Expressão - Ed. 3 - 2020

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USJT

junho 2020

ano 27

edição 3

EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL

ESPECIAL - Págs. 6 a 9

NA LINHA DE FRENTE

Caixa de supermercado, agente funerário, policial, técnico em radiologia, enfermeira, comissária, entregador, coletor de lixo, motorista e jornalista: conheça a história de quem atua em serviços essenciais e segue trabalhando em benefício da sociedade, mesmo correndo perigo junho 2020

EXPRESSÃO

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CAR@ LEIT@R

#INSTANTÂNEO

PONTO DE VISTA

Texto e foto: Gabriella Martins

Bastidores da Covid-19 na Itália O relato da jornalista Janaina Cesar, que é formada pela USJT e atua como correspondente no país

Uma ida rápida ao supermercado, para evitar aglomerações. Depois basta chegar em casa, tomar um bom banho, pedir uma pizza por um aplicativo e ligar a TV para assistir ao jornal. Enquanto isso, o caixa que nos atendeu no supermercado, o entregador da pizza e o jornalista que aparece na nossa telinha continuam correndo risco de se contaminar com o novo coronavírus. Ao lado de outros trabalhadores, eles fazem parte dos profissionais que atuam em serviços essenciais nesse momento da quarentena imposta pela Covid-19. Muitos de nós, alunos e professores que produzimos o Expressão, conhecemos colegas e fa-

miliares nessa situação e, sensibilizados, resolvemos fazer uma homenagem, em nosso Especial, contando a história dessas pessoas e um pouco de seu dia a dia nessa batalha pela vida. Ainda oferecemos ao leitor uma entrevista com a jornalista Janaina Cesar. Formada pela Universidade São Judas, Janaina é correspondente na Itália e testemunhou todos os desafios passados por aquele país, que foi o segundo epicentro da doença no mundo. Há ainda outras reportagens interessantes, que vão ajudar o leitor a se informar e se distrair nesse período de isolamento social. Boa leitura! Os Editores

EXPRESSÃO

Janaina Cesar

Erika Pardi e Gabriella Brito

Desrespeito à quarentena No dia 24 de março começou oficialmente a quarentena nos 645 municípios do estado de São Paulo. A medida permite o funcionamento apenas dos serviços essenciais, para conter o avanço do novo coronavírus. No entanto, os índices de isolamento no estado ficaram abaixo de 55%, até o fechamento dessa edição, quando o ideal para controlar o vírus seria 70%. E com a liberação do auxílio emergencial pelo governo federal, muitas agências da Caixa Econômica Federal, como esta da avenida Ragueb Chohfi, no Jardim Três Marias (zona leste), tornaram-se pontos de aglomeração de pessoas.

#FICA A DICA

“Explicando” traz episódio sobre a Covid-19 Reprodução

Jornal universitário do 4º ano de Jornalismo junho 2020 • ano 27 • edição 3 Chanceler Dr. Ozires Silva

Supervisora de estágio, projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP

Reitora Mônica Orcioli Coordenador dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof. José Augusto Lobato Supervisores de estágio e jornalistas responsáveis Prof. Juca Rodrigues MTB 17.428 Prof. Moacir Assunção MTB 21.984 Prof.ª Patricia Paixão MTB 30.961

coronavírus

Plataforma: Netflix Duração: 26 minutos Ano: 2020

Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas

Erika Pardi Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT

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Série: Explicando Episódio: Explicando o

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“Explicando o coronavírus” é um episódio da série “Explicando”, da Netflix, que mostra como a Covid-19 se tornou uma pandemia. O documentário destaca como diversos governos ao redor do mundo desprezaram o novo vírus e duvidaram de sua capacidade

letal. Aponta também as consequências dessa atitude. O governo brasileiro é citado como um dos que questionaram o potencial do vírus. Em termos de número de mortos, uma pandemia pode competir com as maiores guerras do passado. Na série, especialistas explicam como um vírus como esse pode

surgir e se espalhar tão rapidamente, e como ele age no nosso organismo, da contaminação, passando pelos primeiros sintomas, até chegar aos casos mais graves. Eles comparam a Covid-19 com diversas doenças que assombraram a humanidade no passado e que também foram causadas por vírus zoonóticos (que passam do animal para os seres humanos,

por meio da alimentação). O episódio destaca como a colaboração e a empatia são essenciais para o momento presente e para o “atraso” da doença, até que se encontre uma vacina eficaz. O documentário leva o espectador a refletir sobre a conduta do ser humano nos dias atuais. Ensina sobre como precisamos evoluir para entendermos que a gravidade de tudo o que vem acontecendo poderia ser evitada com mais respeito à vida, afinal, na maioria das vezes, esses vírus surgem exatamente por causa da forma irresponsável como lidamos com o meio ambiente.

Ela se formou em jornalismo na Universidade São Judas no ano 2000. Hoje atua como correspondente na Itália, país que foi um dos epicentros da pandemia do novo coronavírus, ficando na mira de olhares do mundo todo, pelas centenas de mortos diários que contabilizava. Janaina Cesar, 45, mora em Bassano del Grappa, no norte da Itália, e trabalha como freelancer para diferentes veículos há 15 anos. Em 20 de março, fez uma entrevista para o jornal O Estado de S.Paulo, com o renomado sociólogo Domenico de Masi, na qual o analista destaca o dilema do governo italiano entre salvar vidas e a economia. Janaina assistiu a todas as fases da evolução da Covid-19 naquele país: da negação, por parte de alguns governantes, ao lockdown (bloqueio total, para garantir o isolamento social e evitar o espalhamento do vírus). Nessa entrevista, ela conta um pouco do que presenciou. Expressão - Quando foram registrados os primeiros casos do novo coronavírus na Itália, em 31 de janeiro de 2020, qual foi a reação das pessoas? Elas levaram a sério? Na verdade, não. Ainda era algo distante da realidade daqui (da Itália). Muita gente pensava: “A China é longe, não vai chegar aqui nunca!” Poucos estavam levando a sério. O primeiro caso foi o de um homem de 35 anos, que conseguiu se curar e sair do hospital. Teve também o de um senhor de 78 anos, que acabou falecendo. Mas esses casos iniciais não chegaram a alarmar a população. A Itália já foi um dos epicentros da doença, perdeu mais pessoas que a China, onde tudo começou e até hoje registra diariamente muitos mortos. Na sua opi-

“A China é longe, não vai chegar aqui nunca!"

Janaina após uma de suas coberturas nião, quais foram os principais equívocos por parte do governo italiano e por parte da população? Mesmo quando apareceram os primeiros casos, o governo não levou muito a sério. Apesar de alguns políticos já pensarem em decretar quarentena, poucos queriam isso. E nesse tempo em que se decidia o que fazer, os casos iam aumentando. Houve duas semanas de briga entre o governo executivo de Roma e os governos dos estados. Primeiro 11 cidades foram fechadas. As escolas, comércios e a entrada e a saída delas foram bloqueadas. Depois disso, as regiões começaram a fechar, os aeroportos foram bloqueados e, então, veio o fechamento em nível nacional. Mas essa demora prejudicou, fez com que o vírus não fosse contido. No dia em que o país inteiro ficou em restrição, as pessoas fugiram para ir para o sul da Itália. Havia filas na estação de trem. Isso porque muita gente mora no sul e vem pra cá para trabalhar. Mas como as fábricas e os escritórios aqui estavam fechados, as pessoas resolveram voltar para o sul. Por conta disso, muita gente assintomática foi pra lá e levou o vírus. Antes disso, havia poucos casos no sul do país. Na região de Nápoles os casos aumentaram 5%.

“A verdade é uma só: o vírus existe, tem um grau de contaminação grande e é mais perigoso do que outras doenças.” Sabemos que você está fazendo a cobertura da quarentena. Como você tem feito para trabalhar? Quais medidas de segurança você tem tomado? Eu trabalho muito de casa. Quando preciso sair, pra pegar o depoimento de alguém, por exemplo, eu vou coberta, coloco máscara, luva, fico distante. Tento tomar as medidas de proteção. Você viveu alguma situação um pouco mais arriscada, como entrevistar pessoas em hospitais? Uma vez eu precisei ir a um hospital entrevistar o diretor dele. Tive que me cobrir um pouco mais, pois me sentia desprotegida, mesmo com máscara e luva. Então eu lembrei que as pessoas no hospital estão sempre com o cabelo bem preso e recolhido, e aí não tive dúvida. Fiz um coque no cabelo, coloquei uma touca descartável na cabeça e fui fazer a entrevista. Qual é a sensação hoje ao andar pelas ruas da cidade onde você está? (na época em que essa entrevista foi feita, a cidade onde Janaina vive ainda estava totalmente bloqueada) É um paradoxo. Ao mesmo tempo que você fica se sentindo perdida, porque você não está acostumada ao vazio, você começa a ouvir o barulho do silêncio. É muito louco, porque até então eu não sabia que o silêncio tem um rumor. Você começa a ouvir o vento que bate na árvore, o som das folhas, o passarinho cantando às 3h da manhã. Tinha um pica-pau outro dia aqui batendo no tronco. São os sons da natureza. A gente se esquece de ter esse contato. Só tivemos a

