SENSO INCOMUM 048 - setembro 2021

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senso

comum

Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo UFU ano 12 • 48ª edição setembro de 2021

Desafio entre telas A educação dos surdos no ensino remoto

Páginas 6 e 7

Política

Cultura

Esporte

Desumanização das mulheres em privação de liberdade

Pandemia mantém profissionais reféns da falta de privacidade

Atletas veem popularidade crescer nas redes sociais

Página 3

Página 9

Página 11 FOTO DE CAPA: ARQUIVO PESSOAL


Senso nº 48 Set/2021

DA REDAÇÃO EDITORIAL//

O "impossível" é silenciar Após mais de um ano de pandemia de coronavírus, a realidade de muitos foi alterada, seja pela perda de amigos e familiares, seja pela mudança de rotina. Home office e ensino a distância se tornaram expressões frequentes nas conversas. Hoje, é através das telas que nos informamos, nos comunicamos e nos entretemos. Nesse bombardeio de textos, imagens e vídeos, é papel do jornalista trazer informações de qualidade e relevantes para a sociedade. E é isto que fazemos nesta edição. Uma comunicação inclusiva e sem discriminação adquire uma importância ainda maior diante de uma sociedade hiperconectada. Não expor a diversidade significa retroceder. Lidamos diariamente com as dificuldades impostas pela pandemia e buscamos nos adequar à nova realidade. Para muitos, esse contexto se tornou um entrave para o acesso à informação e educação, realçando ainda mais as desigualdades. A Equipe Senso (in)comum buscou dar destaque às vozes que representam a realidade brasileira. O ensino remoto, as redes sociais e também as vivências fora do ambiente virtual são parte da vida de muitos universitários. Diante de frases como a do atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, que afirmou que existem crianças com "um grau de deficiência que é impossível a convivência", queremos mostrar que discursos preconceituosos e, muitas vezes, baseados em desinformação, estão longe de ser a solução. Respeitar as diferenças e garantir oportunidades iguais é fator fundamental para haver inclusão. Nesse sentido, buscamos promover discussões a partir de temas que ressaltam a importância de um pluralismo de ideias no debate público. Em meio ao luto de inúmeras famílias, dificuldades enfrentadas pelo contexto atual e a esperança de dias melhores, confiamos na aliança entre informação e verdade. Auxiliando na quebra de preconceitos e sendo uma das principais armas contra a Covid-19, devido ao negacionismo e inúmeras informações falsas. 

Acesse o conteúdo exclusivo:

OPINIÃO//

A moda popular das favelas Disseminada por não-negros, a estética preta alcança as universidades LAURYN FONSECA

CRIADO POR ELES E USADO POR ELES: ESTUDANTE DE CIÊNCIAS ATUARIAIS DA UNIFAL VESTIDO COM ELEMENTOS DO SPORTSWEAR. FOTO: LAURYN FONSECA

Funk e trap mainstream durante as festas. Tranças nagô envoltas por barbante nas cores das atléticas. Outfits sportwear pelos corredores e salas de aula. Esses são pequenos exemplos da presença da cultura preta no ambiente universitário. Mas está equívocado quem acredita que os disseminadores dessa estética são os negros e negras. Dados do Censo de 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelam que mais de 8,6 milhões de brasileiros estão matriculados em cursos na graduação, contudo, apenas 613 mil declararam-se pretos. E as projeções para o futuro não são animadoras. De acordo com o levantamento feito pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), o número de candidatos negros inscritos no período regular para o Enem 2021 caiu 52% em comparação com o ano de 2020. Nesse cenário, precisamos com urgência que se preste o devido valor a quem criou o ris-

quinho na sobrancelha, desenvolveu o conceito da Oakley Juliet nas festas brasileiras, a quem sempre usou corrente no pescoço e popularizou o loiro pivete. Ainda mais fundamental é que, para além dos créditos, os pretos proprietários dessa cultura estejam nos campi usando todos esses elementos. A música e os artigos fashion estão livres para qualquer pessoa explorar. O ponto central não está no estudante não negro que utiliza tais tendências, mas na estética preta que chegou na universidade antes mesmo do criador dela colocar os dois pés na sala de aula. E isso sim, é inadmissível. O desejo que fica é para que, em um futuro próximo, a moda popular das favelas seja usada em grande escala no ensino superior por aqueles a quem ela pertence, como também por quem a escolheu por gosto, de maneira que nos dois corpos o estilo seja aceito e, principalmente, respeitado. Afinal, quem não admira um bom disfarce no corte de cabelo?! 

Reitor Valder Steffen Jr. - Diretora da Faced Geovana Ferreira Melo - Coordenador do Curso de Jornalismo Vinícius Dorne - Professores Ana Cristina Spannenberg, Nicoli Tassis, Nuno Manna Jornalista Responsável Nuno Manna - Editoras-Chefes Julia Alvarenga e Lílian Karla - Revisão Beatriz Cintra, Beatriz Nascimento, Jhenifer Gonçalves, Maria Julia Araujo, Stéphane Vieira Editores Fernanda Neves (Ciência e Tecnologia), Gabriela Pina (Políticas), Julia Barduco (Cultura), Luís Fellipe Borges (Esporte), Bianca Xavier, Fábio Malvezzi, Luciano Vieira (Opinativo e P 12) Checagem Anna Júlia Lopes, Helder Reis, Karolina Cardoso - Diagramação Andrei Gobbo, Juliana Kopp, Matheus Dias - Redes e site Heuler Reis, Isadora Braga, Edivaldo Júnior, Kauê Altrão e Lauryn Fonseca - Foto e arte Andressa Alves, Gabriel Guimarães, Leonardo Jardim, Matheus Machado, Olívia Diniz - Finalização Danielle Buiatti e Ricardo Ferreira de Carvalho. Acesse conteúdo exclusivo: sensoincomum.wixsite.com/jornal

