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A radiologia e seus impactos nas mudanças climáticas
A mudança climática, um dos desafios globais mais prementes, tem ganhado cada vez mais espaço em todas as mídias, inclusive no meio médico. Segundo projeções da Organização Mundial da Saúde, a mudança climática causará um significativo impacto na mortalidade por doenças relacionadas à insegurança alimentar e em doenças respiratórias agravadas pela poluição, além de aumentar os gastos com saúde globalmente.
Cientistas estimam que o sistema de saúde global emita mais de 2 gigatoneladas de CO2 anualmente, sendo responsável por 4% a 10% das emissões totais de gases de efeito estufa nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, a indústria de assistência à saúde contribui com 8,5% do total de emissões de gases de efeito estufa no país, de acordo com um relatório publicado em dezembro de 2020 pela Health Affairs.
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A maior parte dessas emissões são oriundas do alto consumo energético no setor e, neste quesito, a radiologia tem sua parcela de contribuição. Estima-se ainda que a emissão relacionada aos exames de imagem corresponda a pelo menos 1/5 do total de emissões do setor de saúde. No entanto, o assunto tem sido pouco debatido entre os profissionais do setor.
Uma das primeiras profissionais a falar sobre o tema foi a Dra. Kate Hanneman, professora associada de radiologia na Universidade de Toronto, em uma sessão da RNSA em 2022, quando afirmou que a imagem médica é um dos principais contribuintes para as emissões de gases relacionadas à saúde. Equipamentos avançados de diagnóstico por imagem - ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultrassom, medicina nuclear - são os que mais contribuem para o uso de energia.
Um estudo suíço, publicado em junho de 2020 na Radiology, descreveu que a energia requerida para alimentar quatro máquinas de ressonância magnética e três tomógrafos ao longo de um ano, com seus sistemas de resfriamento associados, era equivalente ao necessário para abastecer uma cidade de 852 pessoas a um custo de aproximadamente 200.000 dólares/ano. Digno de nota, parte significativa dessa energia é gasta quando o aparelho não está efetivamente em uso.
Nas últimas semanas, o tema ganhou mais repercussão, pelo menos entre os especialistas brasileiros, com o artigo “Climate Change and Sustainability”, de autoria do Dr. Cesar Higa Nomura, médico radiologista e presidente do Conselho Consultivo da SPR, em conjunto com seus colegas Ari Araujo, Kate Hanneman, Jenna Jakubisin e Linda Moy, publicado na Radiology, revista científica da Sociedade de Radiologia Norte-Americana (RSNA).
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No referido artigo, os autores discutem os desafios e perspectivas das mudanças climáticas no Brasil e o que os radiologistas podem fazer para reduzir a chamada “pegada de carbono” (do inglês carbon footprint). “Os radiologistas são especialistas em gerenciar mudanças e podem liderar a transformação necessária para abordar a sustentabilidade em nossos sistemas de saúde e departamentos de radiologia. Em nossos departamentos de imagem, podemos implementar mudanças para diminuir o gasto desnecessário de energia enquanto nossos equipamentos não estão em uso. Os radiologistas podem trabalhar com tecnólogos e administradores para garantir que os equipamentos que não são necessários durante a noite ou nos finais de semana sejam desligados”, enfatizam os autores. Os autores ainda sugerem que o agendamento eficiente de exames de imagem também se relaciona a menores emissões, com otimização do número de exames e menor tempo ocioso dos aparelhos. Assim, “a implementação de fluxos de trabalho clínicos, assim como a introdução da inteligência artificial, podem potencialmente levar a emissões mais baixas em exames mais curtos e em menor número”, explicam.
“Também podemos implementar mudanças para diminuir o desperdício em nossos departamentos, incluindo a mudança de sistemas de doses de contraste de única para multidose, trabalhando com fornecedores para diminuir embalagens e atualizar equipamentos”, continua o artigo.
Além da eficiência energética e da otimização da dose de contraste, os autores enfatizam outras estratégias de sustentabilidade no setor como a transição para fontes de energia renováveis, a implementação de práticas adequadas de gestão de resíduos (incluindo a reciclagem sempre que possível), e a maior conscientização entre profissionais de saúde sobre o impacto ambiental da radiologia.
Durante o ECR 2023 – Congresso Europeu de Radiologia – realizado em março, em Viena, alguns conferencistas também apresentaram a preocupação com os efeitos da poluição e sustentabilidade na radiologia. A Dra. Sarah Shepard, radiologista do Imperial College Healthcare NHS Trust, em Londres, que foi uma dessas pessoas, concedeu entrevista ao ID – Interação Diagnóstica, na edição 133 (acesse em: http://interacaodiagnostica. com.br/jornal-digital).
Artigo Para Imprensa
Nacional
Em uma abordagem para a imprensa brasileira, o referido conteúdo também foi abordado no jornal “O Estado de S.Paulo”, em um artigo de opinião (“Crise climática e sustentabilidade na assistência à saúde”) assinado pelo Dr. Cesar Higa Nomura, que é diretor do Serviço de Radiologia do InCor/ FMUSP e do Hospital Sírio-Libanês; em parceria com o também radiologista do Hospital Sírio-Libanês Ari Araujo.
Os autores ressaltam, uma vez mais, que “metas e compromissos de sustentabilidade assumidos em tratados globais, como o Acordo de Paris (2015), devem guiar políticas de descarbonização dos sistemas de saúde no Brasil. Investimentos em fontes renováveis de energia e em tecnologias e soluções digitais são essenciais para ecossistemas de saúde mais resilientes e sustentáveis”. Para eles, práticas de ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance) devem ser progressivamente incorporadas nas redes pública e privada de saúde no país.
Ao final, eles ainda convidam instituições e agentes públicos e privados, incluindo fundos e bancos de investimentos, a desenvolver uma agenda comum para buscar novas soluções de sustentabilidade no contexto da assistência à saúde.
Com o avanço do debate, espera-se que a radiologia exerça seu papel de liderança em mais esse aspecto da inovação dentro do setor de saúde, com cada vez mais profissionais engajados em ações efetivas que possam diminuir o impacto das mudanças climáticas.
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Nota Da Reda O
Observação: além dos artigos da Radiology e de O Estado de São Paulo, o artigo da Radiology Today, em https://www. radiologytoday.net/archive/rtMAY23p10. shtml, foram usados como fonte.