USJT
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novembro 2018
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ano 25
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edição 10
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
ESPECIAL - Págs. 6 a 9
Algumas pessoas vivem para se doar ao próximo. Outras aprenderam, a duras penas, a se amar. Há aquelas que amam os animais, o time de futebol, a profissão. Conheça histórias que espelham diferentes maneiras de amar
#PROTAGONISTA
VIDA DIGITAL
ESPORTES
PONTO DE VISTA
A trajetória do mineiro que se tornou cientista nos EUA Pág. 3
Os bastidores de criação dos memes Pág. 4
Conquistas e lutas das mulheres no skate Pág. 14
As dicas de Guilherme Pecucci para empreender com uma startup Pág. 15
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EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
O amor encanta, motiva, alimenta a alma, pacifica. É um sentimento nobre que desde sempre move a humanidade. Mostra-se extremamente importante nesses tempos em que o discurso do ódio e a intolerância parecem estar fortalecidos. Nossos repórteres foram a campo em busca de histórias que simbolizam TODA FORMA DE AMOR. O especial dessa edição destaca, entre outros casos, a vida de pessoas que se dedicam ao trabalho voluntário; que aprenderam a gostar de si mesmas; que amam a profissão que desempenham; que atuam resgatando animais abandonados; que não precisam do sexo para amar; e
#INSTANTÂNEO
que adotaram o celibato religioso, em prol do amor a Deus e ao próximo. São personagens que amam de diferentes maneiras e por motivos diversos. Esta edição ainda aborda as consequências físicas e psicológicas do vício em smartphone, as conquistas e os desafios das mulheres que brilham no skate, uma entrevista sobre o mercado das startups, com Guilherme Pecucci, dono da Life Digital Market Group, e a trajetória do cientista mineiro André Souza, que começou lavando pratos nos EUA, e hoje realiza pesquisas para empresas gigantes, como o Facebook. É uma edição inspiradora. Boa leitura! Os Editores
Texto e foto: Bianca Hortins
Dando vida aos monstros Quando éramos crianças, nossa mente fértil nos fazia flutuar em diversos cenários de imaginação. A mostra “Que Monstro Te Mordeu - A Monstruosa Exposição dos Monstros”, realizada no Centro Cultural Fiesp, oferece interação com os monstros que criamos em nosso imaginário. Inspirada na série infantil de mesmo título, a exposição tem como mote a famosa fala do personagem Dr. Z.: “Toda vez que uma criança desenha um monstro, ele ganha vida em um lugar muito especial”.
#FICA A DICA
EXPRESSÃO Em tempos líquidos, livro defende o Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Profa. Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof.ª Patrícia Paixão MTB 30.961 - SP Projeto gráfico e direção de arte Profa. Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
Divulgação
amor, apontando-o como salvação
Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo novembro 2018 • ano 25 • edição 10 Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Butantã Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT
Gênero: Romance Ano: 2018 Editora: Editorial planeta 600 páginas Por que ler? O livro oferece um ponto de vista positivo sobre o amor
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EXPRESSÃO
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Bianca Hortins
O livro “Chega aqui que vamos falar de amor” aborda um dos sentimentos mais nobres da humanidade, em uma época em que se destacam pensamentos desacreditados sobre o amor. A obra resiste ao pensamento do filósofo Zigmunt Bauman, que defende que no mundo contemporâneo os relacionamentos entre as pessoas tornaram-se líquidos, efêmeros. Escrito por Francisco Sexto Sentido, o livro oferece um ponto de vista diferente. Acredita no amor e o coloca acima de todas as coisas. “O amor
anda a ser maltratado e eu quero mostrá-lo tal como é: maravilhoso”, diz o autor, no trecho de apresentação do livro. A obra também procura quebrar certos mitos que existem com relação à forma como esse sentimento é encarado por homens e mulheres. Desqualifica, por exemplo, a visão de que os homens não são sensíveis e que as mulheres nunca poderão ser compreendidas em sua completude. “É tempo de reescrever tudo e não ter medo de nada”, destaca Sexto Sentido, na desmistificação feita em seu livro. A obra peca apenas por trazer alguns posicionamen-
tos fatalistas, como o de que só seremos felizes se estivermos ao lado de alguém. “Não, não é possível ser feliz sozinho”, afirma o autor, de maneira taxativa. Ainda assim, é uma leitura que vale a pena, pois nos ajuda a refletir melhor sobre nossos votos no amor verdadeiro, e nos privilégios que ele tem a nos oferecer. O romance é um atrativo convite para conhecermos a pureza do amor que, sim, ainda existe. “No fundo, só quero te fazer acreditar que, se calhar, tudo o que ouviste até agora sobre o amor era mentira. Deixa-me tentar?”, propõe Francisco Sexto Sentido.
#PROTAGONISTA
Dos pratos ao Facebook Conheça a trajetória de sonhos, luta e persistência do cientista mineiro André Souza ro. Um dos seus primeiros trabalhos era limpar calhas e cortar grama. Posteriormente, obteve um emprego em um restaurante, no qual lavava pratos. “Cara, eu não tenho preguiça de trabalhar não”, comenta, lembrando da experiência. Entretanto, André estava com o visto de estudante e não poderia trabalhar. Alguém o denunciou para a universidade e ele foi obrigado a voltar para o Brasil.
Bruna Damas e Luara Theodoro
O SONHO ILEGAL
No lugar onde ele morava, escutava de conhecidos histórias de pessoas que foram para os Estados Unidos trabalhar ilegalmente por um tempo, e depois voltaram para o Brasil, conseguindo ajudar a família. A vontade de pisar em solo norte-americano sempre existiu, apesar de parecer surreal para a realidade que André vivia. “A ideia que eu tinha era de conseguir ganhar dinheiro, ajudar meus pais como eu sempre quis, além de fazer alguma coisa pra mim também, como ter uma casa, um carro, esse tipo de coisa que a gente nunca teve na vida”, diz o pesquisador. Ele também comenta que sempre pensou em ir para lá de forma ilegal ou por rotas alternativas. “Eu pensa-
o part
icula
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UM DIA EU VOLTO
Acerv
Nascido e criado na periferia de Vera Cruz, em Belo Horizonte, André Souza, 37 anos, tornou-se PhD em Psicologia Cognitiva pela Universidade do Texas (EUA) e, atualmente, trabalha como pesquisador científico no Facebook. Quando mais novo, seu primeiro sonho, inspirado em seu pai, era trabalhar como motorista de ônibus. “Eu achava o máximo ser filho do motorista, me sentia muito metido, porque entrava no ônibus e ficava ao lado do meu pai, com os passageiros me olhando. Acho que até hoje foi uma das melhores sensações que senti”, diz. No decorrer de sua infância e adolescência, a sua família passou por muitas dificuldades financeiras, chegando ao ponto de não ter alimento em casa e ter energia cortada, levando-o a estudar à luz de velas. Apesar das adversidades, foi uma fase feliz de sua vida. Sua adolescência, se comparada com a de outros jovens, foi árdua, pois precisou assumir responsabilidades de uma pessoa adulta. “Me tornei adulto cedo. Com 16 anos já saí de casa. Trabalhava, pagava meu aluguel sozinho e ajudava minha família. Mas foi uma adolescência boa, não tenho nada do que reclamar, se eu pudesse voltar no tempo e fazer as mesmas coisas, eu faria”, complementa.
Pesquisador em grandes empresas como o Facebook, André começou a realizar seu sonho de estudar e trabalhar nos EUA com apenas US$ 25 no bolso va: ou terei que viajar [viagem de férias] e ficar de modo ilegal ou o jeito vai ser ir para o México e atravessar a fronteira nadando.” Aos 18 anos, começou a cursar a faculdade de Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Contudo, por ainda existirem dificuldades financeiras em sua família, trabalhava no período matutino e noturno, em uma empresa telefônica. Nessa jornada puxada, suas faltas na graduação aumentaram e, como consequência, perdeu sua vaga na faculdade. Porém ele teve a oportunidade de reverter a situação. Enviou uma carta à reitoria explicando os seus motivos. Acabou sendo aceito de volta à universidade e, de quebra, conseguiu realizar seu sonho. A UFMG mantém um convênio com a Universidade dos Texas,
por intermédio do qual uma seleção dos melhores alunos podem fazer um intercâmbio naquela instituição. André foi um dos selecionados. A OPORTUNIDADE
“A única coisa que o intercâmbio oferecia eram as taxas universitárias. Eu não precisaria pagar nada da universidade”, explica. Mesmo assim, André não tinha dinheiro para custear as outras despesas, como gastos com moradia, refeição, transporte e materiais de estudo. Os amigos o ajudaram com a quantia necessária para ele conseguir fazer o intercâmbio. André chegou com apenas US$ 25 no bolso. Desse valor, foram gastos 15 em um cartão telefônico para avisar a sua mãe que tinha chegado aos EUA. Logo arrumou uma forma para conseguir dinhei-
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De volta à sua terra natal, André conseguiu terminar o curso de Letras e começou o seu mestrado, em Aquisição de Linguagem, também pela UFMG. Ele ainda tinha o sonho de voltar para os EUA. Por isso, entrou em contato com o departamento de Psicologia da Universidade do Texas e descobriu que uma professora realizava um estudo no Brasil. Ofereceu-se para ajudá-la. A convite da professora, foi realizar seu doutorado no Texas. Durante algum tempo, voltou a lavar pratos. Contudo, depois de um certo período, começou a lecionar. Foi docente nos EUA durante seis anos. Com o tempo, percebeu que estava ficando insatisfeito com o mundo acadêmico e decidiu não atuar mais como professor. Atualmente, André trabalha como pesquisador em grandes empresas, como Google e Facebook. Quando questionado sobre os motivos da mudança da área acadêmica para a de negócios, responde: “São áreas que precisam estar interligadas. A ciência acadêmica hoje no mundo é elitista. O conhecimento acadêmico sai pouco da universidade. Esse tipo de conhecimento quase nunca vira um produto que ajuda de fato as pessoas a tomarem decisões melhores. Isso começou a me incomodar, pois eu investi muito tempo e energia para virar cientista e percebi que contribuí muito pouco para o mundo”. André vê na ciência uma forma de ajudar as pessoas. “Eu sei de onde vim, eu conheço os problemas que as pessoas têm. A ciência pode ajudar muita gente. Eu senti que não estava fazendo nada para ajudar. Esse sentimento começou a me incomodar, por isso resolvi atuar no mercado.”
