USJT
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agosto 2018
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ano 25
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edição 6
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
Mulher. Negra. Brasileira ESPECIAL - Págs. 6 a 9
Conheça projetos, ações e experiências que marcam o poder da identidade feminina negra
VIDA DIGITAL Uso dos memes reforça vínculos na comunicação de marca Pág. 4
ARTES Slam: cultura é ferramenta para a ressocialização de jovens Pág. 11
EDUCAÇÃO Intercâmbio abre horizontes para jovens após o Ensino Médio Pág. 13 agosto 2018
ESPORTE Os percalços e desafios que marcam a rotina do crossfit Pág. 14 EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
#INSTANTÂNEO
Matheus Henrique
Beatriz Rodrigues
Os últimos anos foram de afirmação para a mulher brasileira. Tida por muitos como parte de uma nova onda feminista, a crescente discussão relacionada a gênero está nas mídias tradicionais, nas redes sociais e nas ruas, reavivando questões ainda hoje urgentes. Quais formas de silenciamento persistem? Há igualdade de espaços? Que vozes ainda precisam gritar para ser ouvidas? Frequentemente, essas dúvidas são levadas a debate sem considerar a complexidade da questão feminina no País, um campo em que outros cortes sociais, culturais e étnico-raciais exercem influência. Preocupados com isso, nossos repórteres produ-
ziram um Especial sobre a mulher negra brasileira. De olho na potência de artistas, intelectuais, empreendedoras, líderes religiosas e influenciadoras que enriquecem a esfera pública, as reportagens e entrevistas desta edição são sinais de que as transformações vão além do discurso e refletem o esforço criativo de tantas brasileiras que, em seu cotidiano, abrem territórios novos e desafiam rotas históricas traçadas para a população negra. Nesta edição também exploramos temas como a arte de periferia, a inclusão de estudantes com autismo e o lado bom da deep web. Como de praxe, contamos com seu olhar atento e crítico. Boa leitura! Os Editores
Agência e Produtora Utopc
A avenida dos contrastes Um morador de rua anda com seu animal de estimação na Avenida Paulista, região central de São Paulo, no meio de pessoas que estavam no evento de música eletrônica Underground Movement - SP & Techno. A Paulista é um ícone da cidade – e expressa, de quarteirão em quarteirão, seus contrastes e contradições.
#FICA A DICA
Divulgação
André de Angelo
Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo agosto 2018 • ano 25 • edição 6 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Profa. Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Profa. Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Butantã Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Beatriz Rodrigues
EXPRESSÃO
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Gênero: História Ano: 2004 Editora: Contexto 680 páginas Por que ler? Para entender o que é – de fato – ser mulher na sociedade.
Referência no estudo das questões de gênero no País, a obra de Mary del Priore relata a trajetória das mulheres desde o Brasil colonial até os nossos dias, voltando-se a todos os tipos de leitores e leitoras: adultos e jovens, especialistas e curiosos, estudantes ou professores, arrastando-os numa viagem pelos tempos. A obra mostra como nasciam, viviam e morriam as brasileiras no passado, assim como o mundo – material e simbólico – que as cercava. Percebendo a história das mulheres como algo que envolve também a história
das famílias, do trabalho, da mídia, da literatura, da sexualidade, da violência, dos sentimentos e das representações, o livro abarca os mais diferentes espaços (campo e cidade, Norte e Sul do País) e estratos sociais (escravas, operárias, sinhazinhas, burguesas, donas de casa, professoras). Também não se contenta em separar as vitórias ou derrotas das mulheres, mas derruba mitos, encoraja debates, estimula a reflexão e coloca a questão feminina na ordem do dia. Sucesso de público e crítica, “História das Mulheres no Brasil” já chegou a 20 mil exemplares vendidos, além de ter ganhado os prestigiados prêmios Jabuti e Casa Grande e Senzala.
Divulgação
EXPRESSÃO A força feminina ao longo da História
Sobre a autora Mary Del Priore é especialista em História do Brasil e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Tem pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França, e lecionou em diversas universidades do País, como USP, PUC-RJ e Universidade Salgado de Oliveira. Pelo valor de suas obras, já ganhou prêmios como Casa Grande & Senzala e Jabuti.
PROTAGONISTA
Penna Seixas: o início, o fim e o Butantã
Rafael Costa
Existe uma lenda que diz que o maior ícone do rock nacional morou no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo, durante um tempo. Com 17 discos lançados em uma carreira meteórica, interrompida por seu falecimento aos 44 anos de idade, em 1989, Raul Seixas era tudo o que se esperava de um grande músico de sua geração: referências diversas, misturas de filosofia, política e conteúdo histórico e, é claro, um comportamento errático. Para confirmar ou ao menos tentar encontrar pistas sobre a história do artista e sua relação com a cidade de São Paulo e o tradicional bairro da zona oeste, o Expressão decidiu conversar com uma fonte segura; talvez um dos maiores fãs do pai do rock brasileiro. Penna Seixas, cover de Raul Seixas dos mais famosos da atualidade, aclamado pela mídia, conta essa e outras histórias sobre o Maluco Beleza e sua própria carreira. Expressão – É verdade que você colocou o nome do seu filho de Raul Seixas? Penna Seixas – Sim, meu filho se chama Raul Seixas. Por falar nisso, tive que enfrentar uma batalha judicial para colocar esse nome nele, mas no fim deu tudo certo, ele até gosta. Expressão – A mãe queria? Houve resistência? PS – Ela queria que ele se chamasse Francisco, mas quis fazer uma homenagem. Ficou assim até o dia do registro, quando decidi colocar Raul Seixas. Expressão – Você é cover do Raul o tempo inteiro?
“Raul foi meu amigo: eu o conheci em Dias D’Ávila, na Bahia, conheci o seu pai”
Fotos: Elias A. Abrão
Com o desafio de manter vivo o legado do pai do rock nacional, artista cover paulistano conta histórias da vida de Raul Seixas na zona oeste da capital
Penna Seixas caracterizado como Raul Seixas, tocando as “As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor” PS – Tornei isso a minha profissão. O Raul foi meu amigo: eu o conheci em Dias D’Avila, na Bahia, conheci o seu pai. Foi Raul que me fez gostar de rock. Poder ser cover de um amigo como ele é uma grande honra. Em todo lugar que paro, todo mundo diz: “Cara, você é o Raul Seixas, Raul não morreu”.
“Nunca pensei que poderia ir tão longe fazendo cover de um amigo” PS – Ele morou no Butantã sim – mas, na verdade, foi na rua MMDC, ao lado de uma padaria. Foi uma época difícil. Ele ficava trancado em casa, fumando e bebendo, e quando saía causava alguns problemas. Teve uma vez que eu tive que levar ele à força para casa, pois estava bêbado e jogado na rua; eram seus últimos anos de vida. Depois de um tempo ele foi morar em Minas Gerais. Foi uma decisão boa.
Expressão – Você inclusive participou de um documentário chamado “Raul - O Início, o Fim e o Meio”, sobre a vida dele. Como foi interpretá-lo? PS – O Dennis Carvalho me chamou para fazer o papel principal depois de me ver tocar; no filme, era o único que não era famoso. No dia de estreia, estavam Caetano Veloso, a Kika Seixas [filha de Raul] e um monte de gente famosa; me senti honrado e nervoso, também. Nunca pensei que poderia ir tão longe fazendo cover de um amigo. Expressão – Existe uma lenda no bairro do Butantã que diz que o Raul morou por lá, no Morro do Querosene. Isso é verdade?
Penna Seixas vestido de bruxo
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Expressão – Raul ainda influencia o rock nacional? PS – Claro que sim, Raul ainda tem muitos fãs. Todo aniversário da sua morte tem uma legião de pessoas vai comemorar o seu legado. Qualquer banda que tá começando tem que ouvir aquela frase: “Toca Raul”. O legado de Raul irá viver para sempre.
EXPRESSÃO
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VIDA DIGITAL
Memes: aliados de marcas e negócios Em rápida ascensão, fenômeno da web é ferramenta importante para a publicidade
Assessoria F.biz/Divulgação
Luiz Guilherme
Os memes invadiram o mundo digital. Não sabemos quando este fenômeno dominou a web ou qual foi o primeiro a ser divulgado na internet; com a escalada dos fóruns digitais, porém, estima-se que os pioneiros sejam de 1998 e 1999. De acordo com o dicionário Priberam, meme significa algo, informação ou ideia, que se espalha rapidamente por meio da internet. Está presente não apenas no Twitter ou nas redes sociais de amigos; hoje, é objeto de estudo, e em ritmo acelerado vem marcando a sua presença em cases
publicitários e campanhas de conscientização. Lucas D. Negreiros, redator criativo na agência Aktuellmix, famosa pelo trabalho inovador em parceria com a Hershey’s, Segura Essa Barra, e pela participação do grupo Raça Negra com a música que virou meme, “Cheia de manias”, deu a sua opinião sobre esse fenômeno. Para ele, após o sucesso comercial, os memes não se tornaram obrigatórios e é importante saber o momento certo para usá-los.
