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Renan enfrenta Lira; orçamento secreto entra na mira da PF

Senador quer derrubar prefeitos liristas denunciando lavagem de dinheiro

ODILON RIOS

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ESPECIAL PARA O EXTRA

Opresidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB) marcam o chão, delimitam territórios e avançam com agressividade, pressionando um ao outro pelo poder absoluto em Alagoas.

Calheiros é embalado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O senador é o malvado favorito do Palácio do Planalto, a bala de prata mirada contra as armaduras de Lira. Ele age em duas frentes:

1. Esvazia as bases do deputado em Alagoas enquanto o governo fe- deral investe, com todas as forças, para dissolver os poderes imperiais que Arthur Lira deseja manter, herança da era Jair Bolsonaro (PL);

2. Quer derrubar a blindagem de Lira na Câmara para que a Polícia Federal estoure o esquema do orçamento secreto, já descoberto pela Controladoria Geral da União (CGU) em Alagoas e outras partes do Brasil. O orçamento secreto abocanhou dos cofres públicos R$ 53,9 bilhões pelo país, mas o apurado pelo senador até aqui alcança também a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), cujo escritório alagoano é comandado pelo ex-deputado Joãozinho Pereira, primo do parlamentar.

Cresce em Brasília o discurso para que as investigações contra o Centrão avancem sem limites. Em Alagoas, até o momento, a Polícia Federal parece aguardar o ‘comando maior’.

Renan vai mais além: quer lançar candidatos a prefeito em

Calheiros ao lado do governador Paulo

Dantas em Rio Largo cidades-chave para o lirismo e arrastar o escândalo para o palanque, denunciando o deputado em praça pública. Barra de São Miguel e Estrela de Alagoas também são os alvos do momento, mas Rio Largo é a joia mais cobiçada (após Maceió) da coroa ostentada por Arthur Lira.

O empresário e suplente de Renan no Senado, Rafael Tenório, deve disputar a Prefeitura de Rio Largo pelo MDB. Levando consigo toda a equipe palaciana, incluindo o governador Paulo Dantas (MDB), secretários e deputados estaduais, Calheiros fez o discurso mais duro, até aqui, contra seu arquirrival: acusou o presidente da Câmara de usar prefeituras alagoanas para lavar dinheiro do orçamento secreto.

Disse ainda que Lira usa o Hospital Veredas para “drenar os recursos públicos” através da diretoria financeira, chefiada pela prima do deputado, Pauline Pereira. “E hoje o Hospital Veredas está paralisado com cinco meses de salário atrasado”, disse Renan no domingo, 28 de maio, em palanque montado pelo governo. Ao lado direito do senador estava o multiprocessado ex-prefeito da cidade Toninho Lins. Paulo Dantas entregou na cidade a 38ª creche Cria com capacidade de atender 200 crianças de 0 a 3 anos em dois turnos.

O prefeito Gilberto Gonçalves (PP), presente no evento, foi obrigado a escutar na outra ponta do palanque, quase escorraçado e desprestigiado, o senador falar do esquema, segundo ele usado por Arthur Lira, para lavar recursos públicos nas prefeituras.

“Quando ele tinha o orçamento secreto ele [Lira] se beneficiou diretamente e usou muitas prefeituras infelizmente para lavar dinheiro e isso tudo precisa ser investigado e exemplarmente punido”. Renan foi ovacionado várias vezes.

Rio Largo recebeu R$ 8,9 milhões do orçamento secreto, encaminhados para o Fundo Municipal de Saúde. Ano passado, Gilberto Gonçalves foi preso pela quarta vez em 15 anos e mesmo afastado do cargo por ordem da Justiça, acusado (mais uma vez) de corrupção, nunca abriu mão de mostrar publicamente sua amizade com o presidente da Câmara. E Lira nunca deixou de revidar tão sinceras manifestações de afeto. Ajudou a eleger Gabi Gonçalves, filha de GG, deputada estadual.

Rio Largo é a terceira maior cidade de Alagoas. Nela, Lira foi o mais votado: 17,19% dos eleitores.

Investigações da Polícia Federal apontam que GG desviou doze milhões de reais da saúde municipal, num esquema simples, diz a PF: um carro da prefeitura, dirigido por assessores de GG, saía do prédio do Executivo e encontrava com outro carro, num beco. Dizem as investigações que assessores de GG recebiam um pacote com dinheiro, sacados na boca do caixa, propina de uma empresa que mantinha contratos com a Prefeitura.

Foram 185 saques bancários entre 2020 e 2022, cada um de 49 mil reais, estratégia para fugir do Coaf. O mais estranho é que amigo ou amigos do prefeito vazaram dias antes os detalhes desta operação policial. E GG conseguiu uma liminar suspendendo as investigações.

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