USJT
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outubro 2018
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ano 25
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edição 7
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
ESPECIAL - Págs. 6 a 9
Debates acalorados, nervos à flor da pele, nós x eles: da religião à geopolítica, quais os limites do embate de ideias?
#PROTAGONISTA
VIDA DIGITAL
EDUCAÇÃO
ESPORTE
Fotojornalista documenta momentos-chave do País Pág. 3
Podcasts reforçam poder do rádio nas redes Pág. 4
Cultura afro-brasileira ganha espaço na sala de aula Pág. 13
Crise financeira ameaça a Portuguesa Pág. 14
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EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
#INSTANTÂNEO
Gustavo Lima de Almeida
Leonardo Barbosa
Transformações tecnológicas e culturais, acirramento de disputas ideológicas, conflitos de classe cada vez mais vivos, crise nos meios de informação tradicionais - muitas são as razões para a crescente polarização que sentimos nas diversas faces de nosso cotidiano. O Brasil não está sozinho nessa: dos Estados Unidos à Hungria, passando por Síria, França, Argentina e Alemanha, diversas nações sofrem os impactos da beligerância dos discursos e ações da população, cada vez mais habituada a procurar inimigos na porta vizinha e abdicar da tolerância. Nesta edição, exploramos em nosso Especial o tema da polarização: em que campos ela está? Quais suas impli-
cações na geopolítica, na religião, nos costumes, no Estado e nos movimentos populares? Acima de tudo: como superá-la? Essas questões são tratadas por nossos repórteres em pautas tão distintas como o conflito Israel x Palestina, a emergência de mídias alternativas, o embate Monarquia x República e as disputas profissionais no contexto da mobilidade. Produzimos esta edição em pleno furacão eleitoral. Não foi à toa: esperamos que os debates aqui tratados ajudem você na tarefa complexa de pensar o futuro de nosso País. Esperamos que esse objetivo se concretize. Fique sempre à vontade para contar para a gente suas impressões. Tenha uma ótima leitura! Os Editores
Gustavo Lima de Almeida
Independência ou autoritarismo? No dia 7 de setembro, mais de 30 mil pessoas compareceram ao Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, para acompanhar o desfile comemorativo da Independência do Brasil. O clima, porém, não era ameno. Aos gritos de “Intervenção já”, “Faxina geral” e “Fora, comunismo”, o público fez alusão a movimentos que significariam a remoção dos direitos da população e a intolerância. No meio do espetáculo, a face mais perigosa do País grita, dança e abraça o risco.
#FICA A DICA
Divulgação
EXPRESSÃO Marcas que não podem ser esquecidas Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo outubro 2018 • ano 25 • edição 7 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof.ª Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Beatriz Santos
Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Mooca Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Leonardo Barbosa
EXPRESSÃO
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Gênero: reportagem Ano: 2013 Editora: geração 256 páginas
Por que ler? Para entender as faces da barbárie na história de nosso país
Há quem diga que o termo genocídio tenha sido visto e mencionado apenas ao longo do século XX, em experiências como a nazista; números tão absurdos jamais teriam sido vividos na história brasileira. No entanto, em sua busca por histórias de sofrimento e vivência da falta de humanidade, a jornalista Daniela Arbex traz em “Holocausto Brasileiro” relatos de barbárie do Colônia, hospício de Barbacena, em Minas Gerais. Neste indispensável livro-reportagem, a abordagem de Daniela é rica em
detalhes sobre as condições impostas aos sobreviventes por parte de parentes - que os deixavam muitas vezes ali por falta de bom convívio. Denuncia, ainda, a omissão do Estado. Os muros do Colônia aprisionavam pacientes epiléticos, alcoólatras e meninas grávidas violentadas por seus patrões, entre outros perfis que perderam a identidade e a esperança ao pisar naquele lugar. A coletânea de reportagens mostra casos de denúncias “sem relevância” para autoridades na época de tortura. Estima-se que setenta por cento dos internos que morreram não possuíam nenhum tipo de problema; foram, apenas, deixados e esquecidos pela sociedade.
Fundamental para jornalistas, “Holocausto brasileiro” convida o leitor a conhecer uma realidade escondida nos livros de história brasileiros.
Sobre a autora Daniela Arbex é formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 1995. Jornalista, é autora de outros livros notáveis, como “Cova 312” e “Todo dia a mesma noite”.
#PROTAGONISTA
Fotojornalismo atento aos conflitos Taba Benedicto
Jornalista e arquiteto, Taba Benedicto propõe trabalhos que documentam momentos-chave da história recente Beatriz Santos e Thais Larangeira
A fotografia é um importante instrumento de transmissão de narrativas sobre o tempo presente. Formado em Jornalismo, o paulistano Taba Benedicto pode ser considerado uma nova voz em um campo que, vem ganhando força com a transmissão de conteúdos em redes sociais. Taba iniciou a carreira registrando ambientes decorados para arquitetos paulistas; no entanto, descobriu-se no fotojornalismo, área em que propõe um modelo de cobertura documental de conflitos. Registrar imagens de momentos críticos se tornou uma constante em sua carreira. Esteve nas manifestações de 2013 e produziu séries documentais sobre temas diversos. Hoje, colabora para agências como Folhapress e Agência o Dia, no Brasil, e NurPhoto Agency, na Itália, e também soma experiências em eleições presidenciais e campeonatos esportivos. Possui fotos publicadas no livro “O melhor do Fotojornalismo 2016” e um segundo lugar no Prêmio ARFOC-SP | Canon, com a imagem emblemática de um policial militar agredindo um estudante durante os protestos de 2013 (veja ao lado). Em conversa com o Expressão, ele resgata um pouco dessa trajetória e enfatiza momentos decisivos para sua ideia de propor um fotojornalismo humanizado. Expressão - A sua primeira graduação foi em Arquitetura. Como ingressou no jornalismo? Taba Benedicto - Na época que atuava em Arquitetura, já fotografava com uma Pentax k1000 analógica. Mas era algo sem pretensão. Entrei na faculdade de Jornalismo em 2010, querendo trabalhar com jornalismo cultural. Em 2012, larguei a arquitetura para começar a estagiar na Secretaria de Segurança Pública, porém flertava com a fotografia de palco, com resquícios das saudades do teatro e da música, atividades que realizei em boa parte da minha vida. Expressão - Como você começou a trabalhar com fotojornalismo? TB - Fui trabalhar como repórter de sustentabilidade na Secretaria de Segu-
Expressão - Situações assim te motivam ainda mais ou você sente medo para exercer sua profissão? TB - Certamente o medo existe, porém, você fica motivado e intrigado. A câmera fotográfica é uma arma poderosa. Expressão - Como fica a questão da sua segurança quando atua como freelancer? TB - É por meu risco e conta. Temos o básico, mas em situações mais violentas ficamos totalmente expostos. Um exemplo disso foi quando uma bomba explodiu em mim; por sorte, cortei a perna apenas, mas se houvesse algo mais grave, estaria perdido. O jornalismo diz respeito, em primeiro lugar, à integridade física.
Foto que rendeu o vice-campeonato do Prêmio ARFOC-SP | Canon a Taba Benedicto rança Pública, mas via que não era a minha praia. Dois fatos mudaram a minha trajetória: a demissão de uma editora onde eu era repórter e os protestos de 2013. Para me sustentar, fui para a rua cobrir os protestos e enviava fotos para uma agência de fotojornalismo, chamada Futura Press. Não me restringia a protestos, era um pouco de tudo. Comecei a cobrir os protestos e ao mesmo tempo me engajar com determinadas causas. Isso ajudou no desenvolvimento da minha fotografia. Em contrapartida, houve uma perseguição por parte de algumas pessoas, já que em determinado momento minhas fotos se tornaram interessantes para denúncias. Expressão - Como foi tirar a foto que ficou em segundo no Prêmio ARFOC-SP | Canon? TB - Outras situações me fizeram recuar um pouco em determinado mo-
mento. O prêmio me ajudou a me tornar uma pessoa neutra diante da polícia, já que uma vez quase fui preso por conta do impacto da foto. Dos protestos, meus “leques” se abriram e a política entrou na minha vida, assim como o futebol. Expressão - Nas manifestações, houve algum momento em que teve receio de fazer uma imagem? TB - Sim, e uma vez não fiz, pois tive uma arma de borracha apontada para mim no momento; foi durante uma perseguição aos manifestantes, na qual duas motos da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) bateram. Dois fotógrafos tentaram registrar, mas acabaram sendo presos. Quando fui registrar o fato, o atirador da tropa de choque apontou a arma para nós e nos proibiu de fotografar. Se eu fizesse a imagem, ele atiraria.
“O medo existe, porém você fica motivado e intrigado. A câmera fotográfica é uma arma poderosa” outubro 2018
Expressão - Além das manifestações, você cobriu outras situações de risco? TB - Sim, uma vez fiz a cobertura de um velório do garoto que a polícia matou dentro da comunidade do Moinho. Realmente foi uma situação delicada, os moradores expulsavam a gente. Acabei saindo sem imagens, pois corria risco. A greve dos caminhoneiros também foi outra situação. Expressão - Em eventos assim [manifestações], você acredita que possa existir uma estética fotográfica única ou as imagens podem ficar “comuns”? TB - Se não tomar cuidado, você pode cair na mesmice. O ideal é sempre buscar outros olhares, outros ângulos. Precisa fazer o comum? Sim! Mas precisa apresentar um novo olhar também, algo diferenciado.
