José de Abreu “Eu me relaciono
Saindo de Nárnia!
com pessoas, não com rótulos”
NHAIM! Entenda o bichês
Carlos Bem Menos preconceito Mais igualdade
Coluna
Coluna
Aquenda o Pajubá!
O Marcos Paulo de Andrade 8º período de Comunicação Social - UFSJ
Pajubá é um dialeto que tem origem no Nagô e Yorubá, linguagens de matizes africanas, muito utilizado pela população GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Sua origem remota dos primeiros “pintosos” a saírem do armário depois da colonização portuguesa aqui na América como por exemplo os Pais-de-santo. Sim, a linguagem era usada pelas gays no terreiro de candomblé, portanto o léxico do Pajubá é originário das línguas africanas. Desde então ele vem sido difundido por todo território nacional, principalmente na época da ditadura, por conta da repressão policial e para despistar na presença de alguém indesejado. Hoje boa parte da população homossexual comunica-se desta maneira. Para a drag queen Jéssyk de Biaggi o dialeto pajubá é ótimo pois, “quem não é do babado, não sabe do que a gente tá falado”, confessa. Apesar de não possuir nenhum tipo de registro formal em documentos ou livros, o Pajubá é falado em todo o Brasil com algumas variações regionalistas. Em algumas regiões pode ser conhecido como Endaca, Bat ou Bajubá. Com o advento da internet a popularização do dialeto é crescente e vários blogs e sites registram na rede, dessa forma há mais chances de essas palavras virarem mais do que uma moda passageira. Exemplo disso é a publicação polêmica do dicionário gay “Aurélia, A Dicionária da Língua Afiada” (143 págs., R$ 24), pela Editora da Bispa onde são encontrados inúmeros verbetes e significados de termos do mundo LGBT.
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Dicionário de Pajubá: Tô colocada = Bêbada, chapada. Tá boa, Santa? = (irônico) como quem diz Tá doida? Preciso arrumar o picumã = arrumar o cabelo, dar um jeito no Visu Inhaí!! = oi, derivado do “E aí?” Pelo Amor de Dadá! = Pelo amor de Deus! Desaquenda desse bofe! = Larga esse cara! Aquenda o Oti pra mim? = Pega uma bebida pra mim? Xanã = cigarro. Tô lôca do meu EDI!!! = Tô louca do meu cú.
Não vou me jogar hoje. Acabou o aqüé. = Não vou dançar hoje. Acabou o dinheiro. Depois do Bafo que rolô na Buati, a rua encheu de Alibã = Depois da confusão na danceteria, a a rua encheu de policiais. Bafo, Babado = pode significar briga/confusão ou algo muito bom, dependendo do contexto. “A festa foi um BAFO! ” (legal). Aff, lá vem aquela racha uó! = Lá vem aquela mulher que ninguém gosta. Uó é sinônimo de péssimo.
Ocó, Cafuçú e Bofe = homem Cona = vem de Maricona, Bicha Velha. Fazer = transar. “Fiz a gata ontem” = transei com a gata ontem. Ele tá louco pra me fazer! Michê= prostituto masculino HT = heterossexual Erê = bicha ainda muito jovem. Criança ou que se comporta como tal. Bi, Bill, Biba, Mona = Bicha. Amapô, Racha = lésbica, mulher
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Entrevista
Uma ação do “Bem” Menos preconceito mais igualdade
O
preconceito sem dúvida é um dos males mais cruéis presentes em nossa sociedade, geralmente atingindo minorias que por apenas terem opiniões e condições que diferem da educação e dos costumes de uma maioria, acabam sendo reprimidos e muitas vezes punidos por isso. Os Homossexuais sem dúvida são os que mais sofrem entre essa minoria incompreendida. A vergonha, o medo e falta de perspectivas são obstáculos que acabam por deixar que muitos deixem de lutar por seus direitos como cidadãos e principalmente como seres humanos. Porém, muitos lutam a favor do movimento LGBT, e entre os agentes dessa causa destacase Carlos Bem, morador do Município de São João Del-rei – MG. Estudante do curso de Comunicação Social na Universidade Federal de São João Del-rei (UFSJ), e coordenador e fundador de diversos projetos na região como o Movimento Gay da Região das Vertentes e a Articulação Brasileira de Jovens Gays- Artgay Jovem, Carlos (homossexual assumido), usa sua força de vontade a favor dos direitos do cidadão.