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oportunidade de ouvir isso porque está todo mundo em casa. Como os italianos estão enxergando o Brasil, em especial a atitude negacionista do governo Bolsonaro? Soubemos que a embaixada da Itália no Brasil pediu que os cidadãos de seu país voltem imediatamente à Itália. As pessoas estão chocadas ao ver como o Brasil está reagindo. Essa política negacionista vai acabar fazendo mal pra muita gente, muitos podem morrer. A verdade é uma só: o vírus existe, tem um grau de contaminação muito grande e é mais perigoso do que outras doenças. Você gostaria de deixar alguma mensagem para o público do Expressão? São duas mensagens. A primeira é para os leitores do jornal. Diante dessa pandemia, não tem outra coisa a fazer além de ficar em casa. Respeitem a quarentena! É a única forma de parar com a difusão da doença. A segunda, é para quem está fazendo faculdade de jornalismo na USJT, como um dia eu fiz: siga seus sonhos. Se vocês realmente acham que o jornalismo é o que vocês querem, não se deixem abater pela primeira porta na cara que vocês tomarem, pelo primeiro “não” que receberem. Isso acontece com todo mundo. Eu sei que muitos dizem que você precisa da indicação de alguém para trabalhar na área, mas o mundo não é só assim. Eu sou a prova disso. Nunca tive indicação de ninguém. Sempre arregacei as mangas e fui atrás dos meus trabalhos por conta própria. Posso dizer que cheguei a um nível bom de reconhecimento profissional e nunca tive ninguém pra me abrir estrada. Tudo o que eu tenho é mérito meu. Eu sempre digo que quando você tem uma proposta de pauta, ou vai fazer algum trabalho, o máximo que pode acontecer é que te digam “sim”, porque o não você já tem. Então não pode se deixar abater. O jornalista tem que ter duas coisas principais: não ter vergonha de fazer perguntas e dar a cara pra bater. Fechou uma porta, abre outra. Sejam destemidos. Abracem o mundo. Com proteção sim, mas encarem os desafios. EXPRESSÃO

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

SONHOS INTERROMPIDOS

Inteligência emocional é antídoto para efeitos da quarentena

Intercâmbio em tempos de pandemia Herbet Melgaço

Pegos de surpresa pelo novo coronavírus, estudantes que estão em outros países relatam dificuldades e adaptações

O isolamento social pode ser um gatilho para a fragilidade emocional Alaíde Colafati e Danielle Vieira

Inteligência emocional é um conceito presente na psicologia neurocognitiva criado pelo psicólogo estadunidense Daniel Goleman. É a capacidade de conhecer e avaliar sentimentos próprios e do próximo. “Um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar as suas emoções e, deste modo, controlá-las com

maior facilidade”, explica Julia Azem, 22, psicóloga com ênfase em clínica comportamental e cognitiva. De acordo com Júlia, o isolamento social, recomendado pelo governo devido à epidemia da Covid-19, é uma situação fora da nossa natureza. “Devemos lembrar que é necessário para o ser humano ter contato com o outro. Faz parte da nossa cultura manter uma aproximação social, um contato fí-

sico. Daí a dificuldade de nos adaptarmos”, destaca. Para minimizar os efeitos do isolamento, a psicóloga afirma que é preciso estabelecermos uma comunicação clara com as pessoas com as quais convivemos em casa. Assim poderemos compreender melhor o que está acontecendo conosco e com os que estão ao nosso lado. Também é importante mantermos uma rotina e realizarmos, nos tempos livres, atividades que nos deem prazer: “Precisamos ter momentos voltados à preservação da saúde mental. A cada atividade que eu fizer para a faculdade ou para o trabalho, eu devo fazer alguma outra que me traga alegria. Pode ser tocar um instrumento, brincar em um jogo ou assistir a um episódio de uma série”. O isolamento social pode ser um gatilho para ter as emoções fragilizadas, em especial no caso

da comunidade acadêmica, que precisa seguir com suas obrigações nas aulas online. Raíssa Dorigo, 21, estudante de medicina veterinária na Universidade São Judas (USJT), explica como a parada forçada foi difícil. “Eu sou uma pessoa acostumada com uma rotina. Quando muda, bagunça tudo.” A jovem conta que alguns colegas estão sofrendo dificuldades com as aulas a distância. “Às vezes você não tem internet ou então acaba a bateria do celular e você pode perder a aula ou partes importantes dela. Eu consigo assistir, mas muita gente da minha sala não”, relata.

três horas para ir à faculdade e três horas para voltar. Pra repassar o conteúdo no trem é complicado, porque tem muito barulho e muita gente. Agora, no modo a distância, estou conseguindo ter melhor aproveitamento”. A professora dos cursos de Comunicação da USJT, Maira Mariano, conta que vem aproveitando o isolamento para descobrir novas maneiras de lecionar. “Sempre tive a semana tão atribulada, os dias sempre foram supercorridos - com hora exata para tudo, minutos contados pra sair de uma escola e chegar à outra - que não me incomodei com a mu-

dança. Minhas filhas têm adorado a companhia da mãe, 24 horas por dia. E eu também estou aproveitando", relata. Nos últimos anos, o Brasil sofreu um aumento na taxa de ansiedade. Segundo dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS), o país tem o maior índice de casos no mundo, 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. Por isso é importante nos cuidarmos neste período da quarentena. E, caso necessário, vale procurar a ajuda de um profissional que possa atender a distância.

LADO POSITIVO

Em contrapartida, outros estudantes conseguem ver um lado positivo no isolamento. É o caso de Nathália Gabrielly, 20, discente do curso de enfermagem da USJT: “Levo

CINCO COMPONENTES QUE MOSTRAM QUE VOCÊ TEM IE • • • • •

Empatia Motivação Autorregulação Autoconsciência Habilidades sociais

Pixabay

Arquivo pessoal

É importante controlar as emoções, ter empatia e manter uma rotina, incluindo atividades de lazer

Fonte: Daniel Goleman

Gamificação é alternativa para prender a atenção dos alunos Prender a atenção de estudantes nunca foi tão difícil como agora. Com o avanço tecnológico, cada vez mais pessoas passaram a desempenhar diversas tarefas em um menor espaço de tempo. De acordo com um estudo realizado pela Microsoft no Canadá (divulgado em 2015), envolvendo 2 mil

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pessoas, o intervalo médio de atenção dos seres humanos caiu de 12 para 8 segundos, do ano 2000 para 2013. A cada dia surgem metodologias ativas e processos de ensino, ancorados em diferentes tecnologias, que buscam atrair o aluno, colocando-o como agente responsável pelo seu aprendizado, para que ele possa participar ativa-

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mente da construção do conhecimento, mantendo um grau de concentração. Uma dessas metodologias é a gamificação (ou ludificação), que usa mecânicas e características de jogos no aprendizado de um tema a ser estudado. Esse método busca um maior engajamento do aluno com a atividade e facilita o processo de avaliação pelo professor, no

sentido de identificar se o estudante assimilou o conteúdo lecionado. NOVA METODOLOGIA Com a pandemia do novo coronavírus e as aulas online, a gamificação se tornou ainda mais importante. A professora Gisele Nogueira, do Colégio Rio Branco, em Higienópolis, vem aplicando essa metodologia. “Fizemos uma

simulação utilizando ferramentas do Google. Foi entregue um roteiro com as orientações, e um formulário com atividades que deveriam ser cumpridas. Essas atividades estavam engajadas na narrativa do Mito da Caverna de Platão. Cada atividade entregue levava a uma nova pista”, explica Gisele. Perguntada a respeito do emprego do método no

Isadora Bispo e Larissa Fagundes

Estudantes de diferentes locais do planeta tiveram o sonho de ter uma experiência em outro país adiado por conta da pandemia da Covid-19. Há também aqueles que tinham acabado de começar seu intercâmbio em outra nação

e tiveram que se adaptar a uma realidade totalmente inesperada. A criadora de conteúdo, Fernanda Rebello, 25, chegou em Dublin (Irlanda) em 12 de março, um dia após a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificar como pandemia a disseminação do novo coronavírus. Nes-

sa data, o governo irlandês anunciou o fechamento de todas as escolas, gerando desespero entre os moradores e o esvaziamento de parte das prateleiras nos supermercados. “Eu imaginei todos os perrengues e obstáculos que iria ter nessa viagem, menos isso”, desabafa Fernanda.

MUDANÇAS NAS AULAS

As aulas online estão sendo a solução para manter os estudos durante a pandemia. Com

a carga horária igual à das aulas presenciais, os intercambistas usam tecnologias de videoconferência para acompanhar o conteúdo e visualizar os colegas de classe. A jornalista e professora universitária Jaqueline Lemos, 52, chegou em Londres no dia 1º de março e teve aulas presenciais por três semanas. "Com aulas presenciais, eu tinha uma rotina intensa. Acordava cedo, pegava metrô para ir à escola, voltava pra casa, fazia comida e dormia. Foco total nos estudos." Porém, no dia 20 de março, o governo britânico recomendou o isolamento e a intercambista recebeu um comunicado da sua escola informando que as aulas passariam a ser online. Jaqueline conta que, após três semanas de quarentena, só saiu de

casa três vezes para fazer compras. “Eu tinha expectativa de conhecer o Reino Unido e outros países da Europa nesses seis meses, mas acredito que essa parte não vou viver”, lamenta. Mesmo com uma procura menor, as agências de intercâmbio continuam com os planejamentos para quem pretende fazer uma viagem a longo prazo. Muitas empresas envolvidas (agência, escolas, acomodações, cias aéreas e de seguro viagem) estão engajadas para resolver os problemas dos alunos. “Primeiro recomendamos que as pessoas não entrem em pânico. Caso essa situação se prolongue, remarcaremos a viagem sem custo adicional para o cliente”, informa André Guimarães, diretor e fundador da Wanderlust Intercâmbios.

DESAFIOS DA QUARENTENA

ENSINO POR GAMES Pasquale Augusto Di Salvo

Em Londres, Jaqueline Lemos teve seu curso adaptado para as aulas online

Fazer a documentação para trabalhar no país também se tornou um obstáculo, uma vez que a imigração e todos os estabelecimentos não essenciais foram fechados por tempo indeterminado. Os estudantes que já estavam trabalhando receberam ajuda do governo para se manter por dois meses durante a crise, porém, com a entrevista do visto marcado para o início do mês de abril, Fernanda não teve a mesma oportunidade. “Espero que as escolas reabram em junho e que eu consiga fazer meus documentos para procurar um emprego e me manter aqui”, completa.

ambiente acadêmico, a professora opina: “Acredito que seja muito válido, pois a proposta garante engajamento e o desenvolvimento de habilidades e competências muito bem-vindas na formação profissional”. Mas ela faz uma ressalva: “O professor precisa desenhar uma estratégia de forma a relacionar a atividade com o tema da aula".

