USJT
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maio 2019
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ano 26
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edição 1
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
ESPECIAL - Págs. 6 a 9
NOVO FÔLEGO PARA O CINEMA NACIONAL Novas tecnologias, formação acadêmica e espaços de discussão e crítica dão impulso ao audiovisual brasileiro PONTO DE VISTA
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
VIDA DIGITAL
CULTURA E ARTES
Roberson Miguel coloca cicloativismo em pauta na periferia de SP Pág. 3
Docente da São Judas lança livro sobre narrativas da televisão Pág. 5
Sistema de rastreamento chega à cadeia dos alimentos Pág. 10
Canto gregoriano se destaca no Mosteiro de São Bento Pág. 15
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EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
#INSTANTÂNEO
Texto e foto: Mirela Freitas
Victor Hidalgo
nalistas em formação. Com o espírito crítico mantido, nossa publicação passa a ser um veículo para a prática do estágio curricular supervisionado, em sintonia com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de Jornalismo. Nas demais editorias, pautas como o financiamento público em pesquisa, o cicloativismo, tecnologias de rastreamento na cadeia de alimentos e o Mosteiro de São Bento são destaque – e refletem o olhar de nossa equipe para temas de interesse da comunidade universitária e do paulistano. Siga a gente nas redes sociais e leia o jornal na web no Issuu. Boa leitura! Os Editores
EXPRESSÃO
Cultura em disputa Uma manifestação na avenida Brigadeiro Luis Antônio, região central de São Paulo, foi organizada no mês de abril para protestar contra cortes na pasta de cultura pela gestão de João Doria (PSDB). Diante do risco de fechamento de espaços como o Theatro São Pedro, depois negado pelo governador, os manifestantes percorreram um trecho da avenida com cartazes em mãos, demonstrando revolta com o contingenciamento de despesas.
#FICA A DICA
Uma dupla contra o racismo estrutural Divulgação
Em tempos de intenso debate sobre a produção audiovisual brasileira, seus meios de fomento e seu futuro – o que inclui questões de público, mercado e distribuição –, falar de um “novo fôlego” pode parecer anacrônico. Longe disso; é hora de colocarmos a formação acadêmica, a produção, as vantagens tecnológicas e o debate da produção fílmica atual em primeiro plano. Afinal, a cultura do País vive e resiste na ficção, no documentário e nos muitos formatos que atravessam o campo do cinema e do audiovisual. Com este tema, estreamos o ano de 2019 para o Expressão – ligeiramente repaginado para comportar uma nova redação de jor-
Jornal universitário do 4º ano de Jornalismo maio 2019 • ano 26 • edição 1 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof.ª Jaqueline Lemos Supervisor de estágio e jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Supervisora de estágio, projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br
Infiltrado na Klan Direção: Spike Lee Ano: 2018 Gênero: drama/policial Distribuição: Netflix Duração: 128 minutos Classificação: 14 anos Distribuidora: Universal Pictures
Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Victor Hidalgo
EXPRESSÃO
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Keller Dantara
Destaque nas premiações de cinema da temporada 2019, “Infiltrado na Klan” conta a história de Ron Stallworth (John David Washington), o primeiro policial negro a se infiltrar na Ku Klux Klan. Ron entra em contato com membros da Klan por telefone, chegando até mesmo ao Grão-Mestre do organismo, David Duke (Topher Grace). Por ser negro, Ron não pode participar dos encontros com os membros da organização. Nesse contexto, entra Flip Zimmerman (Adam Driver), que cumpria o papel de comparecer às reuniões, em um inteligente mecanismo de dupla.
Ao mesmo tempo que tenta derrubar a Ku Klux Klan, Ron sente-se excluído de sua própria realidade por pertencer à polícia, um grupo culturalmente mantido em relações tensas com a população negra dos Estados Unidos. O sentimento é corroborado por sua namorada Patrice Dumas (Laura Harrier), líder do movimento negro estudantil. Aclamado por críticos, o diretor Spike Lee apresenta temas atuais e discussões contemporâneas de forma leve e descontraída. Ao mesmo tempo que o espectador ri das piadas ácidas do filme, sente-se desconfortável e reflete sobre a realidade que o cerca.
As cenas de preconceito são retratadas de forma caricata, principalmente pelos membros da Ku Klux Klan, mas ainda assim é possível ao público se identificar com situações típicas apresentadas. O diretor também faz referência ao Blaxploitation, movimento cinematográfico negro dos anos 1970. A fotografia do filme e o estilo adotado fazem alusões explícitas. Spike Lee cumpre o prometido ao apresentar um filme de comédia que diverte o público, mas vai além ao entregar uma crítica social – não tão velada assim – à situação atual da população negra, nos Estados Unidos e no mundo.
PONTO DE VISTA
Para democratizar as bikes Na busca de um transporte mais justo, cicloativista busca soluções tecnológicas e estimula o debate público sobre mobilidade Acervo pessoal
Marcos Paone e Thiago Toledo
Roberson Miguel dos Santos, 39 anos, trabalha como técnico em informática – mas é nas bikes, hoje, que se realiza e conhece em profundidade sua cidade. Paralelamente à carreira profissional, estabeleceu-se como cicloativista e passou a advogar pela expansão de infraestrutura não só na região central – foco dos últimos anos na gestão pública –, mas também na periferia. No caso de Roberson, o uso mais constante de bicicletas começou por um problema de saúde. Também foi marcante em sua vida o acidente sofrido pelo ciclista David dos Santos, que em 2013 teve seu braço direito decepado ao ser atropelado pelo então estudante de psicologia Alex Kosloff Siwek – que confessou ter jogado o braço da vítima em um córrego na região da avenida Ricardo Jafet, sudeste de São Paulo. O caso foi investigado ao longo de anos e, em 2016, a pena de Alex foi convertida à prestação de serviços à comunidade em dois anos e ao pagamento de salários mínimos. Morador da Vila Bela Vista, na zona norte, e envolvido em hackathons (maratonas de desenvolvimento tecnológico) com projetos sobre temas de mobilidade, Roberson diz ser outra pessoa hoje, com o ciclismo 100% incorporado à rotina; antes, era “um sedentário que mal conhecia a cidade, saía para o trabalho e de carro atendia clientes durante o dia”. De acordo com ele, uma cidade mais saudável requer, obrigatoriamente, a diversificação de modais e o fim da dependência do carro – como ainda hoje acontece em várias regiões da capital paulista. Confira o bate-papo dele com a equipe do Expressão. Expressão – O cicloativismo realmente mudou sua vida? Roberson – Precisava perder peso e comecei a fazer caminhadas, mas isso me trouxe dores no joelho e o médico pediu para que eu suspendesse. Comecei, então, a pedalar aos domingos; um dia, percebi que estava muito perto do
"É benéfico para a cidade termos mais formas de transporte, mas falta empatia das pessoas que utilizam os modais" ruas para as ciclovias e calçadas. É preciso ordem na escala dos modais e contrapartida na operação na cidade. Roberson Miguel e sua bike: hábito iniciado por saúde e transformado em causa meu trabalho. No dia do rodízio, decidi deixar o carro para tentar chegar ao trabalho de bike e deu muito certo. Antes eu fazia um trajeto de 12 quilômetros em uma hora de carro. De bike e sem preparo físico, passei a fazer em 40 minutos. Era uma diferença pequena, mas no dia do rodizio eu não precisava mais sair duas horas antes para ir ao trabalho – e nem ficar até as 20h. Mas o que me levou ao ativismo, de fato, foi o dia em que o David [dos Santos] perdeu o braço na Avenida Paulista. Fui à manifestação por mais ciclovias e ali comecei meu ativismo. Como você tem buscado influenciar o debate público sobre o assunto? Uma das mais participações mais importantes foi palestrar na Escola de Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, em que dezenas de legisladores queriam saber como e por onde fazer melhorias na cidade. Já em hackathons, conquistei o primeiro lugar na competição Tech Cycle e minha equipe esteve entre os primeiros três colocados no Hack In Sampa, sobre combate à corrupção.
Algum projeto específico na área de mobilidade vai ser implantado por você? Quero muito levar adiante o projeto de pesquisa de origem e destino que apresentamos no Hacking Rio, além de um voltado à recarga de veículos elétricos, apresentado em uma feira de veículos elétricos em São Paulo. No caso da ideia que apresentamos no Tech Cycle, a empresa Yellow já incorporou quase todos os itens. Como você vê o cenário dos modais e meios de transporte por aqui? É benéfico para a cidade termos mais formas de transporte, mas falta muita organização e empatia das pessoas que utilizam os modais. Além disso, as empresas precisam ser genuinamente pró-mobilidade e não apenas operar como startups a fim de lucrar mais e mais. Hoje, bikes e patinetes elétricos estão nas ruas e nas ciclovias. Você concorda com essas alternativas? Sim. São usos que, em sua escala, incentivam as pessoas a participar mais da cidade e as aproximam – mas isso não justifica transferir o modelo de motorização das
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Em várias ocasiões você já defendeu a busca de um transporte justo na cidade. Como seria isso, na prática? O que faria mais sentido em São Paulo? Um transporte em que as pessoas não fossem classificadas pelo modal que adotam. No lugar disso, deveríamos tornar os modais tão naturais que pouco importaria como a pessoa chegou ou vai sair de um lugar. Tudo isso diz respeito a ir e vir – e um transporte mais justo garante isso a todos os cidadãos. É preciso mais incentivo. As empresas deveriam estimular a integração de modais e ter horários flexíveis, assim as pessoas planejariam melhor seus deslocamentos. Como cicloativista, você defende mais integração entre regiões de baixa renda e o ambiente das empresas e das leis. Quais desafios você já enfrentou ou enfrenta para continuar melhorando a cidade? A cidade tem oferta de emprego bem longe de onde a maioria que presta esses serviços pode pagar para morar; isso dificulta uma mobilidade mais bem distribuída. Assim, a maioria cai no senso comum que ter um carro ajuda no deslocamento, o que faz piorar a situação para todos – e a cidade perde muito com isso.