“Acredito que nada é obrigatório na publicidade, mas existem tendências. Hoje, a tendência é fazer parte da vida e da comunidade do seu consumidor. A internet é um território que propicia às marcas a oportunidade de engajar os consumidores de maneira verdadeira”, conta. “O importante é saber diferenciar a oportunidade do oportunismo, ou seja, falar apenas se aquilo for genuíno para a sua marca. Os memes não mudaram o processo criativo, mas eles são uma
“Nada é obrigatório na publicidade, mas existem tendências”
ferramenta a mais na ‘mochila do gato Félix’.” RELAÇÃO COM A CULTURA
Gerente de Conteúdo e Mídias Sociais na F.biz, Laila Bergamasco também acredita que o meme não se tornará algo obrigatório, mas ressalta a sua importância na web. “Enxergo o meme como a representação de uma cultura, uma linguagem que ‘pegou’ por meio da internet. Porém, os memes existem bem antes do Facebook ou Twitter se tornarem populares. Se usados de forma coerente com os valores da marca têm o poder de quebrar o gelo na comunicação e criarem empatia na relação marca-consumidor”, diz.
Laila Bergamasco, gerente na F.biz
CADÊ A GRANA?
A conta não fecha no streaming musical Divulgação / Spotify
Apesar da visibilidade, ferramentas não trazem retorno financeiro imediato Matheus Henrique
Que o Spotify é um aplicativo que mudou o consumo da música não há dúvidas. Hoje são
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140 milhões de usuários mensais, somando tanto assinantes quanto usuários gratuitos. Mas, afinal de contas, qual a realidade para os músicos? Vale
EXPRESSÃO
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a pena aderir à plataforma de streaming? Segundo o músico Gabriel Riby, de 23 anos, o aplicativo não é rentável para o artista, que preci-
sa de milhões de reproduções em suas músicas para ganhar um dinheiro considerável. “O Spotify paga R$ 0,012 centavos para cada play da sua música. Então, para você ganhar alguma quantia significativa, precisaria de um milhão de plays. E não é uma quantia mensal, é uma vez só”, afirma o jovem. Em 2014, a cantora pop Taylor Swift chegou a retirar todo o seu conteúdo do Spotify e de concorrentes da plataforma por conta do baixo retorno financeiro. Em um ano, ela ganhava cerca de US$ 6
milhões. Porém, no lançamento do álbum “1989”, ganhou cerca de US$ 16 milhões em uma semana. MAIS OUVINTES
Rodrigo Bertagnoli, 22 anos, guitarrista da banda gospel Ministério Filipe Figueiredo, também não vê o Spotify como um negócio válido; acha, no entanto, que os apps de streaming são necessários. “Os streamings em um geral, não só o Spotify, são necessários porque uma parte gigantesca das pessoas que escutam música faz isso pelas plataformas digitais. E,
“O aplicativo não é rentável para o artista”
hoje em dia, a indústria está diferente, nos contratos com as gravadoras não é mais por distribuição, e sim por shows”, diz o guitarrista. Com a clara mudança no mundo da música, é possível que os músicos tendam a se adaptar aos poucos a essa nova realidade, na qual o que mais vale, financeiramente, não é a venda de álbuns ou de músicas à parte, e sim performances. Mas há também a probabilidade do campo se tornar mais lucrativo; é o caso do cantor Jay-Z, que criou seu próprio serviço de streaming, em uma promessa de render mais dinheiro para os músicos do que nos meios convencionais.
LADO POSITIVO
Deep web ganha conteúdo relevante Anonimato da plataforma também dá acesso ao conhecimento e a serviços Tairony Mendes
Se você é usuário assíduo da internet ou apenas curioso, com certeza já deve ter lido algo sobre a deep web, uma espécie de internet paralela e muito maior do que a tradicional que nós conhecemos. Ela possui uma imagem negativa por conta da alta quantidade de material ilegal e macabro que é disseminada por grande parte de seus usuários; no entanto, nem tudo são trevas. Ela também pode ser muito útil para quem não quer lidar com perversidades e viver à margem da lei. “Se pesquisar o termo
‘deep web’ no Google, encontrará centenas de milhões de resultados. O que acontece, porém, é que uma parcela significativa dos resultados retrata aspectos negativos da rede. Quando a pesquisa é realizada no Google Imagens, então, a concepção obscura da rede ficará ainda mais acentuada”, explica o mestre em Ciências Criminais Bernardo de Azevedo e Souza. Na internet comum há segurança, mas não anonimato. Já na deep web não há segurança, mas o anonimato é garantido. Ela é constituída basicamente por fóruns, possui uma conexão bastante lenta;
seus sites possuem aparência arcaica e não é possível acessá-la com navegadores comuns como Chrome ou Firefox. A maioria de seus usuários utiliza o TOR, um software que funciona como navegador padrão. Marcelo Crespo, doutor e mestre em Direito Penal, esclarece o processo de acesso à plataforma: “cada página na Web é indexada com palavras que facilitam sua localização pelos buscadores (Google, Yahoo, Bing etc.). Na deep web as coisas são diferentes, já que ela não pode ser acessada por um navegador padrão e porque suas páginas não são indexadas. Para encontrar algo
Tairony Mendes
na deep web é necessário conhecer o endereço exato”. ACESSO À INFORMAÇÃO
Nessa internet profunda, além do conteúdo aterrorizante, também é possível encontrar uma vasta quantidade de fóruns de discussão sobre artes, ciência, tecnologia, educação, engenharia, esportes, negócios, saúde, política, etc. Assim, como em qualquer outra plataforma, na deep web também ocorre troca de conhecimento e informação entre os usuários. No Irã, China e Coreia do Norte, por exemplo, onde a internet é censurada, os internautas utilizam esse espaço para tomar co-
Acesso à informação é requisito na internet profunda nhecimento de fatos que geralmente não são divulgados pelos veículos de comunicação locais. Bibliotecas virtuais também são bastante comuns nessa esfera, contendo milhares de obras sobre religião,
direito, matemática, história, psicologia, física e literatura. Além disso, lá encontra-se também uma incalculável quantidade de vídeos, documentários, músicas, imagens e filmes que não necessariamente são proibidos.
VÍCIO NA WEB
Prisão digital motiva tratamentos matheus chaves
Com a evolução tecnológica, as pessoas estão cada vez mais dependentes da internet e dos aparelhos eletrônicos: alguns se tornam prisioneiros no mundo virtual. Um estudo divulgado em 2016 pela Common Sense Media, uma organização educacional nos Estados Unidos, mostra que 59% dos pais acham que seus filhos adolescentes estão viciados em dispositivos móveis – ao mesmo tempo, 50% dos jovens se veem como viciados. O estudo teve a participação de mil e trezentas pessoas. Tratar esse transtorno, em tempos atuais, virou desafio e prioridade na área da saúde. O Bradford Regional Medical Center, na Pensilvânia, Estados Unidos, é uma clínica de reabilitação que dei-
xa os seus pacientes em dez dias de reclusão, podendo acessar a internet ou algum tipo de aparelho eletrônico em tempo estipulado e extremamente regulado. No Brasil, a forma de tratamento é outra. No Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o procedimento é realizado por meio de conversas em grupo. O paciente é acompanhado por um psiquiatra durante 18 semanas. Os pais também se reúnem para discutir a situação do filho e para saber como podem ajudar. LINHA DURA
A China também vem adotando uma forma de tratar essas pessoas, mas o método utilizado é na base “linha dura”: o Centro de Educação Qide, em Pequim, é um local que
interna os jovens viciados por um período de três a quatro meses. Usando uniforme militar, os alunos são obrigados a praticar atividades físicas exaustivas e ficam totalmente isolados da tecnologia. “A maneira mais eficaz para o tratamento de pessoas viciadas em internet é a busca de um profissional de psicologia, por meio de psicoterapia individual, considerando que cada ser é único e, assim como outros vícios, não há como generalizarmos o que o tem causado”, afirma a psicóloga Mirella Salles. “Com o auxílio do profissional, é possível compreender quais são as necessidades emocionais que têm levado de fato a pessoa a depender do uso constante da internet”, completa.
Brasil se destaca como 4º maior consumidor de celulares do mundo André Luis Oliveira Design, sistema operacional, marca, capacidade de armazenamento e muitas outras características definem a performance, o uso e a popularidade dos dispositivos móveis. O avanço da tecnologia vem modelando o cotidiano das pessoas – que dificilmente ficam sem o queridinho do momento: o celular. Por substituir computadores, máquinas fotográficas, televisão, rádio e muitos outros meios, o celular se tornou um item indispensável na vida do ser humano e alterou as
formas de consumo e sociabilidade. A estudante de Direito Natalia Goes de Souza, de 22 anos, vive uma rotina conectada. “Eu faço tudo com o meu celular. Não uso muito redes sociais, mas gosto de ouvir rádio e música clássica e ficar por dentro do que rola na faculdade, por meio dos grupos”, comenta. Segundo dados do governo federal divulgados ao final de 2017, já são 240 milhões de aparelhos no Brasil, número maior, inclusive, do que a população, estimada em 213 milhões de pessoas. O País é o quarto maior
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usuário de celulares do mundo. De acordo com a professora e pesquisadora Magaly Prado, o celular tem seus lados bons e ruins na vida dos usuários. Por mais que a resposta aos amigos virtuais seja mais rápida e que todas as notícias do Brasil e do mundo fiquem a um toque de distância, as pessoas começam a perder a noção da realidade, o que impacta na vida social e no convívio humano, seja ao dar atenção às pessoas que estão ao seu lado, seja na hora perceber tudo o que está rolando por aí.