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POLÍTICAS

Solitárias e abandonadas no cárcere A situação brutal daquelas cuja sentença é viver sem dignidade BEATRIZ CINTRA E BEATRIZ SOUZA

DE ACORDO COM DADOS DO INFOPEN (2018), 50% DA POPULAÇÃO PRISIONAL FEMININA É COMPOSTA POR MULHERES ENTRE 18 E 29 ANOS. FOTO: PEXELS

O Brasil é o quarto país com mais presas do mundo. São cerca de 42 mil mulheres encarceradas, em sua maioria, por crimes associados ao tráfico de drogas. Eles correspondem a 62% das incidências penais pelas quais as reclusas foram condenadas ou aguardavam julgamento em 2016, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de 2018. Um perfil se apresenta quando tratamos do encarceramento feminino: mulheres, em sua maioria negras, jovens, com filhos e responsáveis pela provisão do sustento familiar, de baixa escolaridade e desfavorecidas economicamente, que, por diferentes motivos, se relacionaram com o tráfico e, atualmente, se encontram cerceadas de sua liberdade. É o que aconteceu com Maria Gabriela Doin, egressa do sistema prisional. "O meu primeiro contato foi quando meu ex-marido foi preso e isso mexeu muito comigo psicologicamente. Eles nos usam como álibi e é por isso que o sistema está lotado de mulheres que foram sujeitadas a fazer certas coisas e chegaram até o fundo do poço. E foi isso que aconteceu comigo. Eu fui presa por tráfico de portaria, levando droga para o sistema prisional”, ela desabafa. Ao adentrarem no sistema, são negligenciadas até em suas necessidades mais básicas. A policial penal Rosemable Oliveira conta que o mesmo "kit básico" é oferecido para homens e mulheres quando chegam aos presídios. Itens como xampu, condicionador, desodorante e peças íntimas são de responsabilidade dos familiares, independen-

temente do gênero. Há uma precariedade em atender às demandas e peculiaridades de higiene nos presídios femininos, visto que mulheres não costumam receber visitas de familiares, amigos e cônjuges — que, muitas vezes, foram cúmplices no crime que as levaram a perder a liberdade. Enquanto os homens são amparados pela família e esposa, o machismo estrutural torna a vida das mulheres na cadeia muito mais dura. "Eu quero deixar bem claro que não são todas, porque hoje em dia eu tenho uma amizade com uma agente penitenciária muito humana, que me ajudou muito. Mas outras agentes humilhavam demais a gente. Falavam que a gente fedia, quando tínhamos acabado de tomar banho”, recorda Flavia Lorrayne, também egressa do sistema prisional. Com a saúde mental desestabilizada, são frequentes os relatos de ocorrências e tentativas de suicídio. De acordo com dados do Infopen, estima-se que as chances de uma mulher se suicidar são até 20 vezes maiores entre a população prisional. Entre a população brasileira total foram registrados 2,3 suicídios para cada 100 mil mulheres em 2015, ao passo que entre a população prisional feminina foram registradas 48,2 mortes autoprovocadas no mesmo período. Diante de tantas dificuldades, as reclusas ficam a um passo do precipício. “Ela literalmente se suicidou na minha frente. E o que me impactou, além do ato, foram duas coisas: primeiro que já havia vencido o tempo de solitária, mas não liberaram o fim do castigo. E, depois de tudo, ver que quem

fez o enterro, foi a pastoral carcerária, porque a família não foi nem para liberar o corpo”, narra a policial e graduanda em Direito, Cíntia de Souza. “Ela tinha filhos e mãe, estava presa porque sofria violência doméstica e matou o ex marido. Havia tentado todas medidas e não conseguiu. [Ela] sempre foi rechaçada por já ter sido presa por um furto, era dependente química e não foi amparada pela Lei Maria da Penha”, relata. Contudo, quando essas mulheres sobrevivem ao seu período de cárcere, o que elas encontram na vida fora das grades? O Professor de Direito na UFU, Helvécio Damis de Oliveira Cunha, considera a ressocialização mais difícil para elas, visto que muitas vezes precisam trabalhar no ambiente doméstico. O preconceito social costuma ser maior em relação à mulher que já esteve envolvida na criminalidade do que com o homem. “Eu vou ser bem franco, não acredito em ressocialização no sistema prisional que temos. Enquanto existir um sistema que só causa sofrimento e que a sociedade vira as costas, não adianta esperar que vão se ressocializar”, ele afirma. Há uma dupla punição para mulheres que cometeram crimes. Sua sentença como cumprimento da pena determinada por seu crime e, ainda, as devidas medidas legais estabelecidas pelo Estado. Neste contexto, o machismo toma proporções ainda mais brutais, as encarceradas e as egressas do sistema sofrem as consequências de um julgamento que também as acusa por descumprir o papel social de gênero tradicional. 