Taba: experiências na política, no esporte e em coberturas de risco
EXPRESSÃO
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VIDA DIGITAL
Pixabay
Programas segmentados e aprofundados aliam informação e entretenimento e fazem sucesso entre internautas programas, o Esquizofrenóia, tem o foco de fazer o ouvinte refletir e se identificar, comandado por Amanda Ramalho, que é jornalista, radialista e repórter, além de apresentadora do programa Pânico na Jovem Pan FM, ao lado de Emílio Surita. “Sempre senti necessidade de abordar o assunto saúde mental, o podcast é meu papel social. Muitas vezes me questionava sobre a importância de trabalhar apenas com entretenimento. Sinto que agora ajudo efetivamente algumas pessoas”, diz Amanda. “Eu precisava de um programa desse na minha infância, na adolescência. Acredito que minha trajetória teria sido mais fácil.” EXPANSÃO
Aplicativo Spotify oferece podcasts de lazer, informação e cultura Bianca Aparecida
Com os streams de áudio em alta, a internet acabou trazendo de volta ao primeiro plano o poder da linguagem sonora - e boa parte desse sucesso se deve ao uso de podcasts. Essa plataforma de transmissão de informações, hoje, é usada para abordar os mais variados assuntos - cinema, TV, literatura, ciências, política, religião, cultura, esporte e games, entre outros.
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A maioria desse conteúdo é gratuita e pode ser escutada diretamente no celular, tablet ou computador: basta fazer o download do podcast para ouvir no aplicativo quando quiser, mesmo sem conexão à internet.
EXPRESSÃO
No Spotify, a produtora de podcasts Half Deaf, criada pelos roteiristas, comediantes e podcasters Vitor Brandt e Gus Lanzetta em parceria com a agência digital Gomídia, tem conquistado espaço. Um dos
“Sempre senti necessidade de abordar o assunto saúde mental; o podcast é meu papel social” outubro 2018
Ainda recente, a mídia podcast está em crescimento no Brasil - embora esteja bem consolidada em mercados como o norte-americano. A flexibilidade de horário, adequando-se à rotina do ouvinte, é um diferencial. “A notícia no podcast não pode ser, de nenhuma forma, no modelo hard news. Todo o conteúdo do podcast precisa ser algo mais embasado. O ideal é escolher um tema para podcast que tenha a possibilidade de ser estudado e analisado a fundo”, diz Guilherme Guidetti, redator do portal Futebol Na Veia.
O outro lado das amarelinhas
Daniele Gois
Podcasts renovam conteúdo sonoro na web
MOBILIDADE
Bicicleta do aplicativo Yellow no Parque do Ibirapuera, São Paulo: rastreamento é desafio Ronney Abilio
Desde o começo de agosto, uma novidade tem provocado a curiosidade dos paulistanos que costumam pedalar pela cidade: as bicicletas da Yellow - ou “amarelinhas”, como ficaram popularmente conhecidas. Com um modelo de aluguel inovador, em que o usuário pode deixar as bikes em qualquer lugar após o uso, o serviço tem desbloqueio por QR Code, contido na bike e cobrado pelo cartão de crédito cadastrado. Apesar da boa aceitação, porém, adversidades vêm sendo enfrentadas pelo novo aplicativo: imagens na internet e redes sociais mostram roubos e até mesmo depredação, com bicicletas completamente destruídas ou com partes, como pneus e peças, removidas. Outra reclamação por parte dos usuários é o desbloqueio pelo aplicativo: há relatos de a bicicleta não ser
destravada por seu código; por vezes, pessoas são cobradas, mesmo sem ter usado o serviço. Mariana Freitas, funcionária representante da Yellow, falou à reportagem do Expressão sobre os furtos e danos às bikes. Segundo ela, o sistema de localização está sendo aprimorado, e o modelo de devolução sem ponto fixo ainda está em fase de testes na capital paulista. Com relação às dificuldades enfrentadas pelos clientes, ela informou que correções no funcionamento estão em andamento. Rafael Barros, de 23 anos, conta que o fato de não ter ponto específico para devolução das amarelinhas facilita sua locomoção. “Faço uso praticamente diário delas”. Os furtos, porém, são um problema. “Vejo uma oportunidade de facilitar a vida das pessoas sendo jogada fora pela falta de educação e segurança”, reclama.
APP DE BELEZA
GAMES
Serviços de estética na palma das mãos
Em declínio, Pokémon Go mantém usuários
Joyce Santos
Interface do jogo em realidade aumentada Samuel Lima
Muitas das crianças nascidas após a década de 1990 tinham um sonho em comum: se tornar um “Mestre Pokémon”. O anime, exibido por várias emissoras de TV, tinha como protagonista o garoto Ash Ketchum, que, junto a seu amigo de ombro Pikachu, perseguia o sonho de ser o maior treinador que o mundo já viu. Em meio a tantos jogos de videogame desenvolvidos, foi lançado, em 2016, o
jogo Pokémon Go. O principal atrativo do game era o recurso da realidade aumentada - tecnologia que permite que o mundo virtual seja misturado ao verdadeiro. Apesar do modelo revolucionário, porém, detalhes técnicos fizeram com que a comunidade de usuários minguasse nos últimos meses. Michel Cavalcante, estudante de Engenharia Civil, fez o download assim que o jogo foi disponibilizado no Brasil dois anos atrás. “A proposta no início era
muito boa, mas, logo após alguns dias, ficou inviável para que eu continuasse”, diz. “Eram muitos recursos necessários ao mesmo tempo para jogar e isso exigia um gasto de bateria muito alto, fora a demora em atualizações que poderiam deixá-lo mais dinâmico.” No game, jogadores podem, por meio de seus celulares, caminhar pelas ruas das cidades e, com o uso do GPS e da própria câmera do aparelho móvel, capturar criaturas virtuais, batalhar com elas e treiná-las. O lançamento teve repercussão ampla: nos Estados Unidos, apenas dois dias após a chegada ao mercado, mais de 5% dos dispositivos Android do país instalaram o app. O estudante do terceiro ano do Ensino Médio Guilherme Andrade, que assistia ao anime quando mais novo, ressalta a nostalgia que o jogo traz da época de infância. “Dá aquela sensação de ser um treinador, poder ir atrás dos Pokémon, treiná-los e
competir com outros jogadores”, disse. FIDELIDADE
Pouco mais de dois anos depois do lançamento, ainda há os que permanecem no universo Pokémon. É o caso de Lucas Tonon, estudante do primeiro ano do Ensino Médio. “Sou viciado em dominar ginásios, mas só consigo jogar quando tenho créditos no celular”, conta. O impacto de Pokémon Go também pode ser sentido em números. Segundo o site venturebeat.com, menos de um ano após o lançamento oficial, o game já tinha arrecadado US$ 1,2 bilhão, com 752 milhões de downloads. Em uma contagem mais recente, feita pelo site variety.com, no final do mês de maio, a estimativa já era de 800 milhões de smartphones com o aplicativo baixado, mostrando certo declínio em relação à projeção baseada no dado anterior - porém, ainda um sucesso.
Ronney Alibio
Reprodução
Lançado em 2016, o jogo propôs um novo tipo de jogabilidade com o uso de realidade aumentada
De olho no objetivo de atender o desejo de consumo de serviços estéticos da população, empreendedores desenvolveram um aplicativo específico para o segmento no Brasil. Com o nome Singu BR, o app facilita o acesso a profissionais de beleza fora dos salões, com manicures, massagistas e cabeleireiros reunidas em uma plataforma que promete entregar conveniência ao internauta. Já idealizador de um aplicativo de transportes, o Easy Taxi, o criador da plataforma Tallis Gomes decidiu montar o serviço após uma conversa com sua noiva. Hoje, são em média 500 agendamentos feitos todos os dias. A seleção dos profissionais é feita por um time de recrutamento, e é dife-
rente para cada categoria dentro do aplicativo. “As manicures, por exemplo, não precisam ter feito cursos profissionalizantes, por ser um trabalho que normalmente se aprende desde menina”, diz Mellody Gesualdo, funcionária da Singu. Já as cabeleireiras, massagistas e depiladoras precisam ter passado por escolas ou institutos de estética, além de ter feito cursos na área. No momento, o aplicativo atende Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar de ainda não ter data de previsão, pretende-se chegar a outras capitais brasileiras. “Não saio mais de casa para fazer esses serviços. É só entrar no aplicativo e pronto. Tenho uma manicure disponível dentro dos meus horários malucos”, afirma Andreia Ferraz, médica e usuária dos serviços do aplicativo.
SMARTPHONES Renan Dantas Principais produtos de consumo do setor tecnológico, os celulares chegam ao mercado cada vez mais inteligentes, convenientes e com funções inéditas. Neste final de ano, a Apple renova o portfólio com três
novos produtos. Confira. XS: Com tela super retina Led, que proporciona brilho mais intenso, tem câmeras com sensores que combinam lente, chip e software avançado. Permite a utilização de dois números com um chip. XS MAX: Tem a maior
tela de um Iphone até hoje; é fabricado em aço inoxidável e oferece uma estrutura de proteção de água e poeira. XR: Promete revolucionar o mundo dos smartphones, com desbloqueio de tela por meio de reconhecimento do olhar.