EXPRESSÃO
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ESPECIAL
Ativismo e mobilização marcam a mulher negra brasileira
Da conquista de espaços na arte à religião, passando pela política, presença feminina é destaque nas transformações sociais contemporâneas
Jessyca Alves
Luara Theodoro
O feminismo negro é um movimento social protagonizado por mulheres negras, com o objetivo de promover e trazer visibilidade às suas pautas e seus direitos. Esse ativismo, que tem sua gênese no Brasil nos anos 1970, vem ganhando maior visibilidade nos meios culturais, na mídia e nas redes sociais. Historicamente, a mulher negra carrega nas costas o peso da escravatura e ainda mantém o status de subordinada – não só do homem, mas também em relação à mulher branca. “Ser mulher negra é ter de carregar uma carga dupla que se intersecciona entre o racismo e o machismo”, diz a estudante de jornalismo Gabriela Gonçalves, integrante de um coletivo universitário voltado ao assunto. “A partir disso, tem-se parte da subjetividade forjada com base nesses locais sociais que a sociedade designa a você.” Diversas frentes de movimentos sociais – como coletivos, saraus e rodas de samba – trabalham conteúdos ligados a questões étni-
O coletivo surgiu em março de 2016, quando as amigas decidiram se unir para mostrar a força e o talento da mulher negra. co-raciais e de gênero. COLETIVOS
Coletivos negros são formados por pessoas com interesses em comum - todos conectados à proposta de evidenciar a cultura e a intelectualidade negras. “O movimento do sarau aparece em um contexto em que as populações, as pessoas mais simples e humildes, podem ter acesso a outro tipos de informação que não a da televisão”, comenta a cantora e compositora Débora Garcia. Em ambiente acadêmico,
os coletivos se moldam como um suporte. “Serve, sobretudo, como um local de refúgio e de acolhimento para que os alunos que se sentem destoantes da massa hegemônica não se sintam tão isolados”, comenta Gabriela Gonçalves. SARAU
Outro campo de avanço é o dos saraus, utilizados como forma de expressão e ativismo pela população negra. O Sarau das Pretas é um exemplo: formado por artistas articuladas em torno da
literatura, da musicalidade e de tambores, o grupo leva mensagens de luta, resistência e reconhecimento por onde passa. “A cidade de São Paulo é marcada pela presença de saraus literários e artísticos em todo o território, mas as mulheres não tinham um lugar efetivo de protagonismo”, conta a poeta Débora Garcia. O sarau é conduzido por cinco mulheres: Débora Garcia, Elizandra Souza, Jô Freitas e Thata Alves e a percussionista Tayssol Ziggy. “A gente leva essa reflexão para
as mulheres na periferia por meio da nossa consciência de quem somos no mundo.” RODA DE SAMBA
Outro movimento artístico que traduz o espírito do ativismo feminino negro é o “Amigas do Samba”, criado em 2011. Seu repertório é baseado em grandes sambistas, como Tia Ciata, Dona Ivone Lara, Clara Nunes, Julia Saragoça, Jack Carvalho e Lua Cristina. O samba é um dos ritmos mais populares do Brasil e conta com uma grande
predominância masculina – tanto dentro da indústria como nos espaços em que é tocado. “Em muitos lugares não somos levadas a sério. É você pedir um tom e o cara puxar outro pra sacanear”, afirma Fran Zaila, uma das vocalistas. E é a partir da musicalidade que o grupo busca retratar o papel histórico da mulher na sociedade. “Dá para desenvolver enormes palestras sobre machismo, racismo e desigualdade social somente por meio das letras”, diz Zaila.
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EXPRESSÃO
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Djamila Ribeiro, filósofa, 37, é conhecida nas redes sociais, no meio acadêmico e na televisão por seu ativismo no feminismo negro. É autora das obras “O que é lugar de fala?” e “Quem tem medo do feminismo negro?”.
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Maria Júlia Coutinho, mais conhecida como Maju, 39, é jornalista, apresentadora de TV e comentarista. Foi alvo de ataques racistas na internet em 2015; a hashtag #SomostodosMaju teve ampla repercussão nas redes sociais.
Cássia Tabatini
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ROSTOS E VOZES >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Dona Ivone Lara ficou conhecida como a “Grande Dama do Samba”. Compôs seu primeiro samba aos 12 anos e seu maior sucesso foi a música “Sonho meu”. Morreu em abril, aos 96 anos.
MUNDO DRAG
Performance artística leva ao autoconhecimento
Movimentos identitários levam mulheres a um novo patamar de expressão quiagens para realizar performances estéticas, de força e de autoconhecimento. A vertente mais conhecida é a das drag queens: homens que realizam performances artísticas com roupas tradicionalmente femininas. Há, porém, a outra face dessa moeda, a drag king. “Tudo começou quando eu estava na faculdade: me deparava com coisas sobre as drags queens e comecei a me questionar sobre a falta de representatividade de mulheres, também, nas performances a que assistia. Comecei a pesquisar e saber mais sobre o que é ser drag e vi que também queria fazer
Gabriel Castro
A indústria do entretenimento é reflexo da sociedade em que foi gerada. Ou seja: no Brasil, ainda tende a carregar os estigmas do machismo, do racismo e da homofobia. Remando contra a maré na música, artistas como Pabllo Vittar lutam para conseguir o seu espaço por aqui e pelo exterior. Além de sua arte, gente como ela acaba dando visibilidade à cultura drag – um campo em que, cada vez mais, a população negra se mostra presente e ativa. Drag é um(a) artista que usa roupas, perucas e ma-
parte daquilo”, diz a jornalista Valéria Paixão, 22 anos. “Mulher não só pode como deve fazer de tudo para quebrar repressão e machismo, como forma de arte e revolução. Passei por problemas em minha vida por ser mulher e negra várias vezes.” Hoje, Valéria é também Tina, uma drag utilizada para manifestar angústias e pensamentos. “Essa foi a maneira que eu encontrei de me expressar, fazer arte e política de uma forma satisfatória e aumentar minha autoestima.” ATUALIDADE
A arte drag, por essên-
cia, nasceu no mundo LGBTQ+ e abriu espaço a pessoas que sofriam repressão; alguns clubes de show acolhiam pessoas (muitas delas negras) para protegê-las e dar a elas um lugar seguro para morar e construir suas vidas. “Acho que é importante falar sobre o negro drag, porque está também em sua essência”, opina Valéria Paixão. “Hoje esse tipo de arte é, infelizmente, dominada por pessoas brancas, e eu assumi esse personagem também para resgatar a história do negro por trás das drags.” Ser drag é livre para todos os públicos, inclusive ho-
Mariana Schmidt
Ivan Falcon
Tina Wayward mostra com suas produções que mulheres também podem ser drags
mens e mulheres héteros. O movimento – traduzido em identidade, estética e performance – não tem necessariamente ligação com orientação sexual. Sua essência é
entrar em uma personagem de maneira que possa se sentir confortável consigo mesmo, expressar seus pensamentos e, principalmente, se divertir.
ATIVISMO DIGITAL
Podcasts disseminam mensagens de resistência que foram esquecidas pelo grande público, a força do feminino e da população negra ganharam uma conjunção estratégica. Desde a atriz Ruth de Souza, até figuras históricas como Dandara – guerreira que, junto com Zumbi dos Palmares, liderou a resistência negra contra a escravidão.
Gilton Sales
O projeto Preciosa Madalena vem trazendo cada vez mais as mulheres negras para a linha de frente da internet brasileira. Com o programa Ponto G, que há mais de um ano traz a pauta feminista, contando histórias de grandes mulheres
A mais nova criação do projeto é o programa Pretas na Rede, um podcast com a participação de Liliane Ribeiro, Gabriela Santos e Larissa Barbosa que busca levar temáticas étnico-raciais para o ciberespaço. “No programa, mostramos que podemos falar de qualquer assunto e que
vamos trabalhar pelo nosso espaço dentro de uma mídia majoritariamente masculina, branca e cis hétero”, diz Liliane Ribeiro. CURADORIA
O programa já nasce com um grande desafio: promover curadoria de conteúdo em um universo parcial-
mente desconhecido de boa parte dos internautas. “Um grande problema em nosso País é o volume ínfimo de documentos e relatos históricos sobre o povo negro”, conta Liliane. Na visão da produtora de conteúdo, o que emerge nesse momento é, ainda, um relato hegemônico de um
campo em construção – e que ainda terá sua chance de ser problematizado. “Quando algum conteúdo será criado a fim de desmistificar nossas histórias? Esse pensamento é o que me motiva a continuar, buscando estabelecer o espaço para que outras mulheres se inspirem para seguir produzindo.”