TCC a distância gera preocupação em universitários Camila Borges e Ana Soares

O Estado de São Paulo está em quarentena desde o dia 24 de março e, para evitar o avanço do novo coronavírus, impedindo aglomerações e deslocamentos, universidades públicas e privadas de todo o país aderiram às recomendações do Ministério da Saúde e suspenderam as aulas presenciais. Com isso, universitários dos mais variados cursos precisaram mudar a rotina e enfrentam empecilhos para manter o ritmo dos estudos a distância.

Considerada por muitos estudantes como a fase mais dura da graduação, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), requisito obrigatório para obter o diploma, normalmente costuma gerar estresse. Em tempos de pandemia então, realizar o TCC tem sido ainda mais angustiante. Aluna do último ano de jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, Beatriz Ferreira, 22, enfrenta sozinha a etapa de elaboração de seu livro-reportagem, cujo tema aborda os impactos dos erros médicos na vida de pacientes infan-

tis e seus familiares. Para a discente, a maior dificuldade é lidar com as dúvidas que surgem durante o desenvolvimento do projeto. “A falta de contato direto com o orientador retarda um pouco o processo do trabalho”, comenta. Everton Diniz, 25, estudante do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade São Judas, também relata que as medidas de isolamento têm causado complicações nesse período. Segundo Diniz, sua turma possui cerca de 100 estudantes e os TCCs desenvolvidos variam entre questões urbanas e projetos

arquitetônicos. “No meu caso, escolhi urbanismo porque eu amo. Vou trabalhar sobre transposições dos trilhos de trem na Lapa e aí precisamos fazer visita de campo, entrevistas, tirar foto e conversar com moradores. Essa tem sido a nossa maior dificuldade”, explica. BOM SENSO

De acordo com Everton, a universidade está ciente da problemática e determinou que neste semestre os estudantes não terão rebaixamento nas notas por conta do comprometimento na pesquisa de

Arquivo pessoal

campo. “Conversamos com a coordenação e eles deixaram de exigir essa parte agora, porque não tem cabimento a gente sair pra fazer visita técnica.” A situação é semelhante para Beatriz, que depende de entrevistas e pesquisas para a construção de seu livro. “Tenho colegas que já estão trabalhando com a hipótese de mudar o tema ou até mesmo o produto final”, afirma a estudante.

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Everton entregando um projeto antes da pandemia EXPRESSÃO

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ESPECIAL • NA LINHA DE FRENTE

ESPECIAL • NA LINHA DE FRENTE

O transporte não pode parar!

“Os entregadores são essenciais nesse momento”

Em contato direto com passageiros, motorista conta com o bom senso da população

A vulnerabilidade dos profissionais que atuam fazendo entregas por aplicativo

SONHO

Ingrid Jesus de Paiva, operadora de caixa nicole matos

Ingrid Jesus de Paiva, 23, moradora da zona leste, trabalha há sete meses como operadora de caixa no Hipermercado D’avó, no bairro Vila Industrial. Com a pandemia do novo coronavírus, sua rotina mudou completamente.Ingrid mora com o esposo, a filha de 4 anos e com os sogros, que fazem parte do grupo de pessoas que correm mais risco, caso venham a contrair a doença. “Por morar com eles, me preocupo muito, mas é difícil manter distância, então adotamos alguns hábitos: temos álcool em gel em todos os cômodos, limpo o chão com mais frequência e, quando eu chego do ser-

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viço, tiro meu sapato na porta, coloco meu uniforme para lavar e vou direto para o chuveiro”, explica. No ambiente de trabalho a prevenção acontece por meio do uso de luvas. A utilização de máscaras fica a critério do colaborador. “Eles forneceram as luvas e colocaram um vidro na nossa frente para não termos contato direto com o cliente, mas não resolve muito porque as laterais continuam abertas, sem proteção.” O hipermercado disponibiliza álcool em gel em vários pontos do estabelecimento. “No refeitório, eles interditaram duas das quatro cadeiras que compõem as mesas para alimentação, dei-

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Ingrid sente que sua rotina ficou mais puxada. “Tá sendo bem estressante, cansativo. O psicológico já está no limite, me sinto vulnerável, sabe? Mas eu não posso colocar muita coisa na minha cabeça em relação à doença, porque eu preciso trabalhar.” Na família dela, o tio e a esposa testaram positivo para a Covid-19. “O caso do meu tio é bem delicado, ele foi internado direto na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Estamos muito abalados. Todo mundo está na expectativa de que tudo dê certo e ele fique bem.” O sonho de Ingrid é um dia poder atuar como enfermeira, outra profissão que lhe colocaria numa situação de vulnerabilidade em relação ao vírus. Mesmo assim, ela afirma que se sentiria mais realizada.

Raphael ponce

“Lugar de repórter é na rua”, bem disse Ricardo Kotscho, um dos principais nomes do jornalismo brasileiro, com mais de cinco décadas de carreira. Desde seu surgimento, a profissão de jornalista é tida como essencial, já que o repórter vai a lugares em que a sociedade nem sempre consegue estar, sendo os olhos e os ouvidos dos cidadãos. Agora, em plena pandemia de um vírus que mata milhares, não seria diferente. O paulistano Eduardo Rodrigues, 27, repórter e apresentador da EPTV, afiliada da Rede Globo em Campinas e região, ouviu muitas vezes o mantra de Ricardo Kostcho nas aulas de jornalismo que teve na FAPSP (Faculdade do Povo) e, nesse momento, o coloca em prática, com um empenho ainda maior. “Meu papel é levar a notícia à população e sei o quanto isso é importante”, destaca Eduardo, que trabalhou em outras emissoras afiliadas da Globo (além do SBT) e que em 2015 ganhou um prêmio oferecido pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (que teve como tema o “Acesso a informação e cidadania”) por uma reportagem que denunciou atitudes abusivas contra idosos.

Arquivo pessoal

xando uma em cada ponta. Os copos e talheres agora são descartáveis”, diz Ingrid. Com a quarentena, o movimento no supermercado aumentou. As filas têm ficado longas e Ingrid percebe que muita gente busca estocar comida. Alguns produtos de limpeza estão em falta e álcool em gel é raro de ser encontrado: “Quando chega no mercado, logo acaba”.

Eduardo Rodrigues, repórter

Dentro da redação, a rotina de Eduardo mudou bastante. Ele e seus colegas seguem a orientação de evitar aglomerações (em rodas de conversa, por exemplo) e ficar o menos possível no recinto. A comunicação entre os funcionários da emissora tem sido feita mais por telefone, aplicativos de celulares e via chamada de vídeo, cada um em seu departamento. Na rua há também procedimentos a serem seguidos. “As reportagens são feitas sempre com a mesma dupla (cinegrafista e repórter), todos usam máscara e sempre estamos passando álcool em gel”, explica. Outra mudança diz respeito aos entrevistados. Eles possuem um microfone próprio que é

higienizado antes e após o uso. O “povo fala” (entrevista realizada com diferentes pessoas na rua, quando se quer obter uma opinião rápida) é feito com uma distância segura entre repórter e entrevistado. Como se não bastassem os riscos a que estão expostos, os jornalistas têm enfrentado agressões por parte de pessoas que acreditam em fake news e em governantes que minimizam os riscos da Covid-19, propalando a ideia de que a mídia está manipulando a população: “É um momento muito complicado, de muita hostilidade. A pandemia reforçou o posicionamento de grupos políticos extremistas e temos sentido isso na pele. É preciso ter muita paciência.”

Milena Matos

Diferentemente dos que têm a chance de trabalhar de casa, os motoristas e cobradores do transporte público continuam na rua nos sete dias da semana e em todos os períodos: manhã, tarde, noite e até de madrugada. O setor é um dos serviços essenciais estipulados no Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020, publicado por conta da pandemia da Covid-19.

“Ônibus e lotações não são como o metrô e o trem em que o maquinista não tem contato algum com os passageiros”, destaca Leandro Ayres, 32, motorista de ônibus da linha 4310 Itaquera - Parque Dom Pedro. Ele relata como está sendo difícil trabalhar nesse momento: “Tanto eu como o cobrador temos contato direto com todos os passageiros no momento em que eles entram e depois quando passam na catraca. Não sabemos se todos estão se prevenindo. Temos que contar com o bom senso da população”. A orientação é que a cada viagem, do ponto de partida ao final, os ônibus sejam higieniza-

Emanuel Ferreira Junior e Gleidson Silva, entregadores Arquivo pessoal

Risco permanente e hostilidades marcam cotidiano de repórter na pandemia

dos, mas isso não tem acontecido em todas as linhas, por conta da diminuição da frota. “Os ônibus estão partindo lotados e, quando chega no ponto final, a fila para o próximo já está enorme. Eu e meus colegas estamos tomando os devidos cuidados, usando máscaras e luvas, e evitando falar com os passageiros.” Também por conta da diminuição da frota, alguns profissionais foram afastados do serviço. Outros não estão trabalhando por pertencerem ao grupo de risco da doença. Em 20 de maio, um levantamento da revista Época mostrou que a Covid-19 havia matado 79 motoristas e cobradores de ônibus em todo o país. São Paulo tinha (até aquela data) mais de 500 profissionais do setor suspeitos de ter contraído a doença.

