Revista Cinestesia

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Revista Cinestesia - Edição 1 - 19 de abril de 2013

OSCAR 2013 Ben Affleck supera o boicote e vence a noite

E MAIS: Mostra Tiradentes + Perfil Tim Burton + Lançamentos 2013


EDITORIAL O cinema, desde o início de sua contemplação na sociedade, se tornou aos poucos o ditador de modos e modas. Até mesmo a clássica e sempre pomposa premiação do Oscar é capaz de parar o mundo e fazer com que todos os holofotes se voltem para o Red Carpet. Mas afinal, o cinema, uma das sete artes mais consumidas pela massa, ainda pode ser considerada centralizada? Em termos de produção, sim. No Brasil, toda a produção cultural de maior visibilidade se concentra no sudeste, primordialmente no Eixo Rio-São Paulo. As outras regiões são praticamente ignoradas pela indústria audiovisual, mas a tendência atual é de que isso mude. E as mudanças vem acontecendo aos poucos, junto com tímidas, porém expressivas, iniciativas como a Mostra de Cinema de Tiradentes. Uma mostra tem um papel importante na divulgação do cinema independente no Brasil, por investir em atividades de formação, reflexão e difusão do cinema nacional e, sobretudo, valorizar sua diversidade. Em 2013, com o tema “Cinema Fora do Centro”, foram colocadas em cena as produções de lugares antes sem destaque, como Sergipe, Maranhão, Pará e Amazonas. O estado nordestino de Pernambuco vem surpreendendo a todos antes mesmo da Mostra, por ser o estado que mais produz filmes fora do Eixo Rio-São Paulo. Foi considerado o estado destaque pela New York Times, como produtor de um dos melhores filmes de 2012 com a pelicula O som ao Redor filme muito aclamado fora do país. A caminhada do “cinema periférico” ainda é longa. Além de lutar contra os padrões da Indústria Audiovisual, é preciso conquistar o público acostumado aos block­busters , às superproduções internacionais, e às produções “nacionais” produzidas em um único Eixo.

CINESTESIA Cinema e arte.

DIRETORA DE EXECUÇÃO: Luana Levenhagen EDITORES EXECUTIVOS: Tawane Cruz, Marlon Bruno de Paula, Priscila Natany DIRETOR DE ARTE: Luana Levenhagen, Marlon Bruno de Paula REPÓRTERES ESPECIAIS: Tawane Cruz, Luana Levenhagen, Marlon Bruno de Paula, Priscila Natany FOTO DA CAPA: Argo, 2012, Warner Bros. Divulgação COORDENADORA: Alessandra de Falco AGRADECIMENTOS: Marcius Barcelos Fotos: Divulgação

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NA REGIÃO

Fotos: (CC-BY SA) Overmundo

“Fora de Centro” é o tema da 16° Mosta de cinema de Tiradentes

Tiradentes - Os estilos cinematográficos do fora de centro foram o foco das discussões no penúltimo dia da Mostra, no centro Cultural Yves Alves. O seminário contou com participação de diversos pensadores e realizadores do cinema brasileiro que trouxeram ao público a oportunidade discutir mais abertamente a temática central da mostra deste ano. Ao pensar nessa temática, o que seria exatamente uma produção Fora de Centro? Ao observarmos a programação da mostra recheada de produções cinematográficas incomuns ao grande público, com longas e curtas sendo produzidos do nordeste ao sul do Brasil, podemos cair no equívoco de julgar esse novo cinema como meramente fora do eixo Rio-São Paulo. Mas não é tão simples assim. João Luiz Vieira, professor e crítico de cinema do Rio de Janeiro, analisa que a formação dessa nova geração é a grande responsável para formação de uma mentalidade altamente

seletiva que se instaura no audiovisual, resultando em filmes mais experimentais. Vieira descreve a nova interface do cinema Brasileiro “O Eixo não é apenas geográfico, é também estético. Essa produção mais nova, e mais “independente”, ainda cabe muito a esses limites geográficos e estéticos”.

grandes eixos brasileiros como atingir cineasta que desejam subverter os valores comerciais da produção brasileira vigentes no eixo Rio- São Paulo. O cinema atual, que o Brasil está vivendo é isso: subversão. Estamos caminhando contra a inércia de transformação que o país viveu décadas atrás.