Isabela Lima, ou simplesmente Iza, 27, é uma cantora, compositora, apresentadora e publicitária brasileira. Emplacou o seu hit na mídia em 2017 com a música “Quem Sabe Sou Eu” e ganhou o Women’s Music Awards como revelação do ano.
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Karol Conka, 31, rapper e compositora brasileira, é conhecida por falar em suas músicas sobre o empoderamento das mulheres. Em 2015, recebeu sua primeira estatueta como artista revelação no Prêmio Multishow de Música Brasileira.
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Taís Araújo, 39, é atriz, apresentadora e jornalista. Seu primeiro papel de destaque na TV foi em 1996, como protagonista em “Xica da Silva”. Foi, também, a primeira negra a protagonizar uma telenovela da Rede Globo, em “Da Cor do Pecado” (2004).
EXPRESSÃO
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NA RELIGIÃO
AFROEMPREENDEDORISMO
canidades, primeira livraria especializada em literatura negra e feminista do País, idealizada por Ketty Valencio, mulher negra, bibliotecária e pesquisadora. Ela afirma já ter sido acusada de promover “racismo inverso” em razão da segmentação literária do seu negócio. “Sinceramente, não me importo com estes comentários”, afirma. “Tenho consciência que a minha presença e de outras e de outros corpos negros é de rompimento, de quebras de paradigmas. Eu sou a prova que a população negra consome livros, que cada vez mais quer saber e recuperar sua trajetória histórica e também quer escrever sua própria história”. Outra empreendedora de destaque é a diretora de criação e idealizadora da marca de produtos de beleza Negra Rosa, Rosangela Silva, mulher negra que iniciou sua carreira como blogueira e youtuber há seis anos. “Muitas mulheres negras se identificam comigo, com nossas propagandas e com nossos produtos, por saberem que são feitos pensando nelas. A empresária Cynthia Mariah, designer fashion afrobrasileira e educadora, criadora do espaço que leva seu nome, buscou inspiração em peças que sua avó confeccionava, tanto de cro-
Nadia Belo
O esforço de se construir o novo, inovar e criar um negócio próprio sintetiza o significado do verbo empreender. A decisão de investir nesse campo, deixando a segurança de trabalhar em uma empresa já edificada, é algo desafiador, mas que vem crescendo e tomando espaço no mercado. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada de 2001 a 2011, revelou que a quantidade de empreendedores negros cresceu 29%. Outro levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), “Os Donos de Negócio no Brasil: análise por raça/cor (2001 a 2014)”, mostrou que 51% dos empreendedores brasileiros são negros. O afroempreendedorismo não significa apenas dizer que os negros estão mais participativos na economia, mas está carregado de engajamento e reafirmação de suas raízes, já que muitos são dedicados a preservar sua cultura por meio da venda de artigos e produtos pensados e voltados a todos os “irmãos”. Parcela significativa desse rol de empreendedores é composta de mulheres: um exemplo disso é a Afri-
Reverenda trans exemplifica conquista
chê e tricô como as de tecido. “No mercado, o maior desafio que encontro é que as pessoas estão acostumadas com a massificação”, relata. “Fazer entender que, assim como elas, as minhas peças são únicas e cada uma tem uma história se torna um pouco difícil.” TECNOLOGIA PARA ELAS
A InfoPreta, empresa comandada por mulheres negras e periféricas, é mais um exemplo de afroempreendedorismo. Ela foi criada por Buh D’ Angelo, bilíngue, formada em manutenção, robótica, eletrônica e automação industrial, e Fernanda Monteiro, que depois de sua transição de gênero não conseguiu mais empregos na área. O projeto cresceu, o número de consertos aumentou e a empresa foi classificada para representar o Brasil no Women 20 Summit 2017, evento organizado pelo G-20 em Berlim, como um projeto de tecnologia feito por mulheres. A representante da empresa Danielle Esli Lourenço afirma que o empreendedorismo sempre esteve presente nas famílias negras. “A InfoPreta gera oportunidades de emprego e crescimento profissional, buscando a autonomia de mulheres negras periféricas”, conta.
Acervo pessoal
Filhas do silêncio? Se depender delas, não
Denilson Lira
Mesmo diante do avanço conservador vivido em alguns campos religiosos, não há dúvida de que esforços inclusivos e progressistas têm ganhado força: um bom exemplo está na igreja católica, que tem no Papa Francisco um ícone de renovação. Há, porém, barreiras específicas quanto à inclusão da população LGBTQ+ – e essa é uma luta protagonizada, no Brasil, por pessoas como a pastora Alexya Salvador, mulher trans e negra que atua na Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM). A igreja foi fundada em Los Angeles por Troy Perry em 1968; hoje, está presente em um pouco mais de 50 países, incluindo o Brasil. O cristianismo, porém, não reconhece esta denominação como legítima. Segundo Alexya, a instituição busca acolher todas as pessoas que fogem do padrão tradicional religioso. “Negras(os), mães solteiras, lésbicas, gays e transexuais eram proibidos de frequentar e exercer uma espiritualidade, pois a igreja tradicional não permitia”, conta. Alexya conheceu a ICM por meio de uma pesquisa de internet em 2010. Visitou, então, uma unidade que fica no bairro Santa Cecília
Dentro da escola, a pastora disse não enfrentar situações graves de violência ou discriminação. Infelizmente, segundo Alexya, esse não é o padrão: outros professores transgêneros já sofreram xingamentos e até agressões físicas. NA IGREJA E NA POLÍTICA
Pastora Alexya Salvador (região central de São Paulo) e não saiu mais, tornando-se pastora. Há cerca de quatro anos, iniciou o estudo de teologia no instituto Darlene Garner, que pertence à denominação ICM. O processo traz ampla transformação em sua vida religiosa: ela será ordenada como primeira reverenda transgênera da América Latina. O CAMINHO ATÉ LÁ
A pastora é formada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. Hoje, também leciona numa escola pública estadual em Mairiporã, dando aulas de português e inglês para os alunos dos ensinos Fundamental e Médio. “Ser uma mulher transgênera e ser professora ainda é um rompimento de muitas coisas na sociedade, no sistema patriarcal de ensino.”
Após se tornar pastora e futura reverenda, além de professora, Alexya se candidatará a deputada estadual pelo PSOL. “Apesar de possuir pessoas ligadas à causa LGBT, o estado de São Paulo não possui nenhuma mulher trans [na política]. Isso fez com que eu entrasse nesse meio”, conta. “Também tenho como pauta a questão da adoção de crianças, que é um caminho doloroso e burocrático”. Alexya já tinha dois anos de casada quando, aos 28, fez sua transição. Ela tem duas crianças adotivas – uma também transgênero, adotada em Pernambuco, e outra com necessidades especiais. O conselho que Alexya deixa para outras pessoas trans é claro: não desistir de estudar, de tentar ocupar os espaços nas faculdades e escolas e no mercado de trabalho formal. “O preconceito é algo que deve ser encarado de frente.”
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EXPRESSÃO
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Daniela DaMata, maquiadora e empresária, é especialista em colorismo e referência no mercado de beleza. Foi a responsável pela criação da primeira escola de maquiagem especializada em pele negra no Brasil, a DaMata Makeup.
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Glória Maria, 68, natural do Rio de Janeiro, é considerada a primeira repórter negra da televisão. Iniciou a sua carreira na Globo no ano de 1971. Outro marco: foi a primeira repórter a entrar ao vivo na TV brasileira.
Larissa Dare
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ROSTOS E VOZES >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Camila Manhães Sampaio, 41, que adota o nome artístico Camila Pitanga, é modelo e atriz. Iniciou a carreira na TV na pele de uma das protagonistas da telenovela “A Próxima Vítima” (1995), que abordou o racismo.
SUPERAÇÃO
ELAS POR ELAS
Identidade é poder
A palavra não cala quando escapa da alma
Elas tinham tudo para dar errado. A sociedade tentou convencê-las que a cor de sua pele, seus cabelos crespos e sua maneira diferente de viver a vida não teriam chance. Mas elas venceram o olhar torto, a discriminação, os desafios impostos – e se tornaram mulheres fortes que conquistaram um lugar ao sol. Tandara Viela dos Santos, 22 anos, cabeleireira afro e estudante de Psicologia na Universidade Paulista (Unip), venceu o machismo presente desde sua vida familiar e aprendeu a lidar com a falta de mulheres com sua aparência na mídia. “Venho de uma família que foi regida por mulheres, mas isso não me livrou do machismo”, conta. “Lembro-me de algumas vezes que ouvi as seguintes frases: ‘filha mulher nasceu para ter seu esposo, seus filhos e honrar seu casamento’. Eu sempre me questionei sobre esse papel da mulher”, conta. Em sua adolescência, outro trauma: segundo Tandara, era difícil encontrar mulheres iguais a si, nas quais poderia se espelhar. “Nas redes sociais e nas mídias convencionais não via gente como eu. A mulher é enganada pela sociedade.”