Brenda Lima

Durante a quarentena, com restaurantes e praças de alimentação de shoppings fechadas, aumentou bastante o número de pedidos de refeições via aplicativos. Esse crescimento acaba por colocar em risco as pessoas que fazem essas entregas, mas, diante da necessidade de manter as contas em dia, muitos trabalhadores que atuam em outras áreas resolveram ir para esse ramo. É o caso de Emanuel Fer-

reira Junior, 43, que trabalha para o aplicativo Rappi. Ele é coordenador de Operações de Logística e resolveu atuar no app para obter uma renda extra. “São muitas despesas e a minha esposa teve o contrato de trabalho suspenso por conta da quarentena”, explica. Emanuel conta que nos seus dois trabalhos são oferecidos máscaras e álcool em gel e que ele segue alguns procedimentos para garantir a proteção de sua família. “Quando chego da

rua, vou direto para o banho, sem interagir com ninguém da casa”, diz. Ele vê as entregas por aplicativo como uma esperança para muitos nesse momento de crise: “Falta trabalho para a população, então é uma oportunidade”. Gleidson Silva, 34, trabalha para a Rappi e para a Uber Eats. Ele sente medo de se contaminar, mas precisa fazer entregas para sustentar a família. Gleidson lamenta o fato de seu serviço nem sempre ser valorizado: “Os entregadores são essenciais neste momento e nem todo mundo tem consciência disso”.

“Se eu ficar em casa, as contas vão atrasar” Motorista de aplicativo se arrisca em corridas para hospitais, supermercados e farmácias João Victor e Nicole Matos Robinson Capelasso, 47, é motorista dos aplicativos Uber e 99 Pop. Ele trabalha na área há três anos e essa é a sua única fonte de renda. Robinson faz parte do grupo de risco do novo coronavírus: é diabético e tem pressão alta. Ficar em casa, para ele, não é uma opção. “Tenho muito medo de me infectar, mas preciso trabalhar. Se eu ficar

em casa, todas as contas vão atrasar”, desabafa. A categoria é considerada essencial e uma das mais expostas ao vírus. Segundo o motorista, o movimento caiu cerca de 90% com a quarentena. Por conta disso, fica difícil recusar as poucas corridas recebidas. O destino dos passageiros é semelhante: hospitais, farmácias e supermercados. A orientação da Uber é

que os passageiros sentem-se no banco de trás, que o ar condicionado permaneça desligado e as viagens só sejam feitas com os vidros abertos. Se o motorista ou passageiro tossir ou espirrar, ele precisa levar o antebraço até a boca ou nariz. “Eu não tenho convênio. Se eu me infectar, a Uber e a 99 só vão lamentar, como acontece com os as-

saltos seguidos da morte do motorista do aplicativo. Só isso”, diz. Robinson completa que a única ajuda que a 99 e a Uber estão oferecendo é na compra de álcool em gel: “Você compra, tira foto da nota fiscal e a empresa te oferta 20 reais”. Em matéria divulgada no portal UOL, a 99 informou, por intermédio de uma nota, que tem

um fundo internacional de US$ 10 milhões para propor uma ajuda financeira aos motoristas. “Para calcular a quantia, a 99 vai analisar a média dos ganhos diários do motorista no período entre setembro de 2019 e fevereiro deste ano”, diz a nota.

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Arquivo pessoal

A operadora Ingrid Jesus de Paiva teve que mudar sua rotina

Leandro Ayres, motorista de ônibus

Arquivo pessoal

“Meu papel é levar a notícia à população, isso é importante”

Nicole Matos

No caixa do supermercado o risco é constante

Arquivo pessoal

O cotidiano de diferentes profissionais que estão na linha de frente na luta contra a Covid-19

Robinson Capelasso, motorista de aplicativo

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ESPECIAL • NA LINHA DE FRENTE

ESPECIAL • NA LINHA DE FRENTE

“É gratificante auxiliar na detecção da doença”

“Nunca perdi tanto o sono na minha vida”

Com a irmã e o filho com Covid-19, a enfermeira Nucivania fala sobre sua rotina no Hospital Alvorada

Técnico de radiologia atua em um hospital que só cuida de vítimas da Covid-19

Profissional da área funerária testemunha o sofrimento das famílias que não podem se despedir de seus entes queridos

Fotos: Matheus Matos

“Fiz um juramento e vou até o fim”

Enfermeira Nucivania Matos da Silva Bianca Machado

"Me deu uma vontade de chorar hoje, com tanto paciente com coronavírus. Meu Deus...", desabafou a técnica de enfermagem Nucivania Matos da Silva, 49, em mensagem escrita para o filho Matheus no WhatsApp. Com a pandemia da Covid-19, seu trabalho no Hospital Alvorada, no bairro de Moema, zona sul, ficou bastante

difícil. A enfermeira está na linha de frente contra o vírus, cuidando de pacientes com diagnóstico positivo e dos que estão com sintomas e aguardam o resultado do exame. "Escolhi por amor, sem amor nada anda", conta Nucivania sobre sua decisão de seguir a enfermagem. Há 27 anos na profissão, desde os 13 ajudava a mãe a cuidar de enfermos no municí-

pio de Antas, na Bahia.Já lidou com diferentes tipos de pacientes, como leprosos, doentes de H1N1 e tuberculosos. Mas agora, com a alta velocidade de transmissão e a letalidade do novo coronavírus, tudo parece assustador. "Estou mais tensa, preocupada tanto com pacientes quanto com profissionais", diz. A irmã de Nucivania (Niralda, 60) também é da área da saúde e pertence ao grupo de risco por ter diabetes e pela idade. Ela trabalha no Hospital Ipiranga e foi contaminada com o coronavírus. O filho Matheus, 26, também foi confirmado com a doença. Mesmo com tantos desafios e riscos, em nenhum momento a enfermeira pensou em desistir da profissão: "É a minha missão. Eu tenho um juramento, e vou até o fim."

Thaís Teixeira

Lucas Agutoli Montalvan, 25, técnico em radiologia, é funcionário do Hospital Intermédica ABC, localizado em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Lá, 90% dos pacientes infectados pelo novo coronavírus estão em estado grave, sedados ou intubados. O local só atende pacientes com Covid-19. Montalvan trabalha dois dias da semana na unidade, cumprindo 12 horas em cada plantão. Realiza exames de imagens como raio-x do tórax, para averiguar o estado do pulmão, e a tomografia, que é o segundo exame mais solicitado pelos médicos, para comprovar a contaminação por coronavírus. “Não vejo o paciente como uma doença, e sim

Lucas Agutoli Montalvan, técnico em radiologia

como um ser humano. Trato-os como se fossem meus familiares”, diz. Montalvan adotou todos os protocolos de prevenção sobre como atender os pacientes contaminados: “Quando chego ao hospital, solicito uma vestimenta que chamamos de 'privativo'. É um traje normalmente utilizado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou no centro cirúrgico, mas, como só atendemos casos de Covid, todos os funcionários usam. Quando chego ao setor, realizo a higienização das mãos e, em seguida, coloco a máscara N-95 (contra aerossóis), específica para esses casos.”

O maior medo de Montalvan é contrair a doença e acabar contaminando pessoas do grupo de risco com as quais ele tem contato. No mais, o técnico se sente orgulhoso do seu trabalho: “É gratificante auxiliar na detecção da doença. Sabemos que quanto antes a Covid-19 for diagnosticada, melhor é para o paciente. Nosso serviço é mais um de muitos para trazer um final feliz aos internados”.

“A saúde de milhares depende do que fazemos” Coletores de resíduos hospitalares têm se sentido mais valorizados Anna Carolina Afonso

Fernando Florêncio, motorista, e Edson Ferreira dos Santos, ajudante

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Fernando Florêncio, 40, trabalha como motorista na empresa Br Gestão Ambiental, que diariamente faz coletas de resíduos hospitalares em diversos pontos da capital paulista. São considerados resíduos hospitalares, dentre outras

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coisas, vacinas, materiais com vestígios de sangue, órgãos humanos, fluidos orgânicos e toda sorte de material contaminante. As normas de higiene e limpeza para quem atua nesse setor já eram exigidas antes da pandemia. Agora, as cobranças são ainda maiores. “Todos os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) que usamos são higienizados. Para os caminhões, temos pessoas responsáveis

pela limpeza mais grossa no final do expediente”, conta o motorista. Além de orientações básicas, como o uso dos EPIs e álcool em gel, a empresa tomou decisões fundamentais para garantir a segurança de todos. “As coletas estão sendo acompanhadas por câmeras e os documentos que o cliente precisa preencher e assinar são enviados por e-mail”, diz Fernando, explicando que

as normas visam evitar o contato físico. No entanto, ele e outros motoristas permanecem tendo contato com os resíduos hospitalares. “É muito perigoso, mas pelo menos já não temos tanto contato direto com outras pessoas”, afirma. Fernando enfatiza a importância do seu trabalho. Se os resíduos hospitalares deixarem de ser coletados, o risco para a população aumenta: “É uma respon-

sabilidade gigante! A saúde de milhares de pessoas depende do que fazemos”. O motorista diz sentir que seus trabalhos têm sido valorizados nesse momento. Edson Ferreira dos Santos, 39, ajudante e motorista na Br Gestão Ambiental, avaliza a opinião do colega: “Se eu pudesse apontar alguma coisa boa nessa crise, com certeza seria o respeito que as pessoas estão tendo conosco. Temos nos sentido mais valorizados.”

Lourival Antonio Panhozzi, agente funerário Milena Mafra

Dos 60 anos de Lourival Antonio Panhozzi, 44 foram trabalhando no setor funerário. Atualmente, ele

é presidente da Abredif (Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário) e do Sefesp (Sindicato das Empresas Funerárias do Estado de São Paulo). Lourival entrou no ramo por influência do pai, que também exercia o ofício funerário. Aos poucos, foi tomando o lugar de liderança na empresa da família. Nesse momento em que milhares de pessoas morrem por conta do novo coronavírus, ele considera seu trabalho ainda

mais importante. “Nós, trabalhadores do serviço funerário, somos a última barreira. Temos contato direto com as vítimas e com a família”, comenta. Ele, que já atuou como coveiro, ressalta que a área está presenciando um cenário nunca antes visto. “Quando você interrompe o rito sagrado de homenagear seus entes queridos, que é uma coisa que vem de milênios e está presente em todas as culturas, é muito complicado”, argumenta. Lourival ressalta que o serviço funerário não é somente necessário para o sepultamento da vítima,

mas para o processo do luto. “Não conseguimos dimensionar o que isso irá causar a médio e longo prazo nas pessoas. O luto está ficando incompleto. Tenho visto cenas bastante tristes. Filhos que não estão podendo olhar pela última vez o seu pai e vice-versa”, lamenta. Lourival relata que os profissionais da área também têm sido impactados por conta do desencontro de informações por parte de alguns governos estaduais: “Temos sofrido muito com a falta de clareza nos dados. Nunca perdi tanto sono na minha vida."