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POLÍTICAS

A solução remota nas universidades Crise sanitária do Covid-19 forçou a adaptação de aulas, gerando transtornos e avanços no ensino superior FÁBIO MALVEZZI E LEONARDO JARDIM

Em março de 2020, iniciava mais um ano letivo para muitos estudantes universitários. A pluralidade dos alunos era perceptível: uns mais focados em estudar, formar e estagiar; outros que queriam aproveitar os bares e as festas antes de pensarem nas responsabilidades futuras, assim como os que estavam tranquilos e ainda não haviam se decidido. Apesar das diferenças, os discentes compartilharam sentimentos parecidos após a primeira semana de aula. A pandemia de Covid-19 chegara ao Brasil, impossibilitando atividades presenciais. As instituições federais fecharam, em sua maioria, naquele mês e, logo após, o ensino remoto se tornou a solução para a continuidade do ensino. A docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), Geilsa Valente, comemorou a inclusão do recurso. “Fiquei muito feliz com a escolha pelo ensino remoto. Excelente estratégia para que não deixemos os estudantes sem atividades de ensino na graduação e pós-graduação. Como a pandemia é uma questão de saúde e sem previsão [de término], vi com muito bons olhos”, comenta. Professora há mais de 35 anos, ela poderia ser considerada “conservadora”, mas foi o contrário. Trabalhou para encontrar alternativas eficientes ao desafio. As expectativas sobre as aulas à distância foram atendidas, sendo que Geilsa e os estudantes receberam todo o auxílio necessário da UFF, de

CLASSES VAZIAS DEIXAM A ESCOLA SEM ALMA. FOTO: RUBÉN RODRIGUEZ/UNSPLASH

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UNIVERSITÁRIOS PRECISARAM SE AMBIENTAR AO NOVO FORMATO PEDAGÓGICO FOTO: THOMAS PARK/UNSPLASH

acordo com ela. A docente entregou aulas inéditas e que planeja manter. “Realizei várias estratégias, fiz convites para pessoas de fora participarem, especialistas internacionais estão presentes em minhas aulas. Enriquece bastante o debate. No presencial não é possível convidar e, após a pandemia, continuarei utilizando, pois nos adaptamos. Muitas coisas do período nós vamos levar para o resto da vida”, expõe Geilsa. O coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFU, Max Ziller, é um dos responsáveis pela implementação do ensino remoto na UFU. “A gente não esperou contato, fizemos nossa proposta e mandamos. Corremos atrás e mostramos para as autoridades. A proposta saiu da gente, essa é a função do DCE. Não tem que pedir licença”, ele assegura. A principal motivação para tal movimentação foi a necessidade e a preocupação pela formação dos estudantes na fase final da graduação. O empenho, porém, não foi unânime entre todos os professores. “Percebemos que muitos docentes não davam aula, simplesmente porque não queriam. Teve instituto que só deu palestra e se recusou a dar aulas, o que nos levou a cobrar, no semestre seguinte, pela obrigatoriedade aos docentes”, testemunha o estudante, que ainda compartilha: “A gente entende que as universidades não contratam professores, mas pesquisadores. Então, para muitos, dar aula é um estorvo porque eles não queriam e são obrigados. Infelizmente, é um problema da academia brasileira, mas a gente não pode deixar de cobrar um ensino de qualidade”. Ainda assim, Geilsa e Max argumentam que o ensino remoto foi não só satisfatório, como eficiente. Para a docente, o nível de aprendizagem nas aulas teóricas, continuou alto e os estudantes não tiveram prejuízos por conta da atividade não ocorrer de forma presencial. O coordena-

dor do DCE se baseia na pesquisa da própria UFU, que constatou uma taxa de matrícula acima de 97% pelos estudantes. Para os educadores, o ensino remoto não foi em si, o problema durante a pandemia. Outro ponto de preocupação e foco de debates é a questão socioeconômica, presente nas discussões, tanto da UFF, como da UFU. “Um dos prérequisitos foi a assistência estudantil para estudantes de baixa renda. A gente ficou batalhando nos Conselhos para que fosse opcional ao estudante, por conta desta questão”, relata Max. Não é plausível generalizar os casos de aparente sucesso da UFU e UFF, já que algumas universidades federais encontraram problemas que não foram solucionados adequadamente. Os esforços, pelo menos no que diz respeito às instituições, não faltaram. “Nunca tivemos um quadro tão triste como o de agora pelas atitudes erradas das autoridades governamentais, inclusive contra os reitores. Eles lutam para que não haja prejuízo, mas as autoridades atrapalham com os cortes de verba, o negacionismo e o deboche com a vida humana. Eu acredito que a educação irá nos proporcionar dias melhores”, desabafa Geilsa. 

CHARGE: RODRIGO BUM


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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Iluminismo às avessas Consumo de conteúdos que reforçam pré-concepções contribui para crescimento do anticientificismo BIANCA XAVIER E JULIA ALVARENGA

CHARGE: OLÍVIA DINIZ

Movimentos anticiência têm sido cada vez mais recorrentes. Com a pandemia da Covid-19, os questionamentos relacionados à eficiência das vacinas e às medidas de proteção tornaram-se um tema comum nos círculos sociais. Para além das dúvidas no campo da saúde, assuntos como terraplanismo chocariam o navegador português Fernão de Magalhães, que no século XVI notabilizou-se por comandar a primeira viagem marítima a circular o globo terrestre. Em uma espécie de “iluminismo às avessas”, tem sido desmontado o propósito de disseminação do conhecimento, o enaltecimento da razão e do fazer científico tão defendido por profissionais entre os séculos XVII e XVIII. O espaço propício para esse movimento tem sido a internet, mas as motivações vão muito além dela. Para a psicologia, o chamado “raciocínio motivado” pode ser uma explicação para esse anticientificismo. O fenômeno se dá pela predisposição do indivíduo em criar narrativas que sustentem uma ideia pré-concebida, realizando buscas seletivas por elementos que confirmem sua opinião. Em outras palavras, é uma forma inconsciente de obter uma afirmação desejada por influência de emoções e experiências. Segundo a psicóloga Talita Motta, existe uma tendência humana em dar mais valor a informações que confirmam nossas concepções e em ignorar as que nos contrariam. Por esse motivo, a aceitação e a validação social são tão importantes, pois agem como um reforço daquilo que se acredita e/ou defende. Assim, é muito comum que se busque em fóruns e grupos de discussão pessoas que legitimem ou mesmo partilhem determinado ponto de vista.

