Expressão - edição 12 - 2018

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USJT

dezembro 2018

ano 25

edição 12

EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL

ESPECIAL - Págs. 6 a 9

NOVOS ARES PARA A VELHICE Transformações nos padrões de vida aumentam a população idosa no Brasil; desafios vão do preconceito à inclusão no mercado de trabalho #PROTAGONISTA

VIDA DIGITAL

EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

PONTO DE VISTA

O corpo político e a aceitação de si na arte drag de Lázaro Lontra Pág. 3

Empreendedorismo vegano cresce nas mídias sociais Pág. 4

Violência contra professores ameaça ambiente escolar Pág. 10

O poder transformador da saúde da família em um Brasil desigual Pág. 15

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#INSTANTÂNEO

CAR@ LEIT@R

Texto: Guto Lobato

Shutterstock

associados à vida pós-60 anos, a reconstrução de carreiras e projetos de vida e o mercado de consumo para essa faixa etária são debatidos nas reportagens. Esta edição tem, também, um caráter especial: com ela, encerra-se um ciclo para os alunos de Jornalismo do 4º ano, dos campi Mooca e Butantã, agora rumo à formatura e ao mercado de trabalho. Como editores deste jornal laboratório, estamos extremamente felizes e orgulhosos do trabalho feito até aqui, com mais de 400 reportagens e infográficos produzidos ao longo do ano. Que tenhamos todos um excelente 2019 – e longa vida aos nossos novos jornalistas! Os Editores

EXPRESSÃO Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo dezembro 2018 • ano 25 • edição 12 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof.ª Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP

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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Mooca Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Shutterstock

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Ela chegou – hora de se preparar Quem mora em São Paulo já sabe: chega o período de festas e, com ele, vem a chuva. Por conta de problemas de infraestrutura e saneamento, não é raro enfrentar alagamentos e perder tempo no trânsito ou no transporte público com problemas causados pelos temporais de verão. Na imagem, um dos personagens típicos desses dias de caos: o vendedor de guarda-chuva, que tira muita gente desprevenida do sufoco.

#FICA A DICA

“A Onda” aborda problemas atuais Elaine Pereira

Aos brasileiros que querem entender melhor as nomenclaturas usadas no cenário político atual, como fascismo e nazismo, além de entender como a extrema direita se organiza, “A Onda”, filme alemão, aborda características dessas perigosas experiências sociais. Na obra, o professor Rainer Wenger decide dar aulas sobre autocracia e sugere uma experiência aos alunos, que formam um grupo fascista dentro da escola. A produção de 2008 teve estreia no Brasil um ano depois; mesmo assim, trata de problemas que países como o nosso ainda enfrentam, com uma

campanha presidencial permeada por boatos de que o País se tornaria comunista, caso não tivesse um líder que repudiasse as ideologias de esquerda. Vimos, em setembro e outubro, que o medo de que o Brasil se tornasse uma nova Cuba ou Venezuela se aliou às redes sociais com ampla disseminação de fake news, notícias sem fontes ou embasamento real. Em sua narrativa, “A Onda” mostra que, para intimidar as pessoas que eram contra seus ideais, os alunos do grupo se uniam para oprimir aqueles que resistiam. Análogos com a realidade são possíveis, no Brasil e no mundo. O filme, desde o início, fala que para um gover-

no autocrático se formar precisa de medos sem fundamentos em relação a outros governos, economia frágil e desemprego, cenário que muitos brasileiros enfrentam e que, recentemente, fez inclusive parcelas da população irem às ruas pedir uma intervenção militar. “A Onda” mostra o quanto é importante a participação popular e a convivência saudável entre campos ideológicos. Demonstra, ainda, que a ditadura possui os mesmos problemas da democracia – com a diferença de que, na primeira, violência, tortura e até desaparecimentos de pessoas são as respostas aos questionamentos das ruas.

SOBRE O DIRETOR

Divulgação

Somos, em 2018, um país ainda jovem. Só que estamos mudando: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2060, teremos 25,5% de pessoas idosas no País. Uma das razões é a melhoria da saúde e dos padrões de vida, que se traduz em longevidade. Por outro lado, há desafios: como preparar a sociedade, das políticas públicas aos imaginários em torno da velhice, para lidar com esse fenômeno? O Expressão fecha 2018 com um Especial que coloca em pauta a reinvenção da velhice: o conceito de idadismo (do inglês ageism), o preconceito e a superação de estereótipos

Juca Rodrigues

Dennis Gansel é escritor, diretor de cinema e ator alemão. Estão em seu currículo mais de dez obras, entre curtas-metragens e longas. Gansel é autor e diretor do filme “Before the Fall” (2004), ambientado na Alemanha nazista, que recebeu prêmios em festivais e seleções. “A Onda” é sua obra de maior repercussão internacional.


PROTAGONISTA

Arte e ativismo contra a homofobia No país mais perigoso para a comunidade LGBTQ, Lázaro Lontra constrói e exerce sua identidade como ato político Acervo pessoal

Talitha Benjamin

“Um LGBTQ não luta apenas por si, mas pela liberdade para que cada um que vive no mundo seja o que quiser”

A primeira caracterização foi mais por diversão, com a ajuda de amigas, planejada para a Parada LGBT de São Paulo em 2016. No ano seguinte, a drag queen Mata Hari já tinha nome, uma montagem mais elaborada – e desfilava pelas ruas da cidade com mais confiança do que nunca. Dono dessa poderosa identidade, Lázaro Lontra é um jovem homossexual assumido no país campeão de mortes da população LGBTQ: um registro a cada 19 horas, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB). Hoje em dia, Lázaro não esconde sua orientação sexual; exerce sua personalidade sem medo ao se montar para assumir a identidade drag queen, agindo contra o preconceito e em favor da quebra de padrões. Mas nem sempre foi assim. “Sempre soube o que sentia em relação a meninos, mas por conta do que ouvia sobre gays em igrejas, novelas e até de pessoas pelas ruas preferia sempre tentar esconder”, diz o estudante de Rádio e TV de 21 anos. “É algo bem complicado, já que você tem de se policiar para não sofrer algum tipo de repressão moral.”

político que beneficiaria a todos, independentemente do que sejam.” CRIAÇÃO DA IDENTIDADE

NO MAINSTREAM

O reconhecimento da própria orientação sexual foi libertador: marcou o fim da repressão ao falar, andar, agir e se posicionar politicamente. Lázaro, que sempre foi criativo e se interessou por cultura pop, foi influenciado pela cultura drag queen, que cresceu muito no Brasil nos últimos anos, sob influência de programas como o reality show americano RuPaul´s Drag Race – que ajudou a popularizar nomes como Márcia Pantera, Trio Milano e Silvetty Montilla, que já eram referências do público LGBTQ brasileiro. O programa também abriu espaço para a nova geração, com artistas como Pabllo Vittar, Aretuza Lovi e Gloria Groove. As drag queens começaram a se mostrar mais presentes entre artistas, apresentadoras, cantoras e

Mata Hari durante a 21ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo: “a arte drag é para todas, todos e todxs” comediantes, ultrapassando o nicho e alcançando o mainstream. Para Lázaro, ser drag é resultado da criatividade exercida com ativismo social. Para ele, é um ato político, pois desafia a regra social do comportamento e de roupas associadas a gêneros. “Quando as pessoas enten-

dem que um homem ou mulher pode vestir roupas de ambos os campos sem ter que dar explicações à sociedade, o preconceito perde força”, diz. Ele próprio quebra alguns padrões de vestimenta no dia-a-dia, usando saias, esmalte e outros acessórios femininos. “Sem dúvidas, é um ato

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Por mais que seja mais comum ver homens com personagens femininas, ser drag queen é para todos, e tudo vale para “criar uma nova identidade”: isso é encarar um personagem e de forma artística brincar com o sujeito, diz Lázaro. “O personagem é livre para expressar o outro lado, o de quem está por baixo. Essa nova identidade permite ao tímido se soltar e contar piada – ou, ao mais quieto, cantar.” No entanto, quem se propõe a usar essa forma de expressão como ativismo no Brasil corre um grande perigo. De acordo com dados registrados pelo GGB, a LGBTQfobia ainda causa muitas baixas: das 445 mortes registradas em 2017, 194 eram de pessoas gays, 191 de trans, 43 de lésbicas, cinco de bissexuais e 12 de heterossexuais – no caso, parentes ou conhecidos de pessoas LGBTQ que foram mortos por algum envolvimento com eles. Lázaro não nega o perigo que enfrenta – e com o qual convive – todos os dias. “Um LGBTQ não luta apenas por si, mas pela liberdade para que cada um que vive no mundo seja o que quiser”. Ele reforça, ainda, que “para lutar contra o preconceito é preciso ensinar, com calma, que o diferente é mais normal do que se imagina – e que é isso que faz cada um de nós únicos. Não tenho dúvidas que a educação é a melhor maneira de desmistificar tudo.”