Cinema Regional A regionalidade é definida por Marlon Bruno de Paula

Adirley Queirós, cineasta do Distrito Federal, como algo inevitável, afirmando que não é possível falar de Fora de Centro sem citar um território: “Temos que buscar a questão da identidade. Como um filme conseguirá dialogar com o espaço em que está inserido’’. Queirós finaliza dizendo que “Falar da construção das narrativas dos filmes e como fazer com que eles sejam compreendidos pela periferia.” O Fora de Centro é sem dúvida um termo abrangente. Pode contemplar tanto produções fora dos

Repórter Regional

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MATÉRIA DA CAPA Daniel Day-Lewis, Jennifer Lawrence, Anne Hathaway e Christoph Waltz. Foto: John Shearer/Invision/AP

OSCAR 2013

Os vencedores

O

ser conservador ao extremo, e privar muitos, que seriam dignos de uma estatueta, de ao menos serem levados à júri.

O Oscar divide opiniões. Em termos de glamour é o mais apreciado pelos amantes do cinema e por todos os envolvidos na Indústria Audiovisual, dos diretores aos atores. Mas em termos técnicos sempre gera revolta e polêmica, por

A premiação de 2013 não foi muito diferente das outras, mas vai ser conhecida como a noite dos musicais. O elenco de Les Miserables emocionou a todos com uma performance que reuniu várias músicas do filme, incluindo “I Dreamed a Dream”, a mesma interpretada por Anne Hathaway na película. A elogiada atuação da atriz a rendeu não somente a admiração da Academia como também sua indicação a uma das categorias. Outro espetáculo que despertou o público na premiação, foi uma encenação relembrando o musical Chicago, que completou 10 anos desde seu lançamento.

ano de 2012 pode ser considerado um dos mais ricos em termos de produção audiovisual. Grandes e pequenas produções foram lançadas, o que poderia significar uma maior abertura na seleção dos indicados às categorias na premiação do Oscar. Mesmo assim, A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood manteve seu tradicional método, que ninguém entende, de escolher e premiar os candidatos.

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Na premiação máxima, a de melhor filme, havia muitas dúvidas sobre o vencedor. Obras como Argo, Les Miserables, Lincoln, competiam em outras categorias também. Lincoln venceu em números de indicações com 12, porém como sempre, a Academia decepcionou as expectativas dos fãs que a película conquistou. Além da categoria de melhor filme, as categorias femininas tiveram grande destaque. Outra categoria cobiçada, a de melhor diretor, deixou de fora Quentin Tarantino (Django Livre) e rejeitou Ben Affleck. A grande injustiça da premiação, já que seu filme foi reconhecido por todos e pela mesma Academia que o recusou. Mas no final A criatura vingou seu criador.


Quando a lista final de nomeados

1979, quando manifestantes iranianos invadiram a Embaixada dos Estados Unidos na capital do para o 85º Academy Awards saiu em 10 de japaís em protesto ao asilo concedido pelo govneiro, houve um mal estar visível relacionada erno americano ao ex-governante do país, o à categoria de Melhor Diretor, uma das prinXá Mohammad Reza Pahlavi. Os manifestantes cipais e mais aguardadas da cerimônia. Ben fizeram 52 americanos que se encontravam na Affleck, que já havia sido indicado à categoria Embaixada reféns e outros seis que se encontrapor seu trabalho em Argo em diversas premivam no local conseguiram fugir e serem abrigaações do país havia ficado de fora da lista final. dos na casa do embaixador canadense, Ken Bradley Cooper, indicado à categoria de Melhor Taylor (Victor Garber). Com Ator pelo filme O Lado Bom da Vida, chegou a comentar no “Não importa que você vá o clima de instabilidade no país, a CIA sabia que não mesmo dia que o seu colega de a nocaute, o importante é demoraria muito para os profissão havia sido “roubado”. se levantar” revolucionários encontrálos e matá-los, designando O desconforto aumentou ainda então o agente Tony Mendes (Ben Affleck) para mais com a vitória de Ben Affleck como diretor resgatá-los do país em segurança. em duas importantes premiações, o BAFTA e o Globo de Ouro - que é considerado por alguns A projeção, que foi adaptada do livro do como “termômetro” da cerimônia da Academia próprio agente envolvido no resgate, The Masde Artes e Ciências Cinematográficas, o Oscar. ter of Disguise e de um artigo publicado pela O irreverente apresentador da edição, Seth revista Wired, intitulado The Great Escape, reMacFarlane, não deixou o acontecido passar cebeu duras críticas da imprensa iraniana e cindespercebido na cerimônia comentando que a eastas locais, acusando-a de ter distorcido os história de Argo era tão secreta que o diretor fatos e ser um filme político “anti-Irã”. Isso não ainda era desconhecido da Academia. Apesar atrapalhou a repercussão do filme, que recebeu de tudo, o longa produzido, dirigido e estrelado 96% de avaliações positivas no conceituado por Ben Affleck venceu a principal categoria da site Rotten Tomatoes que reúne as opiniões de noite, Melhor Filme, além de receber a estatueta críticos do mundo todo, e arrecadou mais de por Melhor Edição e Melhor Roteiro Adaptado. 229 bilhões de dólares no mundo todo. Em seu O filme, que foi produzido em parceria com discurso de agradecimento, Affleck desabafa: George Clooney e Grant Heslov e baseado em “Não importa que você vá a nocaute, o imporfatos reais, conta a história dos acontecimentos tante é se levantar”. que se sucederam ao dia 4 de novembro de Tawane Cruz e Luana Levenhagen