Os algoritmos presentes em sites e redes sociais anos, quando descobriu a suposta “farsa” da ida do são fatores contribuintes para o crescimento do homem à lua. Desde então, se mantém ativo em anticientificismo. O professor da Faculdade de grupos de discussões e faz lives e entrevistas sobre Computação (Facom) da UFU, Paulo Henrique Ga- o assunto. Ele acompanha muitos canais e sites que aborbriel, explica que existem programas de computador que monitoram acessos e interações do dam o tema e comenta que os conteúdos globalisusuário, a fim de entender o que ele considera tas (aqueles que consideram a Terra como atraente. “Quanto mais você interage com um con- redonda) são compostos por falsidades. “É difícil teúdo do seu interesse, mais destaque ele terá para tentar acompanhar alguma coisa [globalista], mas procuro estudar os assuntos referentes a isso para você”, afirma o professor. Diversas teorias conspiratórias e negacionistas ver o que têm de verdade”, afirma. A comunidade terraplanista costuma se inforse popularizaram através da internet, e o terraplanismo é uma delas. Em 2019, cerca de 7% dos bra- mar a partir de pessoas e páginas simpatizantes. sileiros, entre 16 e 25 anos, acreditavam que a Terra Dessa forma, os algoritmos tendem a dar mais destaque ao terraplanismo e cercam os indivíduos é plana, conforme dados do Instituto DataFolha. O com conteúdo que reforça número representa quaa sua crença. Algo que se se 11 milhões de pessoas. repete com outros grupos Muitas discussões soOs debates são formas negacionistas. bre esse tema ocorrem Por esse motivo, é neem grupos e fóruns de importantes e necessárias, desde cessário analisar ao escoredes sociais. O “Terra lher um fórum de discussão. Plana Brasil Exclusivo”, que em espaços plurais, “A direção da opinião préno Facebook, conta com concebida depende do nível mais de 30 mil membros democráticos e adeptos à de qualidade e confiabilidae um dos administradode das informações exposres é Milton “TP”. Para favalidação científica. tas pelos debatedores, bem zer parte do grupo é TALITA MOTTA, PSICÓLOGA como da abertura que se dá preciso responder alguà exposição de ideias conmas perguntas sobre sutrárias ao pensamento dominante. Se o fórum é as opiniões em relação ao terraplanismo. “Geralmente aceitamos todos, a não ser aqueles pouco aberto a divergências, certamente a préque vêm com ‘zombaria’. Esses já são retirados e concepção poderá ser intensificada e guiada para a bloqueados de imediato. O grupo é privado, então direção majoritária”, esclarece a psicóloga Talita entram aqueles que querem discutir, estudar e se Motta. “Os debates são formas importantes e neinteirar do assunto”, esclarece. cessárias, desde que em espaços plurais, democráO interesse de Milton no tema começou há 20 ticos e adeptos à validação científica”, conclui. 

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ESPECIAL

Inclusão nas universid

Quatro anos após ser tema de redação do Enem, a educação dos surdos no Brasil p MATHEUS DIAS E OLÍVIA DINIZ

NO ENSINO SUPERIOR

ILUSTRAÇÃO: OLÍVIA DINIZ

Em 2017, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi responsável por colocar em pauta as problemáticas da educação dos surdos no país. Estudantes de Norte a Sul refletiram sobre o problema e propuseram soluções, antes no âmbito presencial. Hoje, o desafio é entre telas. Com a necessidade de isolamento social e o ensino remoto, situações como falta de suporte, pouca interação entre professores e alunos, preconceito e desvalorização da língua de sinais escancaram as limitações das políticas públicas de inclusão para a comunidade surda. A COMUNIDADE SURDA Dados da pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto Locomotiva e a Semana de Acessibilidade Surda indicam que existem mais de 10 milhões de pessoas com dificuldades auditivas no Brasil. Esse grupo é diverso, sendo composto por crianças, jovens, adultos e idosos que apresentam níveis de surdez em diferentes graus. Dentre essas pessoas, apenas 7% têm ensino superior completo, 15% estudaram até o ensino médio, 46% frequentaram até o ensino fundamental e 32% não têm nenhum grau de instrução. O fato de a vida em sociedade ainda ser muito voltada para os ouvintes e o desconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) são fatores que contribuem para estas baixas porcentagens. Além disso, a legislação voltada aos surdos é recente. A Libras foi reconhecida apenas em 2002 como meio legal de comunicação e expressão dos surdos e só foi considerada obrigatória para os cursos de licenciatura, pedagogia e fonoaudiologia em 2005. Dezesseis anos depois, em 2021, a educação bilíngue de surdos na Lei Brasileira de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi incluída como uma modalidade de ensino independente.

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Estudante de Fisioterapia na Universidade Pitágoras, em Uberlândia, Giovanna Borges é produtora de conteúdos digitais que promovem a inclusão dos surdos. Ela conta que o preconceito e a baixa capacitação dos professores - que não oferecem suporte durante as aulas - foram problemas presentes em todas suas fases de ensino. Mas, com a pandemia, novos obstáculos surgiram. Durante o ensino remoto, ela aponta ainda que há professores que mantêm a câmera desligada, impedindo a realização de leitura labial. A voz robotizada de computadores e celulares são difíceis de compreender, prejudicando o desenvolvimento de memória sonora, e a ausência de legendas nas videoaulas dificultam ainda mais o entendimento. Para Giovanna, a necessidade do isolamento social gerou novos desafios - mas, também, novas adaptações, quando o suporte necessário foi recebido. “É essencial ter o apoio dos professores e da diretoria da instituição de ensino para a inclusividade nas aulas”, ressalta. A aluna de Ciências Contábeis na UFU, Gabriela de Oliveira, aponta que também prefere o ensino presencial, pois o ensino remoto é acompanhado de muitos problemas. “O intérprete trava por causa da internet, há pouca interação com os colegas e durante as provas tenho dificuldade em acompanhar a tela dele, pois a prova fica sobreposta”, ela indica. A presença do intérprete de Libras é fundamental para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos. Desde 2016, com o Projeto de Lei 1690/15, a participação deste profissional é obrigatória nas salas de aula dos ensinos básico e superior. Porém, Gabriela destaca que “o ideal seria que professores e mais ouvintes soubessem Libras para podermos ter maior interatividade não só na universidade como em qualquer lugar”. Para ela, a alta desvalorização e desconhecimento da língua de sinais são responsáveis pela segregação dos surdos no âmbito social, educacional e profissional.