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VIDA DIGITAL

Novo competidor promete aquecer mercado de assinaturas Reprodução YouTube

Streaming musical e de conteúdo audiovisual terá concorrente do Google Patricia Santos

O disputado mercado de assinaturas de serviços de streaming ganhou mais um concorrente. O Google lançou no Brasil o YouTube Premium e o YouTube Music, que entram em um segmento dominado por empresas como Spotify, Apple, Deezer, Netflix e Amazon Prime. A curiosidade é que, desde o ano de sua criação, em 2005, o YouTube é uma plataforma de compartilhamento de vídeos gratuita. O site teve algumas alterações nos últimos anos: a entrada da publicidade, a opção de se patrocinar um canal – apoiando-o voluntariamente com valores – e a monetização; no entanto, todos os usuários tinham

Music certa exclusividade de músicas que são encontradas apenas no YouTube. Assim como o Spotify, haverá versões gratuita e paga. Os assinantes não serão incomodados por anúncios e terão acesso ilimitado à biblioteca musical, com download para ouvir offline e opção de reprodução com a tela do celular desligada. NOVA INTERFACE

Tela do YouTube divulga serviço sem anúncios: novos modelos de negócio total acesso ao conteúdo. “Historicamente, o Google não tem receio nenhum em remanejar esforços ou descontinuar produtos, mantendo o foco naquilo que gera resultados”, diz André Rosa, doutor em Comu-

nicação pela Universidade Metodista de São Paulo e pesquisador na área de mídias digitais. No caso do Youtube Music, o serviço aposentará o Play Music – app de música que vem instalado em smartphones

Android. Um dos diferenciais é a união da inteligência de buscas no novo app, assim como já acontece no YouTube, podendo ser feita a pesquisa apenas por trechos da canção desejada. Além disso, é creditado ao

Já o YouTube Premium substitui o YouTube Red, nunca disponibilizado no Brasil. A versão remove anúncios e oferece recursos extras, como downloads de vídeos e canções para assistir offline e o play em segundo plano, enquanto o internauta utiliza outros programas. O assinante do

serviço terá acesso, ainda, a filmes e séries exclusivos do Youtube. “A plataforma já organizava seus conteúdos em canais específicos: música, esporte, educação, cinema etc. A versão do YouTube Music lançada agora, junto com a mudança de nome do Red – que passou a ser Premium – é, na prática, uma versão repaginada, mais próxima à interface do Spotify”, aponta André Rosa. “O site levou muito tempo para dar lucro. Apesar de explorar formatos de publicidade desde 2009, as despesas geradas pelo tráfego gigantesco e a remuneração dos produtores de conteúdo fizeram com que o YouTube ficasse praticamente no zero até 2015”, analisa.

E-COMMERCE

Vendas online desafiam lojas físicas e mudam comportamento de consumidores Rodrigo Machado

As mídias digitais alteram por completo o modelo das empresas de comércio: o foco, hoje, é entrar de vez no mercado tecnológico, criando plataformas de vendas que deem mais facilidade e agilidade na hora de fechar negócio. O fenômeno do e-commerce cria justamente essa chance de o consumidor realizar suas compras pelo celular ou qualquer dispositivo eletrônico.

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Empresas como a Locaweb desenvolvem plataformas para lojistas. Outras companhias, como a construtora Tecnisa, chegaram ao ponto de vender imóveis usando redes sociais. Se, por um lado, o consumidor tem sua compra otimizada, por outro as lojas físicas sentem o peso da concorrência, o que gera desemprego e dificuldades financeiras. Um exemplo de negócio digital é a Netshoes, especializada em artigos esportivos, que iniciou seus

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trabalhos no Brasil com lojas físicas e, com o advento da internet, passou suas vendas para a nuvem. Outra empresa que segue essa tendência e Nubank, que oferece serviços financeiros sem ser vinculada a nenhum tipo de banco ou loja. É uma plataforma 100% digital que começou com venda de cartões de crédito – e hoje viabiliza pagamentos de contas, transferências e outros serviços bancários sem um lugar físico para atendimento.

Segundo o estudante de Tecnologia da Informação Victor Brito, o mercado tecnológico tende a crescer a cada dia; com isso, surgem mais postos de trabalho para os programadores e menos empregos físicos. “O desafio maior é como fazer com que essa nuvem, na qual estão armazenados todos os dados, consiga prestar serviço e atendimento a todos de uma forma rápida, de qualidade e eficaz”, argumenta o jovem.

Comércio digital cresceu 12% em 2017 – e a projeção para 2018 vai a 15%


OUTROS MERCADOS

Mídias sociais impulsionam o empreendedorismo vegano online Kimberlly Alves

A internet traz um novo caminho para os negócios – outro jeito de criar, empreender e inovar. Um dos aspectos da revolução digital é permitir a pequenos empreendedores veganos se reinventar, encontrando nas mídias sociais chances de dar mais visibilidade para os seus produtos e divulgar o movimento de que fazem parte. Na loja Estilo Veg, a venda de camisetas femininas e masculinas, flâmulas e bolsas estampadas com mensagens de ativismo existe desde 2017; é um dos comércios populares do Instagram, contando com mais de 2,9 mil seguidores. O criador da

marca é o publicitário Anderson Vidal, de 24 anos. "Trabalhar com internet, e-commerce, era o meu sonho. Quando percebi que o Instagram estava começando a bombar, comecei a me dedicar a essa rede social”, relata. Anderson conta, também, que esta ferramenta permite a aplicação de teorias aprendidas ao longo da vida universitária. Por cada foto postada, ele consegue ter relatórios de desempenho para começar a montar conteúdos mais assertivos para o seu público-alvo, além de segmentar o perfil. “O melhor de tudo é que essa rede social é grátis. Não preciso de um site para vender, faço tudo no Instagram.”

Kimberlly Alves

Facebook, Instagram e WhatsApp são aliados do comércio digital e ajudam a divulgar produtos livres de ingredientes de origem animal pularidade que precisava para vender as suas marmitas, que têm no cardápio opções como bobó de palmito, “peixe” ao molho e feijoada – tudo livre de qualquer ingrediente de origem animal. “As mídias digitais, hoje em dia, são os meios mais práticos de comunicação e propaganda. No Facebook, é muito fácil atingir um grande público – e eu uso isso ao meu favor. Tem dado muito certo”, conta. SOB DEMANDA

Camisetas estampadas à mão por Anderson Vidal Dono da Anhangá Vegan Food – nome inspirado na palavra de raiz tupi, que significa a entidade

protetora dos animais –, o paulista Vinicius Rodrigues, de 30 anos, encontrou no Facebook a po-

FUTURISTA

Internet das Coisas desperta preocupações Elaine Santos

Já imaginou programar sua geladeira para fazer compras ao acabar um determinado produ to? Parece cenário de filme futurístico, mas essa é a internet das coisas (IoT, sigla do inglês Internet of Things), tecnologia que conecta dispositivos do nosso dia a dia à rede mundial de computadores. Aos poucos, essa tendência vem ganhando espaço em diversas áreas

pela forma como simplifica tarefas cotidianas. Ao mesmo tempo, surgiu um problema: o número maior de dispositivos conectados e a quantidade de informações que eles geram requerem maior segurança. “Os dados são como mercadorias – e os cibercriminosos querem negócios. Há dez anos, os ataques eram feitos para derrubar usuários e gerar panes. Hoje, esses ataques representam obter dados

para roubar sua identidade, sua conta bancária e seus dados de cartão de crédito”, alerta Marcelo Barbosa, professor de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. MEDIDAS PRÁTICAS

Apesar dos riscos, Marcelo garante que o usuário pode usufruir dos benefícios desses gadgets, adotando algumas medidas simples para evitar possíveis ataques cibernéticos.

“Usar senhas fortes, evitar conexão em redes desconhecidas e desconectar os aparelhos quando não estiverem em uso são táticas fundamentais”, avalia. “Os consumidores precisam ser educados para, ao instalar um novo dispositivo no ambiente, saber o que ele vai transferir e como, já que a principal causa de falhas de segurança continua sendo a negligência do usuário”, complementa o professor.

Depois de receber o pagamento na Estilo Veg, Anderson tem até cinco dias para fazer a camiseta. Ele não tem estoque, trabalha sob demanda e as roupas são estampadas

à mão por ele. “Assim, a margem de prejuízo é zero”. Os pedidos são feios por mensagem direta no Instagram ou pelo WhatsApp e enviados via Correios, quando a pessoa é de outro estado. Caso o cliente seja de Salvador, ele entrega o produto em alguma estação de metrô ou shopping. As marmitas veganas de Vinicius também são entregues em estações de metrô em São Paulo. Os clientes fazem os pedidos pelo WhatsApp e as entregas são feitas normalmente em catracas. “Somos uma empresa que pode se chamar de zero carbono, pois fazemos todas as entregas ou de metrô ou a pé”, orgulha-se.

NA BGS

Jogo Magic ganha versão multiplayer virtual Bianca Vasconcelos O jogo Magic: The Gathering compareceu à Brasil Game Show 2018 comemorando seus 25 anos com uma novidade relevante: um beta gratuito para o MTG Arena, versão virtual com multiplayer online para o card game mais famoso do mundo. O jogo pode ser baixado gratuitamente em magic.wizards.com e demonstra a adaptação de jogos às plataformas digitais. Jogadores podem experi-

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mentar as novas temporadas e cartas, mas o plano é manter o MTG Arena junto com o card game físico; as atualizações de novas cartas e eventos devem acontecer simultaneamente. A equipe do Magic quer tornar o Arena um e-sport, no páreo para competir com outros do gênero. Por enquanto, o jogo está disponível para PC, mas a produtora pretende lançá-lo em mais plataformas. O download pode ser feito na página oficial do jogo.