Desabafo: Foto: Jason Merritt / Getty Images

Ben Affleck comemora a vitória por Argo. 19 de maio de 2013, Cinestesia < 5


MAKING OF

A película inicia com dois irmãos, Cris e Téo, deixados às margens de uma alta estrada pelos próprios pais, algo no mínimo instigante para os espectadores que acompanham a cena nas primeiras sequências. Nesse momento não é de se estranhar que o público fomente uma dúvida, que no decorrer da narrativa vem sendo alimentada a cada situação, nos colocando de frente à pergunta: Cris conseguirá voltar pra casa? E assim se estabelece a jornada de uma criança seguida pelos espectadores ávidos por um desfecho.

Foto: Divulgação

“Eles Voltam”: A metamorfose em Cena desconstruindo uma visão idealizada de uma pobre garotinha desamparada caminhando de volta ao lar. Logo no primeiro ato do filme a protagonista é abandonada pelo irmão e, sozinha, começa a vagar pela rodovia encontrando um garoto de bicicleta que a oferece ajuda para sair daquele lugar. Assim, ela é levada para um assentamento do Movimento Sem Terra.

Nesse momento conseguimos nos situar na narrativa, construindo um perfil social da garota, O filme é bastante sensorial e que desbrava novas realidades, marcado pela ausência de tem- uma menina de classe média pos fortes, como explica diretor pernambucana que agora se vê Marcelo Lordello, que quis trans- ao lado de um grupo de assenmitir uma inquietude proposital tados. Essa construção entra ao público da obra. “Tentei não em consonância com o amaromantiza-ló” afirma o diretor, durecimento da jovem na sua

transição à maturidade. Esse discurso fica evidente ao estabelecer uma conversa notavelmente adulta com uma atniga vizinha. Ivo Lopes, diretor de fotografia do filme, relata que o filme é cheio de simbolismo, facilmente identificável quando Cris bóia sobre as águas da praia, passando a ideia, como o diretor declara em coletiva posterior a exibição de filme, de uma vida fluida, de que navega nos horizontes de uma viagem. O renascimento também é um tema pertinente ao filme, pois na figura da garota abandonada, cabe a imagem de um ser em metamorfose, o nascimento de um novo indivíduo como ferramenta crucial para sua própria melhoria como destaca o diretor do filme. A película é uma das recentes produções da notória ascensão do cinema pernambucano e isso é metamorfose cinematográfica, a mudança geográfica das produções.