O ENSINO REMOTO REFORÇA A RELEVÂNCIA DA LIBRAS NAS UNIVERSIDADES.. FOTO: PEXELS

A VISÃO DOS EDUCADORES A professora na área de Libras e Educação Especial da UFU, Marisa Lima, alerta para o esgotamento físico e mental dos professores surdos

GIOVANNA BORGES MOSTRA A SUA ROTINA DE ESTUDOS. FOTO: AR

durante o ensino remoto. Isso porque, além de lecionar disciplinas para os estudantes, os docentes também participam de reuniões, cursos de formação e atividades de planejamento. Além disso, questões de infraestrutura técnica como conexão, acessibilidade e apoio de profissionais complementares desafiam docentes e alunos para um melhor aproveitamento e qualidade de ensino. “Nós [surdos] enfrentamos problemas como a falta de suporte tecnológico de qualidade e a escassez de intérpretes e tradutores durante a aula”, revela Marisa. Em relação aos intérpretes e tradutores, a professora enfatiza que a quantidade de funcionários na instituição não supre a demanda solicitada pela comunidade surda, prejudicando a relação para além da sala de aula, visto que a disponibilidade dos profissionais prioriza o atendimento aos alunos. “Existem pessoas que atuam sem revezamento. Assim, quando o intérprete deixa de realizar um intervalo, não é possível repassar fielmente o con-


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ESPECIAL

dades avança devagar

passa por novas dificuldades com o ensino remoto durante a pandemia de Covid-19

RQUIVO PESSOAL

teúdo ministrado, prejudicando os estudantes no acompanhamento da matéria”, afirma a professora. Vale ressaltar que, de acordo com notas técnicas da Febrapils (Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e GuiaIntérpretes de Língua de Sinais) e da Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), a orientação é que intérpretes e tradutores realizem revezamentos a cada 20 minutos. Na visão de Marisa, é necessário que a instituição oriente o corpo docente acerca das dificuldades enfrentadas pela comunidade surda durante o ensino remoto, sobretudo, após problemas técnicos na conexão que afetam a imagem das videoconferências de intérpretes e tradutores, que inviabilizam a compreensão do conteúdo. UFU E DEPAE A Divisão de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (DEPAE) é o de-

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

partamento responsável pela implementação de políticas de inclusão e acesso da comunidade acadêmica na UFU. De acordo com a Coordenadora desse órgão no campus Santa Mônica, Anna Paula Martins Leite, desde o início do ensino remoto emergencial, foram disponibilizados tradutores e intérpretes em Libras para professores e estudantes em atividades síncronas, reuniões administrativas, orientações de pesquisas, monografias, mestrado e doutorado. “Os Tradutores e Intérpretes de Libras estão atendendo as lives das Pró-reitorias e das Unidades Acadêmicas da Universidade, tornando esses eventos acessíveis à comunidade interna e externa”, afirma a coordenadora. Além disso, ela cita a atuação de bolsistas com conhecimento em Libras nas atividades de monitoria para auxiliar a demanda solicitada e os processos de ensino-aprendizagem. Entre as soluções para aprimorar os programas de inclusão, a coordenadora sugere aumen-

O ideal seria que professores e mais ouvintes soubessem Libras para podermos ter maior interatividade. GABRIELA DE OLIVEIRA, ESTUDANTE

tar o quadro de tradutores e intérpretes de Libras, visando ampliar a qualidade dos atendimentos e a quantidade de atividades atendidas pelo DEPAE. “Essa necessidade já está em vias de atendimento pela Universidade Federal de Uberlândia”, garante Anna Paula.

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CULTURA

Female Gaze: do objeto ao protagonismo Como a ascensão de mulheres na indústria cinematográfica está transformando as narrativas do universo feminino GABRIELA PINA E JHENIFER GONÇALVES

POTÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO

O OLHAR FEMININO REVOLUCIONA O CINEMA, ANTES DOMINADO POR HOMENS. FOTO: NAPPY

A câmera se move lentamente em direção à parte inferior do corpo da mulher, passeando pelas pernas descobertas da personagem e deslizando em suas curvas, sendo acompanhada por uma trilha sonora sugestiva. Quando o rosto finalmente se torna o foco principal, podemos ouvi-la dizer que, em poucos segundos, uma bomba deve destruir toda a população da área. Em síntese, esse é o male gaze: uma representação heteronormativa que privilegia o olhar masculino e reduz o papel da mulher a uma existência objetificada, rodeada de teor sexual e limitada a um acessório da trama. Na contrapartida desse olhar hegemônico, o female gaze busca trazer às narrativas cinematográficas uma perspectiva intimista e humanizada. A comunicadora social com foco no audiovisual e doutoranda em estudos de gênero, Anelise Molina, afirma que no olhar feminino existe um “senso de que o mundo e o universo são um sistema e que todos têm que estar envolvidos para algo dar certo, [...] com uma visão mais sistêmica e holística do universo.” Para ela, embora seja perceptível um aumento de investimento em produções com essa perspectiva subversiva, ainda falta repertório visual com lentes femininas, o chamado female gaze. A percepção da pesquisadora é confirmada pelos dados da pesquisa “Participação feminina na produção audiovisual brasileira”, realizada pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). De acordo com o levantamento, apenas 20% das obras de ficção com Certificado de Produto Brasileiro do ano de 2018 foram dirigidas por mulheres e 25% foram roteirizadas. Quando o assunto é direção de fotografia, esse número cai para 12%.