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ESPECIAL

Reinvenção da velhice desafia Estado, sociedade e mercado Brasil entra na rota das mudanças globais associadas ao envelhecimento populacional Sabe aquela história dos avós aposentados que tricotam e reclamam das músicas atuais? Esqueça. Eles podem até estar aposentados, mas passam longe de assumir o comportamento comumente associado à velhice. A chamada “nova velhice”, explorada pelo mercado de consumo e geradora de um filão na área da saúde, propõe desafios ao Brasil diante de uma sociedade cada vez mais dinâmica, impaciente e tecnológica. Se em algum momento na sua vida você já criticou um idoso mentalmente, seja na fila do banco pela dificuldade em realizar simples tarefas em um caixa eletrônico, seja por conta da lentidão em algum ambiente movimentado, como escadas em uma estação de metrô, está rendido a uma cultura que costumeiramente desvaloriza o idoso. A – nem sempre adequadamente – denominada terceira idade trabalha para se readaptar ao ambiente social. Aquela ideia dos “velhinhos” frágeis e dependentes desaba diante de histórias de quem, mesmo após a aposentadoria, trabalha, sustenta sua família, gera renda e desenvolve uma relação saudável com os meios tecnológicos, informativos e culturais. “A reinserção do idoso na sociedade aumenta a oferta de novos produtos

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Acervo pessoal Fabricio Fujioka

Joyce Santos e Ronney Abilio

sil, as pessoas acima dos 60 anos são 13,5% dos brasileiros e devem chegar a 24,5% em 20 anos – ao longo do século XXI, deixaremos de ser um país eminentemente jovem, assumindo um perfil mais sênior, algo frequente em nações do hemisfério Norte. IDADISMO

Aula de dança para terceira idade: um impulso de comportamento e consumo e serviços para essa população que envelheceu e está envelhecendo”, diz Fabrício Fujioka, gerontólogo formado pela Universidade de São Paulo (USP). “Temos que ver o idoso não só como consumidor, mas também como força produtiva no mercado de trabalho. ” VELHO X NOVO

Mas afinal de contas, qual a diferença entre velho e idoso? O que se contrapõe entre as duas denominações? Segundo Gisela de Castro, estudiosa do tema, doutora em Comunicação e professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), os termos estão

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enraizados com o preconceito da nossa sociedade ao considerar essa população inválida e inapta a realizar certas funções. “Costuma-se dizer que o termo ‘idoso’ é mais respeitoso do que ‘velho’, que de certa forma carrega uma carga negativa e de algo ultrapassado, que não tem serventia”, analisa. A qualidade de vida também é muito relativa, segundo Gisela: ao ser perguntada sobre o bem-estar da população da terceira idade, a pesquisadora propõe uma análise social mais ampla. “Qualidade de vida depende de vários fatores, muitos dos quais têm a ver com questões sociais candentes desse Brasil tão desigual. Não dá para fa-

lar em ‘o idoso’, porque esse é um segmento populacional muito heterogêneo”, acredita. “Muito menos dá para imaginar que haveria um patamar único de qualidade de vida que seria comum a todos em nosso País. ” Imagens e estereótipos do idoso mudaram com o passar dos anos, e com eles a própria ideia de envelhecimento. Cada vez mais numerosas, as pessoas idosas tendem a mudar o pensamento do mundo sobre o processo de avançar em sua jornada pela terra. No Bra-

“O envelhecer começa hoje”, diz Fabrício: essa não é uma frase clichê quando levamos em consideração que nosso País não prepara o adulto, o jovem e até mesmo a criança para se tornar idoso. Especialistas ouvidos pelo Expressão apontam que a chamada “nova velhice” é um processo constante de mudança, que desafia uma cultura não habituada à preocupação com o futuro a longo prazo. Gisela Castro argumenta que há um tipo de preconceito, existente entre os idosos e na população no geral. “Chamado idadismo, ele está relacionado ao fato de que a juventude passou a ser um atributo hipervalorizado no contemporâneo. É como se todos precisassem ser jovens e, apenas sendo ou mantendo-se jovens, seriam valorizados socialmente. Tal situação ocasiona a discriminação social dos mais velhos.” Além de a sociedade não estar preparada para

a nova velhice, também não estamos preparados para envelhecer. Em 2016, a Organização Mundial de Saúde passou a classificar o idadismo como uma questão de saúde pública, pois causa a discriminação e, de certo modo, naturaliza a segregação social dos mais velhos no mercado de trabalho, na vida familiar e nas relações sociais e afetivas. Existiria, então, um segredo para envelhecer de forma saudável? Essa é a pergunta-chave – e a resposta talvez gire em torno de um conjunto de fatores, visto que todos queremos envelhecer seguros e em paz. “Uma rotina equilibrada, um dia a dia mais flexível, uma maior oferta de lazer e programas culturais e de turismo são fatores importantes. Há também o fato de a pessoa conseguir equilibrar atividades de bem-estar com a rotina de trabalho”, afirma Fabrício Fujioka. Há, ainda, um braço econômico no debate: mudanças nos processos previdenciários e de aposentadoria estão em alta na esfera pública brasileira – nesse contexto, é importante que o idoso não seja visto como um peso na sociedade. “Reinserção e prevenção: essas são duas chaves principais”, diz Fabrício.

“A juventude passou a ser um atributo hipervalorizado no contemporâneo”


NAS ELEIÇÕES

Voto facultativo reflete luta por democracia

Mudanças em andamento

Samuel Lima

Participação nas eleições é relevante para quem atravessou a ditadura militar; eleitores idosos cresceram 11,12%

13,5%

dos brasileiros pertencem oficialmente à terceira idade. São 30 milhões de idosos e, em 2042, este número deve dobrar

18%

foi o aumento consolidado dos idosos no Brasil entre 2012 e 2017, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

50%

foi o aumento total dos idosos brasileiros em uma década

Família Ferreira, do Maranhão: em pé, à esquerda, Raimundo e Nonato, eleitores que viveram a ditadura Samuel Lima

Há três décadas, jovens e adultos se reuniam nas maiores cidades do Brasil no movimento que ficaria conhecido como “Diretas Já”. As manifestações reivindicavam o direito ao voto direto, após o regime militar que atravessou a história do País desde os anos 1960. Décadas se passaram e, mesmo que não tenham participado diretamente dos protestos, os manifestantes da época envelheceram. Alguns, atualmente com mais de 70 anos de idade, se enquadram no chamado voto facultativo

– ou seja, não são obrigados, por lei, a votar. No entanto, mesmo sem a compulsoriedade de participar do pleito, muitos ainda exercem a cidadania nas urnas. É o caso de Jandira Pereira, de 70 anos. “Não dei meu voto no primeiro turno, mas no segundo eu votei. Não tinha nenhum candidato que me representasse [para presidente], nem sou obrigada a fazer isso, mas votei, sim.” No Maranhão, região Nordeste do Brasil, a situação não é diferente. Na família Ferreira, residente no bairro de Lago da Pedra, no interior do estado, dois dos três pa-

triarcas votaram no último pleito. Raimundo Ferreira, de 83 anos, explica que exerce esse direito desde que tirou seu título de eleitor, há mais de seis décadas. “A política não é tão intensa aqui na cidade, né? Só em época de eleição. Mesmo assim, em toda ocasião eu voto”, disse. Já Nonato Ferreira, 80, afirmou ter ficado indeciso quanto ao segundo turno; no entanto, foi às urnas. “Não conheço tanto assim os dois candidatos, né?”, argumenta. ACIMA DOS 70

Estima-se que cerca de 147 milhões de pessoas

estavam aptas a votar nesse ano, um crescimento de 3,14% em relação a 2014 – e aproximadamente 4,5 milhões a mais em relação ao último ciclo, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ainda segundo o órgão, eleitores acima de 70 anos são mais numerosos que há quatro anos. Em 2018, 12.028.495 eleitores nessa idade puderam exercer o direito de escolher seus representantes – um aumento de 11,12% em comparação às últimas eleições, quando 10.824.810 idosos podiam votar.