Apple/Divulgação
Novos modelos da Apple testam novidades
Homepage do aplicativo Singu BR
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ESPECIAL
Disputa entre nações marca polarização na geopolítica Em um século repleto de novos atores, Brasil ainda enfrenta barreiras para ganhar relevância Luis Filipe Santos
NA ERA ANTIGA
A polarização entre Atenas e Esparta foi uma das primeiras e mais significativas do mundo ocidental. “Após as invasões persas, os gregos criaram a Liga de Delos para se defender. Atenas detinha a supremacia e obrigava as outras cidades a pagar impostos, que deveriam ser revertidos em unidades militares. Com o tempo, Atenas começou a exercer um certo imperialismo”, relata Trida. “Em resposta, Esparta constituiu, então, a Liga do Peloponeso, com as cidades próximas, e começou a exercer o próprio imperialismo. As duas iniciaram então guerras que levaram ao declínio grego.” Ainda na Antiguidade, outro confronto de destaque foi entre Roma e a cidade de Cartago, na atual Tunísia. O embate gerou três guerras e revela algo
que permanece até hoje: a guerra de versões. “Ambas as cidades estavam se expandindo ao mesmo tempo sobre territórios próximos e iam acabar se enfrentando. Os cronistas dos dois lados relatam que o oponente invadiu seus territórios e tiveram que reagir”, conta a historiadora Joana Souza. Roma venceu as guerras. PORTUGAL X ESPANHA
Os dois países surgiram em territórios conquistados dos muçulmanos e, na virada para a Era Moderna, protagonizaram uma disputa por territórios. “Durante grande parte da história dos dois países, a Espanha via Portugal como uma parte de seu território e tentou conquistá-lo”, explica Trida. Segundo o historiador, o período em que os dois países ficaram unidos sob o mesmo rei, entre 1580 e 1640, foi fundamental para o Brasil, porque per-
mitiu que as expedições de portugueses adentrassem no território além das linhas estabelecidas anteriormente. “Depois, os portugueses garantiram um território maior na América por causa desse período, e assim o Brasil ficou do tamanho que é hoje em dia.” INGLATERRA X FRANÇA
A primeira guerra entre as duas nações já estabelecidas foi a Guerra dos 100 anos, que começou em 1337 e prosseguiu até 1456. Posteriormente, os dois se bateram em todos os séculos até o XIX. Este último, porém, também marca uma virada: de inimigas, França e Inglaterra se tornaram aliadas. “As burguesias se tornaram as classes dominantes nos dois países e quiseram ter a paz uma com a outra, para evitar guerras em seus territórios e preservar os negócios que tinham com a rival. Juntas, conseguiPixabay
Polarizar é um jeito de marcar territórios de disputa. A rivalidade entre seres humanos sempre existiu. Começou dentro de um mesmo grupo, na busca de liderança, assim como os outros animais; no entanto, desde que começamos a criar cidades e civilizações, essa competição se traduziu em confronto – e violência – ou, no mínimo, em divergências ideológicas. “Desde a pré-história até hoje, os seres humanos se batem por recursos naturais. Terras férteis, acesso à água potável e exploração de recursos minerais causaram guerras e busca por dominações sobre outros povos”, explica o professor de história Maurício Trida. De toda uma história de batalhas que prossegue até hoje, algumas assumem mais relevância para o mundo ou o Brasil atual. Com o auxílio de especia-
listas, o Expressão investigou alguns desses embates.
Como no jogo de tabuleiro War, confrontos geopolíticos são decisivos para o desenho do mapa global
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EXPRESSÃO
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ram assegurar que teriam mais áreas nas partilhas de territórios coloniais na África e na Ásia”, afirma Trida. As duas se uniram, por exemplo, em ambas as Guerras Mundiais contra a Alemanha. QUANTOS POLOS?
A segunda metade do século XX foi protagonizada por Estados Unidos, capitalistas, e a União Soviética, socialista. Os dois não chegaram a entrar em guerra diretamente, mas duelaram por áreas de influência, a fim de atrair outros países para o seu lado. Ao final, os Estados Unidos acabaram “vencendo”, com a dissolução da União Soviética. Se os Estados Unidos hoje ainda são a maior potência econômica e militar do mundo, veem cada vez outros países se aproximarem e quebrarem a clássica polerização. A China se põe como grande rival da nação norte-americana. “Na esfera militar, a China aumentou muito os gastos. Em 2000, dispendia um décimo do que os EUA gastavam com as forças armadas. Hoje gastam um terço, mas o país não tem tantos custos com tropas no exterior como os americanos têm”, relata Felipe Giuseppe Ribeiro, autor do livro recém-lançado “A Nova Geografia Militar: logística, estratégia e inteligência”. Ribeiro destaca que a Rússia também vem investindo na tecnologia militar. “Dentro da Rússia, a política externa do
presidente Putin é muito aprovada. Ele conseguiu, por exemplo, dissuadir o [então presidente dos EUA, Barack] Obama de se envolver diretamente na Guerra da Síria.” Nas questões econômica e política, Ribeiro afirma que a China tem assumido protagonismo. “O crescimento do PIB chinês tem diminuído, mas ainda é um dos mais fortes do mundo. Eles têm planos quinquenais e outros a longo prazo. Um deles propõe que o país seja tão forte quanto os Estados Unidos em 2025, o que o [atual presidente estadunidense] Donald Trump vem tentando impedir, sufocando-os economicamente”, relata. E O BRASIL?
Segundo o especialista, o País poderia também ser um eixo de influência mundial. “O Brasil tem uma missão histórica de fazer com que os países do ‘Sul’, que anteriormente eram colônias, sejam ouvidos. Não para competir, mas para cooperar em busca do desenvolvimento.” A baixa evolução da tecnologia, no entanto, é um entrave, de acordo com Ribeiro, já que a economia nacional ainda se baseia na exportação de commodities agrícolas e outros produtos de menor valor agregado. “Há uma mentalidade atrasada, que quer que o País seja um fazendão, e isso é muito forte no Congresso e na grande mídia”, argumenta.
TERRITÓRIO
No Oriente Médio, identidades em conflito opõem Palestina e Israel Pixabay
Especialistas destrincham uma das maiores disputas da história contemporânea
Conflito entre palestinos e israelenses produz feridos e mortes de civis em nome de conquista de território. A Faixa de Gaza, em disputa há décadas, é um dos locais mais bombardeados Leonardo José
Guerras no mundo árabe são frequentemente tratadas pela mídia nacional e internacional como disputas polarizadas – muitas vezes, ignorando sua complexidade. Não à toa, um dos conflitos mais significativos das últimas décadas permanece de difícil compreensão: é o travado entre Israel e o Estado da Palestina por parte de Jerusalém, pela Faixa de Gaza e pela Cisjordânia. A área palestina reivindicada, atualmente, é o agregado desses territórios – praticamente dentro de solo israelense. Em linhas gerais, a Palestina afirma que há um país
para seu povo; entretanto, as correntes filosóficas e políticas israelenses não aceitam essa ideia, pois acreditam que esse espaço deveria, por direito, pertencer ao país judeu. Dentro do jogo, ainda há outros atores mais complexos, como o Hamas e o Fatah – partidos e organizações militares que disputam o poder internamente no lado palestino. O Estado da Palestina é reconhecido por praticamente todo o mundo islâmico e por países asiáticos e africanos; na América Latina, o Brasil faz parte da maioria que entende a Palestina como nação. Na Europa Ocidental e na
América do Norte, o entendimento é contrário. Segundo o ativista palestino Jadallah Safa, o Estado de Israel foi criado para servir como uma espécie de distrito observatório gerenciado por França, Reino Unido e, principalmente, Estados Unidos. “Israel nasceu com os propósitos de causar guerra no Oriente Médio e tomar as terras que sempre foram da Palestina. O território que os israelenses têm é justamente a faixa de terra entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, território esse designado depois do tratado pós-guerra árabe, em 1948”, argumenta. “Essa área é muito importante
Interesses associados ao conflito mesclam fundamentos religiosos, economia e diferenças identitárias
porque, além da potência petrolífera da região, existe a rota marítima comercial”, opina Jadallah. Por outro lado, o ativista israelense e professor aposentado de História Eram Einbinder diz que a origem de seu país teve como foco realocar os judeus sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, após anos de perseguição nazista. “Somos um Estado criado como uma forma de dar uma vida digna à população judaica, que sofreu bastante com as grandes guerras. Hoje, lutamos pela retomada de um território previsto na Bíblia, a Terra Prometida – local indicado por Deus a Abraão, segundo o livro”, explica. CONFLITO E DENÚNCIAS
Com apoio das maiores potências, Israel tem seu poderio militar superior aos palestinos, que têm poucos
aliados oficiais: Qatar e Turquia. Entretanto, o massacre de civis na região é visto desde o início dos conflitos. Ao longo do século XXI, cerca de 98 mil pessoas já morreram; 85% das vítimas fatais são da Palestina. Com base em dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de dezembro de 2017, Jadallah ressalta o que ele classifica como limpeza étnica na Faixa de Gaza. “Há um extermínio de palestinos em nossas próprias terras. Bombas são jogadas em áreas civis, sob o argumento de ser um ataque a núcleos terroristas”, denuncia. “A partir do momento da ocupação israelense da cidade de Jerusalém, foram emitidas muitas leis racistas: a lei de anexação de Jerusalém, a demarcação dos limites da cidade e a apropriação de terras palestinas. Logo em seguida, houve a demolição de grande quantidade de casas e a construção do muro, que confiscou milhares de acres.” Eram Einbinder faz um contraponto: reforça a ideia de que os ataques militares feitos à Palestina são específicos, diretos a núcleos terroristas, que, segundo ele, ameaçam a democracia local. “Como se sabe, o terrorismo no Oriente Médio é muito grande, temos que combater isso de alguma maneira. Eles [Hamas, partido político considerado por diversas nações uma organização terrorista] reivindicam terras que divinamente e historicamente são nossas. Nosso governo tenta ao máximo evitar mortes
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de civis. Israel não pode deixar os rebeldes paladinos tomarem conta do que é nosso por direito firmado pela ONU.” BUSCA PELA PAZ
Com os lados ainda em combate diplomático e armado, Palestina e Israel ainda parecem longe de um acordo de paz. Entretanto, a pressão internacional por medidas definitivas está levando a ONU a intervir nessa guerra, seja pedindo para os israelenses abrirem a única rota terrestre comercial da Faixa de Gaza, seja solicitando ao governo palestino que aborte a tentativa de retomada de Jerusalém. Segundo a professora de Relações Internacionais Fátima Youseff, a maior causa do atual conflito é o interesse dos Estados Unidos em dominar a região de forma indireta, com a ajuda de Israel. “Por mais que haja motivações religiosas para a guerra, é nítido que a economia daquela região é o maior foco do conflito”, diz. “De um lado, Israel tem todo o suporte internacional para tomar suas decisões. Do outro, a Palestina tenta conseguir seu espaço e para isso conta com as ajudas de Turquia e Qatar.” Segundo a especialista, o apoio turco e qatari se dá pelo poder da região pedida pela Palestina em extrair petróleo. “Os interesses são quase que exclusivamente econômicos. Religião até que pode ser um dos pretextos, mas não o principal”, conclui.