EXPRESSÃO
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Fapesp mantém tendência nacional e reduz verba para bolsas de pós
Lucas Cunha
Os repasses feitos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para bolsas de mestrado e doutorado em 2018 foram os menores em nove anos. Os dados, obtidos via Lei de Acesso à Informação pela agência Fiquem Sabendo, revelam que mestrados, doutorados e pós-doutorados receberam R$ 132,9 milhões no ano, queda de 4% em relação a 2017, quando a agência repassou R$ 139 milhões. Esse é o menor valor desde 2010, quando foram destinados R$ 150,9 milhões. Para muitos candidatos, a queda nos repasses tem relação com o rigor exigido pela Fundação para a concessão de bolsas. “Coisas que antes não tinham nenhum peso agora são determinantes para a Fapesp conceder a bolsa. Por exemplo, experiência internacional (para pós-doutorado) e artigos (para mestrado e doutorado)”, observa Bruno Genevcius, biólogo e bolsista de pós-doutorado. Para ele, conseguir suporte financeiro ainda é a principal dificuldade dos candidatos. “Está cada vez mais difícil e competitivo. Talvez por conta da grave crise do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), muitas pessoas vêm de outros estados”, pontua.
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Lucas Cunha
Candidatos criticam a redução e apontam risco à continuidade da produção científica no estado REFLEXOS
Situação crítica >> No País
O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) teve 42,27% de corte no orçamento anunciado em 2019 Decreto 9.741 prevê
bloqueio de R$ 2,158 bilhões em despesas de investimento
Estudantes de psicologia no laboratório de anatomia A professora de alemão Marina Grilli está há nove meses tentando conseguir uma bolsa de doutorado. Durante o processo, teve todas as solicitações negadas. "Foram quatro negativas; na primeira, argumentaram que o currículo do meu orientador não era suficiente, ou seja, que a produção dele não estava de acordo com o esperado. É um absurdo, pois ele tem décadas de produção e ‘só’ publicou dois artigos nos últimos 4 anos”, relata. De acordo com Marina, as outras negativas sequer foram explicadas: “nas outras três, a justificativa foi nenhuma". SOLICITAÇÕES NEGADAS
O bolsista de pós-doutorado Sérgio Kogikoski Jú-
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nior acredita que a dificuldade para conseguir bolsas não está relacionada somente à redução de verbas para pesquisas. Para ele, a negação de muitos projetos está relacionada ao desconhecimento dos candidatos sobre os interesses da agência. “Vejo muitos problemas hoje, principalmente, por conta da falta de conhecimento sobre o que é de interesse para a comunidade, para a Fapesp e para o estado de São Paulo”, afirma. “Essa parte (do rigor na concessão) das bolsas sempre existiu. As regras da Fapesp são para manter um alto nível de pesquisa científica. O que se escuta hoje sempre ocorreu, mas antes tínhamos outras fontes de financia-
mento que também funcionavam, como Capes e CNPq”, finaliza. RISCOS EM JOGO
O diretor pedagógico do ensino médio do Colégio São Luís Jesuítas, Rafael Araújo, acredita que a pesquisa atualmente enfrenta um desmonte no país e alerta para as consequências. “O desenvolvimento científico e tecnológico é condição necessária para o avanço do país em todos os sentidos. Sem o fomento à pesquisa, políticas públicas de todas Em 2018: R$ 132,9 milhões
em repasses para bolsas pela Fapesp
as áreas correm risco de perder eficácia e eficiência. Em especial, áreas cujos resultados das pesquisas não são tão materiais e imediatos correm risco de se fragilizar”, alerta. O diretor lembra, ainda, que o investimento em pesquisas é necessário para “garantir o desenvolvimento espiritual e material do país em todas as áreas, diminuindo a dependência de outras nações, criando autonomia para o estabelecimento de soluções locais, que considere as particularidades do país”.
-4% em relação a 2017
>> Nos estados
Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) anunciou
suspensão de R$ 2,5 milhões para
bolsas de iniciação científica e cerca de R$
13 milhões para projetos liderados por professores
Investimentos caíram: R$ 300,7 milhões em 2018 R$ 6,7 milhões em 2019
ESTRATÉGIA NARRATIVA
Docente da São Judas lança livro sobre narrativas televisivas Fernanda Souza
Bruno Chiarioni discute obra do jornalista Fernando Gabeira em sua tese de doutorado
Pesquisa aborda a escrita diferenciada para televisão
Isabela Sampaio
Mestre e doutor em Comunicação e docente da São Judas, o jornalista Bruno Chiarioni lançará, nos próximos meses, uma obra que busca lançar novos olhares sobre a construção de narrativas para a TV. Também atuante como editor executivo do programa "Conexão Repórter", do SBT, o docente recebeu a reportagem do Expressão para uma entrevista sobre “A escritura da presença: A crônica televisual de Fernando Gabeira”, com previsão de publicação até o final do mês de maio. O livro tem como base a tese de doutorado de Bruno, defendida em 2017 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), tendo como objeto
de pesquisa as reportagens realizadas por Gabeira em seu programa “Fernando Gabeira”, da GloboNews. Segundo Bruno, as pautas de Gabeira, jornalista, escritor e político com passagem pelos principais veículos de imprensa, são um diferencial. “Ele busca pautas em lugares inusitados e inóspitos. O jornalismo tradicional busca o exclusivo, não essas coisas triviais e pequenas que levam o jornalista à observação.”
“A limitação para que essa narrativa seja reproduzida são os índices de audiência. Ao contar histórias, hoje, não se prioriza a maneira de contá-las, mas sim as estratégias de narração para que os telespectadores assistam até o fim”, avalia. Segundo o editor, é preciso perceber que todos nós temos fatos para serem narrados de maneira singular – mergulhando, como autores, nos textos. “Cada um tem uma boa história para contar. A escrita no papel é uma forma de se conhecer melhor, escrever sobre si é uma maneira de entender quem realmente você é.”
GRAU ZERO
A narrativa de Gabeira é considerada “grau zero” por Bruno, a partir de seu estudo da teoria do semiólogo francês Roland Barthes – um diferencial nos modos de produção, em comparação ao modelo mais comum da grande mídia.
NOVOS RUMOS
Bruno ressalta, ainda, que a obra aponta caminhos possíveis para repensar a prática jornalística. Do pon-
to de vista do empreendedorismo, o jornalismo precisa repensar seus meios e a função de cada um no mercado, alega o docente. “Veículos como Nexo, Agência Pública e Justificando estão crescendo em reputação, com outro modelo e outro ritmo de publicação", diz. "A perda do tempo hábil para checagem tem deixado meios como a televisão com o ao vivo em alta, apurando ao mesmo tempo em que a informação é noticiada." Segundo Chiarioni, a narrativa de Gabeira, examinada em “A escritura da presença”, tem o objetivo de retratar vivências e valorizar o ser humano – no fundo, propósito fundamental de toda narrativa. “Você vai encontrar uma semelhança com as suas experiências nos relatos retratados.”
INOVAÇÃO
Graziella Milantoni
Criar soluções, desenvolver negócios e investir em atividades sintonizadas ao futuro da indústria e dos serviços são requisitos para o empreendedor. No caso dos jovens, a demanda é ainda mais relevante: segundo pesquisa de 2017 do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o percentual de pessoas de 18 a 34 anos que têm negócios em fase inicial chega a 57% - ou seja, 15 milhões de jovens. De olho nesse público, instituições e grupos
educacionais oferecem suporte especializado para quem empreende enquanto está no ensino superior. É o caso do AnimaLab, do grupo Ânima Educação, que conta com um coworking voltado exclusivamente a startups, e do Anima Nest – pré-aceleradora que auxilia na execução de novos planejamentos. Luigi Calistrato, 23, estudante de Design e estagiário no projeto, defende que o AnimaLab abre novas portas de aproveitamento da instituição. “O AnimaLab está aberto ao público que quer aplicar o
que aprendeu academicamente e aprimorar novas ideias”, afirma. Responsável pelo laboratório, o docente da São Judas Eduardo Dias conta que, por meio de pesquisas feitas em escolas inovadoras do Brasil e do mundo, identificou-se a necessidade de transformar as metodologias de ensino e os espaços disponíveis. ‘’O AnimaLab é, portanto, um centro de inovação voltado à pesquisa, desenvolvimento tecnológico e empreendedor, materializando um grande ecossistema de apren-
dizagem proposto pela instituição.” Em outras instituições, modelo semelhante é adotado – caso da Fundação Armando Alvares Penteado, que conta com o Faap Business Hub para aproximar os alunos do mercado e atrair possíveis patrocinadores. ‘”A gente acredita que consegue intervir positivamente na vida de todos os alunos. Recebemos muita estrutura e mentoria, gerando maior embasamento e chance de sucesso”, detalha Alessandra Andrade, coordenadora do projeto.
