USJT
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outubro 2018
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ano 25
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edição 9
EXPRESSÃO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO CRÍTICO, CIDADÃO E PLURAL
ESPECIAL - Págs. 6 a 9
Sustentabilidade é mais que isso
Inovação em construções, combate ao desperdício, economia circular: conheça práticas que reinventam negócios e hábitos de consumo #PROTAGONISTA
VIDA DIGITAL
CIÊNCIA
ARTES
Paranaense leva o Brasil para disputas paralímpicas globais Pág. 3
Influenciadores testam limites do empreendedorismo Pág. 5
Banco de cérebros da USP impulsiona estudos sobre o envelhecimento Pág. 11
K-pop desperta interesse pela cultura asiática entre jovens Pág. 12
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EXPRESSÃO
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CAR@ LEIT@R
#INSTANTÂNEO
Texto e foto: Luana Amorim
Michelle Nascimento
Quando o termo “desenvolvimento sustentável” foi mencionado pela primeira vez, em um relatório publicado pela Comissão Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, a maioria das corporações e pessoas tinha o pensamento centrado no curto prazo. Até então, pouca ou nenhuma atenção era dada a preocupações hoje básicas, como destinação responsável do lixo, desperdício ou poluição atmosférica. O tempo, porém, nos fez amadurecer – e hoje sustentabilidade é, mais que um conceito ecológico a embelezar discursos empresariais, um imperativo ético conectado a negócios, hábitos de consumo e estilos de vida.
Neste Expressão, nossos repórteres produziram um Especial sobre diferentes facetas da sustentabilidade: poluição de rios e mares, desperdício de alimentos, projetos de saneamento e desenvolvimento urbano e a corrida atrás do prejuízo do setor têxtil em aspectos sociais e ambientais são alguns dos assuntos debatidos. Também trazemos, nas próximas páginas, matérias sobre cyberbullying, a onda k-pop, fake news e os riscos do blecaute alcoólico, em linha com a proposta de manter nossas páginas recheadas de temas quentes do País. Desejamos, como de costume, que o trabalho da nossa equipe resulte em boas reflexões. Uma ótima leitura! Os Editores
Sobrevive e passa bem, obrigado De tempos em tempos, ressurge a ideia de que bancas de jornal estariam com os dias contados. Lá se vão alguns bons anos e elas seguem firmes e fortes, sobrevivendo à digitalização do mercado editorial com novos serviços. Na imagem acima, uma superbanca, com cara de loja de conveniência e coração de livraria, exibe revistas, jornais, livros e bugigangas a pedestres na Avenida Paulista.
#FICA A DICA
Reprodução
EXPRESSÃO As cores da vida de Van Gogh Jornal laboratório do 4º ano de Jornalismo outubro 2018 • ano 25 • edição 9 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Prof.ª Dr.ª Denise Campos Coordenadora dos cursos de JO, PP, RTV, RP e Cinema e Audiovisual Prof.ª Jaqueline Lemos Jornalista responsável Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 - SP Projeto gráfico e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 - SP
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Redação Alun@s do 4º ano de Jornalismo da Universidade São Judas, Campus Mooca Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Shutterstock
EXPRESSÃO
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Com amor, Van Gogh Ano: 2017 Gênero: animação Distribuição: Europa Filmes Duração: 1h35 Direção: Dorota Kobiela e Hugh Welchman
Helen Christo
“Com amor, Van Gogh” é uma animação que ilustra a investigação do suicídio do pintor holandês Vincent Van Gogh. A trama não tem o artista como per-
sonagem principal, mas registra a história que ele viveu no vilarejo francês Auvers-sur-Oise, antes de atirar em si mesmo em condições até hoje controversas. Armand Roulin é o protagonista, um jovem que recebe ordem de seu pai (o carteiro Joseph Roulin) de levar para o irmão de Van Gogh uma última carta que não chegou a ser enviada. Ao descobrir que Theo Van Gogh também havia falecido, ele foi atrás do terapeuta que cuidou de Vincent, o Dr. Gachet, para desvendar o mistério da morte. Todos os atores do filme são personagens tirados dos 800 quadros que o ilustrador fez ao longo
de sua vida. Foi preciso recorrer à criatividade de 125 pintores para produzir 65 mil frames com características idênticas às pinturas oficiais – o que rende à obra uma estética impressionante. Os diretores fizeram o filme em animação, em razão de o próprio Van Gogh ter deixado por escrito sua visão sobre a importância da pintura. É um filme para quem realmente gosta de arte; a obra é inteiramente ilustrada pela pintura impressionista e pós-impressionista, que tem como objetivo mostrar a história do pintor segundo seus conceitos, deixados nas cartas que escreveu para seu irmão.
PROTAGONISTA
Uma brasileira no handbike global Natural de Jandaia do Sul, no Paraná, Jady Malavazzi é a aposta do País para trazer o ouro nas Paralimpíadas
Jady Malavazzi
Mayara Sakumoto
Os jogos paralímpicos têm conquistado cada vez mais a população, seja por meio das diversas modalidades que são apresentadas, seja pelo alto nível da nova geração de atletas brasileiros. A paranaense Jady Malavazzi é um exemplo disso: após ser diagnosticada aos 12 anos com lesão medular completa, em função de um acidente de carro, ficou paraplégica. Não parou: passou por um processo de reabilitação e descobriu no esporte a decisão de se arriscar e ser feliz. “Não sabia como ia ser e o que poderia acontecer, mas o primeiro pensamento é que aquilo era momentâneo e que iria voltar a andar. Tive um suporte muito grande da minha família e felizmente não passei por momentos de depressão”, relata. A retomada da rotina foi apoiada pela prática esportiva. “Aos poucos, aprendi a viver com a cadeira de rodas, voltei ao colégio e fazia esportes. Isso foi meu maior aliado para enfrentar tudo”. O CAMINHO ATÉ O CICLISMO
Copa do Brasil de Paraciclismo: Malavazzi também busca projetar o esporte brasileiro em competições internacionais
DIA-A-DIA
como atleta, a brasileira foi campeã pelo Brasil na etapa holandesa da Copa do Mundo, na categoria Handbike WH3. Por conta do resultado, Jady foi convocada para representar o Brasil nos Jogos ParaPan-Americanos de Guadalajara, em 2011. “Eu treinava na rodovia na minha cidade natal. Ia de uma cidade a outra, era um lugar com um movimento grande de caminhões, então minha mãe sempre me escoltava de carro”, relata. “Os treinos no começo eram bem curtos se comparados ao meu ritmo de hoje.”
Quatro anos depois do acidente, a jovem conheceu o ciclismo e decidiu se arriscar no esporte. Por conta de sua condição, a bicicleta foi adaptada e construída para pedalar com as mãos. Desde então, Jady nunca mais largou a modalidade. Antes de iniciar sua carreira nas bikes, Jady jogava basquete. Por meio do seu técnico, que a apresentou à handbike, deixou o basquete e ficou só com o ciclismo. Depois de algum tempo, adquiriu seu primeiro veículo. A rotina de Jady é típica dos atletas: árdua e completa. Os treinos são divididos por prática: de cinco a seis vezes por semana, na modalidade de ciclismo; de duas a três vezes, com preparação física na academia. Em algumas fases de treinamento são incluídos natação, fisioterapia de duas a três vezes por semana e acompanhamento nas áreas de psicologia esportiva e nutricional. Em sua primeira participação
PERCALÇOS
A história da atleta, entretanto, não foi apenas de alegrias; os desafios de ser atle-
ta no Brasil se traduzem nos esforços para conquistar espaço. “Acredito que a falta de informação e os preços dos equipamentos, que são todos importados, são dois pontos cruciais, é necessário patrocínio”, diz. “Com a ajuda de uma universidade, posso viver o paraciclismo na Europa e aprender com os principais atletas do mundo e ter uma estrutura única, mas encontrar patrocinadores que realmente valorizem e acreditem no esporte é muito difícil.” DESAFIOS FUTUROS
Em 2011, Jady conquistou o bronze no campeonato mundial, mas o seu sonho é o ouro. Ser campeã em sua modalidade é outro objetivo. O próximo
desafio tem data: são os Jogos Paralímpicos de 2020, organizados em Tóquio, no Japão. A jovem pretende, também, desenvolver e ajudar no crescimento da modalidade no Brasil, para que outras pessoas tenham acesso e conhecimento. Por conta de sua trajetória, Jady é exemplo para fãs e admiradores que passaram pela mesma situação ou que se sensibilizam com a sua história. “Fico extremamente feliz em poder ajudar e motivar pessoas que estão no início da lesão. Na época, eu me espelhei em muitos desses exemplos; isso foi essencial para eu perceber que a vida não havia acabado.”
“Encontrar patrocinadores que realmente valorizem o esporte e acreditem nele é muito difícil” outubro 2018
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VIDA DIGITAL
Comunidades permitem troca de experiências sobre transtornos mentais e alimentares Fernanda Lourenço
Que o uso excessivo das redes sociais pode virar vício todos já sabem. No entanto, elas podem ter um caráter positivo, contrário aos seus riscos, e ser utilizadas para auxiliar pessoas com distúrbios mentais e alimentares, por meio de comunidades virtuais e grupos online. A pesquisadora Keelin Howard, da Universidade Nova de Buckinghamshire, Reino Unido, realizou um estudo sobre o uso das redes sociais com 20 pessoas, de 23 a 28 anos, que apresentavam esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão e ansiedade. De acordo com os resultados
da pesquisa, o Facebook pode ajudar na recuperação de indivíduos com problemas mentais. Se o usuário utilizá-lo com moderação, passará a vê-lo como um novo amigo. Hoje, o ambiente virtual já é usado como fonte de apoio e aprendizado sobre seu próprio sofrimento psíquico. O psicólogo Marcelo De Lucca Figueiredo afirma que há um estigma muito grande quando se fala em terapias e doenças mentais. Um dos maiores problemas para quem sofre de transtornos mentais é a sensação de estar sozinho. Buscar apoio em grupos e comunidades nas redes sociais,
com pessoas que sofrem das mesmas doenças e compartilham suas experiências, diminui esse sentimento de solidão. “Quando sofria com a anorexia, via muitos casos no Tumblr e aquilo me fazia ver que não era só comigo que acontecia, eu não era a única com aquele transtorno. Lá as pessoas enfrentavam esse problema juntas”, relata a estudante de jornalismo Lais Marson, que já sofreu com anorexia nervosa, síndrome do pânico, depressão e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Ela chegou a frequentar psicólogo e psiquiatra e ainda continua o tratamento.