Carlos Bem •Em 2007 junto com outros amigos e amigas LGBT fundamos o Movimento gay da Região das Vertentes. Ao longo de 06 anos realizamos 05 edições da parada LGBT - em 2013 será a sexta edição - conquistamos 06 Confira agora em primeira mão uma leis municipais que promovem a cidadaentrevista exclusiva, onde o jovem conta nia LGBT e combatem a homofobia. No tudo a respeito de suas motivações, executivo municipal conseguimos avanexpectativas e pretensões a respeito de çar na saúde. Hoje, a prefeitura criou sua causa. uma diretoria de direitos humanos, luta antiga do MGRV. Ao longo dos anos Aloka• Você fundou e coordena ditambém executamos importantes projeversos projetos voltados ao público tos LGBT. Conte-nos um pouco a respeito de combate a AIDS e defesa dos direitos de suas ações em defesa a homohumanos. Estruturamos e inauguramos ssexualidade. nossa sede no bairro Matosinhos.
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Entrevista Fomos precursores no início de um debate sobre a organização do grupo de pais de homossexuais em SJDR. Hoje, temos uma estrutura com atendimento jurídico, psicológico e de assistência social para LGBT vítimas da homofobia, violação de direitos humanos e em situação de vulnerabilidade social. A• Porque você decidiu lutar em prol da Homossexualidade?Quais são suas motivações? C• Primeiro porque sou gay. Desde criança senti e vivi a discriminação. Compreender que somos frutos de uma sociedade machista, racista e homofóbica e que esse resultado é fruto de um ensinamento que nos foi passado; motiva nossa luta. Se aprendemos a ser preconceituosos e a discriminar, podemos aprender a compreender e respeitar as diferenças. A• Sabemos que o preconceito atinge não somente o publico LGBT. Você luta em defesa de outras minorias? C• Ao longo do tempo no MGRV sentimos a necessidade de ampliar a atuação do movimento. Dessa forma, a partir de 2010 incorporamos o debate e luta em defesa das mulheres, negros, pessoas com HIV, pessoas com deficiências e outras pautas envolvendo os direitos humanos de forma geral. A• Qual a sua opinião em relação a pessoas, agentes governamentais e entidades religiosas que condenam a Homossexualidade? C• O estado Brasileiro é laico. A constituição já preconiza isso. Devemos respeitar a Constituição, a menos que ela seja alterada. A• Como você vê a questão do preconceito nos dias de hoje em relação ao passado? Acredita que houve progressos?
C• Há avanços significativos na organização das pessoas LGBT em grupos. A partir disso também há avanços no executivo e judiciário. O legislativo federal engatinha e caminha na contramão da realidade social. A sociedade tem estado mais consciente sobre o respeito aos direitos humanos das pessoas LGBT. Os avanços que tivemos são graças à organização e luta dos próprios LGBT. Hoje temos uma sociedade. melhor do que tínhamos há 10 anos. E daqui a 10 anos teremos uma sociedade melhor do que temos hoje.
A• Como você vê o futuro de sua causa?Quais são suas aspirações quanto a isso? Possui algum novo projeto em andamento?
C• Mais cedo ou mais tarde a criminalização da homofobia será aprovada no congresso. O casamento civil igualitário também. A juventude brasileira não tolera a homofobiae isso já foi identificado em diversas pesquisas. O futuro nos pertence e a juventude vai mudar o Brasil.
Curiosidades
•A Dinamarca foi o primeiro País a ter uma legislação a favor dos direitos homossexuais; •A Argentina foi o primeiro país da América a aprovar o casamento entre gays e lésbicas; • A União civil entre gays foi liberada no Reino Unido em 2005; •Brasil: casais gays conquistaram 112 direitos com decisão do STF no ano de 2011 como: pensão alimentícia,comunhão de bens, pensão do INSS e plano de saúde.
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Comportamento
Comportamento
Saindo do armário! E
is que a cantora Daniela Mercury “sai do armário” e assume sua bissexualidade. Após terminar um casamento de três anos com o publicitário Marcos Scabia, Daniela declarou sua nova relação com a jornalista Malu Verçosa em plena rede social. Segundo a cantora “O intuito é iluminar.”.
assumidos, em seus depoimentos, contam que o processo de entender o que está acontecendo e se aceitar é o mais difícil. Passaram por momentos de muita dúvida e a maior dificuldade era não ter com quem conversar, com quem compartilhar tudo aquilo que estava acontecendo, ter que tornar pública a sua sexualidade sem nenhuma ajuda.