Você sabia? Em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde A partir de 2039, o Brasil terá mais pessoas idosas do que crianças de até 14 anos Fontes: OMS e IBGE

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TRABALHO

Empregos se tornam realidade para idosos Alan Teixeira

População acima de 60 anos já ocupa 7,8% do mercado

Cristina Almeida segue ativa no mercado aos 60 anos Bianca Aparecida

Com o avanço da idade, é normal a diminuição da massa muscular – o que consequentemente diminui a capacidade de esforço físico e equilíbrio. Mesmo assim, a necessidade de incrementar a renda familiar tem estimulado idosos a se manter empregados em diferentes segmentos do mercado. A tendência se reflete nos indicadores socioeconômicos do País: de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-

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tística (IBGE), a participação dos idosos no mercado de trabalho passou de 6,3% em 2012 para 7,8% em 2018, em linha com a curva do envelhecimento populacional. Por outro lado, os trabalhadores de 18 a 24 anos caíram de quase 15% para 12,5% do total. A prática, seja no mercado formal, seja no informal, faz com que os idosos continuem inseridos na vida em sociedade – embora reflita, em muitas situações, condições de desigualdade social. Benedita Batista tem 68 anos e, hoje, além de ser dona de casa, produz sabão caseiro para vender. Ela ainda

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ajuda sua filha separando reciclagem para complementar a renda da família. “Comecei a trabalhar com 10 anos de idade na roça, depois em uma olaria e até em casa de família. Não tínhamos condições para estudar”, relata. “Tenho até a terceira série completa e, depois disso, aprendi com a vida. Hoje, sou pensionista e faço alguns trabalhos para ocupar a cabeça”, diz. Situações como a de Benedita refletem a esfera pública do País, com discussões sobre a reforma do sistema previdenciário e os desafios vividos em função do cenário econômico dos últimos anos. “O crescimento dos mais idosos na força de trabalho não ocorre porque tem aumentado o número destes trabalhadores que estão saindo da inatividade e retornando ao mercado de trabalho, e sim porque vem recuando a parcela de idosos que decidem sair da força de trabalho e ir para a inatividade, independentemente de estar ocupados ou não”, disse o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em junho, em carta sobre a conjuntura do mercado brasileiro. NOVOS ARRANJOS

Em algumas áreas profissionais, os impactos da mudança física não alteram de forma significativa a natureza de trabalho. De acordo com a jornalista Cristina Almeida, de 60 anos, as alterações no mercado já eram sentidas desde a década de

2000. “Hoje estou desempregada oficialmente, mas tenho sido freelancer. Desde que fui demitida não deixei de trabalhar. Já realizei uma entrevista na qual disseram que sou muito experiente para a vaga que estava aberta. Hoje o mercado é diferente, mas não posso dizer que não há vagas de emprego.” A dificuldade em encontrar vagas para idosos reflete a cultura brasileira e preconceitos relacionados à população acima de 60 anos (veja mais sobre isso na reportagem de abertura deste Especial). Algumas empresas, em especial multinacionais, têm buscado abrir postos de trabalho específicos, como parte de suas políticas de diversidade. O Estatuto do Idoso determina que o primeiro critério de desempate em concursos seja a idade, com preferência a candidatos de idade mais elevada. A lei vigente no País, no entanto, não obriga empresas a reservar percentual de vagas para idosos. Para Cristina, a adaptação ao ambiente de negócios é uma necessidade. “Acho que a gente pode ser aquilo que quiser, a qualquer tempo. Quando se está mais velha é mais fácil de ver isso claramente”, conta. “Na juventude costumamos nadar a favor da correnteza. Quando estamos mais maduros, podemos realizar sonhos e trilhar caminhos diferentes. Cursei Direito e depois de uma certa idade consegui me encaminhar para o Jornalismo”, comenta.

EM CAMPO

Cargos de liderança valorizam experiência Renan Dantas A profissão de treinador de futebol é uma das poucas em que a idade avançada não é critério para dispensas; pelo contrário, a experiência, nesse caso, é um diferencial positivo que os clubes levam em consideração na hora de contratar o comandante da equipe. No Brasil, Luiz Felipe Scolari, com 69 anos, avô de um neto e treinador do Palmeiras, equipe que lidera o campeonato brasileiro, é um dos idosos que estão em alta. Abel Braga, técnico campeão mundial com o Internacional em 2006, também possui o título de avô aos 66 anos. Marcelo Oliveira, atual treinador do Fluminense Football Club, é avô de Lucca, comandante do clube das Laranjeiras. De acordo com o conceito de velhice, acabou de entrar nessa faixa etária: no Brasil, considera-se idosa qualquer pessoa com 60 anos. A definição é de 1994. Esse fenômeno de valorização da experiência não se limita ao território brasileiro. Considerado

uma lenda pelos torcedores do Manchester United, Alex Ferguson se aposentou dos gramados aos 71 anos, depois de 27 no comando dos “diabos vermelhos”, conquistando 13 títulos do campeonato inglês. O francês Arsène Wenger, ex-treinador do Arsenal da Inglaterra, é outro fenômeno do banco de suplentes. Deixou o comando da equipe inglesa no início de 2018 aos 68 anos, após somar a conquista de 17 títulos. Outro caso é “El loco” Marcelo Bielsa, com 69 anos, conhecido por implantar um estilo de jogo arrojado. Hoje, ele comanda o Leeds United, na segunda divisão inglesa. Já o italiano Carlo Ancelotti, com atuais 69 anos, é tricampeão da UEFA Champions League e dirige o Napoli, da Itália.

Joyce Santos

Juvenal Leite, aos 67 anos, é tecnico do time da família Marcolino


ESTILO DE VIDA

Esporte: mais horizontes e um estímulo para a vida social Amparados por estruturas públicas, idosos se beneficiam com a prática de exercícios físicos A fase depois da aposentadoria levanta muitas dúvidas na vida das pessoas e, principalmente, entre os idosos. O que fazer depois de tanto tempo de trabalho e com uma idade já avançada? Muitos têm optado pela prática de atividades físicas e esportivas, com reflexos positivos da saúde à disposição para o cotidiano. Joana Silva, de 68 anos, faz caminhada três vezes por semana pelas ruas da cidade de São Paulo. “É uma rotina que passei a adotar depois que me aposentei. Desde então, minha saúde tem melhorado: tenho ânimo para realizar as outras tarefas e estou com a autoestima em alta”. Miriam Santos,

65, moradora de Ribeirão Pires, na grande São Paulo, prefere a prática da ginástica. “Aproveito o fato de a prefeitura disponibilizar a prática de esportes gratuitamente e vou com minhas vizinhas, para manter a saúde em dia.” A tendência é que a população idosa seja cada vez maior no Brasil. De acordo com a mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), de 2017, o número de idosos chegou à marca de 30,2 milhões de pessoas. A última pesquisa, realizada em 2012, apontava para uma população de 25,4 milhões. Para o geriatra Eduardo Silva, optar por uma ocupação depois da aposentadoria viabiliza uma vida mais longa. “Há me-

vezes ausentes nos lares. “Se o esporte nos faz viver mais, pretendo não parar e quem sabe viver pelo menos por mais cem anos”, sinaliza Miriam Santos.

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Renan Dantas

ADAPTAÇÃO AO PÚBLICO

lhorias na saúde mental e física e até no aspecto social dos idosos. As células que morrem quando chegam nessa idade têm uma resistência maior entre esportistas”. Além disso, o especialista aponta outros fatores de benefício – como o fortalecimento imunológico, a melhora na circulação

sanguínea e o controle da pressão arterial. A oferta de serviços especializados para essa população motiva investimentos do poder público. O Centro de Referência do Idoso é o local que pessoas acima dos 60 costumam frequentar, justamente para usufruir de atividades e convívio social muitas

As academias brasileiras têm se preparado cada vez mais para o fenômeno da pirâmide etária no País. Em breve, a população idosa representará boa parte dos cidadãos – e, de olho nessa onda de mudança, ginásios têm oferecidos cada vez mais serviços voltados para esse tipo de público, como é o caso da rede de academias Flipper. “Temos um projeto especial para a terceira idade, em que são realizados hidroginástica três vezes por semana e

fortalecimento muscular e equilíbrio. Cada aluno recebe um atendimento individual, assim conseguimos o ápice da performance de cada idoso, respeitando as limitações e suas indicações médicas”, explica Patrícia Couto, coordenadora de uma unidade da academia no Brooklin, zona sul de São Paulo. A rede de academias possui o projeto há oito anos e, além das atividades físicas, os profissionais estão preocupados com a vida social do idoso. Por isso, há um espaço de interação e conversa. “O ambiente é muito diferente, me sinto acolhida quando venho aqui”, comenta Ana Carolina Silveira, de 65 anos.

MAIS CONECTADOS

Acesso à rede gera independência Ronney Abilio e Samuel Lima

Os idosos brasileiros representam 10% dos usuários de smartphones no País. Pertencente a um universo de 138 milhões de pessoas que usam esses aparelhos, o público há muito trabalha para desconstruir a imagem de inaptidão tecnológica. Ao contrário do que pensam os que veem a intimidade dos jovens com redes sociais e dispositivos móveis, a participação dos idosos entre os donos de celulares foi a que mais cresceu.

Em pesquisa discutida em artigo do especialista em consumo e opinião pública Renato Meirelles, aponta-se que o número de brasileiros acima de 60 anos conectados aumentou 940% de 2008 a 2016. A telefonia móvel já possui mais linhas ativas do que a fixa, conforme dados divulgados anualmente pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); um grande número de pessoas está migrando para os smartphones e suas alternativas – inclusive

os idosos. Teresa da Silva é um exemplo: tem 61 anos e utiliza na sua residência o telefone fixo e o celular. “A linha móvel é muito mais prática; mantenho a fixa apenas pelo apego.” “Comecei a usar celular há dois anos mais ou menos. Minha filha que me incentivou, até mesmo por uma questão de segurança, pois moro sozinha”, diz Matilde Trindade, 68 “Realmente facilitou minha vida. Eu me distraio e faço transferências bancárias.”

Segundo sondagem de 2018 do Datafolha, feita com 2,7 mil brasileiros, pessoas com mais de 60 anos ainda têm menor presença em contas em redes sociais (32%, contra 97% na faixa de 16 a 24 anos). Os idosos ainda são menos conectados, no geral, que outras faixas etárias. No entanto, a pesquisa aponta que gamers com mais de 60 anos são mais assíduos: 36% deles jogam todos os dias, maior frequência entre todas as faixas etárias – sinais de uma transformação em curso.

