USJT
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setembro 2019
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ano 26
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edição 3
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
ESPECIAL - Págs. 6 a 9
O centro (re)vive Políticas públicas e olhar atento do setor imobiliário estimulam renovação no coração da cidade
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS Ilhas de calor e clima seco afetam vida na cidade de SP Pág. 5
VIDA DIGITAL Impressão 3D de alimentos é promessa no mercado Pág. 11
CULTURA E ARTES Um retrato das festas juninas das menores cidades de SP Pág. 12 setembro 2019
ESPORTE 20 anos depois, Desafio ao Galo retorna com popularidade em alta Pág. 14 EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
#INSTANTÂNEO
Texto e foto: Giselle Magno
Victor Hidalgo
entre tribos e culturas na região central. Nesta edição, também contamos com reportagens sobre temas como as ilhas de calor urbanas, o futuro da impressão 3D na indústria de alimentos e as festas juninas nas menores cidades do estado, além do legado do Programa Ciência sem Fronteiras e da divulgação de projetos dos alunos da São Judas em eventos científicos internacionais. Na última página, no Infográfico, deixamos para você uma sugestão de roteiro a pé pela zona central; use e abuse dele, em um ou mais dias, para conhecer o marco zero e os inúmeros museus e atrações da maior cidade do continente. Boa leitura! Os Editores
EXPRESSÃO
Tradição da boa A festa junina é uma das tradições mais amadas pelo brasileiro, com prevalência de um clima saudável de amizade e amor que faz falta em tempos turbulentos. Cada canto do País faz o evento de seu jeito, mas, em todos, as bandeirinhas cortadas, a fogueira e o jeitão de interior se mantêm. As comidas tradicionais, a quadrilha e o “olha a cobra, é mentira!” são signos da cultura nacional.
#FICA A DICA
Um olhar sobre o explorador da lua Divulgação
Lugar dos mais autênticos da cidade, o centrão antigo tem relação ambígua com o paulistano: por vezes, é lembrado por sua riqueza histórica, seus arranha-céus, seu comércio agitado e suas infindáveis atrações culturais; em outras ocasiões, ganha destaque em páginas policiais por conflitos relacionados à habitação, à violência e ao consumo de drogas. Em meio a essa tensão entre admiração e repulsa, luxo e decadência, comum às demais capitais latino-americanas, nossos repórteres apresentam o Especial desta edição – com textos que abordam a questão da moradia e do planejamento urbano, a especulação imobiliária, a recuperação de construções e a convivência
Jornal universitário do 4º ano de Jornalismo setembro 2019 • ano 26 • edição 3 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof.ª Jaqueline Lemos Supervisor de estágio e jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Supervisora de estágio, projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT
Leidinara Azevedo
“O Primeiro Homem” (“First Man”, 2018) é um filme do premiado diretor norte-americano Damien
Foto de capa Victor Hidalgo
EXPRESSÃO
Ano: 2018 Gênero: cinebiografia Duração: 141 minutos País de origem: EUA/Japão
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Chazelle. O jovem cineasta, de 34 anos, já esteve em destaque por “Whiplash” (2015) e “La La Land” (2017), recebendo três indicações e uma estatueta do Oscar. Em “O primeiro Homem”, baseado no livro de James R. Hansen, o diretor se aventura na cinebiografia – dedicada a retratar a vida de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua. Interpretado por Ryan Gosling, Armstrong era um piloto de testes da aeronáutica americana que tinha sofrido uma perda pessoal e se candidatado a uma vaga na Nasa, em testes nas missões exploratórias à lua. A morte da filha rodeia sua mente durante todo o filme, embora o ator não verbalize isso; a esposa Janet (Claire Foy)
vê sua relação ficar cada vez mais distante. O longa mostra como as missões não eram totalmente apoiadas pela sociedade – sob pressão dos gastos de milhões de dólares que, até então, não estavam dando resultados. A despeito das atuações, um ponto que não pode deixar de ser comentado é o brilhante trabalho de imagem e som. Ganhador do Oscar de melhores efeitos visuais, o longa causa uma imersão na história com sua fotografia bem trabalhada e a câmera em alguns momentos turbulenta, para realçar a sensação de se estar dentro de uma espaçonave. “O Primeiro Homem” se destaca entre os longas biográficos de nossa época; é uma produção sobre hero-
ísmo, mas não sobre heróis. Chazelle mostra como um homem rompeu as barreiras do planeta e continuou a ser, apenas, humano. É uma história sobre a caminhada de Neil antes de dar o pequeno primeiro passo do homem na lua, que se tornaria um grande salto para a humanidade. SOBRE O DIRETOR Damien Chazelle é um diretor e roteirista norte-americano que iniciou a carreira aos 24 anos e, em 2015, ganhou fama mundial com as cinco indicações de "Whiplash" ao Oscar. Seu currículo conta com sete trabalhos para o cinema e um para a TV.
PROTAGONISTA
Da redação para as livrarias Patrícia Pappalardo recorreu à publicação independente para mergulhar no mercado literário Denise Tadei
Valeria Contado
e
Mirelly Gusmão
Patrícia Pappalardo, formada em Jornalismo, trabalha hoje como revisora no Meio & Mensagem e lançou, em 2019, seu primeiro livro, aos 56 anos. A autora apresenta ao mundo "Adonis & Afrodite", um romance que está nas livrarias graças ao modelo de autopublicação. Patrícia participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e discutiu esse modelo de publicação que está tomando conta das estantes das livrarias. Ela conta como foi seu processo de virar a chave saindo do mundo do jornalismo, onde ela tinha que contar o factual, para se tornar uma escritora, de como ela venceu sua timidez ao publicar suas histórias e qual foi o processo criativo para conceber seus personagens. Expressão – Você escreveu seu primeiro romance aos 16 anos. Como descobriu que poderia ser uma escritora? Patrícia – Sempre gostei de literatura, de ler. Gostava de historinhas, então,comecei a botar no papel algumas ideias que tinha na cabeça e tentava dar sentido a elas. Depois, com o tempo, fui lendo outros livros mais tradicionais, clássicos, e comecei a criar alguns personagens meus, que contassem uma história e não fossem só um brinquedinho de criança, uma coisa mais de adolescente. Comecei a criar uma história de um homem muito rico que tinha muitos filhos, e aí passei a dar para cada um dos filhos uma história; aquilo foi surgindo, fui escrevendo aos poucos e terminei de escrever aos 16 anos. Você se formou em Jornalismo e hoje é revisora. Como foi essa transição de jornalista, que é um escritor de fatos, para ser uma escritora de romances? Eu decidi fazer Jornalismo porque queria escrever, queria contar as minhas histórias. Tinha uma ideia um tanto quanto romântica sobre o que era ser jornalista. Não é só você escrever bem ou ter algo a dizer. Há várias técnicas e também há várias pessoas no caminho. Então eu percebi que não queria ser repórter. Não queria escrever sobre o tempo, sobre assassinatos em São Paulo
Patrícia no lançamento de seu livro: impulso criativo viabilizado pela autopublicação ou a dificuldade no trânsito. Nas poucas vezes que trabalhei como redatora, parecia que estava escrevendo sempre os mesmos textos. De certa forma, me decepcionei com a área do jornalismo. Então percebi que era uma escritora e não uma jornalista. Quando você trabalha como jornalista, tem que relatar o fato; prefiro contar as minhas fantasias.
Participei de todo o processo de edição. Olhei tudo, fiz todos os pedidos. Alguns foram atendidos, outros tive que me adaptar. O que é muito interessante é isso: você poder participar do seu livro. Nesse ano, participei da Flip 17 justamente para poder falar sobre a autopublicação. Queria que as pessoas lessem [o livro] e soubessem que eu sou capaz.
Quem foi a primeira pessoa que leu seus manuscritos? Minha amiga Vânia. Ela foi atrás desse esquema de publicar. Ela tinha uma conhecida que já tinha autopublicado um livro pela editora Labrador, que foi onde também fiz o meu. É uma coisa que eu queria há muito tempo, só tinha receio e travas psicológicas para fazer isso. Às vezes você não confia naquilo que faz, e isso é um problema muito sério. A gente precisa superar isso para conseguir cumprir nossos objetivos.
Sobre "Adonis & Afrodite", quando veio a ideia de misturar o suspense de uma história de serial killer com a mitologia grega? Gosto de histórias de assassinatos, então veio a ideia de a personagem principal ser uma escritora: uma pessoa que gostava de ler e que aos poucos foi mergulhando nesse mundo. No final das contas, vem uma história que remonta a muitos mitos da mitologia que eu conhecia; comecei, então, a colocar os acontecimentos. Primeiro um casal, depois um casal de amigos e nisso foi nascendo uma trama.
Como foi o processo de autopublicação? A auto publicação é o seguinte: você chega no lugar e oferece o seu original, seja num pen drive ou em outro drive. Todo o processo de publicação é feito por essa editora. Eles têm o trabalho de edição e impressão, você acompanha tudo e paga também. O autor é responsável por tudo que acontecer.