AnimaLab
Ânima promove suporte a jovens empreendedores
Estiágiario Luigi no espaço de coworking, um dos anexos do AnimaLab
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ESPECIAL
Cinema nacional em transformação Victor Hidalgo e Filipe Mello
Imagine-se se deslocando a um local onde existe uma sala escura, com cadeiras dispostas em fileiras. As pessoas vão sentando nessas poltronas uma a uma, e subitamente uma luz projeta em uma lona fotos sequenciais simulando movimento, enquanto caixas espalhadas pelo recinto emitem sons, músicas e ruídos. Esse é o resultado do trabalho de centenas de mãos humanas para criar uma simulação de realidade acompanhada de narrativa que conhecemos como o cinema, espetáculo que fascina milhões de pessoas por todo o mundo - e que construiu uma trajetória tortuosa e ao mesmo tempo repleta de destaques no mercado brasileiro. A história do cinema nacional tem início pouco antes do ano de 1900, com a apresentação de alguns curtas-metragens exibidos em uma sala alugada pelo belga Henri Paillie, no estado do Rio de Janeiro, apenas para a elite local. Com o passar dos anos, novas produções cinematográficas foram surgindo, a grande maioria de baixo custo, seja por conta do tipo de
Victor Hidalgo
De Mazzaropi e Zé do Caixão a Walter Salles e Kleber Mendonça Filho, o Brasil feito e visto pelo cinema constrói seu futuro no audiovisual e lida com desafios de mercado produção, seja pelas condições da época. "O cinema no Brasil começa praticamente de modo simultâneo com o mundo inteiro, às vezes a gente tem a impressão e a sensação de que aqui as coisas demoram muito pra acontecer, principalmente naquela época. A primeira seção de cinema no mundo foi realizada em dezembro de 1895, no Brasil a primeira sessão ocorreu apenas seis meses depois", diz Celso Sabadin, crítico e professor do curso de Cinema e Audiovisual. ONDA CRIATIVA
As bases das produções feitas aqui eram voltadas mais para a área do humor, construindo nomes como Mazzaropi, Dercy Gonçalves, Oscarito e Chico Anysio. A fase mais criativa do cinema nacional, que seria conhecida como o Cinema Novo, ocorreu na década de 1960, com diretores como Glauber Rocha – autor de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Terra em Transe” (1967) –, Nelson Pereira Santos, com “Vidas Secas” (1963), e Ruy Guerra, com “Os Fuzis” (1964). A era criativa seria, porém, su-
internacional de cinema. Nos anos 2000, “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, “Tropa de Elite” (2007), de José Padilha, e a projeção internacional de cineastas como Meirelles mantiveram a tendência de reforço da presença brasileira no mercado. No paralelo, o mercado de horror se fortaleceu com nomes como José Mojica Marins, o Zé do Caixão. DIFICULDADES
focada em 1964 com o golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil. “A arte é um modo constante de reflexão sobre o modo como existimos neste mundo e o cinema não está apartado deste processo. Felizmente, o cinema brasileiro tem uma tradição bastante plural, em muitos casos extrapolando fronteiras e hibridizando gêneros, formatos, convenções e margens. Essa característica antropofágica é nossa maior virtude”, alega Caio Lazaneo, mestre e doutor
em Comunicação pela Universidade de São Paulo. Alguns movimentos de retomada do cinema nacional ocorreram após a experiência da ditadura, com ênfase nos anos 1990, quando obras como “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995), de Carla Camurati, “O Que É Isso, Companheiro?” (1996), de Bruno Barreto, e “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, conquistaram espaços em festivais e até indicações ao Oscar, maior prêmio
De acordo com Rafael Aidar, diretor e roteirista dos curtas “O pacote” (2013) e “Submarino” (2014), apesar de passarmos por um momento favorável graças à visibilidade das obras nacionais, somada a políticas públicas de fomento ao audiovisual e à Agência Nacional do Cinema (Ancine), vive-se um cenário desafiador para os profissionais da cultura no Brasil. “Ao mesmo tempo que existe uma exposição grande dos filmes produzidos aqui, em festivais e mostras fora do território nacional, os cineastas e produtores sofrem com uma verba muito baixa, poucos patrocinadores e muitos cortes de modo geral."
“Terra em Transe” (1967, dir. Glauber Rocha) Conta a história de Eldorado, país da América Latina que entra em caos por conta de disputas pelo poder.
“Central do Brasil” (1998, dir. Walter Salles) Mostra a vida de Dora, que escreve cartas para pessoas analfabetas na estação de trem do Rio de Janeiro.
“Auto da Compadecida” (2000, dir. Guel Arraes) Sucesso de bilheteria, relata as tramas da vida de dois personagens e sua vida no Nordeste brasileiro.
Realizadores brasileiros enfrentam desafios de mercado e exploram formatos com criatividade
De maneira análoga ao Cinema Novo, o atual contexto do cinema convive com o desafio de projetar o Brasil representando sua identidade de maneira menos hollywoodiana, fortalecendo as raízes internas do País. “O que a gente tem visto é que aqueles projetos que são emergentes e precisam ir para o mundo de qualquer forma, mesmo sem dinheiro, vão de algum jeito. Hoje, fazer cinema tem sido um ato de resistência", diz Aidar. Uma das obras emblemáticas dos últimos anos foi “Que horas ela volta?”, (2015), de Anna Muylaert, vencedora de prêmios como o Ariel de Melhor Filme Ibero-Americano e indicado ao Satellite Award. No cinema pernambucano, cineastas como Kleber Mendonça Filho, com “O Som ao Redor” (2013) e “Aquarius” (2016), também têm conquistado aclamação em festivais. Como começar a conhecer esse universo? “A produção nacional é muito maior do que a gente imagina, mas acho que, para quem deseja conhecer o cinema brasileiro, é imprescindível familiarizar-se um pouco com o Cinema Novo”, sugere Celso Sabadin.
Para conhecer nosso cinema “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964, dir. Glauber Rocha) Mostra a dificuldade da vida no sertão por meio das histórias e vivências de Manuel e sua esposa Rosa.
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“Cidade de Deus” (2002, dir. Fernando Meirelles) Expõe a realidade nua e crua das favelas do Rio de Janeiro por meio da rotina de dois garotos.
Leis de fomento dão impulso ao mercado
DA MOVIOLA À WEB
Tecnologias fortalecem meios de produção Beatriz Lohana
FINANCIAMENTO
Paulo Clementino
Políticas públicas possibilitaram dezenas de obras em 26 anos por parte das secretarias Municipal, Estadual e a Especial de Cultura do Governo Federal para se inscrever um projeto. Phil afirma que o maior problema das leis de fomento é encontrar empresas dispostas a financiar as obras. “Esses recursos não são diretos, eles acabam entrando no projeto de maneira indireta, ou seja, uma vez você aprovado, é preciso captar esse valor junto a pessoas físicas e jurídicas – aí há dificuldade.” FOMENTO DIRETO
Equipe de cinema gravando na região central de SP: recursos são escassos Paulo Clementino
Por não ter um mercado consolidado de financiamento de produtos audiovisuais, o Brasil tem nas leis de fomento papel importante de suporte a realizadores. Uma das razões para isso é o retorno ainda tímido em termos de público: como exemplo, o filme “Tropa de Elite” foi o longa-metragem brasileiro que bateu recordes de bilheteria, com 11 milhões de telespectadores. Apesar de ser um número expressivo, é um público que não passa de 6% da população do País – e raramente é atingido por outras produções, mesmo que sejam sucesso de crítica nacional e internacional. O resultado é uma disputa acirrada por espectadores, tornando o investimento privado no cinema para poucos.
“O mercado nacional de audiovisual é um negócio em risco, então você, ao investir nele, dependendo do tipo de obra, dificilmente obterá o retorno da bilheteria”, comenta Steven Phil, cineasta e diretor do Instituto de Cinema de São Paulo. Diferentemente do mercado audiovisual americano, em que as produções têm alcance mundial, as produções brasileiras precisam, fundamentalmente, do mercado doméstico. “Por conta disso a gente depende do fomento, porque sem ele não existe cinema, não na quantidade necessária para sustentar um mercado ou uma indústria”, afirma Phil. Além de manter a indústria, as leis de incentivo têm forte papel social e cultural, reforçando os laços de identidade do País. Hoje, elas estão nos três âmbitos do Estado e
abrangem produções audiovisuais: no município de São Paulo, por meio do Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (ProMAC); no Estado, via Programa de Ação Cultural (PROAC); e, no âmbito federal, a Lei Federal de Incentivo à Cultura – antes conhecida como lei Rouanet – e a do Audiovisual. FOMENTO INDIRETO
A Lei 8.313 de 1991, assinada pelo então presidente Fernando Collor de Mello, conhecida como lei Rouanet, é específica para se captar e canalizar recursos à cultura. Parte disso vai para as produções cinematográficas. Outra forma de captação de recurso indireto é a lei 8.685, a Lei do Audiovisual, sancionada pelo ex-presidente Itamar Franco. Além de fornecer informações por meio de edital, há também um auxílio
Outro mecanismo é o Fundo Setorial do Audiovisual, criado pela Lei nº 11.437, que propõe o apoio financeiro direto a projetos. “De lá para cá, ele tem sido uma das principais fontes de financiamento do audiovisual aqui no Brasil”, afirma Gustavo Menezes, produtor audiovisual e professor na Academia Internacional de Cinema. Os valores que vão para o fundo são investidos em obras cinematográficas de forma direta, tendo a Ancine como reguladora. Combinado à obrigação dos canais pagos de televisão de reservar espaços em sua programação para a produção nacional independente, reflexo da chamada Lei da TV Paga, o FSA dá impulso ao mercado. “Usando desse mecanismo, os canais passaram a financiar obras brasileiras”, diz Menezes.