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Essa abordagem exclusivamente masculina predominante nas telas é vista com preocupação pela psicóloga Alessandra Smaczylo, especialista em atendimento à mulher e em terapia cognitivocomportamental. Ela explica que os nossos cérebros aprendem a partir do reforço, ou seja, quanto mais algo é repetido por nós e por aqueles ao nosso redor, mais se torna natural. Por isso, a representatividade e a diversidade de experiências que chegam ao grande público são tão importantes, considerando que a hegemonia de narrativas culturais pode acarretar no sentimento de inadequação, contribuindo para o desenvolvimento de doenças psicológicas já pré-dispostas. “Somos levados a acreditar que o male gaze é a experiência universal, quando não é”, complementa Anelise.

Além da questão comercial, o cinema sempre trouxe um senso de luta e transformação social, como conta o historiador e estudioso de cinema, Luiz Felipe Mundim. Um exemplo disso é uma experiência francesa do começo do século XX, chamada de Cinema do Povo (ou seu original Cinéma du Peuple) com base na militância operária. Sua produção inaugural, “As misérias da agulha”, é considerada uma das primeiras obras cinematográficas com intenções feministas, já que aborda questões comuns na vida de mulheres operárias da época, como a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho e o assédio sexual. Luiz Felipe atribui crédito da abordagem revolucionária a duas atrizes que participaram do filme, Musidora e Lina Clamour, abertamente feministas e militantes. Para a mestre em comunicação social e produtora executiva de cinema na Moveo Filmes, Daniela Marinho, a contribuição de artistas femininas ajuda na construção do female gaze, uma vez que as intérpretes das personagens também possuem espaço de criação no processo de produção cinematográfica. No curta-metragem que produziu, “A arte de andar pelas ruas de Brasília”, a trama se desenrola sob a rotina de duas adolescentes explorando a cidade e lidando com a estranheza do primeiro amor. A história é leve e trata sobre os medos e angústias das personagens, tão comuns em suas idades, dispensando qualquer teor sugestivo. Algumas obras contemporâneas têm contribuído para realçar o protagonismo das mulheres, tais como, “Lady Bird” e “Adoráveis Mulheres”, ambas dirigidas pela atriz, roteirista e diretora de cinema Greta Gerwig. O foco principal desses filmes é a sutileza e a autenticidade na construção das personagens femininas. Mesmo com os avanços, Daniela pondera que o “nosso universo de imagens ainda é carregado de existencialismo e drama masculino e branco”. Ela explica que as pessoas nos cargos de maior poder ainda são majoritariamente homens e que não é suficiente apenas o envolvimento de mais mulheres no processo criativo. Nas palavras da produtora: “Falar sobre female gaze está para além de fazer uma guerra de meninos contra meninas. É mais sobre firmar uma posição sobre esse olhar”. 

AVA DUVERNAY É UMA DAS VÁRIAS DIRETORAS A PROPOR DIFERENTES PERSPECTIVAS. FOTO: DIVULGAÇÃO/PARAMOUNT


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CULTURA

Só não repara na bagunça A intimidade do lar exposta e transformada em cenário nas chamadas de vídeo STÉPHANE VIEIRA E KAUÊ ALTRÃO

Era por volta de seis e meia da tarde quando Wyllamya entrou na chamada de vídeo. Atrás dela, era possível ver parte do que parecia ser um violão e uma parede de tom claro com alguns rabiscos, indicando a presença de uma criança na casa. Não era o ideal para a designer de interiores mas, naquele dia, a parede rabiscada era melhor que seu cenário habitual, que tem seus trabalhos universitários colados como pôsteres, porém, estava ocupado com uma pilha de roupas a serem dobradas. Wyllamya sentou-se à mesa e apoiou o celular em um pote de creme capilar, tomando cuidado para que o enquadramento da câmera não mostrasse a pilha de roupas, nem a cama desfeita, nem a toalha pendurada. Ajustes como esses passaram a ser comuns desde que a pandemia forçou grande parte das atividades a ocorrerem de forma remota. O ambiente doméstico foi transformado em um cenário a ser exposto na internet. As vendas no mercado de casa, decoração, presentes e utilidades domésticas tiveram aumento de 4,65% em 2020, em comparação a 2019. No ano passado, esse mercado movimentou R$ 87,7 bilhões no Brasil, de acordo com o levantamento do Instituto Inteligência de Mercado (IEMI). A casa e a rua funcionam com regras distintas de comportamento, conta Luciano Senna, professor do Instituto de Ciências Sociais da UFU, citando o primeiro capítulo da obra "A Casa e a Rua", do antropólogo Roberto da Matta. Assim, a casa seria um ambiente íntimo e privado, enquanto a rua, pública e impessoal. Com as atividades remotas,