Como foi a concepção das personagens do livro? A personagem principal do livro, Madeleine Shelton, já vem hibernando em muitas das minhas histórias. Gosto de mulheres que são fortes e independentes, que geralmente gostam de sexo,
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“Os personagens são, sim, um pouquinho de cada qualidade ou defeito que eu tenho.” mas que não são apaixonadas. Eu quis mostrá-la como alguém que já tinha uma definição na vida – mas tinha uma vida infeliz. Ela conhece Willian Shelton, um detetive da Interpol. Acaba se envolvendo nos assuntos dele. Comecei a pensar nessa personalidade: poderosa. E o marido dela nem tanto. Assim, veio a ideia de fazer um personagem para acompanhá-la, um cara maravilhoso. Pensei em um deus grego, um Adonis, um ninfo. Um homem que fizesse com que ela continuasse sendo a poderosa. Quanto de Patrícia tem dentro da concepção de personalidade nos seus personagens? Eu acho que é impossível você construir um personagem sem colocar suas ideias. Você pode não ter as mesmas convicções, os mesmos pensamentos que tal personagem – mas sabe, na sua cabeça, o que é uma pessoa que tem preconceito, uma pessoa que luta pela vida. Algumas coisas fazem parte, principalmente, de Madeleine – que é meu superego, a pessoa que eu gostaria de ser, que gostaria de ter pelo menos metade da coragem e outras coisas que faço de verdade. E os demais personagens são gente com quem até convivi, ou até mesmo têm um pouco da minha personalidade. Os personagens são, sim, um pouquinho de cada qualidade ou defeito que eu tenho; são baseados em pessoas que eu conheci ou em coisas que vi. Por que você escolheu "Adonis & Afrodite" para ser seu primeiro livro publicado? Este livro é um pouco mais adulto do que os outros que escrevi. É mais bem elaborado; fiz com a intenção de ser um livro. Esse foi mais dirigido, com personagens mais bem caracterizados.
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Ciência sem Fronteiras deixa legado na ciência brasileira
MAIS AUTONOMIA
Ânima aposta em ensino híbrido para aproximar alunos e estudos
Letícia Fleming e Patrícia Magarian
Apesar de críticas, programa gerou indicadores relevantes para a vida de estudantes e pesquisadores O Ciência sem Fronteiras (CsF) foi criado em julho de 2011 para estimular o intercâmbio acadêmico oferecendo bolsas de estudos para iniciação científica em diversos países. Os principais objetivos eram investir na formação qualificada de brasileiros em instituições de ensino renomadas no exterior e fortalecer o Brasil como destino de estudantes e cientistas estrangeiros. Desde o início do programa, foram atribuídas cerca de 98 mil bolsas, e 79% destas foram concedidas para a graduação. No entanto, em abril de 2017 o Ministério da Educação anunciou o encerramento do CsF para bolsas de graduação, módulo mais procurado, e afirmou em nota que o programa ainda ofertaria 5 mil bolsas para pós-graduação. Quatro profissionais que passaram pelo Ciência sem Fronteiras fundaram em 2014 o Rede CsF, iniciativa que busca mostrar os exemplos positivos e as histórias bem-sucedidas que o programa proporcionou para estudantes brasileiros, promovendo, de quebra, relações entre intercambistas. Além de fazer entrevistas em vídeo com jovens que participaram do programa, os membros têm objetivos de curto, médio e longo prazos.
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João Paulo de Almeida
Leidinara Azevedo e Gabriela Ferreira
Alunos do CsF se unem para repercutir boas histórias João Paulo de Almeida Barbosa, um dos diretores da Rede CsF, contradiz algumas das histórias negativas sobre o programa. “Nós achamos que foi dado muito foco para alguns poucos casos ruins e foram deixados de lado diversos casos bons. É incrível a quantidade de pessoas que escrevem para nós contando histórias de sucesso de algum brasileiro durante o programa.” Entre os casos de sucesso está André Sionek, que fez o intercâmbio acadêmico pelo Ciência sem Fronteiras e, após entrar em contato com uma revista universitária gratuita na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, criou no Brasil a Revista Polyteck. “Eu pensei: se um negócio como esse funciona, consegue se manter economicamente, provavelmente consigo criar uma revista cien-
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tífica focada no público universitário no Brasil e que se mantenha somente com anúncios e publicidade”, conta.
Resultados do Ciência sem Fronteiras Parcerias com instituições em mais de 30 países
Semanalmente, a aluna de jornalismo da Universidade São Judas Yara Barros, de 20 anos, conecta-se ao sistema Ulife da instituição. Lá, consegue ter acesso aos conteúdos da matéria híbrida selecionada a ela – que dizem respeito à disciplina de Pesquisa, Métrica e Monitoramento. Apesar de acompanhar as aulas disponibilizadas a distância, Yara ainda tem dúvidas quanto ao método. “Sinto falta de ter um professor me auxiliando de maneira presencial todas as semanas”, explica. A modalidade de educação a distância do grupo Ânima é caracterizada pelo ensino de tipo híbrido, que aposta no método de sala de aula invertida. Dessa maneira, os alunos têm no sistema Ulife uma aba chamada Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), que oferece conteúdos que
45,1 mil bolsas em Engenharia e áreas tecnológicas EUA e Reino Unido: principais destinos Fonte: Ministério da Educação
sua carreira na instituição. Ela considera que a principal vantagem é a junção entre os conteúdos disponibilizados e a preparação dos professores. “Os professores são treinados para ministrar essa disciplina por meio de oficinas, justamente para conseguir desenvolver métodos mais dinâmicos”, relata. Professora da UniSociesc de Joinville, Samantha Borges é responsável pela administração dos conteúdos online da disciplina de Pesquisa, Métrica e Monitoramento. Para ela, o modelo híbrido possibilita um processo de aprendizagem muito mais interativo. “O aluno estabelece seu próprio ritmo de estudo, entra em contato com um ambiente que permite o acesso a diferentes linguagens e participa de aulas que promovem a interação do conteúdo com a realidade.”
YOUTUBERS CIENTISTAS
Ciência ganha eco na voz de influenciadores público mais novo, maior problema é enfrenNancy Caprini
+ de 101 mil bolsas (em 2016), sendo... 92,9 mil em graduação sanduíche, mestrado, doutorado sanduíche, doutorado pleno, pós-doutorado e apoio a pesquisadores estrangeiros visitantes
incluem artigos, vídeos, podcasts e gráficos e que devem ser acessados previamente aos encontros presenciais. O acompanhamento via professor e tutor se mantém, mas com aulas alternadas a acessos virtuais aos conteúdos pelo aluno. Nacionalmente, diversos grupos e instituições de ensino superior privadas testam modelos de ensino a distância ou com suporte de plataformas virtuais; a oferta de disciplinas em formato híbrido, no entanto, é trabalhada nos cursos de universidades como a São Judas em suas modalidades presenciais, que têm em média 20% de atividades EAD – diferentemente de cursos integrais a distância, por exemplo. Isadora Camargo, professora da Universidade São Judas no primeiro semestre de 2019, ministrou esse formato pela primeira vez em
Devanil Junior, autor do canal Alimente o Cérebro Isabela Lopes
A cultura geek tem se tornado mais popular graças à abordagem realizada por influenciadores digitais da nova geração. Assuntos científicos, inicialmente não tão interessantes para o
podem ser mais bem compreendidos quando tratados com linguagem informal na internet. Canal do Pirula, Bio’s Fera, Ciência Todo Dia e Canal do Slow são alguns exemplos de canais no YouTube que falam sobre filosofia, ciência e conhecimento, alguns destes com mais de 100 mil inscritos que são, na maioria, jovens e estudantes. Para o jornalista e influencer Devanil Junior, autor do canal Alimente o Cérebro, o
tar a onda de fake news que se espalha na internet. “É missão de todas as pessoas compromissadas com a ciência e com a verdade ajudar a espalhar informações confiáveis para serem consumidas pela população.” Os vídeos são utilizados, pela maioria, como método de estudo, pois o conteúdo é passado de forma mais fácil para entendimento. A prática é comum entre jovens, universitários e até mesmo professores, que se baseiam nesta nova forma de ensinar ciência.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Ilhas de calor e aridez atingem SP
Poluição e falta de áreas verdes são as principais causas para mudança nos ciclos das chuvas e elevação de temperaturas; Sudeste vive eventos extremos com frequência Stella Ramos
Região central registra temperaturas acima da média Isabela Sampaio e Stella Ramos
Estudo realizado com dados meteorológicos dos últimos 70 anos pela Universidade da Califórnia apontam o que todo mundo sente: uma redução dos períodos
de chuva no Brasil, principalmente na região Sudeste. O material analisado pelos pesquisadores considera dados de 1938 e 2012. Um artigo com os resultados da pesquisa, publicado no International Journal of Cli-
matology, ressalta as fortes alterações que a região tem passado nos últimos anos – em especial São Paulo, que, apesar da fama de terra da garoa, por vezes ganha cara de deserto em períodos de estiagem. A intensa variação climática da capital do estado é objeto de estudo há décadas. Segundo Pedro Leite Da Silva Dias, diretor do Instituto de Meteorologia da USP, essas mudanças ocorrem em decorrência de dois fatores: variabilidade natural do clima e interferência humana. “A primeira é provocada por vulcanismo, mudanças na energia solar e ciclos climáticos. A segunda seria o papel do homem nessa questão, que ocorre devido ao desmatamento e à
emissão de gases poluentes”, afirma. “Os estudos mais recentes indicam que as mudanças climáticas em São Paulo se devem na maior parte à mudança do uso do solo, principalmente o efeito urbano”. A população tem sofrido diariamente com as consequências dessas ações. A variação no clima é sentida em todas as regiões da cidade e, para muitos, o assunto causa preocupação. Caio Rogério Gonçalves, morador do Horto Florestal, na zona norte, percebe as diferenças. “Este ano passamos o outono e não sentimos uma queda de temperatura, os dias continuaram mais quentes que o comum. Em 2014 sofremos com a estiagem, por falta de chuvas no estado. Sem a prevenção e o
investimento da prefeitura na conscientização da população, isso pode voltar a acontecer”, declara o gestor financeiro. ILHAS DE CALOR
Uma questão que tem se tornado frequente na capital são as ilhas de calor. O fenômeno é consequência da poluição, da falta de árvores e do precário sistema de saneamento básico – e, ainda, uma grande diversidade de temperaturas em diferentes regiões da capital que acentua o efeito. Para diminuir a poluição do ar, a preservação e a implementação de áreas verdes na capital é indispensável, pois o solo tem um papel relevante na absorção dos raios solares pela superfície. De
acordo com o docente do curso de gestão ambiental da Universidade de São Paulo (USP) André Felipe Simões, é papel do Estado harmonizar o desenvolvimento econômico em prol do cenário da sustentabilidade e, a partir disso, observar os interesses e demandas de todas as classes sociais. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) realizou uma pesquisa comparando o mês de abril do ano passado e o mesmo período deste ano. A média das temperaturas mínimas registradas esse ano foi de 19,4°C, dois graus acima do padrão climatológico para o mês, que é de 17,4°C. Segundo os dados, foi o abril mais quente desde 1961.