Novos suportes abrem possibilidades a cineastas Beatriz Lohana O cinema viveu mudanças ao longo do século XX e, hoje, passa por uma revolução viabilizada pelo digital. Seu primeiro marco foi a primeira mesa de montagem da marca moviola, composta de dois rolos (um de entrada e um de saída), uma manivela para movimentá-los, uma série de engrenagens por onde passava o filme e um visor que permitia ao montador selecionar, cortar e colar pedaços de filme. Era, então, o princípio da montagem – bastante caro e difícil de executar. Ao longo das décadas, os recursos de edição foram sendo continuamente aprimorados até chegarmos aos processos de pós-produção atuais – com softwares especializados e possibilidades quase infinitas de geração de efeitos, fusões e combinações sonoras e visuais. “No aspecto da pós-produção como finalização/ efeitos visuais, você tem uma mudança realmente significativa quando existe a inserção da Computer Graphic Imagery (CGI, na sigla em inglês) a partir de 'Tron' (1982)”, afirma Bernardo Queiroz, doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de Sâo Paulo
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(PUC-SP). “Esse quadro se fortalece com a conversão dos processos de produção para ambientes digitais, a partir dos últimos anos do século XX”. Um dos reflexos da tecnologia sobre a narrativa fílmica é o efeito de aceleração do ritmo de cortes nos filmes – mesmo em diretores cque nasceram no analógico. “Cortar é mais fácil no computador do que numa moviola”, afirma o pesquisador. FIM DO ARTESANAL? “No cinema na virada do século XIX para o século XX, o que possibilitou sua existência foi a película. A mudança de paradigma tecnológico diz respeito à materialidade da imagem”, argumenta Caio Lazaneo, cineasta e professor universitário. Segundo ele, o digital traz outras dinâmicas à pós-produção. “A película passa a ser substituída por um sistema digital, em que as informações deixam de ser átomos, matéria física, e passam a ser bits.” Nicollas Bruno de Matteis, diretor de cena, destaca que isso contribuiu para democratizar o campo da produção. “Antes, os equipamentos eram caros e era limitada a quantidade de pessoas que sabiam de equipamento.”
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OLHAR ATENTO
CRISE NO SETOR
Qual o destino do cinema de rua?
Crítica dá vida à sétima arte e permite sua renovação
Victor Hidalgo
Salas "sobreviventes", como o Belas Artes, lidam com risco diário de fechamento por conta da arrecadação Virginia Barbara e Carlos Eduardo Blaschi
Nos anos 1950, a capital paulista era cheia de cinemas de rua e a diversão para as pessoas era frequentar as salas, trajando roupas elegantes e tomando cafés nas bombonières instaladas em suas dependências. Havia praticamente um complexo por bairro – sempre com uma fila do lado de fora. Um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo é o Belas Artes, que está fixado no mesmo lugar desde 1952. Porém, em 67 anos de existência e resistência, muita coisa aconteceu, inclusive um incêndio. Recentemente, a Caixa Econômica Federal, atual mantenedora do cinema,
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retirou seu apoio financeiro – no início deste mês, porém, uma marca de cerveja anunciou que irá patrocinar o espaço. As idas e vindas com o Belas Artes, que já ficou fechado nos anos 2010, reflete o cenário dos cinemas de rua da capital. Proprietários lidam com o alto preço dos aluguéis e impostos pesados. Gerente do Belas Artes, Sabrina Calda diz que o principal motivo da crise está na arrecadação. “Nós estamos sozinhos. No cinema de shopping eles têm lojas ali do lado, o aluguel deles é menor porque as pessoas vão ao cinema, depois para a loja e, como uma forma de incentivar, o aluguel é mais baixo. No cinema de rua, todos os
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gastos você tem que pagar por conta própria.” De acordo com Calda, o público frequentador de cinemas de rua tem perfil diferente. “É um pessoal que é ligado à arte em geral, gosta de cinema de ‘raiz’”, alega. O perfil do consumidor mudou bastante nos últimos anos. Prova disso é que a Agência Nacional de Cinema (Ancine) fez uma pesquisa entre 2011 e 2017 e notou uma diminuição de 2% nas salas de exibição, que foram de 350 para 344. O processo de digitalização, com as plataformas de streaming, é um importante fator de influência (leia mais na pág. 10). QUEM SÃO? ONDE ESTÃO?
A maioria dos cinemas de rua da capital paulista se
concentra hoje na área central, mas, no passado, havia projetos na periferia – caso do Cine Lapenna, que ficava em São Miguel Paulista. Depois de desmontado, o Lapenna deu lugar a uma igreja evangélica. A aposentada Nilza Joaquim da Silva, 69 anos, que nasceu e cresceu no bairro, tem memórias sobre a sala. “O primeiro filme que me chocou mesmo, que eu gostei, foi o ‘Ben-Hur’(1959). Eu usava um vestido azul, com laço. Era chique, tinha pipoca na recepção e tinha fila”, conta. A conveniência é uma das vantagens desse tipo de espaço. “É chato, né? Era o único divertimento, tendo aqui no bairro era mais próximo e tem muita gente que não pode ir ao shopping.”
“Quase todo crítico de cinema tem sua definição particular daquilo que faz. Uma espécie de certeza de bolso, uma crença íntima para uso próprio”. Com essa frase, o crítico Luiz Zanin, do jornal O Estado de São Paulo, resume que a crítica é escrita primeiramente para o próprio autor: com base em seu conhecimento adquirido, assiste a um filme e une a fundamentação teórica com o material visto. Nasce, assim, a crítica – instrumento para aprimorar a produção, contribuir com a formação de espectadores e pensar –, uma arte cuja vida depende de reflexão permanente. A criação da crítica vem da junção de dois processos, segundo o professor e pesquisador César Zamberlan. “O primeiro é o processo do crítico e o segundo é o objeto da crítica, no caso, o filme ou algum projeto audiovisual. Tudo é baseado no olhar, no olhar do crítico para o objeto de estudo que pode abrir as janelas da interpretação.” Assim, a aquisição do repertório por meio de filmes, livros e trabalhos de outros críticos vem de uma dedicação de anos, complementada pela análise do que um filme entrega. “É mais do que gostar ou não, é analisar detalhes, música, atuação e referências, é quando todos aqueles anos de estudo vêm à tona para enriquecer o leitor, dar margens à interpretação, ajudar o outro a criar asas”, argumenta o docente. Sobre a relação entre público e crítica, a interdependência é a regra. O público
Victor Hidalgo
Gisele Magno e Arthur Araújo
Desaparecimento de espaços nas cidades brasileiras preocupa gestores e incomoda fãs de audiovisual
Cesar Zamberlan, docente não influencia quem escreve, mas aquele que escreve pode influenciá-lo. “A produção é feita pensando naquele que vai lê-la, entretanto, a influência do crítico no público é menor hoje do que no século passado, afinal ninguém vai deixar de ver um filme porque um crítico não gostou, o máximo que pode ocorrer é o leitor não concordar”, diz Zamberlan. Hoje, a profusão de sites, canais de vídeos e blogs voltados à análise de produtos audiovisuais oferece opções diversas ao público. No Brasil, o Omelete é um site que contém críticas principalmente da cultura pop e nerd, normalmente escritas de uma maneira mais simples, sem termos técnicos. Já os jornais e revistas da imprensa tradicional carregam grandes nomes da crítica e têm longo histórico – abrangem não só o cinema como também os produtos de televisão, teatro, gastronomia e artes. Entre os grandes nomes da crítica de cinema do País estão Arnaldo Bloch, Isabela Boscov e Luiz Carlos Marten.