Dispositivos oferecem lazer e serviços aos idosos

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

Violência contra professores acende alerta

CAPACITAÇÃO

Jovem de 15 anos cria projeto para profissionalizar estudantes negras Lucas Antônio

Facebook

12,5% dos profissionais passaram por agressões verbais ou físicas nas escolas Thais Larangeira

De um lado, a Finlândia, país europeu tetracampeão do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), foca a valorização de docentes e a liberdade de criação. De outro, o Brasil, que, segundo a mesma pesquisa, realizada em 2010, ficou com a 53ª posição entre 65 países – e é hoje o primeiro em ranking de violência em escolas, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na contramão de países desenvolvidos, o Brasil não valoriza sua base de profissionais: o piso salarial de professores das escolas públicas é de R$ 1.917. Já na Finlândia, profissionais de ensino primário podem ganhar R$ 11,8 mil. De acordo com a pesquisa da OCDE, 12,5% dos educadores brasileiros disseram já ter sofrido agressões verbais ou intimidações por parte de estudantes pelo menos uma vez por semana. “Já fui agredida várias vezes verbalmente. Uma vez, não chegou às vias de fato, mas houve ameaça. Minha sorte foi que os alunos ficaram contra a aluna que estava tentando me agredir”, relata a professora de história Sibeli Silva, que lecionou em escolas públicas de São Paulo. AGRESSÕES

Outra professora, Telma Watanabe, que dá aula

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Professora Marcia Friggi, um dos casos de maior destaque da violência contra professores no Colégio Olivetano, na zona leste de São Paulo, relata um caso. “Uma vez, fui chamar a atenção de um aluno que estava conversando enquanto eu explicava o conteúdo. Ele me mandou ir deitar, como se eu fosse algum animal de estimação, sem nenhum respeito.” Em pesquisa do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, 44% dos docentes que lecionam no estado relatam já ter sofrido algum tipo de agressão; 84% afirmam já ter presenciado esse tipo de situação. “São vários fatores que influenciam ou acentuam tais situações: sucateamento das escolas, professores cansados e desmotivados, diretores ausentes... o que pesa mais é a relação familiar”, diz Sibeli. “A escola acaba sendo uma válvula de escape para frustrações, desamores,

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descasos e inseguranças”, continua a professora. A saída para essas situações não é consenso nem entre os profissionais da área. “Aconteceu comigo de uma mãe vir reclamar da professora do ano anterior. O único problema é que a criança era minha aluna há cinco anos – ou seja, ela reclamou de mim para mim”, conta a professora de espanhol Cristina Vieira. “Isso aconteceu porque ela não frequenta a escola da criança.” Um dos reflexos do cansaço e desvalorização do professor é a menor quantidade de formandos que desejam ser docentes. “É uma paixão inexplicável pela vontade de contribuir. Apesar das brigas, todos eles sabem que eu quero algo que é certo”, conta a professora Valéria Oliveira.

Em um país que convive com a desigualdade social e racial, Isabelle dos Santos, de apenas 15 anos, encontrou uma maneira de auxiliar jovens negras a se preparar para o mercado de trabalho e enfrentar as dificuldades impostas pela sociedade. Moradora do bairro do Grajaú, na zona sul de São Paulo, ela decidiu criar o Projeto Meninas Negras para compartilhar seu conhecimento e proporcionar novas experiências a outras jovens. Ainda na infância, Isabelle percebeu a falta de mulheres negras ocupando cargos de liderança e nos ambientes escolares. Por meio de um projeto

social, a jovem conseguiu uma bolsa de estudos em uma escola particular no município de Mogi das Cruzes. Por lá, os próprios professores identificaram que a estudante necessitava de um ensino mais avançado e, com a ajuda da direção do colégio, foi possível obter uma nova bolsa, dessa vez para estudar em um colégio renomado da capital paulista. Ao perceber que outras jovens negras não teriam as mesmas oportunidades que ela, Isabelle teve o impulso para desenvolver o projeto. “A ideia inicial era um blog dando dicas de como estudar e enfrentar os problemas, mas a coisa foi ganhando corpo e se tornou o Meninas Negras”, revela.

Na prática, o projeto ajuda as meninas a ingressar em grandes empresas, participando principalmente de feiras e ações promocionais nas áreas de tecnologia e ciência. “As oficinas são online e têm foco em aulas de língua portuguesa, matemática e inglês. De acordo com as características de cada participante, damos uma orientação mais especializada na área que ela deseja seguir e, então, projetar seu futuro”, conta a estudante. Para fazer parte do projeto, basta ter entre 12 e 24 anos de idade e entrar em contato pelas redes sociais do Projeto Meninas Negras no Facebook ou no Instagram.

NOVA ESTRATÉGIA

Governo reforça luta contra a hepatite C Gabriel Cavalari

Uma estratégia preparada pelo Ministério da Saúde, por estados e por municípios pretende eliminar a hepatite C do Brasil até 2030. A ideia é simplificar o diagnóstico, ampliar testes e fortalecer o atendimento a todas as hepatites virais. A hepatite C, doença infecciosa que afeta sobretudo o fígado, é a que possui o maior número de notificações entre todas as hepatites (acima dos tipos A e B). A iniciativa do governo possibilitará aos pacientes o

acesso a um tratamento de ponta, capaz de melhorar a qualidade de vida, reduzir efeitos colaterais e permitir a negativação (controle viral) e cura com mais rapidez. Jorge Gonçalves, 43, trabalha em um bar no centro de São Paulo e se curou da hepatite C há pouco tempo. “Consegui vencer, mas demorou bastante. Com a melhoria no tratamento, a vida de quem é infectado fica mais fácil e menos tensa”, relata. PLANO DE AÇÃO

A iniciativa passa pela utilização da combinação

dos medicamentos Sofosbuvir e Daclatasvir no tratamento da hepatite C. O Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (FOAESP), instituição que luta por tratamento e prevenção do HIV/Aids e da hepatite C, disponibiliza desde setembro a plataforma “Sofosbuvir Livre”, que recolhe assinaturas de pessoas, organizações e instituições interessadas no licenciamento compulsório do medicamento. A plataforma pode ser encontrada no site do FOAESP e procura adesões.


ALFABETIZAÇÃO

23 ANOS DE HISTÓRIA

Projeto leva ensino a coletores de resíduos

Guri favorece formação musical de jovens Guilherme Almeida

Funcionário que participa da iniciativa aprendeu a escrever com 44 anos

Ana Luisa Pinheiro

Ana Luisa Pinheiro

A Logística Ambiental de São Paulo S.A. (Loga), empresa responsável pela coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde gerados na região Noroeste de São Paulo, mantém um programa de educação para os colaboradores que são analfabetos funcionais. O projeto, intitulado Educação Continuada, foi desenvolvido com o intuito de alfabetizar e desenvolver os estudos de funcionários que, por algum motivo, não finalizaram a escola. No Brasil, a educação ainda é escassa: de acordo com estudo feito pelo Ibope Inteligência e desenvolvido pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos no país são considerados analfabetos funcionais, o que seria equivalente a 38 milhões de pessoas.

Diante desse cenário, a empresa percebeu as dificuldades de escrita e leitura de alguns colaboradores e decidiu oferecer, dentro da empresa, uma estrutura com professores, materiais e acompanhamento pedagógico para a realização das atividades. RESULTADOS

Em 2016, sete funcionários foram aprovados pelo certificado do Fundamental I e dois participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um dos participantes da iniciativa é o gari José de Nazaré da Silva, que participa do projeto há quatro anos. “Aprendi a ler e escrever após os 40. Antes, só sabia assinar o meu nome, agora fiz até um livro.” A obra “As rimas, os contos e a arte de um coletor de lixo” apresenta, por meio de poemas, a trajetória de José, como foram os desafios da alfabetização adulta e a re-

José de Nazaré lendo seu livro: “isso ninguém tira” alidade da sua profissão. ‘‘É importante todo mundo saber ler, isso é um conhecimento só seu, ninguém tira. Agora, quando um morador escreve ‘cuidado, vidro!’ no seu saco de lixo, eu consigo entender’’, comenta Nazaré. Durante todo o curso, os funcionários são ca-

pacitados para prestar as provas finais para obtenção dos certificados de conclusão do ensinos Fundamental e Médio. As aulas aplicadas pela empresa acontecem de quarta a sexta-feira, depois do expediente dos colaboradores, com uma carga horária de 12 horas durante a semana.