Nubia Oliveira
Thays Andrade
Tandara V.dos Santos
Duas mulheres que viram no autoconhecimento uma libertação
“Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.” Audre Lorde • “Há um longo caminho ainda para combater o preconceito inconsciente contra o cabelo, textura e complexidade dos cabelos de mulheres negras” Lupita Nyong •
Donas de seus destinos: jovens mostram como quebrar as barreiras do preconceito Em diversos momentos, Tandara diz ter questionado sua própria identidade. “Confesso que muitas vezes perguntei a Deus por que não havia nascido branca, por que não havia nascido com o nariz fino. Minhas amigas de colégio diziam que cabelo com volume era feio, era sinônimo de inferioridade, então, sem perceber, me tornei escrava de químicas capilares para ter um cabelo igual ao delas”, relata.
O autoconhecimento, porém, ajudou a tirá-la desse ciclo. “Fui entendendo que a mulher negra tinha seus traços diferentes e que esse diferente não era feio, mas sim lindo.” Nubia Oliveira 18 anos, estudante de Administração, também viveu dificuldades em toda a adolescência; chegou a questionar-se qual seria o propósito dos negros no mundo.
“Inúmeras vezes me peguei pensando o porquê de tanto sofrimento só por conta minha pele negra. Perdi festas e oportunidades com medo, pavor de sair nas ruas e ser engolida por pessoas ruins que sentiam prazer em me ofender por conta do meu cabelo e da minha cor”, conta. Do mesmo modo que Tandara, a virada veio por meio do reconhecimento de si. “Hoje me vejo como negra, me amo demais e não me deixo abalar”, finaliza Nubia.
“Nas redes sociais e nas mídias não via gente como eu.”
“Minha experiência em Princeton me tornou muito mais ciente de minha ‘negritude’ do que nunca antes. Eu descobri que em Princeton, não importa o quão liberal e abertos fossem meus professores e colegas, algumas vezes eu me sentia como uma visitante no campus; como se eu realmente não pertencesse aquele lugar. Independente das circunstâncias sob as quais eu estivesse com meus colegas brancos em Princeton, frequentemente parecia que, para eles, eu sempre seria primeiro negra, e depois estudante” Michelle Obama • “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo.” Angela Davis • “Não fomos vencidas pela anulação social. Sobrevivemos à ausência na novela, no comercial. O sistema pode até me transformar em empregada, mas não pode me fazer raciocinar como criada. Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo, as negras duelam pra vencer o machismo, o preconceito, o racismo.” Yzalú
Sônia Guimarães foi a primeira mulher negra professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Entrou para a sala de aula do ITA quando as mulheres ainda não eram aceitas no vestibular da instituição militar mais tradicional do País.
Acervo UH/Folhapress
Luislinda Valois, 76, foi a primeira juíza negra do Brasil; além disso, foi a primeira a sentenciar uma condenação por racismo. Sofreu ainda na infância o preconceito racial, circunstância que lhe inspirou a buscar a judicatura.
Roosevelt Cássio
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Carolina Maria de Jesus foi a grande revelação da literatura brasileira; em 1960, publicou o seu primeiro livro, “Quarto de despejo - Diário de uma favelada”. A obra foi traduzida em 16 idiomas e vendida em mais de 40 países.
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ARTES
Sarau propõe integração Cinema abre espaço a pessoas com autismo entre arte e experiência PARA TODOS
Joyce Santos
Ideia do coletivo é resgatar identidade de detentos e jovens em processo de ressocialização
Jaime José Teixeira Queiroga
Sala de cinema garante experiência inclusiva Bárbara Nascimento
Estudante acessa obras de poesia: retomada da vida cotidiana se torna mais simples com apoio da arte Amanda Moura
Atenta à possibilidade de abrir espaço a diferentes falas sociais, a equipe do Sarau Asas Abertas, do grupo Poetas do Tietê, montou um projeto capaz de dar vez e voz àqueles que foram calados pelas circunstâncias da vida. Criado em 2013 por Jaime José Teixeira Queiroga, o Asas Abertas acontece exclusivamente em presídios e unidades da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa); o principal objetivo é fazer com que as pessoas em situação de cárcere reflitam acerca da própria história e usem a poesia como meio de resgate, produzindo con-
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teúdo artístico lido pelos jovens em ressocialização. “Eles conseguem enxergar, por meio da arte, que podem mudar o mundo, e produzindo começam a se sentir importantes e ter autoestima”, afirma Queiroga. Por meio da autoestima destes homens e mulheres, muitos destes adolescentes refletem e descobrem outros sonhos”.
Durante oficinas de poesia, organizadas nas penitenciárias, os presos e as presas extravasam seus sentimentos por meio de textos escritos por eles mesmos, debatendo semanalmente sobre a prisão. Já na Fundação Casa, o trabalho é realizado de forma diferente por questões legais estabelecidas pelo próprio Estatuto da Criança e do Jaime José Teixeira Queiroga
Grupo que participa do sarau na penitenciária
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Adolescente: e o roteiro consiste em duas horas de pura poesia, com produções dos presidiários adultos dedicadas a eles, livros e obras próprias. Em seguida, é aberto um bate-papo com os internos. “A impressão que eu tive ao visitar a penitenciária feminina é a de que muitas presas possuem semblantes sofridos e de muita amargura. Outras se mostram mais conformadas com a situação. Pude observar que a poesia mexe demais com o emocional, e muitas relembram sua história. Estas mulheres possuem uma grande garra, porém muitas sequer sabem”, conclui a voluntária Rogéria Ribeiro de Moraes.
“O amor pelo meu filho em nada muda, mas é extremamente complicado socializar com os olhares que recebemos”. A frase é de Ana Rodrigues, mãe do Daniel, de apenas dois anos de idade, e resume o drama vivido pelos dois milhões de autistas e seus familiares no Brasil. Apesar de numerosos, os casos de autismo – síndrome que afeta o comportamento e a comunicação do indivíduo – não se traduzem em um ambiente 100% inclusivo no País, e foi para contornar esse desafio que a Sessão Azul foi criada, levando lazer e alternativas de entretenimento para famílias. São sessões de cinema realizadas em um ambiente customizado, com luzes e sons adequados, que transformam a ida ao cinema em uma experiência única. Além disso, o público pode interagir e escolher qual filme será exibido em cada sessão por meio de enquetes, que sugerem pelo menos duas opções de filmes de temática infantil em versão dublada.
“Quando começamos o projeto, não tínhamos ideia da proporção que ele tomaria. Vemos hoje que várias famílias se sentem à vontade para sair de casa e frequentar um local cultural, sem o receio de olhares ou discriminações”, diz Leonardo Cardoso, gerente de projetos da iniciativa. “Ver até mesmo crianças que já conseguem frequentar sessões sem adaptação após participar do projeto é algo que nos dá um orgulho muito grande”, complementa. O projeto, que inicialmente acontecia somente na cidade do Rio de Janeiro, hoje já está em mais cinco cidades: Niterói, São Paulo, Vila Velha, Goiânia e Brasília. Além disso, a iniciativa já conta com o apoio de grandes parceiros e patrocinadores, incluindo as redes Cinemark, Cinépolis e Kinoplex.
Onde encontrar www.sessãoazul.com.br facebook.com/sessaoazul instagram.com/sessaoazul youtube.com/sessaoazul contato@sessaoazul.com.br
EM OSASCO EM VERSOS
Slam alia repertório cultural e resistência
A voz e a poesia das mulheres Pixabay
Movimento reúne poetas em prol da igualdade
Movimento cultural dinamiza a cidade paulista Murilo Nogueira
O Slam Resistência é uma competição de poesias faladas, sintonizando
a criatividade do artista com movimentos sociais, protestos, defesas de causas sociais e manifestações de sentimentos. As
apresentações duram até três minutos e não são acompanhadas de música ou objetos cênicos. O principal ponto de encontro do movimento na capital é a Praça Roosevelt, na região central – mas em municípios da Grande São Paulo também é possível encontrar esforços de disseminação cultural. Na cidade de Osasco, o Slam Oz é a representação dessa vertente, com encontros em frente à estação de trem local, sempre na última quarta-feira de cada mês. Para Lucas Moisés, o Lucão, um dos representantes do movimento, os saraus e slams são importantes por conta do incentivo à leitura e à escrita, além disso, levam o público a pesquisar referências citadas nas po-
esias e se aprofundar nas situações políticas descritas. “A gente consegue, ali, dizer o que muita gente quer, mas não tem onde e como se expressar”, diz o slammer. Os encontros são espaços fundamentais para a voz de músicos que buscam ascensão no cenário atual, principalmente no rap. Gabriel Guedes, estudante de 20 anos, acompanha o movimento desde o ano passado e destaca a importância do projeto. “Muitos ainda acham que é perda de tempo defender ideias e protestar contra algo com que a pessoa não concorda, inclusive eu tinha essa mentalidade até descobrir por meio do Slam Oz que é possível trocar experiências dessa forma.”