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OUTRAS POLARIZAÇÕES
Profissões em guerra: tecnologia produz crises no espaço urbano Pixabay
Mudanças na mobilidade afetam segmentos como o de transporte de passageiros
Ponto de táxi agora compete com paradas rápidas de motoristas de aplicativos Victor Vasques
A dinâmica do trabalho se atualiza permanentemente conforme o avanço da tecnologia. Ao longo da história, profissões deixaram de existir ou modificaram seu lugar no mercado – fenômeno que ganhou força com aplica-
tivos, serviços e novos negócios na web. No digital, o advento dos sites de compras online, por exemplo, fez com que o caixeiro viajante – que rodava pelas cidades para vender produtos – deixasse de existir. O que dizer, então, do taxista - peça-chave do bom fun-
cionamento das cidades? Depois de protagonizarem o transporte urbano individual, os motoristas de táxi viram sua rotina ser modificada. O Uber, aplicativo que já era famoso em muitos países, chegou ao Brasil no fim de 2015, dando início a um período de protestos por parte dos taxistas e puxando uma onda de aplicativos semelhantes. Mais flexível, o Uber permite a qualquer motorista trabalhar, desde que possua carro, carteira de habilitação e atenda a alguns pré-requisitos. Enquanto isso, taxistas ainda têm burocracia para obter licença de operação (alvará). Após a autorização de circulação em algumas cidades, taxistas e motoristas de Uber passaram a viver em
pé de guerra, com direito a protestos e debate no Legislativo sobre a regulação dos serviços de mobilidade. O taxista Fábio Alves Magalhães, de 55 anos, dirige seu veículo pelas ruas há 22 anos. Começou a trabalhar na área após ser demitido de uma confecção de roupas e é contrário aos motoristas de aplicativos. “Tenho que rodar o dia todo e ainda pagar R$ 4 mil para o dono da frota, no fim do mês, enquanto o pessoal do Uber tira uma ótima quantia com uma porcentagem mínima que fica para o aplicativo.” Já Douglas Di Loretto, de 34 anos, virou motorista de Uber em março deste ano, após ficar desempregado. “Não é o que eu sonhei para a minha vida, nem o
que eu quero fazer até me aposentar, mas tenho conseguido tirar um bom dinheiro e ainda posso fazer meu horário.” REGULAÇÃO
Já existem projetos na Câmara e no Senado Federal para regulamentar o segmento; só devem ser votados após o período eleitoral. O projeto em debate cita que seria obrigatório aos motoristas de aplicativo contratação de seguro de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP) e do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), além da necessidade de inscrição do motorista como contribuinte individual do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O projeto também estabelece que o motorista deve ser portador de Carteira Nacional de Habilitação na categoria B ou superior, que tenha a informação de que ele exerce atividade remunerada. “A concorrência é injusta e desigual”, atesta o taxista Fábio. “No Brasil, cada um só olha pelos seus e aí fica esse tipo de picuinha por eu ser Uber. Isso é livre concorrência”, contrapõe Douglas. O urbanista Adilson Aarão acredita em uma convivência saudável, com benefícios mútuos às categorias e à sociedade. “A pessoa que preferir usar o Uber, que use. Quem preferir usar o Táxi, que use também”, avalia.
NAS REDES E NAS RUAS
Protestos e net-ativismo movem ideologias Ivan Freitas
As discussões sobre polarização política são uma marca do Brasil dos anos 2010. A convocação de protestos via redes sociais, o net-ativismo e a tomada das ruas, das Jornadas de Junho de 2013 às manifestações contra corrupção e partidos políticos, abrem brechas para novos atores que surgem no campo político – incluindo grupos de direita e esquerda em diversos vieses. As manifestações de 2013 criaram uma atmosfera de participação popular. Movimentos políticos e formatos
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de mídia têm crescido junto: entre os nomes conhecidos estão Juventude Contra Corrupção, Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Mídia Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. Segundo Clayton Nobre, jornalista e ativista da Mídia Ninja, os protestos de 2013 não mostravam, ainda, uma polarização. “De lá para cá, essas pessoas foram se posicionando. Não à toa, muitos movimentos começaram a cooptar essa juventude que estava nas ruas”. Eis o cenário para um coquetel explosivo: classe média, tra-
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balhadores e operários, passaram a refutar ideologias de esquerda ou direita, afetados pelo desemprego, pela crise institucional e por acontecimentos como o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). A divisão entre coxinhas e mortadelas é um marco da crise política. O MBL começou a organizar protestos contra Dilma em novembro de 2014. Desde então, tem mobilizado manifestações contra o pensamento de esquerda e defende candidaturas alinhadas ao liberalismo econômico, ao conservadorismo social e a pautas como o
modelo de Estado mínimo. Posição explícita é uma marca dos novos ativismos. “Somos editorialmente um movimento de esquerda”, afirma Clayton. Segundo ele, a Mídia Ninja, diferente de outros veículos, é uma “ativista da causa que narra”. “Se vamos a uma marcha LGBT, os que forem lá cobrir são pessoas LGBT cobrindo uma causa que também é a sua”, enfatiza. QUESTÃO GLOBAL
O fenômeno de massas ativas e polarizadas em redes sociais não é exclusivamente brasileiro; pode ser visto
ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, o embate ideológico cresceu com o surgimento de movimentos anti-establishment e resultou na eleição de Donald Trump. Na Europa, o discurso anti-imigração serviu de combustível para o Brexit no Reino Unido e ainda gera manifestações acaloradas em países como França, Itália, Alemanha e Hungria. As redes e a mídia alternativa acompanham e influenciam de modo decisivo tais movimentações. Para Clayton Nobre, a capacidade de imersão em tempo real nos acontecimentos e a ado-
ção de tecnologia comum a qualquer indivíduo, como o celular, são combustíveis para a participação política. “Nas manifestações de rua, a Mídia Ninja ganhou muita notoriedade por conta do streaming, do ao vivo, o que dá mais legitimidade que a notícia filtrada que as pessoas consomem no final do dia”, diz. “Os movimentos sociais não são os mesmos de dez anos atrás. Cada geração se forja a partir das possibilidades tecnológicas que há no seu espaço e tempo, então nós não nos adaptamos a eles e nem eles se adaptaram a nós.”
ALIMENTAÇÃO
Faces do vegetarianismo Monarquia x República: ESTADO BRASILEIRO
Pixabay
Saúde e bem-estar animal motivam adesão a dietas com restrição de proteína animal; conheça os benefícios e riscos
Kimberly Kristiny
presentes nos alimentos vegetais que têm ação antioxidante e cardioprotetora e não podem ser encontradas nos alimentos de origem animal. Além disso, com uma dieta sem carne, as chances de se desenvolver câncer caem consideravelmente. “Após vencer um câncer no estômago, decidi parar de comer carne. Depois me tornei vegana, priorizando assim os animais, o planeta e minha saúde”, relata a fisioterapeuta Stella Aguiar, 41 anos. Ela também conta que não é caro ser vegano, desde que a pessoa não viva somente de alimentos industrializados. A CARNE É FRACA
Onda veggie busca preservar a vida dos animais e denunciar abusos da indústria da carne e derivados Kimberly Kristine
O vegetarianismo é um tipo de alimentação que exclui a carne do cotidiano. Algumas pessoas aderem ao modelo em função de critérios de bem-estar animal – ou com a intenção de melhorar a saúde, pois a dieta tem a sua base em vegetais, grãos e leguminosas. Mesmo entre vegetarianos, porém, há subdivisões e debates acalorados. Ovolactovegetarianos, por exemplo, ainda consomem ovos, e os lactovegetarianos bebem leite e seus derivados. Em terceiro lugar, vêm os vegetarianos estritos - que não consomem ingredientes animais. Por último, veganos aderem à ideia de não consumir nada de origem animal; o modelo não se
restringe à alimentação, também incluindo vestuário e cosméticos. A carência de proteínas é uma das principais críticas - infundadas - ao modelo. “Os alimentos do reino vegetal contêm, sim, proteínas. Leguminosas, sementes e cereais integrais são exemplos”, explica a nutricionista vegana Bianca Oliveira. Bianca também acrescenta que é importante um acompanhamento com um nutricionista para que ele possa acompanhar como está a ingestão de itens como vitamina B2, zinco, cálcio e magnésio. VANTAGEM À SAÚDE
Segundo a profissional, é possível obter fitoquímicos na cebola e na uva, por exemplo; são substâncias
Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) em abril deste ano apontou que cerca de 14% da população brasileira se declara vegetariana; por outro lado, 81% são adeptos da dieta com carne. Há quem não abra mão de consumir alimentos do reino animal. A maioria dessas pessoas tem uma alimentação onívora - ou seja, baseada em alimentos de origem animal e vegetal. “Os ingredientes de origem animal na alimentação possuem cada um uma propriedade, mas se assemelham na oferta de proteínas e, em especial, da vitamina B12, essencial para a saúde do sangue e do sistema nervoso. Só a encontramos em alimentos animais”, alerta a nutricionista Mônica Prata. De acordo com a especialista, a retirada total
destes alimentos, seja por intolerância, seja por estilo de vida, pode ter consequências: diminuição de massa muscular, da força física e até da reconstituição celular, uma vez que as proteínas possuem estas funções. A ingestão insuficiente de vitamina B12 pode levar a alterações em memória e formigamento de mãos e pés que podem progredir para o corpo todo. RETORNO ÀS ORIGENS
Alguns vegetarianos optam por voltar a comer carne após problemas de saúde, como é o caso de Fernanda Carvalho, estudante e youtuber de 19 anos, que se considera uma ex-vegetariana estrita. “Durante três anos, adotei o vegetarianismo pela preocupação com os animais e na melhora da minha saúde, mas tive inúmeras anemias e estava com os níveis de ferro bastante baixos.” A estudante também afirma que, embora adore os animais, precisou pensar em si própria. “Somente alimentos vegetais não eram o suficiente para me deixar saudável”, relata. Embora Fernanda tenha diminuido o consumo semanal de carne, não pensa em voltar a ter uma dieta vegetariana, pois reconhece que os ingredientes animais foram essenciais para que a sua saúde pudesse melhorar. “Faço três refeições de carne vermelha e peixe por semana. Às vezes opto também por pratos vegetarianos e veganos. Mas não penso em cortar alimentos animais.”