CINEMA E AUDIOVISUAL
Experiência na universidade garante olhar completo para o cinema Karolyn Silva
Formação superior na área ganha força no meio acadêmico e profissionaliza mercado Karolyn Andrade e Lavinia Santos
Cursos de Cinema têm conquistado espaço em instituições públicas e privadas Karolyn Andrade e Lavinia Santos
Cineastas são muito famosos pelo que fazem, mas o caminho para chegar aos aplausos com base em uma graduação é cheio de desafios. São poucas as instituições de ensino superior que oferecem graduação em Cinema. A maior parte dos cursos
oferecidos é em forma de bacharelado, mas também é possível encontrar cursos de licenciatura em Cinema ou Audiovisual, com duração média de quatro anos. O intuito da faculdade é capacitar os futuros profissionais a realizar produções cinematográficas, combinando teoria, prática, rotei-
rização, gestão, produção e crítica em diversos formatos, com uma visão que vai além da direção ou da elaboração de roteiros. Embora não sejam numerosas as opções de bacharelado em Cinema no Brasil, o curso é oferecido por algumas universidades públicas, como as federais de Santa Catarina,
Bahia, Minas Gerais, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo (USP). Todas são instituições reconhecidas e bem avaliadas pelo Ministério da Educação. A Universidade São Judas também conta com o curso desde 2018. Dentro das universidades, a criatividade é um destaque dos cursos de Cinema, pois amplia o olhar dos estudantes para seguir diversos caminhos e aprimorar as funções técnicas Tiago Simas é jornalista, cineasta e dono da Arroz Doce Produções. Cursou cinema e viu benefícios na escolha, “Abriu meus olhos diante de meu trabalho. Fiz e faria de novo”, avalia. ALÉM DA GRANDE TELA
Embora o mercado de trabalho do cineasta seja lembrado pelas grandes
salas epremiações, é na TV que o profissional encontra mais oportunidades de emprego. “Meu primeiro estágio foi em TV, em uma emissora fechada. Comecei fazendo relatórios de audiência e hoje estou escrevendo um projeto de série. Sinto que na TV existe um leque maior de oportunidades”, opina Caio Andrade, recém-formado. Depois da TV, muitos cineastas optam por criar seu próprio negócio para ter liberdade nas produções e efetivar seus projetos. Durante a graduação de Cinema, os estudantes possuem matérias específicas sobre economia – caso da grade curricular da São Judas, que inclui conteúdos sobre captação de recursos e empreendedorismo. “O profissional da área precisa 0star ca-
pacitado não apenas para criar, mas também para implantar e gerenciar projetos com viabilidade de execução e meios de acesso a financiamentos”, diz Cesar Zamberlan, professor do curso de Cinema e Audiovisual. Outro setor que está em alta é a produção de vídeos corporativos. Nessa área, o cineasta atua na roteirização, filmagem e edição, produção e finalização de vídeos ou filmes de curta duração. No entanto, em espaços como esses, a questão da diversidade ainda é uma barreira. “As instituições de poder e privilégio são fechadas para pessoas elitizadas; o negro, quando conquista reconhecimento, valoriza sua identidade”, conclui Simas, que traz a cultura da sua ancestralidade negra aos seus projetos.
CINEMA EM PAUTA
Graziela Milantoni e Eloisa Ribeiro
Nos últimos anos, exibições de filmes nas universidades se tornaram cada vez mais populares. Os cineclubes existem há mais de cem anos no Brasil, popularizados a partir de 1928, com a criação do Chaplin Club, no Rio de Janeiro; nascem com o objetivo de levar arte para a população por meio de obras cinematográficas e, cada vez mais, contribuem para a formação do público espectador. Os projetos são sempre
democráticos, sem fins lucrativos e visam estimular outras pessoas a assistir, apreciar e discutir sobre cinema para além dos circuitos comerciais. “A proposta principal de todo cineclube é ser um espaço democrático O cidadão tem a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos e desenvolver seu pensamento crítico", conta José Braz Mania, responsável pelo projeto do Cineclube da USP, no campus da Universidade de São Paulo em São Carlos. Segundo ele, o impulso
de iniciar o projeto veio do Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP (CDCC). “O cineclube trabalha para divulgar o cinema mundial à comunidade são-carlense desde 1981”, destaca. O financiamento é feito por colaboradores – que fazem doações de filmes. Os estudantes participantes são selecionados por meio de monitoria remunerada pela própria USP ou como bolsistas, por meio do Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio e Formação de
Estudantes de Graduação (PUB-USP). O espaço de pesquisa e crítica é aberto ao público em geral, porém sempre seguindo as regras da Classificação Indicativa do Ministério da Justiça. Hoje, diz José Braz Mania, os cineclubistas vivem dificuldades por sua natureza independente e pela pouca adesão de pessoas de fora do mundo audiovisual. Os cineclubes também existem nas instituições de ensino privadas. No Centro Universitário FIAM-
Divulgação
Cineclubes estimulam crítica, debate e formação de público
Cineclube da USP é organizado no Centro de Divulgação Científica e Cultural, em São Carlos (SP) -FAAM, a Cinemateca é conduzida por iniciativa dos alunos de Rádio e TV, com exibição e debate de filmes. “Entre os benefícios estão o estímulo à cultura
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e o aumento do conhecimento cultural dos alunos, além de se proporcionar mais referências de obras”, conta a professora da instituição Mayara Luma.
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VIDA DIGITAL
A trilha dos alimentos A cadeia de produção de um alimento engloba diversos processos. Até que a carne de uma ave esteja pronta para o consumo, já passou por etapas de criação, abate do animal, processamento da carne, distribuição para os comércios, transporte e armazenamento. A produção de alimentos é assunto de interesse público: envolve segurança alimentar, a transparência das marcas em relação às informações da embalagem e questões éticas. Para facilitar o acesso do consumidor a esses dados, grandes marcas do varejo estão apostando na rastreabilidade dos seus produtos. A tecnologia de blockchain é, hoje, a principal aplicada à rastreabilidade de alimentos. Em inglês, o termo significa “cadeia de blocos”. Por meio de um código, o sistema mostra um produto da origem ao destino final. ALIMENTO CONFIÁVEL
O pesquisador de segurança Daniel Cunha trabalha na área e explica que o blockchain tem como propósito dar segurança e confiabilidade aos produtos. “Usando como exemplo o molho de tomate, o produtor da fruta assegura a qualidade da safra, que tem um código específico e único, e encaminha para o próximo participante da cadeia, que seria uma empresa para processar e temperar o tomate”, explica. “Após isso, a empresa atesta que o produto saiu perfeito para
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Streaming modifica mercado e hábitos de consumidores
Marcela Joaquim e Patrick Freitas Tiago Souza
Nubia Cruz e Rayane Moura
Núbia da Cruz
Tecnologia de rastreabilidade ajuda consumidores e empresas a conhecer como os produtos chegam à mesa
PARA ASSISTIR
Dispositivos móveis dão acesso facilitado a conteúdo
Especialistas alertam para riscos de não se conhecer a origem dos produtos consumo – também com uma chave única – e assim por diante, até que o molho de tomate chegue a uma prateleira de supermercado.” Segundo o especialista, esse acompanhamento dá confiabilidade à produção de alimentos. Daniel ainda destaca que o blockchain poderá se tornar padrão no futuro. “Acredito que se tornará algo tão comum como fazer compras no mercado.” SABER O QUE SE COME
Um dos principais benefícios do blockchain é garantir que os produtos não apresentam risco à saúde do consumidor. A nutricionista Nathalia Adas destaca a importância de se conhecer a origem do que se come. “Muitos alimentos sofrem contaminação em seu processo, além de fraudes, e isso tem impacto em nossa saúde. É importante que conhe-
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çamos a origem e o processo dos alimentos para que isso não seja aceito.” Além disso, a nutricionista diz que é difícil orientar pacientes por falta de tecnologia e recursos disponíveis. “A principal orientação é a leitura e interpretação dos rótulos dos alimentos. Muitos possuem ingredientes que não imaginamos misturados no meio, sendo até mesmo perigoso para pessoas alérgicas ou com intolerância”, alerta. O produtor de eventos Eduardo Guilherme, 39 anos, é vegano há um ano e meio e já passou por situações de falta de transparência por parte de fabricantes, fazendo com que consumisse alimentos que ferem suas restrições alimentares. Segundo ele, tecnologias de rastreamento mais acessíveis fariam o consumidor confiar mais na empresa e “comer sem medo de estar equivocado”.
Boas práticas Hoje, as indústrias alimentícias devem seguir as Boas Práticas de Fabricação (BPF), que estabelecem normas para a manipulação higiênica dos alimentos, além dos Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO), que preconizam as práticas de higienização de instalações e equipamentos da indústria. Gabriella Cesar, de 21 anos, é estudante do último semestre de Nutrição pelo Centro Universitário IBMR e alerta para a necessidade de se minimizar o uso de industrializados. “Oriento sempre a comer o mais limpo possível, ou seja, ter uma alimentação mais natural, de preferência orgânica, incentivando a compra de alimentos com produtores locais e evitando alimentos industrializados.”
Desde 2007, quando a primeira plataforma de streaming de vídeo foi lançada no Brasil, o comportamento do telespectador brasileiro está em transformação. O fenômeno mobilizou toda a indústria do entretenimento nacional e atraiu corporações estrangeiras, botando Netflix, Google, Amazon, Fox e HBO – em competição direta com gigantes de mídia como Globo e Record. Segundo Renato Tavares, radialista formado pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor em Comunicação e professor universitário, “os novos players de serviços de streaming e OTT (Over the top) trouxeram novas possibilidades de acesso a conteúdos audiovisuais para o público”. “Eles aqueceram o mercado de produção nacional e estimularam a concorrência de emissoras de TV entre si e das emissoras com as novas plataformas”, relata. De acordo com o especialista, as emissoras de TV passaram a se identificar como produtoras de conteúdo multiplataforma – assim, conseguem dis-
putar atenção do público e ser protagonistas em projetos audiovisuais. Entre as ações já testadas por emissoras como a Globo estão a transmissão simultânea em aplicativos, a veiculação inicial na internet e a disponibilização dos programas em plataformas online. O material produzido evolui e cresce a cada dia, aumentando o uso dos conteúdos por pessoas de diversas faixas etárias. Esse é o caso de Joyce Oliveira Antônio, 21, estudante que assiste séries na Netflix e Play Séries diariamente, pela variedade de conteúdo disponível e facilidade no acesso. “Gosto de séries que tenham episódios curtos com várias temporadas, pois o suspense em aguardar os lançamentos é empolgante”, comenta Joyce, que assiste às séries no período noturno, prefere o gênero de ação e tem entre suas favoritas "Supernatural", "Prison break" e "Grey’s Anatomy'. Ela acrescenta que prefere essas plataformas porque "na TV aberta normalmente não tem a série completa."