O Projeto Guri é uma iniciativa mantida pela Secretaria do Estado de São Paulo que integra e ajuda diversos jovens do estado, por meio de aulas de canto, instrumentos e luteria – manutenção e criação de instrumentos. Foi fundado em 1995 e teve sua primeira apresentação já no primeiro ano, com 180 participantes, entre crianças e adolescentes. O lado transformador: todos tiveram seu primeiro contato com a música meses antes. Em 23 anos, o Guri teve cerca de 650 mil alunos de 6 a 18 anos de idade e está em crescimento: hoje, conta com 415 polos educacionais em mais de 300 municípios de São Paulo, além de ter 49 mil alunos por ano. A maioria dos polos está no litoral e no interior de São Paulo. Está na linha de trabalho do projeto ensinar aos jovens disciplina, trabalho em equipe, respeito e apuração da sensibilidade. “Minha carreira começou lá. Graças aos estudos, hoje em dia vivo de música, como artista e professora. Mudou minha vida”, relata

Thais Melo, trompetista formada pelo programa. Além de qualificar músicos, o Guri é o maior programa sociocultural do Brasil e executa um trabalho na Fundação Casa desde 1996, com oficinas de música, apresentações musicais e polos exclusivos. A iniciativa é gratuita e desenvolveu práticas de inclusão e manutenção social de alunos em situação de vulnerabilidade. Desde a sua fundação, o projeto recebeu títulos e prêmios e levou jovens a apresentações de música clássica na África do Sul, nos Estados Unidos e em um evento da Organização das Nações Unidas (ONU). Os artistas também tocaram ao lado de grandes nomes da música, como Milton Nascimento, Criolo, Toquinho e o britânico Roger Waters. Diversos discos foram lançados pelo Guri e o segundo, “Herdeiros do Futuro”, foi reconhecido como Melhor Projeto de Fomento à Cultura pelo Prêmio Multicultural Estadão em 2000. O projeto é responsável pelo Guri Esporte Clube, banda formada por 140 músicos que se apresenta durantes partidas de futebol no estado. Divulgação

ATIVISMOS

Projeto abre portas ao debate da educação Beatriz Santos

Desenvolvido pela atual deputada federal eleita de São Paulo Tabata Amaral, o projeto Mapa Educação tem alcançado cada vez mais jovens interessados em ativismos sociais. Desde sua criação, o movimento promove embates presenciais e virtuais, como o debate dos

candidatos à Presidência de 2014, maior deles até agora. “O Mapa mudou muito desde a sua fundação e hoje estamos com o foco muito além da mobilização dos jovens pela educação”, conta Matheus Marsalles, um dos jovens que atua na comunicação do movimento. A proposta do projeto é dar suporte e ferramentas

a jovens engajados, para que discutam ideias sobre a qualidade do ensino no Brasil e servir de porta-voz entre essa classe e os governantes. “Temos o Mapa nas Eleições, que é o acompanhamento das propostas feitas pelos prefeitos em 2016”, conclui Matheus Marsalles. Atualmente, o Mapa con-

ta com infraestrutura formada por conselho, diretores e gerentes, coordenadores regionais e embaixadores, além de voluntários que atuam em funções específicas. Desde 2015, o projeto tem alcance em três estados via redes sociais – e a tendência é “crescer sem perder a qualidade e o objetivo”, diz Marsalles.

Integrante do projeto tocando trompete

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ARTES

Cadastro rápido leva artistas de rua à avenida Paulista

Músico, pintor, showman: todos têm seus locais definidos com antecedência pela prefeitura Avenida Paulista. Coração de São Paulo. Sinônimo de correria. Local do balcão de negócios paulistano. Grandes centros universitários. Você acha que a Paulista é só isso? Muito de sua fama se deve aos artistas de rua do fim de semana; há alguns anos, tornaram-se a cereja do bolo da avenida mais famosa da cidade. Em uma rápida caminhada, vê-se a disposição dos artistas no decorrer do caminho – mas, para se apresentar por ali, é preciso encarar um breve processo burocrático ligado à regulação do espaço. Desde outubro de 2015, sob gestão do então prefeito Fernando Haddad, a Paulista passou a ser fechada para veículos e aberta para pedestres e ciclistas todos os domingos, das 10h às 18h. O bloqueio ocorre entre a praça Oswaldo Cruz e a rua da

Pixabay

Leonardo José

Estojo do violino de um artista de rua Consolação. Isso faz com que haja espaço público para artistas se apresentarem. Desde o segundo semestre deste ano, todos têm que se direcionar ao site ou à sede física da Prefeitura Regional da Sé para fazer o cadastro da apresentação. Além da “oficialização”, o cantor precisa estar ciente dos pontos fixos predeterminados. “Para conseguirmos garantir a harmonia no convívio entre moradores, hospitais e artistas de rua, foi preciso fixar esses

pontos um pouco longe dos prédios residenciais e de zonas hospitalares. Isso porque os músicos, com seus instrumentos, causam certos ruídos que vinham incomodando os moradores desses prédios e os pacientes dos hospitais”, declarou, em nota, a assessoria da Subprefeitura da Sé ao Expressão. DOIS LADOS

“Moro aqui na região há 18 anos. Não sou contra o fechamento da Paulista para carros, até acho

uma boa, mas tudo tem que ser analisado com cuidado. Tinha domingo que eu só queria deitar no sofá e ouvir o silêncio”, aponta Joana Bispo, de 57 anos, moradora de um dos prédios residenciais da avenida. “Já precisei acolher uma amiga, que vinha de cirurgia, mas ela se incomodava com os ruídos. Imagina esse barulho para os pacientes dos hospitais daqui.” “Poder mostrar nosso som em uma avenida movimentada é muito bacana. É uma oportunidade boa tanto para nós expormos nosso trabalho quanto para os pedestres ouvirem um rock maneiro. Deixar de tocar na principal avenida da ciadade é algo impensável para nossa banda, mas temos que respeitar os moradores”, opina Everton Justo, músico da banda de rock The Shanty Town, defendendo a distribuição organizada dos artistas.

NOVO ESPAÇO

Antro Utópico recebe performances Ivan Freitas

Nos arredores de uma esquina que conduz à Brigadeiro Luís Antônio, uma das avenidas mais movimentadas da capital paulista, uma residência aparentemente comum ostenta, em sua fachada branca, o grafite de um saci apoiado na linha de um balão vermelho, com a palavra “amor”, em contraste com um azul com a palavra “ódio”. O cenário é o Antro Utópico – um misto de residência de quatro pessoas e palco de manifestação cultural, com atividades mensais ou quinzenais. Segundo o poeta e morador da casa Ed Santana, a ideia de fundar o espaço veio de uma conversa com o ator Pascoal da Conceição. “O pessoal da Cia das Artes tinha um grupo chamado ‘Turma de segunda’”, diz, referindo-se ao bate-papo organizado para falar de assuntos

como as dificuldades de se arranjar espaços. Notar que “tudo é um espaço” foi uma reflexão de Ed com Pascoal. “Como a gente estava em processo de montagem da peça Sólidas Engrenagens, decidimos alugar uma casa para a apresentar”, conta Ed. O processo levou a dupla à casa, que hoje acolhe diversos eventos. Além da literatura, o Antro Utópico recebe teatrais e musicais. “Geralmente não há uma escolha definida das atrações, mas sim dos temas dos eventos”, informa o poeta e ator Lucas Pereira. Ele se refere a temáticas que variam a partir do contexto histórico e de movimentos artísticos. Entre as performances já feitas no local estão “Os Sertões”, “Concretismo”, “Uma Noite na Taverna” e “Os Malditos”. “É um estilo antropofágico de se fazer arte: deu vontade de se apresentar, é chegar e fazer”, conclui. Divulgação

ATÉ JANEIRO

Mostra no IMS traz 500 originais de Millôr Gustavo Mignanelli

O humor crítico está em cartaz em São Paulo na mostra “Millôr: obra gráfica”, que homenageia o desenhista Millôr Fernandes. Na exposição, estão os principais temas que estiveram presentes ao longo de 70 anos de produção do artista. Além do destaque como desenhista, Millôr transitava entre outras ativida-

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des, incluindo as de humorista, tradutor, crítico e dramaturgo. As obras apresentam um humor ácido característico – evidente na crítica social que repercute por meio da exposição dos problemas cotidianos do brasileiro. A exposição está no Instituto Moreira Salles, na região da avenida Paulista, e traz cerca de 500 originais, desde autorretratos até charges em que Millôr

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expunha suas críticas por meio dos jornais e revistas. Desde 2013, o acervo está sob guarda do IMS, além de mais de 6 mil itens que incluem esboços e objetos pessoais do artista. “É claramente visível a crítica social. Em uma de suas obras, Millôr retrata uma fila em frente a um posto da previdência social onde pessoas com deficiência, idosos e outros chegam a pernoitar para

ser atendidos”, diz o estudante de Psicologia Vitor Hugo Salgado, que visitava a exposição neste último mês de outubro. SERVIÇO “Millôr: obra gráfica” Em cartaz até 27/1/2019 Onde: Instituto Moreira Salles (av. Paulista, 2424) Horário: 10h a 20h (ter. a dom.) e 10h a 22h (qui., exceto feriados)

Fachada do Antro Utópico na região central da cidade


PODCASTS

Ficção em áudio reconquista ouvintes no meio digital Divulgação

Produtores encontram caminhos para narrar histórias por meio de conteúdo sonoro; financiamento ainda é desafio Luis Filipe Santos

Você não tem tempo de parar em frente à TV para assistir a novelas? Não tem paciência para acompanhar séries da Netflix? Talvez haja uma opção para acompanhar dramas: podcasts de storytelling, que representam uma volta do audiodrama no Brasil. “O audiodrama tem algumas influências do rádio, já que trabalha com os constituintes da radionovela: trilha, efeitos, interpretação e a narrativa. Vem da TV o formato, que pode ser um seriado com vários episódios que tem começo, meio e fim; pode ser uma minissérie, com alguns capítulos, e pode ser um conto, uma peça única. Também tem algumas plataformas da internet, como sinopse, logotipo, vinheta e a interatividade com o espectador”, explica Arlete