CAPACITAÇÃO
Tecnologia abre novos caminhos de formação pedagógica Edgar Nascimento Mesmo que o Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esteja depreciado em pelo menos quinze anos em relação à indústria tecnológica do primeiro mundo, meios high-tech recém-chegados ao País proporcionam, além do acesso à educação, novas maneiras de fomento ao conhecimento. “A facilidade com que meus alunos interagem com seus dispositivos, como marcar reuniões por chamadas de vídeo e construir seus trabalhos no mesmo arquivo e ao mesmo tempo, apenas confirma o que eu já esperava, uma nova era chegou”, conta Sílvia Horn, professora de Ciência da Computação da Universidade de São Paulo (USP). Sabendo disso, professores universitários buscam,
Edgar Nascimento
Redes abertas para o apoio
Novas possibilidades desafiam docentes e alunos principalmente por medo de ficar fora do mercado, o aperfeiçoamento com a tecnologia já presente em muitas universidades. A Universidade Federal de Tecnologia do Paraná, por exemplo, já oferece desde 2013 cursos de especialização em Tecnologias, Comunicação e Técnicas de Ensino, cujo objetivo é capacitar professores da educação superior para o uso crítico
das tecnologias no planejamento, na execução e na avaliação de atividades pedagógicas. “Cursos de educação à distância são provas de que a tecnologia chegou para facilitar, mas cabe a nós, como educadores, entendê-la da melhor maneira”, explica Cicera Fernanda Vilela, professora de Literatura e Estudos Linguísticos da Universidade Nove de Julho.
PERSEGUIÇÃO Rodrigo Calado
Receber uma foto constrangedora e, sem pensar, compartilhá-la com os amigos virtuais. Ler uma piada com insultos sobre um colega de classe e comentá-la. Espalhar um post que torne embaraçosa a vida de um estudante. Essas brincadeiras podem até parecer práticas corriqueiras, sobretudo nas redes sociais, mas elas revelam, no fundo, um comportamento social perverso: o cyberbullying, que se traduz no uso de dispositivos co-
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nectados à internet para enviar posts para machucar ou humilhar outra pessoa. O cyberbullying é um fenômeno de contornos trágicos, que tem impactado a sociedade no âmbito coletivo e no individual. É o que aponta um levantamento da Universidade de Illinóis, nos Estados Unidos: quem é vítima de provação persistente tem mais chances de desenvolver depressão, ansiedade e estresse pós-traumático. A pesquisa reuniu depoimentos de 480 alunos da universidade. Os estudiosos
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perguntaram sobre as experiências traumáticas que eles haviam sofrido desde o nascimento. Nos resultados, uma surpresa: entre as pessoas que afirmavam ter algum tipo de problema psicológico, a maioria já tinha sido vítima de bullying virtual na infância. “O bullying é um fenômeno que tem sido associado à depressão e à baixa autoestima, bem como a problemas na vida adulta relacionados a comportamentos antissociais”, observa Angela Marin,
professora de Psicologia da Unisinos. Quando entrou em um colégio novo, na zona oeste de São Paulo, os problemas começaram para Laura (nome fictício), à época com 15 anos, hoje com 20. A jovem entrou em conflitos com outros colegas de classe e, para conter as brigas, teve de ser trocada de turno, mas as agressões continuaram em outro espaço: o virtual. A menina foi ofendida com as palavras “rata” e “demônio” nas redes sociais. Laura sofreu traumas psi-
cológicos e teve de passar por mudanças. “Na época, minha família percebeu que a situação ficou insustentável e me trocou de escola. Peguei meio que um trauma daquela situação. Amava publicar nas redes sociais e, depois do que ocorreu, por um tempo não postei mais”, diz a menina. O percentual de vítimas de cyberbullying cresce ano a ano. Atualmente, atinge um quarto das crianças brasileiras, segundo estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Pixabay
Cyberbullying gera traumas para a vida adulta
SETOR FINANCEIRO
RISCOS DA REDE
Bancos digitais avançam e transformam setor
Proteger dados é requisito na web Soraia Victor A invasão de privacidade é um assunto em alta. Os casos de violação da vida íntima se tornaram recorrentes - e o fato de o mundo digital estar na palma da mão de todos os indivíduos gera maior visibilidade e riscos. Estudo da Avast, empresa especializada em segurança online, mostrou que 45,9% dos brasileiros declaram que nunca mudaram suas senhas mesmo após ser informados de alguma violação de dados.
Instituições financeiras tradicionais são desafiadas a renovar seu modelo de negócio A chegada de smartphones, programas e aplicativos estimulou, nos últimos anos, grandes empresas a buscar um novo jeito de se comunicar e oferecer produtos e serviços. Não foi diferente com os bancos: hoje, as instituições trabalham para trazer mais comodidade, praticidade e rapidez ao cliente por meio de recursos tecnológicos. Diferentemente do internet banking, aplicativo adotado pelo varejo bancário, os bancos digitais oferecem serviços e taxas mais baratos, reflexo dos menores custos graças à existência exclusiva em ambiente digital. Alguns usuários, todavia, questionam a segurança da informação e avaliam se seus dados financeiros estão realmente
a salvo dos hackers. De acordo com a revista Época Negócios, em agosto de 2018, o Banco Inter, uma das maiores instituições financeiras inteiramente digitais do Brasil, sofreu um ataque cibernético e teve 81.609 nomes de correntistas vazados. Em nota, o banco afirmou que, em maio, houve uma falha de segurança no sistema e que alguns dados foram acessados e divulgados. “Um dos principais problemas que comprometem a segurança digital está ligado à falha humana. Infelizmente, os usuários acabam abrindo brechas por falta de atenção e cuidado”, alerta o cientista da computação Daniel Lima. “Hoje, os bancos investem rigorosamente na proteção das informações com criptografia, mas o usuário também precisa
fazer a sua parte. Deve-se sempre estar atento ao acessar sites, salvar senhas e baixar arquivos.” VANTAGENS RISCOS
Pixabay
Gabriela Araújo
E
“As fintechs estão desafiando o status quo e impactando nos negócios dos grandes bancos tradicionais. Para evitar a migração dos clientes, essas instituições terão que buscar alternativas e revisar suas operações, com um serviço menos burocrático, taxas mais atraentes e uma experiência digital mais agradável”, afirma Filipe Rodrigues, economista e cliente do Nubank. Quando a segurança está em jogo, muita gente prefere tocar as finanças
à moda antiga. Segundo levantamento realizado pela Fintech View com 1.004 pessoas de diferentes regiões do Brasil, 59% dos usuários do segmento têm até 29 anos. De acordo com a pesquisa, a faixa etária e a região são fatores importantes no perfil do cliente de cada banco, e os jovens estão mais flexíveis à adesão a contas digitais.
SENHAS IGUAIS Apesar das políticas de privacidade e segurança de todas as redes que exigem o preenchimento de dados e senhas para utilizá-las, há diversos riscos a que o usuário está sujeito. Por isso, é preciso estar atento a alguns detalhes de proteção de senha e quais medi-
das adotar em caso de atentados de hackers. “As pessoas têm um hábito de criar a mesma senha para todos os sites, o que facilita para hackear. O primeiro cuidado para evitar que isso ocorra é ter um antivírus no computador e uma senha com o maior número de caracteres diferentes. O ideal é inventar uma palavra e misturar letras minúsculas e maiúsculas”, disse o coordenador de projetos de softwares Jefferson Oliveira. Jefferson alerta que, ao acessar um site, é preciso verificar se há um cadeado no canto esquerdo da URL. Isso indica que o site é criptografado, ou seja, há uma segurança ainda maior ali. Caso alguém tente visualizar as informações que a pessoa está trocando com o site, o hacker pegará somente “ruídos” - caracteres estranhos e difíceis de decifrar.
NEGÓCIOS DIGITAIS
Gabriela Ferraz
Nos últimos anos, a criação de conteúdo online se tornou uma grande e poderosa estratégia de comunicação. Os primeiros canais no YouTube, criados em 2012, já somam mais de 10 milhões de inscritos. Expor a vida na internet deixou de ser um estilo de vida para se tornar um negócio rentável - e o empreendedorismo digital auxilia as conexões entre pessoas e marcas por meio da influência.
A jovem Patrícia Dias, 22, realizou intercâmbio na Irlanda, em 2016, o que a motivou a criar um canal no YouTube. Atualmente com quase 24 mil inscritos no seu canal, lançou recentemente um blog. “Nele, tenho foco principalmente no meu lifestyle. Dou dicas de saúde, alimentação, exercícios físicos e amor próprio.” Os anos de 2015 e 2016 foram de maior destaque para os canais do Youtube; é o caso de Gabriel Parise, 22 anos, publicitário, que
hoje soma 6 mil inscritos em seu canal e 9 mil no Instagram. Em seu canal, os temas dos vídeos são comportamento, beleza, moda e lifestyle LGBT+. O conteúdo na web passou de um hobby dessas pessoas para um empreendimento pessoal. Patrícia afirma ter parceria com algumas marcas que divulga em suas redes sociais, além do trabalho em Londres, que é sua maior fonte de renda. “Recebo um valor mensal do You-
Tube por conta da monetização dos meus vídeos, mas não chega nem perto de ser algo que consiga me sustentar”, disse.