CONSUMO CONSCIENTE
Brechós online reforçam mercado sustentável na moda Fernanda Souza
Canais de venda de roupas oferecem preço acessível e oportunidade de reutilização
Brechós online conquistam espaço e adeptos no Brasil
Nicole Fraga e Valéria Abreu
Blusas, camisetas, calças, shorts, vestidos e outras variedades de roupas são fabricados todos os dias, com cores e modelos da infância até a fase adulta. De acordo com relatório de 2017 da Fundação Ellen MacArthur, a produção de roupas quase dobrou nos últimos 15 anos e a demanda continua crescendo. O impacto ambiental é imediato, já que a indústria da moda é uma das mais poluentes. Menos de 1% de todo o material é reciclado e dá origem a novas peças, o que contribui para o aumento da poluição. Unindo o tratamento desse desafio à busca de opções mais práticas de consumo na web, os brechós online ganharam força no Brasil
INTERAÇÃO
Chatbot negra promove inclusão no mundo da tecnologia Tiago Souza
O banco Itaú e a startup 99jobs foram vencedores na categoria “Inovação” da 2ª edição do Bots Brasil Awards, pelo critério de especialistas. Premiada, a chatbot Paula é fruto da parceria entre as empresas e funciona como uma atendente virtual, que analisa candidatos a vagas por meio de uma conversa no Facebook. O robô funciona como uma orientadora, primeiro examinando as pessoas com o bate-papo e apresentando a rotina do banco. Depois, compara as respostas com as vagas
disponíveis para que se perceba a identificação e aptidão dos candidatos. As vantagens dessa proposta não são exclusivamente tecnológicas. A fisionomia criada retrata uma jovem negra de 19 anos, quebrando um estereótipo do meio. Hoje, pretos e pardos, apesar de maioria da população – 54%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, ainda estão atrás no mercado de trabalho e possuem, em média, menos renda. O sociólogo Gustavo Rego elogia a iniciativa, mas realça são necessários movimentos mais ativos:
“não basta que uma figura de poder represente, é necessário que defenda os interesses desse grupo." Além da bandeira de diversidade, a chatbot Paula se destaca pelo padrão de apurações: caso não haja nada ideal para algum perfil, o candidato é direcionado para vagas conforme sua experiência. O gestor de marketing Henrick Santana afirma que esse modelo é tendência no mercado. “Posso usar chatbots em meu site, aplicativo ou em redes sociais. Aproveito o espaço e tempo do cliente para conhecer seus dados”, argumenta.
e superaram o estigma da venda de roupas e vestimentas usadas. Em cinco anos, a quantidade de brechós no País aumentou 210%, de acordo com um levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ). Com destaque no mercado, o Repassa é um deles, criado por Tadeu Almeida, de 35 anos. Assumindo-se como maior brechó online do Brasil, o projeto interpela o consumidor diretamente no Instagram: “aqui você compra com até 90% de desconto, vende sem ter trabalho nenhum e ainda faz o bem com a gente”. A página conta com mais de 55 mil seguidores. O publicitário afirma ter dados comprovando a dimi-
nuição de 85% do impacto ambiental, no uso de peças usadas. “Você está consumindo de forma inteligente e consciente A gente sabe que a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo e, quando você consome uma roupa gentilmente usada, está deixando de produzir uma peça nova”, diz. “A cada nova ciclo de vida de uma peça, a gente vai diminuindo mais esse impacto gerado na produção.” Outro exemplo de canal de venda online é o Peguei Bode, criado por duas irmãs empresárias – Gabriela carvalho, 27, e Daniela Carvalho, 35. O diferencial do site são as peças de luxo, com marcas como Chanel, Prada, Gucci e Louboutin. “Ninguém mais acha graça em ter coisas paradas, ficando
velhas no armário. Querem fazer girar, essa é a ideia.” O sucesso desse nicho do mercado da moda se deve às mudanças no comportamento dos consumidores. “É um assunto importantíssimo, já que nos encontramos em um momento de calamidade”, diz a estudante de administração Michelle Jaqueline, 21 anos, usuária regular de brechós online. Realizadores do mercado de moda, porém, ainda têm ressalvas. Representantes de grandes marcas, estilistas e pessoas que atuam nesse mercado também devem adotar o conceito, incentivando o repasse de peças. “Não é só o conceito de moda sustentável, é todo um estilo e hábito de vida”, afirma o estilista Daniel Dela Costa, 37.
MAQUININHAS
O bom e velho “débito ou crédito?” no comércio de rua
Stella Ramos
O comércio vem se tornando cada vez mais dinâmico e, com isso, praticamente qualquer pessoa pode adotar o uso das maquininhas de cartões de crédito e débito. “Sempre procuro barracas que aceitam cartões. É muito prático, facilita o troco e eu não preciso andar com dinheiro na rua para ser assaltada”, comenta a recepcionista Kátia Macedo, que utiliza a opção de pagamento em sua rotina. O recurso é uma mão na roda no cotidiano das cidades, em que o uso de notas
físicas de dinheiro perde força por motivos como segurança e praticidade. “Perdi muitos clientes, eles chegavam na minha banca perguntando se eu aceitava cartão e, como eu ainda não tinha a maquininha, iam embora”, relata o vendedor Jaime Alves, hoje usuário do aparelho. De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 2018, 57% dos comerciantes notam aumento nas vendas ao adotar a maquininha. Além disso, 55% notaram diminuição na inadimplência e
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mais de 70% avaliam que os clientes ficaram mais satisfeitos. “Posso afirmar que as vendas melhoraram 200%, pois hoje o cliente chega na banca e leva mais mercadoria do que ele iria comprar, já que tem a opção de parcelamento”, acrescenta Alves. Para os empreendedores informais, a ferramenta oferece segurança e agilidade no momento da venda. Viviane da Silva, assistente contábil, tem essa visão. “As pessoas querem comprar, independentemente de estar com dinheiro ou não, elas preferem a facilidade de passar no cartão.”
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CULTURA E ARTE
Mulheres dominam a programação do Masp em 2019 Exposição “Djanira: a memória de seu povo” é a primeira dedicada inteiramente à artista Durante todo o ano de 2019, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) fará diversas exposições dedicadas a artistas mulheres e suas obras. Dentro do ciclo “Histórias das mulheres, histórias feministas”, o espaço acolhe até o dia 19 de maio a obra da pintora modernista Djanira da Motta e Silva, na primeira mostra exclusivamente em sua homenagem. Intitulada “Djanira: a memória de seu povo”, a exposição é aberta com uma frase da própria artista: “Sou autodidata, minhas telas são desenvolvimento de meu próprio caminho, meu ponto de partida fui eu mesma.”. É uma espé-
cie de autoapresentação, que evidencia aspectos da personalidade da artista – morta há 40 anos, no Rio de Janeiro (RJ), em decorrência de um infarto. As obras são organizadas de forma cronológica, de forma que o público consiga ver a evolução e as diferentes técnicas usadas nas pinturas ao longo dos anos. O percurso começa por sua carreira no final dos anos 1930, quando pintou cenas do cotidiano e da vida boêmia carioca e conviveu com outros artistas, como Milton Dacosta e o romeno Emeric Marcier. Na sequência vêm suas viagens de estudos aos Estados Unidos e México nos anos 1940, onde se sustentou com a venda
mudanças causadas na natureza pelo setor mineral.
Leonardo Cruz
Leonardo Cruz
ESQUECIMENTO
Obra de Djanira mergulha no cotidiano popular do País de obras. Voltando para o Brasil nos anos 1950, Djanira passa a viajar pelo País, retratando o cotidiano e a vida do trabalhador brasileiro, tema recorrente até o fim de sua carreira. Outros assuntos que inspiraram Djanira foram
a cultura e as religiões afro-brasileiras – como mostrado na obra "Candomblé" (1955), feita exclusivamente para o autor Jorge Amado. No final de sua jornada, Djanira buscou evidenciar e denunciar o desmatamento e
Mesmo após 40 anos de sua morte, as obras da pintora deixam um legado à cultura brasileia. “A pintura de Djanira possui algo incrível, que é retratar, de modo singelo, lúdico e poético a vida das pessoas, o cotidiano do trabalho e os momentos de lazer e de festa”, afirma a historiadora da arte Vanessa Bortulucce. Além disso, a especialista destaca o preconceito da comunidade artística em relação a seus quadros e técnicas como responsáveis pelo “esquecimento” de Djanira após o seu falecimento. “A maioria
do público, talvez, esteja conhecendo Djanira por acaso, porque foi ver a exposição da Tarsila. É um começo. Sonho com o dia em que não será necessário recorrer a um artista consagrado para trazer à luz outros menos conhecidos." Dando sequência a mostras sobre artistas como Lina Bo Bardi e Tarsila do Amaral, “Djanira: a memória de seu povo” vem sendo recebida com aprovação. “Ela pega muito a coisa do popular, do trabalhador de rua, do Candomblé”, diz José Paulo Ferrer, aposentado e cartunista de 71 anos. “É muito importante que a arte valorize o povo, o trabalhador."