SIMULADOR
Alunos da São Judas levam projeto interdisciplinar à Argentina Karolyn Andrade
Eloísa Ribeiro e Karolyn Andrade
Como parte dos trabalhos desenvolvidos na disciplina Projeto Interdisciplinar, alunos de diferentes áreas de conhecimento da São Judas conseguem colocar em prática conceitos aprendidos ao longo das disciplinas de cada módulo da grade curricular. Na Engenharia, por exemplo, todos os anos os alunos são reconhecidos pelos seus trabalhos realizados – uma das ferramentas é a participação na International Conference on Alive Engineering Education (ICAEEdu), fórum em que profissionais e estudantes de diversas áreas compartilham seus
conhecimentos e conversam sobre as inovações e melhorias da educação em engenharia. Leonardo Angelo, de 21 anos, cursa Engenharia da Computação na São Judas, está no sétimo semestre e foi um dos participantes para concorrer ao prêmio. Seu projeto foi um simulador de doenças cardiovasculares de animais; apresentado em uma maquete de cachorro, começou a ser desenvolvido no quarto semestre do curso. Selecionado para a ICAEEdu, o projeto fez com que Leonardo fosse até a Argentina, representando
Alunos da São Judas que participaram do ICAEEdu com sua produção científica seu grupo e a universidade na premiação. "É uma sensação de orgulho, pois a gente nunca imagina fazer um trabalho e ser reconhecido publicamente por diversos engenheiros,
professores de outras universidades do Brasil e também pelos conselhos profissionais”, conta Leonardo. Durante todo o processo de desenvolvimento e construção do projeto, os alunos
tiveram à sua disposição laboratórios e orientação de professores dos cursos de Engenharia e Medicina Veterinária na unidade Mooca. O evento contou com a presença do Crea, órgão res-
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ponsável pela fiscalização de atividades profissionais nas áreas da Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia, além das atividades dos tecnólogos e técnicos agrícolas. O grupo participante da conferência é composto de Leonardo Angelo, Gabriel Ferreira, Marcelo Patrão, Breno Enrique Santos, Lucas Rodrigues, Matheus Sonoda e Antônio Toledo. “Para quem está criando um projeto, uma dica é trabalhar com seu orientador e buscar entender o problema que quer selecionar. Confie que você pode mudar muitas situações com o seu projeto”, recomenda Matheus Sonoda.
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ESPECIAL
Diverso e plural, centro se reinventa para moradores e empresários Convivência de culturas e pegada para o comércio são marcas da zona histórica da cidade Beatriz Lohana e Filipe Mello
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Bruno Santos aguardando colega após a faculdade em parada de ônibus: mobilidade é vantagem
região da Rua 25 de Março, com famílias árabes e turcas e seus comércios. A convivência de pessoas de classes socioeconômicas distintas é outra marca da região – a um só tempo detentora de alto IDH, com regiões em processo de revitalização, e a maior população de rua da cidade. Os problemas sociais e de saúde pública incluem a dependência química, a exploração sexual e a moradia precária. Maria Ligia de Barros Miguel Engels, de 62 anos, empresária, vive na região central da capital há 40 anos. Para ela, o saldo geral é positivo. “Nesse período em que moro aqui houve muita mudança na região. Uma das vantagens é o fato de ser de fácil acesso, principalmente por conta dos meios de transporte. Gosto muito do centro
nho três anos de idade. Perto da minha casa tem tudo: bancos, unidades do Poupatempo, alguns museus e bibliotecas. Até mesmo no que diz respeito a entretenimento [tem opção], pois perto da minha residência ainda tem alguns parques e a própria Avenida Paulista", diz Bruno Santos, 24, estudante de Comércio Exterior e morador da Bela Vista. Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento divulgado em 2018, o volume de imóveis novos no centro da cidade dobrou em relação a 2012, com mais de 5 mil apartamentos em empreendimentos.
pelo fato de ele ter todos os serviços bem perto, como supermercados, hospitais, escolas e igrejas”, aponta. Para Maria Ligia, porém, o aumento do custo de serviços saltou aos olhos nos últimos anos. “O que eu sinto de diferença hoje entre o centro e a região dos bairros é que as coisas aqui são mais caras”, explica. “Seja para o que for, desde
Filipe Mello
Em uma cidade que, sozinha, acumula mais de 10 milhões de habitantes – número que sobe para 20 milhões, quando considerada a região metropolitana –, definir seu “centro” pode ser uma tarefa difícil. Em São Paulo, a classificação oficial dá conta de uma região administrativa que coincide com a fundação da cidade – englobando distritos como Bela Vista, Cambuci, Bom Retiro, Santa Cecília, República e Sé. Uma região antiga, por muitos anos malcuidada ou até esquecida, mas que agora desponta com promessas de revitalização. Com o crescimento da cidade, diferentes zonas foram alvo de especulação imobiliária e investimentos, deixando o “centro velho” fora de moda. Permanece, porém, sua veia comercial, tanto atacadista como varejista, e sua vocação de lar para pessoas de diversos gêneros, idades e nacionalidades, que por vários motivos – desde os financeiros até os de mobilidade – acabam optando por morar no coração da cidade. Estações de metrô, de trem ou linhas de ônibus que dão acesso a outras regiões, além do preço acessível, são alguns dos motivos para encontrar gente interessada em se mudar. Hoje, são cerca de 400 mil moradores na região, que tem IDH médio “muito elevado” – desde 2000 voltou a tendência de crescimento populacional no centro, após décadas de degradação. "Moro aqui desde que te-
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cabelereiro até sapateiro, percebo que aqui no centro tudo isso fica mais caro.” ZONA JOVEM
Quanto à faixa etária dos moradores, contrariando a fama, o centro está longe de ser um bairro de idosos. De acordo com a pesquisa “Retrato da pessoa idosa na cidade de São Paulo”, da Fundação Seade, a população atual com mais de 60 anos está concentrada nas zonas sul e sudeste em termos brutos – no relativo, bairros de alta renda, como Pinheiros e Jardim Paulista, ganham relevância. Já o distrito da Sé e a periferia têm menor taxa de idosos. Além de questões socioeconômicas, a busca dos jovens – em especial estudantes – ajuda a explicar o perfil do morador central atual. O estudante
Levantamento da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento aponta que o volume de imóveis novos no centro da cidade dobrou em relação a 2012 A participação da zona nos novos imóveis de São Paulo chegou a 17,8% em 2017, contra 9,1% em 2012. MIGRAÇÃO E NEGÓCIOS
Entre os que procuram se instalar por ali, estão famílias que passam suas tradições de pais para filhos e netos, jovens atrás de moradia prática, barata e de fácil acesso e migrantes e
imigrantes que procuram oportunidades. A formação histórica da cidade explica, por sinal, as grandes colônias de estrangeiros vindos de diversas partes do mundo em bairros como Liberdade (de colonização oriental), Bela Vista/Bixiga (italianos por essência) e Bom Retiro (habitado por judeus e, recentemente, coreanos), além da famosa
Bruno Santos Silva diz que atualmente não tem intenção de sair do centro da cidade, mesmo que fosse para morar em uma casa maior. "Moro praticamente entre as estações de metrô Anhangabaú e Liberdade e estou a cerca de dez minutos andando da estação São Joaquim da linha azul, e a cinco minutos da Sé”, justifica.