Pixabay
A era dos influenciadores-empreendedores NEGÓCIOS DE VALOR
As redes sociais chegaram a um patamar surpreendente: segundo o jornal O Globo, brasileiros gastam 650 horas por mês na internet, e 62% da nossa população está conectada por meio das redes sociais. Um hábito que precisa de modera-
ção. “Aprendi a usar as redes sociais e a internet com mais consciência e
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moderação, afinal, temos toda uma vida real e incrível fora dela”, diz Patrícia.
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ESPECIAL O caminho do desperdício
A conta da alimentação chegou para os brasileiros
10% do desperdício
acontece quando os produtores colhem os alimentos
50% ocorre no manejo e no
transporte de alimentos
30%
nas centrais de abastecimentos (Ceasas)
10%
são divididos entre consumidores e supermercados Fonte: ONU Brasil Vetores: Pixabay
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Michelle Luana
Escassez de recursos e impactos ambientais motivam projetos de empresas para reduzir desperdício de alimentos no País Michelle Luana
A sustentabilidade na produção e no consumo de alimentos no Brasil não é solução passageira: estudos científicos buscam aumentar a quantidade de alimentos disponíveis e diminuir o impacto ambiental. Em um País que enfrenta mudanças climáticas e escassez de recursos naturais, além de insegurança alimentar, a diminuição das perdas e do desperdício de comida tem se tornado prioridade para as grandes empresas. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) revelam que, apenas em 2017, um terço dos alimentos colhidos em todo o mundo não foi consumido pela população; essa perda acontece na etapa da cadeia de produção ou na mão do consumidor final, em restaurantes e domicílios (veja ao lado). Isso representa cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos que não são aproveitados ou, em dinheiro, um valor aproximado de US$ 1 trilhão. No Brasil, a FAO apoiou, a partir de setembro de 2016, a criação do Comitê Técnico da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN). O objetivo da estrutura foi desenvolver uma estratégia comum para enfrentar o problema, além de criar diretrizes gerais para contabilizar os desperdícios e
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Despejo de verduras é incoerente diante dos desafios globais da alimentação perdas no País. A agência da ONU também apoiou a elaboração de um diagnóstico nacional sobre o tema em questão. CICLO PRODUTIVO
O elo entre a produção e a distribuição de alimentos necessita de água, terra, adubos minerais, pesticidas, energia elétrica e combustíveis fósseis. O alimento que vai para o lixo leva com ele todos esses recursos que foram consumidos durante a produção, gerando impactos negativos na atmosfera e na biodiversidade. “A lógica é essa: quanto mais alimento é jogado no lixo, mais alimento precisa ser produzido para repor aquele que foi posto fora. Portanto, mais recursos naturais precisam ser usados”, problematiza o pesquisador Murilo Freire, que estuda a temática e trabalha na área de pós-colheita na Embrapa Hortaliças, vinculada à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. O desperdício da água
utilizada para irrigar cultivos agrícolas que resultam em lixo, e não em alimento, também é repreensível se considerarmos as constantes crises hídricas e os conflitos globais por causa desse recurso cada vez mais escasso no planeta. MAIS CIRCULARIDADE
O desperdício também pode contribuir para aumentar o preço e tornar o alimento menos acessível para a população de baixa renda. A responsabilidade é compartilhada por governantes, agricultores, comerciantes e indústria alimentícia. Pensando nisso, algumas empresas atuantes no setor criam alternativas. Segundo o presidente da empresa Cucinare, Carlos Alberto Costa, contabilizar todos os custos implicados no desperdício de alimentos amplia nossa compreensão do sistema alimentar. “Essa experiência traz mais clareza para a discussão dos impactos do desperdício na sociedade. É claro que desperdiçar
alimentos é censurável porque, enquanto há comida indo para o lixo, há pessoas passando fome.” Há quatro anos, Cucinare e Red Bull criaram uma parceria com financiamento da marca de energético para a criação de uma usina encarregada de receber e reciclar o lixo. Também nesta parceria, as cooperativas de reciclagem são responsáveis por levar os fardos com os resíduos, que são tratados e viram matéria-prima para adubo e outros materiais. Um diferencial deste serviço é que, além das empresas do Grupo Raízes, na qual a Cucinare está inserida, o processo de reciclagem também atende aos moradores do bairro de Pinheiros, em São Paulo. É um exemplo de tentativa de aplicação do conceito de economia circular - ou seja, negócios que têm modelo cíclico em substituição à extração contínua de recursos naturais que acabam voltando para a natureza de alguma forma.
FAZENDO AS CONTAS
Ao jogar fora o alimento comprado, o consumidor está desperdiçando seu próprio dinheiro. Resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo IBGE, em 2008/2009, indicaram que aproximadamente 25% do orçamento familiar se destinam à alimentação. O consumidor paga a conta de outra maneira também, sabendo que há prejuízos indiretos com o alimento descartado no lixo, como a própria gestão desses resíduos pelo poder público. “As ações individuais não são suficientes para a resolução dos problemas estruturantes do sistema alimentar, mas é preciso coordenar iniciativas nesses dois âmbitos para caminhar em direção à redução do desperdícioconstante”, defende Murilo Freire, da Embrapa. Para minimizar esse impacto, o poder público deve investir em aterros sanitários alinhados à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) brasileira. Contudo, Freire sinaliza que a destinação mais adequada para os resíduos orgânicos seriam os processos de degradação controlada, como compostagem e biodigestão. Ambos são processos que diminuiriam gradativamente os impactos negativos e melhorariam a quantidade de aterros sanitários.
CASA-CONTÊINER
Um novo jeito de construir
Empreendimentos gastronômicos se espalham por SP Larissa Porto
Inovação e sustentabilidade ganharam mais uma oportunidade de se unir no campo da construção, por meio de projetos baseados em contêineres. Esse conceito é fruto da criatividade de profissionais da arquitetura e trouxe como essência a construção sustentável, rápida e eficaz. O que surgiu como um ideal logo ganhou corpo por meio de manifestações
arquitetônicas e artísticas até chegar aos formatos e derivações que existem no mercado da construção civil atual. A tendência chegou ao Brasil em 2011, e a primeira construção foi projetada pelo arquiteto Danilo Corbas, na cidade de Cotia, em São Paulo. A proposta introduz um ar ousado e jovem ao ambiente, que pode ser utilizado tanto para moradia como para se tornar um ponto comercial. Lojas,
escritórios, coworkings e restaurantes são alguns dos usos possíveis. “Recentemente, a cidade de Criciúma inaugurou o primeiro centro de food truck de contêineres fora do estado de São Paulo”, contou o arquiteto Sérgio Ponci. O contêiner pode ser reformado em seu interior e exterior; dessa forma, é possível deixá-lo com estilo industrial ou mais parecido com uma casa convencional. “Podemos utilizar muitas técnicas para aperfeiçoar o projeto, é sem dúvida uma ótima opção para quem quer economizar e se preocupar com o meio ambiente”, diz Ponci. VARIEDADES
Em meio aos pontos positivos, não podíamos deixar de revelar algumas desvantagens e precauções que precisam ser adotados com esse tipo de construção. É sempre necessário verificar o espaço do local onde será
instalado, por conta das manobras feitas pelo guindaste no transporte do objeto. São necessários profissionais especializados nesse tipo de projeto para a execução, como engenheiros ou arquitetos. Em caso de o contêiner ter um histórico de utilização para transporte de materiais contaminantes, um tratamento específico deve ser feito para não prejudicar a saúde das pessoas que frequentarem o local após a construção. Muitos designs são encontrados entre eles – dos mais simples, que utilizam basicamente o próprio contêiner, até modelos arrojados que assumem critérios e requisitos de sustentabilidade. Empresas também inserem o aproveitamento de energia solar e da água das chuvas nas propostas. “Rentável, chega a ser até um terço mais barato do que um projeto de alvenaria”, conta o empresário Bonome Schiaffino.
Há, ainda, projetos mistos, que incluem vidro, madeira, alumínio e cimento na construção em geral. Entre os modelos residenciais existentes há contêineres térreos, com dois ou três andares, alguns com terraços e sacadas. Entre os tipos de contêiner existentes, são priorizados o standard e o high cube. Em suma, as variações possuem apenas duas medidas: seis
ou 12 metros de comprimento por 2,5 de largura. Para chegar ao local de instalação, adota-se o transporte por meio de caminhões. “Atualmente, ainda não se veem muitos projetos espalhados pelas cidades, mas é uma boa opção, sustentável, que promete ganhar espaço nos próximos anos”, afirma o professor de design de interiores Carlos de Melo.