de volta à pauta Gustavo Mignanelli Reflexo dos acalorados debates sobre o sistema político e a crise institucional vivida pelo Brasil, as discussões entre República e Monarquia, antes consideradas superadas, voltaram a circular. Facebook, WhatsApp, Twitter e outras redes sociais potencializaram a voz de pessoas que apoiam a ideia de repensar o modelo de Estado vigente no País. Desde o plebiscito realizado em 1993, que serviu para determinar o sistema e o formato de governo do Brasil, o modelo republicano presidencialista é adotado. A questão, porém, volta à pauta por conta da mobilização de estudiosos do assunto, além de cidadãos comuns que se interessaram e participam de debates no ciberespaço. Integrantes de movimentos monarquistas acreditam que, nos últimos anos, os escândalos de corrupção envolvendo representantes públicos fortaleceram os argumentos contra o modelo da República. “A conscientização da ‘falência’ da República no Brasil se torna cada vez mais visível. O brasileiro começa a ver que a restauração da monarquia no País é uma saída para isso”, diz Fernando Palmares Neto, integrante do Movimento Pró-Monarquia. A defesa da causa afirma que o monarca é quem simboliza a nação, personifica sua tradição histórica e lhe dá unidade e continuidade. Não estaria vinculado a partidos nem depende-
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ria de grupos econômicos - podendo, por isso, atuar com maior independência nos assuntos de Estado, de olho nos interesses do País. O Presidente da República, por outro lado, teria um mandato de apenas quatro anos, sendo eleito por uma parte da nação. Isso causaria instabilidade na direção de governo. Em contraponto, republicanos dizem que é essencial se poder eleger quem irá representar a população em todos os níveis do governo. “O caráter de eleger seus próprios representante é o que faz uma democracia. A troca do presidente a cada quatro anos e também a possibilidade de renovar a candidatura é o que faz a democracia se cumprir, é o povo dizendo quem deve nos governar”, afirma o historiador e professor de Direito Dernivaldo Silva. De acordo com Silva, ter como líder da nação alguém que não foi eleito democraticamente, mesmo com poderes moderadores, deslegitima uma democracia e pode abrir a brecha para um Estado autoritário. “O sistema monarquista faz a população ficar atrelada a um líder, mesmo que ele não esteja correspondendo às suas necessidades.” Pessoas que defendem a volta da monarquia estão longe de ser maioria. O movimento, porém, afirma que uma pesquisa feita por eles nas redes sociais constatou que, de 1993 (ano do plebiscito) até 2018, houve aumento de 76% no número de pessoas pró-monarquia.
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ARTES
Musicais viram tradição em SP Mila Maluhy
Com infraestrutura e público cativo, cidade assume protagonismo na indústria do entretenimento Carolina Didonet
Como em outros campos da cultura, espetáculos de teatro musical são uma especialidade brasileira. O País é o terceiro maior produtor no planeta, atrás, apenas, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Nos últimos anos, montagens qualificadas, inspiradas em clássicos há décadas em cartaz ao redor do mundo, têm ganhado espaço em cidades como São Paulo - que recebe, neste segundo semestre de 2018, nada menos que 12 musicais. O gênero tem fórmulas bem reconhecidas pelo público. “É uma história bem contada, conduzida de maneira musical”, diz o dramaturgo Atilio Bari. Segundo ele, a tradição se estabeleceu no diálogo entre as linguagens. “O teatro sempre namorou com a música. Se a gente for pensar as óperas e o cabaré alemão, são musicais”, afirma. O teatro musical faz parte da cultura brasileira há muito tempo. No século XIX, o teatro de revista ficou co-
Apresentação do musical “Cássia Eller”, em SP nhecido por fazer sátiras para criticar os costumes da época; entre os esquetes, eram apresentados números musicais. A maioria dos teatros musicais que conhecemos hoje moldados nos padrões da Broadway chegou na década de 1960, mas as temporadas que faziam sucesso eram os musicais de protestos. Em 1980, novas tentativas foram feitas, mas não tiveram seu reconhecimento até os anos 2000 pela falta de investimento. Em São Paulo, o Teatro Renault se tornou conhecido por receber grandes montagens após o musical “Les Misérables” em 2001. Além dele, outros espaços
- como o Teatro Bradesco, no Shopping Bourbon (zona oeste), Teatro Alfa, no Hotel Transamérica (zona sul), Theatro NET, no Shopping Vila Olímpia (zona sul), e Teatro Santander, no Shopping JK Iguatemi (zona sul) - hoje oferecem um calendário anual de espetáculos. Adaptações não significam, entretanto, aceitação imediata pela crítica mesmo quando são sucesso de público. O musical “Família Adams”, que foi alvo de críticas negativas na Broadway, foi visto por mais de 350 mil pessoas em menos de dois anos em cartaz na capital paulista. Foi o maior investimento
da T4F: R$ 25 milhões. É uma indústria que gera emprego e renda. “Comecei a me preparar para o Peter Pan assim que soube que seria um homem no Brasil. Comecei aulas de ginástica olímpica, via montagens da Broadway, tudo que me ajudaria a ter o papel”, afirma Mateus Ribeiro, que interpretou a temporada como Peter Pan. DO NACIONAL AO GLOBAL
Entre as montagens exibidas na capital paulista, estão versões de ”A Bela e a Fera”, ”Miss Saigon”, ”Mamma Mia!”, ”Sweet Charity”, ”A Noviça Rebelde”, ”O Rei e Eu”, ”Avenida Q”, ”Gypsy”, ”Cabaret”, ”Priscilla, a Rainha do Deserto”, “O Rei Leão”, “O Fantasma da Ópera” e “Hairspray”, entre outros. Além disso, musicais autorais nacionais têm falado diretamente com o público brasileiro, contando histórias de artistas. Alguns deles são “Hebe”, “Vale Tudo” (sobre Tim Maia), “Elis A musical” e “Cássia Eller”.
SUBIR À CABEÇA
Showbiz pode gerar transtornos psíquicos Raquel Alves O ramo musical pode parecer tentador e fascinante: turnês mundiais, fãs, festas exclusivas e altos cachês, que chamam a atenção de quem sonha em ganhar o mundo. Toda essa indústria, porém, tem um preço alto a se pagar em aspectos psicológicos; não à toa, mentes brilhantes acabam cedendo e buscando abrigo em drogas e álcool. A degradação por vícios faz parte da história da música: Amy Winehouse, Raul Seixas, Elis Regina, Kurt Cobain e Prince são exemplos de artistas que acabaram perdendo suas vidas por overdose, suicídio ou abuso de substâncias. Outros casos demonstram os riscos vividos pelos artistas: Demi Lovato, por exemplo, sofreu uma overdose após uso de substância ilícita não revelada. A cantora, que já passava por diversos problemas de distúrbios alimentares e vícios com álcool e drogas, tinha recentemente comemorado o fato de ter passado
seis anos limpa, mas sofreu uma recaída que quase lhe custou a vida. Segundo a psiquiatra Maria De Fatima Viana De Vasconcellos, não há um fator que leve qualquer pessoa a optar pelo uso de drogas: “pode vir do fator psicológico ou até do genético, como no caso da Demi, em que o pai já era usuário de drogas. Isso pode acarretar uma maior tendência ao vício”. Antes de passar pela overdose, Demi lançou a canção “Sober” (“Sóbria”, em português), revelando a todos que tinha sofrido recaída. Expôs, assim, suas dificuldades ao público por meio da arte. Para o doutor em psicologia Leonardo Cruz dos Santos, o cuidado com esses artistas vai além de seu bem-estar, abrangendo também a comunidade de fãs. “Ao admirar um ídolo, devemos cuidar da nossa saúde física ou mental. É preciso que a vida e o cotidiano continuem, que você não se afete nas partes negativas da vida desse artista.”
TEORIA LITERÁRIA
Raquel Alves
Universidade de São Paulo inova com curso de análise de Harry Potter Bianca Braga
Os livros da escritora inglesa J. K. Rowling provocaram no mundo uma paixão pelo menino-bruxo Harry Potter. Para alegria dos fãs e de acadêmicos, os livros são objeto de análise de um curso de extensão universitária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de
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Livros de J.K.Rowlling inspiram curso na USP São Paulo (USP). Entre 14 de setembro e 19 de outubro, a USP se-
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diou o curso “Harry Potter: caminhos interpretativos”, lecionado por
três estudantes de pós-graduação: Beatriz Masson, Luiz Felipe Rocha e Victor Henrique da Silva Menezes. A coordenação ficou a cargo de uma das professoras do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada. “O objetivo dos encontros é propor o contato entre os fãs e leitores de Harry Potter, tanto na academia quanto fora dela para a discussão da obra”, afirmou a estudante e
ministrante do curso Beatriz Masson. Apesar de gratuito e aberto ao público em geral, o número de vagas foi limitado; as inscrições começaram dia 20 de agosto, pela internet. Para participar, foram critérios ser maior de 18 anos e já ter lido todos os sete livros da série. A bibliografia adotou obras clássicas da teoria literária para explicar a obra de J. K. Rowling de diversas
perspectivas, como a análise de personagens-chave; Harry como herói romanesco; a formação do indivíduo; as construções dos masculinos e dos femininos; a crítica literária; e a voz do leitor. “Achei incrível a forma como a USP e os estudantes de pós-graduação embasaram os temas com base nos livros. Isso, sem dúvidas, vai despertar o desejo de muitos jovens”, comenta a pedagoga Lenizete Vanderli.