Nas ruas, para a nossa segurança O PM Diego de Oliveira Garcia redobra os cuidados para proteger a população e sua família Márcio Moreno

Diego de Oliveira Garcia, 24, é policial militar há três anos. Sempre se sentiu orgulhoso por estar nas ruas, garantindo a segurança das pessoas. Mesmo com a atual situação de risco para quem não pode se dar ao luxo de se isolar, ele se sente motivado a fazer seu trabalho. “Apesar do momento atual ser crítico, me sinto ainda mais valorizado. Enquanto muitos estão em casa ou afastados, estou diariamente com meus colegas nas ruas para mostrar que nosso serviço é importante.” Diego atua na região do Tucuruvi, zona norte de

São Paulo. Apesar de sua função envolver o contato com as pessoas em diferentes contextos, ele procura manter alguns cuidados. Segue a recomendação de lavar as mãos com frequência, evitar aglomerações e manter uma distância mínima das pessoas. Ele possui familiares no grupo de risco. Seu temor é estar contaminado, sem sintomas. “Tomo cuidado para não acabar transmitindo para as pessoas dentro de casa, como minha mãe e minha avó. Vai que estou assintomático”, diz. Segundo o soldado, quando a polícia recebe uma chamada de uma pessoa com suspeita de ter o

Diego de Oliveira Garcia, policial militar

vírus, a equipe se previne de maneira antecipada. Ele e seus colegas usam luvas, máscaras e fazem frequentemente a assepsia das viaturas para a utilização de outros policiais. Ele afirma que nem todas as pessoas têm respeitado a quarentena, mas ressalta que aqueles que vivem em comunidades e em regiões irregulares não têm muita escolha. “Muitos vivem juntos, como podem fazer isolamento assim?”, questiona.

Diego deixa uma mensagem para os que podem ficar em casa: "Que tenhamos consciência do momento que estamos passando. Todo cuidado é necessário para salvar vidas, cada esforço é muito significativo.”

Karina Queroz Schiassinatti, comissária

“O mundo parou” Comissária conta como o novo coronavírus impactou seu trabalho Lucas Figueiredo Em tempos de pandemia, o melhor a fazer é ficar em casa. Mas, e quando a “sua casa” quase sempre é um avião? “A aviação move o país, né? Nós não levamos apenas passageiros de férias. Levamos profissionais da área de saúde aos seus trabalhos e cargas, como remédios e suprimentos”, destaca a comissária Karina Queroz Schiassinatti, 32, que prefere não identificar a companhia para a qual trabalha. A rotina de Karina mudou bastante com o novo coranavírus. Houve uma diminuição considerável no número de voos, com limitação de viagens. A cada dia aumenta a lista de países com entradas ou vistos suspensos e fronteiras fechadas. No Brasil, a entrada de passageiros está restrita por tempo indeterminado. Podem entrar apenas cidadãos e residentes do Brasil, familiares imediatos de cidadãos brasileiros, passageiros com autorização emitida pelo governo ou com um registro nacional de migração e turistas em conexão, desde que não

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saiam do aeroporto. “O mundo parou. Dá uma sensação estranha ver os aeroportos vazios, todo mundo com máscara, luva...” Quando está em casa, Karina só sai para o que realmente é necessário, por exemplo, ir ao mercado, à farmácia ou passear com o cachorro. Mas até isso mudou. “Deixo para sair com ele (cachorro) quando já é tarde da noite, para evitar contato com as pessoas”, explica. A mudança sofrida nas escalas dos voos afetou quem trabalha como comissário. Se não tiver voo, a pessoa não recebe e isso gera instabilidade no emprego. “A redução de voos foi o que mais me impactou. Diminuíram minhas opções de ir trabalhar e poder voltar para casa, já que moro em um estado diferente do local onde trabalho.” Karina está assustada com a quantidade de pessoas que ainda estão nas ruas, como se não tivessem noção do problema que o mundo está enfrentando. “Nunca vivemos isso antes e não sabemos até quando vai. É importante respeitar a quarentena. É assustador o que estamos vendo.”

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VIDA DIGITAL

APPs ajudam no combate à Covid-19 Dados do Bem indica a necessidade de um teste presencial e Telecovid oferece consulta online, por videochamada Está em dúvida se os sintomas que você está sentindo são uma simples gripe ou Covid-19? Antes de ir até um posto de saúde ou hospital e enfrentar desnecessariamente aglomerações, vale a pena dar uma conferida em alguns aplicativos que estão surgindo para ajudar no diagnóstico do novo coronavírus. No dia 20 de abril foi lançado, via Google Play e Apple Store, o Dados do Bem, criado em conjunto pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e pela empresa de tecnologia Zoox Smart Data. Além de informações básicas sobre a evolução da doença no Brasil e formas de prevenção, o aplicativo oferece uma autoavaliação, permitindo

ao usuário saber se seus sintomas têm chance de configurar um diagnóstico de Covid. A pessoa preenche alguns dados, informa o que está sentindo, se teve contato com algum infectado, entre outras perguntas. Essas respostas geram um resultado e, dependendo dele, é possível agendar uma consulta presencial em algum local de teste em sua região. O exame é gratuito e marcado em dia e horário específicos. Se o indivíduo testar positivo após a avaliação presencial, o app indica cinco pessoas com quem aquele paciente teve maior contato para fazerem a autoavaliação, e, caso necessário, também agenda os exames para os prováveis contaminados. Por enquanto, o Dados do Bem só disponibilizava

atendimentos presenciais na cidade do Rio de Janeiro, porém os desenvolvedores pensam em ampliar o serviço para outros locais. CONSULTA ONLINE

“Ele possui muitas informações e atualizações sobre a pandemia. Como eu não moro no Rio, baixei o aplicativo mais por curiosidade e não me arrependi. Todos os dias dou uma olhada. Mostrei também para a minha mãe, para que ela saiba como se prevenir”, conta o estudante de direito Lucas Oliveira, 21. Outro aplicativo interessante é o Telecovid, criado pela empresa de telemedicina w3.care. Sua proposta é oferecer uma consulta online com um médico, por intermédio da videochamada, nos casos

de pacientes com um grau de risco maior. “A ideia é que seja uma plataforma gratuita e que os médicos, por meio de um trabalho voluntário, possam atender a população. Contamos com cerca de 60 médicos com essa finalidade”, explica Jamil Ribeiro Cade, CEO da empresa. Os profissionais cadastrados no Telecovid trabalham de segunda a sexta, das 7h às 19h, num calendário e agenda propostos por eles mesmos. Quando o usuário acessa o app, ele fornece alguns dados pessoais, mantidos em sigilo, e informa seus sintomas e medicações que está tomando. Dessa forma, o aplicativo classifica se ele tem um risco alto para a doença. Segundo João Pandolfi,

CTO da empresa, depois dessa triagem o paciente de alto risco entra numa fila que é gerenciada pelo servidor do Telecovid, e aguarda sua vez para o atendimento via telechamada, que ocorre em uma plataforma própria. “Não acontece via WhatsApp, e sim por intermédio de uma plataforma nossa que é bem segura, pois é criptografada de ponta a ponta”, explica Pandolfi. CONSCIENTIZAÇÃO

Com sua geolocalização, o app indica o lugar mais próximo para o paciente realizar o exame para detecção da Covid-19, caso seja necessário. Assim, evita que o usuário fique se deslocando de um ponto para o outro. O aplicativo também foca na conscientização. “Tivemos

o caso de uma paciente que estava extremamente angustiada, porque queria uma opinião sobre como deveria se portar em casa com relação a seus familiares, que não estavam respeitando a quarentena. Ela usou o Telecovid justamente pra gente conversar com os familiares, convencendo-os da importância do isolamento social”, destaca Jamil. O Telecovid ainda disponibiliza um acompanhamento do caso, ou seja, o paciente pode entrar em contato com um médico online para informar a melhora ou piora em seu quadro.

Alicia Vitor

Empreendedores tentam recuperar as vendas através da internet

Alicia Vitor fotografando os produtos da Bendito Papel

Com o intuito de evitar aglomerações e a proliferação do novo coronavírus, pequenas empresas têm

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encontrado nas redes sociais, um meio de manter o negócio ativo, seguindo todas as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde).

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onde seu estúdio está localizado, Alicia conta que precisou se adaptar para entregar o produto aos clientes com segurança. “Com os cuidados que se fazem necessários por conta da crise causada pela Covid-19, as entregas dos pedidos estão sendo realizadas em domicílio e sem os tais intermediários ou colaboradores”, explica. Antes, as entregas eram realizadas por terceiros. FESTA EM CASA As estratégias para conquistar e reter clientes têm

sido repensadas neste período. “Não adianta eu ter só as redes sociais, postar lá e não ter alguma ação que leve a pessoa a comprar”, destaca Camila Jois, proprietária da Ballon Magic, loja que vende artigos de festa no distrito de Pilar, também em Jaguarari. Camila tem apostado em estratégias do marketing digital para criar uma identidade visual que atraia novos seguidores. Por morar em uma cidade do interior (Pilar), a divulgação dos produtos de Camila acontece orga-

Gabriela Santos da Silva e Quésia Vitória Nunes Fernandes

Tiago Luna e Gabriela Vieira realizaram a cerimônia de casamento dia 22 de março pelo Zoom Mariana Oliveira e Rafaela Oliveira

Alicia Vitor, proprietária da papelaria Bendito Papel, que oferece serviços personalizados, teve de criar novos produtos, focados no campo digital, que possam ser enviados por e-mail. No caso dos produtos convencionais, uma das alternativas encontradas foi a entrega em domicílio. “Os pedidos são feitos por meio do WhatsApp e do Direct do Instagram e entregamos na residência do cliente”, explica. No distrito de Santa Rosa de Lima, na cidade de Jaraguari, no sertão baiano,

Assinaturas em plataformas de streaming crescem durante a pandemia

Videochamadas são alternativa para realizar aniversários, casamentos e happy hours

VENDAS ONLINE

Camila Gomes e Letícia Couto

A vez das celebrações a distância

AUDIOVISUAL

Giovanna Vieira

Marcelo Lora Ferreira Leite

TECNOLOGIA PARA A VIDA

nicamente. Os produtos são promovidos pelos próprios clientes, sem precisar trabalhar com influenciadores digitais locais. “Como aqui é um lugar pequeno, a maioria das pessoas já ouviu falar da minha loja”, conta. Apostando no tema “Festeje em casa”, ela tem feito entregas por delivery, sem cobrar taxa pelo serviço. “As comemorações presenciais não estão acontecendo, mas a pessoa pode comprar um balão para festejar em casa e simbolizar a data”, explica a vendedora.

