Revista ProSkater

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fotografia return 4 life entrevista JY R.I.P.chorão skatistA

EDITORIAL «Skate meu esporte Meu meio de transporte Parte da minha história E cicatrizes dos meus cortes Quem trabalha sério Também conta com a sorte O mundo é cheio de cobra Mas eu sou cabeça forte

Skate Vibration Charlie Brown Jr.

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Raggamufin style Skate vibration A família é grande eu só tenho bons irmãos Eu sou loco tantan Mas sou loco sangue bom Eu tô ligado, eu tô ligado, eu não tô de vacilação»


Alison Buj達o - Bs Over Crooked / f: Jan Yuri

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Tiago Mendes / f: Tadeu Canavez


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Tito - Switch Noseslide / f: Tadeu Canavez

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skatistAtsitaks Talento com estilo: cariocas mostram que mulher sabe sim andar de skate As skatistas se divertem descendo as ladeiras do Rio de Janeiro e buscam acabar com o mito de que meninas não sabem lidar com as quatro rodinhas

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e An nna, Ananda Jessica, Giova SporTV f: Reprodução

Quando Jessica, Giovanna, Ananda, Aninha, Cristal e Michele descem as ladeiras do Rio de Janeiro deixam muitos marmanjos babando. Além de bonitas e muito estilosas, as "Meninas de Ouro", como são conhecidas, também mostram muito talento sobre quatro rodinhas. Apesar de muito vaidosas, elas parecem não se preocupar com as quedas e arranhões quando o assunto é se divertir praticando down hill.

- Em qualquer lugar chama a atenção, porque mulher andando de skate é muito complicado. As meninas que andavam antes usavam mais um estilo de homem, com calça larga, tênis, blusão, boné. Era o estilo, então o skate feminino era tachado. Mas, isso foi mudando com o tempo - revela Giovanna Lins. Essa parceria começou quando um grupo de amigos de Ananda Griffo, de 19 anos, teve a ideia de gravar um vídeo com meninas andando de skate. A gravação foi parar na internet e, desde então, a vida das meninas mudou. A repercussão foi tão grande que elas criaram uma página só para divulgar o talento dessas cariocas. As idades variam pouco, Jéssica Bilt, de 21 anos é a mais velha com um estilo mais parecido com o surfe. Ana Luiza Pinho é o oposto. A mais nova do grupo é também a mais delicada e não se arrisca muito. Ananda é a que se concentra mais no down hill slalon, enquanto Giovanna é a mais ousada. Cada uma tem sua maneira de andar, e o clima entre elas é de união. - Já pensei em desistir por achar que não estava crescendo no skate, mas elas me ligam e falam: "Vamos andar, treinar, que você vai conseguir" - disse Aninha.

matéria retirada de: http://sportv.globo.com/site/programas/zona-de-impacto/noticia/2013/03/talento-com-estilo-cariocas-mostram-que-mulher-sabe-sim-andar-de-skate.html


Janderson Yuri Silva 20 anos Skatista

PPerfil BRINQUEDO DE MENINO CRESCIDO Fui encontrar meu personagem em casa, a reboque de um amigo em comum que repete desde que o conheço: “Se o Jan morasse em uma cidade como SP ele podia viver de skate, velho”. Acredito. Suas manobras são inacreditáveis. Jan Yuri chega enganando seus 20 anos, com aquela cara de menino. Sou recebida, por acidente, com música na sala. Estranhei não ve-lo como nas fotos que conhecia. De dreadsloucos. Hoje está de chapéu, cabeça tecnicamente raspada. Um sorriso de menino, um menino de 20 anos. Alargardores na orelha, e uma despretensão de quem, bom atleta, só quer fazer o que gosta. Pergunto de suas origens no esporte. “Comecei a andar de skate quando tinha 8 anos de idade, e foi porque meu irmão mais velho já tinha andando e nesse tempo ele tinha parado para entrar no quartel. Aí eu usei o skate que ele andava, e até hoje eu ando, mas não no mesmo skate”, ri. Jan aprendeu muito participando de campeonatos do circuito mineiro, quando aconteciam disputas com frequência, entre 2000 e 2006. “Todo ano tinha no mínimo duas competições. Eu não ficava bem posicionado não, eu era muito novo, aqui não tinha pista de skate, chegava lá tinha que andar numa pista que a gente nunca viu,mas assim podia ver quem andava há mais tempo e aprender alguma coisa”. Hoje quase não há campeonatos. Jan tem patrocínio da marca Custom, de Santa Cruz de Minas, cidade onde trabalha. Mas explica que no começo teve muito apoio da família. “Por eu ter começado muito novo sempre tive muito apoio do meu pai, que nunca deixou faltar material pra eu andar, me levava pra andar no Vereda, que era a única pista que tinha aqui. A dificuldade nessa questão não era tanta, o preço do material era mais barato. Mas aqui não tinha ninguém que andava aí a gente tinha que aprender sozinho na marra, quando a gente viajava era que via alguma coisa diferente nos campeonatos”. A conversa é divertida, com violão ao fundo. Resolvo perguntar sobre o trágico. Conte um tombo memorável, peço. Ele é sábio na resposta. “Quando você bate a cabeça é quando você toma o maior sus-