Porém, uma coisa que não foi muito abordada, foram os momentos de dúvida Depois que o processo de “sair do e as dificuldades que se passa para se armário” para si mesmo já está resolvido, vem a parte de contar para familiares e assumir. amigos o que, a partir do momento em Primeiramente, antes de se reconhecer que o homossexual está bem resolvido para o mundo, a pessoa tem que se consigo mesmo, pode ser mais fácil. assumir para si mesma, o que não é um processo fácil. Alguns homossexuais Os problemas e dificuldades, infelizmen
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te, não acabam por aí. Ainda vivemos numa sociedade preconceituosa, em que a falta de informação é grande. Um exemplo desse preconceito e falta de informação foi a declaração da cantora Joelma, de que “gays seriam como drogados em recuperação”. Tal declaração polêmica mobilizou artistas que são a favor do direito dos homossexuais. O homossexual, T.N.S, acredita que nós, sociedade, precisamos amadurecer muito como seres humanos.
Arlete Salles, Zélia Duncan, Sérgio Loroza, Preta Gil, entre outros, se mobilizam a favor do casamento igualitário. Mesmo com toda essa mobilização a favor dos homossexuais, ainda é difícil se assumir. Existem na internet várias dicas e listas de como se declarar gay, como tornar pública sua opção sexual, no entanto, cada pessoa é única, cada um tem suas características, o seu tempo,
portanto, o ato de “sair do armário” deve ser feito no momento em que a pessoa Apesar de todas as dificuldades, os estiver bem resolvida com a sua decisão, deputados federais Jean Wyllys e Érika porque é quando estamos bem conosco Kokay protocolaram um projeto de lei de que as coisas fluem. casamento civil igualitário. Esse projeto E a partir do momento que a decisão for está sendo apoiado por diversos artistas, tomada, “saia do armário” com elegância e um vídeo foi feito para ajudar na e faça como a cantora Daniela Mercury: campanha. Nesse vídeo, artistas como ILUMINE!!!
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Saúde
Saúde
Teste anti HIV: preconceito e insegurança O mau preparo dos profissionais e a falta de diálogo contribuem para a má aceitação da doença
D
e acordo com o Departamento Nacional de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, no Brasil existem aproximadamente 630 mil portadores do vírus, dessas pessoas 230 mil não conhecem sua sorologia, pois nunca fizeram o teste anti-HIV. A AIDS é uma questão polêmica e cercada de tabus, seu exame é muitas vezes visto com os mesmos preconceitos.
Um dos principais problemas é a falta de diálogo aprofundado nas consultas e pouca prática de aconselhamento pré e pós-teste. “O aconselhamento pré e pós-testagem anti-HIV pode contribuir para a avaliação de riscos individuais e reflexão sobre formas de prevenção”, afirma a psicóloga Denise Zacabi. “No caso de um resultado positivo, pode aumentar a adesão ao tratamento antirretroviral e o uso de preservativo”, conclui. Os pedidos de teste anti-HIV são necessários em caso de tuberculose e gravidez, porém por medo de constrangimento ou ser invasivo os profissionais não costumam oferecer a testagem para demais ocasiões. Contudo há uma predisposição a propor o teste a os considerados “grupos de risco” como: os jovens, profissionais do sexo, homossexuais, crianças em abrigos e portadores de DST. Este fato fortalece o estigma, mostra que há mais influência do imaginário social do que de informações confiáveis sobre outros perfis; muitas pessoas ainda atribuem responsabilidade e culpa a estes grupos sociais, mas não as ações de risco.
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Apesar do Ministério da Saúde indicar o aconselhamento pré-teste entre o profissional e o paciente, para o exame ser realiza de maneira consentida e esclarecida, muitas vezes o profissional pões seus valores morais sobre os do paciente, coagindo-o. Ainda, no âmbito psicológico, principalmente em casos mais delicados como a comunicação do resultado positivo, o profissional tende a ser mais técnico ignorando as questões afetivas, isto dificulta o acolhimento e aceitação. É vital a criação de novos métodos de comunicação, relacionando as práticas de proteção a afetos alegres de modo
a superar os tristes, o estigma e a discriminação. A formação dos profissionais deve ser aprimorada, a partir da discussão de casos, nos quais lidem com dilemas morais e emoções complexas. Assim será possível melhor atendimento primário, por meio do cuidado e atenção para com o paciente, expansão das ações de prevenção e tratamento da AIDS, procurando extinguir o preconceito e promovendo os direitos humanos.