Larissa Porto
Larissa Porto
Modelo alternativo viabiliza economia nos projetos e traz proteção ao meio ambiente
Escritório feito com container de transporte
REAPROVEITAMENTO
Vanessa Nunes
No Brasil, são produzidas cerca de 150 toneladas de lixo por dia - e menos da metade desse material é reciclada ou tratada como resíduo orgânico. O que poucas pessoas sabem é que é possível colaborar para aumentar esse percentual transformando o lixo orgânico em adubo caseiro para hortas. Além de ser uma ma-
neira fácil de contribuir com o meio ambiente, o adubo feito em casa faz com que o solo receba mais nutrientes. “Nos dias de hoje, precisamos pensar no futuro de nossos filhos. E são pequenas atitudes que transformarão suas vidas”, diz Melina Victor, vendedora de automóveis, que tem uma composteira em casa há mais de sete anos. A prática da compos-
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Compostagem pode gerar adubo caseiro
Composteira doméstica transforma restos em adubo tagem orgânica não é nova, porém se tornou mais popular com o aumento das preocupações com a sustentabilidade. No Oriente Médio, já é aplicada há alguns sé-
culos, e, na Europa, foi usada nos séculos XVIII e XIX. COMO FAZER
A compostagem doméstica precisa apenas
de um recipiente para colocar o lixo (balde, bacia ou pote de sorvete). Podem ser usadas cascas de frutas e legumes, resto de leite, filtro de café, iogurtes e queijos. Não se deve usar restos de comidas temperadas, cinzas de cigarros, gorduras animais ou restos de carne. Para fazê-la, basta furar o fundo do recipiente com auxílio de um prego ou qualquer objeto pon-
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tudo; os furos vão servir para liberar o líquido conhecido como chorume, que sai do lixo. Em seguida, deve-se furar o lixo por camadas e com resíduos de diferentes, tipos para que os nutrientes se misturem. O lixo deve, então, se decompor em média por 15 dias. Para saber o ponto, basta esfregar o lixo nas mãos; se não sujar, é sinal de que já está pronto.
EXPRESSÃO
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URBANISMO
ABASTECIMENTO
Águas tóxicas: poluição dos rios afeta metrópoles
Cidades sustentáveis: Curitiba ainda é exemplo no País De olho em demandas atuais, gestão municipal elabora novos projetos nas áreas de energia e saneamento Considerada uma das dez cidades mais sustentáveis do mundo, a capital paranaense Curitiba combina uma série de recursos icônicos desse conceito - a começar pela proporção de áreas verdes. São 16 parques, 14 bosques, mais de mil espaços verdes urbanos e uma legislação ambiental que reforça a proteção da vegetação local. No Ano Novo, por exemplo, não é permitido soltar fogos de artifícios no famoso Parque Barigui, onde muitas famílias passam a noite da virada. A fama, porém, não se resume à presença de arborização. A cidade de 1,7 milhão de habitantes ganhou fama por, há mais de 30 anos, ter implantado um sistema de corredores de ônibus que inspirou mais de 80 países, tendo entre os entusiastas Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do estado do Paraná. Além disso, a capital tem hoje cerca de 120 quilômetros de ciclovias, que a ligam de ponta a ponta. O percurso é maior que a soma de ciclovias de outras grandes cidades, como São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG). Também existem cam-
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Pixabay
Lilian Fonseca
Clauber Fonseca
Vista do lago do Jardim Botânico de Curitiba: novos projetos à vista panhas para que os ciclistas sejam respeitados nas áreas onde não há ciclovia. Embora a cidade seja exemplo em vários aspectos, queixas de moradores são frequentes. O sistema de Bus Rapid Transit (BRT, na sigla em inglês) e os famosos “tubos”, estações de coletivo, por exemplo, vivem lotados em horários de pico, e o trânsito da região metropolitana é equivalente ao de cidades sem tanta fama. “Quando falamos em mobilidade estamos fazendo uma relação entre o ser humano e a cidade. Logo, podemos analisar a cidade como um organismo onde tudo é interligado. Um fator importante para se obter êxito para melhorar
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a mobilidade é contar com uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais capacitados e preparados para acompanhar a evolução da cidade, junto com a população, pois não há uma receita pronta para este caminho”, diz a arquiteta e urbanista Flaviane Cardoso. CORRENDO ATRÁS
Ao Expressão, a prefeitura de Curitiba informou que há novos projetos para reforçar a posição do município. “Já estão em andamento planos como a instalação de painéis solares no teto do Palácio 29 de Março, sede da prefeitura, e de uma turbina no vertedouro do lago do Parque Barigui, um dos mais antigos e famosos da cidade, para
a geração de energia por hidrelétrica”, diz Frances Schwars, assessor de imprensa da Secretaria de Comunicação Social. Para o saneamento básico da cidade, que no quesito abastecimento de água e tratamento atende 100% da população, há planos para melhorias. “Teremos a renovação do Plano municipal de Saneamento Básico, com metas de curto, médio e longo prazos para aumentar a regularização das ligações de esgoto”, diz Schwars. No Brasil, apenas quatro cidades alcançam 100% da população em todos os serviços de saneamento básico: São Caetano do Sul, Piracicaba, Santa Fé do Sul e Uchoa. Todas ficam no estado de São Paulo.
Em uma sociedade orientada por práticas de mercado, é natural que se busque o desenvolvimento das indústrias. Um dos dilemas desse modelo econômico, porém, é o conflito entre as necessidades de preservação ambiental e os impactos do consumo de produtos e seus processos de fabricação; um problema que se traduz, muitas vezes, na poluição de cursos d´água. Segundo levantamento da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, na sigla em inglês), 25 milhões de toneladas de lixo vão para o mar todo ano. A maior parte vem das cidades: cerca de 80% de todos os dejetos. O estudo da associação levantou a quantidade de lixo que não é coletada no mundo, e o resultado apontou entre 500 e 900 milhões de toneladas. O mapeamento ainda identificou pontos de descarte irregulares perto de mares ou de corpos hídricos. A conclusão é que há no mínimo 25 milhões de toneladas chegando aos mares e rios. Além de poluir os mares, as cidades também sofrem com a precariedade na coleta seletiva e na gestão de resíduos não recicláveis. Uma vez despejados nos rios, dejetos criam transtor-
nos ao meio ambiente e à população. Ainda na capital paulista, estudo feito na Represa Billings em julho deste ano pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul aponta que a água é mais poluída do que se imaginava. O dique é responsável pelo abastecimento de 1,5 milhão de pessoas do ABC e da zona sul da cidade de São Paulo. Foram encontrados mais de 12 grupos de bactérias que ainda não se sabia que existiam na represa. A coleta foi realizada com amostras do lodo do fundo da barragem em áreas nas quais a qualidade da água é considerada regular ou até mesmo boa. Outro problema alarmante é que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), entre 60% e 80% de todo o lixo que existe no mar é composto de materiais plásticos. Acredita-se que até 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Recentemente, um vídeo viralizou na internet mostrando uma onda marítima tomada por lixo. A gravação é das Filipinas e circulou em agosto deste ano. As imagens são impressionantes e mostram que, no final das contas, as ruas das grandes cidades são a origem dos resíduos que danificam fontes hídricas.
CADEIA PRODUTIVA
Setor têxtil corre atrás do atraso e repara impactos
Pegada ambiental da moda
Larissa Fernandes
Com o intuito de reduzir seus reflexos sobre o meio ambiente, indústrias e marcas de moda buscam soluções para o desperdício Larissa Fernandes
NOVO CONSUMIRDOR
A marca acumula clientes fiéis, que costumam fazer recompra e acompanhar a Joaquina nos sites e redes sociais. Segundo Harumy Yamaguchi, responsável pela área de Branding e Estilo da marca, os consumidores são engajados e se inteVista panorâmica da loja Joaquina Brasil plásticas submetidas a um processo químico que as transforma em poliéster e refibra, uma fibra produzida a partir de resíduos de madeira, algodão e celulose. Para deter o desperdício de água e de outras matérias-primas, a empresa Focus Têxtil criou o Projeto Circular, que promove e incentiva a produção de moda sustentável. A iniciativa vai eleger cinco marcas autorais para participar de um programa de apoio à criação de planos de negócio. O treinamento abrange capacitações com design e criação de produtos com tecidos de reúso da empresa, oficinas sobre
práticas de gestão e estratégias de internacionalização. As peças serão expostas em eventos nacionais e internacionais.
de gases de efeito estufa são emitidas pelo setor anualmente
5,5%
é crescimento anual médio do mercado têxtil
US$ 2,4 trilhões são movimentados todos os anos
US$ 500 bilhões
são jogados fora com roupas pouco usadas e quase nunca recicladas
500 mil toneladas
de microfibras plásticas são liberadas na lavagem de roupas
170 mil toneladas de lixo têxtil são geradas em um ano
UPCYCLING
Combinando trabalhos de moda sustentável e ações sociais, a marca de upcyling Joaquina Brasil incentiva o consumo consciente e é a primeira marca brasileira sustentável a atuar no varejo. Criada em 2016 pela empresária Roberta Negrini, produz todas as suas coleções no modelo de upcycling, ou seja, por meio da compra de excessos de tecidos de grandes indústrias que provavelmente seriam descartados.
+ de 1,2 bilhão de toneladas
ressam pelos propósitos oferecidos. Há também clientes que se interessam primeiramente pelo design da peça e acabam se mobilizando em torno dos propósitos como consequência. “Algumas pessoas chegaram a nos procurar por sermos uma marca de upcycling, mas infelizmente ainda é um conceito/processo pouco difundido e que poucas pessoas sabem o que realmente significa. Ainda assim, a moda sustentável tem crescido cada vez mais. Hoje, mais pessoas têm se engajado e nos procura pelo que fazemos e pela maneira como operamos.” Larissa Fernandes
A sustentabilidade no setor têxtil cresce constantemente na indústria da moda, com impulso de pesquisas e investimentos. A preocupação com os impactos ambientais e sociais causados pela produção de roupas é vista como saída de negócio para um setor que, tradicionalmente, gera impactos hídricos, energéticos e de resíduos para o meio ambiente. A indústria têxtil é intensiva em uso de recursos naturais e, hoje, é a segunda que mais polui no mundo: 25% de todo o tecido produzido é transformado em lixo tóxico. Uma camiseta de algodão, por exemplo, consome dois mil litros de água para ser produzida; na produção de uma calça jeans, são usados 11 mil litros de água. Com o objetivo de reparar os impactos ambientais que o setor têxtil provoca, práticas e técnicas sustentáveis diminuem os lixos tóxicos produzidos: a reutilização de água, um dos maiores impactos em recursos naturais causados por essa indústria, foi adotada por empresas com o reúso da água e sistemas químicos aplicados para devolvê-la com qualidade ao meio ambiente. Outras medidas são retalhos coletados para iniciativas sociais e reciclagem, com garrafas
Além do reúso dos tecidos, a marca promove projetos de capacitação com a ideia de ensinar uma nova profissão e gerar renda para ex-presidiárias, mulheres com pouca competitividade no mercado de trabalho e imigrantes recém-chegados ao País.