COOPERIFA
Em defesa da poesia marginal Bruno Santos
Quem passa próximo ao Bar do Zé Batidão, às terças-feiras, no bairro do Jardim Guarujá, zona sul de São Paulo, enxerga um ambiente quente e agitado. Para além do óbvio, porém, ao entrar é possível perceber que ali reside uma paixão literária. Obras de escritores do cacife de João Cabral de Melo Neto, Castro Alves e Ferreira Gullar são lidas a plenos pulmões pelas pessoas – majoritariamente negras – que as recitam. Esse ambiente reflete
o trabalho do coletivo Cooperifa, criado pelo poeta Sérgio Vaz, que propõe interação mútua entre os participantes, a troca de conhecimento e o exercício da arte literária acompanhada de samba, rap e tantos outros ritmos musicais. “Eu me vejo nessas pessoas, vejo pessoas comuns, vejo minha família e vejo o poder de transformação, revolução e como nosso pessoal é brilhante, esse é o tipo de coisa que não se vê em qualquer lugar ou qualquer sarau”, comenta
a estudante de Jornalismo Amanda Sousa, de 23 anos. O idealizador do coletivo, o poeta e produtor cultural Sérgio Vaz, mineiro e dono de vários prêmios que lhe foram concedidos por seu trabalho em prol de moradores residentes em periferias, é quem normalmente puxa as saudações iniciais aos presentes no sarau. Além dele, o próprio dono do estabelecimento e um dos organizadores, o Zé Batidão, dá o ar de sua graça no balcão e comenta a organização do Cooperifa. “O coletivo abraça
Larissa Fornarolli Muitas vozes para desabafar em um espaço repleto de cultura e acolhimento, aberto à reflexão mútua. Assim é o Sarau das Mulheres – projeto idealizado pelo poeta e jornalista Rubens Jardim, que teve uma edição no espaço Casa das Rosas, na região central de São Paulo, no último mês de maio. Após pesquisar durante seis anos a poesia brasileira, Jardim notou que muitas vezes os versos escritos pelas mulheres eram boicotados. O jornalista, então, to-
mou a iniciativa de realizar um evento dedicado ao assunto, com participações somente de mulheres, dando voz a quem tem muito a falar. Ádyla Maciel, uma das poetas femininas participantes, conversou com a reportagem do Expressão e explicou a importância do sarau para sua trajetória. “De fato temos um espaço pequeno, mas estamos construindo o nosso lugar na sociedade.” A poesia entre as mulheres vem crescendo cada vez mais, seja em lugares organizados ou nas ruas, como nos Slams.
Amanda Figueiredo
Reprodução do Facebook Slam OZ
qualquer um que goste de poesia, de cultura. A ideia do sarau ser no bar é porque as pessoas estavam lá (no bar) quando o Cooperifa buscou levar entretenimento e arte”, conta Zé. “Hoje temos aqui uma boa biblioteca, uma mostra cultural, o sarau nas escolas e até o cinema na laje”, enumera. Sarau Cooperifa Todas as terças 20h30 às 22h30 Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Jardim Guarujá das
Poesia sendo recitada no evento Cooperifa
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Inclusão de autistas desafia Estado Apesar da polêmica, lei defende matrícula dos estudantes na rede regular de ensino público Nos últimos anos, a inclusão de alunos que possuem transtornos de desenvolvimento nas escolas tem rendido debates acalorados. Os caminhos incluem os ensinos regular e especializado – amparados por leis e defendidos por especialistas, cada qual à sua maneira. Em 2012, foi sancionado pelo Poder Executivo a Lei 12.764, que trata dos direitos de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista. De acordo com a legislação, crianças e adolescentes com autismo devem estudar no ensino regular. Porém, ainda hoje esses alunos encontram dificuldades nessas escolas, que, muitas vezes,
sino regular na Escola Municipal Machado de Assis, em Taboão da Serra.
Alison de Moraes
Alison de Moraes
RISCOS
Rian Figueira, aluno autista de escola de ensino regular recusam o atendimento por conta da falta de preparo para recebê-los. MELHORIAS
O ensino regular público municipal adota em sala de aula um método de inclusão, cujo objetivo é integrar o aluno, matriculando-o em uma turma com diversas crianças que não possuem o
transtorno de desenvolvimento, com acompanhamento de um profissional especializado. “Matriculá-lo em uma sala de aula em que apenas ele possui autismo é a melhor forma para integrá-lo na sociedade”, declara Neide de Moura, avó de uma criança de oito anos autista matriculada no en-
SETOR PORTUÁRIO
De olho em oportunidades de qualificação e carreira, alunos da Escola Técnica Estadual (Etec) Zulmira Campos desenvolveram, como parte do trabalho de conclusão de curso, um aplicativo que reúne mais de cem cursos para a zona portuária; o aplicativo possui informações sobre programas de qualificações para aqueles que já atuam ou desejam entrar no segmento. Até o momento, o aplicativo Guia Portuário reúne 55 cursos livres, 25 superiores e 8 técni-
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cos, grande parte deles com certificação. O projeto foi desenvolvido pelos estudantes Bruno Nunes, de 28 anos, Ítalo Alves, 28, Lisley Nunes, 18, Matheus Gonzaga, 23, e Mariana Ferreira, 22. O TCC dos alunos busca atingir a comunidade, seu público-alvo, como uma forma de qualificação, crescimento na área e mudança de vida. “Nossa intenção é revolucionar o setor portuário, fazer com que a população da Baixada Santista também seja capaz e tenha formações necessárias para
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Neurociência contribui para o ensino Mariane Ferraz De olho na contribuição de diversas áreas do conhecimento, a neurociência tem ajudado a compreender melhor o funcionamento do cérebro, contribuindo na área pedagógica. A neurociência cognitiva tenta descobrir como atuam a linguagem, a memória ou a tomada de decisões. Por isso, é fundamental que, no período entre zero e 11 anos, as crianças explorem o seu mundo da forma mais autônoma possível. Os caminhos para a melhoria de alfabetização por meio da neurociência sinalizam a necessidade
de se compreender o sistema alfabético de escrita no momento exato da aprendizagem, avaliando o funcionamento do cérebro. Dois consensos nesse debate: a educação infantil de qualidade deve contar com um corpo de especialistas; e, quanto mais cedo uma criança tiver contato com a leitura e a escrita, melhor.
PREMIADO
Alunos de Etec criam app para divulgar cursos Vitória Ribeiro
Em contrapartida, a especialista e mestre em distúrbios do desenvolvimento Juliana de Oliveira defende o ensino especializado para alunos com autismo. “O ensino credenciado é a melhor forma de desenvolvê-los, tendo em vista que a escolarização inclusiva não está preparada para atender essas pessoas”, declara a pedagoga. A preocupação é concreta: Pesquisa realizada pela Secretaria Estadual de Educação aponta queda no número de alunos com autismo em rede regular nos últimos cinco anos.
CONHECIMENTO
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que faça parte do setor, sem o medo de não poder ingressar por falta de indicação”, comenta Mariana Ferreira. Os responsáveis pelo aplicativo pretendem divulgar o app em mídias sociais e já se apresentaram no Centro de Excelência Portuária de Santos. A cada semestre a Etec Zulmira Campos, de Santos, abre 40 vagas para o curso de Portos. O Guia Portuário já está disponível na Google Play, de forma gratuita, contando com os cursos que podem ser realizados desde Bertioga até a Praia Grande.
Projeto destaca benefícios do protagonismo na escola Thalita Rodrigues
A Escola Estadual Alexandre von Humboldt, localizada na região da Lapa, foi destaque na Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace), movimento nacional que estimula escolas públicas e privadas a desenvolver programas voltados à ciência e à educação. O projeto de iniciação científica “Protagonismo e Cidadania: um estudo sobre o posicionamento político dos estudantes da Escola Alexandre von Humboldt”, produzido pelo aluno Pedro Henrique Araújo, do 3° ano do
Ensino Médio, ficou em 4° lugar na categoria Ciências Humanas. “A ideia surgiu para entender como funciona o protagonismo dentro de uma instituição pública de ensino integral. Buscamos levantar as informações por meio de um questionário com três perguntas, que foi respondido por 366 alunos”, explica o estudante Pedro Henrique. PROJETO
A escola possui 520 estudantes do 1° ao 3° ano do Ensino Médio. O projeto analisou a participação dos alunos nas
eleições de líderes de sala, nos grêmios estudantis, nos clubes juvenis e nas disciplinas eletivas. Tais programas existem para desenvolver a autonomia, a solidariedade e também a competência dos estudantes ao longo da formação acadêmica. A diretora da unidade destaca a importância da proposta. “O desempenho da escola passa pela participação dos estudantes nas políticas públicas da unidade. O projeto do Pedro comprova o quanto os alunos podem fazer a diferença no ensino”, conta Maria de Fátima Rizzo.