EXPRESSÃO
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VIDA DIGITAL
Uma geração movida a memes
EDUCAÇÃO VIRTUAL
Um jeito fácil e divertido de aprender Gabriele Molina
André Crevilaro, responsável pela página Dinofauro, fala sobre o universo que encanta os usuários das redes sociais Denilson Lira
Desde seu nascimento, a internet vem ampliando o acesso a diversos tipos de informações, e, principalmente, mudando a maneira de transmitir e receber uma notícia, publicidade ou até mesmo uma piada. Isso pode ser exemplificado nos famosos memes. Eles tomaram conta das mídias sociais e são usados para cativar as pessoas em diferentes áreas, inclusive na política. Quem nunca se sentiu representado por um deles? Hoje as redes sociais estão tomadas por páginas que criam este tipo de arte. O designer gráfico André Crevilaro, 36 anos, responsável pela fanpage Dinofauro (no Facebook), que conta com mais de 700 mil seguidores e segue na linha do entretenimen-
to, vem se consolidando nesse meio. “Trabalho em meu home office, pois, além do Dinofauro, tenho uma empresa que presta serviços para conteúdo nas redes sociais, e que atua no mercado de design gráfico e sites. Aproveito o espaço para poder criar os conteúdos para o Dinofauro. Gosto de me organizar e postar todos os dias coisas novas”, destaca. Ele explica como funciona o processo de criação de um meme. “Após quase quatro anos de trabalho, já consigo analisar o que os seguidores querem ver e as situações que se encaixam com o personagem da página. Também é importante ficar ligado em qual assunto está sendo falado nas redes sociais e fazer tirinhas para essa ideia em questão. Isso faz com que o personagem se mantenha na lembrança das pessoas”, conta.
André Crevilaro
Meme produzido especialmente para o jornal Expressão Para quem quer viver disso, Crevilaro ressalta que o meme é apenas um detalhe do que pode ser explorado. Ele administra não apenas a página, mas tudo que o público solicita, inclusive a venda das canecas e bonecos
da página Dinoufauro. “Cuido desde a emissão da nota fiscal até encaminhar o produto no correio para o cliente. Controlo os pedidos que estão saindo e entrado. Então não é só alimentar a página”, esclarece.
Tem dificuldade com física ou química? Deseja saber mais sobre ciências? Que tal aprender sobre essas áreas no YouTube? Essa mídia social vai muito além dos canais de música e entretenimento. É possível conhecer assuntos tidos como “pouco palatáveis”, de forma atrativa. Há diversos canais com vídeos que abordam curiosidades e explicam tudo de uma maneira fácil de entender. “Gosto muito da área de ciência, e o que mais me atrai é a forma didática como são feitas as explicações nos vídeos, sempre com temáticas interessantes”, conta Donizete Rodrigues, 46 anos, que acompanha o canal Manual do Mundo. Eduardo Sanches, professor de Química que leciona para o quarto ano do ensino fundamental, explica como essas fer-
ramentas auxiliam no aprendizado dos alunos. “Quando eu tenho um aluno com muita dificuldade, eu indico que ele busque alguns vídeos no YouTube, porque muitas vezes, pela didática mais leve e bem-humorada, ele acaba aprendendo e passa a se interessar mais pelas aulas”. Antes do YouTube ganhar tanta visibilidade, a internet por si só já auxiliava muito nos estudos por facilitar a pesquisa de diversos conteúdos sobre praticamente qualquer assunto. Só é preciso ter alguns cuidados na hora de pesquisar. O ideal é sempre dar preferência a sites que tenham credibilidade, assim, a chance de utilizar alguma informação errada é menor. Além do Manual do Mundo, os canais Nerdologia, Canal do Pirula e Space Today são opções para quem deseja aprender mais sobre Ciências.
TECNOLOGIA
Smartwatches podem ser aliados da saúde Roberto Guidoni
Definidos como uma linha de investimento das gigantes Google e Apple, os smartwatches ainda não se consolidaram para os usuários finais, principalmente devido ao seu preço. Os valores mais baixos são de empresas pouco conhecidas. Relógios de marcas notórias custam de R$ 1 mil a R$ 6 mil. O mercado ainda está co-
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meçando e as maiores empresas de tecnologia estão investindo nele. A ideia dos smartwatches surgiu em 2012, com o Pebble, um relógio inteligente que se conecta ao smartphone, oferecendo informações e notificações. Em seu primeiro financiamento coletivo no Kickstarter, a tecnologia arrecadou US$ 10 milhões. Contudo, após poucos anos de funcionamento, a Pebble, criadora do relógio,
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fechou. As propriedades intelectuais da tecnologia foram adquiridas pela Fitbit, que começou a ver um potencial para o uso do relógio no monitoramento da saúde das pessoas. A professora de pilates e aeróbica Fernanda Carassini afirma ser possível monitorar toda a sua rotina de gastos calóricos, batimentos cardíacos e enviar esses dados para o celular. O relógio verifica, também, se você
está se esforçando mais do que deveria, baseando-se na sua idade, peso e altura. De forma geral, ele auxilia a rotina de exercícios do usuário. Fernanda mostra esses dados ao seu médico para fornecer mais informações para ele. “Claro que não substitui um exame como o ecocardiograma, mas ajuda o doutor a entender melhor minha rotina”, diz. A professora cita o caso de uma aluna que é bene-
ficiada pela tecnologia. “Ela tem um problema cardíaco e precisa sempre ficar de olho no relógio durante as aulas”, conta. Muitas pesssoas também gostam de usar o aparelho para receber notificações das redes sociais. “Tornou-se uma extensão do celular. Eu mesma uso o relógio para isso às vezes”, afirma. Para Renata Souza, que também frequenta academia, o relógio foi impor-
tante para alertá-la de que era preciso procurar o médico. Ela percebeu que sua frequência cardíaca não era a esperada. Conseguiu ajustar o treino, controlar os gastos calóricos e os passos que dá. Renata também vê o smartwatch como uma extensão do smartphone. “Mesmo com o celular no silencioso, tem a pulseira que vibra o tempo todo”, explica.
SMARTPHONES
APLICATIVOS
Vício em celular causa diversos distúrbios
Pesquisa aponta uso de apps de relacionamento para fazer novos amigos
Em 2016, média de tempo de uso do celular pelos brasileiros era a mais alta do mundo Mariana Soares
Beatriz de Paula
Como você se sente ao esquecer o celular em casa? Quantas horas do seu dia são perdidas navegando no aparelho? De acordo com o levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2017, 69% dos brasileiros acessam a internet pelo telefone móvel. O índice é superior aos 60,3% registrados em 2016. A média de tempo de uso do celular pelos brasileiros foi apontada como a mais alta do mundo em 2016, de acordo com uma pesquisa feita pela empresa de estatísticas Statista. China, Estados Unidos, Itália e Espanha aparecem nesta sequência, depois do Brasil, no ranking dos cinco países com população que passa mais tempo acessando o smartphone. O vício é diagnosticado quando o indivíduo usa o aparelho por horas e
Jorge Soares vê o celular como extensão do seu corpo deixa de fazer outras atividades, sendo incapaz de se desconectar. “Algumas complicações deste tipo de dependência são fadiga, patologias oculares, tendinites, distúrbio do sono, cefaleia, má alimentação e até prejuízos na vida social”, explica a psiquiatra Camilla Braghetta, terapeuta ocupacional do Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil e mestre pela Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Jorge Soares, 23 anos, alega que o celular é uma extensão do seu corpo. “Eu gosto muito de tecnologia, sempre tento usar ao máximo meu celular. Tenho carregador portátil e internet de 20GB. Tudo pra evitar ficar sem usar”, destaca. Jorge possui baixa produção de serotonina, e, com isso, a probabilidade de desencadear depressão e
ver-se com alguém somente por intermédio da tela de um celular ou computador pode envolver riscos. É impossível garantir que tudo o que a pessoa diz sobre ela é verdade. Muitos usuários mostram uma imagem diferente do que realmente são no dia a dia. A dentista Bianca Freitas, 32 anos, vê uma exposição desnecessária nesses aplicativos. “Essa exposição toda da geração atual é um dos fatores responsáveis pelo alto índice de depressão que temos visto. Nesses aplicativos as pessoas vendem falsas imagens, querem mostrar que estão sempre felizes e com ótima aparência. Por vezes, isso acaba sendo um gatilho para quem é propenso a desenvolver a depressão”, opina. Apesar da polêmica, o fato é muitas pessoas dedicam parte considerável do seu dia às redes sociais e aos aplicativos de relacionamento. Por isso, esse mercado vem se mostrando bastante lucrativo.
André de Angelo
transtorno obsessivo compulsivo aumenta. Hoje, muitas crianças possuem celular e o utilizam diariamente. “Crianças e adolescentes tímidos, ansiosos, hiperativos, com déficit ou fobia social estão entre os principais dependentes. As consequências físicas e psicológicas a longo prazo são piores para eles. O apoio dos pais é fundamental. Eles devem impor limites para que a criança não fique muito tempo no celular, envolvendo-a em outras atividades”, recomenda Camilla. A psiquiatra garante que o vício pode ser tratado. “O tratamento do vício em celular não tem como objetivo cessar o acesso, de forma brusca, mas sim ampliar o repertório de atividades destas pessoas e estabelecer um novo cotidiano que considere outras formas de lazer, estudos, trabalho, relacionamentos, outros projetos de vida”, pontua Camila.