1/2 milhão de toneladas
foi despejado nos oceanos em 2015
Fonte: “A new textiles economy: Redesigning fashion’s future”, estudo da Ellen MacArthur
Araras com roupas recicladas, feitas a partir de retalhos
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Foundation (2017)
EXPRESSÃO
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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Transtorno desafia rotina pessoal e escolar Eliana Barreto Geliolli
Identificado principalmente na infância, o TDAH requer esforços pedagógicos e atenção especializada
Alunos em atividade que estimula a concentração e a memória: um desafio aos pais e às escolas Cintia Santos
Conhecido como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH é uma condição normalmente classificada pela combinação de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Sua identificação depende de informações clínicas e, de acordo com estudo de 2015 das universidades de São Paulo (USP) e federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e Rio Grande do Sul (UFRGS),
há no País cerca de 250 mil crianças e adolescentes que têm TDAH sem saber. De acordo com o pediatra e neurologista infantil Clay Brites, do Instituto Neuro Saber, o tratamento do TDAH pode ser revertido a ponto de a pessoa não ser mais dependente do medicamento. “Isso depende da intensidade dos sintomas e se há presença ou não de outros transtornos associados, as chamadas comorbidades”, afirma.
Seja ele identificado na infância, seja no decorrer da vida adulta, o transtorno tem orientações psicoterápicas de acordo com o contexto do paciente, além de indicações de dosagem de medicação. “No adulto, estratégias para lidar com as rotinas e o treino de meios para otimizar organização do tempo e das prioridades são orientados”, afirma Brites. O Expressão conversou com o analista de sistemas Marcelo Nogueira, identificado com TDAH e tratado por medicação desde 2016. “Quando era criança, tive problemas com a escola, era distraído e demorei para superar as dificuldades de aprendizado. Mas, naquela época, não havia o diagnóstico de TDAH, então, com ajuda da família e adequando algumas coisas, como local para estudar, silêncio, iluminação, rotina de estudo, horário de sono, consegui superar um pouco as dificuldades”, relata.
Hoje em dia, as escolas que possuem alunos com esse tipo de transtorno desenvolveram um método avaliativo de acompanhamento contínuo em sala de aula, estratégia capaz de identificar um estudante que sofra de TDAH. “Quando diagnosticado, o relatório é entregue aos pais, para que o responsável procure por uma visão médica, geralmente um psicólogo ou neurologista”, diz a professora do Ensino Fundamental do Governo do Estado de São Paulo Eliana Geliolli. Para incluir um estudante com TDAH em sala de aula, é fundamental que o ambiente escolar seja acolhedor e confortável. “O professor deverá escolher o melhor local para o aluno se sentar, além de oferecer uma diversidade de materiais pedagógicos, com estímulos audiovisuais ou sensoriais para melhorar a sua memorização”, esclarece.
DIVERSÃO PERIGOSA
Blecaute alcoólico: perigo silencioso da bebida Fernanda Alves
O excesso de bebida e o alto teor alcoólico em determinados drinques podem provocar uma amnésia temporária. Normalmente, o problema ocorre com indivíduos que têm o hábito de beber muito e com frequência. É caracterizado por “blecaute alcoólico” o esquecimento total ou parcial de fatos sem que haja perda de consciência.
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Sob o efeito da bebida alcoólica, a pessoa tem a capacidade de agir normalmente, mas, quando sóbria, não consegue lembrar de nada. O neurocirurgião e neurologista Bruno Regis Prado afirma que o álcool age diretamente no sistema nervoso central. “Causa uma espécie de anestesia e apaga definitivamente determinadas informações da memória ocorridas durante a embriaguez.”
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Apesar de os blecautes ocorrerem principalmente em alcoólatras crônicos, também afetam pessoas que bebem ocasionalmente. Segundo Prado, ingerir álcool rapidamente pode ser um gatilho, especialmente se o indivíduo estiver muito cansado ou com fome. Mulheres, jovens e idosos são os mais afetados por uma questão hormonal – que dificulta a capacidade do organismo de metabolizar o álcool.
Prado diz que, com o tempo e a constante ingestão de álcool, a amnésia temporária pode evoluir para a Síndrome de Korsakoff. Caso isso corra, a amnésia deixa de ser temporária e o indivíduo passa a não se lembrar de acontecimentos do passado e compromissos futuros. “Ainda que o paciente pare de beber, estagnando a doença, não se recupera o que já foi perdido”, explica.
INFRAESTRUTURA
Inclusão de PcD em escolas enfrenta barreiras Bianca Senhoreli
Mesmo com quase 2,5 milhões de crianças ainda fora da escola, segundo levantamento de 2017 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a cada ano o número de crianças com deficiência aumenta nas salas de aula pelo Brasil. O aumento faz com que alguns colégios exclusivos para esses alunos percam espaço, pois a inclusão pode trazer benefícios, de acordo com especialistas. No entanto, nem todas as escolas da rede pública estão preparadas para recebê-los. Segundo dados do Censo Escolar da Educação Básica 2017, o índice de inclusão de pessoas com deficiência em classes regulares chegou a 90,9% (contra 85,5% em 2013). Porém, somente 40,1% desses alunos têm acesso a atendimento educacional especializado. Assim, o ensino privado ainda é um caminho para quem quer atenção própria ao estudante. “Minha primeira experiência foi com uma criança de cadeira de rodas, no meu primeiro estágio,
no qual me deparei com uma sala de 34 alunos e somente uma professora. Na hora dos intervalos, ela tinha que ficar na sala de aula, pois não havia estrutura para ela se locomover na escola”, diz Karoline Miranda, hoje professora do colégio Fereguetti, na Penha (zona leste de São Paulo), que atuou no ensino público durante sua formação. Costumeiramente, colégios particulares cobravam uma taxa para que o aluno com deficiência tivesse algum acompanhante. Em julho de 2015, porém, foi aprovada a Lei Brasileira da Pessoa com Deficiência, que proíbe as instituições privadas de adicionar valores à mensalidade da criança. Mesmo sem esse valor adicional, as escolas privadas ainda têm mais estrutura, segundo Karoline. “Quando comecei a trabalhar na escola privada, tive a oportunidade de trabalhar mais na inclusão da criança e percebi o quanto a educação tem que melhorar no Brasil diante disso. Quero ser alguém que se dispõe a ajudar essas crianças”, relata. Pixabay
Acessibilidade e métodos pegagógicos inclusivos são assegurados pela legislação brasileira
FAKE NEWS
REPRESENTATIVIDADE
Psicologia explica crença em conteúdos falsos Agência Brasil
Disseminação de boatos pode se conectar a problemas como estresse e ansiedade
Pessoas com problemas emocionais tem mais tendência a crer em fake news Paula Prata
Neste ano, especialistas reunidos no Congresso da Associação Americana de Psicologia discutiram o fenômeno das notícias falsas, também conhecidas pelo inglês fake news. A discussão nos dias de hoje ganha força por conta da distribuição em redes sociais, blogs e canais de vídeos - incluindo dados com repercussão e impactos dire-
tos na cena política. Psicólogos e profissionais da saúde têm discutido a influência da ansiedade e do estresse na crença em notícias falsas. Segundo especialistas, pessoas que sofrem desses transtornos estabelecem crenças a partir da necessidade de se manter confortável com o mundo ao redor; o fenômeno é conhecido como “viés da informação”.
“Geralmente essas mensagens falsas são criadas com a ideia de impacto, então pessoas que estão mais vulneráveis podem acreditar mais facilmente em fake news, por exemplo pessoas com depressão, ansiedade ou estresse”, explica a Agnes Siqueira, psicóloga clínica de jovens e adultos. IDENTIFICAÇÃO
Desde o nascimento do ser humano, o cérebro recebe informações que são alimentadas com o passar da vida. Quando adulto, o indivíduo com ideias formadas tende a recusar ou ignorar informações contrárias às já estabelecidas. As fake news, em sua grande maioria, atingem pessoas que se identificam com a notícia e a compartilham. A especialista também explica o impacto de
uma notícia sem procedência na mente do ser humano. “Podemos dar como exemplo uma empresa em que roda uma notícia de demissão em massa. As pessoas começam a se preocupar: quem será demitido? Eu serei demitido? Como pagarei minhas contas?”, questiona. “O nosso corpo já tenta defesas, e algumas pessoas, em sua grande maioria, não sabem lidar com a pressão e já se sentem incapazes.” De acordo com a psicóloga, a ajuda especializada é fundamental. “A psicologia pode auxiliar na ressignificação das crenças e no relaxamento, por meio do processo terapêutico em si. As pessoas comuns podem ajudar, sem julgar”, diz.
BIBLIOTECA BIOLÓGICA
Banco de cérebros da USP viabiliza estudos sobre envelhecimento Micaela Santos Quando pensamos em acervos, é comum vir à mente uma coleção de insetos e fósseis de animais e plantas das bibliotecas e dos centros de pesquisa. Mas, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), um grupo de mais de mil exemplares de cérebros forma o Banco de Encéfalos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral, o maior da América Latina.