INDEPENDENTE
Mais oportunidade para contar histórias
Editoras de pequeno porte testam modelos de negócio e descobrem talentos Publicar um livro pode ser uma verdadeira jornada para quem está iniciando a carreira de escritor – que, muitas vezes, não tem recursos ou contatos no mercado. Essa saga, porém, foi apoiada pelo surgimento de editoras independentes, que apostam no potencial de novos talentos com modelos alternativos de financiamento. “Os autores precisam ter os seus textos aprovados por editores, para que haja um padrão de qualidade e relevância das publicações”, explica Toni Moraes, sócio-editor da Monomito Editorial, que em um ano de
existência revelou sete escritores. As obras vão de coletâneas de poesia a livros técnicos e podem ser publicadas em três modalidades: tradicional, na qual a editora compra os direitos autorais da história e custeia toda a produção do livro; parceria, com custos e lucros divididos entre ambos; e autopublicação, com custos assumidos pelo autor. De acordo com Toni, em cada projeto são confeccionados entre 200 e 400 exemplares; toda a venda e divulgação são realizadas por meio da internet, o que garante mais retorno sobre o investimento. “Não é vantajoso e nem com-
petitivo para uma editora de pequeno porte como a nossa entrar nas grandes livrarias, que ficam com até 60% do preço de capa”. O modelo de negócio tem rendido bons resul-
tados para a editora, pois o crescimento deste mercado, apesar de lento, é constante. “É importante que esses autores iniciantes tenham a vontade de crescer junto com a editora
Monomito Editorial
Elaine Santos
Escritores comemoram contrato de publicação
e façam de tudo pelas suas vendas”, destaca. Com formato semelhante, a Andross Editora nasceu em 2004 com a ideia de abrir espaço aos alunos que não tinham condições de publicar seus primeiros textos. Os autores são lançados em antologias coletivas de contos, poemas e crônicas. Para custear a produção, a editora desenvolveu um programa em que cada autor se compromete a vender 20 exemplares do volume em um período de 30 dias após a data de lançamento do livro. Desta forma, por exemplo, se 50 autores venderem cada um 20 exemplares, serão mil livros vendidos em 30 dias. “Compensa para a
editora, uma vez que os livros não ficarão nos depósitos das livrarias sem previsão de venda e também compensa para o autor, já que ele terá a certeza de que sua obra, em menos de um mês, será lida por quase mil pessoas”, relata Edson Rosatto, editor da Andross. Daniela Santos Nassetti, que participou dos livros Sentido Inverso e Palavras Veladas, publicados respectivamente em 2008 e 2009 pela Editora Andross, acredita nos novos modelos. “Foi a força que eu precisava para perceber que posso melhorar meu trabalho e, quem sabe, ser uma boa escritora em um futuro próximo.”
INTERVENÇÃO ARTÍSTICA
Raquel Alves
Projeto SP Cultura no Metrô tem inscrições abertas para músicos até dezembro
O alto fluxo de pessoas no Metrô Paulista garante visibilidade aos artistas participantes do projeto
Vivian Andrade
Músicos profissionais ou amadores interessados em apresentar seu trabalho em alguns dos locais mais movimentados da capital paulista podem, até dezembro, fazer suas inscrições no projeto SP Cultura no Metrô, por meio do site da Secretaria da Cultura. As linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha do Metrô de São Paulo, desde o mês de junho,
têm contado com uma programação cultural repleta de apresentações artísticas de música, dança e teatro. O projeto, lançado este ano, é uma parceria entre a Secretaria da Cultura do Estado, o Metrô e a Secretaria de Transportes Metropolitanos. Maria Isabel, cantora que fez uma apresentação de música sertaneja na linha azul, acredita na ideia. “Este tipo de intervenção no meio de um espaço
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urbano e tão movimentado é muito importante e valioso. Tanto para nós enquanto músicos, quanto para quem nos assiste. É ótimo para tornar a cultura mais acessível para toda a população”, afirma a cantora. Músicos que desejam participar da ação podem se inscrever por meio do site www.cultura.sp.gov.br. No momento, o projeto tem apresentações já marcadas do dia 17 ao dia 28 de setembro.
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Vacinação tem resultados abaixo do esperado em SP
95%
era a meta de cobertura prevista para as duas doenças no território nacional
Venilton Küchler/AENPr
Combate ao sarampo e à poliomielite ainda é desafio na cidade
Vacinas contra sarampo ainda estão disponíveis nos postos; profissionais recomendam vacinação Gustavo Lima
Iniciada em agosto, a campanha brasileira de vacinação contra sarampo e poliomielite tinha uma meta complexa: imunizar todas as crianças do território brasileiro contra infecções que voltaram à agenda do País, em forma de surtos de sarampo e de risco de retorno da paralisia infantil. Os resultados, porém, foram desanimadores: apenas seis estados alcançaram a meta de 95% de vacinações, o que causou a extensão da campanha. Os estados de Roraima e Rio de Janeiro tiveram a pior adesão; São Paulo terminou o mês com 80% de alcance. Na capital paulista, sistemas de cada bairro se mobilizaram para vacinar
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quem restava. Em São Miguel Paulista, zona leste, o alcance geral foi de 98% o que demandou uma força-tarefa. Nara Rosa, 43, é auxiliar de enfermagem e participou dessa atividade. “Nós nos organizamos e fomos às casas das pessoas, levamos as vacinas até quem não vinha nos postos”, conta. “O número de pessoas que vinham até os postos era muito baixo, se não fizéssemos isso não íamos conseguir esse alcance”. Apesar de a campanha já ter acabado, o posto de saúde em que ela trabalha ainda tem vacinas disponíveis. Uma preocupação crescente dos profissionais de saúde é a falta de interesse da população em relação à imunização das doenças. Andreia Maruzo Perejão,
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infectologista do Grupo São Cristóvão Saúde e Coordenadora do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (Crie) ABC, associa a baixa adesão às fake news e ao movimento anti vacina. “Atualmente, o crescimento de movimentos como esse tem ganhando força e, infelizmente, contribui para a disseminação de falsas informações sobre as vacinas e seus eventos adversos”, explica a médica. Ela também associa os recentes surtos de sarampo ao baixo índice de vacinação. “A principal razão é a reintrodução do vírus em uma sociedade que estava já estava com índice de cobertura vacinal abaixo do recomendado para o surgimento de novos casos da doença”, avalia.
O QUE PODE SER FEITO?
Uma das maiores preocupações em relação a falta de adesão são as consequências que isso pode causar. Além de termos mais pessoas vulneráveis aos virus, de acordo com a média, a baixa cobertura poderá resultar na volta de doenças que já estavam erradicadas e controladas em território nacional. Ela
indica o que pode ser feito para aumentar o alcance de pessoas imunizadas. “Não só o governo, mas também as sociedades médicas e o governo já vêm fazendo propagandas, campanhas e divulgação sobre a segurança e eficácia das vacinas e a importância de todos estarem com a vacinação em dia”. Como aconteceu no caso de São Miguel, a população não se mobilizou para adquirir a imunidade; como reflexo disso, profissionais de saúde pedem mais colaboração do povo. O perigo das fake news, constamentemente ressaltado em estudos da política, parece também ter se estabelecido na saúde pública. “A população precisa fazer sua parte, buscando informações em fontes seguras e não disseminando, principalmente por meio das redes sociais, informações não embasadas em estudos científicos ou conhecimento médico.” As vacinas ainda estão disponíveis nos postos de saúde e o governo planeja novos “dias D” para combate da doença no mês de setembro. Fernando Frazão/Agência Brasil
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AMAPÁ
foi o único estado que conseguiu 100% de adesão contra sarampo e poliomelite
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RONDÔNIA, PERNAMBUCO E SANTA CATARINA estão entre os estados que terminaram a campanha com números positivos
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RIO DE JANEIRO E RORAIMA foram os estados com pior número de adesão, com menos de 55%
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PARÁ, DISTRITO FEDERAL E ACRE
estão entre os estados que terminaram a campanha com pior número
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76% foi a média de cobertura vacinal alcançada em todo o Brasil; 11 estados ficaram abaixo da média
Campanha contra a poliomielite e o sarampo foi prorrogada no Rio de Janeiro
Fonte: Ministério da Saúde
INFÂNCIA
Problemas psicológicos podem gerar obesidade Elaine Pereira
Segundo o Ministério da Saúde, até 2022 mais da metade das crianças brasileiras serão obesas. As maiores vítimas serão os meninos - mais de 46%. Uma das causas para os garotos serem maioria é que eles são os que mais fazem atividades sedentárias, como longos períodos jogando videogame. Outro fator que ajuda no surgimento da obesidade na infância, entretanto, são problemas psicológicos. “Pode-se usar muitas vezes a comida como forma de compensação”, explicou
a nutricionista Adriana Reis. Doenças como a depressão podem mudar os hábitos alimentares, fazendo com que a pessoa coma em excesso ou deixe de fazer corretamente as refeições. O bullying afetou Giovanna Motta, que passou a comer mais e teve um aumento significativo de peso. “Ela comia muito e ficava trancada no quarto o dia todo. Quando eu a acordava para ir à escola de manhã ela até chorava para não ir”, contou Jennifer Motta, mãe de Giovanna. Por conta disso, a menina de nove anos passou a fazer tratamento psicológico e
nutricional. Para evitar maiores casos envolvendo bullying e outros tipos de violência que ajudam a agravar a saúde das crianças, Jennifer criou um grupo em uma rede social com as amigas que também têm filhos. O objetivo é cuidar da saúde mental delas, propondo atividades que ensinem as crianças a conviver de maneira saudável, tratando os efeitos do bullying. PAPEL DA ESCOLA
O papel das escolas na educação alimentar das crianças é suprir suas necessidades. Adriana Reis, que trabalha em
Elaine Pereira
Ansiedade e bullying na escola afetam hábitos de alimentação de crianças
Giovanna bebendo um copo de iogurte antes de ir para a escola duas escolas da região de Campinas, destaca os cuidados. “A primeira coisa que
fazemos é preparar os manipuladores para uma distribuição segura, o que envolve cui-
dados e controle desde o recebimento até o alimento chegar aos alunos”, explica.