NA VILA MARIANA
Cilene Tomaz
Escondido na capital, Museu Lasar Segall oferece acervo artístico e literário
Museu oferece conteúdo fotográfico, livros e cinema Cilene Tomaz
Situado em uma propriedade discreta no bairro da Vila Mariana, zona sul, o museu Lasar Segall narra a história do pintor, escultor e gravurista ju-
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deu nascido no território da atual Lituânia, um dos mais importantes nomes do expressionismo brasileiro. Apesar de escondido, o museu está longe da monotonia: o universo particular de Segall é ex-
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pandido além das obras, com um ateliê aberto ao público, cursos e oficinas a quem quiser se aventurar no mundo das artes. Idealizado por sua viúva, Jenny Klabin Segall, o local oferece uma biblioteca com conteúdo de teatro e fotografia, que só pode ser acessada com agendamento. A funcionária do museu Alessandra Cristina reforçou a relevância do espaço: “essa biblioteca é rica em teatro, com um acervo expressivo”, conta. Além de visitas livres, o Lasar Segall conta com programa de acolhimento
a estudantes e professores, com um tour guiado por funcionários. AUDIOVISUAL
Também nas dependências do museu, o Cine Segall exibe filmes clássicos e contemporâneos aos sábados e domingos; em abril, por exemplo, o destaque foi “Green Book”, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2019. Às quartas, a meia-entrada se estende a todo o público. Para Yvis Páscoa, que conhecia o museu no dia da visita da reportagem do Expressão, a tranqui-
lidade é um dos pontos positivos. “É um espaço bem legal e muito calmo. Ainda mais em uma cidade agitada como São Paulo, encontrar um lugar assim é como ir para o interior”, conta. EM CARTAZ
O curador e diretor do museu, Giancarlo Hannud, destaca a importância da obra de Lasar Segall (1889-1957), “É no desenho que o pintor apresenta um reflexo mais profundo de sua sensibilidade”. A exposição “Três álbuns de Lasar Segall” é um dos
destaques da programação atual, com cerca de 2,4 mil desenhos em xilogravuras que detalham momentos intensos desde os horrores da Segunda Guerra Mundial até o período escravocrata do Brasil, no Rio de Janeiro. A exposição também aborda artistas perseguidos pelos nazistas e se dedica a mostrar o cotidiano das ruas da capital fluminense. Os horários de visitação são de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h. MUSEU LASAR SEGALL Rua Berta, 111 - Vila Mariana, São Paulo (SP)
MOSTEIRO DE SÃO BENTO
Canto gregoriano atrai turistas e fiéis Giovanna Nunes e Thalya Muniz
Construído na mesma região que a antiga taba do cacique Tibiriçá, uma das figuras mais importantes na fundação da cidade de São Paulo, o Mosteiro de São Bento possui cerca de 400 anos de história e proporciona aos fiéis a chance de assistir de perto liturgias acompanhadas por arte sacra. De quebra, quem frequenta as missas tem a chance de assistir ao vivo a apresentações de canto gregoriano – arte existente há séculos na igreja católica. O mosteiro começou a ser erguido pelos primeiros beneditinos que chegaram à capital; sua localização era considerada uma das mais privilegiadas da cidade, atrás somente da região do
Giovanna Nunes
Visita ao ponto turístico no centro de SP permite contato com a cultura monástica
Interior da atual basílica, erguida no início do século XX da arquitetura dos arredores do Mosteiro. Responsável por atrair turistas que passam pela capital paulista, o canto gregoriano está presente nas missas de segunda a domingo e é uma arte
Pátio do Colégio. O tradicional Colégio de São Bento, a Faculdade São Bento, primeira faculdade de filosofia do Brasil, e a Basílica Abacial de Nossa Senhora de Assunção também fazem parte
CLÁSSICOS
inspirada nas antigas sinagogas judaicas. A prática começou a ser introduzida no cristianismo durante o século I e II, sendo suas principais composições criadas pelo Papa Gregório Magno (540-604). O auge do canto durou até o início da Idade Média e somente no final século XIX, por iniciativa do Dom Mocquereau, volta a ter importância, quando o Mosteiro de São Pedro de Solesmes, na França, se consolida como o maior centro de estudos de canto gregoriano. A contadora Alipia Souza de 47 anos, é uma fiel frequentadora do período da manhã. “Eu faço o possível para vir à missa com o canto gregoriano pelo menos de segunda a sexta, porque eu moro em São Miguel Paulista e trabalho aqui no centro.”
A basílica também recebe pessoas de outros estados, que em suas passagens pela capital não perdem a chance de visitá-la. Durante a semana, as missas das 7h recebem de 50 a 100 pessoas. Aos domingos, a basílica fica em sua capacidade total, com até 700 pessoas presentes. Antonio José, 63 anos, mora em Belo Horizonte e vem regularmente à capital por conta de compromissos de trabalho. “Sempre que venho, assisto à missa do canto gregoriano aqui no mosteiro de São Bento, acho que toca muito a gente”, opina. Outro indutor de curiosidade é o estilo de vida monástico em clausura total dos monges que cantam nos corais. Assim que se inicia a missa, o padre é acompanhado por cerca de dez monges que se
sentam próximo ao altar e ali ficam esperando em silêncio seu momento de encantar os presentes; após a liturgia, os monges voltam à clausura. GASTRONOMIA
Outro atrativo do Mosteiro de São Bento é a padaria, com receitas que estão enraizadas na cultura monástica, passadas de monge para monge. Os preços são um pouco salgados, mas deve-se levar em conta que tudo é artesanal. Os monges também oferecem em algumas datas um brunch com produtos da padaria, com agendamento tão disputado quanto as visitas guiadas. Missas com canto gregoriano Seg. a sex.: 7h; sábados: 6h domingos: 10h
EXPOSIÇÃO
Nova gestão estuda programações para 2019 Fernanda Souza
Carinhosamente chamado de “Municipal” por frequentadores, o Theatro Municipal de São Paulo está com sua programação 2019 em andamento. O espetáculo “Cinema em
Concerto: Kubrick” abriu a temporada anual. “O Barbeiro de Sevilha”, de Gioachino Rossini, marcou o início das óperas no mês de fevereiro. Em abril, foi a vez do Balé da Cidade subir ao palco com “A Sagração da Primavera”.
Na temporada 2019, “Rigoletto”, “A Ópera dos Três Vinténs” e “Turandot” devem complementar a programação, de acordo com Vanessa Beltrão, analista do Instituto Odeon, responsável pela administração. “Tivemos a entrada de um novo diretor artístico (Hugo Possolo) e estamos definindo a temporada completa", explica. O coordenador de patrimônio Thiago Reis destaca que o espaço passou por revitalizações, com algumas datas-chave. “Em 1911, a inauguração da edificação; em 1954, término da primeira reforma; em 1988, a modernização dos equipamentos e sistemas; e, em 2012, a reestruturação de ambientes internos e fachada.”
Bianca Marques
De forma inédita, o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) trouxe a São Paulo mais de 100 obras do suíço Paul Klee por meio da exposição “Equilíbrio Instável”. A mostra, que esteve em cartaz até 29 de abril deste ano, teve entrada gratuita e marcou a primeira vinda de um acervo desse porte a um país da América Latina. Klee nasceu em Berna, na Suíça, e obteve sua cidadania alemã em função da nacionalidade de seu pai. Cresceu em uma família ligada à área artística e teve dúvidas sobre a profissão que seguiria. Estudou na Faculdade de
Belas Artes, em Munique, e teve como primeira pintura de repercussão “Minha habitação” (1896). “Equilíbrio Instável” abordou a trajetória do artista e explorou suas incursões pelo Expressionismo, pelo Cubismo e pelo Surrealismo. A organização foi feita pelo Kunstmuseum Bern e pelo Zentrum Paul Klee, responsáveis pelo acervo, com curadoria de Fabienne Eggelhofer e o projeto expográfico de uma empresa brasileira. No total, 58 desenhos, 39 papéis, 16 pinturas, 5 fantoches e 5 gravuras ficaram expostos nos quatro andares do prédio. Objetos pessoais, como pincéis e pedras do artista, completaram a coleção.
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Bianca Marques
Fernanda Souza
Municipal estreia nova temporada CCBB apresenta Paul Klee ao País
Obra de Klee é referência De acordo com Amanda Cuesta, historiadora e arte-educadora, o CCBB tem um programa de visitas para grupos de diferentes faixas etárias. Participam, em especial, alunos de escolas públicas e particulares, universidades, ONGs e centros de acolhimento. “Temos todos os tipos de público visitando esta exposição, em sua maioria estudantes.”
