O primeiro deles é a ignorância. Muita gente acha que rugby e futebol americano são a mesma coisa. Não, não são. Em São João del-Rei, o primeiro time das Vertentes entra em campo para desfazer esse e outros equívocos. O maior deles talvez seja com relação à violência. Quem pratica, garante que a brutalidade está fora de jogo e a disciplina é regra.
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Arte secular vale ouro São João del-Rei guarda verdadeiros tesouros quando o assunto é arte. Um ofício secular, que sobrevive, muitas vezes, graças à herança familiar continua encantando gerações. Na cidade histórica, a ourivesaria está presente não só nas joalherias, mas também na produção artesanal de peças que vêm ganhando a confiança dos clientes e espaço no mercado.
Violeta Assumpçaõ Cunha
Luis Gustavo Santos
Rugby derruba preconceitos
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Ana Gabriela Oliveira
Edição 03 - Ano 01 -Julho/ Agosto - 2011
Aumento da passagem de ônibus causa polêmica O aumento da passagem de ônibus gerou polêmica em São João del Rei. Agora, os usuários do transporte coletivo irão pagar R$ 0,20 centavos a mais pelo serviço. Além disso, setores da comunidade reclamam da concessão dada a Viação Presidente para explorar os transporte na cidade por 15 anos, renováveis por mais 15, o que
permite que a empresa tenha a possibilidade de sozinha atuar até 2041. Também há reclamações sobre mudanças de legislação de trânsito na Câmara dos Vereadores e questionamentos sobre o monopólio da Viação Presidente. São-joanenses foram ouvidos pela reportagem do Ora-Pro-Nobis e deram suas opiniões sobre a
qualidade dos serviços prestados pela empresa, e questionaram, principalmente, o preço da passagem, o atraso dos ônibus, o itinerário, a superlotação e a falta de acessibilidade dos ônibus. Em meio a tanta polêmica, a boa notícia é a garantia do prefeito Nivaldo Andrade de que a passagem não vai ter aumento o ano que vem.
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OPINIÃO | julho/agosto de 2011
Editorial
D
Agora vai!
epois de alguns perrengues e problemas técnicos, o Ora-Pro-Nobis voltou com tudo e a todo vapor. Até mudança no design gráfico resolvemos fazer pra dar uma renovada no espírito do jornal e dar uma animada na redação. Mas, repaginadas no visual a parte, nossa proposta continua sendo trazer conteúdo e informação de qualidade, buscando alcançar não só a comunidade universitária, mas toda a população de São João del-Rei. E é nesse espírito que trazemos em uma de nossas matérias um assunto que é de interesse de dez entre dez são joanenses, universitários ou não: o serviço prestado pela Viação Presidente no transporte público da cidade. Abordamos desde a questão do preço cobrado pela empresa, o monopólio exercido pela empresa na cidade até o posicionamento do governo municipal sobre o assunto. Além disso, o mercado imobiliário de São João, cada vez mais inflacionado devido à alta procura e baixa oferta, também é tópico no nosso jornal. Procuramos ouvir empresários do ramo, buscamos saber o que a população em geral acha sobre os altos preços de aluguel, analisamos como a comunidade universitária está influenciando esta questão e como programas de financiamento de casas próprias estão afetando o mercado. Mas como nem só de assunto polêmico vive esse jornal, tratamos sobre a ourivesaria, um ofício artesanal enraizado há séculos em nossa cidade. Nossos repórteres conversaram com artesãos da área, que contaram sobre como é o mercado de trabalho hoje em dia na cidade, as preferências dos clientes e aproveitamos para contar um pouco sobre a história desta arte que remete às civilizações pré-colombianas. Na nossa seção de esportes, falamos sobre o rugby, modalidade que vem crescendo na cidade e chamando atenção com a criação do primeiro time da região das Vertentes dedicado à prática do esporte importado da Inglaterra. Explicamos um pouco das regras, dos termos, conversamos com atletas do time e passamos por cima da fama de esporte truculento que o rúgbi ostenta para ver que dedicação e camaradagem são palavras chave no jogo. E nesse ritmo de dedicação, fechamos mais um Ora-Pro-Nobis. Com essa edição entregue, voltamos ao ritmo normal, tentando botar o passo em dia. Tropeçando para aprender a levantar e sempre esperando entregar para população de São João um material de qualidade, afinal de contas, estamos aqui pra isso. Agora vai!