DE OLHO NO FUTURO
Plano diretor promete levar mudanças à região Valéria Abreu e Keller Dantara
Boa parte da transformação do centro da capital nos últimos anos se deve, por um lado, ao olho atento do setor privado – ávido por terrenos e áreas para investir, abundantes como reflexo do esvaziamento dos bairros históricos. Por outro lado, o poder público também investe nessa direção: por meio do Plano Diretor Estratégico (PDE), lei que orienta o desenvolvimento e o crescimento da cidade de São Paulo até 2030, o centro entrou no centro da complexa equação de dar qualidade de vida aos moradores, fornecendo maior distribuição de empregos e moradia na região metropolitana. Entre os pontos do PDE, um dos focos é a melhoria da mobilidade urbana. A ideia é priorizar os transportes públicos, por meio de corredores de ônibus, metrô, trens e calçadas largas nas proximidades dos eixos de transportes. Não é difícil perceber que bairros como Sé, Liberdade, Bom Retiro e República, com seus terminais e estações, já têm o problema quase resolvido – diferentemente de zonas periféricas, muitas das quais sem transporte sobre trilhos e 100% dependentes do ônibus. O interesse na recuperação do centro da capital é bandeira defendida pelos últimos prefeitos da cidade, como Gilberto Kassab (PSD), Fernando Haddad (PT) e, hoje, Bruno Covas (PSDB). Segundo nota da Secretaria de Urbanismo
de São Paulo, o centro está “envolvido um amplo processo de transformação que inclui diversas ações, como a recuperação dos calçadões do Vale do Anhangabaú, a viabilização do Parque Augusta e modificações do Largo do Arouche e Praça Roosevelt, entre outros.” Apesar das propostas de revitalização, ainda há lugares carentes de investimento – o que um turista percebe ao andar pela região do Vale do Anhangabaú ou da Estação da Luz, por exemplo. Andréa de Oliveira Tourinho, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas, cita um exemplo de descaso na capital: a obra na Casa das Retortas, no Brás, que abrigaria o Museu da História do Estado de São Paulo, foi prometida para 2011 e até hoje não foi concluída. “Não terminaram o serviço e isso está causando impactos negativos para o patrimônio existente e a paisagem da cidade.”
Gabriela Nolasco e Giovanna Nunes
Recuperação do centro deve valorizar áreas verdes, mobilidade e acesso a transporte público
MINHOCÃO
Um dos ícones do centro antigo é, também, um dos pontos mais polêmicos do Plano Diretor. Entre os artigos da lei, destaca-se o objetivo de desativar o Elevado João Goulart, o Minhocão – que corta as regiões de Santa Cecília, Campos Elíseos e Barra Funda, do centro à zona oeste. Em fevereiro, Bruno Covas, prefeito da cidade, optou por desativar progressivamente o elevado e transformá-lo em um parque – algo já idealizado no plano.
Expectativas de revitalização incluem o estímulo à habitação do centro, rico em meios de transporte público A arquiteta e urbanista Mirtes Birer Koch aponta que o tema demanda análises aprofundada. “Devem ser efetuados vários estudos, inclusive da pertinência da
criação de novos modais de transportes e rearticulação dos existentes na região, para oferecer alternativa para os usuários desta via de tráfego”, afirma.
Mirtes afirma, ainda, que o cuidado deve ser em estabelecer um centro atrativo para moradores e retirar deve o ar de antiguidade e atraso. “A
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cidade de São Paulo está envelhecendo e a falta de manutenção e fiscalização fica mais evidente. Vê-se a deterioração das áreas mais antigas.”
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MORADIA
Mais de 700 prédios ociosos povoam zona histórica
Falta de condição para custear o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação pode ser um dos principais motivos de abandono de imóveis Victor Hidalgo
No centro, alguns edifícios deixam de cumprir sua função social Lucas Alvarez
O centro de São Paulo tem construções que marcam a história e dizem muito sobre a ci-
dade. Contrapondo aspectos positivos, esses edifícios trazem também alguns problemas. De acordo com a Secretaria Municipal de Urbanis-
mo e Licenciamento, são 708 edificações que não cumprem a função social da propriedade, uma exigência da Constituição Federal.
De acordo com o Projeto Reabilita, que trabalha com a reabilitação de edifícios em áreas centrais para habitação de interesse social, “um dos desafios atuais para as gestões das grandes cidades brasileiras é a ocupação dos imóveis vagos ou subutilizados localizados em áreas centrais, onde há amplo capital social investido. Estas áreas caracterizam-se por estarem em locais com infraestrutura e ampla rede de serviços instalados”. O professor e mestre em engenharia civil Leonardo Augusto Cruz Borges pontua que “na parte da engenharia civil, o centro é interessante
no sentido de discutir o que o engenheiro pode propor”. Como exemplo, cita o retrofit (processo de modernização de alguma construção considerada ultrapassada). “Quando entram com um pedido de reabilitação de alguma construção, entramos em contato até mesmo com edifícios do século passado, que não condizem mais com as normas de segurança e acesso”, diz. Ainda tratando das problemáticas de reabilitar determinados espaços no centro, o professor acrescenta um desafio na reocupação de imóveis antigos na região central. “Pequenos prédios, casarões, cons-
truções que já abrigaram empreendimentos tornam-se ociosos porque, muitas vezes, herdeiros desses espaços não têm dinheiro para arcar com os custos de transferência da posse do imóvel”, explica. No caso, trata-se do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). De acordo com o especialista, para os estudantes de Engenharia, a história das construções feitas no centro pode despertar interesse. Outro ponto de interesse são os materiais de construção civil: é possível comparar as diferenças e tipos de madeiras para fazer portas e janelas, entre outros itens.
DÉFICIT HABITACIONAL
Direito à moradia segue em disputa Gabriela Nolasco e Giovanna Nunes
De acordo com o 6º artigo da Constituição Federal, a moradia é um direito social de todo cidadão. Em uma cidade marcada pelo déficit habitacional, como São Paulo, o poder público mantém olhar atento ao assunto com programas sociais – é o caso dos conjuntos habitacionais da Prefeitura de São Paulo, erguidos para favorecer o acesso à habitação digna para a população de menor renda. José Roberto Santos, 52 anos, é feirante e mora na Cohab Jardim Antártica.
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“Fiquei na fila de espera por cinco anos, morava de aluguel com a minha mulher e os meus dois filhos”, relata, lembrando dos tempos anteriores à obtenção das chaves de sua unidade. “Foi muito sofrido, mas agora eu tenho uma casa para morar com a minha família.” Grupos organizados, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, buscam trabalhar o tema por meio da ação direta, com a ocupação de bens e imóveis que não atendem à sua função social, além de
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manifestações e protestos. A região central é um dos focos de atuação do grupo, e não por acaso: concentra boa parte das mais de 200 ocupações da cidade, conforme dados do Grupo de Mediação de Conflito. O centro concentra, ainda, parcela significativa dos 1.385 imóveis vazios ou ociosos da capital – dado que surpreende ao contrastar com o déficit de 358 mil moradias da capital. Segundo dados da Fundação João Pinheiro, divulgados em abril de 2018, o déficit habitacional do País – número de moradias que não auxiliam dig-
namente aos moradores – aumentou em 287 mil entre 2014 e 2015, atingindo o total de 6,3 milhões de lares. No mesmo período, o estado de São Paulo registrou a falta de mais de um milhão de domicílios, assumindo a liderança da região Sudeste. GENTRIFICAÇÃO
Não bastasse o problema de acesso à moradia, especialistas debatem hoje o processo de gentrificação do centro – ou seja, a expulsão progressiva dos moradores tradicionais e mais humildes, de menor renda, como consequência do
aumento do valor de imóveis, reflexo da especulação imobiliária e de revitalizações voltadas às classes média e alta. Zonas como Baixo Augusta, Consolação e Bela Vista são hoje foco de construtoras. Amarildo Moura, corretor de imóveis, aponta que o aprimoramento encarece o bairro ao longo do tempo. “A transformação decorre dos usos mais ‘precários’, tais como cortiços, mercados, bares e comércio local, sendo trocados pelos mais ‘sofisticados’: lofts, ateliês, redes de supermercados, restaurantes e bistrôs gourmet e
grandes marcas”. Para ele, embora a ação prejudique os menos favorecidos, há benefícios, sobretudo para quem investe ou atua no mercado imobiliário. A arquiteta Larissa Amanda pensa diferente. “Esta é a forma mais maléfica, pois vem fundada por um discurso oficial, com repercussões midiáticas e de marketing. É uma história de modernização que conquista auxílio na opinião pública, mascarando a limpeza social da ação”, explica. “O que está em jogo é esquecer da pobreza e fazer a remoção de moradores e do comércio local.”