Comemorações são comumente organizadas para dividir a alegria de um momento especial com familiares e amigos, mas, e quando a regra é manter-se isolado, sem contatos presenciais? A tecnologia tem sido a alternativa. Ferramentas digitais, como os aplicativos e plataformas de videochamada, ganharam destaque para festejar virtualmente diferentes celebrações. Uma sala virtual foi a opção de Maira Mariano, professora dos cursos de Comunicação da Universidade São Judas (USJT), para realizar o aniversário de 4 anos da filha Luísa. Uma semana antes da

festa foi decretada a quarentena na cidade de São Paulo. "Ela me perguntava quando ia ser seu aniversário desde o Natal, estava cheia de expectativa", conta Maira. A professora explicou a situação para a filha, dizendo que a festinha ocorreria, mas de uma forma diferente. "Ela ficou triste, foi uma data tão esperada", explica a docente. A menina não entendeu bem a situação e questionava se os amigos chegariam. “Acho que aquele momento, de fato, ainda não tinha acontecido pra ela”, diz Maira. VESTIDO

Happy hours também têm ocorrido remotamente. Júlia Sousa, membro do coletivo Narrativas

Negras e estudante de Psicologia, participou de um em 18 de abril. Ela diz que reuniões desse tipo aliviam a rotina de trabalho, que para muitos está mais pesada nesse período, além de estreitar relações. “É bom para o nosso grupo (do coletivo), porque isso pode incluir as outras meninas que não são daqui de BH”, diz, embora reforce que o virtual nunca vai substituir a calorosidade de um encontro presencial. Sábado (21/3), quando foi decretada a quarentena, aconteceria presencialmente o casamento do product owner Tiago Luna com a consultora interna de RH Gabriela Vieira. Eles até pensaram em manter a comemora-

ção presencial, colocando álcool em gel nas mesas da festa. “Tínhamos confirmado com todos os fornecedores na quarta (18) de manhã”, conta Gabriela. Ainda na quarta resolveram adiar. “A gente combinou que faria de maneira remota e dia 21 saímos convidando as pessoas”, explica Tiago. Com o computador na sala do apartamento e pés no chão, o casal oficializou o matrimônio em 22 de março. Gabriela descreve o dia: “De manhã, me deu uma dor de barriga, como se fosse um casamento normal. Foi muito estranho, porque o meu vestido estava pronto na casa dos meus pais. Às vezes fico pensando: meu vestido está aqui e nunca usei”.

O número de pessoas que passaram a firmar assinaturas digitais e a utilizar softwares as a service (SaaS) para consumir conteúdos na internet, por intermédio de plataformas de streaming, por exemplo, cresceu 31,5%. A informação é de Rodrigo Dantas, CEO da Vindi, empresa especializada na gestão e recebimento de pagamentos. O aumento se deve ao cenário de isolamento social. Felipe Lopes, assessor da plataforma Looke, que disponibiliza filmes e séries para alugar, diz que a empresa registrou um aumento considerável. “O número de assinaturas, transações e acessos à nossa plataforma foi expandido. Durante os finais de semana, o crescimento chega a ser de 700% e durante a semana, 350%.” Esta forma de entretenimento tem sido a solução em todo o mundo neste período da pandemia. Miguel Jeremias, 20, estudante de jornalismo na Universidade São Judas, assinou recentemente uma plataforma de streaming. “Para me manter informado, assisto ao jornal

diariamente, além de ler e acompanhar diversas matérias. Ter uma opção que permita que eu me desligue por um tempo é muito bom”, desabafa. Felipe Lopes ressalta que a situação atual é triste, mas que, para quem atua nesse campo, ela traz benefícios: “Para os serviços que podem ser consumidos de casa, como o streaming e o mercado de games, é sim um momento de oportunidade”. O estudante de cinema da Universidade São Judas, Danilo Santos, 20, conta que tem usado essa forma de entretenimento para aliviar as consequências da quarentena. “Os filmes e séries oferecidos por essas plataformas têm me ajudado a lidar com sentimentos como a depressão e a ansiedade. Me conecto com histórias que não são minhas, assim fico bem”, explica. O assessor da Looke reforça a importância desses serviços nesse momento: “Tão importante quanto cuidar o corpo é cuidar da mente”. Quésia Fernandes

Plataforma de streaming Looke

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CULTURA E ARTES

Danilo Nunes em show na sacada de seu prédio em Santos, no mês de abril Lucas Fernandes e Tainá Arruda

Para animar os vizinhos, durante o isolamento social, músicos brasileiros seguiram uma tendência que se espalhou pelo mundo: transformaram as suas sacadas em palcos. Um dos exemplos é o projeto Sacada Cultural, que o músico Danilo Nunes, 41, tem colocado em prática na sua casa, em Santos, litoral sul de São Paulo.

Danilo se mudou uma semana antes da quarentena. Foi adicionado no grupo da vizinhança e viu que muitas pessoas estavam tocando, então resolveu participar. "Decidi colocar minha caixa de som sem pretensão nenhuma e avisei que faria um som para eles. Isso foi tomando uma proporção maior até chegar nesse projeto", conta.

A iniciativa o aproximou dos novos vizinhos. "Eles são maravilhosos, a ponto de já saberem os dias que faço as apresentações. Aos sábados, por exemplo, tem gente que coloca uma mesinha com cerveja na varanda para ficar ouvindo e interagindo. Alguns até falam meu nome", destaca. Elisabete Araújo, 56, vizinha de Danilo, elogia os shows do músico: “Ele começou de forma espontânea e logo ganhou o prestígio de todos”. DUPLA NECESSIDADE

Os shows nas varandas começaram na Itália, país que foi o segundo no mundo a se tornar epicentro da Covid-19. Uma corrente no WhatsApp convocava artistas a se apresentarem às 18h. Foi assim que o músico

Marco Varvello, 40, tocou pela primeira vez para seus vizinhos. Ele vive em Turim, uma das primeiras cidades da Europa a adotarem o isolamento total. “Acho que há uma dupla necessidade, tanto do público, quanto do artista, e isso que é arte”, comenta Varvello. Ele lembra que encorajou outros músicos a se apresentarem: “Então os músicos apareceram de repente de outros apartamentos e começaram a tocar suas próprias canções”. Varvello ressalta que a música é muito importante em uma situação como a que o mundo está vivendo: “Ouvir música é ir longe com a mente, tocar música é se concentrar em algo diferente da psicose do vírus. É uma ótima maneira de enfrentar esse cenário”.

ADAPTAÇÃO

Sem poder estar nas ruas, artesã adapta exposição de seus trabalhos Carolina Leal e Hamannda Andrade A quarentena decretada pelo governo do Estado de São Paulo em função do novo coronavírus afetou substancialmente a atividade dos trabalhadores autônomos, incluindo os artistas de rua. Expositores, cantores, pintores e outros profissionais que usavam as vias públicas como palco para a exibição de seus talentos ou para venderem suas obras agora estão tendo que se adaptar, para garantir o sustento.

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A artesã Márcia Regina Arruda Barbosa, 47, ilustra bem essa situação. Antes das medidas de isolamento social, ela exibia seus trabalhos de tricô em uma feira de artesanatos na Praça Sampaio Vidal, na Vila Formosa, zona leste de São Paulo. Márcia é mãe de três filhos e tem no artesanato a principal fonte de renda da família. Ela sentiu diretamente o impacto da Covid-19. “Antes minhas vendas na praça eram ótimas e minhas clientes ligavam encomendando trabalhos. Não tinha do que recla-

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mar”, conta, em tom de lamento. A artesã recorreu à internet e às encomendas via WhatsApp para continuar vendendo. No entanto, a queda no orçamento foi bastante significativa. “Se vendi quatro tapetes este mês foi muito. Tá bem complicado”, diz. Devido ao cenário de incertezas no campo econômico, muitas das clientes de Márcia adiaram o pagamento para o mês seguinte. Além de vender tapetes de crochê, Márcia recebe a renda do Bolsa Família (programa de transferên-

cia de renda do governo federal). No entanto, como o valor é de apenas R$ 40, fica difícil arcar com as despesas da casa sem a venda de seu artesanato. Apesar de o isolamento ter mudado radicalmente sua rotina, Márcia é a favor da medida. “Só o distanciamento vai poder eliminar essa doença do mundo. Já foi comprovado que quanto mais a gente ficar dentro de casa, mais evitamos passar o vírus para outras pessoas e mais cedo poderemos voltar a desempenhar nossas atividades”, argumenta.