Jornal laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
Campus Tancredo Neves (CTAN) - Av. Visconde do Rio Preto, s/nº, CEP 36301360, Colônia do Bengo São João del-Rei Reitor Helvécio Reis Coordenador do curso de Comunicação Social Jairo Faria Mendes
Artigo
Democratização do acesso: entre o lobby empresarial e o uso social
Marcelo Alves
A
democratização da cultura e da educação é primordial para garantir a igualdade entre as nações, significando avanço coletivo em ciência, arte, tecnologia, economia e política. As questões envolvem universalização do acesso, conhecimento coletivo, copyright, creatives commons, copyleft, indústrias de filmes e de músicas, bem como obras acadêmicas, patentes, informação e literatura. No entanto, as indústrias de entretenimento (cinema, música, informação), constituem grupos de lobby para pressionar parlamentos a criar legislações que impeçam a difusão do material na internet e na sociedade, criminalizando downloads e qualquer distribuição de conteúdo que não respeite a lei de Direito Autoral. Na legislação corrente, uma obra cai em domínio público 70 anos depois da morte do autor. A exploração comercial dos produtos culturais, contudo, se limita a pouco tempo: a cultura se torna cada vez mais rápida e mutável, as modas vêm e vão em curto prazo de tempo. Com isso, as empresas vendem os filmes, músicas, livros, em até cinco anos, no máximo 10. A prática deixa um volume alto de livros, CDs, filmes esgotados no mercado e parados no acervo das indústrias. As empresas não estudam formas de se moldar em face às transformações sociais. Por outro lado, pressionam o governo a fim de controlar e frear a livre divulgação da cultura em benefício próprio, ignorando os usos sociais da arte e do conhecimento. A lógica defende os interesses das elites tradicionais que se mantém no poder desde as revoluções burguesas. As leis de copyright protegem, na verdade, o capital de poucos, prejudicando a socieda-
Orientação João Barreto, Kátia Lombardi, Luciene Tófoli, Paulo Henrique Caetano e Vanessa Maia Editor Carol Argamim Gouvêa Subeditor André N. P. Azevedo Arte e Diagramação André N. P. Azevedo e Carol Argamim Gouvêa Fotografia Ana Gabriela Oliveira, Eduardo Maia, Íris Marinelli, Luís Gustavo Santos e Violeta Assumpção Cunha
de e toda a eficácia da globalização igualitária do conhecimento e tecnologia. Com isso, cria-se uma tensão entre duas lógicas: a sociedade do conhecimento e o sistema de leis que foram criados em séculos passados. Esse movimento preserva a riqueza dos países hegemônicos e torna ainda maior o abismo que os separa das “nações em desenvolvimento”. Interessante destacar o quão hipócritas soam as publicidades de responsabilidade social e fomentação da cultura que as grandes empresas veiculam com grande estardalhaço, enquanto seus grupos de pressão travam o acesso democrático à cultura. Analisado de forma global, a desigualdade entre as nações se torna ponto fundamental de todo o processo. O conhecimento institui as bases do progresso econômico, muito mais do que a acumulação do capital, que a crise de 2008 provou soçobrar facilmente com a repetição de formas de exploração e rentabilidade que se aproveitam de realidades econômicas de países “subordinados”. No entanto, há experiências de autores que disponibilizaram suas obras livremente na internet e, hoje, são conhecidos por um público bem maior e fazem dinheiro ministrando palestras, concertos, aulas e coletando publicidades. Isso sem falar no aumento de vendas que esse reconhecimento democrático e massivo que os downloads proporcionam. O direito dos autores é apenas uma falácia que as empresas evocam, junto com a ética, decaída e anacrônica, para, no fundo, defender o monopólio da exploração comercial dos bens simbólicos. O capitalismo cria escassez de produtos simbólicos para elevar os preços de cobrança.