VIDA E ARTE
Espaços culturais revivem o coração da capital paulista
MOOCA
Entre centro e leste, bairro renova sua identidade
Victor Hidalgo
Performances artísticas de todos os tipos convidam turistas e moradores a povoar o centro Milena Mafra
478 milhões em 2018, a Secretaria Municipal de Cultura conta em 2019 com R$ 392,1 milhões. O valor se distribui entre diversas atividades de custeio e investimento e, embora pareça elevado, está abaixo dos patamares de anos anteriores. CENTROS CULTURAIS
Opções de lazer e cultura, como o CCBB, são o forte da zona central Milena Mafra
Com seus quase 110 museus, 70 teatros e inúmeros parques e espaços artísticos, São Paulo é conhecida como uma espécie de capital cultural não só no Brasil, mas em toda a América do Sul. Boa parte dessa fama, certamente, se deve à presença ostensiva de museus, teatros, galerias e festivais em sua região central – onde boa parte das atrações essenciais para um turista está concentrada. Na prática, é um jeito eficaz e saudável de manter vivas as ruas do coração da cidade. Muitos espaços abandonados por degradação física, medo e falta de segurança acabam ganhando frequentadores por conta de obras famosas ou performances artísticas. Desde quadros de Dom Pedro II na Pinacoteca do Estado até dançarinos de
break em estações do metrô, as intervenções são variadas, aliando a arte financiada pelo Estado a iniciativas independentes. Outro evento relevante é a Virada Cultural, que em 2019 atraiu 5 milhões de pessoas e contou com mais de 1,2 mil atividades gratuitas – boa parte delas no centrão antigo. Apesar dos anúncios de cortes do governo estadual, revertidos após protestos da classe artística, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo anunciou, em 2019, R$ 154,2 milhões em investimentos de projetos de artistas, empresas e produtores culturais paulistas por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC) Expresso, incluindo fomento direto via editais e indireto (ICMS). Já na gestão municipal, após ter orçamento de R$
Na saída da estação Vergueiro da Linha 1 – Azul do Metrô, subindo a rampa, já é possível ver o Centro Cultural São Paulo, instituição pública focada em expressões e performances artísticas. A arquitetura industrial com fortes traços de madeira e floral acolhe grupos de dança, como covers de K-pop, hip hop e dança de salão, que se reúnem aos sábados no espaço livre. A estudante Victória Schmidt faz parte do grupo MeOuch!, que dança K-pop no local, e destaca a proximidade de lugares como o CCSP com estações de metrô. “Não nos apresentamos no centro (na rua), é muito perigoso. Moro na região e acho muito boas essas iniciativas.” Já o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), localizado próximo à estação São Bento, também da Linha 1 – Azul, está a apenas seis minutos de caminhada do metrô e tem uma proposta espacial diferente: o prédio tem arquitetura de 1901 e foi reformado pelo banco em 1927 para se tornar a primeira agência própria do BB. Desde 2001, a proposta é
utilizar seus salões suntuosos para a divulgação cultural. GALERIA DO ROCK
Na degradada região do Largo do Paissandu, outro ponto turístico que ajuda a dar vida à cidade é a Galeria do Rock, inaugurada em 1962 e tradicional ponto de encontro de apreciadores de músicas, filmes, séries, videogames, skate e tatuagens. O conjunto possui uma variedade de lojas e produtos que inclui roupas e objetos decorativos, além de frequentemente servir de palco para apresentações e atividades de lazer. PRAÇA ROOSEVELT
Revitalizada após anos de disputas, a Praça Franklin Roosevelt é um dos pontos icônicos da região central e supera o estigma de local de prostituição e consumo de drogas com uma cena revigorada – com destaque para grupos como Os Satyros e Os Parlapatões, que insistiram em promover uma agenda de espetáculos, alguns, inclusive, na rua. Artistas, adeptos do skate e músicos estão entre os frequentadores assíduos da área a céu aberto.
LEIA MAIS No Infográfico, pág.16, confira um roteiro de atrações históricas pelo centro para completar seu passeio.
Morador Glessio de Freitas valoriza orgulho do bairro Cilene Thomaz Oficialmente fundada em 7 de agosto de 1556, a Mooca é um distrito do tipo que desperta dúvidas entre turistas ou pessoas que moram na cidade há pouco tempo: centro ou zona leste? Situada no segundo “bloco”, a região conhecida pela colônia italiana tem em seu nome raízes indígenas – o mesmo se pode falar de ruas como Javari, Taquari, Cassandoca, Itaqueri, Arariboia e Guaimbé. Ao longo de sua história, a Mooca se beneficiou da época áurea do café, acolhendo fábricas, famílias operárias e comércios de rua que até hoje dividem espaço com áreas de classe média-alta e empreendimentos de luxo. O orgulho dos moradores está presente em grafites, adesivos nos carros e camisetas que homenageiam o bairro – que ganha a fama de central por estar a pou-
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co mais de 15 minutos do marco zero da cidade, na Praça da Sé, com facilidade de acesso via metrô, trens e ônibus. Hoje, os debates estão voltados à valorização dos imóveis e à mudança de perfil de moradia, gerando disputas entre o mercado imobiliário e o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (Conpresp). Para Glessio de Freitas, morador da Mooca e funcionário do Museu da Imigração há 15 anos, a renovação não é necessariamente negativa: "só mudou por causa dos tempos, mas a tradição do povo mooquense ainda continua”. Glessio reitera que espaços como o museu em que trabalha – situado na sede da extinta Hospedaria dos Imigrantes, na Rua Visconde de Parnaíba – garantem a preservação e valorização da identidade local. “A gente tenta preservar essa tradição dos trens, da maria fumaça, das festas."
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VIDA DIGITAL
Drones ajudam projeto de regularização fundiária
No interior de SP, cadastro de terras ganha um aliado com a tecnologia
A regularização fundiária realizada pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo José Gomes da Silva (Itesp) beneficia em um período de quatro anos cerca de 15 mil famílias em todo o estado de São Paulo. O processo de regularização de terras busca legitimar as posses dos trabalhadores e, assim, possibilitar o crescimento socioeconômico das famílias. No início da gestão do governador João Dória (PSDB), a instituição ganhou um reforço para agilizar e oferecer mais precisão no processo de divisão das propriedades: os drones. Hoje, os aparelhos
dão suporte à regularização rural em cidades como Guapiara, Capão Bonito e Ribeirão Grande, na região sudoeste do estado. A tecnologia faz a identificação das divisas, gera uma planta e depois faz a localização das áreas demarcadas. O diretor de Recursos Fundiários do Itesp, Gabriel Veiga, aponta a maior velocidade como um dos benefícios do drone. “Antes, era feito um fotocadastro. Pela foto aérea, a divisa era identificada e depois lançada em um mapa, para só então se fazer a medição em campo. O drone é mais ágil porque faz o voo e já vai identificando as divisas, dizendo o que ali teríamos que identificar no olho.”
rança jurídica de seu uso.
Pixabay
Núbia da Cruz e Emily Santos
PASSO-A-PASSO DA REGULARIZAÇÃO
Drones são aliados no controle da atividade rural A instituição ainda não trabalha diretamente com os drones; o projeto piloto envolve a contratação de uma empresa especializada, e durante o processo a equipe fixa do Itesp dá suporte às dúvidas da população. Sobre a expansão
do uso da tecnologia para outras regiões e para a área urbana, Gabriel explica que após a finalização do atual contrato será avaliada a possibilidade de implantar os drones, levando em consideração a segu-
A regularização da área urbana é um diagnóstico do bairro, que demora de quatro a seis meses, seguido da estruturação de um convênio com o município. Não existe repasse de recursos. Trata-se de uma parceira em que o Itesp entra com a parte técnica e o município com os insumos para que o trabalho possa acontecer. Na área rural, a parceria é com o Governo Federal e com a Procuradoria Geral da República. A estimativa é de um ano para a finalização da regularização. Segundo Gabriel Veiga,
a burocracia envolvida neste processo já causou mais dificuldades. “A legislação avançou muito. Também há a conscientização dos oficiais de registro de imóveis, dos quais a regularização fundiária necessita, via parceria com a Associação dos Registradores, que vem diminuindo a burocracia”, detalha. O Itesp ainda mantém ocasionalmente parcerias com projetos sociais de moradia como a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), com a proposta de construir moradias rurais, e o projeto Habitação Quilombola, com o intuito de melhorar a condição das habitações.
INDÚSTRIA FONOGRÁFICA Amanda Pucci
Entre os vários campos em que a influência das mídias digitais se evidencia, o consumo de música é um dos mais relevantes. De um passado dominado por suportes físicos – fitas, CDs, DVDs – ao presente da nuvem e do streaming, os fãs e os próprios artistas conseguem acessar em clique o conteúdo de que precisam – ou que querem divulgar. Muitos cantores e bandas já se adaptaram às novas tecnologias, priorizando a distribuição por plataformas digitais. “Todos os trabalhos aqui são pensados primeiro em ir para plataformas digitais: Itunes, YouTube,
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Amanda Pucci
Streaming expande atuação de músicos e artistas Loja de discos: mercado ameaçado pelo digital Spotify. Poucos artistas que passam por aqui querem produzir CDs físicos, como era antes da web”, afirma o produtor da gravadora Erean Sound Renan Brito. Já o selo Zoom Discos prefere algo mais tradicional: prepara bolachas de vinil para bandas independentes. “Como músico, sei que as bandas se sentem muito mais ‘reais’ quando têm um lançamento físico. E nada
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mais físico que uma música gravada em um disco de vinil”, diz Luís Felipe Soares, um dos donos da empresa. O compartilhamento online das músicas fica por conta da banda e a divulgação em mídia física ocorre por meio de parcerias entre a Zoom e outros selos. “Depois que o vinil fica pronto, nós buscamos outros selos parceiros que tenham interesse em participar do lançamento.
Isso ajuda a distribuir os discos, especialmente quando conseguimos parceiros de fora da cidade e do estado”, afirma Luís Felipe. Muito artistas preferem se lançar na carreira musical de maneira independente, desde a produção até a divulgação do seu trabalho. As plataformas digitais são as aliadas de quem prefere seguir por este meio. Alex Fava, de 26 anos, é cantor independente e diz que em seu caso a web é uma aliada para a divulgação – mesmo que sem um disco físico concreto. “Hoje em dia, todos os artistas precisam trabalhar muito bem suas mídias digitais para subir cada vez mais seu público”, declara Alex.