Um levantamento do Happn Brasil (aplicativo de paquera que é rival do popular Tinder), feito em 2017 em parceria com a YouGov, empresa líder internacional de pesquisa de mercado baseada na internet, mostrou que 60% dos cerca de 1000 brasileiros entrevistados para o estudo usam aplicativos de relacionamento. No entanto, a pesquisa apontou que nem sempre esses apps são utilizados para arrumar um parceiro. Setenta e um por cento das pessoas entrevistadas disseram que adotam os aplicativos principalmente para fazer novos amigos. É o caso da estudante Andressa Soares, 18 anos. “Nunca tive interesse em entrar no app para conseguir namoro. Com todos os garotos que conheci, criei uma amizade. Não vejo problema nenhum nisso”, afirma. O fato é que, embora muitas pessoas tenham feito amigos ou conseguido um parceiro por esses aplicativos, envol-
JOGOS
Mercado de games alia oportunidade e inovação
Ingrid Gois
Os games brasileiros têm ganhado notoriedade, e o reflexo dessa projeção pode ser visto na procura por escolas que oferecem conteúdos programáticos para formação nessa área. “A quantidade de escolas e cursos que têm surgido é muito grande, assim como o aumento de profissionais de áreas correla-
tas que têm migrado para o universo dos games. Essa é a prova de que estamos vivendo um novo ciclo”, ressalta Érica Caramelo, professora de roteiro de games desde 2011. A produção de games é dividida em três categorias: jogos independentes, produzidos por pequenas equipes, sem suporte de empresa ou investidor; advergames, que são jogos encomendados por
grandes empresas para campanhas de marketing; e os jogos AAA ou triple A, que são games que envolvem investimentos bilionários e necessitam de grandes equipes. No Brasil, advergames é a categoria dominante, ou seja, a que possui mais investimento. Alguns brasileiros preferem sair do país para concorrer a cargos em empresas de renome, como FIFA e God of War. Outra al-
ternativa é a produção independente, como explica Igor Oliveira, responsável pelo canal Programador BR, no YouTube: “Jogos independentes são a saída que muitos apaixonados encontram para expressar suas ideias, ou mesmo quando não conseguem uma vaga no mercado. Esse tipo de game tem crescido nos últimos anos, e pode ser a porta de entrada para o desenvolvedor criar seu por-
tfólio”. Oliveira destaca que no Brasil existe um mercado muito grande de consumidores de jogos eletrônicos. “Porém produzir um jogo é uma arte, que nem sempre dá certo”, pontua. Em escala global, os brasileiros que se especializaram em programação e design de games estão muito bem colocados. Jogos brasileiros, como 99 Vidas, conquistam jogadores vintages
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que sentem saudades dos games dos anos 80. Raphael Oliveira tem como um dos seus hobbies jogar 99 vidas, e explica que a paixão por programação e jogos sempre fez parte de sua trajetória: “Cresci influenciado pelo meu irmão que trabalha com rede de computadores. Sempre mexi em computadores para estudar, trabalhar e, principalmente, jogar.”
EXPRESSÃO
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ESPECIAL
Mulheres descartam padrões sociais e nutrem o amor próprio Fabio Batista
Questões psicológicas e físicas afetam o processo de autoestima e autocuidado Cibele Cardoso
Aos 14 anos, Camila Larroyd vivia o auge da sua depressão. Estava com baixa autoestima e enfrentava um distúrbio alimentar. Já não se reconhecia, não sentia vontade de sair de casa. A relação com seus pais e amigos era cada vez mais instável. Com o passar dos anos, a situação piorou. Camila se via de forma distorcida e odiava sua aparência. Aos 17 anos, não encontrava qualidade alguma em si mesma, enxergava apenas os defeitos. Desde pequena aprendeu a se sentir dessa maneira, pois todos à sua volta, principalmente no ambiente escolar, diziam que sua aparência estava errada, que precisava emagrecer e seguir padrões de beleza. Ou seja, calça 36 e camisa “pp”. A todo custo ten-
Hoje Camila sente-se confortável e orgulhosa com o seu corpo. Nem sempre foi assim tava se destruir, transformar sua existência. Hoje, aos 21 anos, a jovem encontrou o amor próprio, o maior tesouro que construiu na vida.
Sim, “construiu”, já que essa conquista é fruto de um processo diário, que permanece. Camila continua a cultivar a autoestima e desvendar
características que mais gosta em seu corpo e na sua personalidade. “Aprendi a me conhecer e descobrir inúmeras qualidades e potencialidades, que me ajudam a lidar com os defeitos. Também entendi que a felicidade mora dentro de mim, e que não preciso procurá-la em alguém”, explica Camila, que hoje cursa a graduação de Psicologia. Ela ressalta que achava impossível passar pelo regime de aceitação, mas que, repentinamente, decidiu tentar fazer bem a si mesma, já que não teria nada a perder naquele momento tão conturbado. “Foi como girar a chave. Todos os dias consumia conteúdos positivos para minha nova fase e repetia frases amorosas, enquanto me olhava no espelho, mesmo que não acreditasse ainda. Até que um dia acreditei.”
A psicóloga Larissa Cavalcanti explica que a autoestima saudável permite um melhor relacionamento interpessoal e contribui com a saúde. Quando não estamos bem conosco, podemos ter problemas psicológicos e dificuldades nas relações mais próximas. “O amor próprio tem a capacidade de reconhecer nossos pontos fortes e fracos, valorizando nossos potenciais. Assim como uma planta, deve-se colocar a semente na terra fértil, que é nosso corpo, e cultivá-la ao longo da vida”, esclarece a profissional. E como fica a relação
de amor e autoestima em uma mulher após os 50 anos? Teresa Cristina Pereira, secretária-executiva, diz ser uma mulher confiante. Sabe quais são suas qualidades e defeitos, e os aceita de maneira honesta, mesmo quando bate a insegurança. “Com certeza o amadurecimento, que adquiri com o tempo, fez com que eu aprendesse a lidar com as situações inseguras. Estou na casa dos 52. Com as vivências e experiências que tive, superei obstáculos e larguei amarras que só me faziam mal. Hoje, sou muito mais zen”, diz.
“Entendi que a felicidade mora dentro de mim e que não preciso procurá-la em alguém”
EMPATIA
Voluntariado: amor movido a solidariedade Barbara Nascimento
Eles colaboram com alguma habilidade que possuem ou simplesmente topam contribuir em qualquer tarefa, mesmo naquelas que costumam ser rejeitadas, como serviços de limpeza. Dedicam seu tempo para ajudar outras pessoas, sem qualquer tipo de remuneração. O objetivo? Uma sociedade melhor, mais solidária.
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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, em 2017, mais de 7,4 milhões de pessoas realizaram trabalhos voluntários; 840 mil a mais, se o número for comparado ao de 2016. As atividades em favor do próximo acontecem em diferentes locais: hospitais, orfanatos, asilos e até mesmo nas ruas. O psicólogo Bruno Bar-
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bosa, 32 anos, é responsável por um orfanato, uma ONG que cuida de 400 famílias e outra ONG destinada a mulheres grávidas vítimas do crack ou da violência. Ele conta que sua paixão em ajudar as pessoas começou quando sua mãe resolveu abrir um
primeiro orfanato. “Foi a partir da iniciativa dela que decidi me voluntariar, me formar em Psicologia e realizar doutorado em Psicologia Social.” Além de seus próprios projetos, o psicólogo afirma que sempre busca participar de outras iniciativas. “Acredito que
“Algumas pessoas só precisam de abraços”
posso abrir meus horizontes dessa forma, além de estar ajudando sempre o máximo possível de pessoas”. Partindo do princípio de que todos podem fazer algo por aqueles que precisam, Marília Ponciano, 44 anos, e sua filha, Vitória Ponciano, 20 anos, resolveram se juntar à causa do voluntariado, transmitindo amor, por meio de pequenos trabalhos. Elas sentem gratidão por par-
ticipar deste tipo de ação, e acreditam que o ato vai além da ajuda material, já que sentem que algumas pessoas só precisam de abraços, sorrisos ou de um momento para serem ouvidas. “Nós aprendemos com as pessoas e com situações com as quais nos deparamos. Aprendemos a dar mais valor ao que temos e a amar mais o próximo”, ressalta Marília.
SEM RELAÇÕES ÍNTIMAS
CELIBATO
Deixar o “eu” para ser o “outro”
O amor romântico dos assexuais
Shutterstock
O celibato e a abnegação ensinam a amar o próximo, passando por cima do ego
Muitos aspirantes à vida monástica recebem o chamado quando ainda são jovens Thais Santos
Em tempos tão duros e violentos como os que estamos vivendo, aqueles que são capazes de deixar de lado suas vontades, posses, vaidades e desejos para servir e ajudar os que precisam acabam ganhando destaque. O celibato teve sua origem no clero romano a partir de 304 d.C., nos concílios de Elvira e Nicéia, que proibiam os ministros religiosos de se casarem, após a ordenação. A Igreja Católica adotou o celibato dos padres e freiras na Idade Média, para defender o seu patrimônio, a fim de evitar que ele se tornasse objeto de disputas por herdeiros. A prática passou a ser obrigatória para o clero a partir de 1537, durante o papado de Gregório VII. Desde então, o sacerdote que se casasse incorreria o risco de excomunhão e ficaria impedido de todas as funções espirituais.