Charge Rodrigo Antunes Redação Ana Gabriela Oliveira, Carol Argamim Gouvêa, Gabriel Riceputi, Íris Marinelli, Luís Gustavo Santos, Marcelo Alves, Violeta Assumpção Cunha Tiragem 1000 exemplares Gráfica Global Print
Email orapronobis@hotmail.com
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julho/agosto de 2011 | ECONOMIA
Altos preços marcam setor imobiliário de São João del-Rei Carol Argamim Gouvêa e Íris M. Pedini Eduardo Maia
N
Aluguéis de imóveis no centro histórico e nas proximidades da UFSJ podem ter os maiores preços. (IGPM), que regula os aluguéis, teve um salto em 2010 e só começou a baixar novamente no começo desse ano, como explicou Arlene Froés. Entretanto, segundo o proprietário da Del-Rei Imobiliária, Francisco Marcos Mendonça, o aluguel na cidade não está tão caro, já que o percentual varia de 0,5 a 0,6% sobre o valor total do imóvel. “Os imóveis da cidade são bem valorizados e o que cobramos ainda não atingiu um preço muito alto”, explica Mendonça. A esteticista e moradora da cidade há 20 anos, Maria Auxiliadora Neves, discorda de Mendon-
Eduardo Maia
ão existem muitas diferenças entre alugar um imóvel no centro de São João del-Rei ou em Ipanema, bairro nobre do Rio de Janeiro. Não quando o assunto é o preço. Um apartamento de três quartos no famoso bairro carioca pode ser alugado por menos de R$ 2300, enquanto que, no centro de São João del-Rei, o valor pode ser maior até para um imóvel com menos cômodos, chegando a R$ 2.500. O alto preço das moradias na cidade pode ser verificado em várias áreas, principalmente no centro e nos bairros próximos aos campi da UFSJ. Segundo Arlene Fróes, proprietária da Imobiliária JFróes, a procura é maior que os imóveis disponíveis. “A oferta está insuficiente e a procura é muita, e continua aumentando”. Outro problema, segundo ela, é a limitação para quem quer construir, porque a “cidade é histórica e isso acaba prendendo as pessoas.” Os prédios, por exemplo, não podem ter mais de cinco andares e existem inúmeras exigências arquitetônicas para a construção ou reforma em áreas tombadas pelo patrimônio. A expansão da Universidade Federal de São João del-Rei multiplicou o número de estudantes na cidade, o que aumentou a procura por aluguel de casas e apartamentos. Além disso, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de São João del-Rei, Valdeci da Silva, explica que o programa da Caixa Econômica Federal, Minha Casa Minha Vida, facilitou a compra de moradias. “Com o programa da Caixa é muito mais barato comprar do que alugar uma casa e as pessoas de São João estão comprando mais”, analisa. Outro motivo para o alto preço no setor imobiliário é que o Índice Geral de Preços do Mercado
ça: “Não se encontra um bom apartamento por menos de R$1200. Esse valor é absurdo, considerando as condições dos imóveis”. Maria Auxiliadora afirma que procura há anos um apartamento melhor e não consegue encontrar devido à concorrência com os estudantes. “São João del-Rei é uma cidade pequena, não tem infra-estrutura para receber o número de estudantes que vem recebendo. Agora que estão começando a construir mais apartamentos com mais espaço, melhorar as ofertas”, explica. O auxiliar de escritório da Imobiliária Líder, Anderson Luiz, afirma que muitas vezes os proprietários preferem alugar para estudantes, pois “podem colocar um preço maior pelo fato de que os estudantes dividem o aluguel e não se importam em pagar um pouco mais”.
A construção civil em SJDR
A oferta de imóveis para aluguel é insuficiente, enquanto a procura é grande e continua aumentando.
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Não existem dados concretos do número de obras em andamento na cidade. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de São João del-Rei, Valdeci da Silva, muitas obras particulares não contam com o auxílio de construtoras e não possuem registro, o que dificulta a quantificação do número de construções. Entretanto, o presidente afirma que foi verificado um aumento considerável no setor, devido principalmente às construções de prédios da UFSJ, do novo fórum e de casas populares em alguns bairros da cidade. Existem aproximadamente 20 construtoras na cidade. Porém, boa parte das obras do governo, que são a maioria, é feita por construtoras de outras cidades, que vencem licitações com maior facilidade que as locais. Isso faz com que o setor não gere tantos empregos em São João del-Rei, já que os trabalhadores vem dos municípios de origem da construtora. Segundo o proprietário da são-joanense EA Construtora, Paulo César Ramos, a construção civil vive uma boa fase. “Os programas da Caixa abriram muitas facilidades”, conta.