INFODADOS O mercado em números
30%
Crescimento global dos serviços de streaming no mercado fonográfico em 2018
US$ 7,4 bi
Arrecadação do mercado musical no ano na web, representando 75% do total
23%
Queda nas vendas de mídias físicas (como CDs e vinis) Fonte: Recording Industry Association of America (RIAA)
TECNOLOGIA 3D
NA SAÚDE
Especialistas garantem, porém, que investimentos devem crescer nos próximos anos
Telemedicina ainda gera debates no setor
Lucas Cunha
O uso da tecnologia de impressão tridimensional – também conhecida como impressão 3D – em diversas áreas industriais já é uma realidade. Esse modelo de produção está presente na indústria automobilística, na saúde e até no espaço, uma vez que já existem peças aeroespaciais produzidas a partir dos equipamentos. No setor alimentício, os investimentos também são altos em alguns países e indicam um futuro promissor para a área. Em 2013, a Nasa, agência espacial americana, investiu US$ 125 mil em um projeto de pesquisa que permitiria a criação de impressoras 3D capazes de imprimir determinados alimentos – como pizzas. No Brasil, os investimentos nesta área ainda são incipientes, mas devem aumentar nos próximos anos. Recentemente, a Oderço Distribuidora firmou parceria com a empresa Wiiboox e passou a comercializar a impressora 3D de alimentos Sweetin. A máquina imprime em vários formatos a partir de alguns materiais como chocolate e geleia de frutas. Para o especialista em produtos Caio Hasegawa, essa nova tecnologia deve se popularizar nos próximos anos. “A impressão 3D é um mercado que atinge todos os setores de produção, era um nicho que se tornou um mercado”, avalia.
Divulgação
impresso”, justifica. De acordo com o empresário, o retorno do público é positivo, apesar de alguns terem dificuldades no manuseio dos equipamentos. “A receptividade tem sido a melhor possível com relação às impressões 3D, a maior dificuldade é o processo de aprendizagem de impressão”. DIFICULDADES
Anderson Nascimento Cardoso é dono da Cacau 3D MAIS ALIMENTO
O professor adjunto e coordenador do Laboratório de Tecnologia de Cereais da Universidade Federal do Ceará Rafael Audino Zambelli é otimista quanto ao uso da impressão 3D na indústria alimentícia. Para ele, “novas formas de produção de alimentos que sejam mais rentáveis” devem “abrir espaço para a produção de alimentos com praticidade”. Ele aponta, inclusive, que um dos caminhos seria estimular o consumidor a ter uma impressora 3D dentro da sua própria residência. “Ele poderia imprimir seu próprio alimento a partir de ingredientes básicos”, relata. O engenheiro de alimentos Heulyson Arruda também é otimista. Para ele, a utilização dessas máquinas na indústria alimentícia aumenta a personalização e complexidade de design do alimento processado que, até então, não se imaginava atingir. Além de minimizar
o desperdício de matéria-prima, diz ele, pode-se "minimizar o uso dos recursos naturais, uma vez que a impressora 3D estabelece uma nova forma de precisão do produto fabricado”. 3D DE CHOCOLATE
O empresário Anderson Nascimento Cardoso, 35, é um visionário. Enquanto a Nasa financiava, em 2013, o projeto de uma impressora que seria capaz de imprimir pizzas, no Brasil, ele desenvolvia outro que seria capaz de imprimir em 3D a partir do chocolate. "Na criação da empresa, a percepção [que eu tinha] era de [que havia] um mercado bastante amplo e promissor", avalia. Cardoso é proprietário da Cacau 3D, empresa que utiliza o chocolate como matéria-prima e a partir dele imprime seus produtos. “Nós escolhemos o chocolate para começar, porque ele é um produto que não precisa de beneficiamento prévio para ser
Esse obstáculo, entretanto, não é o único a ser enfrentado. Na percepção do professor Zambelli, o principal desafio das impressoras 3D é a sua popularização “como parte do parque industrial das indústrias de alimentos”. Ele lembra, ainda, que é importante convencer o consumidor de que ele “está consumindo um alimento seguro, proveniente de uma impressora”. Para Hasegawa, é necessário um "período de maturação” do equipamento no mercado. Heulyson Arruda destaca um ponto sensível para as fabricantes e distribuidoras desse equipamento como o principal desafio: “o grande desafio a se enfrentar é o alto custo das impressoras 3D”. Hasegawa discorda: para ele, esse valor pode ser considerado alto para o consumidor final, mas não para as empresas – e são elas o público-alvo da distribuidora. Atualmente, a máquina Sweetin é vendida por cerca de R$ 13 mil, enquanto a Alfa Model, da Cacau 3D, custa cerca de R$ 8 mil.
Medicina do futuro executada a distância Fernanda Souza
Impressão de alimentos avança abaixo da média no Brasil
Fernanda Souza A prática de atender pacientes e levar apoio a outros profissionais de saúde situados em regiões distantes por meio de videoconferência voltou a ser tema de destaque no Brasil. A telemedicina brasileira já era tratada na resolução do Conselho Federal de Medicina 1.643/2002, com sete artigos contendo regras para a eficácia da prática. Agora, são 23 artigos voltados à regulamentação de serviços de teleconsulta, telediagnóstico e telecirurgia. O projeto busca diminuir o tempo de diagnósticos e zerar filas do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), em parceria com o Ministério da Saúde e com apoio dos hospitais privados Albert Einstein, Sírio Libanês e Oswaldo Cruz, que já executam a prática via computador ou smartphone para chegar a áreas de difícil acesso. De acordo com a assessora de imprensa do hospital Sírio Libanês Vanessa Rodrigues, o desenvolvimento e a disseminação de novas tecnologias geram oportunidades. “Essas mudanças desafiam profissionais de saúde e seus conselhos a se adaptar, integrando soluções em sua rotina e compartilhando decisões.” Publicada no Diário Oficial
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da União em fevereiro, a resolução CFM 2.227/2018 aborda a necessidade de o paciente estar acompanhado de um profissional da saúde durante os atendimentos virtuais; a realização presencial da primeira consulta; atendimentos por longo tempo ou doenças crônicas intercaladas com atendimentos presenciais a cada quatro meses; e telecirurgias em ambientes adequados para acompanhamento de um cirurgião especialista remotamente. “A telemedicina é importante, mas infelizmente está mais disponível nos hospitais privados. No ano de 2013, fui contemplada pela Santa Casa de São Paulo para realizar uma endoscopia pelo Sistema único de Saúde (SUS), enquanto médicos de Israel e da França acompanhavam o procedimento para identificar o equipamento para a minha cirurgia, que não havia no Brasil”, explicou Janaína Sampaio, 42, autônoma. O debate entre a classe médica fez com que a regulamentação anterior fosse revogada em sessão do Conselho Federal de Medicina em 26 de fevereiro, em Brasília. Em nota, o conselho prorrogou para 31 de julho o prazo para que médicos e entidades enviassem propostas sobre a regulamentação da telemedicina no Brasil. Até aquele momento, já eram mais de 1,4 mil sugestões.
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CULTURA E ARTES
Sem dinheiro, cidades fazem festa junina com apoio da comunidade
Dos dez menores municípios de São Paulo, oito contam com ajuda dos próprios moradores para produzir a festa Divulgação
Festa julina organizada em Borá, menor município de SP Lucas Cunha
As tradicionais festividades juninas alegram e encantam milhões de paulistas anualmente. Com apresentações de artistas populares e orçamentos milionários em muitos municípios, o estado mais rico do Brasil vive dois extremos; enquanto algumas das cidades dispõem de verbas milionárias para realizarem suas festas, outras não possuem dinheiro sequer para comprar as comidas típicas. O Expressão entrevistou gestores, secretários e assessores das dez cidades menos populosas de São Paulo para descobrir como elas se articulam para realizar suas festas. Em todos os municípios os relatos são semelhantes: falta dinheiro para a realização desses eventos. “Eu acho que teria que ter mais investimento, pois é difícil trabalhar com pouca coisa, mas a gente faz o possível”,
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conta Telma Damázio, coordenadora de Cultura do município de Turmalina – que, com 1.759 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), ocupa a nona posição na lista das dez cidades menos populosas de São Paulo. A festa é patrocinada pela prefeitura, mas, como é comum em cidades pequenas, a população também ajuda. “A comunidade sempre apoia com doações, e o que falta a prefeitura complementa”, afirma. A cidade de Fernão, que ocupa a sétima posição na lista, é uma das poucas que, além de patrocinar integralmente sua festa, dispõe de estrutura e programação semelhante à de grandes metrópoles. “Tem barracas de rua na sexta, no sábado tem apresentação das crianças e, no domingo, show com uma dupla sertaneja”, conta Michele Pin, assistente administrativa da prefeitura.