Um homem casado que desejasse se tornar um sacerdote teria que abandonar a sua esposa, que também teria de assumir o voto de castidade, ou ele não poderia ser ordenado padre. A Igreja Católica justifica o celibato como uma maneira de tornar o religioso mais próximo dos propósitos de Jesus Cristo. No Oriente, a Igreja Ortodoxa incentiva a ordenação de um clero casado, acreditando que os que optam pelo celibato, o fazem de livre e espontânea vontade. Em entrevista para o documentário “Um Mundo por trás do Hábito”, a irmã Francisca Beatriz de Maria explica a sua escolha: “De certa forma nós temos a opção de morrer para o mundo por uma justa causa, que é a causa de rezar pela humanidade. Eu abro mão da minha liberdade e da vida que eu poderia construir aí fora, pra ficar aqui dentro do mostei-
ro a vida inteira, me sacrificando por um bem maior”. Embora o celibato não seja uma exigência comum a muitas religiões, a maioria delas orienta seus fiéis e lideres à pratica da abnegação. Esta palavra pode ser entendida como sinônimo de altruísmo. “Primeiro eu era cristão, então eu fui formado numa família católica e foi muito natural. Eu era um jovem participante da igreja e, num determinado momento da minha vida, eu senti um chamado interior para abraçar a vida como padre. Isso aconteceu por volta dos 14 ou 15 anos de idade”, explica o padre e professor Luiz Eduardo Pinheiro Baronto. Uma pessoa altruísta é aquela que pensa nos outros antes de pensar em si. O altruísmo é uma das bases de várias doutrinas religiosas. No caso do Cristianismo, por exemplo, o altruísmo é revelado atra-
vés do amor ao próximo, um dos mandamentos deixados por Jesus (João 13:34). Apesar disso, o altruísmo não é uma atitude exclusiva de uma pessoa que segue uma religião e pode ser demonstrado por qualquer indivíduo, sendo uma questão de moral. “A recompensa de se dedicar à abnegação é difícil de ser medida, porque, em primeiro lugar, se trata de uma realização pessoal. É como se eu não me visse fazendo outra coisa a não ser isso que eu faço hoje. Claro que é uma missão, mas não é um fardo. Eu sou feliz fazendo isso”, destaca Baronto. A empatia e a ética são dois fundamentos básicos do altruísmo, porque é importante que uma pessoa se coloque no lugar da outra, entendendo o que ela está passando e fazendo algo em favor dela, independentemente de qualquer ganho pessoal.
Caracterizada como uma orientação que tem como principal particularidade a ausência da atração sexual, a assexualidade é considerada um termo “guarda-chuva” que abraça diferentes espectros e maneiras de encarar uma realidade em que o sexo não é um fator determinante para a existência de relacionamentos românticos. Aliás, se você perguntasse a um assexual, neste exato momento, se ele prefere comer bolo ou fazer sexo, provavelmente ele não pensaria duas vezes em convidá-lo para a doceria mais próxima. De acordo com Elisabete Regina de Oliveira, especialista em diversidade sexual e relações de gênero, a orientação distingue-se das outras quanto à questão de direcionamento. “As outras orientações são caracterizadas pelo direcionamento do desejo para um alvo. No caso dos assexuais, não há atração a ser direcionada”, explica a profissional, que é autora do livro “Minorias Sexuais: Direitos e Preconceitos”. Segundo levantamento divulgado pelo Programa de Estudos da Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ProSex-Ipq/USP), cerca de 7,7% das mulheres brasileiras e 2,5% dos homens entre 18 e 80 anos se identificam com algum espectro da assexualidade. Além disso, estima-se que 1% da população mundial seja assexual. Em uma sociedade marcada pela sexualização, manter-se em um relacio-
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Alexandre Cesar
Paula Maia
Elisabete, no lançamento do seu livro sobre minorias sexuais namento sem relações íntimas é difícil. “Estive em um relacionamento antes e foi horrível. Ele sempre queria sexo e eu não, até que chegou ao ponto dele me trair e a relação acabar”, afirma a enfermeira Amanda Karoline, que se descobriu assexual há cerca de um ano e meio. Apesar de não possuir muita visibilidade, no Brasil existem várias comunidades e militâncias organizadas. Só no Facebook há mais de 30 grupos e 10 páginas voltadas para o tema. Inclusive, foi em um destes espaços que Amanda conheceu o arquiteto Guilherme de Almeida, também assexual. “Marcamos de sair apenas para conversarmos, mas, quando dei por mim, já estava morrendo de amores”, conta. Guilherme e Amanda estão juntos há 11 meses. Amanda, sem interesse sexual. Já Guilherme, apesar de assexual, tem uma certa curiosidade. No entanto, o arquiteto ressalta que o sexo jamais será um fator capaz de influenciar o relacionamento dos dois. “Temos muito respeito um pelo outro. O amor romântico é mais importante”, finaliza.
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FAMÍLIA
BICHINHOS
O amor de um pai solo Sozinhos nunca mais! Sonia Nemec
Jornalista realiza sonho da paternidade por meio da adoção: “Minha vida mudou pra melhor” Arquivo Pessoal Erico Aires
Marcos Moreira
Erico Aires, 43 anos, jornalista da TV Bandeirantes, sempre demonstrou amor pela paternidade. Segundo ele, esse sentimento amoroso brotou por ter sido criado por um pai que foi incrível em termos de criação e de formação de caráter dos filhos. Aos 16 anos de idade, ainda muito jovem, recebeu a triste notícia que a pessoa que mais amava tinha morrido. Aceitar a situação não foi nada fácil, mas precisou seguir a vida apenas com as boas lembranças e o ensinamentos do pai guardados na memória. Adotar uma criança não fazia parte dos seus planos, mas foi essa a alternativa que encontrou para realizar seu maior sonho, a paternidade. “Além de ter alcançado o meu objetivo, tornei-me uma pessoa mais madura”, relata. A função mais importante do seu dia a dia é ser um pai presente na vida do filho. Formar um cidadão correto, com valores, sentimentos e pensamentos voltados ao bem da sociedade, é, de acordo com Aires, seu principal objetivo na educação do pequeno João, de 8 anos.
Rafaela Suzart mostra que o carinho e o cuidado podem salvar vidas Murilo Nogueira e Heloise Brito
Erico é o pai orgulhoso do pequeno João, de 8 anos Para o jornalista, realizar tarefas paternas sozinho requer uma grande dedicação. “Não é simples, e não é somente eu que passo por isso, muitas mulheres passam pelas mesmas dificuldades como mães solo. Você tem que se desdobrar em mil, tem que cuidar de tudo, trabalhar e ainda ter tempo para brincar”, explica o jornalista. Ele comenta que, por conta da dedicação ao filho, teve que abrir mão de atividades que até então lhe
eram corriqueiras, como sair com os amigos e realizar trabalho voluntário na igreja que frequenta. Segundo pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no início de 2018 cerca de 8,7 mil crianças esperavam por uma adoção. Em contrapartida, 9 mil adoções foram realizadas. “Desde quando adotei o João, com 2 anos e 5 meses, minha vida mudou pra melhor”, declara Aires, emocionado.
Pixabay
PERFIL DA ADOÇÃO NO BRASIL
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Atualmente no Brasil existem 44,2 mil pessoas que p r e - tendem adotar e, em média, 9 mil crianças e adolescentes disponíveis para a adoção. Para cada criança, há
seis pessoas dispostas a acolhê-la. Fatores como idade, etnia e estado de saúde da criança dificultam a adoção, pois esbarram nas exigências das famílias. O perfil idealizado por parte dos adotantes é diferente da realidade dos abrigos.
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Além disso, existe muita burocracia envolvida no processo. Da habilitação dos candidatos até a adoção, se a família não tiver nenhuma exigência, o prazo é de, no mínimo, 6 meses. Fontes: CNJ e Agência Senado
O abandono e a adoção de cães e gatos são assuntos recorrentes nas redes sociais. Essas informações, acompanhadas de imagens que muitas vezes mostram o animal doente ou com evidências de maus tratos, são expostas com o objetivo de conscientização. O último levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2014, apontou que existem mais de 30 milhões de animais nas ruas, sendo 20 milhões de cachorros. Números que preocupam se somados aos do Instituto Fess’Kobbi, que estima que apenas 41% dos cães que hoje vivem em um lar foram adotados, o que nos leva a concluir que a maioria das pessoas opta pela compra do pet em vez do resgate. Em contrapartida, os números são favoráveis aos felinos: 97% foram adotados e apenas 3% comprados. Movidos pelo amor, ativistas lutam para minimizar o sofrimento dos animais que sofrem nas ruas. Rafaela Suzart, que faz parte do projeto “Súplica animal”, cuja missão é recuperar animais que passaram por maus tratos e/ ou abandono, destaca que a gratidão é o sentimento
que move o grupo. “É muitas vezes você encontrar um animal que desistiu de tudo e perceber que, com nosso cuidado, ele voltar a viver. É cada olhar, cada rabinho balançando. É a certeza de que salvamos a vida deles e, em contrapartida, eles salvaram a nossa”, comenta. Não importa como o animal chegou à família. A relação do dono com o pet chama a atenção para mais uma das diversas formas de amor dos dias de hoje, e, seguramente, uma das mais afetivas. Cães, gatos e outros pets mostram-se fiéis e carinhosos com o
dono, por menor que seja a atenção que recebam. Muitas pessoas criam uma relação familiar com o animal, quase que de “pai e filho”. Carolina Ramalho, que há pouco tempo criou o projeto “Amor peludo”, entende que cuidar dos animais é um dom. “Eu digo para quem quiser ouvir que prefiro mil vezes lidar com o animal do que com o ser humano. Eu acredito que cada um tem um dom. Todos nós podemos ajudar o mundo a ser melhor de algum jeito. O meu é cuidando dos animais”, afirma. Telma Maria Ramalho Teles
Carolina Ramalho, idealizadora do projeto Amor Peludo
TRABALHO
ROMANCE A DISTÂNCIA
Conto de fadas made in Irlanda A pediatra que Daiane e Reinaldo encontraram o amor do outro lado do mundo ama o que faz Quem nunca sonhou em viver uma história de amor nos moldes de um conto de fadas? Pois bem. Você vai conhecer um romance que parece ter saído de um filme. Reinaldo Pires, de 24 anos, e Daiane Farias, de 28, se conheceram em uma igreja na Irlanda. Daiane já morava no país há quatro anos e Reinaldo acabava de chegar, para realizar um intercâmbio. ‘’Eu me lembro exatamente quando ele entrou na igreja com uma camisa de time e um boné. Pensei comigo: ‘Ele é gatinho, mas tem uma cara de bebê... E essa camisa do Corinthians?’’’, lembra, sorrindo. Para Reinaldo, foi amor à primeira vista. Ele recorda com detalhes do encon-
tro. “Quando a vi pela primeira vez com aquela saia longa cinza, all star branco e com uma blusinha de lã rosa, me apaixonei’’, diz, emocionado. Com o passar dos dias, a convivência se tornou mais frequente por conta dos ensaios da igreja em que os dois participavam como
levitas. Isso permitiu que, de certa forma, se conhecessem melhor. Embora Reinaldo já estivesse interessado, alguns obstáculos apareceram no caminho dos dois, até que finalmente conseguissem se unir. A diferença de idade e a preocupação da garota em retornar ao Brasil foram
Daiana Farias
Mariane Ferraz
Daiane e Reinaldo, que se conheceram tão longe de casa, hoje celebram juntos seu relacionamento
alguns desses empecilhos. Outros relacionamentos acabaram acontecendo. Até que em uma das reuniões realizadas pela igreja houve o despertar do amor de Daiane por Reinaldo. A troca de olhares entre os dois fez com que ela o enxergasse de outra forma e o comentário de uma amiga só reforçou isso. ‘’Daiane, o novinho está apaixonado por você. A mulher que casar com ele está feita’’, disse a amiga Mayara Oliveira. O amor foi selado e resolveram não se largar mais. Oficializaram o relacionamento. Apesar de Daiane ter retornado ao Brasil e Reinaldo ter permanecido na Irlanda, essa união está cada vez mais forte. Eles estão noivos e vão se casar!