CIDADES | julho/agosto de 2011
Aumento no preço da passagem de ônibus e monopólio d Ana Gabriela Oliveira, Carol Argamim Gouvêa e Marcelo Alves
O
aumento de mais de 10% no preço da passagem de ônibus em São João del-Rei aqueceu ainda mais a discussão em torno do transporte público na cidade, que começou com a concessão da Viação Presidente para explorar o serviço por mais 15 anos, renováveis por mais 15, o que iria até 2041, e a alteração da legislação municipal. O prefeito Nivaldo Andrade, em entrevista exclusiva ao Ora-Pro-Nobis, garantiu que o próximo reajuste só vem depois das eleições municipais do ano que vem. “Só vai aumentar no próximo governo, seja ele quem seja, em 2013”, declarou. Para o vice- presidente da Associação de Moradores e Amigos de São João del-Rei (AMAS del-Rei), Edmilson Salles, o valor anterior, de R$1,80, “já era abusivo”. A opinião é compartilhada pelo membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSJ, Marcos Bertachi: “pelo preço que é cobrado, o serviço deveria ser de maior qualidade. E o que é cobrado aqui não se justifica, pelo tamanho da cidade”. Já para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de São João del-Rei, Inácio Carvalho, a tarifa de R$ 2,00 poderia ser mais barata, mas o problema é a carga tributária que incide sobre o custo com os profissionais: “Se o imposto sobre o funcionário não fosse tão alto, teria mais gente contratada e a passagem seria mais barata”, defende.
Ana Gabriela Oliveira
Licitação As questões referentes à concessão do transporte público em São João del-Rei se estendem desde 2001. Na época, a Meier Transporte Coletivo venceu a licitação para prestação do serviço. No entanto, a empresa passou o direito para a Cidade dos Sinos que, por sua vez, foi incorporada pela Viação Presidente. O presidente da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo, Spitzberg Guimarães de Carvalho, diz que essa concorrência, de acordo com o artigo 355, inciso I do Código de Postura Municipal, de 1990, previa a concessão durante cinco anos, renovável por igual período. Porém, o contrato assinado pelo município com a Viação Presidente foi de dez anos, renováveis por mais 10. “A empresa atuou desde o começo de forma irregular”, diz Spitzberg de Carvalho. Em janeiro deste ano, foi aberta uma nova licitação. O processo preparado pela empresa Planum-
A Viação Presidente, empresa responsável pelo transporte coletivo em São João del-Rei, ganhou concessão d Planejamento e Consultoria Urbana Ltda, de Belo Horizonte, terminou em 11 de abril de 2011 e foi vencido pela Viação Presidente. Entretanto, a empresa que ficou em segundo lugar, a Vale do Ouro, contestou o resultado junto à Comissão de Licitação. A Vale questiona os critérios de pontuação do edital e as notas atribuídas a ela e às demais
“
(A passagem de ônibus) só vai aumentar no próximo governo, seja ele quem seja, em 2013.
”
Nivaldo de Andrade Prefeito
empresas participantes. Além disso, alega que a Viação Presidente não pode participar do processo, já que o gerente da empresa Mauro Alexandre Carvalho Duarte foi eleito vereador e é o atual presidente da Câmara Municipal de São João del-Rei. O presidente da Associação dos Usuários de Transporte Público também questiona a vitória da Viação Presidente. Ele afirma que a empresa não cumpriu com alguns deveres presentes no contrato firmado em 2001 com o município, como a construção de cem abrigos em pontos de ônibus: “No contrato publico de 2001, você vai ver que eles deveriam ter construídos 100 abrigos em locais a serem definidos pela prefeitura, com a construção de 20 em 2001 e o restante em 2002”, explica. Segundo Spitzberg, isso representa descumprimento do contrato. “Nos poucos abrigos que foram construídos, que eram obrigação, eles colocaram: Cortesia presidente” reclama. Spitzberg levanta outra polêmica. Segundo ele, há suspeita de que a Presidente teve acesso prévio aos critérios da licitação. Ele afirma que os ônibus foram modificados no final de 2010, atendendo a requisitos que só se tornaram públicos com a divulgação do edital em janeiro do ano seguinte. “Você notou que eles colocaram elevador para de-
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julho/agosto de 2011 | CIDADES