NO EXTERIOR
PESQUISA EM DESTAQUE
Cresce número de intercambistas após o Ensino Médio
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Pesquisas apontam aumento na procura entre recém-formados
Jovens no Ensino Médio: experiência no exterior reforça planos de carreira Théo Guidotti
Nos últimos anos, o interesse e a procura para fazer um intercâmbio cresceram entre os estudantes que se formaram no Ensino Médio. Pesquisa feita pela Belta, associação nacional das agências de intercâmbio mostra que, em 2015, a faixa etária que mais procurava intercâmbios era entre adultos de 30 a 39 anos (23,8%). Hoje, os jovens veem com bons olhos a ida ao exterior, buscando no-
vos conhecimentos, amadurecimento e culturas. “Foi uma das melhores coisas que fiz na minha vida. Você passa por uma transformação muito grande”, afirmou o estudante Marcel Santos, 31, que fez um intercâmbio de oito meses para Dublin, Irlanda. “Sempre recomendo para quem ainda não sabe qual carreira seguir”, disse Mario Bortoletto, que trabalha em uma agência de intercâmbio e tem um canal no YouTube sobre o assunto.
Com um grande leque de oportunidades em cursos fora do Brasil, os recém-formados no Ensino Médio têm a chance de adquirir novos conhecimentos. Na maioria das vezes, vai-se à busca de um intercâmbio curto para amadurecer a decisão sobre a escolha do curso de graduação, porém, em muitos casos, a possibilidade de fazer uma faculdade em outro País é vista com bons olhos. “Tive a ideia de ter uma experiência cultural, de vida
e ampliar meus horizontes e escolher o melhor caminho para mim”, relata Guilherme Aduan, estudante, 21, ao ser perguntado sobre o motivo da escolha do curso antes da graduação. De acordo com a pesquisa, 46,4% dos estudantes brasileiros que fizeram intercâmbio em 2017 procuraram curso de idiomas; 12,1%, de graduação. A maior procura (30,5% dos que viajaram) é por cursos curtos – de até um mês de duração.
Jovem cientista ganha prêmio que valoriza a mulher na ciência Jacqueline Rodrigues Uma brasileira marcou presença no pódio da ciência feminina mundial. A Fundação L´Oréal, em parceria com a Unesco, premiou 15 jovens mulheres que mais se destacaram na ciência, promovendo o aumento da visibilidade e do reconhecimento das profissionais – que representam, hoje, 28% dos pesquisadores em nível global, de acordo com a própria instituição. O prêmio Rising Talents aconteceu em março, em Paris, e contemplou a brasileira Rafaela Salgado Ferreira, de 35 anos, por pesquisas feitas para a cura de doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica – como a Doença de Chagas e a Zika. Rafaela é formada em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutora em química biológica pela Universidade da
Califórnia e pós-doutora pela Universidade de São Paulo (USP). Dirige, hoje, o laboratório de modelização molecular e de concepção de medicamentos da UFMG, com uma equipe de 13 pesquisadores que já encontraram dois compostos entre 400 substâncias analisadas. A função dessas substâncias é combater a proteína do agente da Doença de Chagas, anulando o poder do protozoário. Além das pesquisas realizadas, a jovem premiada também dá aulas na universidade. De acordo com Ferreira, doenças que ocorrem em maior quantidade no mundo são menos estudadas que outras, por conta de seu risco de morte. “O tratamento dessas doenças só chega às pessoas com maior condição aquisitiva, por conta da dominação da indústria farmacêutica”, argumenta.
ATUALIZAÇÃO
Tecnologia é a chave para educação moderna Ana Paula Bello
Já se foi a época em que os professores usavam músicas, filmes e atividades para prender a atenção dos alunos e ensiná-los fora dos padrões. Com a Geração Z, não só os educadores, como as escolas e os planos de ensino, tiveram de ser adaptados para acompanhar as crianças
e adolescentes que já nascem vendo o mundo pela tela do celular. FERRAMENTAS DIGITAIS
A pesquisa TIC Educação, que conta com o apoio do Ministério da Educação, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Conselho Nacional de Secretários
de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), mapeou que 68% dos coordenadores pedagógicos brasileiros preferem escolher materiais didáticos que incluem ferramentas digitais. “Não deixa de ser difícil prender a atenção deles. Eu mudei a metodologia, mas não ne-
cessariamente por causa do celular. Você tem que usar as tecnologias a favor do aprendizado”, diz o professor Wilson Brasileiro, da Escola do Futuro. NAS EXATAS
Quem nunca sofreu ao aprender uma equação ou fórmula matemática? Graças à visão de organizações como a Sincroniza
Educação e a Fundação Lemann, responsáveis por trazer a metodologia da Khan Academy para o Brasil, as dificuldades com exatas se tornaram mais simples. Este é um dos exemplos das fronteiras que o meio digital pode quebrar. Por mais que uma educação tecnológica pareça a solução para o futuro acadêmico, os
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custos ainda são altos. Nem todas as escolas têm salas de aula virtuais, com aparatos como computadores e tablets disponíveis para o aprendizado do aluno. Além disso, é necessário preparar os docentes das instituições para uma transição planejada, sem que haja a substituição do trabalho de cada professor pela tecnologia.
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ESPORTE E LAZER
Crossfit conquista o público brasileiro Anderson Medina
Cordas, pesos e muito suor compõem rotina de adeptos
Alunos do Coach Medina após aula da modalidade Danilo Lopes
O crossfit vem mudando o cotidiano dos praticantes de atividade física no Brasil. Em 2009, Joel Fridman trouxe o esporte para o Brasil. Somos, hoje, o segundo país com mais boxes no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, com 7,2 mil – são as academias
credenciadas e autorizadas a praticar o esporte. Atualmente, existem 1.038 boxes credenciados espalhados pelo território nacional, segundo dados da Crossfit Inc. O nome CrossFit é uma marca registrada no mundo todo e não pode ser usado gratuitamente por qualquer ginásio. Não afiliados devem usar
nomenclaturas similares, como cross training, modalidades mistas de treinamento (MMT) e treino funcional. Usar Cross Fit (com espaço) também é ilegal, por conta da lei da similaridade. Além disso, nem todos os professores podem ser coach de CrossFit. Deve-se ter formação acadêmica em Educação Física, possuir documento emitido pelo Conselho Regional de Educação Física (CREF) do registro profissional e iniciar o curso da CrossFit Inc. nível 1. “O crossfit é um treinamento funcional constantemente variado de alta intensidade, que trabalha com pesos livres, peso do próprio corpo trabalhando em alta intensidade ou cargas elevadas”, relata o coach Anderson Medina.
O profissional que tiver até o nível 3 é considerado trainer pela empresa americana; já o profissional que tem o 4 é considerado coach. Os relatos do benefícios da prática são constantes.“O principal beneficio no início do crossfit foi a rapidez nos resultados. O esporte me trouxe mais ânimo e disposição”, relata Camila Lessa, 29, estudante de Psicologia. A prática não necessita de aparelhos fixos, diferentemente das academias de musculação. Segundo o coach Anderson Medina, qualquer um pode praticar o esporte; se o aluno tiver algum tipo de restrição médica, porém, isso tem que ser analisado pelo coach – que vai adaptar o exercício ou movimento de acordo com a necessidade do aluno.
PASSEIO
São Roque entra na rota dos fãs de vinhos Larissa Lima
A pouco mais de 60 quilômetros da capital, a pequena cidade de São Roque tem conquistado fama há anos por meio de seu roteiro dos vinhos. Na prática, a atração é uma estrada com mais de 30 restaurantes, adegas e vinícolas em que o visitante pode degustar e aprender mais sobre a história da bebida. O cultivo da uva na região começou no século XVII, quando os portugueses começaram a plantar próximo às margens dos rios Carambeí e Aracaí. A chegada dos italianos deu mais impulso à plantação; hoje, calcula-se que são produzidos mais de 10 milhões de litros de vinho por ano, segundo os estabelecimentos do local. Márcio Gonçalves e Suzy Melo aproveitaram para fazer sua primeira visita ao roteiro em 2018. “Já percorremos quase toda a rota e ficamos admirados com a quantida-
de de lugares para visitar”, disse Márcio. A vinícola Góes é a mais famosa por ser a única que ainda cultiva, na própria cidade, as famosas uvas Cabernet Sauvignon. A partir delas é fabricado um vinho próprio da região. Em uma das lojas presentes na estrada, o turista pode degustar cinco marcas de vinhos pelo valor de R$20 reais. “Primeiro você deve enxergar a cor do vinho, e depois cheirá-lo para saber o grau do envelhecimento. Por fim, pode-se degustar”, explicou um funcionário. A Prefeitura de São Roque calcula que o município receba aproximadamente 10 mil visitantes por mês e indica duas formas para chegar à rota. A primeira opção é pela Rodovia Raposo Tavares, cuja distância em relação à capital é menor, mas inclui trecho de serra. A outra opção é a Rodovia Castelo Branco, com dois pedágios.
HOMENAGEM
Bosque faz referência a nomes do esporte e reforça proteção ambiental Gabriel Vullen Com a ideia de aliar a conscientização ecológica e a consagração de grandes nomes do esporte, o Bosque da Fama nasceu em 2008, resultado de uma parceria entre o professor Henrique Nicolini, membro de honra do PanathlonClub, e a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo (Seme).