Criado em 2004 a partir da parceria entre a disciplina de Geriatria e os departamentos de Patologia e Neurologia da FMUSP, o Biobanco usa materiais de autópsias colhidos no Serviço de Óbitos da USP para estudar o envelhecimento. Os encéfalos são recebidos a partir de doações de familiares de falecidos de várias idades; não há preferência por gênero. Depois de coletados, os cérebros são fixados em formol e passam por análises neuropatológicas.
Pode parecer um acervo um tanto inusitado, mas o Biobanco da USP tem ajudado no desenvolvimento de estudos científicos e até no diagnóstico de Alzheimer, tipo mais comum da demência. Para a professora da FMUSP Claudia Suemoto, uma das coordenadoras do Biobanco, a quantidade de dados de pesquisa em países em desenvolvimento como o Brasil ainda é escassa. “A maior parte dos dados vem dos Estados Unidos e
Acervo da FMUSP da Europa”, diz Suemoto. A doação de cérebros é parte fundamental para o funcionamento do acervo. “Iniciativas como esta ajudam a entender os fatores de risco em países como o Brasil e são essenciais para que a nossa e outras pesquisas nessa área sejam possíveis”, completa.
Pixabay
Mulheres avançam na produção científica
Áreas específicas têm ganhado presença feminina Larissa Brandão
Quando falamos em cientistas, logo vêm à cabeça imagens de homens vestidos de branco fazendo cálculos mirabolantes. Esse pensamento se enraizou em nossa cultura, alimentado por séries e filmes que mostram uma predominância masculina – algo em transformação no cenário brasileiro. Hoje, a proporção de publicações de artigos periódicos por mulheres no País é de 49%, segundo relatório da Elsevier publicado em 2017. No filme “Estrelas além do tempo” (2016), de Theodore Melfi, conhecemos a história de Mary Jackson (1921-2005),Katherine Johnson (1918-atualmente) e Dorothy Vaughan (19102008), três cientistas afro-americanas que na década de 1960 trabalharam na Nasa, agência especial dos Estados Unidos, e contribuíram para a conquista do espaço. No longa, vemos a dificuldade dessas mulheres para conseguir destaque na Nasa, mesmo com todas as qualidades necessárias para alcançar cargos importantes. É um exemplo de uma luta até hoje travada por muitas mulheres. Doutora e mestre em Física, Raíla André, de 31 anos, conta o quão difícil foi sua trajetória para chegar aonde está nos dias de hoje. “Lembro-me de
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quando entrei no curso de graduação em 2005. Em uma turma de 40 alunos, só havia duas mulheres e eu era uma delas. Infelizmente, algumas vezes, sofri preconceito de colegas e de professores, principalmente durante a graduação”, relata. “Na maioria das vezes, os comentários eram feitos de forma velada. Cheguei a ouvir de um professor em tom de piada que meu lugar, por ser mulher, não era na Física.” Assim como as mulheres retratadas no filme, Raíla teve que insistir muito para alcançar seu espaço como mulher na ciência. “Durante o mestrado e o doutorado, pude perceber o número de mulheres crescendo em todas as fases. Essa é a tendência em praticamente todos os setores da sociedade, e com a ciência isso não poderia ser diferente”, opina. Segundo Raíla, o estímulo deve começar já no período escolar. “Depois de aumentar o interesse das crianças pela ciência, o governo tem que dar meios para que esses futuros cientistas possam dar início a essa carreira. No caso das mulheres, o deveríamos investir criando bolsas de estudos e vagas específicas para esse grupo”, relata. “Desta forma, daqui a alguns anos, as mulheres iriam se equiparar em número aos homens na ciência.”
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ARTES
Fernanda Castellar
Ritmo desperta o interesse dos adolescentes e serve como cartão de visitas à cultura asiática Fernanda Castellar
Provavelmente você já deve ter ouvido falar de k-pop, abreviação de “korean pop”, termo utilizado para designar o estilo musical coreano que ganha cada vez mais espaço no mundo e no gosto dos jovens brasileiros. O clipe da música Gangnam Style, do cantor PSY, teve grande influência como um dos precursores dessa onda mundial. Atualmente, uma série de cantores do mesmo segmento ganha popularidade nas redes sociais; é o caso do grupo BTS, que, nos últimos 12 meses, bateu a marca de 3,8 bilhões de reproduções de suas músicas no YouTube. O Brasil está no sexto lugar no ranking de países que mais contribuíram para o resultado, com cerca de 233 milhões visualizações durante esse período, segundo dados da plataforma.
Grupo Blanc7 em show no Anime Friends 2018 O k-pop contribui com a quebra de barreiras culturais, pois, com sua popularização, fomenta o interesse de jovens brasileiros pela Coreia do Sul, sua língua, sua história e seus costumes. Henrique Manninger é administrador de um dos maiores perfis no Instagram dedicados ao grupo Black Pink no Brasil e conta que o contato com o estilo mudou sua visão sobre o país. “O k-pop me proporciona uma expansão cultural. Acompanhar
os ídolos faz com que você queira se comunicar com eles e aprender no mínimo o básico da língua coreana”, explica. “Minha visão era muito estereotipada. Antes, pensava que os orientais eram todos iguais, que eram super inteligentes e que as línguas faladas nos países asiáticos eram uma só. Hoje percebo que isso era burrice.” ESTILOS DE VIDA
Jovens brasileiros não só passaram a consumir
produtos de entretenimento coreano; também incorporaram conceitos de moda e musicalidade asiáticas. A coreografia é um dos principais fatores que caracterizam o k-pop. Dessa forma, o mercado da dança começa a se remodelar e oferecer aulas especializadas. “O estudo dos dançarinos para essa área aumentou muito desde o estouro do k-pop. Estúdios grandes, especializados em danças urbanas, passam a oferecer aulas direcionadas apenas para quem quer aprender o ritmo coreano”, conta o professor e dançarino Vinícius Lee. “Até grupos mais tradicionais, como o Shake-se Dance Crew, que eu nunca pensei que trabalhariam com k-pop, estão introduzindo o ritmo em seus trabalhos.”
MULHERES RADICAIS
Exposição traz o corpo como campo político Gabriela Gonçalves
Um olhar de mulheres sobre seu próprio corpo é apresentado na exposição “Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 19601985”, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo. A mostra tem a curadoria de duas mulheres e é a primeira na história ao trazer um mapeamento tão significativo de produções e experimentos artísticos feitos apenas por artistas latinas.
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A exposição, que dialoga com os crescentes movimentos de mulheres dos últimos anos, registra um recorte que influencia a presença e a participação do corpo feminino na arte contemporânea. De acordo com Valéria Picolli, curadora-chefe da Pinacoteca, “a América Latina conserva um histórico significativo de militância feminista, não só nos dias atuais, dialogando com pautas como a legalização
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do aborto, mas sobretudo na década de 1980. “A mostra busca registrar o patrimônio estético criado a partir dessas novas influências.” As curadoras Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta realizaram um extenso trabalho de pesquisa para a mostra. “As atrocidades cometidas pelos regimes ditatoriais na América Latina resultaram nas denúncias dessas e de outras violências que refletem no trabalho das
artistas”. A exposição conta com autorretratos, pinturas, vídeos de performances e a pesquisa das curadoras e inclui as produções de 120 artistas do Brasil, do Chile, da Colômbia e da Costa Rica, junto com outros 12 países.
MÚSICA + ESPORTE
Tradição de Ouro: do futebol ao samba Nathalia Fanti
Praticado em campos que não possuem estrutura adequada para a prática do esporte oficial, o futebol de várzea vive uma fase positiva no Brasil. Geralmente, os times são formados por atletas de bairros, vilas e favelas e só costumam receber quando participam de campeonatos, uma vez que a maioria não possui patrocinadores. A falta de remuneração nunca impediu os atletas de transformar futebol em arte. Em Santo André, o time de futebol de várzea Ouro Verde Esporte Clube, que atualmente tem 78 anos de existência, fundou em 1997 a sua própria escola de samba, a Tradição de Ouro, no bairro Santa Terezinha. Nasceu, aí, uma criativa combinação de música e esporte, que dá visibilidade e potencializa o trabalho dos membros do clube. “A ideia surgiu em uma conversa no bar da comunidade, quando os jogadores do time se reuniram para conversar depois de um jogo. Lembro que na época a gente frequentava várias escolas de samba, como a Gaviões e a Vai-Vai, e aí pensamos: por que não criar a nossa própria?”, comenta José Luís Gomes, o Luizinho, 75 anos, atual presidente da escola de samba.
Tricampeã do Carnaval de Santo André, a escola desfilou em 2008 e em 2009 pelo Grupo B de acesso; em 2011, chegou ao grupo A. São três troféus de campeões e dois de vice até o momento. Faz dois anos que o carnaval andreense não é realizado. O prefeito Paulo Serra (PSDB), eleito em 2016, alega que por conta da crise econômica o município está sem verba para a realização do evento. Após 11 anos da criação da escola de samba, os fundadores decidiram criar outro time de várzea que levaria o nome da escola, Tradição de Ouro. Hoje, a agremiação possui dois times que disputam a primeira e segunda divisões do Campeonato Amador de Santo André. Sambista e jogador do time Ouro Verde há quase oito anos, Everton Silva, 33, ressalta a importância que a bateria tem para a equipe. “A maioria dos atletas do time participa da Tradição, seja tocando ou participando dos ensaios.” Atualmente com 450 componentes, a Tradição de Ouro se reúne todas as segundas-feiras, por volta das 21h, para ensaiar; aos domingos, apoia os times nos jogos que acontecem em casa.