da Viação Presidente geram críticas em São João del-Rei Ana Gabriela Oliveira
O preço da passagem de ônibus em algumas capitais Recife
RS 2,00
Fortaleza
R$ 2,00
Belo Horizonte
R$ 2,45
Rio de Janeiro
R$ 2,50
São Paulo
R$ 3,00
O preço da passagem de ônibus em algumas cidades mineiras
d 15 anos, renováveis por mais 15, podendo atuar na cidade até 2041. ficientes físicos, tornaram os ônibus mais confor- opção para São João del-Rei. Para ele, isso dimitáveis, e instalaram bilhete eletrônico exatamente nui prejuízos para a empresa, o que garante melhor antes da licitação?”, indaga. qualidade do atendimento à população. “Conversei com prefeitos de cidades paulistas e cariocas que Monopólio possuem duas viações. Eles disseram que o serviço Em setembro de 2010, o prefeito enviou à Câ- é pior do que quando tem uma. Quando tem uma mara Municipal o Projeto de Lei Complementar só, a linha boa cobre a linha ruim. E se [no caso de 5959, que revogou, além dos artigos do Código de haver duas ou mais empresas] uma empresa pegar Posturas que normatizavam o Transporte Coletivo, só linhas ruins, ela vai tomar prejuízo e o povo é a Lei 3.969, de 23 de agosto de 2005. Essa Lei pre- que vai perder. Esse negócio de duas empresas é via que o transporte público em São João del-Rei demagogia pra quem é adversário político”, afirdeveria ser explorado por, no mínimo, “duas em- ma. presas concessionárias”. A revogação permite que o serviço seja prestado por apenas uma empresa. Legislação Segundo o presidente do Instituto Apoiar, assoO transporte público tem sido tema freqüente ciação que presta consultoria a ONGs, Antônio na Câmara dos Vereadores. O projeto de lei que Claret, o monopólio é um dos principais questio- determinava que fossem afixadas listas informatinamentos da população. “A gente tem escutado vas sobre os horários e itinerários dos ônibus foi das pessoas um certo problema com relação a isso, rejeitado em 28 de dezembro de 2010. Apesar de em função de que dizem que há um monopólio. E contar com dois pareceres positivos, da Comissão pelo jeito parece que sim, tendo em vista de que só de Legislação, Justiça e Redação e da assessora jutem uma empresa que detém todo o comércio deste rídica da Câmara, Elvira Morethson Vale, o disposerviço. Eu acho que sempre uma única empresa sitivo foi rejeitado. Até mesmo os vereadores que é complicado. Parece uma coisa mais viciada [o deram parecer favorável, Rodrigo Deusdedit da monopólio]”, declara. Silva (PTB) e Aparecida Maria dos Santos (DEM), Já o prefeito acredita que o monopólio é a melhor mudaram de idéia e votaram contra.
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Viçosa
R$ 1,80
Alfenas
R$ 1,85
Ouro Preto
R$ 1,90
Juiz de Fora
R$ 1,95
Barbacena
R$ 2,00
Lavras
R$ 2,15
A autora, vereadora Vera Alfredo (PT), afirma que cria projetos de leis que beneficiam os usuários de transporte público, mas que a maioria é vetada. Segundo ela, o presidente da Câmara e gerente da Viação Presidente, Mauro Duarte (PSDB), “direciona as votações na Câmara”. E completa: “Todos meus projetos em relação a transporte coletivo foram rejeitados porque não beneficiam a empresa, eles querem lucro”. Em 09 de novembro de 2009, foi aprovado o Projeto de Lei 5.715, que reduz os impostos aplicados ao transporte coletivo municipal de 5% para 2%. A mensagem da Prefeitura reduziu em quase R$ 250 mil reais a carga tributária da empresa. Na época, Mauro Duarte, conhecido como Mauro da Presidente, defendeu a aprovação do projeto que beneficiaria sua empresa. “Se esse projeto não fosse aprovado, a passagem de ônibus aumentaria em 2010 e a população seria prejudicada. Não é renúncia de receita de modo algum”, afirmou. Procurado pelo Ora-Pro-Nobis até o fechamento desta edição, Mauro não foi encontrado. Em entrevistas a outros órgãos de Imprensa, ele afirma que não defende os direitos da empresa em suas falas no plenário, argumenta que é um representante do setor de transportes .
CIDADES | julho/agosto de 2011
Superlotação e atraso dos ônibus são as principais queixas Ana Gabriela Oliveira
Idosa fica em pé em ônibus cheio - o espaço reservado para os mais velhos, na frente dos ônibus, é considerado pequeno e inadequado.