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Perfil
José de Abreu
NORMAL
Humor
Barbara Barreto
S
ala de aula. Bagunça. Risos, falação. A professora pede silêncio. Iria conversar com eles sobre um assunto importante: família. Ela começou falando da importância desse núcleo na formação do indivíduo. Que não se faz família só por laços de sangue, mas por amor. Que cada uma tem uma maneira de ser: algumas têm pai e mãe casados, outras cada um vive numa casa. Ricas, remediadas, pobres. Com muitos filhos, sem crianças. Criados por vó, por tia, madrinha.
J
osé Pereira de Abreu Júnior nasceu na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, em Maio de 1944 e é pai de 5 filhos. Entre novelas, filmes e peças teatrais, o ator já soma 46 anos de carreira.
Seu primeiro trabalho foi no Teatro da Universidade Católica (TUCA) em São Paulo, quando atuou na peça Morte e Vida Severina, no ano de 1967. Um ano depois já atuava profissionalmente nos palcos. Logo em seguida sua carreira teve que ser bruscamente interrompida por causa de sua militância política. Abreu foi preso em congresso da UNE, pertenceu à Ação Popular e deu “apoio logístico” à VAR-Palmares, Vanguarda Armada Revolucionária, um grupo de esquerda que combatia com ações armadas o regime militar. Nessa época se exilou na Europa, retornando ao Brasil em 1974. Em 1979 gravou o filme “A Intrusa”, obtendo destaque e conseguindo depois disso diversas novelas na Rede Globo de Televisão. Atuou também em mais 24 produções cinematográficas. Em janeiro de 2013 assumiu ser bissexual ao defender os homossexuais na rede social. “Tenho que ser igual aos outros? Tem dias que prefiro homens, tem dias que prefiro mulheres. Tenho que mudar?”, postou Abreu. O ator também dividiu sua experiência pessoal com seus seguidores. “Em 1989, me apaixonei por uma bi. Ficamos juntos e resolvemos “tentar”. Durou 9 anos nossa relação. Seu último namoro tinha sido uma mulher”, relatou. “Eu me relaciono com pessoas, não com rótulos: gay, homo, hetero, sexualidade, sexualismo, opção sexual, tô (sic) andando. Se há amor ou tesão, foi”.
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Dona Alice, então,depois dessa breve explicação, foi peguntar sobrea família de cada aluno. Começou por Pedrinho. “Na minha casa moram, eu, meu pai, minha mãe e meu irmão.Papai é médico e mamãe advogada. Somos católicos. Moramos numa casa enorme. “ Logo depois, veio Laurinha: “Eu moro com minha mãe e com meu padrasto. Durmo na casa da meu pai no fim de semana. Não somos religiosos. Mamis é funcionária pública. Papis é engenheiro.”Mariazinha. logo foi contando da sua história: “Moro com meus avós. Meus pais foram morar no céu quando eu era bebê. Minha madrinha sempre me visita. Cada um é de uma religião: tem evangélico, católico...” E assim, foram contando um pouco da família de cada um. Cada uma com suas características. Umas grandes, ricas, outras pequenas, pobres. Uns mais unidos, outros mais dispersos. Muitos pais divorciados. Muitas casas em que novas famílias iam se formando a partir de uma central. A professora percebeu que joão era o único que não tinha falado sobre a sua. Pediu a ele que contasse suas experiências, afinal, ele era novo na escola e na cidade. “Ahhh, fessôra, minha família é diferente: meu pai foi casado com minha mãe, me fez e deu um pé na bunda dela. Se apaixonou por outro, isso mesmo, por outro. Foi morar em Brasília. Moro com minha mãe, acabamos de mudar para a cidade. Ela é dentista. “ Assustada com as revelações do menino, Dona Alice esperou que a aula terminasse e pediu para conversar com Joãozinho. “Meu, filho, sei que é difícil ter um pai homossexual. Mas, se ele é feiz assim, não se pode fazer nada. Tente aceitar.” João, assustado disse: “Fessôra, na verdade, meu pai é político, lá em Brasília. Traiu minha mãe com a secretária. Está enrolado com uma tal de corrupção. Fiquei com vergonha de contar para meus colegas. Aí , inventei essa história. Ter pai gay, não é vergonha. É normal. Vergonha é ter pai corrupto!”
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Atner Ribeiro Maia Barbara Beloti Barreto Douglas Batista Gonçalves Júlia Dias Maciel Maria Clara Nadur Varginha Coordenação: Alessandra de Falco Marcius Barcelos Planejamento Visual Gráfico UFSJ 2013