Nathalia Fanti
K-pop ganha popularidade entre os brasileiros
MULHERES DIGITAIS Praça da Luz 2, São Paulo De quarta a segunda, das 10 às 17h30 Ingressos: R$ 6,00 (grátis aos sábados)
Fachada da Escola de Samba em Santa Terezinha
COMIDA AFRICANA
Congolinária oferece gastronomia vegana
LEITURA COMO HOBBY Restaurante da zona oeste reverte parte de
De acordo com a última Pesquisa Relatos da Leitura no Brasil, o número de leitores brasileiros cresceu apenas 6% nos últimos anos, um número ainda muito pequeno em comparação com os 50% que tínhamos em 2014
67% das pessoas entrevistadas alegam que não tiveram incentivo à leitura. 32% não possuem tempo para ler
O hábito da leitura segue estagnado em
décimo lugar
quando o assunto é o que se gosta de fazer no tempo livre
Fotos de Lais Evelyn
seus resultados a um projeto social
Mbuzi: fufu, couve na mwama e banana da terra combinados em um prato típico Lais Evelyn
No final da Avenida Professor Afonso Bovero, numa pequena porta ao lado do número 382, está um lugar privilegiado para experimentar a comida congolesa na cidade. Fundado há dois anos pelo advogado, chef, professor e ativista Pitchou Luambo, o Congolinária inova ao trazer produtos naturais e não industrializados em seu cardápio. “Cheguei ao Brasil há nove anos. Percebi que entrar na casa do brasileiro, independentemente de ser negro ou branco, é sempre
fográfico, na pág.16). “A comida é muito diferente do que eu imaginava”, diz a estudante de Publicidade e Propaganda Lilian Negrão, de 23 anos, ao experimentar pela primeira vez a gastronomia africana. “Eu não esperava que um nhoque de banana da terra com um suco de hibisco e manga seriam tão bons”, comenta. Além de popularizar iguarias, o Pitchou Luambo doa 3% do lucro de cada prato para seu projeto Órfãos Djoke, no Congo, que ajuda crianças que perderam suas famílias com a guerra.
LITERATURA NA FAIXA
Quiosque oferece acesso à leitura Lais Marson
No ritmo atual, serão necessários em torno de 260 anos para que o Brasil alcance os índices de leitura dos países desenvolvidos, afirma o Banco Mundial
por meio da comida. Todo mundo come e quer experimentar, e há sempre uma história por trás dela”, afirma o chef. “Foi por meio da comida que tivemos a ideia de abrir um restaurante para apresentar os pratos típicos do Congo, mas nos adaptamos um pouco ao jeito brasileiro”, diz ele. Entre os pratos servidos na casa estão batata chips de banana da terra e pequenos pastéis africanos (sambusas), sucos e pratos congolenses - como o Bata, arroz de coco, espinafre refogado no creme de semente de girassol e purê de milho verde (confira alguns pratos no in-
Com o intuito de atiçar a curiosidade pela leitura, principalmente em crianças e adolescentes, eventos são estabelecidos anualmente, como a Bienal do Livro. Além disso, escolas do governo fazem ciclos de empréstimo de livros. Um destaque, porém, são as parcerias que oferecem pontos de leitura gratuitos
- é o caso do Quiosque da Leitura no parque Ceret Anália Franco, zona leste de São Paulo. O espaço oferece uma estante de 16 nichos onde as pessoas podem depositar seus livros usados para doação e retirar outros para a leitura, é gratuito e sem burocracia. O quiosque chama atenção principalmente das crianças, já que também é recheado de li-
vros infantis e fica perto do parque de recreação. “É muito bom ver que estão disponibilizando livros no parque para que as pessoas possam ler”, diz Beatriz Maria Mafra, 19 anos, estudante de Direito, que frequenta o Ceret desde pequena. “É muito bom ver uma criança se interessar por isso também, principalmente se ela não tem fácil acesso, como eu tive.”
TRILHA SONORA?
Música no metrô: dilema entre stress e relaxamento Luana Amorim “Não incomode os outros usuários, use fones de ouvido. Assim você mantém a boa convivência entre os usuários nos trens e estações”. Quem pega metrô em São Paulo já ouviu essa frase nos alto-falantes; no entanto, desde julho essa colocação se tornou contraditória, uma vez que a música ambiente tomou conta dos trens e estações. De responsabilidade da empresa iCult, a sonorização, que custa R$ 40 mil mensais à Companhia do Metropolitano de São Paulo, tem como objetivo relaxar os mais de 3,7 milhões de usuários que viajam diariamente por meio desse sistema de mobilidade, muitas vezes enfrentando filas e superlotação. Ao que tudo indica, o alívio na tensão não é unânime; algumas pessoas enfurecidas recorreram, até mesmo, ao site Reclame Aqui para registrar sua insatisfação com o projeto. “Gosto de dedicar o tempo que passo em viagem à leitura, porém, o repertório e o volume desproporcional tiram minha concentração. Já fiz
queixas nas redes sociais do Metrô e no Reclame Aqui, mas nem as minhas manifestações, nem a da maioria dos outros usuários que também não gostam dessa música são levadas em consideração”, relata Suellen Ribeiro. Outra novidade são as apresentações ao vivo dentro do Metrô, oriunda da parceria entre a companhia e a Secretaria de Estado da Cultura. A estimativa é que sejam realizados 88 shows até o final do ano. A ideia da iniciativa é gerar uma ligação emocional no usuário, já que é praticamente impossível não se perceber estímulos musicais. “A música pode acarretar em efeitos adversos conforme a situação ou modo com que ela é vivenciada. De forma indireta, quando o som atua sobre as emoções, influi nos processos corporais e provoca uma série de tensões. Por exemplo, ao ouvirmos uma música desagradável há uma paralisação da atividade funcional gástrica”, explica a musicoterapeuta Maria Amélia Vaz. Até o fechamento desta edição, a equipe de reportagem não obteve retorno do Metrô sobre as queixas. Luana Amorim
Músicas tocam nas dependências do Metrô desde julho
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ESPORTE E LAZER
Do Tio Sam à Cidade Tiradentes Abner Gonzaga
Futebol americano conquista espaço entre paulistanos Abner Gonzaga
Nos últimos anos, o futebol americano tem se popularizado fora dos Estados Unidos. A Liga Nacional de Futebol Americano, a NFL (sigla em inglês para a National Football League), iniciou mais uma temporada em setembro de 2018 e tem trabalhado bastante a sua publicidade com as finais do torneio, os famosos Super Bowls, o segundo evento esportivo mais visto do mundo – que mobilizam espectadores e torcedores em todo o planeta. Com sua tradicional tendência de acolher culturas, São Paulo não fica de fora desse fenômeno. A cidade vem dando atenção ao futebol americano no Brasil, com eventos de promoção e campeonatos. Em maio passado, por exemplo, a Prefeitura Regional da Ci-
Lucas Oliveira é atleta amador nas horas vagas dade Tiradentes inaugurou a 1ª escolinha de futebol americano no município, com o intuito de promover a modalidade na comunidade e formar atletas sem restrições de idade. Os clubes paulistas de futebol, inclusive, direcionaram suas marcas à categoria e criaram suas equipes. Corinthians Steamrollers, Palmeiras Locomotives, Santos Tsunami, Ponte Preta Gorilas e a equipe forte no cená-
rio do momento, Portuguesa FA, se somam a outros 10 times. Com isso, São Paulo é o estado com mais equipes semiprofissionais do País, que disputam campeonatos confederados nos âmbitos regional e nacional. Apesar de ainda não ser um esporte comentado em padarias ou nos elevadores, organizadores e fãs se dedicam intensamente às redes sociais. No Facebook, os grupos populares têm de 20
a 30 mil membros. A página Futebol Americano Brasil faz cobertura dos principais torneios nacionais, com transmissões online das partidas e audiência de 4 a 6 mil seguidores. Fã de futebol americano há 10 anos, Lucas Oliveira, de 23 anos, redator do site The Playoffs Brasil, site com média de 400 mil acessos por mês, diz que “existe uma expressiva união entre os fãs e adeptos nas redes sociais”, que ajuda a fidelizar o conteúdo na internet. Os motivos de o esporte ter ganhado prestígio nos últimos anos são vários. “É um jogo precisamente coletivo, com estratégias que exigem capacidade física e mental em campo que criam uma atmosfera apaixonante”, diz Lucas. “É algo viciante, uma novidade para quem quer fugir do padrão brasileiro de esporte.”
NIGHT RUN
Corrida noturna tradicional muda endereço Letícia Fialho e Stephanie Rosa A corrida, uma das modalidades esportivas mais populares no Brasil, conta com milhares de praticantes que se preparam para provas de distâncias de 4 e 8 quilômetros. Com vantagens que vão do conforto térmico à praticidade de horário, a corrida noturna tem como principal data em São Paulo o Circuito Night Run. Tradicionalmente feita no Centro Esportivo Ceret, zona
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leste da cidade, porém, a disputa foi adiada para novembro e mudou de endereço: agora, será na Arena Corinthians. Os atletas enfrentaram filas na véspera do evento para a distribuição dos kits, que incluem camiseta de poliamida, mochila e boné. A mudança resultou em reclamação. O Instituto Base3 de Economia Criativa, uma produtora de cultura e esportes, informou o que ocasionou o adiamento. “Foi por conta de motivos técnicos, em
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razão de um acidente com o caminhão das estruturas”, disse a assessoria do instituto. O novo espaço é aclamado pelas torcidas de futebol. A organização diz que o evento ocorrerá entre os dias 23 e 24 de novembro; no entanto, a data não é precisa por conta da agenda de jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol. “Já estava me preparando para a corrida. É uma pena que não seja aqui no Ceret; acredito
que esses espaços devam ser muito mais utilizados para atividades como o circuito. Os parques da zona leste estão cada vez mais abandonados”, finaliza a corredora Regina Pinto.