Livros digitais gratuitos são aliados na quarentena

Ana Karla Zanatta e Amanda Beiro

Diante do cenário de distanciamento social, o mercado editorial e outras distribuidoras, como a Amazon, resolveram abrir gratuitamente parte de seu acervo de livros digitais. Segundo dados levantados na última pesquisa Retratos da Leitura, divulgados pelo Instituto Pró-Livro em 2016, 32% das pessoas apresentaram a falta de tempo como motivo para não terem lido mais nos últimos três meses daquele ano. Agora, com a permanência maior em casa, os amantes da leitura podem colocar diversas obras em dia. A editora brasileira L&PM, conhecida pela maior coleção de livros de bolso do país e pela distribuição de livros digitais desde 2010, lançou no dia 17 de março uma campanha que oferece um e-book gratuito por dia de diversos autores, gêneros e categorias. “A gente viu que era uma oportunidade de ajudar as pessoas que estão em casa, para que elas possam aproveitar esse tempo para fazer algo que elas gostam”, explica Fernanda Scherer,

36, gerente de marketing da editora. Os livros estão disponíveis em todas as plataformas afiliadas à L&PM. São elas: Amazon, Google, Apple Store e Kobo. Fernanda acredita que a liberação dos e-books possa despertar o interesse das pessoas em conhecer novas obras e autores. “A gente tentou diversificar bastante o estilo para apresentar livros que agradam a todo mundo. Teve poesia, teve autor russo, brasileiro, teve clássicos da literatura”, conta. O psicólogo Gerson Abarca, 56, especialista em Psicologia Educacional, destaca que a ansiedade que atinge muitas pessoas nesse período de quarentena pode ser enfrentada com a leitura. “Quando você lê uma literatura boa, você dá margem à sua imaginação”, explica. Ele complementa: “As histórias podem ser uma forma de não se sentir sozinho, porque você vai se identificar com o personagem”.

O brasileiro lê, em média, dois livros inteiros ou em partes, no período de três meses, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura

ACERVO DIGITAL DE FORMA GRATUITA DURANTE A QUARENTENA Editoras: Companhia das Letras, Boitempo, Editora L&PM, Rocco, Mol, Fiocruz, Panini Plataformas: Amazon, Google Play, Kobo, Apple Books, Scribd, Le Livros, Open Library e Project Gutenberg

ARTES MANUAIS

Memórias nordestinas e faces da cidade inspiram composições de Josyara

Tricô e crochê amenizam efeitos da quarentena Fernanda Vital

Aos 28 anos, cantora cearense lançou seu terceiro álbum em março de 2020

Natália Arjones

Arquivo pessoal

Morador de Santos, Danilo Nunes vem recebendo elogios

ENTRETENIMENTO

Felipe Beiro

Músico brasileiro adere a shows na sacada de sua casa

ISOLAMENTO SOCIAL

pelas coisas interessantes que viu pelo caminho. O distanciamento de casa e suas novas descobertas serviram de inspiração para o repertório do álbum “Mansa Fúria”, que em 2018 emplacou uma nova versão musical, embalada por um violão percussivo e texturas eletrônicas. A correria da vida, as faces da cidade e seus sentimentos pessoais são alguns dos temas que se transformam em canções na voz de Josyara. “Minhas composições falam de tudo um pouco, meu discurso sempre é muito livre e de acordo com o momento que eu estou”, explica. "ESTREITE"

Em 2018, Josyara lançou "Mansa Fúria", seu segundo álbum Daniella de Almeida e Joyce Silva

Já era noite quando Josyara respondeu por mensagem de voz à primeira parte de uma entrevista feita de longe, via WhatsApp. Em tempos de pandemia, o contato com a cantora baiana teve de ser feito por meio da tela do celular. Com voz calma, a jovem artista conduziu suas respostas com a mesma confiança que demonstra quando está nos palcos. O jeito suave e doce de falar se assemelha ao de suas maiores referências musicais: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Esses ar-

tistas sempre fizeram parte do acervo de canções interpretadas pela jovem cantora. Com raízes fincadas em Juazeiro do Norte, no sul do estado de Fortaleza, Josyara foi buscar seus primeiros conhecimentos sobre música em Salvador. Na capital da Bahia iniciou um curso técnico na área e despontou cantando forró nos barzinhos da cidade. Viver de música, segunda ela, sempre foi um desafio. BONS LAÇOS

Seu repertório nas noites de Salvador transitava entre o forró e algumas composições autorais que lhe garantiam o sustento. A jovem cearense enxergou na metrópole de

São Paulo a oportunidade de se consolidar como cantora, com suas composições e seu jeito particular de cantar. De ônibus, olhando pela janela as paisagens que deixava para trás, embarcou em direção à terra da garoa com o mesmo frio na barriga que sentiu, quando deixou Juazeiro rumo à capital baiana: “São Paulo ao mesmo tempo que oprime e constrói distâncias pessoais é um lugar que, quando você percorre, consegue construir bons laços e se sentir em casa”, destaca a cantora. Josyara conseguiu construir suas composições inspirada pelos lugares por onde passou e

A partir dessa identidade criativa, Josyara despertou admiradores no cenário da música contemporânea. A rotina de shows, com convites para aparições e propostas para festivais, se tornou mais intensa desde que seu novo álbum “Estreite” circulou nas plataformas digitais em março de 2020. O trabalho, que tem a parceria de Giovani Cidreira, revela a junção das memórias e das referências de vida dos dois artistas. Segundo Josyara, o álbum vem rendendo bons resultados. “O disco foi gravado em pouco tempo, mas sou muito feliz em ter registrado essa nossa ligação, que vem de uma longa data”, enfatiza a cantora.

Do seu apartamento em São Paulo, Mateus de Moraes, 37, liga sua câmera e inicia uma nova aula de tricô e crochê, acompanhado virtualmente pelas suas alunas. O professor e artesão que já realizou workshops pelo Brasil ensinando o seu ofício, precisou se adaptar diante da quarentena. É o caso também de Marie Castro, 31, que desde criança se interessa por trabalhos artesanais e tecnologia e uniu essas paixões para dividir com outras pessoas aquilo que sabe fazer. Ela já usava as lives para conseguir alcançar o público que está geograficamente distante, mas agora, com a recomendação de evitar aglomerações, se dedica apenas às aulas online. Apesar do distanciamento, os professores sentem que os seus alunos estão mais dedicados e que as aulas os têm ajudado a lidar com problemas emo-

cionais resultantes do isolamento social. A Círculo S/A, presente na indústria têxtil desde 1938, é uma das empresas apoiadoras das lives nesse período. A companhia lançou o projeto “Círculo em Casa”, promovendo conteúdo online em parceria com artesões como Marie e Mateus. A campanha tem incentivado as pessoas a ficarem em suas casas e aproveitar esse tempo para aprender uma nova atividade. O isolamento pode ativar gatilhos emocionais e as atividades artísticas ajudam no controle da ansiedade e do humor. “É um momento em que a pessoa se desconecta e foca sua atenção na arte, na criatividade e na memória, reduzindo o estresse”, explica a psiquiatra Gabriela Bardini, 32. A aluna Ana Paula, 29, de Brasília, destaca os benefícios das aulas online: “Tenho encontrado o meu refúgio nisso. É uma terapia”. Marie Castro

Professores e empresas oferecem aulas online para quem deseja aprender artes manuais

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ESPORTE E LAZER

SOLIDARIEDADE

Os donos e seus animais podem aliviar o estresse, com brincadeiras e troca de afagos

JogaJuntoFF já arrecadou mais de R$ 19 mil por meio do sorteio de camisetas

Bárbara Olusete e Raquel Alves

Quem leva uma vida agitada, dividindo os dias entre estudo e trabalho, poucas vezes tem chance de dar atenção ao pet. Os bichinhos sempre estão sedentos por carinho, mas acabam recebendo pouca

dedicação. Só que em tempos de quarentena são eles que têm ajudado muitas pessoas a neutralizar informações negativas sobre a Covid-19, proporcionando momentos que acalentam o coração. Para quem ama os animais, ter um pet acaba

BEM-ESTAR

Yoga é alternativa para controlar a ansiedade na quarentena A busca por atividades que promovam o bem-estar físico e mental, como o yoga, é uma opção interessante na quarentena.As técnicas de respiração, as asánas (posturas de yoga que dão conforto físico e mental) e as técnicas de relaxamento, visualização e meditação podem trazer diversos benefícios como a diminuição do estresse e da ansiedade, a melhora do condicionamento físico e do sono, a diminuição de dores no corpo, além do controle da pressão e dos batimentos cardíacos.

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O yoga, junto com a meditação, ensina a pessoa a silenciar a mente e ter maior controle sobre ela. Adele Gomes, 31, instrutora de yoga, criadora do Instagram “Descomplica Yoga”, realiza aulas online e compartilha dicas. Além de demonstrar que a prática proporciona bem-estar aos alunos, a instrutora busca desconstruir a ideia de que o yoga serve para um grupo específico. “Independe do sexo, crença, corpo e estatura. Todos são bem-vindos e podem obter benefícios com o yoga”, destaca.

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7,6% Paraguai 7,4% Noruega Nova Zelândia 7,3% Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS), relatório divulgado em 2019

Produtores de conteúdo e fãs precisaram se adaptar Gabriela Vicente e Lucas Benedito

A pausa ocorrida em todo o mundo esportivo, devido à pandemia da Covid-19, atingiu as programações e conteúdos nas mais diversas mídias. Emissoras de TV, por exemplo, passaram a re-

Bruno Teixeira

afetar os animais. “A redução no número de passeios pode deixar o pet deprimido. Claro que saídas longas devem ser evitadas, mas o animal precisa passear para fazer suas necessidades fisiológicas, e isso minimizará o seu estresse”, explica.