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O espaço fica no Parque das Bicicletas, na zona sul da cidade, e é destinado a homenagens a grandes esportistas que conquistaram o lugar mais alto do pódio olímpico e fizeram história no estado. PRESERVAÇÃO Por meio da iniciativa simbólica do plantio de arvores, além de preservarem o meio ambiente, perpetuam a sua memó-
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ria, deixando o fruto de sua conquista. “O bosque da fama é um espaço de integração entre o esporte, a história e a conscientização ecológica”, conta Silvia Oléa Barreiros, da Seme. “Ele tem o objetivo de preservar a história do esporte nacional e contribuir com a natureza.” HOMENAGEADOS O projeto já está indo para a sua décima edi-
ção, com 60 desportistas de dez diferentes modalidades. Em dezembro de 2017, houve homenagem ao idealizador do projeto, falecido no mesmo ano. Entre os homenageados de todas as edições estão Paula Gonçalves e Carlos Domingos (Mosquito), do basquete; José Roberto Guimarães, do voleibol; Fernando Ariel Meligini, do tênis; e Tetsuo Okamoto, da natação. Há
também um tributo a medalhistas falecidos, como Ubiratan Maciel, do basquete; Ayrton Senna, do automobilismo; e Gylmar dos Santos Neves, do futebol. FLORES Para os frequentadores do parque, além de vislumbrar as placas das arvores apadrinhadas, pode-se admirar as mais variadas espécies de flores. A iniciativa é
vista de forma positiva. “É muito agradável seguir uma vida regrada a exercícios e saber que, enquanto isso, mesmo via homenagens, valoriza-se a natureza com a implantação de novas mudas de árvores”, diz a estudante Mariana de Oliveira.
Parque das Bicicletas Alameda Iraé, 35 Moema - SP
PONTO DE VISTA
“A TV não quer a gente lá, nós ainda não somos referência” Doutoranda pela USP, Eliane Almeida debate a presença da negritude nas artes e nas mídias e Lucas
Oliveira
A arte é um dos espaços mais democráticos de se expor ideais e crenças e ultrapassar limites. Assim como os veículos de comunicação, pode ser utilizada para transpor barreiras sistêmicas ou manter e reforçar estereótipos. Nascida em Santos (SP), a jornalista Eliane Souza Almeida é doutoranda do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Universidade de São Paulo e estuda essa conexão entre arte e intervenção social. Seu foco: o Teatro Experimental do Negro e o estudo dos mecanismos de silenciamento da temática racial pela censura em São Paulo. Um caso exemplar da problemática relação entre expressão artístico-cultural e mecanismos repressores ligados ao Estado e à sociedade civil. Em maio deste ano, a santista esteve entre 14 pessoas de todo o mundo selecionadas para ir ao Instituto de Pesquisa Afro-Latino no Hutchins Center, na Universidade de Harvard, Estados Unidos. Por lá, apresentou seu tema do doutorado e, no mesmo mês, foi condecorada com a medalha Quintino de Lacerda por seus estudos e atuação focados na população negra. Expressão: O Teatro Experimental do Negro (TEN) foi fundado por Abdias Nascimento em 1944 e trouxe grandes nomes da dramaturgia brasileira, como a atriz Ruth de Souza, além disso também se diferenciava por alfabetizar e conscientizar seus atores, entre eles operários, moradores de favelas e empregadas domésticas. Qual a relevância deste movimento? Eliane: Foi o TEN que inaugurou um olhar para um teatro de elite com uma temática racial. A intenção de Abdias ao criar o TEN e buscar espaços onde a elite estava era justamente fazer com que as pessoas encarassem o problema social que era a questão do negro na sociedade brasileira e, de alguma forma, se sensibilizar com aquela situação e mudar sua postura, criar novas políticas. O TEN tem uma função para além da arte; inclusive,
Anna Carolina Venturini
Leticia Damasceno
Eliane durante convenção no Instituto de Pesquisa Afro-Latino, na Harvard University ele busca produzir intelectuais negros. Existe todo um processo político por trás desse espaço artístico. O TEN corria dessa questão da folclorização, de achar que falar de cultura negra é colocar só o bumba-meu-boi ou qualquer outra manifestação. O que ele planta e que a gente percebe isso como grande referência é essa possibilidade de fazer um teatro negro, mas não somente um teatro em que você percebe os corpos negros em cena. Há questões mais profundas que perpassam esses corpos, existem temas que são bastante incômodos e que a sociedade brasileira continua não querendo enxergar, e Abdias traz isso para o palco. Expressão: Você verifica características do TEN nas produções teatrais, tele-
visivas e cinematográficas de hoje? Eliane: O que a gente tem, ainda, são atores que vieram do TEN. Cineastas têm autonomia, acabam fazendo coisas bastante interessantes nesse sentido e colocam o negro como protagonista de sua própria história; muitas vezes você vê a história acontecendo sem que você se dê conta que é um negro que está ali, como protagonista. O teatro ainda é ligado a essa questão da militância, o que não deixa de ser importante – afinal de contas, somos seres políticos –, mas ainda deixa as pessoas receosas. Normalmente, quando você vai ao teatro para assistir a uma peça de cunho racial ainda falta, na minha humilde visão, a sensibilidade do branco para ir lá e ver o que que a gente tem para falar dele. O
“Não aceitamos mais que determinem onde a gente deve estar” agosto 2018
teatro se inspira sim no TEN; a TV não. Quer exemplo maior do que a novela das nove agora (“Segundo Sol”, de João Emanuel Carneiro, exibida na TV Globo)? Ela acontece na Bahia e no elenco principal não tem preto. Na Bahia. A TV não quer a gente lá, nós ainda não somos referência para eles. Expressão: Algumas produções voltadas a minorias têm sido vistas, também, como excludentes. Seria um tipo de censura deste tipo de projeto, assim como ocorreu com o TEN? Eliane: Na verdade, isso é uma reação da sociedade racista que quer que continuemos no nosso lugarzinho, quietinho, escondidinho, porque foi ali que colocaram os negros quando a escravidão acabou. O que tem acontecido é que nós, negros, não aceitamos mais que determinem onde a gente deve estar. Nós somos a imensa maioria e a gente hoje tem consciência disso. A gente está criando uma nova epistemologia, a gente tá criando novos caminhos, levantando novas bibliografias. Eu estou falando de teatro preto com uma bibliografia preta. A literatura europeia nos atravessa, porque nós somos colônia europeia, e a gente não pode esquecer disso, mas nós também somos África, e é essa África em nós que nos faz lembrar quem nós somos e de onde nós viemos. Expressão: A mídia tem sido cada vez mais pautada por referências da “Geração Tombamento”. Você acredita que a abordagem desses temas tem sido esclarecedora para a população em geral? Eliane: A Fátima Bernardes é que a mais tem feito isso, na verdade, é o programa de TV branco que mais fala da nossa negritude... não consegui ver isso ainda em nenhum outro programa. As pessoas que selecionam as pautas para os programas de TV também estão vendo temas como o genocídio negro, mas aí não é de interesse e fica na mídia alternativa. Sem sombra de dúvida as redes sociais são as fontes de pesquisas, onde se busca informação para pautas, mas ainda falta sensibilidade de fato para lidar com essas questões.
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INFOGRÁFICO
Precisa desenhar? O peso de ser mulher e negra no Brasil – em dados e números Beatriz Rodrigues de Paula e Roberto Rodrigues Guidoni
Mulheres: naturalmente colocadas como inferiores em pleno século 21. A diferença salarial entre homem e mulher grita a plenos pulmões; do escritório para casa, os trabalhos de dupla jornada pesam na rotina. Essa história vem de longa jornada: o gênero e o sexo sempre foram marcadores sociais. Mas será que o machismo é o único fator de desequilíbrio? A questão étnico-racial também é decisiva. Confira alguns dados que demonstram como mulheres negras são tratadas no País. mulher negra homem branco homem negro mulher branca outros Educação Quando se trata da escolaridade, entre os anos 1995 e 2015, o índice de mulheres negras estudando, aumentou de 4,4 para 7,3; entretanto, a diferença racial é visível. Em comparação ao índice de mulheres brancas, o das mulheres negras é 1,2 pontos menor no País.
Beatriz Rodrigues de Paula
Taxa de homicídio Não é segredo para ninguém que a violência no Brasil é intensa, mas e o feminicídio? Segundo o Mapa da Violência 2013, mulheres brancas sofrem 2,2 menos esse crime do que mulheres negras.
Renda Haja diferença: em 1995, analisando a média salarial, enquanto homens brancos ganhavam R$ 2.200 por mês, homens negros ganhavam R$ 1.050. Com relação às mulheres, o salário era menor ainda: enquanto mulheres brancas recebiam R$ 1.100, as mulheres negras ganhavam R$ 500 mensais.
Nos corredores do poder e do Estado, o equilíbrio e a igualdade devem ser imprescindíveis, mas a realidade é diferente. As mulheres negras ocupam 3% dos cargos públicos; mulheres brancas, 8%; homens negros, 26%; e homens brancos, 63%.
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