Foto: Reprodução

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Marlon Bruno de Paula


Foto: Divulgação

PERFIL

T T

TIM BURTON: DO HORROR À POPULARIDADE

im Burton possui lados muito peculiares na sua essência cinematógrafica. O desejo do sombrio e a vontade do macabro são im Burton possui lados peculiaresdesde na sua essência cine-incaracteristicas que o muito acompalharam a origem e são matógrafica, desejo nomes ao sombrio e ainfluenciaram vontade do quando macabro.criança. São corporações de ograndes que lhe caracteristicas acompalharam desde a origem e são Burton dizia que fugiroda realidade lendo livros sombrios de incorporaEdgar Allan ções grandes nomes lhe influenciaram quando BurPoe,deconsiderado o pai que da ficção policial e notório porcriança. suas histórias ton elegava fugir da realidade lendo livros sombrios de Edgar Allan mistériosos e tenebrosas. Frequentava também cinemas que trasmiPoe, o pai de dabaixo ficçãoorçamento political e enotorio suas histórias tiamconsiderado filmes de terror adoravapor a atuação nas temistériosos e tenebrosas. Frequentava trasmilonas de Vicent Price, considerado portambém muitos ocinemas “Mestre que do Macabro”. tiam filmes de terror de baixo orçamento e adorava a atuação nos Contratado pela Walt Disney Studios após cursar animação no intelões de Vicent Price, considerado por muitos o “Mestre do Macabro”. stituto das Artes da Califórnia em Valencia, começou a trabalhar no Contratado pela Walt Disney Studios após cursar animação no desenho O Cão e a Raposa, mesmo estando insatisfeito com a instituto das Artes da Califórnia em Valencia, Califórnia, começou direção artistica do filme. Nesse período produziu o curta metragem a trabalhar no desenho “O Cão e a Raposa” mesmo estando insatisem Stop­ Motion , Vicent, que retrata um garoto de 7 anos que quefeito com a direção artistica do filme. Nesse período produziu o curta ria ser como Vicent Price. A narração foi feito pelo próprio Price, para metragem em stop­Motion “Vicent” em 1982, que retrata um garoalegria de Burton, que teve a oportunidade de trabalhar junto com to de 7 anos que queria ser como Vicent Price. A narração foi feito seu grande ídolo. Também produziu dois live­actions, João e Maria pelo próprio Price, para alegria de Burton, que trabalhado junto com e Frankenweenie. O último conta a história de um cachorro atroseu grande ídolo.Também produziu dois live­actions “João e Maria” e pelado e ressuscitado de forma análoga ao Frankenstein, sendo con“Frankenweenie”, o ultimo conta a história de um cachorro atropelasiderada inapropiado pela Disney, ocasionando a demissão de Burton. do e ressuscitado de forma análoga ao Frankenstein, sendo considerada inapropiada pelo Disney, sendo o motivo de demissão de Burton. Tim Burton no filme Os Fantasmas se Divertem faturou o oscar Burton no filme “Os fantasmas se Divertem” faturou o oscar de de melhor maquiagem. Com ele o diretor começou a se destacar e foi melhor maquiagem.Com este filme o diretor começou a se destacar e chamada para produzir uma superprodução: Batman, em 1989, com foi chamada para produzir a superprodução: Batman, em 1989. Com continuação em Batman­: O retorno. Em 2000, ele adapta o musical continuação de Batman­O retorno. Em 2000, Tim Burton adapta o muda Broadway: Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. sical da Broadway Sweeney Todd, o Barbeiro demoníaco da rua Fleet. Já em 2010 ele produz o filme Alice no País das Maravinhas, que Fechando a década de 2000, Tim Burton adapta o musical da Broadapesar de não ser visto muito bem pela crítica, faturou 1 bilhão de dólares way Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco da Rua Fleet. Em 2010 ele mundialmente, transformando­- se no filme mais bem sucedido, mercproduz o filme Alice no País das Maravinhas, o filme apesar de não adologicamente falando, de sua carreira. O último filme produzido por ser visto muito bem pela crítica, faturou 1 bilhão de dólares mundialele, até então, foi Dark Shadows, baseado na série de 1960 de mesmo mente, transformando­se no filme mais bem sucedido, mercadologicanome, produzida por Dan Curtis. Lançado pela Warner Bros e a GK Films, mente falando, do Tim Burton. O último filme de Burton foi Dark Shado filme conta om mais uma esplendorosa atuação de Johnny Depp, figuows, baseado na série de 1960, Dark Shadows de Dan Curtis. prouzido ra carimbada nos filmes de Burton, no papel o vampiro Barnabas Collins. pela Warner Bros e GK Films, o filme conta om mais uma esplendorosa atuação de Johnny Depp no papel o vampiro Marlon Barnabas Bruno deCollins Paula e Tawane Cruz

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LANÇAMENTOS

Título Original: Somos Tão Jovens Gênero: Biografia, Drama, Música, Nacional Direção: Antônio Carlos da Fontoura Roteiro: Luiz Fernando Borges, Marcos Bernstein

Título Original: The Call Gênero: Mistério, Suspense, Thriller Direção: Brad Anderson Roteiro: Jon Bokenkamp, Nicole D’Ovidio,Richard D’Ovidio

Título Original: Faroeste Caboclo Gênero: Aventura, Drama, Nacional, Romance Direção: René Sampaio Roteiro: José Carvalho, Paulo Lins

Título Original: To the Wonder Gênero: Drama, Romance Direção: Terrence Malick Roteiro: Terrence Malick

Título Original: Jewtopia -The Movie Gênero: Comédia, Romance Direção: Bryan Fogel Roteiro: Bryan Fogel, Sam Wolfson

Título Original: Passion Gênero: Mistério, Suspense, Thriller Direção: Brian De Palma Roteiro: Alain Corneau, Brian De Palma,Natalie Carter


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