Ana Gabriela Oliveira, Carol Argamim Gouvêa e Marcelo Alves
S
etores da comunidade têm opiniões diversas sobre o trabalho prestado pela Viação Presidente. O horário e o itinerário dos ônibus, o valor da passagem, as condições de acessibilidade, a superlotação e o meio-passe são os principais pontos discutidos. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de São João del-Rei, Inácio Carvalho, afirma que há deficiência no transporte coletivo, principalmente nos horários de pico, no início da manhã e final da tarde, porque os veículos da empresa são mal distribuídos. “Está faltando distribuição dos ônibus nos horários de pico. Em matéria do número de ônibus, a empresa dá assistência. Enquanto esta distribuição não for correta, a situação não melhora. Mais ônibus não adianta”, explica. Inácio conta que o Sindicato já sugeriu à empresa que ela reavalie seu quadro de horários, mas não foi atendido. “Quem fizer o cálculo do horário tem que acompanhar um carro cheio, no horário de pico, e ver quanto tempo dá para aquela linha de ônibus”, diz. Para ele, as profissões de motorista e cobrador de ônibus são muito desgastantes. O sindicalista ressalta que é recorrente o afastamento de profissionais por causa do estresse. “Organizar os horários de circulação dos ônibus ajudaria a melhorar a qualidade do transporte público e o dia-a-dia do profissional”, diz. Em bairros mais afastados, há muitas reclamações sobre a defasagem de horários dos ônibus. Segundo Antônio Claret, do Instituto Apoiar, “em bairros periféricos, onde o fluxo é pequeno, há horários de ônibus mais restritos”, afirma. Ele cita o bairro Águas Gerais como exemplo. Segundo o diretor do Departamento de Trânsito, Laurivaldo Ferreira, a principal queixa da população é sobre o atraso dos ônibus. As reclamações também chegam a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES). O presidente da entidade, Mateus Eduardo da Silva, explica que “estudantes e pais de alunos vêm reclamar, normalmente, sobre o valor da passagem, atraso e superlotação dos ônibus”. Apesar das queixas, Laurivaldo informa que os fiscais do departamento constatam em sua vistoria que a empresa está cumprindo o quadro de horários pré-estabelecido no contrato e que os ônibus não estão superlotados. Ainda assim, ele diz que está solicitan-
do à Presidente a disponibilização de maior quantidade de circulares nos horários de pico. “Ônibus cheio em horário de pico, é normal”, comenta Valdo. Ele lembra, contudo, que exceder o número de passageiros em um ônibus constitui infração às leis de trânsito, além de colocar em risco a segurança dos passageiros. Os idosos também enfrentam dificuldades na utilização do serviço, conta a pedagoga especialista em gerontologia, Maria José Cassiano de Oliveira. “Só quem dá conta das atividades diárias consegue pegar um ônibus, mas com muita dificuldade. As pessoas não têm consciência de que devem ceder os lugares. Os assentos reservados não bastam. Os motoristas não foram capacitados para receber as pessoas mais velhas e apenas alguns ônibus têm degraus rebaixados”, declara.
do um horário de meio passe. E quem faz curso integral? E quando precisamos ir à biblioteca, quando fazemos trabalho ou temos aulas extras? É como se não fossemos estudantes nessas horas”, argumenta. A UFSJ, após reinvidicação dos alunos, fez um acordo com a Presidente, implantando o Programa Ônibus Intercampi, que acaba com a restrição do turno na utilização do meio-passe adquirido pelos alunos da federal, a um custo de R$ 0,90 centavos. Entretanto, cada estudante pode adquirir dois passes por dia letivo. O meio-passe é concedido de forma integral aos alunos beneficiados pela assistência estudantil. Tal iniciativa, entretanto, só beneficia alunos da Universidade e não resolve todas as questões referentes ao meio-passe.
Meio-passe
O que os são-joanenses pensam sobre o transporte coletivo
Estudantes do ensino básico e do superior têm direito ao meio passe no transporte coletivo para os dias de aula e no turno em que estão matriculados. A UMES e o Diretório Central dos Estudantes da UFSJ reivindicam alterações nessas restrições. O presidente da UMES, Mateus Silva, afirma que a instituição já tentou negociar a extensão ou extinção da delimitação do horário do meio-passe. Mas ele afirma que as negociações para alteração na Lei do Meio-passe (Lei 3.922/2005) enfrentam resistência junto aos vereadores. “Infelizmente eles [os vereadores] são irredutíveis. O prefeito tem a maioria na Câmara. Dentro da Câmara Municipal, esse assunto de acabar com a delimitação do meio-passe não entra porque o prefeito não deixa”, protesta. O prefeito Nivaldo de Andrade responde que não controla a Câmara. Segundo ele, se os vereadores votassem a favor de alterações na lei, ele iria aprovar. Entretanto, para ele, a atual aplicação do meio-passe é satisfatória. “O meio passe é escolar; é para a pessoa ir pra escola. Agora, para a pessoa ir para baile, ir para tudo, não pode. Eu acho que isso foi feito para as pessoas estudarem. Isso aí [atuais delimitações do meio-passe], eu sou de acordo”. Já para o membro do DCE, Marcos Bertachi, os alunos têm o direito de utilizar o serviço de transporte em tempo integral. “É como se a gente só fosse estudante em uma parte do dia. Você só tem garanti-
“
Os ônibus demoram muito, principalmente os do Senhor dos Montes, que sempre atrasam. Outro dia cheguei a ficar meia hora no ponto.