MAIS DIVERSIDADE
Professores da rede pública trabalham cultura afro-brasileira em sala de aula
Luana Nascimento
Tayó é uma garotinha negra de seis anos. Seu passatempo favorito é brincar com seu cabelo black, explorando as inúmeras possibilidades que suas madeixas lhe proporcionam. Carregando o mundo nos cabelos, ela se sente uma princesa e enfrenta o mundo ostentando sua coroa de fios crespos. A garotinha de olhos grandes e pele retinta é personagem principal do livro “O Mundo no Black Power de Tayó”, de Kiusam de Oliveira. O livro está sendo utilizado pela professora e ativista negra Joice Aziza de Mendonça para trabalhar em sala de aula a
cultura e a história afro-brasileiras e africanas. Joice conta que a unidade em que trabalha, a Escola Estadual Júlio César Leal, localizada no bairro de Perus, zona norte, está participando de um projeto sobre o empoderamento das mulheres negras. A iniciativa foi um pontapé para que se trabalhasse a literatura afro na valorização da estética negra com os alunos do ensino fundamental do bairro. A inserção da cultura afro-brasileira, africana e indígena na matriz curricular das escolas
de níveis Fundamental e Médio de todo o País se tornou obrigatória em 2010, por meio da Lei 10.639/03. Apesar de promulgada há tantos anos, porém, muitos alunos ainda desconhecem a história da África e as relações estabelecidas com o Brasil. BARREIRAS
Para Joice o desconhecimento, o racismo e a falta de material didático adequado são alguns dos desafios. Há, segundo ela, certa resistência por parte dos agentes escolares e até mesmo de pais e
familiares de alunos. Luciene Ribeiro, professora e mestre em Literatura Afro-brasileira pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo, afirma que há uma defasagem na formação dos professores e problemas do Ministério da Educação na distribuição de material didático. “A questão da formação para as relações étnico raciais é primordial para que a desconstrução aconteça. Os negros são descritos nos livros didáticos como personagens passivos. O mito da democracia racial reforça esses estere-
ótipos que só podem ser desconstruídos em sala de aula a partir da formação adequada dos professores”, afirma. Apesar de a Lei 10.639/03 ter alterado a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que define e regulariza a organização da educação brasileira, não há nenhuma especificação se o ensino da cultura afro-brasileira e africana seria feito por meio de uma nova disciplina ou se deveria ser incorporado em outras matérias já existentes no currículo escolar. Na
A inserção da cultura afro-brasileira, africana e indígena na matriz curricular das escolas de todo o País se tornou obrigatória em 2010 outubro 2018
prática, tudo depende do engajamento do docente. Segundo Joice, hoje a aplicação deste conteúdo ainda está relacionada ao interesse do professor em introduzir o assunto e muitos ainda desconhecem de maneira aprofundada a história africana ou acabam caindo em estereótipos raciais e até mesmo religiosos. “Alguns docentes acabam falando de cultura africana apenas na semana da consciência negra ou em datas específicas e isso acaba delimitando a nossa luta”, explica a pesquisadora. “Eu, enquanto professora negra, trabalho para descolonizar os currículos e empoderar as crianças.”
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ESPORTE E LAZER FINANÇAS
Mulheres ganham Crise profunda mais espaço no futebol ameaça a Portuguesa Projetos buscam combater o machismo no esporte mais popular do país
Reprodução Dibradoras
Dibradoras: mulheres buscam mais espaço para se manifestar Ana Luisa e Gabriel Cavalari
Certamente, você já ouviu alguém falar que futebol não é coisa de mulher. Para combater esse discurso, as amigas Angélica Souza, Roberta Nina e Renata Mendonça tiveram a ideia de criar o Dibradoras. Desde 2015, o projeto aborda o esporte mais popular do País com a proposta de dar visibilidade às mulheres que o praticam. “A mídia esportiva adota uma abordagem pensando apenas no público masculino heterossexual. Todo e qualquer enfoque da mulher é sempre pelo lado da musa, da gata, das fotos sensuais das esposas dos jogadores”, diz Roberta Nina, uma das criadoras. Diversos fatores causam a desigualdade de gênero no futebol. Um dos principais é a falta de investimento e patrocínio, o que acarreta em salários e premiações menores. A equipe do Santos que se consagrou campeã brasileira de futebol feminino em 2017, por exemplo,
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recebeu um prêmio 141 vezes menor do que o Corinthians, campeão nacional no masculino. VÁRIAS MÍDIAS
O Dibradoras possui um site, páginas no Facebook, no Twitter e no Instagram, um podcast na Rádio Central 3 (com convidadas mulheres) e um canal no YouTube. A última conquista das meninas aconteceu em março deste ano, quando elas entraram para o time de blogueiros do UOL Esporte. “Conseguimos falar para mais pessoas, ganhamos mais seguidores e o melhor de tudo: temos espaço livre para escrever sobre qualquer assunto em nosso blog”, diz Nina. OFICIAL PASSA BOLA
Também no intuito de aumentar o protagonismo feminino no esporte, a relações públicas Luana Maluf fundou o Oficial Passa Bola, projeto socioeducativo que busca o crescimento do futebol feminino. ‘‘Somos mulheres apaixonadas por jogar futebol, de todas
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as origens, profissões e orientações sexuais. Um verdadeiro grupo de amigas’’, descreve. A iniciativa surgiu com a experiência profissional e pessoal de Luana. Ela postava textos sobre futebol na internet e o canal ESPN a descobriu; na sequência, ganhou um blog e começou a fazer aparições na TV e conquistar seguidores nas redes sociais. Para começar o projeto, Luana sabia que precisava de auxílio, inclusive via patrocínios. Por ser embaixadora da Puma, conseguiu o apoio da empresa, com material esportivo e uma quadra na Pompeia, zona oeste de São Paulo, onde jogam todas as quintas. A iniciativa, que completou seis meses em setembro, teve uma recepção positiva do público e da imprensa. Atualmente, o projeto possui uma fila de espera com mais de 150 mulheres e atende cerca de 60. ‘‘A gente está vivendo um momento de invasão da mulher nos estádios e no esporte’’, declara.
Guilherme Almeida
Com quase 100 anos, a Portuguesa passa pelo pior momento de toda a sua história. O clube é um dos mais tradicionais do País, foi vice-campeão brasileiro de 1996 e acolheu craques como Dener, Roberto Dinamite, Djama Santos e Zagallo. Tudo isso, porém, vem sendo esquecido em meio a problemas financeiros e técnicos. A Lusa foi campeã brasileira da Série B em 2011, com um elenco que ficou conhecido como “Barcelusa”, mas viu tudo desmoronar apenas dois anos depois com o “Caso Héverton” - uma disputa judicial travada entre Portuguesa e Fluminense por conta da suposta escalação irregular
do meia Héverton na última rodada do Brasileirão de 2013. O resultado do processo, que foi do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) à justiça comum, acabou com a Lusa rebaixada. A derrota judicial ficou marcada como um divisor de águas no clube, que afundou em uma profunda crise. Desde então, a Portuguesa foi rebaixada em todas as divisões do futebol nacional e atualmente disputa apenas a Copa Paulista, que dá acesso a Série D. Além do desastre dentro de campo, o clube acumula uma das maiores alavancagens entre os times do País. Segundo o último balanço divulgado, a total da dívida é de R$ 350 milhões, o que ultrapassa - e muito - todo
o patrimônio próprio. O Estádio Canindé vale cerca de R$ 160 milhões. Atualmente, a Lusa conta com o apoio de sua apaixonada torcida, que está financiando e ajudando na reforma do Canindé. Mesmo assim, a esperança é pequena. “Na minha opinião, não tem mais jeito. O clube tem que ser vendido para alguma empresa estrangeira, mas isso é proibido pelo estatuto da Lusa. É isso ou fechar as portas”, lamenta o comerciante Marcos Tiganá. Sem a possibilidade de venda, torcedores e dirigentes buscam alternativas. O clube social, com piscinas e quadras, foi parcialmente demolido para que o terreno seja alugado para eventos como a Feira da Madrugada.
DE DIA E DE NOITE
Falta de segurança inibe frequentadores do Parque Minhocão Lucas Antonio O Elevado João Goulart, conhecido popularmente como Minhocão, divide opiniões desde sua inauguração, em 1971. No entanto, hoje a polêmica também está ligada a seu uso para lazer, fora dos horários de circulação de carros. Recentes casos de furtos e violência aos finais de semana criam um clima desconfortável para pedestres. No primeiro semestre, por meio de decreto sancionado pelo ex-prefeito João Dória (PSDB), foi criado o Parque Munici-
pal Minhocão, um projeto que prevê a desativação gradativa do elevado, transformando-o em área destinada ao lazer. Hoje, as pistas são fechadas de segunda a sexta-feira, de 20h a 7h; aos sábados, domingos e feriados, seu uso é exclusivo para lazer. A concentração de pessoas porém, tem atraído assaltantes que pegam frequentadores desprevenidos. “Costumava correr e andar de bicicleta durante a noite para evitar o sol, mas após ser assaltada duas vezes tive que limitar minhas atividades para as manhãs de fins de
semana. Mesmo assim, a sensação de insegurança ainda é grande”, declara a estudante Camila Takashi, 24 anos. Já o comerciante Rogério Almeida sugere uma solução para reduzir os assaltos. “Deveriam seguir o modelo da Avenida Paulista, com policiais por todos os lados.” De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, no primeiro semestre de 2018 foram registradas 685 ocorrências de roubo na região do Minhocão. A subnotificação, porém, pode resultar em mais assaltos não registrados.