FUTEBOL
Tanía Lazaro
Paixão pelo clube acima de tudo Lucas Oliveira
O amor nutrido por muitos brasileiros pelo futebol é inegável. Nosso país mantém uma íntima e apaixonada relação com este esporte, que se tornou referência nacional, tanto para quem é de fora quanto para os que aqui residem. A adoração da população é tamanha que, organizada em torcidas, ela se aglomera para venerar o time do coração e seus respectivos jogadores. Algumas pessoas nutrem um amor sem limites a um clube, mudando até mesmo seu cotidiano, para acompanhar o time do coração. São torcedores fanáticos que vivem em função do futebol. “Eu confesso que sou doente pelo Palmeiras. Des-
Wellington Lazaro, em frente aos seus tesouros: “Confesso que sou doente pelo Palmeiras” de sempre vivo para este clube. É uma vida boa, porém com seus perigos, o que me leva a ter um determinado cuidado com outras torcidas organizadas”, conta o vendedor Wellington Larazo, 49 anos, que é da Porks, uma das torcidas organizadas do Palmeiras.
Larazo viaja pelo Brasil para acompanhar as decisões do Palmeiras e de outros clubes com os quais tem afinidade. “É a melhor sensação do mundo: estar onde queremos estar’’, diz. Os fanáticos pelo futebol são cheio de rituais que, para muitos que não se in-
teressam pelo esporte, parecem loucura. E talvez sejam mesmo. Não se trata apenas da camisa da sorte para ir ao estádio, mas da poltrona que garante a vitória nos jogos decisivos, do amuleto guardado dentro do bolso, do lugar no sofá de casa que faz o atacante marcar o gol. A vida desse tipo de torcedor é dividida entre uma agonia sem fim e uma explosão de felicidade. Não há meio termo. O dentista Marcio Ribeiro, 29 anos, que é louco pelo Corinthians, comenta seu envolvimento com o time: ‘’Vivemos intensamente isso aqui. Se o clube perde, perdemos juntos e a semana fica ruim. Se ganha, tudo melhora. Somos uma torcida que tem um time’’.
Bruna Ciolari e Jessica Yumi
Não é incomum nos depararmos no dia a dia com pessoas que reclamam excessivamente do trabalho. Algumas, no entanto, amam o que fazem e, por conta disso, acabam se destacando como profissionais. Segundo pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (SBie), o trabalho só se torna uma realização pessoal através do treinamento do psíquicoemocional do indivíduo. A pessoa precisa desenvolver habilidade em lidar com as suas próprias emoções e administrar de forma positiva as adversidades do cotidiano. A pediatra Zuleid Dantas Linhares Mattar, 62 anos, se diz satisfeita com seu trabalho. Ela consegue destacar diversos aspectos positivos no relacionamento com seus pacientes. “Tem muitas coisas boas no meu dia a dia. Recebo carinho das crianças, com beijos e abraços. É legal que às vezes elas mandam vídeo pra
mim, dizendo que estão com saudade e querem vir para a consulta”, relata. Nas redes sociais da doutora é possível encontrar muitos comentários das mães dos pacientes, que elogiam seu trabalho. “O diferencial da Zuleid está na parte humana. Não é só a questão de ser uma pediatra. Ela é muito além disso. É um ser humano incrível, tem muito amor e dedicação,” comenta Kellen Fiorentin Favaretto, 35 anos, empresária e mãe. A técnica de enfermagem Cinthia Stano Valença Vedovato, 27 anos, também destaca a forma carinhosa com que Zuleid atua. “O atendimento dela é bem dinâmico. Ela é super atenciosa, brinca, abraça e tira foto com a criança. Nota cada detalhe da evolução da bebê e esclarece as dúvidas, sem pressa, tranquilizando os pais”. Profissionais que amam o que fazem são vistos em diferentes áreas. É muito bom quando nos deparamos com um deles. Há sim adversidades no trabalho, mas é possível exergar as coisas boas que ele nos proporciona. Zuleid Dantas
Doutora Zuleid com o bebê Lucca, seu paciente
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Desigualdade de gênero é tema de capacitação voltada a professores Reprodução Facebook
Curso reuniu 38 docentes do ensino médio e técnico do estado de São Paulo Fernanda Noronha
Em uma sociedade patriarcal, para que alguns tabus possam ser minimizados, é preciso problematizar situações e trabalhar desde cedo a temática do combate à discriminação e desigualdade de gênero. Pensando nisso e na necessidade de implantar políticas públicas que promovam esse debate, o professor e coordenador Davi Gutierrez, responsável por promover cursos de capacitação para professores das escolas técnicas do Estado de São Paulo, organizou o curso “Gênero no Espaço Escolar - Ações Possíveis”, em parceria com a psicóloga Cristiane Narciso. Para Cristiane, especializada em Gênero e Diversidade na Escola, pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o curso reforça o papel essencial que a escola e os professores têm para
Da esquerda para direita: Cristiane, Amara e Davi romper os estigmas patriarcais que a sociedade impõe. “O ambiente escolar é um espaço de convi-
vência e deveria promover uma educação cidadã, porém essa não é a realidade das nossas escolas,
nas quais alunos que não correspondem ao modelo heteronormativo sofrem exclusão e acabam aban-
donando os estudos”, explica a psicóloga. No ambiente escolar, geralmente a ‘diferença’ é encarada como algo proibido ou inaceitável pelos padrões estabelecidos e, no que se refere à sexualidade e ao gênero, a exclusão fica ainda mais evidente. “Na escola reproduzimos o que acontece na sociedade, pois ainda não praticamos uma pedagogia que promova a equidade de gênero. Colocamos os meninos para jogarem bola e as meninas para assistirem ao jogo. Reforçamos a heterossexualidade como único modelo adequado para a vivência da sexualidade e consideramos como normais apenas as pessoas cisgêneras”, salienta Cristiane. O curso possibilitou que os professores tivessem pleno entendimento que a escola é um espaço em que se faz necessário questionar assimetrias e promover a
igualdade de gêneros num contexto educativo, repensando ideias e transformando realidades em que as concepções de gênero, que se pautam na perspectiva da construção social, possam contribuir para novas regras de convívio, de processos democráticos e de responsabilidade. As aulas reuniram cerca de 38 professores do ensino médio e técnico de São Paulo. Os participantes realizaram diferentes atividades. Puderam assistir a uma palestra de Amara Moira, primeira doutora trans da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) a defender sua tese com nome social. Além das aulas preseciais, os participantes vão contar com tutoria e materiais de apoio disponibilizados em uma plataforma virtual até novembro, mês em que acontece o primeiro “Seminário Gênero no Espaço Escolar – Ações Possíveis”.
APRENDIZADO EM CASA
Prática de ensino domiciliar gera polêmica no país Matheus Chaves
Conhecido como homeschooling, o ensino domiciliar está despertando debates no Brasil. A prática de educar os filhos em casa, sem a obrigatoriedade de levá-los à escola, é reconhecida em mais de 60 países, porém, aqui é proibida, embora haja famílias adeptas. No dia 12 de setembro
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de 2018 o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu que o ato seja realizado no Brasil. Segundo a fundamentação adotada pela maioria dos ministros, o pedido formulado no recurso exraordinário (que solicitava a aprovaçao desse tipo de ensino) não pode ser acolhido, uma vez que não há legislação no Brasil que regulamente preceitos e regras apli-
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cáveis a essa modalidade de educação. Além disso, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) também obriga os responsáveis a matricularem as crianças no ensino básico a partir dos 4 anos de idade. Consuelo Machado, advogada e mãe de criança em educação domiciliar, disse que a decisão do SFT é inconstitucional. “A
Constituição é extremamente clara: ‘a educação é um direito de todos, e é dever do Estado e da família’. Ou seja, se em algum momento, a família tem melhores condições de educar, o Estado não pode obrigar que o indivíduo tenha uma educação inferior, ferindo seu direito inalienável à educação”, explica a advogada. Professor de Filosofia e
História no Colégio Estadual Cruzeiro do Sul, em Curitiba (PR), Francisco Cardozo, discorda da ideia de ensino domiciliar. “O homem é um ser social não podemos viver isolados. O aluno precisa saber e aprender a conviver com os outros. Se ele fica em casa, é negada a possibilidade de convivência. Nesse sentido, o educando terá problemas
no futuro, porque é necessário saber viver e trabalhar em sociedade”. Conforme dados da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), existem mais de 7 mil famílias que optam por educar seus filhos em casa, em vez de mandá-los para a escola. A estimativa é que cerca de 15 mil crianças recebam educação domiciliar no país atualmente.