ILUSTRAÇÃO: OLÍVIA DINIZ

LUÍZA BENEVIDES SENTA-SE NA CAMA DURANTE AS VIDEOCHAMADAS, PARA ENQUADRAR APENAS SUA PAREDE DE TIJOLINHOS. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

esses dois espaços são misturados, e surge um forto, a iluminação e os sons. “Agora você tem que terceiro, ainda sem nome e regras definidas. Na gerar esse ambiente que você quer traduzir virtutentativa de compreender esse novo espaço e co- almente, e tentar esconder a barulheira”, comenta. Na visão de Rafael Botelho, cenógrafo e arquimo agir, há uma preocupação em escolher o que deve ou não aparecer na câmera. “É como se no teto, o cenário transmite informações pessoais e cenário, você quisesse constituir essa separação: profissionais e pode ser usado para conquistar o aqui é minha casa, mas é o espaço da casa mais interlocutor. "O primeiro impacto é sempre visual”, afirma. De acordo com o cenógrafo, tornou-se público que possa existir”, explica Luciano. Essa foi a estratégia usada pela publicitária necessário mostrar um ambiente mais profissional dentro de casa. Mas nem semLuiza Benevides. Quando prepre isso é possível. É o caso de cisou trocar a agência onde trabalha pelo home office, mu- Chegou a pandemia, e aí Larissa Monteiro, que estuda Engenharia Ambiental na UFU e dou-se para uma casa ampla. percebemos o quanto a tem diversos motivos para deiVisando uma decoração em xar a câmera e o microfone estilo industrial, pintou as paredes, trocou a luz, mas nossa casa era inadequada. desligados. A estudante não tem muita privacidade para as aulas achou que seus quadros geWYLLAMYA AMORIM, DESIGNER DE remotas e os encontros da Emeks, fotos de amigos e objetos INTERIORES presa Júnior. Pode ser que a pessoais eram muito íntimos mãe ou a irmã apareçam no vípara aparecerem em reuniões de trabalho. Então, a parede de tijolinhos do quar- deo, ou sejam ouvidas. Mas, assim como a família to passou a funcionar como cenário por ser um pode invadir as reuniões, Larissa entende que a ambiente neutro. “Não é uma coisa que você quer câmera aberta também invade a casa, e tira um que seu chefe ou um cliente vejam. É meu quarto, pouco a privacidade. "Às vezes quando minha casa está menos movivai ter as coisas que eu amo. Por isso mostro uma coisa mais padrão. Aqui estou totalmente focada, mentada, vou para a cozinha e assisto às aulas lá. porque não tem nada atrás que possa me distrair Quando a câmera está desligada, tenho um conforto de estar numa parte que não é visualmente da reunião", diz. Essa falta de espaço adequado para home offi- bonita." Larissa se preocupa com a organização. ce não era motivo de incômodo quando as pesso- Por isso, evitar aparecer nas vídeo chamadas é as passavam menos tempo em casa, mas agora, de uma maneira de contornar os empecilhos, assistir fato, pode gerar conflitos. "Chegou a pandemia, e às aulas da forma mais tranquila possível e com a aí percebemos o quanto a nossa casa era inade- privacidade resguardada. "É igual quando vem viquada de várias formas", constata Wyllamya. A de- sita em casa, a gente fala: ‘ah, não repara a bagunsigner de interiores explica que o ambiente vai ça’. É um pouco disso a câmera aberta mostrando muito além da decoração visível, envolve o con- o meu quarto, né?”. 

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Senso nº 48 Set/2021

ESPORTE

Longe das quadras Entenda como o novo coronavírus afetou o esporte na faculdade MARIA JULIA DE ARAUJO E MATHEUS MACHADO

FERRAMENTA USADA NO ENSINO REMOTO, A INTERNET SE TORNOU TAMBÉM O MEIO DE TRABALHO DAS ATLÉTICAS NA PANDEMIA. FOTO: PIXABAY

Desde o começo da jornada universitária, o aluno é apresentado para a atlética que representa seu curso ou faculdade. Esse momento é uma nova oportunidade de vivenciar os jogos e as festas, de competir, perder ou ganhar. O esporte tem um significado muito importante para aqueles que estão inseridos nele, seja de forma física ou virtual. Porém, com a pandemia, as universidades foram fechadas, e os atletas foram afastados de suas atividades. Para os estudantes, foi difícil conseguir motivação para seguir em frente, ignorar os problemas ao seu redor e se dedicar a treinar, fazen-

Para ficar sempre motivado, a gente tenta manter uma rotina de treinos bem consistente. MURILO MEDEIROS, ESTUDANTE

do o que, antes, era motivo de alegria e festividade. A falta dos companheiros de equipe, dos trei-

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nadores, do suporte, dos equipamentos necessários e da torcida tornou a situação mais difícil. No entanto, de acordo com o atleta de peteca da Associação Atlética da Computação da UFU, Pedro Henrique Rodrigues, os universitários encontram motivação na esperança de um futuro mais seguro e saudável. “Fiquei desmotivado na fase mais rígida da pandemia, quando clubes e quadras estavam fechadas”, conta Pedro. “Mesmo assim, consegui fazer uns exercícios em casa, a motivação foi pensar em voltar bem fisicamente quando as coisas normalizarem com as regras mais brandas. Estou jogando peteca no clube e quadras e fazendo academia”, relata. Não foram só os atletas de esportes físicos que foram prejudicados e tiveram que se reinventar. Murilo Medeiros, diretor da modalidade de ‘League of Legends’, explica que os atletas de eSports - os jogos eletrônicos - tiveram dificuldades de treinar e de competir devido ao coronavírus. “A pandemia nos prejudicou, porque teríamos vários campeonatos presenciais”, comenta. “Para ficar sempre motivado, a gente tenta manter uma rotina de treinos bem consistente, todos os dias, de segunda a sexta”, resume o diretor. Em algumas atléticas, os diretores começaram

projetos para incentivar os atletas a continuarem treinando em suas residências. A Engenharia UFU foi uma dessas entidades. “Nós propomos concursos e a premiação seria roupas da atlética, tirantes, esse tipo de coisa”, contou Felipe Menezes, diretor de esportes da Engenharia. Segundo ele, mesmo havendo premiação, a adesão foi baixa, comparada com a quantidade de atletas do grupo.