O QUE FAZER (E O QUE NÃO FAZER) COM SEU PET NA QUARENTENA Passeios com os pets devem ser mais breves e o tutor deve procurar áreas ao ar livre e sem aglomeração de pessoas Ao voltar dos passeios, passe um lenço umedecido no plo e nas patas do animal Não é recomendado dormir com seu pet e, por ora, evite beijos, abraços e lambidas Fonte: OMS e Associação Mundial de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais

Dani Ortolan doou uma camiseta da Juventus para a campanha Luis Enrique Kato e Milena Gomes

Diversos fatos mostram que 2019 foi um ano marcante para o futebol feminino: pela primeira vez

uma Copa do Mundo foi transmitida na televisão aberta, tivemos a maior edição do Brasileirão e foi registrado recorde de público no Campeonato Paulista. Tudo caminhava

para que 2020 pudesse ser ainda melhor, até que o novo coronavírus paralisou os campeonatos de futebol no mundo inteiro. Só em que em vez de inércia e reclamação, as jogadoras

brasileiras resolveram partir para a solidariedade. Após a lateral-esquerda do Flamengo, Mariana Dantas, postar em suas redes sociais que queria fazer uma vaquinha para arrecadar fundos destinados a engrossar a luta contra o vírus, diversas atletas abraçaram a ideia. Com o apoio de jogadoras e jornalistas, criou-se a campanha JogaJuntoFF. “Não tinha ideia de que um tuíte ia causar tanto impacto. Gerou tanta repercussão que a gente teve que montar um projeto, porque já tinha muita gente falando sobre”, comenta Mariana. Segundo a atleta, ações solidárias já fazem parte do futebol feminino. “A

NA QUARENTENA

Programação esportiva se reinventa durante a pandemia

TRANSTORNO DE ANSIEDADE PELO MUNDO

O Brasil é o país mais ansioso do mundo. O transtorno de ansiedade atinge 18,6 milhões de brasileiros, o que equivale a 9,3% da população. O país é seguido por:

ter uma posse responsável. É necessário ter condições financeiras para cuidar de um ser vivo que pode ficar doente e necessitar de cuidados médicos, além da alimentação, vacinas e vermifugação periódica". Para a médica, a quarentena também pode

FUTEBOL

Pixabay

Rafaela Marcos

nho. Segundo levantamento feito pela rádio BandNews FM, nas duas primeiras semanas de abril o número de adoções no Brasil aumentou 50%. Ariane Souza, autônoma na área de vendas, adotou um cachorro recentemente. “Um animal em casa faz toda diferença. Eles dão muito trabalho, mas a alegria que transmitem é sem igual, além de ser uma boa distração”, recomenda. Mas é importante que a adoção seja feita de maneira responsável, e não só para sanar uma carência momentânea, sem pensar no bem-estar do pet. A veterinária Kattya Sonia Costa, pós-graduada em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, alerta: "Adotar não pode ser casual, tem que

Jogadoras lançam campanha para ajudar no combate à Covid-19

prisar jogos e torneios e criar artifícios para manter a audiência. O publicitário Caique Alves Rodrigues, 21, afirma estar se adaptando bem a essa nova fase: “Eu já acompanhava partidas antigas do meu clube e algumas competições que marcaram a história do futebol, por meio do YouTube”. Do ponto de vista de criação, o produtor Claudio Portella da FOX Sports tem encarado esses tempos de restrição como uma oportunidade para ser criativo: “Aos poucos vamos nos adequando ao trabalho de casa e, de lá, trazendo

mais conteúdo e ampliando. Mesmo que esse conteúdo não seja sobre o futebol, usamos o improviso, trazendo entrevistados e informação atemporal”. O jornalista Vitor Guedes, colunista no jornal Agora São Paulo e comentarista do programa Baita Amigos, do canal BandSports, também compartilha um pouco sobre como tem se adaptado: “Tenho aproveitado esse tempo como uma fase de revisitação de eventos passados com o olhar do presente. Trabalho também com análises do que virá no pós-pandemia".

Engenharia São Judas durante a competição em 2018 Carolina Fernanda e Elysandra Souza

Marcados para o primeiro semestre de 2020, os principais jogos universi-

tários de São Paulo foram adiados por conta do novo coronavírus. O Engenharíadas, um dos jogos em que os alunos da Universidade São Judas (USJT) participam,

ocorreria no mês de abril, mas foi remanejado para o segundo semestre. “Como não temos uma previsão de quando isso será resolvido, estamos buscando um cenário para depois de agosto”, conta Natália Borges, presidente da Atlética de Engenharia da USJT. A 31ª edição do Intercomp, jogos de tecnologia, em que os alunos da São Judas também participam, precisou ser reformulada. “Foi decidido que faríamos essa edição do Intercomp com modalidades de E-sports, assim podemos manter a segurança de todo o público e dos

gente já está acostumada a se unir. Nos unimos contra o machismo, contra o preconceito, pela igualdade”, diz, ressaltando que, nesse momento, a rivalidade fica de lado em prol de uma causa maior. Portais que promovem o futebol feminino, como o Feminino Palmeiras e o Futebol é pra Mulher, têm ajudado na organização dos sorteios de camisetas e na criação de conteúdo para as redes sociais. A iniciativa arrecadou mais R$ 19 mil e as atletas projetam que a campanha possa continuar por novas causas sociais. Vic Albuquerque, atacante do Corinthians, foi

uma das primeiras a oferecer uma camiseta para o sorteio. Ela destaca a importância da ação: “É muito mais que só futebol, mais que torcidas, times, clubes. Somos seres humanos. Temos que amar ao próximo como a nós mesmos”. As jogadoras possuem o consenso de que o momento é de refletir sobre os impactos que a paralisação gerará, tanto no futebol como na sociedade. “Espero que o mundo mude, e que mude para melhor. Que as pessoas tenham mais consciência e mais compaixão, que tudo isso sirva de lição pra gente”, deseja a atacante da Juventus, Dani Ortolan.

GAMES

Jogos universitários se adaptam ao cenário do coronavírus Reprodução/Facebook

Animal em casa, alegria garantida

sendo uma terapia. Diversos estudos mostram que a companhia de um bichinho faz diferença para melhorar sintomas de ansiedade e depressão, além de elevar a qualidade de vida. Trata-se da zooterapia (ou pet terapia), que tem por objetivo tratar problemas físicos, emocionais e psicológicos. O tratamento é realizado no Brasil desde 1960, quando a psiquiatra Nise de Silveira começou a usar cachorros e felinos em suas sessões e, a partir da experiência, percebeu que a companhia dos animais causava um efeito calmante e antidepressivo em seus pacientes. Na ausência de poder encontrar familiares e amigos, os animais de estimação ganham cada vez mais cari-

Reprodução/Facebook

Raquel Alves

Pets fazem a diferença no período de isolamento

Jogos online aproximam amigos

atletas, e ainda sentir um pouco a sensação da competição, mesmo que seja virtualmente”, explica Gabrielle Cardoso, vice-presidente da Atlética de Tecnologia da Informação da USJT. Mas nem todas atividades pararam. Os treinos estão sendo mantidos, com exercícios individuais em casa. “Bolamos um sistema chamado 'Quarentreino' e fizemos uma disputa interna entre os atletas e as modais. Quem seguir as regras e fizer mais vezes as atividades em casa será premiado no final”, explica Natália Borges.

Rafaela Marcos As regras de distanciamento social têm provocado um aumento na procura por games em lojas virtuais como Apple Store e Google Play. Gartic, Uno e Stop são alguns dos aplicativos que compõem o ranking de jogos mais baixados na quarentena, de acordo com levantamento feito pelo portal G1. Na hora de escolher um jogo as pessoas têm dado preferência àqueles que permitem brincar com um ou mais amigos. O usuário pode criar uma sala virtual, dar nome ao ambiente,

junho 2020

escolher a quantidade de participantes e, para uma maior privacidade, colocar uma senha de acesso. O brasileiro Gartic atingiu o primeiro lugar no ranking dos jogos mais baixados. O número de downloads passou de 5 mil para 80 mil em uma semana. Os jogos online são uma opção de lazer interessante nesse momento em que não é possível encontrar com amigos e familiares. “É uma maneira de se divertir em todos os momentos”, afirma Louise Cavichioli, 19, aluna do curso Técnico de Enfermagem, no Colégio Fênix.

EXPRESSÃO

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INFOGRÁFICO

CORONAVÍRUS SEM DESINFORMAÇÃO Ana Soares, Danilo Matheus, Henrique Nascimento, Kaio Figueredo e Sthefany Almeida

Opa, não foi exatamente assim! Há dez anos, o Brasil teve outra pandemia, a de H1N1, que causou preocupação, mas não tanto estrago quanto "informaram" boatos em redes sociais.

Ah, é? Então como foi? O vírus H1N1 é um subtipo do vírus Influenza, que causa a gripe comum. Os hospedeiros foram os porcos e, por esse motivo, a doença provocada pelo vírus ganhou o apelido de gripe suína. Os primeiros casos foram confirmados em março de 2009 no México e se espalharam logo para os Estados Unidos. No Brasil, o primeiro caso foi confirmado em 7 de maio daquele ano. Só após 53 dias o Brasil registrou a primeira morte pela gripe suína. No total, o país teve 53.797 casos confirmados da doença entre 2009 e 2010, quando a pandemia foi dada como encerrada, e registrou 2.098 mortes. E o coronavírus? O SARS-CoV-2, o novo coronavírus, surgiu na China no fim de 2019 e provoca a Covid-19, uma doença com sintomas semelhantes aos da gripe, mas que causa graves problemas respiratórios. A suspeita é de que ele tenha vindo dos morcegos e teria sido descoberto em um mercado de animais vivos na província chinesa de Guandong. O primeiro caso confirmado no Brasil foi em 26 de fevereiro de 2020. Em 21 dias, o país já teve a primeira morte confirmada pela doença. Três meses após a confirmação do primeiro caso, em 30 de maio, o Brasil tinha 468.338 casos confirmados. O número de mortes também aumentou muito: na mesma data já se contabilizava 27.944 mortos pela Covid-19. Uau! Eu não tinha ideia! É importante checar as informações que recebemos nas redes sociais. Algumas agências como a Agência Lupa, a Agência Pública e a Aos Fatos, além de iniciativas como Fato ou Fake, Fake Checks e E-Farsas, podem ajudar a tirar algumas dúvidas e evitar a propagação de notícias falsas, potencialmente prejudiciais em períodos conturbados como o de agora.

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EXPRESSÃO

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