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
Plantio de árvores é solução contra aquecimento global
PESQUISA
Os benefícios da iniciação científica
Reflorestamento combate a poluição do meio ambiente Eduardo Costa
O simples ato de plantar árvores é uma das principais estratégias para o combate do temido aquecimento global. É o que aponta um estudo de cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra. De acordo com a pesquisa, realizar o plantio em áreas que não possuem árvores e melhorar o solo, por meio da utilização de uma camada de carvão vegetal, são medidas essenciais a serem implementadas até 2050. O pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Miguel Alamino, concorda que a principal ferramenta que temos contra o CO2 (gás carbônico; um dos gases que provocam o efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global) é
Rafael Neddermeyer
O reflorestamento é um aliado em regiões metropolitanas o plantio. Além de retirarem o gás carbônico do ambiente, as árvores retribuem no mecanismo da fotossíntese, liberando o oxigênio. “O reflorestamento é um aliado principalmente em regiões metropolitanas. Isso sem contar que as árvores combatem as enchentes, já que ajudam na retenção da água. Elas são mais eficien-
tes que os piscinões”, complementa Alamino. A cidade de São Paulo, depois da iniciativa da ONG Cites4forests, lançada no final de setembro de 2018, comprometeu-se a conservar e restaurar suas florestas, além de conscientizar os moradores sobre os benefícios que essa iniciativa acarreta.
Thays Andrade
Segundo Marcela Vilasboas, também pesquisadora da UFSCAR, o reflorestanos grandes centros urbanos precisa estar aliado ao aumento de políticas públicas e à conscientização. “Precisamos de áreas florestais maiores do que as que existem hoje, para compensar a poluição diária emitida”, argumenta Marcela. Além de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador aderiram ao programa da Cite4forests. As cidades deverão implementar ferramentas de preservação, políticas locais e programas voluntários. A estudante, Barbara Vieira considera a iniciativa imprescindível. “O desmatamento também gera impactos sociais e econômicos. É preciso investir em práticas voltadas a preservar a natureza”.
A vontade de dar o primeiro passo rumo a um futuro como cientista ou até mesmo descobrir algo intrigante faz com que alguns universitários entrem na iniciação científica. O professor Ribeiro Costa Santos, de 54 anos, formado em História da Arte, explica que esse ingresso traz grande contribuição para a vida acadêmica. “A iniciação científica possui grande importância na formação do aluno, uma vez que contribui para o seu amadurecimento, e, sem dúvida, impulsiona a sede de conhecimento.” O universitário Diego da Silva Betto, 25 anos, cursa Filosofia na Universidade São Judas. Ele iniciou a iniciação científica há cinco meses. “Meu projeto é
focado no estudo estético a partir das composições do Rap. Estou animado com o desenvolvimento dele. No início eu achava que seria muito difícil entrar na iniciação. Havia muitos pré-requisitos”, conta. Diego detalha como foi o passo a passo para ser aprovado. “Eu tive que elaborar um projeto de pesquisa. Após a análise da comissão avaliadora, tive a resposta que meu projeto tinha sido aprovado. Segundo meu orientador, levarei de um a dois anos para pesquisar o que quero.” O estudante confia que o esforço valerá a pena: “Muita gente diz que eu vou ficar maluco pra conciliar a iniciação com as disciplinas do curso. Mas, de verdade, eu tenho certeza de que isso irá me ajudar muito”.
OPORTUNIDADE
USP estimula estudantes a entrarem em contato com o mundo da ciência
Seguir a carreira científica pode estar bem longe dos planos de muitos jovens, em especial das mulheres, já que muitas vezes a ciência é vista como uma área predominantemente masculina. Com o objetivo de mudar essa visão, a Universidade de São Paulo está prestes a implantar o projeto “Meninas com Ciência”. Destinado para jovens de 10 a 14 anos, a iniciativa, realizada no próprio campus da universidade, conta com
muitas cientistas que apresentam diferentes áreas de estudo para as participantes. Professora e responsável pelo projeto, Camila Signori acredita que um dos fatores que distanciam as meninas do universo da ciência é o fato de que, desde pequenas, elas são influenciadas a seguir profissões que envolvem cuidados interpessoais, de alguma forma relacionadas com o que se espera da mulher socialmente. “Projetos como esse tendem a incentivar as meninas, mostrando por meio de
exemplos do nosso dia a dia o espaço que a gente pode ocupar”, diz a coordenadora. As aulas serão realizadas em São Paulo, no Instituto Oceanográfico (IO) da USP, e são voltadas a alunas entre o 5º e o 9º ano do ensino fundamental. O curso é dividido em cinco aulas, ministradas sempre aos sábados, nas quais serão abordados temas como zoologia, astronomia, paleontologia e neurociências. Das 50 vagas oferecidas, metade é reservada para estudantes de escolas públicas. A seleção é por sorteio.
Para Carolina Cândido, professora de ensino fundamental, as aulas são um grande passo na carreira das jovens. “As crianças costumam ficar em dúvida sobre qual profissão seguir, sem conhecer como são as iniciações científicas, que formam professores, pesquisadores e mestres. É uma grande iniciativa”, opina Carolina. De acordo com um estudo feito pela Microsoft, as meninas começam a se interessar pela Ciência por volta dos 11 anos, a partir de aulas sobre o assunto na
escola. No entanto, por volta dos 14 anos, elas costumam desistir de seguir essa carrei-
ra, porque percebem que há uma grande desigualdade de gênero na área.
Reprodução Facebook
André Luís Oliveira
Jovens em contato com a ciência
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ARTES
Inaugurado em 2003, na cidade de Cotia, na Grande São Paulo, o Templo Zu Lai é considerado o maior santuário budista da América Latina. Com 10.000 m², o monumento tem suas origens no budismo Mahayana, e é um dentre os muitos templos do Monastério Fo Guang Shan. Pelo vasto conjunto arquitetônico e originalidade, o Zu Lai atrai não só adeptos do budismo, como admiradores de arquitetura e artes. É possível notar os olhares interessados dos visitantes admirando cada detalhe do templo. “Não há nada parecido no Brasil, eu não podia deixar de visitar. Sempre tive curiosidade”, destaca Wetilli Viana, 23 anos, analista financeiro. Inspirado nos palácios
Danilo Lopes
Gabriel Vullen
Fachada do Templo Zu Lai: monumento budista começou a ser idealizado em 1992 da Dinastia Tang, o templo foi construído com a colaboração de chineses, taiwaneses, japoneses e brasileiros. Sua idealização começou em 1992, quando o Venerável Mestre Hsing Yün foi convidado para oficializar em São Paulo a consagração do templo budista Kuan Yin. Depois de ouvir a palavra do mestre, o empresário Chang Sheng Kai e sua esposa doaram o sítio da
família que deu lugar ao templo denominado Zu Lai, do chinês “aquele que assim foi / veio”. Sua estrutura serve de referência para novas ideias. “Estou me inspirando nessa obra para desenvolver o meu projeto, como futura arquiteta. Fico fascinada por monumentos orientais, pois, assim como as arquiteturas egípcias, eles envolvem muitos sentimentos e
histórias. Busco desenvolver os meus croquis em cima disso”, afirma Aline Martins de Souza, 21 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo. TEMPLO ZU LAI Estrada Fernando Nobre, 1461, Cotia (SP); terça-feira a sexta-feira, das 12h às 17h; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h; Entrada gratuita
PAIXÃO PELA ARTE
Fábrica de Cultura promove atividades gratuitas Alison Camargo
A Fábrica de Cultura do Parque Belém, na zona leste, é um espaço totalmente voltado a atividades culturais como dança, teatro e música. O ambiente estimula a participação das pessoas que residem perto da unidade, pela variedade de cursos disponíveis e, principalmente, por atender todas as faixas etárias. Para crianças, adolescentes e jovens de 8 a 21 anos, a programação acontece ao longo dos dias úteis. Aos sábados, a grade é reservada para atender o público
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adulto, com o programa especial “Adulto, Pais e Avós”. A grade de cursos é repleta de possibilidades. A programação disponível tem desde dança contemporânea, a ballet e street dance. Por se tratar de um projeto vinculado a um órgão público, a matrícula é gratuita, basta, ao interessado, dirigir-se ao centro cultural e apresentar a documentação exigida (visível no site), para se inscrever nas atividades. Menores de 18 anos precisam comparecer ao local acompanhados pelos responsáveis. “Pra mim, cada apresenta-
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ção é um momento único. Todo o processo de trabalho e desenvolvimento com a turma que ocorre ao longo do semestre nos torna uma família. Nosso objetivo é sempre espalhar o nosso amor e paixão pela arte para impactar as pessoas”, afirma Luiza Nunes Santana, aluna do grupo de Street Dance que participa da casa há mais de quatro anos. O Café Concerto é um espaço reservado na Fábrica para a realização dos espetáculos que ocorrem nos finais de semana pelas turmas de cada curso. As apresentações
são abertas ao público. “Estar no palco é uma emoção imensurável. Todo aquele calor do público e toda a ansiedade envolvida me mostram que é realmente isso que eu quero continuar fazendo”, declara Gabriel Olegário, aluno de 19 anos, que participa do curso de dança contemporânea.