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Dani da Gama

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Tadeu Canavez

to. Depois disso te garanto que você não bate no mesmo lugar de novo não, voce fica mais cauteloso, fica mais esperto. Na próxima vez que você for fazer você se previne para não acontecer o mesmo...”. Enfim, a vida, metaforicamente. Pergunto de outra dificuldade. Jan pratica um esporte muitas vezes marginalizado, em uma cidade tradicional, de interior. Quero saber se isso é uma barreira. Jan também consegue compreender isso como um incentivo. “Se alguma coisa for desenvolvida e registrada, vai ter partido da 'gente' que começou, e isso me incentiva: ver que continuou, nao é mais 'a gente' só, que anda. Por mais que seja pouco o incentivo ele é muito mais do que em 2003, 2004.” Anoto no meu caderno, acho que o menino levou muito tombo. Ele sabe demais. Jan pratica skate de rua. Ao contrário de uma pista calculada para manobras, sua pista é a cidade. Em SJDR, então, a pista de Jan é o cenário barroco da cidade dos sinos. “O legal disso é que você faz uma coisa num lugar meio improvável, quando tu consegue um registro nessa situação improvável,'andar de skate no cenário barroco', o resultado final é diferente e chama a atenção pra quem está acostumado a praticar na pista, no mármore extremamente liso, que facilita, até, as condiçõs da manobra”. Falo sobre o uso dos equipamentos urbanos para as manobras – corrimão, escada, ladeiras: tudo vira pista. “A arquitetura, né?”,filosofa: “A questão do skate é mais o contato que você tem com ele. Você começa a brincar com isso, aproveitar uma manobra e partir para outra, começa com o básico e vai aprimorando com criatividade, e cada arquitetura, construção urbana te proporciona uma manobra.E cada skatista tem uma visão da manobra da forma como anda no skate. Você tem mais intimidade e consegue ir com ele em lugares que voce não iria sem ele”. Sm. Como um brinquedo mesmo, de menino grande.


Mas nem tudo são flores. Como conta nosso atleta, “o skate é praticado na rua e na rua você vê de tudo – o positivo e o negativo, só que extremamente.” E o skate ainda hoje é tratado com reservas. “É mal visto porque, pelas manobras serem de impacto, se o chão não for bom, provavelmente vai quebrar. Ou o skate pode quebrar. Como você pode se quebrar!”. Coisa séria fica leve na risada brejeira. Jan interpreta que o que se critica no skatista são coisas que em pessoas “normais” – entendo, os normais são os que não andam de skate! – também seriam criticadas. O problema é que: o que o skatista faz, ele faz com o skate debaixo do braço – seja algo bom como uma iniciativa cultural, seja algo ruim – e aí o ruim é relativo... “O skate é dado como um brinquedo pro fiho, que vai tomar gosto e não vai querer fazer mais nada... ele é tao fascinante que se ele se deixar levar pelo prazer dele vai ficar só no skate, deixar de estudar, ir na aula... Aconteceu comigo, mas eu não me deixei levar...” Jan teoriza: “O skate é tao envolvente que ele se torna uma parte do seu corpo. Alguém que vê você, vai ver você com o skate, e vão generalizar: 'skatistas fazem isso'”. Isso dá uma séria discussão metafísica, sociológica. Jan brinca e se desculpa: “Vai ficar muito confusa essa entrevista!”. Mas penso que o ouvindo, o skate para mim está ficando cada vez mais claro.

Peço para falar dos campeonatos que ganhou. Troféus? Do alto de sua simplicidade, um ponto de interrogação se abre no mesmo lugar onde irá se acender um sorriso: “O que importa é o skate, um chão liso, uma pessoa no skate e vai acontecer tudo que você quiser, quase!”, ri. Ele não sabe quantos campeonatos venceu. Decide que campeonatos que ganhou nem são importantes para a entrevista. Nem para ele. “O que importa pro skatista é material para continuar andando de skate. Já ganhei campeonato que não lembro. Compito desde os 9 anos de idade, sacou? Aconteceu de eu ficar em primeiro em vários e não tenho registro de todos. O que importa é incentivar o skatista que ganhou no dia, que andou melhor, com material para ele continuar andando e poder se desenvolver mais”.Certo, Jan. A gente sacou.

É tarde, e pensei em um final poético para a matéria. Perguntei, inocente no meu clichê jornalístico: “Em uma palavra, o que você sente quando desce o skate no asfalto?”. Ele pára, pensa segundos. E derrama: - Aeeeeee!!!!!! Desligo o gravador, satisfeita. Não é só uma interjeição, leitor, compreenda. Para quem vê esse guri brilhante, é pura poesia.