Audiodramas podem ser ouvidos em qualquer lugar Taboada, professora e mestre em Comunicação. Um exemplo de audiodrama brasileiro é o podcast “O Contador de Histórias”, criado por Danilo Vieira Battistini. Formado em Rádio e TV, Battistini se inspirou em produções estrangeiras, como “Neverwhere” (“Lugar Nenhum”, em tradução livre), conto de Neil Gaiman adaptado pela BBC Radio 4. “Depois de ouvir essas produções, fui pesquisando um pouco mais sobre o assunto e decidi fazer minha

própria adaptação”, conta. “Quando terminei e publiquei no meu SoundCloud, minha noiva me perguntou porque eu não fazia um podcast para lançar e ficar mais fácil para encontrarem. Pensei que seria uma boa, só que com histórias originais minhas”, relata Battistini, que roteiriza e dirige o podcast. CADERNO DE IDEIAS

Battistini explica o processo de criação de histórias. “Eu tenho um “caderno de ideias” para as histórias. Pode ter desde

coisas mais elaboradas, como ‘homem preso em quarto de hotel por algum tipo de força sobrenatural e seu único contato é um gravador esquecido’, até ideias menos exploradas.” Ele relata ter um retorno positivo da crítica, mas a questão financeira ainda pesa. “Tenho uma curva de crescimento um pouco menor do que gostaria, mas as pessoas que entram em contato comigo sempre elogiam, falam da qualidade de produção, das histórias, da imersão sonora.” Segundo Arlete Taboada, a falta de dinheiro ainda é um entrave. “A radionovela acabou por questões econômicas, já que fazer grandes produções, contratar grandes atores, é caro. O audiodrama também tem essa questão. Por outro lado, o acesso a tecnologia, aos softwares de edição, facilita. É uma balança que tem dois lados”, avalia a comunicadora.

ESTAÇÃO CULTURAL

Arte e expressão ganham endereço na região central Victor Vasques

Uma famosa marca de bebidas do mundo, conhecida por fazer investimentos em esportes e dona de quatro equipes de futebol na Alemanha, no Brasil, nos Estados Unidos e na Áustria, apostou em um novo espaço para convivência na maior cidade da América Latina. A Red Bull Station, um espaço que propõe combinar a arte e a expressão com foco em música, arte, dança, tecnologia maker e inovação social, fica localizada entre as avenidas 9 de Julho e 23 de Maio, na região central. São cinco andares com estúdio de música, academia, cafeteria e espaços para esportes radicais, produção musical e projetos voltados à área de tecnologia. A maioria das atrações do espaço é gratuita, com uma programação mensal e inscrições online e presenciais.

William Castro Borges, de 24 anos, estudante de Psicologia e frequentador do espaço, diz dialogar com artistas e fazer novas amizades quando faz uma visita. “Curto mais a parte ligada à arte: há realizadores muito bons, mas que ainda não são tão conhecidos do grande público.” O estudante de Educação Física Isaac Barreto de Amorim, de 20 anos, já tocou no local. “Não tenho nenhuma pretensão de ser cantor, mas já me apresentei e fiquei feliz pela experiência. Ter a sensação de me sentir um cantor, pelo menos um pouquinho, me deixa muito feliz”, informa. SERVIÇO Red Bull Station Pça da Bandeira, 137 Tel.: 95802-4573. Horário: 11h às 20h (ter. a sex.) e 11h às 19h (sáb.) Tel.: (11) 3107-5065

PARA FANÁTICOS

Museu do Pacaembu destrincha clássicos do futebol Diego Alves

Conhecido por sediar mostras populares entre os amantes do esporte mais tradicional do País, o Museu do Pacaembu mantém até 2019 em cartaz a exposição “Clássico é clássico e vice-versa”. Nela, são apresentados os 45 principais clássicos do futebol brasileiro e histórias que vão muito além das quatro linhas. A exposição tem o obje-

tivo de mostrar todas as ações das torcidas em prol de seu time do coração. No espaço, os visitantes passam por um túnel e podem escolher qual torcida desejam ouvir – uma experiência imersiva que traz a sensação de se estar entrando no campo. Para deixar a exposição mais completa, os criadores colocaram imagens de algumas partidas marcantes na história; também são apresentados os

objetos utilizados pelos jogadores em momentos especiais, além de vídeos de jogos que ficaram na história de cada clube e cada torcedor. Um dos clássicos que mais mostram situações como essa é o Grêmio x Internacional, principal do Rio Grande do Sul. Popularmente conhecido como “grenal”, a disputa recebe contornos de tensão e emoção, com ações como a pintura de faixas

de pedestres no entorno dos estágios. Gaúcho e gremista fanático, Victor Santos, de 32 anos, estava acompanhado de seu chimarrão quando visitou a mostra. “De uns dez anos pra cá, os pré-jogos estão cada vez mais empolgantes. O Inter ganhou duas taças Libertadores e um Mundial de Clubes na década passada, e nessa nova década somos nós que estamos zoando os rivais”, diz o colorado.

Corinthians e Palmeiras também formam um clássico de muita rivalidade dentro e fora de campo. Além da torcida apaixonada nos confrontos decisivos, os fanáticos costumam abraçar a rivalidade e deixá-la maior com atitudes – nem sempre positivas – fora dos gramados. O palmeirense Iovaldo de Souza Cruz, de 49 anos, conta como age em dias de clássico. “O jogo

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contra o Corinthians é complicado. Palmeirense que é palmeirense não usa preto e branco. Do lado deles, a cena se repete e eles também não usam a cor do rival, que neste caso é o verde”, afirma. A exposição também apresenta muitas artes que torcedores marcaram em seu corpo para sempre, com tatuagens que mostram o amor, paixão e fanatismo pelo clube de coração.

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ESPORTE E LAZER

Futebol americano vive fase de expansão

AÇÃO SOCIAL

Virada aborda o poder da inclusão na cidade

Reprodução/Facebook

Divulgação/Mateus Prado

Comunidades de fãs e times nacionais reforçam tendência

Final de semana teve atrações gratuitas e acessíveis

Queridinha dos americanos, a NFL sobe em audiência a cada ano no Brasil

Carolina Didonet Raquel Alves

QuarterBack, QuickOff, Play Offs – esses são termos estranhos para muitos leitores. No entanto, estão cada dia mais conhecidos e interessantes para uma parcela de brasileiros: são usados no futebol americano, esporte que avança no Brasil. A National Football League (NFL) representa o esporte e registra salto de audiência a cada ano. Nosso

País já se tornou o segundo maior espectador da liga. Entre os jogos da eliminatória e o Super Bowl, que é a grande final, a audiência no país subiu 14% entre 2017 e 2018. Os motivos do sucesso são variados. Para Mateus Prado, jogador do Mooca Destroyers, a expansão se deve à abrangência da modalidade “É um esporte que qualquer um pode praticar e aprender muito, tanto sobre ser um atleta

como sobre ser alguém disciplinado. A busca por essas duas coisas atrai uma grande gama de pessoas.” Segundo ele, porém, arranjar espaço para brasileiros na liga ainda é difícil. “Se você sair do Brasil e tentar buscar uma oportunidade lá fora, sim, você pode ter chance. Por aqui é bem difícil. Lá, eles começam desde cedo nas escolas fundamentais”, conta. Mateus acredita que há oportunidades para

todos no esporte, sobretudo por meio do esforço da geração brasileira em ingressar na NFL. “Basta ter muita vontade e perseverança.” Seja pelos shows, seja pelos jogos disputados, os números da NFL no Brasil só tendem a aumentar – e figuras como o jogador Tom Brady, considerado o maior jogador da liga, só estreitam os laços estre os brasileiros e um possível novo hobby nacional.

VÁRZEA

Futebol amador ganha projeto de valorização Vivian Andrade

Grande parte dos jogadores e figuras famosas do mundo do futebol começou a sonhar com os grandes estádios nos pequenos e descuidados campinhos de bairro, atuando no futebol de várzea. Foi pensando nesta modalidade e nas oportunidades que ela pode gerar que o Governo do Estado de São Paulo iniciou um projeto para o apoio e proteção sociocul-

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tural do futebol amador. O decreto foi sancionado em uma parceria do Estado com a Casa Civil, o relatório final deve ser apresentado em 180 dias. O objetivo é a criação de um grupo que atue no incentivo do esporte amador e, consequentemente, no aprimoramento da infraestrutura da modalidade. Além de membros da Casa Civil, o grupo incluirá membros da Secretaria de Esporte, Lazer

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e Juventude, da Secretaria de Cultura, do Museu do Futebol, da Secretaria de Desenvolvimento Social e de entidades públicas, civis e do setor privado. As principais ideias para o projeto são o tombamento dos campos de várzea do Estado e o início de debates sobre novas políticas públicas para incentivar e expandir o esporte. Para Gustavo Sousa, jovem de 14 anos apaixona-

do pelo esporte amador, o incentivo é essencial. “Isso ajuda no nosso sonho. Queremos ser profissionais um dia, por isso sempre vamos jogar no campinho do bairro”, opina. Seguindo esta iniciativa, campeonatos como a Copa Kaiser e o Desafio ao Galo, que acaba de ser ressuscitado pela TV Gazeta, terão maior destaque entre as novas gerações que não viveram os tempos de várzea.