”
Maria Aparecida Cunha
“
Em uma cidade grande você paga R$2,45 e anda até 2 horas. Aqui para andar 10 minutos você paga R$2,00. É muito caro.
” “
Pierre Charles
Aqui tinha que ter outra empresa para concorrer com a Presidente. Como ela está sozinha, faz o que quer.
”
Maria Aparecida de Souza
Fotos: Íris Marinelli
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julho/agosto de 2011 |
ESPORTES
Time de Rugby da UFSJ derruba mitos e busca vitórias Luis Gustavo Santos
treino de outras equipes. A internet tem nos ajudado muito nesse aprendizado. Existem três atletas responsáveis pela parte técnica; Talles Fontana (técnico geral), Geanderson Ambrósiodo, e Luiz Alberto”. Os treinos, que acontecem todos os sábados e domingos, no Campus Dom Bosco, são abertos e atraem curiosos de todas as idades.
Rugby: força, respeito e tradição
Lineout - alinhamento para reposição da bola em campo. É a cobrança de lateral no Rugby.
Luis Gustavo Santos e Violeta Assumpção Cunha
C
bola e um campo de tamanho reduzido e tudo não passava de um grande rachão”, lembra. Mas o estudante conta que, com o tempo, o que era brincadeira tornou-se assunto sério para todos. “Queríamos melhorar tecnicamente e jogar contra outros times da região, e isso levou à criação do time”, afirma. Entre os voluntários estava Stéphane, estudante de educação física. Ela conta que começou a “acompanhar o time como parte de uma disciplina da faculdade. Isso virou um projeto que se preocupa com a interação universidade-sociedade, através do esporte”. Preocupados em aprimorar a técnica do time, Paulo Henrique diz que “a equipe produziu uma cartilha onde explica os pontos principais do esporte. Para isso temos estudado e acompanhado o
Luis Gustavo Santos
om pouco mais de um ano de existência, o Búfalos F. C. é o primeiro time de rugby da região das Vertentes. A iniciativa partiu de dois estudantes que fizeram um convite pela internet. E pra quem pensa que na terra do futebol, o esporte bretão não atrai a curiosidade, no segundo encontro foram 45 pessoas. A brincadeira foi crescendo, ficando séria, virou time e já participa de competições oficiais. O time tem atualmente 28 atletas, que treinam regularmente e contam com dois grandes apoios, o da preparadora física Stéphane Zanitt e da própria força de vontade. Paulo Henrique Pereira, atleta que teve a iniciativa do convite, lembra que “a grande maioria não sabia sequer as regras básicas, nunca tinha assistido a um jogo, mas estávamos dispostos a aprender. Tínhamos apenas uma
Entre os jogadores do UFSJ, existe a preocupação de esclarecer que o rugby não é um esporte violento. Para os atletas, técnica, comprometimento e amizade são essenciais na prática. Para ele, os adversários, na verdade, são amigos. “O principal adversário nosso é o desconhecimento do publico geral a respeito do esporte”, pontua Paulo Henrique. Para quem tem interwesse em aprender, é bom ir se acostumando com expressões em inglês. É muito comum você ouvir em uma partida alguém gritar “Entra no ruck!” ou “scrum”, “punt”, “tackle”. São palavras do idioma de origem do esporte que, mesmo com a vinda para o Brasil, são mantidas. No campo são dois times com 15 atletas que disputam a maior pontuação em 80 minutos, sendo dois tempos de 40 minutos. Os jogadores são divididos em forwards (fortes e pesados) e lines (rápidos e leves). Paulo Henrique diz que “as equipes são parceiras e têm nos ensinado muito. Principalmente o time da UFLA e Varginha. Varias equipes têm surgido na região e uma apoia a outra em prol de um bem maior que é o esporte. Nós mesmos já fomos a Campo Belo passar um pouco do que aprendemos para o time de lá. É claro que dentro de campo nos concentramos ao máximo para ganhar do time adversário, mas sabemos que são nossos amigos e que apenas durante os 80 minutos do jogo estamos divididos”, pondera. O atleta Allison Teixeira fala sobre uma das regras que mais o chama atenção. “No rugby, somente os capitães é que podem conversar com o juiz. Além disso, é proibido gritar ou esbravejar contra o jogador adversário”. Talvez isso mostre que, no rugby, violência e brutalidade estão fora do jogo.