Até 2008 skate era legalmente proibido em Blumenau. Em 2010, São Paulo tentou proibir o esporte (e meio de transporte!). Em 2013, em SJDR, o skate se arremessa contra a arquitetura urbana, de manobra em manobra, nos pés de Jan.


FIM OU RECOMEÇO? O último elo inspira o nosso espírito subversivo. Naquilo que parece o fim enxergamos o recomeço. Esse pensamento aliado à nossa responsabilidade ecológica e à identidade cultural resulta na linha Return 4 life. A primeira preocupação é com o retorno dos shapes fabricados pela marca, já que inserimos um produto de “vida útil curto” no mercado, devemos oferecer uma possibilidade sustentável de descartar o mesmo. O skate contém a história do skatista; cada arranhado um esforço, uma manobra, a batalha contra um obstáculo de rua imprime no shape um valor simbólico imensurável. No think local encontramos os móveis de demolição; madeiras nobres reaproveitadas de construções centenárias. O encontro dessas duas matérias-primas oferece uma reflexão entre a história contemporânea e a centenária. O Design das peças acompanha os princípios da marca e são criados pela Custom Skate Art priorizando a usabilidade e simplicidade.

RETURN 4 LIFE f: JP Souza


Na década de 70, nasce Alexandre Magno Abrão, que futuramente seria mais conhecido como Chorão e participaria de uma das mais famosas bandas de rock do Brasil, Charlie Brown Jr. Os pais de Alexandre se separaram quando o mesmo tinha onze anos. Em conseqüência deste fato, teve uma adolescência problemática, vivia sempre na rua revoltado e tinha uma constante passagem pela polícia. Assim como, deixou a escola em plena sétima série do ensino médio. Meio a tantos conflitos e turbulência em sua vida, na década de 80, surge a paixão pelo skate que concorria igualmente com o seu amor pela música. Chorão ficou conhecido como um dos maiores nomes do esporte brasileiro, nessa década. Em 1992, Chorão resolveu atrelar sua paixão pelo skate a musica, quando criou a “Charlie Brown Junior”. Nos clipes e apresentações da banda sempre se encontrava referencias ao mundo do skate, como pistas, capacetes e half-pipes, além de que o cantor sempre exibia seu talento com o skate nos shows que fazia. O cantor participou de vários campeonatos de skate durante sua vida e chegou a ganhar um vice campeonato em São Paulo. Seu amor pelo esporte fez com que inaugurasse em 2006 o "Chorão Skate Park", um complexo indoor em Santos. O apelido do cantor, chorão, surgiu deste esporte. Segundo amigos, enquanto Alexandre observava seus amigos andando nas pistas de skate, um deles para zombá-lo, disse: "não chora". Depois disso, Alexandre Magno Abrão deu lugar ao famoso Chorão. Apesar de ter criado a banda em 1992, o grupo só obteve sucesso em 1997, quando lançou o disco "Transpiração contínua e profunda", especificamente com a musica "Proibida pra mim". Em 1999, a faixa "Zoio de Lula" foi a primeira música da banda chegar ao primeiro lugar das musicas mais pedidas nas rádios brasileiras. No entanto, 2003 foi o marco da banda e um ano historico para chorão, visto que gravaram o CD e DVD "Acústico MTV" com a participação de vários amigos da musica. Promoveram então uma turnê e o disco chegou a marca de dois milhoes de vendas. No decorrer desse tempo, a banda obtve mudanças em relação aos integrantes e Chorão foi o único que se manteve desde o início da banda. Essas mudanças na formação da banda se deram a partir de divergência com o vocalista, chorão. Assim como na sua adolescencia, a vida adulta não foi muito distinta, tendo em vista que Chorão se tornou um homem polêmico no mundo das celebridades. Em 2004, se desentendeu com o vocalista dos Los Hermanos, Marcelo Camelo, dando um cabeçada e um soco no olho dele em um encontro no aeroporto. 2012 não foi um ano tão bom para o nosso Chorão. Chegou a brigar com o seu baixista, Champgnon, em uma das apresentações da banda, tomando o microfone do mesmo e dizendo "Eu te aceitei de volta depois de tudo que tu fez", reclamou o cantor. "Você não tem nem coragem de falar a verdade". Mas depois de alguns dias, os dois gravaram um video em que faziam as pazes. Foi neste ano também que se separou de sua esposa do segundo casamento, Graziela Gonçalves. O término da relação se deu por causa da resistencia de chorão em parar com as drogas. Mas no dia seis de março deste ano de 2013, o mestre do skate é encontrado morto em seu apartamento. O apartamento estava em um estado deplorável, moveis quebrados, sangue pelo chão e foi ainda encontrado bebidas, remedios, energeticos e cocaína. E foi dessa forma trágica que se viu mais um ícone da musica brasileira e do skate encerrando sua carreira.

R.I.P. CHORÃO Skate Por Toda Vida

T

Thayanne Nascimento

F

Divulgação



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