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Um dos motivos que ajudam a explicar essa autonomia econômica é que a prefeitura não custeia os lanches, arcando apenas com custos operacionais, como montagem de palco e contratação de artistas. “O show é aberto, mas quem consumir nas barracas tem que pagar”, afirma Pin. A 334 quilômetros de Fernão está Santa Salete – que, ocupando a sexta posição na lista, conta com a colaboração da população local para realizar suas comemorações e manter viva a tradição. “A festa junina é tradicional no município, os materiais são arrecadados com os colaboradores e parceiros da prefeitura”, explica o secretário de Esportes do município, André Sanches. Diferentemente de outras cidades onde a colaboração ocorre principalmente entre os moradores e a prefeitura, Santa Salete conta também com a ajuda da
Igreja Católica. O responsável pela arrecadação é o presidente da Comissão Administrativa da Igreja Católica (CAIC), Laércio Barbosa Lázaro. “A primeira coisa que fazemos é pegar um alvará da prefeitura e outro da Polícia Militar”, afirma. De acordo com Lázaro, a festa acontece há mais de quarenta anos, antes mesmo de a cidade ser emancipada. “As pessoas que começaram a fazer essas festas não existem mais. Então, é uma tradição que nós não podemos deixar acabar”, diz. ESCASSEZ
A cidade de Uru figura em segundo lugar na lista das menos populosas e não tem muitas experiências na realização de festas juninas, tampouco dinheiro para realizá-las. O evento acontece há sete anos e foi uma ação ado-
tada pela nova gestão do município. “Neste último mandato, o prefeito adotou uma tradição de fazer a festa junina, geralmente na última sexta do mês de junho”, afirma a funcionária pública Eliane Regina Ribeiro Massucato. A falta de experiência e dinheiro é superada pelo desejo da população de produzir suas próprias festas. “A festa junina é comunitária: a prefeitura entrega os pratos e cada família traz uma porção. O pessoal vem prestigiar os seus filhos que estão na escola e, depois, tem a comida”, finaliza Massucato. Se Uru necessita de mais experiência, Borá precisa somente de verba. A festa junina no município, que é o menor do estado, acontece há vários anos e é promovida pelo Fundo Social de Solidariedade, em parceria com os moradores.
Segundo a secretária do prefeito, Daniela Aparecida Peres Vieira, com a colaboração os custos podem ser reduzidos à metade ou até a menos do que isso. "O orçamento para a festa fica em torno de R$ 10 mil, mas parte desse dinheiro vem de doações dos fazendeiros, reduzindo o gasto em no mínimo 60%", avalia. As cidades de Flora Rica, Santana da Ponte Pensa, Dirce Reis e Trabiju também realizaram suas comemorações, algumas por meio das prefeituras, outras por meio das escolas municipais. Em Nova Castilho, região de São José do Rio Preto, entretanto, não houve evento. Segundo a prefeitura, a situação se repete desde 2017. A falta de verba e a competição com outros eventos regionais foram os motivos alegados para o cancelamento. Divulgação
Festa Julina em Borá, interior de SP: tradição com suporte comunitário
NO IPIRANGA
Primeiro torneio nacional projeta slam feminino
NO GRAJAÚ
Centro democratiza cultura e arte Marcela Joaquim
Slam das Minas
12 mulheres e grupos do País inteiro se apresentaram no evento em São Paulo
Conexão com o bairro é valorizada nas obras Marcela Joaquim
Logotipo do Torneio Nacional Slam das Minas: vocação para o gênero torna SP reduto de artistas Bianca Marques
Os slams são encontros culturais em que se pratica a poesia falada, em sua maioria com um júri popular que avalia o desempenho dos poetas – chamados slammers. Demonstrando a potência desse campo artístico, aliado à presença cada vez maior de mulheres entre seus nomes consagrados, a capital paulista foi sede do primeiro Torneio Nacional de Slams Protagonizados por Mulheres (Singulares), com organização no SESC Ipiranga no último mês de março. No slam, as regras são as mesmas ao redor do mundo: os poemas devem ser de autoria dos competi-
dores, com três minutos para cada performance. O padrão é não haver nenhuma música; o silêncio é essencial durante as apresentações e o poder da voz impera. Esse tipo de arte foi criado em 1980 em Chicago, nos Estados Unidos, com intuito semelhante ao do rap e do grafite: abranger questões sociais e não deixar que temas importantes deixem de ser discutidos por quem é diretamente afetado por eles. Em solo brasileiro, o gênero se fortaleceu a partir de 2008, inicialmente com protagonismo masculino. Hoje, porém, a situação se equilibrou. O primeiro slam feminino foi realizado em
Brasília, em 2016, e o de São Paulo surgiu logo em seguida. Diversos grupos femininos se articularam e pouco a pouco a capital paulista se tornou território possível para acolher o Singulares. Com transmissão pelo Instagram, o Singulares 2019 foi organizado em 24 de março no SESC Ipiranga, zona sudeste da cidade. Os grupos de mulheres participantes foram Slam das Minas SP; Slam Luana Barbosa Presente; Slam Marginalia; Chica da Silva; Slam das Minas RJ; Camélias; Slam das Manas; Slam das Minas PE; Slam das Mulé; Dandaras do Norte; Slam das Minas BA; e Slam das Minas RS.
As idealizadoras e organizadoras do evento fazem parte do Slam das Minas SP – composto de Luz Ribeiro, Mel Duarte, Carolina Peixoto e Pam Araújo. O SLAM BR, campeonato que ocorre em São Paulo, e garante ao vencedor uma viagem a França, visto que a “Coupe du Monde de Poesie Slam”, que acontece em Paris e é promovida pela Federação Francesa de Poesia Slam, já tinha registrado participação feminina relevante em 2015. O campeonato tinha sete competidores homens e oito mulheres; no entanto, nenhuma conseguiu chegar até a final. Dali veio a ideia de ter uma competição específica para mulheres, segundo o Slam das Minas.
Podemos definir arte como a capacidade ou habilidade de expressar ideias, sentimentos e mensagens utilizando recursos externos ou o próprio corpo. A oferta de espaços para as pessoas expressarem sua arte tem transformado a vida de moradores da região do Grajaú, distrito localizado na zona sul de São Paulo. O centro cultural local oferece gratuitamente cursos de capoeira, boxe, ginástica aeróbica, afromix, capoeira para a terceira idade, pintura em tecido, pedraria, zumba, zuki e dança do ventre, entre outras atividades. A programação inclui oficinas na própria unidade, saraus, feiras de troca e shows nas proximidades. Existem funcionários remunerados e voluntários; os primeiros são contratados pela Se-
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cretaria Municipal de Cultura e o segundo grupo é composto de pessoas da própria comunidade. “Algumas pessoas iniciaram alunas e hoje são instrutoras. É o caso da oficina de teatro: alguns alunos já têm autonomia para desenvolver suas peças”, comenta Márcia Aparecida, monitora cultural que participa do Projeto Jovem Monitor, com duração de dois anos. “Realizava aulas de samba rock, deixei de ser sedentária e relembrei de alguns momentos de minha juventude”, diz Maria Lúcia Barbosa, de 47 anos, professora e moradora do Grajaú.
SERVIÇO Centro Cultural do Grajaú R. Prof. Oscár Barreto Filho, 252 – Parque América Horário: seg. a sáb., 9h a 20h; dom., 9h a 17h.
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ESPORTE E LAZER Aldeia do século XVI abriga Desafio ao Galo história do Brasil retorna após 23 anos EM CARAPICUÍBA
Raízes do esporte amador em SP são tratadas em campeonato, que segue até dezembro
Jonathan Paixão
Kathellen Gomes
Pré-Jogo do Desafio do Galo, cujo propósito é valorizar o futebol de várzea Leidinara Azevedo
Depois de mais de duas décadas de hiato, voltou à atividade o Desafio ao Galo – campeonato de futebol de várzea conhecido por ser um dos eventos de esporte amador mais populares da cidade de São Paulo. Popular entre as décadas de 1970 e 1990, foi responsável por revelar jogadores de elite que passaram no futebol profissional – e, também, nomes do jornalismo esportivo envolvidos em suas coberturas. O torneio de 2019 iniciou com salto no número de inscrições de clubes a cada semana. As partidas acontecem aos domingos no Estádio Ícaro de Castro Melo, o Estádio Olímpico do Ibirapuera. Podem competir times de bairros, equipes universitárias, times formados por empresas e grupos
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das comunidades. O formato da competição segue a linha de edições anteriores: na primeira fase, a equipe que ganha se torna o Galo e passa ser desafiada semanalmente por outros times definidos por sorteio. Ao fim da fase inicial, as equipes que mais se destacarem terão a oportunidade de disputar o Super Galo e definir o melhor time de futebol de várzea de São Paulo. A Secretaria de Esportes da prefeitura municipal deve realizar a primeira fase até setembro, e as rodadas finais se estendem até dezembro. O valor das premiações ainda não foi definido. O Expressão ouviu Pedro Paulo, jogador da Turma do Baffô do Jardim Clímax, que disputou o Desafio ao Galo no dia 5 de maio. O jogo terminou empatado em 1 a 1, mas a
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equipe do Jardim Clímax acabou sendo derrotada nos pênaltis para o Paredão de Esquina (de Osasco) por 6 a 5. “Participo de competições de várzea desde os oito anos e sempre ouvi meu pai contar histórias do campeonato que passava na TV toda semana”, diz. “A estrutura do Desafio ao Galo é muito profissional. Conheço histórias de pessoas que passaram por esse campeonato e se tornaram grandes jogadores de futebol”, diz Paulo, que tem entre seus ídolos Casagrande e Cafu. As partidas do Desafio ao Galo estão sendo transmitidas pela TV Gazeta todos os domingos, às 13h, com narração de Joseval Peixoto, que também atuou nas competições nos anos 1980 – quando o campeonato era transmitido pela TV Record.