JUNIOR NBA LEAGUE
Alunas são destaque internacional no basquete
Reprodução/NBA Jr.
Equipe Sul-Americana na NBA Jr. 2018 Larissa Almeida e Sergio Vitor
No extremo leste da periferia de São Paulo, o time feminino de basquete da Escola Estadual Recanto Verde Sol reverteu dificuldades financeiras e estruturais e conseguiu desbancar os principais colégios de São Paulo. St. Pauls School, Bandeirantes, Miguel de Cervantes e Dante Alighieri foram derrotados pelo time na última edição regional da Junior NBA League, disputada por 170 alunas de 12 escolas da capital. Em meio ao campeonato, a NBA promoveu uma seletiva continental para formar a equipe sul-americana. Com a vitória, das dez vagas garantidas para a seleção da América do Sul, três foram destinadas às meninas do Recanto Verde Sol: Kathleen Silva, 13 anos; Evelyn Vital, 14; e Julia Rabelo, 14. As três estudantes embarcaram com companheiras argentinas e uruguaias para disputar o torneio da NBA JR em Orlando, na Flórida, sul dos Estados Unidos. O treinador Rodrigo Mussini, de 38 anos, ex-
plica que o projeto de basquete da escola proporciona mudanças além das quadras. “As vitórias não são só dentro de quadra, mas sim na vida delas.” Além da competição internacional, as meninas já possuem bom currículo nos campeonatos municipais e estaduais. São campeãs da Copa Nescau 2017, do Circuito Escolar 2017 e do Campeonato Estadual Escolar 2017. Muitas dessas atletas estão na mira de clubes como ADC Bradesco e Instituto Brazolin. Uma delas, Raiane Dias, de 15 anos, disputou em 2017 o sul-americano Sub-14 na Colômbia, na seleção brasileira. Atualmente, o time disputa vaga para o brasileiro nos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (Jeesp) 2018. Apesar da rotina de campeonatos e treinos, as atletas continuam participando das atividades escolares. “Conforme elas participam deste planejamento de formação, automaticamente se diminui a evasão escolar. O rendimento em sala de aula e a disciplina também melhoram”, completa o professor.
PONTO DE VISTA
Capitalismo em tons verdes Conceito de sustentabilidade é assumido como frente de negócios por empresas; setor de telecomunicações testa soluções energéticas O termo capitalismo sustentável, a cada dia que passa, fica mais conhecido por grandes empresas e seus funcionários. Além de oferecer uma bandeira a ser abraçada pelo negócio, facilitando a identificação entre público e empresa, impulsiona os lucros da companhia – que continuam sendo prioridade no sistema apresentado. Tal fato somente é possível devido ao avanço do debate provocado por ativistas que acreditam que pensar em impacto social e ambiental dentro das empresas não pode se limitar a ações filantrópicas. Pelo contrário: deve estar ligado de maneira intrínseca ao modelo de negócios. No entanto, resta a dúvida: qual a consistência das ações implantadas pelo mundo corporativo? Os impactos positivos das organizações sobre comunidades e o meio ambiente seriam um propósito ou mais uma rota fácil para ampliar retorno econômico e obter benefícios fiscais? Empresas de reconhecimento mundial e com grande potencial de impacto têm adotado medidas e programas de gestão. É o caso do Grupo Claro Brasil, do setor de Telecomunicações, que incluiu um programa de energia limpa em sua lista de iniciativas. “Teremos uma redução média de 30% nas despesas anuais com energia”, diz Roberto Catalão, vice-presidente de Finanças da companhia. O programa citado pelo executivo prevê o uso de energia limpa por meio de geração distribuída, com ações ambientais em todas as operações e instalações no Brasil. Isso resultaria em uma redução de mais de 100 mil toneladas métricas de CO2 ao ano, o equivalente à retirada de 420 mil carros de circulação. É o maior projeto de geração distribuída do País entre empresas privadas. Em questões financeiras, o valor líquido economizado pelo grupo foi de R$ 44 milhões no primeiro ano. A expectativa é de que, após 2018, a economia anual chegue a R$ 200 milhões. Confira, na entrevista a seguir, a visão do executivo sobre a combinação do capitalismo com práticas de sustentabilidade.
Divulgação
Natália Binotto e Gabriel Álvares
Roberto Catalão, vice-presidente de Finanças do grupo Claro Brasil Expressão: Como você enxerga o setor de telecomunicações na adesão a boas práticas em sustentabilidade? Roberto: Segundo a ONU, é fundamental que todos trabalhem para combater os efeitos das mudanças climáticas, bem como reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de forma a impedir que a temperatura do planeta suba mais do que 2ºC por ano. Centenas de nações se comprometeram a reduzir suas emissões e isso também mobiliza o setor privado. Expressão: Consumidores e clientes estão cada vez mais exigentes e querem conhecer as práticas das empresas. Como você avalia esse movimento no Brasil? Roberto: Acredito que estamos no momento em que o consumidor entende que possui um efeito direto no negócio da
companhia e faz uso desse papel para pressionar, provocar o debate e atingir resultados mais satisfatórios. Acho imprescindível que, na caminhada para desenvolver melhores soluções e serviços, consumidor e empresa estejam lado a lado. Expressão: Alguns especialistas veem uma contradição no conceito de capitalismo sustentável. Há como combinar os dois termos? Roberto: Ainda que parte das consequências do programa Energia Limpa seja representada pelo retorno de lucro para o grupo, o foco principal da empresa é o impacto causado ao meio ambiente. É um exemplo do conceito. A Claro Brasil terá 102 parques solares com 1,172 milhão de placas fotovoltaicas instaladas em 37 das 64 concessio-
“Segundo a ONU, é fundamental que todos trabalhem para combater os efeitos das mudanças climáticas”
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nárias de todo o País. O projeto prevê o fluxo de energia de forma bidirecional, gerando energia limpa para as concessionárias do setor e obtendo, em contrapartida, compensação nas faturas mensais da Claro. Esses parques terão vida útil de 30 anos e estão sendo construídos por um conjunto de fornecedores selecionados, trazendo impactos muito positivos para o meio ambiente a longo prazo. Expressão: Qual o impacto gerado pelo projeto de energia limpa para a companhia? Roberto: Com o projeto, o grupo Claro Brasil será um dos maiores geradores de energia limpa do mundo. Além disso, teremos outros ganhos importantes como uma redução média de 30% nas despesas anuais com energia. O uso de lâmpadas LED reduzirá pela metade (52%) os custos com iluminação. A energia elétrica é um dos insumos mais importantes de nossa operação 5% dos custos, já que os serviços de telecomunicações são oferecidos de forma ininterrupta para pessoas, residências e empresas. Expressão: Na sua visão, qual o principal impacto ambiental ou social que o setor privado ainda não consegue evitar? Roberto: Acredito que uma das maiores dificuldades encontradas no setor de telecomunicações é a democratização dos serviços oferecidos. Estamos numa busca constante pela melhoria e ampliação dos nossos serviços, com o objetivo de chegar a todas as casas do País, possibilitando o acesso à internet, televisão e telefone em todas as regiões do território nacional. Temos uma das maiores estruturas de telecomunicações do mundo, tendo no Brasil mais de 39 mil unidades consumidoras de baixa tensão, entre antenas, torres e rede de transporte com mais de 181 mil quilômetros de extensão para atender mais de 85 milhões de clientes (pessoas, residências e empresas). Estamos em constante expansão para satisfazer nossos clientes e, como setor, temos esse desafio.
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INFOGRÁFICO
Sabor da diversidade Alguns exemplares da gastronomia africana vegana que podem ser consumidos em SP Carla Caroline e Daniele Gois
Pratos típicos servidos pelo Congolinária Fotos: reprodução/site Congolinária
Mbuzi: fufu de farinha de arroz ou fubá (tipo polenta), banana-da-terra frita, couve na mwamba e salada.
Sambusa: massa sem gordura animal feira à base de trigo, água e sal. Recheio elaborado com espinafre com creme de semente de girassol.
Restaurante de cozinha vegana mantém projeto para refugiados Congolinária é como é chamado o projeto de refugiados da República Democrática do Congo que chegou para trazer diversidade e oferecer uma culinária rica e exclusiva aos brasileiros. • A cozinha congolesa apresentada tem como característica principal a gastronomia vegana, com pratos preparados de forma artesanal. • A culinária peculiar do Congo veio para São Paulo por meio de Pitchou Luambo; com a ajuda de sua filha, Marie Luambo, e de refugiados, o chef e ativista tem a ideia de divulgar seus pratos pela cidade e, de quebra, propagar seus costumes e sabores. • Entre os destaques estão o sambusa e o ngombe, que levam ingredientes como bananada-terra, abacaxi, além de bolinhos de batata com shimeji frito, couve mwamba e outras iguarias.
Serviço: Congolinária – Descobrindo os sabores do Congo Terça a domingo (fechado às segundas) Horário: das 11h30 às 15h Av. Prof. Alfonso Bovero, 382 – Sumaré – São Paulo/SP Instagram: @congolinaria
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Feijoada vegana: Farofa, abacaxi, arroz, feijão preto e tomate e grão de bico.
República do Congo República Democrática do Congo
Congo e Congo:
De 1971 a 1997 a República Democrática do Congo foi denominada República do Zaire. Sua vizinha é a República do Congo e ambas estão localizadas na África Central.
População:
entre 82 e 86 milhões de habitantes (2017); é o quarto país mais populoso do continente africano. 3.905.010 habitantes (2008)