IMS oferece ao visitante acervo inédito do artista Millôr Fernandes Danilo Lopes
Humorista, dramaturgo, jornalista e tradutor. Essas são as diversas faces de Millôr Fernandes e todas fazem parte da exposição “Millôr: Obra Gráfica”, presente no Instituto Moreira Salles (IMS) até janeiro de 2019. A mostra, dos curadores Cássio Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires, mapeia, por meio do destaque de 500 originais, os principais temas que estiveram presentes ao longo de 70 anos de produção do artista. “É a primeira vez que eu vejo de perto as obras do Millôr. A maioria delas passa uma mensagem implícita da época”, diz Juliana Almeida, estudante de Arquitetura e Urbanismo. Millôr Fernandes (19232012) nasceu no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923. Teve uma produtiva atuação como colunista da revista Veja, de 1968 a 1982, e, em uma segunda fase, de 2004 a 2009. Ajudou a criar O Pasquim, o tabloide incendiário que fustigava
a ditadura militar. No governo de Leonel Brizola fez propaganda política na sua seção da revista Veja. “O Millôr chegou a um ponto em que nenhuma ideologia fazia mais a sua cabeça. Ele acabou se transformando em uma oposição extrema a tudo e a todos, mas sempre de uma forma bem-humorada, clarividente e muito lúcida. Passou passou pelo Pasquim, uma importante referência de resistência à ditadura”, relata Augusto Vassilopoulos, mestre em Literatura. As obras de Millôr estão no primeiro andar do IMS, que fica na Av. Paulista. A exposição divide em cinco grandes conjuntos a obra gráfica do artista, dos autorretratos à crítica implacável da vida brasileira, passando pelas relações humanas, o prazer de desenhar e a imensa e importante produção da seção Pif Paf, que manteve na revista O Cruzeiro, entre 1945 e 1963. O acervo de Millôr, que reúne mais de seis mil desenhos e seu arquivo pessoal, está sob a guarda do IMS desde 2013.
Danilo Lopes
Templo Zu Lai atrai admiradores de arquitetura e artes
CULTURA
FÁBRICA DE CULTURA Av. Celso Garcia, nº 2.231 São Paulo (SP); de terça a sexta-feira, das 9h às 17h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h; não abre às segundas
As obras do artista estão expostas no primeiro andar
ARTES
Metrô paulistano oferece passeio cultural
REPRESENTATIVIDADE
Arte para todas
Acervo Metrô
Obras de grandes artistas estão expostas em diferentes estações
Mural “Cores e Formas”, localizado na estação Brigadeiro, sentido Ana Rosa Theo Guidotti e Vitória Ribeiro
Uma exposição de arte embeleza os trilhos do Metrô de São Paulo. O programa “Museu Subterrâneo – Levando cultura, transportando emoções” integra o projeto SP Cultura no Metrô e leva o usuário a conhecer as obras de arte espalhadas pelas estações nos finais de semana, com visitas monitoradas e
um acervo de grandes nomes como Alex Flemming, Cícero Dias, Cláudio Tozzi, Xico Chaves e Emanoel Araújo. O museu possui quatro roteiros para os finais de semana, que saem das estações Ana Rosa, Sé e República, passando por quatro linhas: Amarela, Azul, Verde e Vermelha. A iniciativa de instalar museus sob o metrô de São Paulo é antiga. Desde
1978 o metrô expõe obras de artistas renomados. Os primeiros trabalhos foram na estação Sé: um mural de Renina Katz e duas esculturas, uma de Alfredo Ceschiatti, outra de Marcelo Nitsche. Atualmente o número de obras passa de 90. O Metrô de São Paulo sempre renova as atrações expostas com a Linha da Cultura, programa que
leva arte, cultura e entretenimento por tempo determinado pelas estações desde 1986. A Secretaria da Cultura explica o intuito de colocar exposições de arte pelas linhas do metrô: “O objetivo é trazer expressões artísticas aos passageiros da rede metroviária criando, assim, uma interação mais ativa”. A exposição Museu Subterrâneo possui visitas guiadas por arte-educadores, em português, com grupos de até 15 inscritos, o tempo médio de visitas é de 1h30. As obras estão localizadas nas áreas pagas do metrô, e com um bilhete (R$ 4), o visitante pode conhecer os roteiros que estarão disponíveis até 16 de dezembro de 2018.
Galeria Supernova incentiva arte e diversidade Jacqueline Rodrigues Inspirada em movimentos feministas nos Estados Unidos e na Inglaterra, a marchande Camila Siufi criou a Supernova Galerie, uma galeria que abriga apenas obras de artistas mulheres. A maioria das galerias no Brasil possui um grande acervo de obras feitas por homens. Camila, que trabalhava há 10 anos com o pai, se incomodou com esse fato e decidiu montar o próprio empreendimento especializado. Localizada no bairro do Morumbi, a Supernova também recebe grupos de visitantes, agendados
por e-mail, e está aberta para visitação sem intenção de compra. Essa é uma preocupação da idealizadora, que percebeu que muitas pessoas não frequentavam galerias, porque não queriam adquirir as obras. Aos que desejam levar uma arte para casa e querem se programar, o site da galeria mostra o preço de cada obra exposta. Com isso, Camila visa incentivar cada vez mais compradores. Além da preocupação com o feminismo, o acevo conta com artistas trans e negras, para abrir cada vez mais espaço para a diversidade.
INCLUSÃO
Histórias de vidas transformadas pelo grafite Thalita Gomes
A arte de rua era crime na época da Ditadura Militar e, apesar do cenário ter mudado bastante, essa manifestação artística ainda é vista com preconceito por algumas pessoas, como uma atividade marginal. O grafiteiro Lucas Alves, 24 anos, mais conhecido
como “Redmax”, sentiu na pele os julgamentos e a repressão por querer “viver da arte”. “O grafite mudou a minha vida e me ajudou a compreender a importância da liberdade de expressão. Quando comecei aos 20 anos, era muito julgado pela família e amigos pelo fato de o grafite não ser considerado uma profissão.
Hoje, eles aprendem comigo a transformação que a arte pode fazer na vida de alguém”, conta Lucas. Nos muros das vielas do Jardim São Luiz, no extremo do Capão Redondo, na zona sul, os desenhos cheios de curvas, pintados em um fundo verde , trazendo o rosto de um menino negro com a mão
na cabeça, revelam características marcantes dos grafites de Redmax, 24 anos, que busca contar através da arte sua própria história de resistência e luta contra as drogas. Do outro lado da cidade, na Vila Zélia, em Santana, zona norte, o grafite também proporcionou mudanças de vida. O ex-
-engraxate, Bruno Sampaio, 26 anos, entrou em contato com a arte em um momento crucial. “Com 18 anos tinha terminado o ensino médio e já engraxava sapatos há 2 anos. Estava infeliz e queria desistir de tudo. Foi quando um amigo me levou em um evento de grafite no Bixiga. Consegui fazer
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muitos contatos, comecei a grafitar e não parei até hoje”, revela o grafiteiro. A maioria dos grafites do ex-engraxate está nos bairros da zona norte de São Paulo. Os murais refletem diversos animais e os tons marcantes que o grafiteiro usa. A inspiração vem da mãe que resgatava cachorros e gatos de rua.
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ESPORTE E LAZER
Mulheres conquistam seu espaço no skate
PATINAÇÃO
Beleza, equilíbrio e técnica sobre rodas Leticia Damasceno
Nadia Belo
Desde a Califórnia (EUA) da década de 1950, o sidewalk surfing (surf de calçada), mais tarde conhecido como skate, modalidade esportiva criada como uma alternativa ao surf em épocas de marés baixas e secas na região, foi sendo redescoberto e aprimorado. A prática se popularizou no início da década de 1960, e sempre contou com a presença das mulheres. A skatista Pipa Souza, 26 anos, carioca de Macaé, pratica o esporte há nove anos e já teve a oportunidade de ir a Barcelona (Espanha), Dinamarca e Suécia. Ela também se dedica ao audiovisual, como forma de destacar a prática do skate. “É incrível, por-
que, por meio dessa arte, a gente registra momentos e fortalece a cena. Com vídeos e fotos, podemos dar mais divulgação ao que está rolando”, explica. Quando se trata de competições, Pipa avalia que o cenário está bem melhor que no passado. “Hoje, a maioria dos eventos faz questão de incluir a categoria feminina. Ainda estamos um pouco atrás na questão da igualdade de premiação, mas isso é algo que tem sido conquistado aos poucos.” Outro importante movimento é a criação de grupos apenas com integrantes do gênero feminino. É o exemplo do Girls Trick Time, composto por Duda Piloto, Mariana Maymone, Ana Laura Piloto, Isabelly Ávila e Ana
Vitor Ribeiro
Elas lutam por respeito e igualdade nas premiações
Pipa a um palmo do chão Medeiro. “O skate feminino tem crescido a cada dia, fazendo com que as mulheres se interessem pelo esporte”, destaca Duda. Mariana Maymone avaliza a opinião da colega, mas lamenta o fato de as skatistas sofrerem com a questão do preconceito: “Sempre sofri uma certa
rejeição. Quando me viam de skate, começavam com piadas ou até mesmo me comparavam com um homem, devido ao meu bom desempenho”. Para Ana Laura Piloto, a sociedade espera que as mulheres pratiquem um “esporte de meninas”, mas essa visão vem mudando.
Um esporte belo, marcado por saltos duplos e rodopios. A patinação sobre rodas ganha cada vez mais adeptos no Brasil. “O público conhece mais as pessoas que pegam seus patins para dar uma volta no parque. Poucos sabem da existência dos grupos de patinação e, quando conhecem, acabam se encantando, porque as técnicas são muito parecidas com as competições de patinação no gelo”, afirma Flávia Magri, professora e coordenadora da Arc Sports, escola que oferece aulas de patinação. A patinação artística conta com apresentações solo, em duplas e em grupos. Os profissionais podem competir em campeonatos regionais, estaduais, federais,
além da copa interamericana, do sul americano e do mundial. A estudante de hidráulica Bárbara Tyemi começou a praticar a atividade aos 4 anos na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Como a maioria das atletas, treinava por hobby até ser convidada a integrar um grupo de mini show aos 14 anos. Dos 11 aos 17 anos, participou de 14 competições estaduais, dois interclubes estaduais, 18 federais, uma copa interamericana, dois sul americanos e dois mundiais. “É uma das melhores sensações que existem, envolve emoção e adrenalina! Isso sem contar os benefícios para o corpo, porque é uma atividade física que requer equilíbrio, condicionamento, movimentação total e diferentes técnicas”, destaca.
