou a ser uma opção para Diego e para seus amigos. “O aplicativo é super rápido para a compra do crédito, o único problema é que temos que devolver cedo.” De acordo com a legislação brasileira de trânsito, ao trafegar com patinetes elétricos, o usuário precisa respeitar a velocidade máxima de 20km/h em ciclovias e ciclofaixas. Já em calçadas, a velocidade permitida é de até 6km/h. Em nota, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes (SMT) informa que “não há regulamentação vigente para a utilização do espaço público para o uso de sistemas de compartilhamento de patinetes na cidade de São Paulo”. O órgão ressalta, ainda, que está iniciando uma discussão com organizações interessadas. Para usar o espaço público, diz a pasta, as empresas privadas devem ter autorização.
Instagram: Diego Paixão
Espaço promove a prática do tai chi chuan
LIMBO LEGAL
Grupo adepto do patinete: prática segue sem normas
PONTO DE VISTA
Um quilombo no centro de São Paulo Jornalista e mestre em Ciências Políticas, Felipe Brito é o idealizador da Ocupação Jeholu Um espaço construído para pensar, sentir e resistir a partir das visões civilizatórias dos terreiros de candomblé. É desta forma que a Ocupação Cultural Jeholu se orienta. Instalada na Rua do Triunfo, número 301/305, no centro da capital paulista, foi idealizada pelo jornalista Felipe Brito, que é também cantor lírico e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Mogi das Cruzes. Em entrevista ao Expressão, Felipe ressaltou a importância de resgatar e valorizar o protagonismo narrativo do povo negro. Além disso, definiu o espaço como um lugar de cura e acolhimento para quem tem feridas abertas pela luta antirracista no Brasil. O nome “Jeholu” faz referência ao Orixá Obaluawiye, dinvidade ligada à cura e à vida, às doenças e à morte. É o deus ao qual Felipe é consagrado há 20 anos no candomblé. A ocupação foi fundada em agosto deste ano e já realizou cinco rodas de conversa, dois recitais líricos com cantores negros, duas rodas de samba e mais a apresentação de abertura, com atividades semanais. Expressão: O que motivou a criação da Ocupação Cultural Jeholu? Felipe: A ocupação nasce da necessidade de se discutir o enfrentamento ao racismo a partir da visão de mundo dos terreiros, das matrizes africanas. Sobretudo, com o objetivo de promover a intersecção entre diversas áreas de atuação dos saberes e fazeres, tanto intelectuais quanto artísticos, que apresentam e representam o universo da cultura preta e antirracista. Expressão: Qual o significado de “Jeholu”? E por que essa escolha? Felipe: Quer dizer senhor das pérolas. É um título dado ao orixá Obaluawiye, divindade ao qual sou consagrado, pela sua mãe de criação Iemanjá. E representa a riqueza e a soberania desta divindade ligada à cura, às doenças, à vida e à morte. É o responsável por
Bruno Nascimento
Hysabella Conrado
Felipe durante a inauguração da Ocupação Cultural Jeholu, em 7 de agosto deste ano curar os enfermos. A escolha se dá pelo fato de a ocupação ser um espaço não só ativismo e militância, mas também de escuta, de abraço e cura. Expressão: Por que a importância de um lugar de acolhimento para quem luta pelas questões raciais no Brasil? Felipe: Acolher quem está na luta se faz necessário, pois é uma luta muito árdua e que adoece emocionalmente devido à surdez e à falta de empatia de muitos que tentamos alcançar.
Expressão: O representa no contexto atual do cenário político e social do País? Felipe: O que historicamente nos foi negado: os protagonismos narrativos na arte, na política e na academia. Somos samba, saberes de terreiro e somos a voz lírica negra. Estes três eixos norteiam nossos trabalhos. É resistência. As rodas de conversa representam as discussões e falas a partir dos corpos negros. A roda de samba apresenta, para além do tradicional, vertentes como o jongo e o samba de roda baiano. E temos os recitais com o maestro Luiz de Godoy, que reúnem cantores líricos negros.