Ruck, fase do jogo em os jogadores disputam a bola que se encontra no chão. No Ruck, os jogadores não podem usar as mãos para empurrar a bola.
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CULTURA | julho/agosto de 2011
Exclusividade garante a tradição da ourivesaria artesanal Luis Gustavo Santos e Violeta Assumpção Cunha Violeta Assumpção Cunha
a pesquisas que estudam as reações dos minerais sobre o corpo humano” disse Atahualpa. Apesar de trabalharem como as mesmas pedras, cada ourives usa uma técnica diferente. Inácio aposta na riqueza de detalhes do estilo rococó e aplica as pedras com solda. Já Atahualpa confere um estilo contemporâneo às suas criações, com a técnica da forja que crava as pedras através da pressão, sem o uso de soldas. A ourivesaria é para os ourives mais que um ofício, é uma paixão. Ambos concordam que a inspiração é a parte importante na produção das peças. “A fabricação de jóias é um trabalho de composição, precisa-se executar desde o design até a produção final da jóia. Essa relação é semelhante àquela que os demais artistas têm com a arte”, revelou Atahualpa.
Tradição do Ofício
Atahualpa utiliza uma técnica da forja que crava as pedras através da pressão, sem o uso de soldas.
O
ção e influenciar no resultado final. “A presença do cliente é imprescindível para que a jóia seja feita de acordo com sua preferência” afirma. A ourivesaria artesanal é o ofício também de Inácio Missagia, que diz que a maioria dos seus clientes são atraídos não só pela beleza das peças.“ As minhas peças são procuradas também pelo valor, que é inferior em relação às peças de joalheria. Os clientes costumam ficar muito satisfeitos com as jóias” garante. A escolha das pedras preciosas é outro diferencial. Como o Brasil é rico em pedraria, há muitas opções. Atahualpa e Inácio trabalham com a Água Marinha, Topázio Imperial, Ametista e Granada, que têm grande valor comercial. “Procuro informar meus clientes sobre a propriedade de cada mineral, de cada pedra, no momento da escolha da peça. E para isso recorro
Violeta Assumpção Cunha
homem sempre se sentiu atraído pelas pedras preciosas, pelos metais brilhantes e mais raros, e usou a ourivesaria para louvar seus deuses e se enfeitar. Seja na antiguidade ou nos tempos atuais, a busca do ornamento para realçar a beleza faz parte da história da nossa sociedade. Em São João del-Rei, a ourivesaria está presente não só nas joalherias, mas também na produção artesanal de peças que vêm ganhando a confiança dos clientes e espaço no mercado. O ourives Atahualpa Yupanqui conta que “é comum pensar que a fabricação de jóias em grande escala vai acabar com a produção artesanal. Mas a valorização do trabalho artesanal é crescente pela possibilidade de se criar uma peça única, exclusiva.” Em sua oficina, ele trabalha principalmente por encomenda, e convida o cliente a participar do processo de cria-
A ourivesaria é uma arte muita antiga, há registro de sítios arqueológicos no mar Egeu de 2500 a.C. No Egito já se produziam trabalhos altamente detalhados e os profissionais obtinham inegável prestígio perante os reis e toda a corte. Existem hoje cursos de ourivesaria que capacitam cidadãos a exercer o ofício. “Eu fiz um curso, me apaixonei pela arte, e aperfeiçoei com a ajuda de um amigo”, explica Inácio. Já Atahualpa diz ter tido a sorte de aprender à moda antiga, com o pai, um argentino que aprendeu o oficio na juventude e passou a tradição aos seus filhos. Com descendência da civilização Inca, o ourives revela: “Eu carrego a tradição da cultura andina. A relação do povo com as jóias não era uma relação de ostentação de riqueza, mas sim uma valorização da beleza que lembrava o Deus Sol”. Foi o estilo contemporâneo das jóias de Atahualpa que atraiu a atenção de Rafael Honório, que encomendou suas alianças com o ourives. “Eu achei interessante porque pude participar do processo de composição, ficou exatamente como eu queria, fiquei muito satisfeito. A gente acaba desenvolvendo um sentimento pelas peças produzidas exclusivamente pra gente, personalizada.” comemora.
A escolha das pedras é um diferencial para as jóias. Atahualpa e Inácio trabalham com Água Marinha, Topázio Imperial, Ametista e Granada.
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