ESTRATÉGIA E INTELIGÊNCIA
Rubens Ferreira
É possível aliar calma, reflexão e força bruta? O boxe-xadrez, conhecido internacionalmente como chess-boxing, mostra que sim. Inspirada por uma HQ do artista francês Enki Bilal, publicada em 1992, a modalidade teve sua primeira competição realizada em 2003. Hoje, 11 países praticam o esporte, que já conta com uma organização internacional. O boxe-xadrez quebra preconceitos e convenções. Mistura a calmaria com o agito, resultando numa modalidade que
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oferece o equilíbrio entre os dois esportes, pois envolve movimentos calculados logo após de, por exemplo, o jogador levar um “gancho” no nariz. Os assaltos do boxe e os rounds de xadrez são intercalados, respeitando as regras de cada esporte. Os atletas são divididos em categorias conforme o peso. A partida pode durar até 39 minutos. O primeiro lutador a nocautear ou realizar o xeque-mate é o campeão. Com destaque na Europa, em especial na Grã-Bretanha, a modalidade ainda não está em vigor
EXPRESSÃO
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Valderei Sales
Boxe-xadrez: raciocínio com força bruta
Alunos de uma academia de boxe treinando estratégias em partida de xadrez no Brasil. Mesmo assim, alguns centros esportivos do país já começam a fazer conexões entre o boxe e o xadrez, como a escola de autodefesa e boxe de São Carlos (interior de São
Paulo), onde o boxeador campeão e técnico de primeira linha Valderei Sales ensina os dois esportes para crianças e jovens. “No meu projeto, todos os alunos aprendem xadrez. É ótimo
para trabalhar a questão do raciocínio, de ter que apresentar respostas rápidas. No início, os alunos torceram o nariz, quando mostrei vários campeões mundiais de boxe que jogam xadrez.
Depois, todos mudaram de ideia”, conta Sales. O professor destaca que, para ganhar uma luta de boxe, a estratégia e a inteligência praticadas no xadrez são muito importantes. “O boxe é um esporte em que, para vencer, você tem que errar menos”, explica. Entre as curiosidades do boxe-xadrez está o fato de que nunca uma única luta acabou em nocaute. Todas as partidas ao redor do continente europeu foram concluídas com o xeque-mate. Um sinal de que a inteligência e a estratégia levaram a melhor sobre a força física? Quem sabe.
PONTO DE VISTA
Startup como modelo de negócio Resiliência, persistência e foco em resultados: conheça a trajetória de Guilherme Pecucci Empreender no Brasil não é tarefa das mais simples. Muitos fatores, internos e externos, podem atrapalhar aqueles que resolvem construir seu próprio negócio. A difícil conjuntura do segmento de mercado em que se pretende atuar, a falta de persistência à frente da organização e a demora no retorno financeiro, sem que sejam criadas alternativas para se sustentar até que o lucro venha, são alguns dos obstáculos a serem driblados pelo empreendedor. O mercado das startups no Brasil vem se consolidando, e é uma boa alternativa para quem busca investir em um negócio próprio. Inovadoras e com uma gestão baseada em etapas a serem cumpridas, essas empresas jovens são conduzidas por pessoas que sabem lidar com um cenário de incertezas, aplicando soluções criativas e estratégicas. Guilherme Pecucci é dono da Life Digital Market Group, uma startup de tecnologia, marketing e gestão que existe há três anos, e começa, hoje, a render frutos. O “espírito jovem” de Pecucci, que tem 33 anos, é combinado com um sólido currículo: um MBA em Marketing com Gestão Comercial, estudos em Comércio Exterior fora do Brasil e experiências que vão do Trade Marketing ao tempo em que lecionou Marketing na Universidade Anhembi Morumbi (foi professor na instituição por três anos). Nesse bate-papo, ele fala sobre as dificuldades para empreender no Brasil e sobre as peculiaridades do mercado das startups. Expressão: Como surgiu a ideia de montar uma startup? Quais foram suas motivações? Guilherme: A primeira startup que montei foi voltada à construção civil. Foi, na verdade, o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do MBA que eu fiz (em Marketing e Gestão Comercial). É bem importante mexer com coisas que a gente tem interesse, quando estamos estudando. Meus pais têm uma construtora e eu fiz um estágio com eles, em que pude entender os percalços do mercado. Aprendi essencialmente sobre controle de custo e controle de mão de obra. Foi assim que montei a “Senhor das Obras” (primeira startup de Pecucci). Depois disso fui evoluindo com outras ideias, adicionando meus conhecimentos de marketing até chegar à Life Digital. Abrimos um setor de esporte e saúde, um de moda e um de entretenimento e comunicação (que formou a atual Life Di-
Vinicius Souza
Bruno Santos e Vinicius Souza
Pecucci no escritório da Senhor das Obras, no bairro do Paraíso, em São Paulo gital Market Group). Vida de empreendedor sempre muda, e a gente tem que se adaptar. A ideia inicial nem sempre é executada. Expressão: Como filtrar potenciais mercados, emergentes ou não, para iniciar uma startup? Guilherme: Existem vários mercados em potencial, e outros que não estão crescendo, mas que têm como oferecer soluções tecnológicas. Sempre tem oportunidade. Em se tratando de tecnologia, coisa que no Brasil ainda engatinha, sempre haverá possibilidades para a entrada de serviços. Se apegar a esse nicho de mercado é um viés interessante. Expressão: Como as barreiras e métodos de empresas tradicionais podem ser revistas com a ascensão das startups? Guilherme: A gente está em um momento de mudança e de incentivo à criatividade, eu me apego muito nisso. Existem várias frentes de atuação e investimento para entrar em uma área criativa, que demandam um certo tempo, além de conhecimento e estudo de mercado. Não é qualquer um que pode se aventurar no mercado sem preparo. Existem várias incubadoras e programas de aceleração que incentivam o empreendedorismo,
que é o que chamamos de transformação digital, principalmente para as organizações mais tradicionais que precisam se adequar às novas economias. As novas empresas são mais enxutas, usam um maior aparato tecnológico, otimizam processos e buscam retorno no investimento feito em recursos humanos. Essas são as frentes que as startups impõem. Expressão: Quais são as dificuldades de ser um empreendedor no Brasil? Guilherme: É uma situação cultural. No Brasil o panorama político é bem desfavorável aos investimentos e a gente, hoje, se apega aos parceiros. Não por acaso vivemos tempos de economia colaborativa, que são empreendedores, empresas e pessoas motivadas a colaborar com esse start no mercado. Precisamos trabalhar mais esse ponto. As organizações precisam conseguir consolidar parcerias, o ganha-ganha, as permutas, sabe? Mas isso tem que acontecer de uma forma que seja organizada e por etapas. Expressão: Você falou sobre economia colaborativa. Por que ela é tão importante hoje? Guilherme: Estamos em um bom momento para as economias colaborativas, que são empresas ou empreendedores que contribuem entre si de forma criativa. Um exem-
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plo disso é o negócio em que você realiza permuta com um parceiro e ele agrega para sua empresa em termos de apoio e networking. Com isso, há o feedback de ação mútua para que ambos consigam alavancar os investimentos e redes de contatos. É possível fazer isso até entre concorrentes. Expressão: Poderia estimar um valor de capital inicial para o investimento em um negócio próprio? Guilherme: Anos atrás tinha gente que falava que com menos de R$ 500 mil você não poderia começar um negócio. Hoje em dia, se houver um planejamento bacana, com uma estrutura bem pensada e executada, é possível dar um pontapé inicial com aproximadamente R$ 60 mil. Mas também depende de como você vai ter um retorno disso e de como vai colocar esse retorno dentro do fluxo de caixa, para continuar investindo na empresa. Depois de tracionar o negócio no início, qual é o próximo passo? É muito importante pensar nisso. Não é à toa que o processo de encubação e aceleração das startups conta com investidores e patrocinadores que apoiam o plano de negócios com capital, equipe e estrutura, pois esse mercado não é brincadeira. Expressão: Quero começar uma startup, mas não sei em qual área. Será que consigo? Guilherme: O ideal é fazer um trabalho que você goste, escolher um mercado em que você tem conhecimento ou que, ao menos, vai te deixar satisfeito. Eu indico iniciar em um ramo que você tenha domínio e que também tenha pelo menos um pouco de prática. Existem boas opções de estágio de negócios bem segmentados para capacitar um jovem empreendedor. Vale investir uma grana em uma consultoria especializada, que vai estruturar sua startup do zero, com planejamento, e que conte com uma equipe que possibilite um networking inicial no mercado em que você vai atuar. Expressão: Quais dicas você oferece para quem quer empreender atualmente? Guilherme: Resiliência é a principal. Criatividade e flexibilidade vêm logo atrás. Mas isso ainda é pouco para o mundo do empreendedorismo. Sempre é necessário mais. É preciso comprometimento, meter a mão na massa mesmo. O dono de uma startup precisa estar sempre à frente do negócio, com persistência.
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INFOGRÁFICO
Tragédia sobre rodas O que há de errado com os motoristas e pedestres brasileiros? Conheça os números das mortes no trânsito no Brasil Amanda Moura, Gustavo Barreto e Larissa Fornarolli
*Segundo dados do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), órgão da Escola Nacional de Seguros, de janeiro a junho deste ano, os acidentes de trânsito provocaram 19.398 mil mortes e 20 mil casos de invalidez permanente no país.
*A economista e coautora do estudo Natália Oliveira alertou que os principais fatores associados aos acidentes são falta de educação, desrespeito às leis, excesso de velocidade, ingestão de álcool, direção perigosa e uso de celular.
*As principais vítimas são homens de 18 a 65 anos e motociclistas.
*Os acidentes somaram R$ 96,5 bilhões. Esse valor corresponde ao que as vítimas poderiam ter produzido, já que estavam em uma fase da vida economicamente ativa.
**Em 2018, o número de mortes no trânsito foi cerca de 47 mil.
***No ano de 2017, foi registrada uma alta de 23% de mortes em relação aos cinco anos anteriores.
*Fontes: *Agência Brasil / Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES); ** Revista Police; *** Jornal O Estado de São Paulo
MORTES NO TRÂNSITO
Moto é o veículo que mais mata, causando cerca de 1/3 de 37% das mortes no país.
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Cerca de 24% das mortes no trânsito são causadas por carros.