Pela nona vez, a cidade de São Paulo recebeu um evento específico para celebrar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, com atrações acessíveis e gratuitas. A Virada Inclusiva foi realizada no último fim de semana com três dias de eventos gratuitos. Organizada pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPCD), a ação se estendeu do primeiro ao terceiro dia do mês. Antes realizada em frente à sede da secretaria, no Memorial da América Latina, na zona oeste da cidade, a virada foi distribuida por todo o estado de São Paulo, ganhando espaço nos museus, nas unidades do Centro Educacional Unificado (CEU), em unidades dos serviços sociais da Indústria e do Comércio e em parques públicos. Capoeira e skate adaptado, circuito de cadeiras de rodas, exposições e uma miscelânea de atrações de música, dança e

peças são algumas das atividades, além de atrações nas estações de metrô Tatuapé e Sé (Linhas 3 – Vermelha e 1 – Azul) e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), nas estações Brás, Luz e Santo André. A bicicletaria na Paulista no domingo também teve ações de acessibilidade. “Sempre almejamos que aumente o número de pessoas. Ainda falta que as pessoas com deficiência mostrem a cara e usufruam do lazer, do esporte e da cultura, não só na virada, mas de modo geral”, diz Eliana Fopha, produtora da virada. “As pessoas precisam ver a PcD como protagonista das ações.” Como um recorte da Virada Inclusiva, este também foi o segundo ano da Virada Kids, que trouxe atividades lúdicas para as crianças. Uma novidade é a realização de um prêmio de arte e inclusão, que vai reconhecer 15 artistas com deficiência – cinco de música, cinco de dança e cinco de teatro.


PONTO DE VISTA

Saúde da família: o infalível remédio da prevenção Denize Ornelas conta como a atenção básica detecta riscos e melhora a saúde no País Gustavo de Almeida

Gustavo de Almeida

A saúde pública sempre foi tema urgente no Brasil. Surtos de doenças como febre amarela, dengue, zika e chikungunya ameaçaram o País entre 2016 e 2018 – no paralelo, os debates sobre a eficiência das vacinas e da prevenção ficaram aquecidos, quando não descontrolados, nas redes sociais. Uma das principais apostas globais no campo da prevenção está na saúde da família, área que, em resumo, busca cuidar da saúde da população intervindo em fatores de risco. Com ampla experiência na área, Denize Ornelas é médica especializada em Saúde da Família, mestranda em Saúde Coletiva e conta como o atendimento básico pode prevenir problemas de saúde e garantir melhorias nos modos de vida dos brasileiros. Expressão: Como funciona a estratégia de saúde da família? Denize: A estratégia começou na década de 1990, ainda como um programa que era voltado para o atendimento da população mais vulnerável, principalmente do Nordeste e dos grandes interiores do País. Com o tempo, a efetividade do plano se comprovou ao reduzirmos indicadores como mortalidade materno-infantil e controle das condições crônicas, incluindo diabetes e hipertensão. Foi ficando claro que era importante ampliar o programa para que todo o Brasil tivesse acesso. Em 2002, o que era um programa passou a ser uma estratégia: passou a ser uma forma de o governo federal incentivar os municípios, por meio de repasse financeiro, a fazer a implantação de equipes de estratégia de saúde da família. Basicamente, o modelo funciona por meio de equipes que têm um médico, um enfermeiro, um agente comunitário de saúde e, em vários lugares, também técnicos de saúde bucal e dentistas. Essas equipes atuam nas comunidades, nas unidades básicas de saúde, estão próximas de onde as pessoas moram e devem atender todo tipo de situação que surgir.

Denize: nove anos verificando as vantagens da estratégia de saúde da família Expressão: Como você avalia a presença desse modelo no País? Denize: No Brasil a gente tem 60% de cobertura de saúde da família para uma população de mais de 200 milhões de habitantes. As prefeituras investem mais em implantar a estratégia nas áreas mais vulneráveis e carentes. As grandes periferias, as populações do interior, não têm tanto acesso ao hospital ou a outros serviços de saúde, mas elas têm a unidade básica de saúde e a unidade fluvial de saúde, por exemplo. O alcance é bastante grande – e o objetivo é ampliar as ações para a classe média, assim a cobertura realmente se efetiva para a maior parte da população brasileira. Expressão: A saúde da família, portanto, se destinaria a todas as faixas de renda... Denize: Como programa, ele começou focando a população mais vulnerável; no entanto, como estratégia, a ideia

é atender todas as faixas, inclusive a classe média. Como exemplo, as doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, exigem atenção. As pessoas não vão deixar de ter diabetes; não é que nem uma gripe que você é curado e melhora. As pessoas devem perceber que a prevenção e o controle das condições crônicas, além de se fazer bons pré-natais, melhoram a qualidade de vida. Expressão: Como nossos indicadores de saúde poderiam melhorar com esses investimentos? Denize: Um paciente com uma dor de barriga pode ter desde uma diarreia até câncer. A idéia é que a gente consiga atuar tanto nas causas preveníveis de doença quanto naquilo que já está instituído como doença. No Brasil, a gente ainda convive com questões típicas de países em desenvolvimento – doenças parasitárias e infecciosas, problemas de saúde sexual e reprodutiva etc. No

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sistema de saúde, temos que cuidar de todas as causas dessas doenças, e a estratégia é uma forma de tentar reduzir os agravos e permitir que a população envelheça em melhores condições. Expressão: Na sua visão, qual o problema mais grave da saúde pública no País? Denize: Cada faixa etária vai ter um problema mais específico, mas eu diria que hoje o grande desafio é lidar com a questão da violência. Nossa sociedade é muito violenta em todos os meios: contra a criança, contra a mulher, entre pessoas jovens... isso causa muitas mortes que poderiam ser evitadas. A gente, no sistema de saúde, não consegue filtrar o que não é violência e deixar isso só pra segurança pública – isso modifica nosso perfil de atendimento e pressiona equipamentos públicos. Por trás de cada história de adoecimento, muitas vezes também tem uma história de violência. É papel do sistema de saúde colaborar com a superação da violência no Brasil. Uma coisa importante é que a violência está diretamente ligada à saúde mental. Grande parte do adoecimento em saúde mental – depressão, ansiedade, estresse crônico, insônia – está ligada a todas essas situações. Você é submetido a vários graus de violência o tempo todo e nem percebe. O sistema de saúde consegue captar isso. Expressão: Onde fica a saúde mental nas ações de saúde da família? Denize: Desde 2008, a gente passou a ter um núcleo de apoio à saúde da família, que pode ser composto por outros profissionais de saúde. Desde psiquiatras e psicólogos até terapeutas ocupacionais, nutricionistas e assistentes sociais, esse modelo ampliou a capacidade dos médicos e enfermeiros de atuar, junto com os agente comunitários, nas questões de bem-estar mental. A ideia é não só prover acesso, cuidado direto para as pessoas que já têm algum distúrbio de saúde mental instalado: o foco deve ser transformar práticas para detectar riscos e prevenir agravos.

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INFOGRÁFICO

30 anos de cidadania Conheça os percalços e desafios atravessados para erguermos a Constituição Federal Luana Nascimento e Gustavo Lima de Almeida

1983-1984

1985

15/1/1985

Movimento Diretas Já

Fim da Ditadura Militar

Eleição indireta de Tancredo Neves

1º/2/1987

Maio/1985

Abril/1985

Convocação da Constituinte: 559 parlamentares, 72 senadores e 487 deputados federais. Ulysses Guimarães (PMDB): presidente da assembleia Nacional Constituinte

Congresso finalmente aprova o princípio das eleições diretas

Morte de Tancredo Neves Vice José Sarney assume

22/9/1988

5/10/1988

15/11/1989

21/4/1993

Votação e aprovação do texto final da nova Constituição

Promulgação da Constituição

Primeira eleição direta pós-abertura leva Fernando Collor ao Planalto

Plebiscito determina sistema de governo do País: República

A constituição brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988, virou o principal símbolo do processo de redemocratização do País. Após 21 anos de ditadura, o texto marcou a ampliação dos direitos e garantias individuais, com mecanismos para evitar abusos de poder do Estado

30/6/1988

Primeira votação do projeto

O que a CF diz sobre temas-chave Colocou-se como dever do Estado a educação para todos – inclusive para a população rural e indígena, crianças com deficiência e jovens e adultos em processo de alfabetização

O Artigo 5º: direitos sociais •

Todos são iguais perante a lei

É livre a manifestação do pensamento, de expressão e de religião

É inviolável a vida privada

É assegurado a todos o acesso à informação

É livre a locomoção no território nacional

É garantido o direito de propriedade

Outro dever reforçado é o acesso à cultura e a proteção de todos os tipos de manifestações tradicionais que traduzem a diversidade étnica e cultural do País Com um capítulo inteiro dedicado ao meio ambiente, a CF reforçou a importância da proteção da riqueza natural do Brasil Motivo de orgulho para muitos, o estabelecimento de um sistema unificado de saúde é fruto da Constituição Cidadã

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