PONTO DE VISTA
Toninho Vespoli (PSOL) e Conte Lopes (PP) Em entrevista exclusiva ao Expressão, os candidatos a deputado estadual explicam seus posicionamentos ideológicos e partidários e analisam o atual quadro político do País Patrícia Santos e Rodrigo Machado ANTONIO BIAGIO VESPOLI
Toninho é vereador na cidade de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e foi eleito em 2012 por quociente partidário, com 8.722 votos. Foi o primeiro da sigla a assumir um cargo na Câmara dos Vereadores no município. Em 2016, concorreu novamente ao cargo e foi reeleito com mais de 16 mil votos. Expressão: Quais os acertos e erros da Era Lula? E depois disso? Toninho Vespoli: Os projetos do presidente Lula fizeram muito bem ao País, principalmente a valorização do salário mínimo - porque, se você eleva o salário, valoriza o trabalhador. O investimento na área da educação, com o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), conseguiu levar jovens aos milhares às universidades, mesmo com algumas ressalvas. O grande problema do presidente Lula é que ele não conseguiu reformar o Estado; conseguiu fazer grandes obras sociais, mas mexer na estrutura do Estado, isso ele não fez. Infelizmente, também estabeleceu alianças com quem não deveria. Expressão: O que levou o senhor a deixar o PT? TV: Infelizmente, foi a corrupção; me desliguei do PT em meados de 2002, por conta da falta do repasse de dinheiro que era para a região do ABC. O recurso estava indo todo para a campanha da Marta (Suplicy), e a minha região é próxima ao ABC. Não concordei. Expressão: Para além do embate esquerda x direita, que forças você enxerga no campo político hoje? TV: A direita compra o eleitor com seus discursos. Nessa campanha, estamos vendo muitos discursos pautados na moral, família, Deus, pátria, contra o aborto e união de pessoas do mesmo sexo. Porém, não há propostas, e a po-
O vereador e candidato a deputado pelo PSOL Toninho Vespoli avalia legado da Era Lula e pautas prioritárias da esquerda
pulação compra esse discurso por já ter um pensamento conservador forte. Outra questão: a direita tomou força também devido ao alto poder de compra e consumo que a nova classe média teve na gestão do presidente Lula. Expressão: Que pautas são urgentes em São Paulo e no Brasil? Quais você defende? TV: Estamos voltados a políticas que defendam e protejam os animais e o meio ambiente - estamos lutando, por exemplo, para barrar o uso de canudinhos na cidade de São Paulo, pois fazem um estrago à natureza e aos animais marinhos. Dentro da Assembleia Legislativa [do município de São Paulo], o foco é promover mais visibilidade à Câmara e à Assembleia: essas casas são do povo, mas não há procura. As pessoas não sabem que podem entrar e conversar conosco. Seguiremos também com as políticas sociais, apoiando sempre as minorias.
Com atuação na Rota e experiência como deputado e vereador, Conte Lopes sugere prioridades do presidente eleito para o País
ROBERVAL CONTE LOPES LIMA
Com 71 anos de idade, Conte Lopes é ex-capitão da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e, atualmente, cumpre mandato como vereador na cidade de São Paulo pelo Partido Progressista (PP). Foi deputado estadual por seis legislaturas e presidente da Comissão de Segurança Pública. Expressão: Quando o senhor iniciou a sua carreira política e o que já vivenciou nesta área? Conte Lopes: Iniciei minha vida militar em 1967, como soldado da Força Pública do Estado de São Paulo, e depois fui promovido a cabo. Em 1970, entrei para a Rota e a comandei até 1985, com a mudança do regime. Além da perseguição aos militares após a ditadura, tive que assumir o posto de policial a serviço do Hospital Militar. Além disso, houve a divisão entre o Departamento de Ordem Pública e Social (Dops) e a Rota. Houve um plebiscito para retirar os serviços da Rota, porém, sem sucesso. No fim, o Dops fechou em 1983 e a Rota permaneceu.
outubro 2018
Com todo esse cenário, eu sempre zelei pela segurança pública de São Paulo; a única forma de exercer alguma influência seria como deputado estadual ou vereador da cidade. Expressão: Quais as reais causas da crise política e econômica do País? CL: A corrupção acabou com todo o sistema político brasileiro. Infelizmente, isso acarretou em um grande desinteresse da população pela política. É necessário que os jovens tenham consciência e tenham interesse. A política está envelhecendo. E não se tem jovens para assumi-la. Outro ponto é a falta de senso do povo que não sabe votar: temos, por exemplo, o Tiririca [Francisco Everardo Oliveira Silva, humorista e terceiro deputado federal mais votado da história, eleito em São Paulo pelo Partido da República]. Expressão: Na sua visão, quais os desafios do presidente da República após esta eleição? CL: Primeiro: acabar com a corrupção, senão o Estado não funciona. Segundo: segurança pública, que está ligada diretamente com a economia. Veja o exemplo do Rio de Janeiro, que é uma cidade que depende praticamente cem por cento do turismo. Quem está indo para lá agora? Ninguém! Fora a crise do Estado. A questão do emprego é a mais emergencial, pois é inaceitável termos milhões de desempregados em um país do tamanho do Brasil. Investir na indústria e no agronegócio também é muito importante, já que são as principais atividades do País. Expressão: Que pautas devem ser prioridade? CL: Policiar as portas das escolas, combater o tráfico de drogas e lutar contra a aprovação automática. [É preciso] colocar as escolas ao mínimo da ordem, com medidas de proteção e segurança contra o bullying, e garantir a defesa e a proteção da população, dando mais autonomia à polícia e lutando para seu rearmamento dela. O Estado desarmou o policial e armou os bandidos e traficantes. É preciso também reforçar a lei do silêncio contra as músicas altas em periferias, pois todo mundo tem direito ao sono.
EXPRESSÃO
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INFOGRÁFICO
O voto na Nova República Collor. Era FHC. Lulismo. Desde a volta da democracia, já tivemos sete eleições diretas para escolher o presidente do País; o pleito de 2018 ainda está em andamento, com um cenário complexo e imprevisível. Confira um resumo dessa trajetória que – felizmente – segue sendo escrita* Diego Alves e Leonardo José
1989
Na eleição com maior número de candidatos da história, Fernando Collor (PRN) venceu Luís Inácio Lula da Silva (PT) em segundo turno. Candidatos: 22 Lula (PT)
Brizola (PDT)
Covas (PSDB)
Maluf (PDS)
Domingos (PL)
1994
Collor (PRN)
FHC (PSDB)
Lula (PT)
Enéas (Prona)
Quércia (PMDB)
Brizola (PDT)
Esperidião (PPR)
Com o impeachment de Collor em 1992, Itamar Franco assumiu a presidência até as eleições de 1994. O vitorioso foi o economista Fernando Henrique Cardoso (PSDB), já no 1º turno. Candidatos: 8
1998
Em nova disputa, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) repetiu a vitória em 1º turno; daí em diante, a ida ao 2º turno virou padrão na história brasileira. Candidatos: 12 FHC (PSDB)
Lula (PT)
Ciro (PPS)
Enéas (Prona)
Ivan Frota (PMN)
Sirkis (PV)
2002
2002 foi o ano em que, na terceira tentativa, o petista Luis Inácio Lula da Silva chegou ao Planalto, após disputar o 2º turno contra José Serra (PSDB). Candidatos: 6 Lula (PT)
Serra (PSDB)
Garotinho (PSB)
Ciro (PPS)
Zé Maria (PSTU) Rui Pimenta (PCO)
2006
As eleições de 2006 ficaram concentradas entre os candidatos do PT, do PSDB e do PSOL. Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin no 2º turno e se reelegeu. Candidatos: 8 Alckmin (PSDB)
H. Helena (PSOL) Cristovam (PDT)
Ana Rangel (PRP)
Eymael (PSDC)
2010
Lula (PT)
Serra (PSDB)
Marina (PV)
Plínio (PSOL)
Eymael (PSDC)
Zé Maria (PSTU)
2014
Dilma (PT)
Aécio (PSDB)
Marina (PSB) Luciana Genro (PSOL) Everaldo (PSC) Eduardo Jorge (PV)
2018
Dilma (PT)
Bolsonaro (PSL)
Haddad (PT)
Ciro (PDT)
Alckmin (PSDB)
Marina (Rede)
Amoedo (Novo)
Após oito anos e com aprovação recorde, Lula teve como sucessora Dilma Rousseff (PT); ela venceu Serra no 2º turno e se tornou a primeira mulher eleita para a presidência no País. Candidatos: 9 Um ano antes das eleições, a população foi às ruas protestar contra a então presidenta Dilma Rousseff nas chamadas Jornadas de Junho; a petista venceu Aécio Neves no 2º turno. Candidatos: 11
Após outro impeachment, Rousseff foi substituída pelo vice Michel Temer (PMDB); a candidatura de Lula foi indeferida com base na lei da Ficha Limpa, cedendo lugar à chapa liderada por Fernando Haddad. Candidatos: 13
FOTOS: AGÊNCIA SENADO. FOTO DE PAULO MALUF: WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL. *O INFOGRÁFICO MOSTRA OS SEIS PRIMEIROS COLOCADOS EM TODAS AS ELEIÇÕES. NO CASO DA DE 2018, APONTAMOS OS SEIS PRIMEIROS COLOCADOS DE ACORDO COM PESQUISAS ELEITORAIS REALIZADAS ENTRE 1 E 5/10.
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outubro 2018