Situada a cerca de 20 quilômetros da Praça da Sé, em uma das maiores cidades da Grande São Paulo, a Aldeia de Carapicuíba foi construída por jesuítas no ano de 1580; fez parte de um conjunto 12 aldeias espalhadas ao redor do mosteiro de São Bento, mas é a única que se manteve conservada até hoje. Naquela época, bandeirantes liderados por Antônio Raposo Tavares estavam à procura dos índios para os escravizar; por isso, o padre José de Anchieta resolveu criar locais para que pudesse lhes dar abrigo e proteção, além de catequizá-los. O local foi tombado como patrimônio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1940, ganhando ares turísticos ao longo das décadas. “Tem muitas excursões
escolares. Os índios guiam as crianças junto com os professores para que conheçam as ocas, é bastante educativo”, relata a moradora local Joyce Costa, de 34 anos. A Aldeia de Carapicuíba abriga uma igrejinha na praça com uma enorme cruz na frente, além de cerca de 20 casas da construção original que foram feitas com pedaços de taipas de madeira; algumas são até hoje ocupadas por famílias, enquanto outras deram espaços a oficinas, à Casa de Cultura, lugar onde estão abrigados artefatos indígenas, imagens e esculturas, e à Biblioteca Municipal, repleta de obras clássicas. Embora ainda tenha elementos da sua construção inicial, a Aldeia de Carapicuíba passou por diversas mudanças, como conta Alex Silva Costa, proprietário de um salão de beleza e mora-
dor de Carapicuíba há mais de 30 anos. “A prefeitura construiu uma grande avenida, criou parques e praças e também um shopping, e com isso aumentou o número de comércios”. Joice afirma que sente falta de mais comprometimento da prefeitura para cuidar do espaço. O mestre em História da Educação Brasileira pela PUC-SP e professor de história e filosofia da rede pública estadual da cidade de São Paulo Henrique Profili de Souza tem percepção semelhante. “É preciso realizar a manutenção do patrimônio histórico. Manter a memória viva e conservada é fundamental para que as pessoas tenham noção da escravização dos índios e de como até hoje eles sofrem e perdem suas terras”, avalia.
FISCALIZAÇÃO
Alojamentos esportivos entram na mira do governo Leonardo Cruz
No início do ano, o país presenciou uma das maiores tragédias do esporte nacional: o incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo, que resultou na morte de dez jovens das categorias de base do clube, um dos mais ricos do Brasil. A catástrofe acendeu o sinal de alerta da prefeitura de São Paulo, que intensificou vistorias nos alojamentos de clubes e prometeu multar e interditar, instalações fora das normas. Em março desse ano, das 249 agremiações registradas
na cidade, 109 foram notificadas para interromper quaisquer atividades em instalações usadas como dormitório que não estivessem com alvarás de funcionamento e segurança em dia. A força-tarefa da Secretaria de Esportes e Lazer impactou até os maiores clubes do estado: Corinthians e Palmeiras apresentaram irregularidades durante as vistorias, porém, sem perigos de incêndios ou de acidentes mais graves. Já o São Paulo chegou a fechar seu CT para reforma. No centro do risco ficam os jogadores, principais afe-
tados pela falta de estrutura nos alojamentos. “Passei por dois clubes do interior e encarei condições de vida bem ruins. Vivíamos sem luz porque a instalação era velha, móveis velhos, paredes com mofo e salários que, quando muito, pagavam a comida do mês”, relata o auxiliar de conteúdo Francisco Gilvane, 20. A má infraestrutura afeta o desenvolvimento técnico dos atletas. “Uma boa estrutura influencia sim. Quanto melhor a estrutura de um time, melhores os jogadores e o nível da equipe”, opina Gustavo Custódio, atacante de 22 anos.
CANTAREIRA
Parque oferece trilhas, natureza e vista da cidade Mirela Freitas
Com quatro núcleos, maior floresta urbana do mundo oferece roteiro diversificado
Mirante da Pedra Grande atrai turistas e moradores Mirela Freitas
Cansado da poluição sonora e visual da cidade grande? Querendo fugir do estresse após uma semana de longas jornadas de trabalho? O Parque Estadual da Cantareira, no Núcleo da Pedra Grande, é um dos locais ideais para apreciar os cantos dos pás-
saros, a musicalidade dos grilos, admirar a diversidade de borboletas e andar quilômetros, entre trilhas e asfalto, para conhecer o mirante que dá visão aos bairros da zona norte e ao Pico do Jaraguá. Com interação de várias espécies da fauna e da flora, o parque é uma unidade de conservação que
se espalha pelas cidades de São Paulo, Mairiporã, Caieiras e Guarulhos. Em 1994, 32 anos após sua inauguração, a Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluiu sua área de 7.916,52 hectares na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde. É a maior floresta urbana do mundo. Três núcleos, além do da Pedra Grande, fazem parte do parque: Águas Claras, Engordador e Cabuçu. Cada um dá acesso a trilhas com diferentes níveis de dificuldade. O ideal para quem quer conhecer esses caminhos é ir com roupas leves, preferencialmente com calças, em função do risco de picadas e do cansaço físico. Os visitantes podem se deparar com bichos raros e ameaçados de extinção.
A monitora ambiental do parque Juliana França aponta que esses espaços servem principalmente à contemplação da natureza; bicicletas, carrinhos elétricos, patinetes, patins e outros instrumentos do tipo não são permitidos. Piquenique, meditação, ler um bom livro, tirar fotos e praticar caminhadas também são atividades que combinam com o Parque da Cantareira. Para as crianças, existe um parquinho no lago das carpas, com acesso feito por trilha. Para Elizabeth Cayo, 67, moradora vizinha da unidade, o parque mantém seu estado natural e tem boa conservação. “Durante o mês de julho, em que o parque fica aberto todos os dias, aproveito para fazer trilhas e ficar olhando a pai-
sagem no mirante.” Em 2018, durante o salto nos casos de febre amarela no estado, o governo fechou o Parque Ecológico do Tietê, o Horto Florestal e o Parque da Cantareira como ação preventiva, após macacos terem sido encontrados mortos por contrair a doença. Por esse motivo, mesmo com o controle da febre amarela, é indicado que os visitantes estejam vacinados com antecedência mínima de 10 dias. Outro item aconselhável é o repelente, para evitar picadas indesejáveis de insetos. PARQUE DA CANTAREIRA – NÚCLEO DA PEDRA GRANDE Rua do Horto, 1799 – Horto Florestal – São Paulo/SP.
NO JOCKEY
Clube fortalece integração entre esporte e educação Caroline Freitas e Kathellen Gomes
Fundado em 1970, o Clube Pequeninos do Jockey tem como intuito a inclusão social de crianças e adolescentes por meio do esporte. A instituição oferece aulas de futebol gratuitamente a mais de 600 garotos das comunidades de Paraisópolis e Jardim Colombo, localizadas na região oeste de São Paulo. José Guimarães Junior, fundador do clube, dirigia na década de 1970 o time de futsal “joquianos”. Seu amor por crianças o fez ter a ideia de montar um time de futebol infantil para formar atletas para o mundo. As palavras-chave: educação e disciplina.
Kathellen Gomes
Hoje, o clube é o time da América Latina em sua categoria com maior número de títulos estrangeiros; ao todo, os prêmios já ultrapassam 2 mil conquistas, sendo 247 internacionais. Para ingressar na associação, o jovem precisa estar matriculado regularmente na escola, com notas boas e frequência assídua. No clube, há o acompanhamento do desempenho escolar – a cada dois meses, o boletim do jogador é conferido. As categorias de base do quatro aos dezesseis anos têm quatro aulas por semana. De olho nas oportunidades internacionais,
Treino do Clube Pequeninos do Jockey, na zona oeste também oferecidos cursos de inglês. Alguns jogadores que frequentam o Pequeninos do Jockey
pagam mensalidade; o valor é revertido em investimento e manutenção do local. Anteriormente,
a Prefeitura de São Paulo, por meio do projeto Clube Escola, investia financeiramente no Jockey – a
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parceria, no entanto, foi finalizada com mudanças na gestão municipal. Além do desempenho escolar, monitora-se a relação familiar dos jovens; cabe aos pais estar por perto e acompanhá-los sempre em eventos e campeonatos. Maron Guimarães, 15 anos, está desde os dois no projeto. “Eu nasci nesse lugar. Aprendo bastante com os profissionais e melhorou tanto como atleta e como pessoa”, conta. No clube, a maioria dos treinadores atua de forma voluntária. “O futebol é o maior instrumento de inclusão social que existe no país, por ser o maior esporte praticado”, diz José Gomes, há 34 anos no projeto.
EXPRESSÃO
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INFOGRÁFICO
Um dia no centrão Conhecido por seus edifícios históricos, o coração de SP tem atrações culturais combináveis em um passeio. O Expressão sugere, aqui, a rota para uma imersão nas origens da cidade Tiago Souza e Yago Rossetto Victor Hidalgo
Praça da Sé: marco zero de São Paulo
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O marco zero de São Paulo é a Praça da Sé (foto), onde ficam a Catedral Metropolitana e a mais movimentada estação de metrô da cidade.
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EXPRESSÃO
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Na sequência, a Caixa Cultural e o Museu da Cidade são paradas obrigatórias, logo antes do Museu Anchieta, no Pateo do Collegio.
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Contemplar o edifício Martinelli, o Mosteiro de São Bento e a Galeria do Rock não deve ser exclusividade de entusiastas de história e arquitetura.
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Uma refeição reforçada em uma das diversas opções da Praça da República te prepara para a caminhada até o Edifício Copan.
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A Biblioteca Mario de Andrade é um dos ícones mais emblemáticos do passeio, assim como o edifício Itália.
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O Theatro Municipal e o Viaduto do Chá finalizam o dia de caminhadas antes da entrada na estação Anhangabaú do metrô.