Perdemos muitos atletas. Alguns formaram, outros desistiram do curso. FELIPE MENEZES, ESTUDANTE

Outro problema que os diretores notaram foi a significativa redução de atletas desde o início do período de isolamento social. “Perdemos muitos atletas. Alguns formaram, outros desistiram do curso. No EaD muita gente aproveitou para puxar algumas matérias e formar logo”, explica Felipe. Na análise do estudante, após a pandemia grande parte das atléticas terá seus times renovados. 


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ESPORTE

Redes sociais impulsionam o mundo dos esportes Distanciamento social contribui para o aumento da visibilidade virtual de atletas e empresas do segmento JULIANA KOPP E KAROLINA CARDOSO

COM AS ARQUIBANCADAS VAZIAS, AS MÍDIAS DIGITAIS GANHARAM AINDA MAIS IMPORTÂNCIA COMO ESPAÇO PARA A EXPRESSÃO DOS JOGADORES E DA TORCIDA. FOTO: UNSPLASH

O engajamento nas mídias digitais aumentou cerca de 60% no período da pandemia de Covid19 no Brasil, de acordo com a Kantar IBOPE Media, especialista em medições de audiência. As pesquisas apontam que o coronavírus afetou o desempenho de todas as partes envolvidas no setor esportivo, que encontraram na exposição virtual uma saída para minimizar os danos. O professor universitário Élcio Santana, especialista na área do Marketing Esportivo, avalia que a falta de público nos eventos afetou a experiência dos atletas e da audiência, que precisou se contentar com transmissões simultâneas e arquibancadas remotas. “Se o torcedor estiver altamente envolvido, fica sufocado numa época de Olimpíadas, e as redes sociais ficam em segundo plano. Mas, para quem está menos envolvido, as redes podem ter sido um meio de se estabelecer uma conexão mais forte com os esportistas”, aponta.

A nossa geração tem a mentalidade de entender que não é só o campeão que é importante. FELIPE HIEGO, ESTUDANTE

Esse foi o caso de Felipe Hiego, estudante universitário que administra o perfil @acervodovolei, no Twitter. O jovem acompanha o esporte há anos, mas foi durante o isolamento que criou a conta. “Não deu nem um mês, e a página já tinha dois mil seguidores. Teve a Superliga, a Liga das Nações, e os números começaram a aumentar, porque as pessoas têm mais interesse em assistir à Seleção Brasileira. "Depois das Olimpíadas, foi para quase vinte mil”, celebra. Como fã do esporte, Felipe conta que as histórias dos atletas comovem o público, que procura meios de se manter em contato e as redes sociais têm justamente esse potencial. “A nossa geração tem a mentalidade de entender que não é só o campeão ou quem medalhou que é importante. Pensamos que se algo não deu certo, vamos continuar apoiando”. E OS ATLETAS? Do outro lado da tela, os esportistas também foram impactados pelo crescimento das redes sociais. A atleta de taekwondo Talisca Reis, que se prepara para a próxima edição dos Jogos Olímpicos, valoriza a relação virtual com os torcedores. “Ver que tem ali as pessoas que se inspiram em

As redes podem ter sido um meio de se estabelecer uma conexão mais forte com os esportistas. ÉLCIO SANTANA, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

nós e mostrar para essas pessoas que elas também podem chegar lá é uma coisa que me motiva”, conclui. A lutadora conta com a orientação de assessoria especializada e também pondera que o peso de medalhar hoje em dia é maior. “O Taekwondo vem aparecendo cada vez mais nas mídias e o aumento da visibilidade faz diferença, mas no bom sentido”. O professor Élcio, porém, lembra que as mídias digitais não devem ser sacralizadas, sendo mais uma ferramenta dos gestores mercadológicos das marcas, com vistas a atingir o torcedor ao interagir com seu esportista favorito. “Elas apresentam diversas possibilidades, mas não é porque você está presente nas redes sociais que todos os seus problemas estão resolvidos. Definitivamente, é mais um ponto a se considerar na implementação de uma estratégia mercadológica, mas não é uma estratégia por si só”, alerta.

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DIVERSIDADE FOTOENSAIO//

O silêncio da pandemia Imagens da cidade de São Paulo em uma de suas únicas pausas JULIANA KOPP

O olhar se voltou ao silêncio de uma cidade tão movimentada, mas adormecida. Ruas, bares, restaurantes e metrôs, antes lotados, deram espaço ao vazio da pandemia. Conhecida por nunca parar, São Paulo teve um intervalo na rotina. Os encontros e desencontros de 2020 e 2021 saíram da agenda. As novas datas, porém, estão próximas de se confirmarem. Basta aquela dose de esperança.

OPINIÃO//

EM QUAL DEMO CRA CIA 12

FOTOS: JULIANA KOPP

 Se enche as principais ruas e cartões postais de pessoas que usam a Constituição para bradar frases deturpadas de conteúdo golpista e pífio?  Se coloca as cores da bandeira, um dos símbolos mais preciosos da nação, a serviço de alguns que se dizem patriotas, mas se ajoelhavam até poucos meses ao padrinho derrotado?  Laica e plural, se mistura política com religião a fim de formar um exército de fiéis que seguem acriticamente seus líderes?  O combate à fome, desabastecimento e desemprego não são prioridade das políticas públicas?  O governo incentiva o corte de renda de funcionários, que ganham até um salário mínimo por mês, no pior momento de uma pandemia?  Controlar a inflação e garantir condições dignas de sobrevivência não são parte do planejamento prioritário?  Líderes são eleitos, governam e "cuidam" da nação, abastecidos de inverdades, distorções e fake news?  O pretexto liberal do livre comércio dá muito aos mais ricos e deixa a conta da barbárie econômica para os mais pobres?  Os direitos fundamentais são deturpados a fim de defender criminosos e negacionistas?  Educação, saúde e direitos humanos são atacados diariamente, sendo obrigados a sobreviver com recursos escassos?  LUCIANO VIEIRA


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