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ESPORTES E LAZER
Cachorródromos crescem e se tornam opção de lazer em São Paulo Flavio Guimarães e Letícia Fleming
A garoa que caía sob São Paulo no último domingo de março não impediu Clodovil, um filhote da raça Beagle, de se divertir no cachorródromo do Parque da Mooca, localizado na região leste da cidade. Com pouco menos de um ano de idade, o cãozinho, sempre acompanhado de sua dona, Mariana, é visitante frequente do parque há meses. Mariana Barros, estudante de 20 anos, mora na região do Belém desde que nasceu e conta que começou a frequentar o Parque da Mooca em 2014, mas que só no ano passado soube da existência do cachorródromo. Desde então, sempre leva Clodovil e sua outra cadela, Belinha, ao espaço. “Gosto desse parque pela área livre que os
Letícia Fleming
Donos têm preferência por parques que possuam a área livre para cães e se divertem junto com seus pets; prefeitura busca modernizar e ampliar espaços ser livre para que os cachorros convivam e brinquem sem a necessidade de coleiras e guias, os visitantes se sentem seguros. Mariana, por exemplo, afirma que não se incomoda em soltar Clodovil no local. “A segurança é garantida por cercas, então todos os donos ficam tranquilos em deixar seus cachorros soltos”, conta. CERCADINHO RENOVADO
O beagle Johnny brinca no Parque da Mooca cachorros têm para brincar e se exercitar”, diz. O Parque da Mooca pertence ao Centro Educacional e Esportivo (CEE) Salim Farah Maluf e está situado no número 549 da Rua Taquari, em frente à
Universidade São Judas. O complexo é administrado pela Prefeitura Municipal e, atualmente, passa por reformas para melhorias. O espaço destinado para os pets é amplo e conta com muita área verde. Apesar de
O Parque Buenos Aires, localizado em Higienópolis, região central, conta com um cachorródromo, carinhosamente apelidado de “cercadinho”. O espaço está em reforma. Dona Maria Alicia, aposentada de 55 anos, frequenta o parque diariamente acompanhada de sua cadela Mirella e diz estar ansiosa para a reabertura. “Viemos aqui todos os fins de tarde.
Ela tem vários amiguinhos, eles brincam e correm de lá para cá”, diz. A Prefeitura da Cidade de São Paulo, que administra o local, viu a necessidade de interditar o cercadinho temporariamente para a construção de um novo espaço, mais amplo e com novos aparelhos para a diversão dos pets. O novo ambiente contará com novas caixas de areia, novo cercado e uma piscina. “Tereza é uma cadelinha muito agitada, ela não para quieta nem um minuto, como eu moro em apartamento isso dificulta bastante. O cercadinho é a melhor opção para ela poder brincar à vontade”, explica Matheus Ferreira, administrador de 42 anos. Ele ainda salienta a necessidade de a Prefeitura construir novos espaços públicos como esse, para todos terem acesso a esse lazer.
DEFESA PESSOAL
Valéria Contado
Com quase 80 anos de existência e origem em práticas militares de combate, o Krav Magá, atualmente, é considerado a única técnica de defesa pessoal reconhecida no mundo. Por esse motivo, somado aos benefícios físicos, a procura e a adesão nas academias paulistanas estão cada vez maiores. Segundo Ioav Lichtenstein, instrutor reconhecido pela Federação Sul Americana de Krav Magá,
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as técnicas aplicadas pelos professores se encaixam na realidade brasileira. O professor Ricardo Ruiz, 46, explica que os treinamentos nas academias são para o público civil. “Treinamos defesas para as situações mais comuns de agressões, como socos, chutes, agarramentos ou estrangulamentos. Conforme o aluno vai evoluindo, as defesas podem ser levadas para situações de ataques com facas, bastões e ameaças com arma de fogo”, relata. “Nós
EXPRESSÃO
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buscamos levar para o tatame, além do treinamento técnico, simulações que permitam aos alunos vivenciar vários tipos de agressões." Ruiz reforça que, para que o aluno possa chegar ao nível de se defender de ataques que envolvam algum tipo de armamento, deve estar em plenas condições de executar as técnicas ensinadas nos períodos de aula – evitando, assim, a exposição a riscos. Luan Oliveira, segurança da Linha 3 – Vermelha do Metrô de São Paulo, alega
Valeria Contado
Krav Magá ganha espaço nos esportes
Treinamento simula defesa contra agressões que vão de socos a armas de fogo que a autodefesa é importante, mas alerta que o praticante deve ter inteligência emocional e distinguir o momento apropriado para aplicar algum desses golpes.
“No caso de assalto a mão armada, a recomendação mais sensata é a de não reagir, mesmo que a pessoa conheça os princípios da autodefesa”, alerta. “Qual-
quer conhecimento em artes marciais, do mais baixo ao mais elevado, não imuniza a pessoa de diversas variáveis que podem acontecer em um assalto.”
CONCESSÃO
Nova fase no Pacaembu Isabela Lopes
Após décadas de gestão 100% pública, o Estádio do Pacaembu, tradicional espaço esportivo da cidade, viverá em 2019 uma transição para a iniciativa privada. No começo do mês de fevereiro, o Consórcio Patrimônio SP, formado pelas empresas Projetos, Gerenciamento e Engenharia S.A (Progen) e Savona Fundo de Investimentos em Participações, foi o vencedor da concessão do estádio. A proposta apresentada por eles foi de R$ 111,18 milhões, superando outras três empresas interessadas. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o vencedor vai arcar com a revitalização do está-
dio e também da Praça Charles Miller, no mesmo complexo arquitetônicos. O consórcio também deverá implantar melhorias como reforma nos vestiários e assentos da arquibancada, além de preservar e manter toda a parte histórica do conjunto. Por se tratar, anteriormente, de um espaço público, aberto para utilização das pistas de atletismo e piscinas, muitos moradores, frequentadores e torcedores criticaram a privatização do estádio, liberada pela Justiça em 29 de março. Muitos, porém, ainda têm boas expectativas e aguardam avanços. Para o estudante e integrante da Torcida Jovem
Gabriela Nolasco
Mudanças na gestão, agora nas mãos da iniciativa privada, geram expectativa entre frequentadores
Estádio do Pacaembu: futuro incerto e promessas de melhorias na infraestrutura do Santos FC, Luccas Silva Gonçalves, a principal queixa é em relação à infraestrutura: “os banheiros são péssimos, não tem limpeza nem re-
forma aparente”. Além disso, outros pontos incomodam o jovem: “O estádio não tem tecnologia nenhuma. Eles não investem em nada. É
uma pena, porque o Pacaembu é muito importante para nós.” Apesar de ter se tornado um patrimônio tombado, esse fato não im-
pediu a privatização e ainda contará com modificações drásticas, como a criação de um edifício comercial no lugar do “Tobogã” – um dos setores mais importantes para a torcida, por ser mais acessível financeiramente em relação aos outros. O local poderá ser demolido, com possíveis reclamações de torcedores e visitantes. “O tombamento deveria manter a arquitetura original do espaço, que continuaria a atender todo o seu público. A não preservação da arquitetura será, também, a não preservação da história do bairro”, pondera a arquiteta e urbanista Natalia Macedo Pacheco.
MAIS CONECTADOS
Milena Matos
Passeios noturnos de bike são rotina na cidade
O grupo Paulista Bikers pedala toda quinta-feira Milena Mafra e Milena Matos
Já pensou em mudar de rotina para melhorar sua saúde, mas sem saber quando, como e onde? A prática do pedal noturno pode ser uma solução.
Em todas as áreas da capital paulista, de Norte e Sul a Leste ou Oeste, grupos de ciclismo se encontram por meio de redes sociais para pedalar à noite em segurança, melhorar seu bem-estar e
conhecer pontos turísticos com compannhia. O contador eletrônico de bicicletas na avenida Faria Lima, zona oeste, registou em março do ano passado 56.492 ciclistas; em 2019, no mesmo mês, foram 90.168, segundo a Companhia de engenharia de Tráfego (CET-SP). Esse número indica um aumento de mais de 159%. Uma das razões para o crescimento foram os investimentos, nos últimos anos, na ampliação da malha cicloviária. Além disso, cada vez mais as pessoas buscam a prática de exercícios físicos. De acordo com Kleber Burgos, personal trainer, o benefício
é a saída do sedentarismo. “É uma excelente ferramenta para introduzir as pessoas a ter uma vida mais ativa e produtiva e sair do sofá.” O Qbike é um dos grupos tradicionais na zona norte, com mais de dez anos. Hoje, são mais de 250 pessoas interagindo na página do Facebook e 100 pessoas ativas no app de mensagens Whatsapp. MOTIVAÇÃO
Líder do grupo, o comerciante José Fernando Garcia Noronha diz que a vontade de pedalar está dentro de todos. “Só faz despertar, tanto que quando o adulto pega a bicicleta a primeira sen-
sação remete à infância, você pega a bicicleta e parece que é uma criança”, relata. Wanderlei Amorim, corretor de imóveis, decidiu entrar em vários grupos de ciclismo para superar a perda. “Sempre andei de bike, mas não em grupo. Eu perdi minha esposa, após cuidar dela por quase três anos; ela teve câncer. Após isso, acabei utilizando o pedal para uma fuga”, conta. “Minha motivação está na busca de um excelente condicionamento físico. Perdi uns 16 kg.” Wanderlei também faz parte do Paulista Bikers, da zona leste da capital; eles se encontram toda
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quinta-feira, mas o grupo não é recomendado para iniciantes, pois o ritmo do passeio é mais intenso. Para participar dos grupos, é necessário e obrigatório ter equipamentos de segurança: capacete, roupas específicas para pedalada, farol dianteiro e traseiro na bike e levar água para hidratar. Os passeios são divididos entre os para iniciantes e os de nível médio e difícil; as rotas mais intensas podem durar até três horas. Para quem quer entrar nesse mundo, José Noronha dá uma dica fundamental: “É preciso comprar uma bike em uma loja especializada, procurar comprar com quem pedala.”
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