“As comunidades de terreiro também pensam, vão muito além do ritual”
“A Ocupação Jeholu é uma diversidade de ideias, amigos e pensamentos” Expressão: Qual a importância da existência de um espaço que cultue o candomblé para além das questões religiosa e espiritual? Felipe: Exercer o direito de levar nossas visões civilizatórias de mundo às pessoas. As comunidades de terreiro também pensam, vão muito além do ritual; são lugares de organização social que muitas vezes contrapõem as demais visões normativas e majoritárias de outras religiões no Brasil, em especial no que diz respeito ao olhar sobre as crianças, as mulheres, os idosos, os LGBTQI+. E tudo isso sob a perspectiva de um pensamento negro, ancestral africano com suas ressignificações em solo brasileiro. Expressão: Sua formação acadêmica influenciou na sua maneira de pensar a ocupação e de colocá-la em prática? Felipe: Creio que sim, assim como minha trajetória artística. Acredito que há um pouco de tudo que vivi e passei. É uma diversidade itinerante de pensamentos, ideias e amigos que me acompanham há muito tempo e ajudam na construção e manutenção do projeto. Expressão: Como a ocupação se sustenta e de que forma são organizados os eventos? Felipe: Todas as atividades são mensais, voluntárias e já estão na sua terceira edição desde o início em agosto. Não há fomento. Temos o espaço cedido em parceria pela Cia Pessoal do Faroeste (organização que promove intervenções sociais e artísticas) e ocupamos o local toda semana com uma atividade dos núcleos de trabalho.
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INFOGRÁFICO
Não compre: adote
Muitos alegram lares e têm uma família. Outros sofrem com o descaso. Para ajudar animais abandonados ou sem tutor, 40 ONGs se mobilizam na região metropolitana e incentivam a adoção de animais. Confira um raio X da situação e saiba como ajudar Abner Gonzaga e Stephanie Rosa
Animais adotados em SP (2013-2018) De acordo com o estudo ISA-Capital 2015, São Paulo conta com 2.684.771 animais vivendo em domicílios
O governo pode te ajudar. Confira os serviços públicos disponíveis Adoção de cães, gatos e animais de grande porte (equinos, bovinos, suínos etc.) Registro Geral do Animal (RGA) para cães e gatos Esterilização cirúrgica gratuita para cães e gatos, com direito a mutirões de castração em áreas periféricas Remoção de cães e gatos em situação de risco à saúde pública
1.874.601 cães
Avaliação de eutanásia em animais em sofrimento, sem possibilidade de tratamento
Fonte: Cosap (Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico)
810.170 gatos
O último levantamento da prefeitura, há 6 anos, aponta mais de 10 milhões de cães abandonados. De acordo com especialistas, porém, o número deve bater 20 milhões
Quem doa? 1. União Internacional Protetora dos Animais (Uipa): a ONG tem um local para adoção de cães e gatos e disponibiliza a novos tutores 60 dias de consulta veterinária gratuita 2. Abrigo de Cães Recanto dos Anjos: além de adoção de cachorros, o local oferece a opção de apadrinhamento do animal (quando você doa para ajudar nos cuidados de um cão) 3. CoraCão: com aproximadamente 150 animais, o abrigo organiza e promove eventos para adoção em várias partes da cidade de São Paulo
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Remoção de animais de grande porte soltos em vias públicas
Vacinação gratuita contra a raiva durante todo o ano
Hospitais públicos da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa)
Violência? Maus-tratos? Saiba como denunciar
Condutas que submetem animais a sofrimento são consideradas crime ambiental, conforme o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/98. Para denunciar: Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) – Av. São João, 1247, Centro Tel.: 190 (Polícia Militar) ou 0800 11 3560 (Disque Ambiente)
Unidade Zona Norte Av. General Ataliba Leonel, 3194 – Parada Inglesa
Unidade Zona Leste Av. Salim Farah Maluf, 10-18 – Tatuapé
Funcionamento: segunda a sexta, das 7h às 19h
Funcionamento: segunda a sexta, das 9h às 17h
Sábados, domingos e feriados: apenas emergências
Retirada de senha: das 6h às 10h